28 de maio de 1995
Hogwarts
09:23
Qualquer um que a olhasse naquele momento, acharia que Eleanor assistia atentamente á aula de História da Magia, com o Professor Binns, mas sua cabeça estava em outro lugar.
Muito mal conseguiu se lembrar do que Bagman havia dito sobre a terceira tarefa na noite anterior para contar para os amigos. Era como se fosse uma noite totalmente distante da anterior, o que os deixou muito desconfiados, mas não questionaram.
Encarava a careca brilhante e fantasmagórica do Professor Binns, e sentia sua visão desfocar, se distraindo, mas logo voltou á realidade quando sentiu Harry cutucando seu ombro, na mesa atrás dela. O encarou por cima do ombro, confusa.
– Vamos na sala do Moody no intervalo, perguntar se ele encontrou... você sabe... – Sussurrou. – Quer ir conosco?
Ela não respondeu verbalmente, pois iria chamar a atenção do professor, então apenas assentiu, e os dois voltaram á assistir a aula. Não imaginava que os minutos pudessem demorar mais do que já demoravam para passar, mas percebeu que era muito pior quando se tinha algo para fazer.
Olhou para o lado, onde Hannah e Susan mal perceberam o contato de Harry com ela; estavam cansadas demais para isso. Hannah estava com a cabeça baixa, apoiada em seus próprios braços, provavelmente dormindo, enquanto Susan, que geralmente anotava tudo que o professor dizia, sentava-se com a cabeça apoiada na mão, encarando o professor com uma expressão vazia e distraída. O final do ano letivo se aproximava, os exames de final de ano seriam no próximo mês, e todos já estavam exaustos.
Quando a sineta finalmente tocou, Eleanor deu a desculpa de que iria para a biblioteca para as meninas, e se encontrou com o trio no corredor. Os quatro correram em direção á Sala de Defesa Contra as Artes das Trevas.
– Porquê precisamos da ajuda do Moody mesmo? – Eleanor fez careta, os seguindo. Ainda tinha algo dentro dela que desconfiava muito do professor.
– Ele tem o Mapa. – Harry respondeu, sem dar atenção. – O Mapa do Maroto.
– Você deu o mapa pra ele?! Harry, pelo amor de Deus... – Revirou os olhos, o chamando de "burro" em vários idiomas em sua cabeça, mas o grifinório não respondeu.
Encontraram o Professor Moody de saída da sala de aula. Parecia tão cansado quanto Eleanor se sentia; a pálpebra do seu olho normal estava caída, dando ao seu rosto uma aparência mais torta que o normal.
– Professor Moody? – Harry chamou, enquanto os quatro atravessavam um aglomerado de alunos do primeiro ano que saíam da sala dele.
– Olá, Potter. – Moody grunhiu, no mal humor de sempre. Seu olho mágico acompanhou um grupo de alunos que iam passando e acelerando o passo, demonstrando nervosismo. Depois, o olhou girou para a nuca do professor, os acompanhando até virarem o canto do corredor. Só então, ele voltou á falar. – Entrem. – Afastou-se da porta, os dando espaço para entrarem em sua sala vazia. Quando os quatro passaram, entrou atrás deles, a fechando com força.
– O senhor o encontrou? – Harry perguntou, sem tempo para conversa fiada. – Greyback?
Eleanor olhou para Moody com expectativa, mesmo que não quisesse admitir.
– Não. – Respondeu, ríspido, sentando-se em uma das cadeiras da sala de aula, puxando seu cantil de dentro do paletó que usava.
– O senhor usou o mapa? – Harry perguntou, em negação.
– Naturalmente. – Deu um gole no cantil. – Fiz igualzinho á você, Potter. Convoquei o mapa do meu escritório até a Floresta. Não vi o nome dele em lugar nenhum.
– Então, ele desaparatou! – Ron concluiu, dando de ombros e levantando as mãos em derrota.
– Não podem desaparatar nos terrenos da escola. – Hermione e Eleanor disseram em uníssono, e se entreolharam, dando risadinhas. Passaram muito tempo na biblioteca lendo os mesmos livros.
– Não existem outras maneiras que ele possa ter usado pra desaparecer, professor? – Hermione virou para Moody.
O olho mágico dele pareceu estremecer ao pousar em Hermione.
– Você e Potter poderiam pensar na carreira de auror. – Ele disse á ela. – Sua cabeça funciona na direção certa. – Levantou as sobrancelhas em aprovação, e Hermione corou de satisfação.
"Eu falei exatamente a mesma coisa que ela!" Eleanor resmungou, em sua mente. "Ele me odeia tanto assim? Que droga."
– Bem, ele não estava invisível. – Harry concluiu. – O mapa mostra pessoas invisíveis. Então, deve ter deixado Hogwarts.
– Vai ver ele tem super velocidade. Os lobisomens devem ter alguns poderes assim, não é? – Ron olhou para Eleanor, esperando que ela, com seu vasto conhecimento de Criaturas Mágicas, soubesse o responder.
– Na verdade, eles não tem super velocidade... – Ela respondeu, de braços cruzados. – E mesmo se tivessem, ontem não foi noite de lua cheia. Ele estava na forma humana. Se saiu da Floresta á pé, foi em velocidade normal.
– Se saiu da Floresta á pé? – Harry fez careta. – Como mais ele teria fugido?
– Alguém pode ter ajudado, e ficou o esperando com uma vassoura para voarem pra longe depois que... terminasse o trabalho. – Respondeu, engolindo em seco. – Mesmo que não tenha sido exatamente assim, não podemos excluir a possibilidade de ele ter tido ajuda de qualquer forma. Seja ajudando ele á entrar, ou á sair. – Teorizou, lançando um olhar rápido para Moody, tentando mandar um sinal de que ela sabia do envolvimento dele com aquilo, mas ele não pareceu perceber. E se percebeu, não deu importância.
– Então... acha que ele está em algum lugar de Hogsmeade? – Ron perguntou para Moody.
– Poderia estar em qualquer lugar. – Ele balançou a cabeça. – A única coisa que temos certeza é de que ele não está aqui.
Então, ele deu um grande bocejo. Suas inúmeras cicatrizes se esticaram e sua boca torta abriu á ponto de que pudessem ver os vários dentes que lhe faltavam.
– Dumbledore me contou que vocês três gostam de bancar os investigadores. – Apontou para o trio. – E que você está indo no mesmo caminho. – Apontou para Eleanor, que engoliu em seco.
Os quatro se entreolharam, sem graça, e o silêncio se fez por alguns segundos.
– Mas não há nada do interesse de vocês nessa situação. – Prosseguiu. – O Ministério vai procurá-lo agora. Dumbledore os enviou uma notificação. E vocês dois, deveriam se concentrar na terceira tarefa. – Seu olho mágico alternou entre Eleanor e Harry.
A garota havia contado para seus amigos sobre a terceira tarefa, é claro, mas não havia percebido, até aquele momento, que faltava menos de um mês para o tão esperado dia em que o Torneio teria fim. Harry, no entanto, não parecia nem ter pensado no labirinto desde o acontecimento com Krum na noite anterior, de repente ficando pálido.
– Deve ser bem a sua praia, essa. – O professor ergueu o olho normal para Harry também, toda sua atenção agora focada nele. – Fiquei sabendo que já fez coisas parecidas muitas vezes. Venceu uma série de obstáculos que guardavam a Pedra Filosofal no primeiro ano, não foi? – Indagou, parecendo muito interessado.
– Nós ajudamos. – Ron disse, depressa. – Eu e a Mione...
Eleanor parecia ser a única ali que não sabia do que eles falavam. Pedra Filosofal? Primeiro ano? Em seu primeiro ano, a garota estava ocupada demais levando vinagre na cara por errar o ritmo de entrada da Sala Comunal, não sabia o que diabos era uma pedra filosofal.
– Bem, então ajudem-no á treinar para a tarefa e ficarei muito surpreso se ele não vencer. – Moody disse, bem humorado, e Eleanor tinha certeza de que ele estava dizendo aquilo na frente dela de propósito. Ignorou completamente a presença dela desde que passou pela porta. – Nesse meio tempo... vigilância constante, Potter. Vigilância constante. – Tomou mais um longo gole do seu frasco e seu olho mágico girou até a janela, de onde se dava para ver o navio dos alunos de Durmstrang.
Entendendo aquilo como uma dispensa, os quatro se juntaram e andaram até a saída da sala. Andando pelos corredores, Eleanor tentava disfarçar a sua irritação, mas não pareceu funcionar, pois Hermione percebeu assim que colocou os olhos nela.
– Tenho certeza de que ele não disse aquelas coisas pro Harry por mal! – Ela sorriu fraco.
– Por favor, você é boa em ler as pessoas bem demais pra acreditar nisso. – Eleanor suspirou. – Não é surpresa pra nenhum de nós que ele não quer que eu ganhe. E está tudo bem, eu não me importo!
– Eleanor, você pode treinar conosco, se quiser. – Harry sugeriu. – Precisamos trabalhar juntos, sabe... trazer a vitória para Hogwarts. Não somos rivais de verdade.
– Não precisa. – Respondeu, ríspida, mas logo percebeu que estava exagerando, então suspirou fundo e olhou para o amigo. – Tenho certeza de que Cedric pode me ensinar uma coisa ou outra... não se preocupem comigo. – Sorriu fraco.
*****
– Você o quê?! – Draco arregalou os olhos, depois que Eleanor o contou sobre os acontecimentos da noite anterior. – Lobisomem?! De novo?!
Ele era o único para quem ela podia contar sobre Greyback, já que era o único quem sabia sobre a primeira vez em que foi atacada. Escondeu os machucados dos seus amigos para que não se preocupassem, principalmente Susan, quem Eleanor teria certeza de que teria um infarto só de imaginar a amiga sendo atacada por um lobisomem. Quando a questionaram sobre os hematomas, disse que eram resquícios da primeira tarefa, desculpa que eles pareceram acreditar.
Os dois se sentaram na margem do lago, encostados na mesma árvore de sempre, no final da tarde, depois da última aula do dia, de Poções.
– Eu não sei o que ele quer comigo! – Suspirou, e o contou tudo que o lobisomem disse.
– Conseguir a sua cabeça... isso é ridículo! Mais ridículo do que isso é a segurança dessa droga de escola! Cada ano que passa, fica pior... – Começou á reclamar, parecendo agitado. – Que escola é essa que os lobisomens podem entrar e sair? Primeiro, um professor, agora um maníac... – Travou, ao perceber o que havia dito e o olhar que Eleanor o lançava.
– Repita essa última parte do professor. – Sibilou, estreitando os olhos pra ele.
– ... não. – Ele abaixou o tom de voz, desviando o olhar. – Sinto que pisei em um campo minado...
– Pisou mesmo. – Revirou os olhos. – Já disse que Lupin não é assim. Esse cara me atacou!
– E você ficou na enfermaria com a cabeça aberta, por quê mesmo? – Arqueou uma sobrancelha, e ela o encarou mais uma vez.
– Sério, como você fica sabendo dessas coisas? – Franziu o cenho. Sabia muito bem que Madame Pomfrey fez questão de que ninguém entrasse na enfermaria enquanto ela estava lá, e as únicas pessoas que a viram foram Snape, Sprout, Dumbledore, McGonagall, Harry, Ron, Hermione, e seus amigos, Cedric, Hannah e Susan. Nem mesmo Ernie e Justin a viram, por mais que tivessem ficado sabendo depois.
– Já te falei... tenho minhas fontes. – Desconversou, engolindo em seco e disfarçando o fato de que havia ficado vermelho.
– De qualquer forma, ainda acho que teríamos pego ele se Snape não tivesse nos atrasado... – Ela começou á teorizar, mas os dois se calaram ao mesmo tempo quando ouviram passos se aproximando do lago. Se entreolharam, com os olhos arregalados, enquanto Eleanor se inclinava para olhar quem era.
– Estou te falando, ele pode nos processar por chantagem! – Reconheceu a voz de George e suspirou, aliviada. "Pelo menos, não é o Cedric".
– Chantagem do quê? Ele jogou sujo com a gente também! Não é chantagem! Só disse que, se o Ministério soubesse do que ele fez... – Fred também se fez presente. – ... não ficariam muito satisfeitos!
– Aposto 2 sicles que, se olhar no dicionário, vai ser exatamente essa a definição de chantagem! – George argumentou.
– É, mas você não ia reclamar se conseguíssemos uma grana boa com isso, ia? – Fred indagou, e George ficou em silêncio. – Além disso, precisamos do dinheiro pra produzir mais coisas. Se usarmos só o que temos, não vamos sair da fase de testes nunca!
Os dois passaram pela árvore onde Draco e Eleanor estavam sentados e, naquele momento, escondidos. Ela reparou que George carregava algumas caixas, as colocando no chão, enquanto Fred carregava um pergaminho e uma pena.
– Protótipo Fogos Espontâneos Weasley, teste número... 7! – Fred exclamou, anotando algo no pergaminho, enquanto George retirava a própria varinha do bolso. – Pronto, George?
– Pronto, Fr... – O ruivo sorriu, mas logo ficou sério novamente, notando a presença do casal, que os observava. Os quatro, se encarando, congelaram por alguns segundos.
– O que estão fazendo aqui? – Eleanor e George falaram, ao mesmo tempo.
– Empreendedorismo. – Fred deu de ombros, andando até eles, enquanto George fuzilava Draco com os olhos e cruzava os braços. – Vocês?
– Não intere... – Draco resmungou, olhando George de cima á baixo, mas Eleanor o deu uma cotovelada leve.
– Só lendo... – Ela ergueu o livro que segurava, sorrindo para eles como se nada estivesse acontecendo, fazendo com que George a olhasse, incrédulo.
– Perdoou ele fácil assim, Eleanor? – George perguntou, parecendo genuinamente confuso.
– Eu... – Eleanor gaguejou por alguns segundos, pega de surpresa pela reação dele, mas Fred logo começou á falar.
– Façamos o seguinte. – Juntou as próprias mãos em uma única palma. – Fingimos que não vimos vocês de casalzinho, se vocês fingirem que não nos viram explodindo fogos de artifício. – Sugeriu, enquanto George o encarou, muito contrariado.
– Não acha que a Elea...
– Feito. – Draco respondeu, ríspido, se levantando. – Vamos, Eleanor. – Estendeu a mão para a ela, a ajudando á levantar também.
– Ótimo. Vamos, George. – Fred deu às costas e voltou para as caixas deles, ainda no chão, enquanto George ainda encarava Draco e Eleanor, se distanciando.
– Intrometidos. – Draco resmungou, puxando Eleanor para longe, enquanto ela ainda olhava para os gêmeos, encontrando brevemente o olhar confuso de George. O lançou um sorriso envergonhado antes de virar para a frente, acompanhando os passos apressados de Draco.
O casal andava pela trilha de volta para a escola, e enquanto Eleanor admirava o pôr do sol, conseguiu enxergar os fogos de artifício que os gêmeos disseram que estourariam. Era absolutamente lindo; cheio de cores e brilhante como nunca. Mal percebeu que ficou tão encantada que não escutava Draco tagarelando, andando á frente dela.
– Pra quê diabos eles estão estourando fogos de artifício? – Grunhiu. – Protótipo... como se fossem vender essas bugigangas. Pirados.
– Eles não são pirados! – Eleanor os defendeu, ao escutar a última parte, franzindo o cenho pra ele. – E eles vão vender sim! George me contou que eles tem planos de abr...
– Ah, o George te contou... quanta intimidade. – Ele contorceu o rosto e ela reparou que seus ombros ficaram tensos. – Ele aproveitou pra te apresentar pros pais também? Pediu a sua mão em casamento pro seu pai?
– Qual é a sua, hein? – Ela parou de andar e puxou sua mão da dele, com raiva. – Eu me aproximei dele depois de todas as burradas que você fez! Quer que eu comece á jogar na sua cara de novo?
– Nós já falamos sobre isso! – Se defendeu, fazendo careta.
– Falamos, mas aparentemente, preciso falar de novo! – Revidou. – Querendo ou não, eu me aproximei dele. Se não queria que isso acontecesse, era só não ter me convidado pro baile. Então, eu teria aceitado outro convite e não teria ido com ele de última hora! – Voltou á andar, o deixando para trás.
– E qual convite seria? Daquele francês metido á besta? – Resmungou, dando uma corridinha para alcançá-la.
– Ele também... – Deu de ombros. – O ponto é que eu tive opções.
– Opcõ... quem mais te convidou, hein? – Ele pareceu extremamente irritado. – Mais algum francês? Ou um dos búlgaros?
Ela não respondeu, apenas desviou o olhar, e aquilo pareceu o dar a resposta correta.
– Não me diga que o maldito Potter também! – Exclamou, colocando as mãos na cintura, indignado. – Eu sabia que ele ia fazer isso, sabia!
Eleanor apenas deu de ombros.
– Agora não sei o que seria pior. – Resmungou, balançando a cabeça em negação. – Você com o Potter ou você com o Weasley.
– Eu abandonada. – O olhou de cara feia, e ele se calou.
– ...você nunca vai esquecer isso, vai?
– Não mesmo. – Balançou a cabeça. – Vou fazer questão de te lembrar disso até o dia que eu morrer. O que, julgando pelo fato de que tem um lobisomem assassino na minha cola, não vai demorar muito, então não se preocupe.
– Para de falar besteira. – Ele tampou a boca dela com uma das mãos. – Pra mim, está bem claro que ele está atrás de você e é muita burrice da sua parte ficar andando por aí de noite. Ainda mais perto da floresta.
– Eu estava com outras duas pessoas!
– E não adiantou muito, adiantou? Sorte que você é boa com feitiços e soube conjurar o Feitiço Escudo, ou sabe-se lá o que aconteceria... – Pareceu se arrepiar. – Quero que você jure pra mim que não vai sair andando com mais ninguém de noite. Nem que vai sair da sua sala comunal.
– Mas como eu vou te ver?
– Nos vemos durante a tarde. Damos um jeito. De noite, quero que prometa que vai ficar lá dentro, quietinha, regando alguma planta, ou seja lá o que vocês fazem na Lufa-lufa. – Deu de ombros.
– Você, por acaso, alimenta o polvo gigante só porque dá pra ver ele da Sala Comunal de vocês? – Ela arqueou a sobrancelha.
– Claro que não.
– Então porque diabos você acha que tudo que nós fazemos é regar as plantas?!
– Eu não sei o que os lufanos fazem! Só vejo vocês saltitando pelos corredores como se não houvesse nada de errado no mundo! – Resmungou. – Honestamente, vocês não se cansam?
– Admita que você gosta. – Cruzou os braços.
– ... só quando é você. – Murmurou, desviando o olhar. – O resto deles me irrita.
– "Odeio todos, menos você", que romântico. – Ela ironizou.
– Não mude o assunto! – Ele pareceu extremamente corado ao se virar para ela bruscamente. – Me prometa que vai ficar segura. Que não vai mais se expor assim.
– Puxa, está falando sério mesmo? – O encarou, surpresa, e ele apenas arqueou uma sobrancelha. – Tá bem, eu prometo... – Suspirou, erguendo seu dedo mindinho na direção dele.
– O que é isso? – Ele franziu o cenho, encarando o dedinho dela.
– Promessa de dedinho. – Explicou, sorrindo. – A promessa mais séria que existe.
– Tenho certeza de que essa seria o Voto Perpétuo. – Ironizou.
– Para de ser estraga-prazeres e faz logo a promessa! – O deu um tapa no braço com a mão livre.
– Isso é ridículo, não vou fazer nenhuma promessa de dedinho! – Balançou a cabeça em negação, e ela apenas o encarou, muito séria. – Não. Não vou, não adianta...
Depois de alguns longos segundos, ela ainda o encarava, fazendo com que ele revirasse os olhos e bufasse, deixando os ombros caírem levemente. Parecendo muito contrariado, ergueu o próprio dedo mindinho e o cruzou com o dela.
– Agradeço. – Ela sorriu, vitoriosa, desfazendo o laço entre seus dedos e voltou á andar, enquanto ele ia atrás dela, parecendo mal humorado, mas ainda continha um sorriso no canto da boca.
*****
No dia seguinte, depois do café da manhã, Eleanor foi parada pelo trio na saída do Salão Principal. Hannah e Susan fizeram careta, mas disfarçaram, e Eleanor sabia exatamente o que elas pensavam, pois haviam expressado seus sentimentos na noite anterior:
– Nós guardamos o segredo do seu namorico com o Malfoy e você nos troca pelos grifinórios! – Hannah dramatizou, se jogando na própria cama.
– Hannah, não seja dramática! – Eleanor deu risada, e olhou para Susan, que estava em pé, encostada no batente da porta do banheiro. – Susan, diga pra ela que está sendo dramática!
– Bom... eu não vou negar que também reparei que têm passado pouquíssimo tempo conosco recentemente! – Ela murmurou. – E eu sei que não têm sido só com o Draco, eu vi você e a Hermione na biblioteca quando fui devolver um livro esses dias!
– Não acredito que estão mesmo com ciúmes! – Eleanor riu mais alto ainda. – Sinceramente, meninas... eu não trocaria vocês por nada nesse mundo!
– Exceto que já está trocando! – Hannah exclamou, fazendo careta.
– Escutem, Hermione e eu estamos tentando descobrir como a Skeeter têm escutado nossas conversas, tudo bem? Ou vocês esqueceram que nós duas fomos as únicas meninas que saíram em jornais e revistas com histórias pessoais? – Arqueou a sobrancelha.
– Mas isso não explica o tempo que você está passando com o Potter! – Revidou.
– Nós dois somos os campeões de Hogwarts, é óbvio que vamos passar tempo juntos! – Explicou, evasiva. Não queria contar á elas sobre Sirius Black, Comensais da Morte, Greyback, Karkaroff e Snape. – Além do mais, ele também têm problemas com Skeeter, por causa do Hagrid e das coisas que ela falou dele!
As duas meninas se entreolharam, como se julgassem se deveriam ou não acreditar naquilo, e então, ambas deram de ombros, e mudaram de assunto.
– Hã... eu já alcanço vocês, meninas. – Eleanor sorriu, sem graça, se afastando delas e andando até o trio. – Bom dia. Aconteceu algo?
– Mandei uma carta para... Snuffles... ontem. – Harry murmurou, e ela se lembrou de que Sirius pediu que se referissem á ele como Snuffles quando fossem falar dele. – Ele respondeu hoje, e mandou algo para nós dois. – Estendeu o pergaminho para ela, que o pegou e, olhando para os dois lados do corredor, garantindo que ninguém estivesse por perto, começou á ler.
"Harry,
Que brincadeira é essa de sair para a Floresta Proibida com Viktor Krum? E ainda levar Eleanor junto?
Quero que você jure, na volta desse correio, que não vai sair andando pela escola durante a noite. Há alguém perigosíssimo em Hogwarts e vocês dois parecem ser os que mais estão em perigo. Poderiam ter sido mortos.
O seu nome não foi parar no Cálice de Fogo por acaso. Se alguém estiver tentando atacá-lo, você está o dando muitas chances de fazer isso, e dado que o fim do ano letivo está próximo, a pessoa não terá muitas outras chances.
Fique perto de Ron e Hermione, e diga para Eleanor que ela deve ficar rodeada dos amigos também. Se ela não me levar a sério, diga que Remus diria a mesma coisa. Não saiam de suas salas comunais durante á noite e se preparem para a terceira tarefa.
Pratiquem desarmamento e estuporamento. Algumas azarações também podem ser úteis. Não há nada que você possa fazer por Eleanor além de repassar essas informações para ela. Se cuide.
Estarei esperando a carta em que me dará sua palavra de que não vai mais ultrapassar os limites da escola ou desobedecer o toque de recolher.
Sirius."
– Me disseram a mesma coisa. – Eleanor fez careta, o devolvendo a carta. – Para tomar cuidado, não sair da escola de noite, ficar na sala comunal... e acho que estão certos. Não podemos dar mais chances de sermos atacados.
– Quem é ele pra me dar sermão por ultrapassar os limites da escola?! – Harry dobrou a carta e a guardou no bolso interno das vestes. – Depois de tudo que ele não deve ter aprontado na escola!
– Ele é seu padrinho, oras! – Hermione o repreendeu.
– E o que tem?
– Está preocupado com você! – Eleanor completou, concordando com Hermione. – Não pode ficar bravo com ele por se importar...
– Ninguém nem tentou me atacar esse ano! – Harry argumentou. – Ninguém nem me fez absolutamente nada!
– Não posso dizer o mesmo. – Eleanor murmurou, fazendo careta. – Além do mais, colocaram o seu nome no Cálice de Fogo, não foi? – Revidou.
– E devem ter tido um bom motivo pra isso! – Hermione concordou. – Snuffles tem razão, Harry, talvez estejam esperando a hora certa. Talvez a terceira tarefa seja a hora que vão pegar você.
Eleanor fez careta ao ouvir aquilo. Sentiu vontade de dizer algo como "espero que eu não esteja próxima quando isso acontecer", mas decidiu ficar calada.
– Tá bem, tá bem! – Harry exclamou, impaciente. – Digamos que ele esteja certo e alguém realmente está atrás de mim... a pessoa teve várias chances, não teve? Portanto, não está parecendo que sou eu o alvo, não é?
– Você é burro? – Eleanor deixou escapar, encarando Harry, incrédula, e Ron deu risada, surpreso com a fala dela.
– ...o quê? – Harry pareceu ter sido pego de surpresa também.
– Por qual outro motivo teriam o trabalho de colocar o seu nome no Cálice de Fogo se não fosse pra fazer sua morte parecer um acidente? – Explicou. – Não poderiam fazer parecer um acidente se te pegassem por aí, nos corredores.
– Mas durante uma das tarefas... ninguém saberia o que houve de verdade... – Hermione completou, com os olhos marejados. – Ai, Harry!
– Mas porquê não me mataram em nenhuma das outras tarefas? O dragão, os grindylows, tudo! As chances estiveram lá...
– Não temos como saber o plano exato! – Hermione exclamou.
– A única coisa que eu sei é que tem muitas coisas estranhas acontecendo e eu não estou gostando nada disso. – Eleanor cruzou os braços e olhou para o chão, pensativa, com o cenho involuntariamente franzido. – Snuffles está certo, você precisa se cuidar. E nós dois precisamos começar á treinar pra terceira tarefa.
– O que isso tem á ver com tentarem matar o Harry? – Ron perguntou, confuso.
– Sou a única daqui que vai estar com ele na terceira tarefa, não é? – Indagou. – Pois bem, preciso estar pronta pro que vier. Pro caso de precisar defender ele. Ou á mim mesma. – Sorriu fraco, tentando disfarçar o embrulho que sentia no estômago, enquanto dava as costas e se afastava.
*****
Eleanor nunca pensou que sentiria tanta falta de passar tempo do lado de fora do castelo até ficar presa dentro dele. Todo o seu tempo livre, pelos últimos dias, era passado na biblioteca, lendo sobre feitiços de defesa e azarações. Susan, Justin e Cho se ofereceram á ajudá-la com essa parte, e passavam a maioria de suas tardes junto com ela.
– Consegui a permissão pra entrar na Seção Restrita! – Cho exclamou, no domingo, chegando animada na mesa onde os outros três estavam reunidos. – Flitwick me deu!
– Cho, isso é incrível! – Susan sorriu, animada.
– Vamos lá, El. Deve ter algum livro sobre azarações lá... – Cho a chamou com a mão.
Já Cedric, Ernie e Hannah se ofereceram para ajudá-la com a prática do que ela aprendia nos livros. Sendo monitor, Cedric sempre sabia quais salas estavam vazias e não seriam usadas.
– Você disse que usou o Feitiço de Escudo? – Cedric fez careta, e Eleanor congelou ao lembrar que não podia falar sobre o ataque de Greyback na Floresta Proibida. – Por Merlin, onde você usou isso?
– Hã... na aula de Feitiços. Neville deixou escapar um livro, enquanto fazíamos aquele feitiço convocatório... eu usei pra não acertar em mim. – Inventou.
– O Longbottom é um desastre com aquela varinha dele. – Ernie balançou a cabeça, e Hannah o olhou de cara feia. – Ah, foi mal, esqueci que ele é seu marido imaginário.
– A culpa não é dele! – Hannah o defendeu rapidamente. – Ele me contou uma vez que a varinha é, na verdade, do pai dele! Por isso que não funciona... a varinha não escolheu ele.
– Certo... – Cedric balançou a cabeça, parecendo confuso. – Enfim, nós vamos focar no Feitiço de Escudo, por hoje. Fique do outro lado da sala, El... Macmillan, você fica aqui. – Posicionou Ernie, enquanto Eleanor andava até o lado oposto.
– E eu? – Hannah se sentou em uma das mesas, encarregada de anotar os feitiços que já haviam sido repassados em um pergaminho velho. – Vou ficar só anotando?
– Eleanor vai duelar com vocês, um de cada vez. No final, com os dois. – Ele explicou. – Eleanor, você precisa defend... – Começou á explicar, mas Ernie foi mais rápido e entrou em posição de ataque.
– EXPELLIARMUS! – O garoto conjurou, e um jato vermelho saiu da ponta de sua varinha, indo na velocidade da luz até Eleanor, mas não rápido o suficiente.
– PROTEGO! – Eleanor gritou, e uma barreira invisível se fez entre ela e o feitiço.
Se fez um silêncio na sala, por alguns segundos, enquanto Cedric encarava Ernie de cara feia.
– Qual parte de "espere até eu dar a ordem" você não entendeu? – Resmungou.
– Precisamos ser realistas aqui, Diggory. – Ele se defendeu, girando a varinha entre seus dedos. – Nenhum inimigo vai contar até três pra jogar feitiços nela. Precisa estar preparada á todos os momentos.
– Ele tem razão. – Eleanor exclamou, do outro lado. – Inclusive... Expelliarmus! – Conjurou, fazendo a varinha de Ernie voar de suas mãos até bater na parede da sala de aula.
– Ei! – Ele fez careta, andando até a sua varinha, a recolhendo do chão.
– Vigilância constante, Macmillan. Vigilância constante. – Imitou a voz de Moody, arqueando a sobrancelha.
– Feitiço de Escudo e Desarmamento... feitos. – Hannah disse em voz alta, enquanto anotava no pergaminho.
– Vai ser mais fácil do que eu pensei... – Cedric observou Eleanor de braços cruzados, parecendo impressionado.
– Foi o que Ollivaras disse... minha varinha tem facilidade pra magia de defesa. Deve ser isso, não é? – Teorizou, analisando a varinha em suas mãos.
– Acho que a dona também ajuda. – Ele respondeu, sorrindo fraco. – Afinal, é o bruxo quem faz a varinha, não é? E não o contrário.
– É... – Eleanor balançou a cabeça, sorrindo de volta. – Acho que tem razão. – O lançou um olhar agradecido.
– Agora... a minha parte preferida! – Hannah balançou os pés, animada. – Azarações! Pois bem... – Se levantou da mesa na qual estava sentada, analisando o pergaminho que segurava. – Eu fiz uma lista das azarações úteis, mas posso ter me empolgado um pouco...
– Eu também acrescentei algumas interessantes. – Ernie acrescentou.
– É, mas as do Macmillan são meio doentias. – Escalpelarius Totalus, que droga é essa? – Leu na lista.
– Arranca parte do couro cabeludo da pessoa que for atingida, junto com parte do cabelo. – Explicou, e os três o encararam, muito assustados. – O quê?!
– Você é muito estranho... – Hannah fez careta pra ele.
– Certo, hã... Hannah, risque essa azaração da lista... – Cedric disse, desnorteado. – E as outras azarações do tipo...
– Todas as que o Ernie colocou, então... língua de espinhos, testa-de-bode, VOMITAR RATOS?!? – Ela arregalou os olhos enquanto consultava a lista.
– Macmillan, mas que droga...?! – Cedric o encarou.
– Essa última é maneira. – Ele deu risada. – Ah, por favor, que tipo de azaração vocês queriam? É pra Eleanor se defender, não é?
– Não precisa ser nesse nível também! – Hannah argumentou. – E outra, a Eleanor nunca usaria uma azaração dessas! Não é, El?
Os três se viraram para olhar para ela.
– Não vou negar que essa de vomitar ratos parece interessante... – Brincou, levantando as sobrancelhas e balançando a cabeça.
– Nem pense nisso! – Cedric a interrompeu, empunhando a própria varinha. – Sabe a azaração do bloqueio de pronúncia? – Ela assentiu. – Tente. Vamos lá... – Andou até onde Ernie estava antes, entrando em posição de combate.
– Pronto? – Perguntou para ele.
– Não se pergunta se o seu oponente está pronto, Eleanor! Você precisa pegar de sur...
– Travalingua! – Conjurou, fazendo com que Cedric parasse de falar, com a língua grudada no céu da boca. – Desculpe... o que dizia mesmo?
Cedric apenas balbuciou, a olhando de cara feia, enquanto Ernie dava gargalhada e Hannah tentava conter a própria risada.
– Eu te odeio... – Cedric resmungou, 30 segundos depois, quando o efeito da azaração passou.
– Pelo menos vimos que ela sabe essa. – Ernie ironizou, ainda dando risada. – Sinceramente, estamos aqui tem uns 40 minutos e tudo que aprendemos é que a Sparks já sabe de tudo. Não estamos ensinando absolutamente nada pra ela.
– Ainda assim, não podemos descansar. – Cedric respondeu, e Eleanor reparou que uma veia começava a saltar em sua testa, mostrando que ele estava muito nervoso, ou muito estressado. Ou os dois. – Certo, vamos pensar... qual feitiço você precisa saber?
Ele deu voltas na sala por alguns minutos, com uma das mãos na cintura e a outra alisando o próprio queixo, pensativo, falando consigo mesmo em um tom baixo, enquanto Eleanor se sentava no meio de Hannah e Ernie.
– Ele está levando isso á sério, não está? – Hannah indagou, encarando Cedric com uma leve preocupação no rosto. – E eu achava que era só a Susan que ia infartar antes dos 30...
– Ele só está preocupado... – Eleanor deu de ombros. – Só Deus sabe como eu também estou... – Murmurou.
– Achei que estivesse ansiosa pra acabar com o Torneio logo? – Ernie arqueou uma sobrancelha.
– E estou, mas isso não muda o fato que é a última tarefa. Não acho que vai ser tão fácil quanto disseram. – Respondeu, evasiva. Não era a tarefa que a preocupava, e sim o que havia conversado com o trio á alguns dias.
– O Feitiço Redutor! – Cedric exclamou, de repente, animado. – Reducto! Você ainda não sabe esse, sabe?!
– Hã... não reconheço o nome, não.. – Ela deu de ombros, e ele rapidamente a puxou pelo pulso para o centro da sala, afobado.
– Certo, vou te ensinar essa! – Balançou a cabeça. – É uma maldição que explode objetos sólidos em pedaços...
Eleanor deu risada ao escutar um "Agora sim!" de Ernie, mas logo focou toda sua atenção na explicação de Cedric.
Como estavam do lado de dentro da escola e ele não sabia exatamente o quão poderosa Eleanor era, ficou muito relutante em deixar ela praticar o feitiço. Procurou pela velha sala de aula por algo que não fossem dar falta, e acabou encontrando uma mesa velha, cheia de cupins, dentro de uma pequena salinha.
– Vamos começar com isso... – Disse, enquanto a arrastava até o centro da sala, com a ajuda de Ernie.
– Hannah, me ajuda á afastar as outras mesas e cadeiras... não tenho dinheiro pra pagar uma indenização pra escola. – Eleanor fez careta pra amiga, que deu risada e a ajudou á empurrar tudo para as laterais da sala.
– Nos deixe orgulhosos, Sparks. – Ernie disse, cruzando os braços ao se afastarem da mesa. Dito isso, os três começaram á observar ela, esperando que ela fizesse o feitiço.
Eleanor olhou para a mesa e, então, para a varinha em suas mãos. Não podia deixar de relembrar das palavras de Ollivaras quando a analisou, antes da primeira tarefa.
"Uma combinação muito interessante, e poderosa, a madeira de cerejeira com o coração de dragão... um pouco temperamental, e propensa á acidentes, mas nas mãos da bruxa certa, é uma grande vantagem contra o inimigo."
Como diabos ela saberia se era a "bruxa certa"? E se, quando descobrisse, fosse tarde demais e um acidente horrível já tivesse acontecido?
"É preciso excepcional controle sobre suas ações, e de uma mente muito bem estruturada. Fibras de coração de dragão são as mais poderosas, capazes de fazer os feitiços mais elaborados... é uma grande varinha que você tem, e apenas um bruxo com muita bondade e compaixão pode conseguir usá-la de forma sábia."
E se, na verdade, ela não fosse tão bondosa quanto os outros pensam? O que significa "usá-la de forma sábia"? Como ela poderia saber se sua mente era bem estruturada?
Se sua varinha era tão grande e poderosa, como que a escolheu? Justamente ela, a nascida trouxa de 11 anos que mal sabia no que estava se metendo? Certamente não era tão poderosa assim... não é?
Ou talvez, as varinhas fossem como o Chapéu Seletor... olhassem para o interior do bruxo e sabiam mais sobre ele do que talvez, até mesmo, o próprio bruxo. Então, isso significaria que algo maior a aguardava, no futuro? Que faria grandes coisas, e por isso, precisaria de uma varinha daquele porte?
Enquanto se afundava em seus próprios pensamentos, era como se sentisse a varinha vibrando entre seus dedos. Como se tentasse á dizer algo. Sentindo isso, passou á encará-la, tentando focar sua atenção em entender o que diabos a varinha queria dizer.
– Eleanor? – A voz de Hannah a tirou do transe em que se encontrava. – Esqueceu o feitiço?
– Não! Só... me distraí. – Sacudiu a cabeça. – É... onde estávamos?
– ...o feitiço? – Ernie fez careta, enquanto Cedric apenas a olhava, preocupado.
– Certo... – Ela riu pelo nariz, sem graça, e voltou á encarar a mesa.
Apertou a varinha em suas mãos com forças. Naquele momento, a varinha vibrou mais uma vez, a fazendo sentir um pico de adrenalina. Uma sensação surreal e que nunca sentiu antes; como se um choque passasse por dentro dela. Sem sequer perceber, ergueu as mãos e apontou a varinha na direção da mesa.
– REDUCTO! – Vociferou, e um jato azul brilhante saiu da ponta de sua varinha, com tanta força que ela, sendo empurrada para trás, quase perdeu o equilíbrio.
Quando o feitiço atingiu a mesa, um estrondo fez com que os quatro cobrissem os próprios ouvidos. O estrondo, no entanto, não veio da mesa, que se encontrava reduzida á pó, e sim da força na qual o feitiço a atingiu.
Os três a olharam por alguns segundos, com os olhos arregalados. Enquanto Ernie e Hannah ainda tampavam os próprios ouvidos, Cedric abaixou as mãos e, boquiaberto, se aproximou de Eleanor, que encarava a poeira que antes era a mesa, pálida.
– Foi perfeito! – Ele exclamou, admirado. – El... você tem noção do que fez? Eu nunca vi esse feitiço ser executado com tanta intensidade!
– Eu... – Ela gaguejou, olhando para a própria varinha. Não sentia mais a vibração de antes, e a adrenalina começava á diminuir. – Eu consegui...
– Conseguiu! É claro que conseguiu! – Riu alto, parecendo muito orgulhoso. – Como se sente? Alguma queda na pressão ou algo do tipo? Eu li que isso pode acontecer... – A encarou, parecendo preocupado.
– Eu só... não esperava isso...
– Você está pálida... – Franziu o cenho. – Hannah, ela está pálida, não está? O que você sente? Quer que eu te leve pra Madame Pomfrey?
– Por Merlin, ela disse que está bem! – Ernie balançou a cabeça em desaprovação. – Sparks, senta na cadeira e descansa um pouco.
– E Diggory, vê se dá uma folga pra ela! – Hannah o olhou de cara feia. – Vai esgotar a garota se continuar assim!
– Tá, tá, você tem razão! – Cedric levantou as mãos em sinal de rendimento. – Não temos muito mais tempo antes da próxima aula mesmo...
Com o timing perfeito, os sinos badalaram. Eleanor e Hannah juntaram os braços e, se despedindo dos outros dois meninos, andaram em direção á sala de Adivinhação na Torre Norte.
Susan se juntou á elas no caminho, dizendo ter feito muito avanço nas leituras com Justin e Cho.
– Você vai estar preparada pra essa tarefa, El! – Ela observou, alegre. – Vai acabar em primeiro lugar, igual á segunda tarefa, estou dizendo...
– Lembre de nós, simples camponeses, quando você for uma campeã tribruxa famosa e reconhecida por todos os cantos. – Hannah brincou, e as três riram. – Merlin, vocês têm certeza de que não podemos pular a aula da Trelawney? – Resmungou, fazendo Susan a olhar, incrédula.
– É claro que não, Hannah, não fala besteira! – Fez careta pra ela. – Precisamos das aulas, ou você esqueceu que os exames estão quase aí?
– Ai, que droga... – Grunhiu, revirando os olhos. – A culpa não é minha se a Trelawney não apaga aquela bosta de lareira! Parece uma sauna lá dentro!
E ela estava terrivelmente certa. A sala, além de escura, estava excessivamente abafada e quente. A fumaça da lareira deixava a sala embaçada, enquanto Susan tossia e abanava a mão na frente do rosto, tentando respirar melhor.
– Eu falei! – Hannah sussurrou pra elas. – Sauna!
– Para de reclamar, ela vai ouvir! – Susan a repreendeu, ainda sussurrando, e as duas entraram em uma grande discussão entre sussurros, fazendo Eleanor dar risada enquanto se sentavam na mesma mesa de sempre.
Susan e Hannah ainda brigavam como um casal de velhas enquanto Eleanor olhava em volta, procurando uma forma de aliviar o calor. "Posso usar um feitiço de água pra apagar a lareira... não..."
Olhou para a janela, onde Harry e Ron se sentavam em uma mesa próxima. Ron parecia reclamar de alguma coisa enquanto encarava a lareira, enquanto Harry dava risada.
– Harry! – Ela chamou, da mesa ao lado, fazendo-o se virar, procurando pela pessoa que o chamou. – Ei, Potter! – Chamou, mais uma vez, e ele a olhou.
– O quê? – Perguntou.
– Abre a janela! – Apontou para a janela ao lado da mesa dele.
– Por tudo que é mais sagrado, abre! – Hannah grunhiu, dramaticamente, e algumas pessoas da sala riram, enquanto Harry se erguia da cadeira e abria a janela alguns centímetros, o que foi o suficiente para dissipar um pouco da fumaça e deixar a sala mais fresca.
A Professora Trelawney, que estava muito ocupada tentando tirar seu xale de um abajur, andou até o centro da sala com um sorriso fraco no rosto, enquanto o resto dos alunos se sentava em suas mesas.
– Meus queridos. – Ela disse, com sua voz etérea, se sentando em sua poltrona, diante da turma, correndo seus olhos por todas as mesas. – Estamos quase no fim dos nossos estudos sobre adivinhação planetária. Hoje, no entanto, teremos uma excelente oportunidade de examinar os efeitos de Marte, porque ele está em uma posição muitíssimo interessante no momento. Agora, vou diminuir um pouco a luz...
Tirou a própria varinha do bolso e, com um aceno das mãos, as luzes se apagaram. A lareira se tornou a única fonte de iluminação, já que as cortinas estavam fechadas. Então, se curvou e tirou de baixo da poltrona um modelo do sistema solar, protegido por uma redoma de vidro. Uma linda peça, Eleanor reparou, cada uma das luas cintilantes estavam dispostas em torno dos nove planetas e do enorme sol, todos suspensos no ar sob o vidro.
– Reparam o quão interessante é o ângulo que Marte forma com Netuno? – A professora apontou para os dois planetas. – Marte em quadratura plena com Netuno.... pra não mencionar a quadratura Vênus-Urano, que acontece exatamente amanhã!
Eleanor olhou para suas amigas, que pareciam ter a mesma expressão de confusão. Astrologia era um assunto o qual elas não eram nem um pouco fãs, além do fato que Trelawney não facilitava nas explicações; sempre falava como se todos entendessem o que ela quer dizer.
– Marte envolvido com Netuno traz essa enxurrada de interesses, às vezes coincidentes, e às vezes dispares. Principalmente os de signos de Gêmeos, onde Marte já é multifacetado, querem abraçar o mundo com as pernas. Com quereres tão diversos, fica difícil ter foco e realizar algo de fato. – Continuou. – Além dessa manifestação de dispersão, Marte-Netuno nos fala de um desejo pelo inefável, por algo não palpável e indefinível. Um desejo de dissolver o ego e render-se...
Hannah bufou, apoiando a cabeça nas mãos, parecendo muito entediada, enquanto Susan parecia lutar para manter os olhos abertos. Eleanor, no entanto, estava muito interessada no que a professora dizia.
– E como dificilmente estamos plenamente conscientes de tais impulsos, nos deparamos com situações em que nos autosabotamos, ou que parecem estar além das nossas possibilidades... – Gesticulava com as mãos. – ...ou vemos nossos esforços malogrados, tendo nossas conquistas tiradas de nós quando estávamos prestes á realizá-las. Sacrifício. – Ao ouvir aquilo, Eleanor sentiu um arrepio estranho.
– Ai... ai... – Ron choramingou, olhando algo na janela. Eleanor tirou sua atenção da professora e o olhou. Harry estava com a cabeça baixa, provavelmente dormindo.
– Que foi, Ron? – Ela perguntou.
– Tem um bicho aqui... – Apontou para trás da cortina. – Acho que é um besouro...
– Tem medo de besouros? – Arqueou a sobrancelha. – É só colocar ele pra fora...
– Eu não vou tocar nele! – Arregalou os olhos. – Só... deixa ele ali...
Eleanor riu pelo nariz e voltou á olhar para a professora, que ainda falava sobre Marte e Netuno. Quando a professora estava prestes á falar sobre como aquilo afetaria os demais signos do zodíaco, todos se assustaram com um berro vindo de Harry.
Antes que pudessem se virar para ele, o garoto caiu no chão, se debatendo, enquanto soltava grunhidos de dor. Ron e Eleanor se entreolharam, sabendo que aquilo tinha á ver com a cicatriz dele, e se levantaram ao mesmo tempo, cada um se ajoelhando ao lado dele. Harry, no entanto, não parecia estar sequer ciente de que estava jogado no chão da sala de aula. Parecia ainda estar sonhando. Todos os outros alunos se reuniram em volta dele, alguns curiosos e outros preocupados.
"Foi esse o sonho que ele falou que teve na sala do Dumbledore, naquele dia?" Ela pensou, engolindo em seco, enquanto Ron o sacudia.
– Harry! Harry... – O menino chamava.
De repente, Harry abriu os olhos. Quando se deu conta de onde estava, seu rosto se contorceu de dor mais uma vez e ele levou a palma das mãos até a testa, confirmando o que Ron e Eleanor pensaram; tinha á ver com sua cicatriz. Seus olhos estavam marejados.
– Você está bem? – Eleanor perguntou, com certo ênfase em sua voz.
– É claro que não está! – Trelawney exclamou, alvoroçada. – Que foi, Potter? Uma premonição? Uma aparição? Que foi que você viu? – Seus grandes olhos se arregalaram atrás de seus óculos.
– Nada. – Harry murmurou, se sentando. Eleanor reparou que ele tremia por inteiro, e olhava para todos os cantos, como se procurasse por algo, ou alguém.
– Você estava apertando sua cicatriz! – A professora disse. – Estava rolando no chão, apertando sua cicatriz! Ora, vamos lá, Potter, eu tenho experiência nesses assuntos!
Ron a encarou de cara feia, enquanto Harry ergueu a cabeça para a olhar.
– Preciso ir pra ala hospitalar, eu acho... dor de cabeça muito forte. – Deu de ombros, lançando olhares significativos para Ron e Eleanor.
– Ah, sei bem como é. – Eleanor concordou, entendendo o olhar dele. – Madame Pomfrey tem uma poção muito boa pra isso... – Mentiu.
– Meu querido, você, sem dúvidas, foi estimulado pelas extraordinárias vibrações premonitórias da minha sala! – Trelawney argumentou, eufórica. – Se você sair agora, poderá perder a oportunidade de ver mais longe do que jamais...
– Não quero ver nada além de um remédio pra minha dor de cabeça. – Harry a interrompeu, ríspido, e se levantou do chão com a ajuda de Ron.
Quando ele levantou, todos da turma recuaram, parecendo nervosos. Eleanor também se levantou do chão.
– Vejo vocês mais tarde. – Harry murmurou para ela e para Ron, apanhando sua mochila. – ...depois eu explico. – Sussurrou, antes de apressar o passo até a saída, sem dar atenção á Professora Trelawney, que tinha no rosto uma frustração enorme.
Logo depois, a professora fez com que todos voltassem ás suas mesas para que a aula continuasse. Antes que Eleanor se sentasse de volta com Hannah e Susan, Ron a chamou.
– Psssst! Eleanor! – Sussurrou, chamando a atenção dela. – Vem aqui! – Balançou a mão, apontando para a cadeira vazia ao lado da que Harry estava sentada antes, que era a cadeira onde Hermione se sentava antes de desistir da matéria.
– Eu já volto... – Eleanor disse para as amigas, antes de aproveitar a distração da professora, que respondia uma pergunta de Lilá, e se levantou, dando uma corridinha rápida para a mesa de Ron, se sentando na cadeira onde Harry estava sentado. – Estou aqui.
– Não quer sentar nessa? – Ele apontou para a cadeira ao lado da que ela se sentou. – O besouro estava bem aí... – Apontou para trás da cortina ao lado dela.
– Ron, pelo amor de Deus... – Ela balançou a cabeça em desaprovação. – Cadê esse besouro? – Tirou a cortina do caminho, procurando pelo inseto, mas não havia mais nada ali. Apenas a janela, aberta.
– Estava bem aí! – Ron arregalou os olhos, apontando para a janela. – Um besouro verde, bem aí!
– Se acalma, Ronald! – Ela fez careta. – Já deve ter saído, deixa pra lá... o Harry têm tido mais algum sonho recentemente? – Sussurrou a pergunta.
– Ás vezes. Ele acorda todo suado e se debatendo. – Sussurrou de volta. – Ele provavelmente vai nos contar o que viu depois...
– Tem razão. – Assentiu. – É, você tem razão... – Suspirou, voltando á observar a professora.
Ficou na mesma mesa que Ron pelo resto da aula, pois ele estava tendo dificuldades com as atividades passadas pela professora, então decidiu o ajudar, enquanto Susan e Hannah já pareciam entender tudo e não tinham dificuldades com a matéria.
Quando os sinos badalaram, eles se despediram e Ron desceu as escadas junto com Neville, Seamus e Dean, enquanto Eleanor se juntava á Hannah e Susan mais uma vez.
– O que será que houve com o Potter, hein? – Hannah indagou, curiosa.
– Passou mal por causa do calor. – Eleanor mentiu, andando um pouco á frente delas.
– Sabia... já estava demorando muito pra isso acontecer com alguém! – A loira exclamou. – Quem sabe agora a Trelawney não se toca e para de acender aquela droga de lareira!
– Pra quê você continua nessa aula se vai continuar reclamando? – Susan resmungou.
– Porque é a única aula que a gente não precisa fazer nada além de inventar algumas previsões e beber chá!
– Você nem gosta de chá! – Eleanor riu.
– Eu prefiro beber chá e não fazer nada do que ter que fazer Estudo de Runas Antigas ou qualquer outra coisa. – Deu de ombros e andou mais á frente das outras duas, que se entreolharam e riram pelo nariz do exagero da amiga.
Eleanor pensou em procurar por Harry na ala hospitalar, estava realmente curiosa sobre o que ele viu, mas decidiu confiar no que Ron disse e esperar que ele a procurasse para contar.
Naquela noite, porém, não pôde deixar de teorizar consigo mesma o que diabos ele poderia ter visto.
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