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História Corrupted (Livro 1) - Efeitos Colaterais - História escrita por moonysupreme - Spirit Fanfics e Histórias
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História Corrupted (Livro 1) - Efeitos Colaterais


Escrita por: moonysupreme

Capítulo 73 - Efeitos Colaterais


11 de agosto de 1995
Largo Grimmauld
20:53

Todos os moradores temporários do Largo Grimmauld estavam reunidos em volta da mesa, na hora do jantar. Eleanor estava sentada entre Helena e Sirius, que havia se sentado no lugar que era geralmente ocupado por Lupin, que preferiu ficar deitado para descansar, já que havia voltado de sua transformação na noite anterior.

– Amanhã, iremos sair bem cedo... – O Sr. Weasley disse, cortando o silêncio. – Recomendo que acordem antes das seis da manhã, se querem ter tempo de se arrumarem e tomarem café da manhã.

– Tipo, cinco e meia? – Helena indagou, e ele assentiu. – Acho que dá pra acordar nessa hora, não é, El? – Olhou para a mais nova, que balançou a cabeça, concordando.

– Mas... vocês também vão? – Harry ergueu o olhar para elas, parecendo muito confuso.

– Vamos sair com vocês, mas não vamos para o mesmo lugar. – Eleanor explicou.

– Oras, onde vocês vão? – Ron fez careta.

– Eu... é... – Eleanor suspirou, mexendo em sua comida com o garfo. – ...disseram que eu preciso voltar ao St. Mungus... pra check-up, sabe...

Os outros pararam de conversar e a lançaram olhares pesarosos. Ela fingiu não ver e voltou á comer.

– Bem, hã... – A Sra. Weasley pigarreou. – Passei suas melhores roupas pra amanhã, Harry... e seria bom se lavasse o cabelo hoje á noite também. Uma boa impressão faz milagres...

Harry concordou com a cabeça e voltou á comer sua costela de porco, antes olhando para Eleanor rapidamente. Ele parecia estar nervoso demais para mastigar.

– Como é que nós vamos pra lá? – Ele perguntou, numa tentativa falha de parecer despreocupado.

– Você vai com Arthur para o trabalho. – Ela explicou, sorrindo, dócil.

– Pode esperar na minha sala, até a hora da audiência. – O Sr. Weasley acrescentou.

Harry olhou para Sirius, sentado ao lado de Eleanor e de frente á ele, e abriu a boca para perguntar algo, mas a Sra. Weasley foi mais rápida em responder.

– Dumbledore não acha que é uma boa idéia o Sirius ir com você. – Balançou a cabeça, e Eleanor conteve o enorme impulso de revirar os olhos. Os nós de seus dedos ficaram esbranquiçados enquanto ela segurava o garfo com mais força e respirava fundo. – E devo dizer qu...

– ...acho que ele tem toda a razão. – Sirius disse, entre os dentes, parecendo muito contrariado. A Sra. Weasley se calou, contraindo os lábios.

– Quando... quando foi que Dumbledore disse isso? – Harry franziu o cenho, fitando o padrinho.

Eleanor se mexeu em sua cadeira, um tanto desconfortável, pois passou o dia inteiro tentando evitar relembrar os eventos da noite passado. Para fingir que não estava escutando, empurrou as batatas cozidas em seu prato, as fazendo rolarem de um lado para o outro.

– Ele veio na noite passada, quando já estavam deitados. – A Sra. Weasley disse, e não mencionou o fato de ele ter pedido para falar apenas com Eleanor.

Sirius deu um gole em sua cerveja amanteigada, pensativo, e Eleanor viu Harry abaixar os olhos para o próprio prato. Não havia percebido que Dumbledore esteve lá, na véspera da audiência, e sequer havia falado com Harry, seja para o dar algum conselho, ou até mesmo que fosse apenas para dizer que tudo daria certo. A única coisa que ele fez foi jogar tijolos de pressão nas costas dela.

Aquilo fez com que ela se sentisse pior do que antes. Mais uma vez, sabia mais do que Harry, e odiava isso.

*****

Eleanor acordou na manhã seguinte, ás cinco, depois de dormir por apenas duas horas. Por alguns minutos, pensou em esperar que Helena acordasse, mas um barulho no canto do quarto fez ela perceber que a ruiva já estava acordada.

Como estava virada com o rosto para a parede, teve que ficar de bruços para olhar para o outro lado do quarto, vendo Helena sentada no chão, com as pernas cruzadas, mexendo em uma caixa.

– Bom dia? – Eleanor murmurou, com a voz rouca, pigarreando para voltar ao normal.

– Ah, você acordou! – Helena ergueu o olhar para ela, rapidamente, mas voltou á olhar para a caixa. – Essa caixa é sua? Estava escondida atrás do espelho...

Eleanor estreitou os olhos e sentiu vontade de grunhir ao reconhecer a caixa de miçangas da Dra. Chapman.

– É um monte de lixo. – Resmungou, se sentando na cama e coçando os olhos.

– Não parece lixo... – Fez bico, olhando as variedades de cores, tamanhos e formas. – O que é?

– Kit pra fazer pulseirinhas. – Respondeu, num tom irônico. – Estive fazendo terapia. No mundo trouxa, sabe... ela me deu isso pra "controlar minha raiva".

– E deu certo?

– Nunca testei. – Deu de ombros. – Mas com certeza, não funciona.

Helena não pareceu convencida, mexendo em algumas das miçangas com a ponta do dedo, muito curiosa. Eleanor, não dando importância, se levantou da cama de uma vez e pegou uma muda de roupas em seu malão.

Em quarenta minutos, as duas já haviam tomado seus banhos e se arrumado, e desciam as escadas juntas, passando pelos antepassados de Monstros, pela cortina que cobria o quadro de Walburga Black, e, finalmente, chegando até a cozinha.

Eleanor abriu a porta e viu o Sr. e a Sra. Weasley, Sirius, Georgia, Tonks e Lupin sentados á mesa. Todos eles estavam devidamente vestidos, menos  a Sra. Weasley, que usava um roupão roxo.

– Bom dia! – Georgia sorriu para elas, bem humorada, e puxou uma cadeira ao seu lado para que Helena se sentasse ali.

Lupin, silenciosamente, fez o mesmo com uma cadeira ao seu lado, e Eleanor se sentou próxima á ela.

– Bom dia... – Tonks disse para Eleanor, sentada de frente para ela, bocejando. Seus cabelos, naquela manhã, estavam amarelos e cacheados. – Como dormiu? Bem?

– Sim... – Eleanor assentiu. – Você?

– Passei a noite acordada... – Bocejou mais uma vez, enquanto a Sra. Weasley se levantava e andava até a cozinha.

– Vocês vão tomar café da manhã? – Ela perguntou, de longe, e Helena e Eleanor se entreolharam, á algumas cadeiras de distância.

– Eu aceito. – Helena deu de ombros, e Eleanor concordou com a cabeça.

Naquele momento, a porta se abriu mais uma vez, revelando Harry. Usava um paletó quadriculado e marrom, por cima de um blusão azul caneta. O cabelo dele parecia estar molhado, mas Eleanor teve o palpite de que ele havia colocado um pouco de gel de cabelo, em uma tentativa de deixá-lo mais arrumado.

– Bom dia, Harry. – Eleanor sorriu fraco para ele, enquanto ele se sentava ao lado de Tonks.

– O que vão querer comer? Meninas, Harry? – A Sra. Weasley indagou. – Mingau? Bolinhos? Ovos com bacon? Torrada? Cereal?

– Eu quero cereal, obrigada! – Helena balançou a cabeça.

– Só... só torradas, obrigado. – Harry disse, parecendo um tanto desconcertado.

– Eu também. – Eleanor sorriu para a Sra. Weasley, de longe.

Lupin, que olhava para os dois, curioso, voltou seu olhar para Georgia, sentada de frente para ele.

– Que é que você dizia sobre Scrimgeour? – Cruzou os dedos por cima da mesa.

– Que precisamos ter mais cuidado. – A ruiva disse, mais séria. – Ele têm feito umas perguntas estranhas para mim...

– Comigo também! – Tonks exclamou. – Estava falando com o Kingsley sobre isso, ele também reparou!

Sem vontade de ouvir qualquer conversa sobre o Ministério, Eleanor tentou pensar em outras coisas. Infelizmente, a única coisa que se passava em sua cabeça além do Ministério de Magia, era sua visita ao St. Mungus, em algumas horas.

Foi retirada de seus devaneios quando a Sra. Weasley colocou duas torradas com geléia em seu prato, e mais duas no de Harry. Helena, do outro lado da mesa, comia seu cereal tranquilamente. A Sra. Weasley puxou uma cadeira ao lado do Sr. Weasley e a arrastou até o lado de Harry, onde se sentou e começou á mexer em sua camiseta, colocando a etiqueta para dentro e alisando os vincos nos ombros. Eleanor precisou segurar a risada ao ver a expressão no rosto de Harry.

– ...e preciso dizer ao Dumbledore que não posso fazer o turno da noite, amanhã. – Tonks disse, contendo mais um bocejo. – Estou cansada demais...

– Eu cubro o seu turno. – Georgia afirmou. – Preciso terminar um relatório, mesmo... não faz mal.

O Sr. Weasley, que não usava suas costumeiras vestes de bruxo, mas sim calças caqui e um velho blusão quadriculado com um paletó surrado por cima, se virou para Harry, com um sorriso fraco no rosto.

– Como se sente, Harry? – Indagou, e o garoto encolheu os ombros. – Vai acabar logo... dentro de algumas horas, você estará inocentado.

Eleanor concordou com a cabeça, mas Harry não respondeu. Para disfarçar, ela deu um gole no suco de laranja servido pela Sra. Weasley

– A audiência é no meu andar, na sala da Amélia Bones. É a chefe do departamento de Execução das Leis da Magia, e ela vai conduzir seu interrogatório. – Ele explicou, e Eleanor engasgou no suco por alguns segundos.

Havia tentado esquecer o fato de que não recebeu resposta alguma á carta que enviou para Susan. Sua cabeça havia se tornado apenas um amontoado de teorias do que poderia ter acontecido. Susan poderia ter lido a carta, a ignorado por não ter falado com eles antes, e não mudaria nada no julgamento de Harry. Ou, então, a carta tivesse sido extraviada e o Ministério ficou em silêncio para usar a carta contra Harry no momento da audiência. Muitas teorias se faziam em sua cabeça, e nenhuma delas era boa.

– Amélia Bones é legal, Harry. – Tonks balançou a cabeça. – É uma mulher justa, e vai escutar tudo que você tiver pra dizer. – Sorriu de lado para ele, enquanto Eleanor pigarreava, tentando disfarçar o fato de que havia se assustado com a menção do nome da Sra. Bones.

Lupin a olhava, um tanto desconfiado, mas pareceu decidir não falar nada naquele momento.

– É importante que você não perca a calma. – Sirius aconselhou, de repente. – Seja educado e seja direto ao falar os fatos.

Harry acenou com a cabeça, mostrando que estava ouvindo.

– A lei está do seu lado. – Lupin se inclinou na mesa. – Até mesmo bruxos menores de idade podem usar magia em situações em que há risco de vida.

A Sra. Weasley começou á passar um pente molhado pelos cabelos de Harry, numa tentativa de deixar os fios mais arrumados, mas sem sucesso algum.

– Eles não baixam nunca? – Ela murmurou, desesperada. Harry negou com a cabeça.

– Bem, já está na hora de irmos, de qualquer forma. – O Sr. Weasley se levantou. – Estamos um pouco adiantados, mas é melhor chegar cedo do que tarde... e Eleanor também precisa chegar á tempo de sua consulta.

– Ok. – Harry largou sua torrada, que mal havia sido mordida, e se levantou rapidamente, parecendo muito pálido, de repente.

Georgia e Lupin se levantaram ao mesmo tempo, se entreolhando, como se tensos. Enquanto Tonks, Molly e Sirius desejavam boa sorte á Harry, Eleanor e Helena ficaram lado á lado, esperando que Georgia as acompanhasse.

– Você... você vai com elas? – Lupin murmurou.

– Vou, oras, você me pediu para ir! – A mulher colocou as mãos nos quadris.

– Mas isso foi antes de eu voltar! – Retrucou. – Eu posso ir no seu lugar, não tem problema. – Sorriu fraco e andou até as meninas.

– Remus, tem certeza disso? – Sirius parou atrás dele. – Não acha que está fraco demais?

– É só uma ida rápida ao St. Mungus, Six. – Se explicou.

– Se você não estiver se sentindo bem, é melhor você ficar... – Eleanor murmurou para ele, e Helena concordou com a cabeça.

– Eu estou ótimo! E prometi á sua mãe que cuidaria de você. – Relembrou. – Isso inclui te acompanhar quando sair. – Finalizou, subindo as escadas, tentando fugir de mais argumentações.

– Mas... – Eleanor abriu a boca, mas Sirius balançou a cabeça. – Ele vai mesmo...?

– Não adianta discutir. – Ele suspirou, se sentando de volta á mesa. – Boa sorte na sua consulta, Eleanor.

Tonks, a Sra. Weasley e Georgia, que teve que ficar para trás, já que Lupin decidiu que estava em condições perfeitas de ir no lugar dela, fizeram o mesmo, e Eleanor e Helena subiram as escadas.

Se juntaram á Harry, Lupin e Arthur no corredor do térreo, onde ouviram a mãe de Sirius resmungar, através das cortinas, enquanto dormia. Arthur destrancou a porta e eles saíram para o restante da madrugada fria e cinzenta.

Eleanor andava entre Lupin e Helena, enquanto Harry e o Sr. Weasley andavam na frente. Ela agradecia ter escolhido uma roupa agasalhada para usar, pois a ventania e a ausência do sol faziam seu queixo tremer.

– Sr. Weasley! – Eleanor chamou, e ele virou a cabeça para trás, andando mais lentamente. – Nós vamos pegar o Nôitibus?

– Não, não! – Negou com a cabeça, sorrindo. – Bem melhor do que isso! Ah, bem melhor!

Ela franziu o cenho ao ver a animação dele e trocou olhares confusos com Helena, que deu risada.

– Você não vai para o trabalho a pé sempre, não é? – Harry perguntou.

– Não... em geral, aparato, mas você não pode... só acompanhado de adultos. – Ele explicou. – E acho melhor chegarmos da maneira não-mágica, já que você está sendo disciplinado por uso de magia indevido...

– Eu posso aparatar... – Helena cantarolou, vitoriosa, dando língua para Eleanor, que revirou os olhos, de brincadeira.

Eleanor reparou que Lupin e o Sr. Weasley andavam com suas mãos dentro dos paletós enquanto andavam. Tinha certeza de que seguravam as varinhas, prontos para qualquer ataque.

As ruas londrinas estavam desertas e precárias. Eleanor precisou tampar o nariz ao passarem por um beco que tinha um fedor extremamente forte de urina, e eles apressaram o passo.

Em 15 minutos de caminhada, chegaram á estação de Highbury & Islington. Eleanor se sentiu um tanto decepcionada pois, depois do Sr. Weasley dizer que era "muito melhor" do que um ônibus bruxo, ela esperava algo mais do que uma estação de metrô. Se lembrou, então, de que ele era um tanto apaixonado por coisas trouxas.

A estação pequena e desconfortável já estava se lotando de passageiros madrugadores, e o Sr. Weasley parecia encantado ao se ver tão próximo de tantos trouxas, em seus afazeres cotidianos. Enquanto isso, Eleanor tentava esquivar das pessoas que pareciam não se importar que quase esbarravam nela.

– Isso! – Ele apontou para máquina, sorrindo de orelha á orelha. – O que é isso?

– É uma máquina de vender bilhetes. – Eleanor explicou, sorrindo também. Ela adorava ver a curiosidade dos bruxos em relação ás coisas trouxas.

– É simplesmente fabuloso... – Ele se agachou para olhar de perto, analisando a máquina. – Fantasticamente engenhosas, não acham? – Apertava vários botões.

– ...diz que não estão funcionando. – Helena apontou para um cartaz colado ao lado da máquina.

– É, mas mesmo assim... – Ele deu de ombros, sorrindo, atencioso, para as máquinas, com os olhos brilhando.

Compraram os bilhetes de um guarda sonolento, e Harry assumiu a liderança da transação já que nem o Sr. Weasley, nem Lupin, sabiam usar dinheiro trouxa. Porém, pediu ajuda á Eleanor, pois ele não sabia os preços das passagens, dizendo não ter costume de andar de metrô. Ela rapidamente o lembrou dos preços.

Dez minutos depois, estavam embarcando no trem subterrâneo, que saiu, barulhento e sacudindo, em direção ao Centro de Londres. Lupin permaneceu calado o caminho inteiro, parecendo cansado, e Eleanor se sentiu um pouco culpada por ele ter se forçado á sair naquele estado. O Sr. Weasley, no entanto, entrou em um transe de, á cada cinco minutos, verificar e verificar novamente o mapa do metrô acima da janela, ansioso.

– Muito engenhoso como tudo funciona, não acham? – Ele perguntou para os três adolescentes, que preferiram sentar nos bancos, enquanto ele permanecia em pé, olhando em volta, maravilhado. – Olhem só, como esse, conecta com esse! E passam por todos esses lugares!

Eleanor sorriu, entretida, mas percebeu que as pessoas o olhavam, parecendo curiosas e estranhando o comportamento dele.

– Ele é estrangeiro. – Ela explicou para uma senhora, constrangida. – Sabe como é...

A senhora assentiu, mas ainda parecia desconfiada. O Sr. Weasley decidiu falar um pouco mais baixo depois disso, mas continuava fazendo observações animadas para eles.

– Mais três paradas agora... – Sorriu, animado, quando o trem parou pela segunda vez. Harry parecia ter bloqueado a voz dele de sua cabeça, pois olhava para o chão, sério, e muito pálido.

– Eu moro perto de onde vamos soltar! – Eleanor comentou, e o Sr. Weasley pareceu muito animado. – São uns 10 minutos, andando...

– E você anda muito de metrô, Eleanor? – Ele perguntou.

– Não muito... meus pais preferem usar o carro. – Ela deu de ombros, mas ele pareceu igualmente animado á menção de carros. – Eu, sozinha, uso mais a minha bicicleta.

– Bicicleta? Aqueles veículos de duas rodas? – Ele levantou as sobrancelhas, e ela assentiu. – Incrível, realmente incrível!

– Minha tia diz que meu pai tinha um carro! – Helena comentou. – Quando ele e minha mãe namoravam, minha tia precisava ir em todos os encontros deles para vigiar. – Fez careta, sorrindo.

– Seu pai era nascido trouxa? – Eleanor a olhou, um tanto surpresa.

– Sim! Maneiro, não? – Helena balançou a cabeça.

– Puxa, eu achava que a Sonserina... – Murmurou, sem querer.

– ... que só aceitavam bruxos de sangue puro? – Completou a frase dela, suspirando. – Acho que é bem comum, mas me aceitaram, não é? Eu que não vou questionar... devem ter tido outros mestiços na Sonserina, mas não conheço nenhum...

– Nenhum?

– Não é exatamente algo que você possa anunciar... não naquela casa. – Abaixou o tom de voz. – Por quê você acha que não tenho amigos por lá? No meu primeiro ano, falava para todos os cantos que meu pai era nascido trouxa... as crianças não gostavam de ficar perto de mim por isso. – Deu de ombros.

Eleanor ficou sem palavras por alguns segundos.

– Por isso, não sei de outras pessoas como eu por lá... só os sangues puros vivem falando sobre a linhagem deles, é claro, mas o resto fica em silêncio pra não chamar atenção.

– Foi assim que você virou amiga dos gêmeos? – Tentou descontrair o assunto.

– Quase. – Balançou a cabeça. – Eu virei amiga do Lee primeiro. Ele estava sem par durante as aulas de Transfiguração, já que Fred e George sentavam juntos, e McGonagall acabou colocando ele comigo, pois também não tinha par... ele me odiava, por ser da Sonserina e tal, mas acho que ele esperava que eu fosse ser como os outros.

– E você não é. – Ela riu pelo nariz.

– Não sou mesmo. – Negou com a cabeça. – Os gêmeos foram um pouco mais difíceis de se renderem aos meus charmes... odiavam a Sonserina com todas as forças deles, e ainda odeiam, mas eu sou a exceção. – Jogou o cabelo, bem humorada. – Pelos primeiros três anos, eles não falavam muito comigo, e era o Lee quem tentava aproximar eles de mim... no quarto ano, passaram á falar comigo direito, e no quinto ano, viramos amigos.

– Duas paradas! – O Sr. Weasley disse, depois do trem parar mais uma vez, sem ter percebido que elas falavam sobre seus filhos, e elas deram risada.

Por um tempo, o assunto morreu, então Eleanor olhou para o lado, onde Harry estava sentado. Havia sentado no meio deles, enquanto Lupin sentou ao lado de Harry e parecia tirar um cochilo.

– Tudo bem aí, Harry? – Ela sussurrou, inclinando a cabeça para o lado, e ele pareceu sair de um transe ao erguer o olhar para ela.

– Tudo... só... pensando. – Engoliu em seco, e ela soube naquele momento que ele não pensava em coisas boas. Provavelmente, tinha medo de tudo dar errado.

 Vai ficar tudo bem, sabe. – Suspirou. – Podem querer te culpar, mas não podem mudar as leis. E a lei diz que o uso da magia é permitido em casos de vida ou morte. – Explicou.

 E se podem mudar as leis? – Ele bufou. – Estão anunciando por aí que fui eu quem... você sabe! Quem fez aquilo com você... – Sussurrou, em um tom quase inaudível, se perdendo em meio ao falatório no trem. Nem mesmo Helena e o Sr. Weasley podiam estar escutando, pois eles conversavam entre si; Helena o contava sobre seus livros trouxas preferidos, e ele escutava, animado.

– Se quiserem te culpar por isso, existem meios de provar que não foi você! – Ela balançou a cabeça. – Eu mesma testemunho á seu favor, se for o caso!

– Não é como se fossem acreditar...

 Ok, Harry, eu preciso que você se controle! – Ela estalou os dedos na frente do rosto dele. – Não pense nisso agora, tá bem? A audiência não é sobre isso, então foque na audiência! Nós lidamos com isso depois...

Ele se calou por alguns segundos, não querendo admitir que ela tinha razão.

– Eles não param de me perguntar quem foi, sabe... – Ele murmurou, cruzando os braços. – Ron e Hermione...

 Eu falei pra eles que não vi quem foi! – Ela sussurrou. – Disse que estava mascarado...

– Eles não acreditam nisso...

– Harry, olhe... você pode... – Ela se ajeitou no banco, ficando tensa com o assunto. – ... não contar para eles? Para ninguém, na verdade... ninguém sabe.

– Eu não vou contar! – Se defendeu, como se ofendido pelo fato dela achar que ele contaria.

– Ótimo, estamos na mesma página, então! – Balançou a cabeça.

– Na próxima parada, crianças! – O Sr. Weasley anunciou, balançando os ombros, numa dança de comemoração discreta, e o assunto entre eles se deu como finalizado.

Eleanor pediu que Harry acordasse Lupin, e ele o fez, desajeitado, e Lupin acordou o lançando um olhar feio, ficando com o rosto amassado de sono até a parada deles chegar. Logo, foram quase carregados para fora do trem pela onda de passageiros, e Eleanor sentiu seu estômago se embrulhar e sua cabeça ficar mais leve.

Não sabia como havia conseguido ficar tanto tempo rodeada de tantas pessoas sem sentir nada, mas começava á sentir os efeitos colaterais. O mero pensamento de um desconhecido esbarrar nela a fazia querer vomitar, e seus membros já começavam á ficar doloridos. Os sons das pessoas falando em volta dela ficavam cada vez mais ensurdecedores, a fazendo precisar tampar os ouvidos, contorcendo o rosto.

– Eu te ajudo. – Helena disse, ao lado dela. – Vou colocar minhas mãos no seu ombro, tá bem? – Perguntou, e Eleanor hesitou por alguns segundos antes de assentir.

A ruiva passou o braço por cima do ombro dela, a puxando para perto e se esgueirando entre as partes mais vazias da multidão. Lupin andava um pouco á frente delas, abrindo espaço e olhando para Eleanor á cada dois passos, checando se ela estava bem.

Subiram a escada rolante, passaram pelas catracas, onde o Sr. Weasley ficou encantado ao ver seu bilhete ser engolido pela fenda de introdução, e saíram em uma rua larga, rodeada de edifícios, onde o tráfego já começava á ficar congestionado.

Helena finalmente pôde soltar Eleanor, já que a multidão se dispersava para os lados, e a lufana conseguiu respirar novamente. Sua cabeça doía e suas pernas tremiam, mas sentia seu coração voltar á bater na velocidade normal.

– Bem? – Helena perguntou, a olhando, com o cenho franzido. Eleanor apenas murmurou que sim, sem forças para falar.

– Tudo bem, Eleanor? – Harry a perguntou, parecendo um tanto assustado com o estado dela. Ele não a contaria aquilo, mas ficou sabendo de sua afefobia através de Ron. No entanto, não imaginava que fosse ser tão grave como ele presenciou.

– Ela diz que sim. – Helena respondeu por ela, e Eleanor assentiu, respirando fundo.

– Está um tanto pálida. – O Sr. Weasley observou. – Tem certeza de que consegue chegar até o hospital, Eleanor?

– Tenho. – Forçou a voz para que ela não falhasse, e ajeitou a postura. – Tudo certo...

Lupin a olhava, preocupado, mas não falou nada. Apenas continuaram andando, em silêncio.

Foi um trajeto de 15 minutos, mas mal sentiram, pois o tempo estava fresco e o sol mal havia nascido. Eleanor fez questão de guiar eles através dos atalhos que conhecia, pois morava há 30 minutos dali e conhecia o lugar como a palma de sua mão. Lupin parecia mais bem humorado e conversava com as duas meninas normalmente.

Eleanor também já se sentia melhor, depois de sua pequena crise na estação de metrô. No entanto, seu estômago ainda se embrulhava com o pensamento de que teria que retornar ao St. Mungus.

– As ruas são todas parecidas, não é? – Helena observou, encarando os edifícios, parecendo muito confusa. – Como vocês se situam?

– Eu passeava muito com a minha mãe. – Eleanor contou. – Toda vez que ela vinha para cá, comprar alguma coisa, eu vinha junto... acabei aprendendo os atalhos. – Deu de ombros.

Andaram em frente á um velho laboratório, que havia sido fechado há alguns anos.

– Meu pai trabalhou aqui, por alguns anos, depois que eu nasci, mas se demitiu quando eu tinha uns nove anos. – Contou, apontando para o edifício.

– O que é que ele faz? – Arthur perguntou, observando o prédio abandonado, atentamente.

– Farmacêutico! – Sorriu sem mostrar os dentes, mas recebeu olhares confusos de Helena e Arthur. – Ele estuda a ciência por trás dos remédios, sabe... trabalha no desenvolvimento, produção, análise, manipulação e distribuição de medicamentos...

– São como as poções, no mundo bruxo. – Harry resumiu, e ela concordou com a cabeça.

– Interessante! Muito interessante! – O Sr. Weasley sorria, assentindo, parecendo muito entretido. – Sua mãe também trabalha?

– Ela é professora. – Contou, andando um pouco á frente deles, pois estava os guiando através das ruas. – Dá aula pra crianças de uma escola de elite... eu mesma estudava lá, antes de receber minha carta.

– Escola de elite... em que escola ela dá aula, Eleanor? – Harry pareceu um tanto tenso ao fazer essa pergunta, e ela desacelerou o passo e se virou para ele, andando de costas, confusa.

– Smeltings. – Disse, e Harry arregalou os olhos, dando uma risada nervosa. – O quê?

– Você estudou na Smeltings? – Perguntou, incrédulo, e ela assentiu. – Como foi que você sobreviveu?

– Não sobrevivi. – Sorriu de lado. – As crianças me odiavam por lá... eu era bolsista, sabe... por causa da minha mãe. Achavam que eu era inferior á eles, mesmo sendo uma das melhores alunas.

– Agora sim, está parecendo a Smeltings que eu conheço... – Ele balançou a cabeça, ácido.

– Você estudou lá também? – Ela perguntou, curiosa, tentando se lembrar se já havia visto o rosto dele pela escola. – Por acaso, nós fomos da mesma turma?

– Ousado da sua parte achar que meus tios dariam um centavo pra me colocar em uma escola particular. – Levantou as sobrancelhas rapidamente. – Não, não. Eu estudei na escola estadual mesmo, em Stonewall... quem estuda em Smeltings é meu primo, Dudley.

– Dudley? – Ela parou de andar, arregalando os olhos pra ele. – Dudley, você diz, Dursley? Dudley Dursley?!

– ... você conhece? – Harry parou de andar também, franzindo o cenho.

– ELE É SEU PRIMO?! – Ficou boquiaberta. – Ah, agora está explicado! Tudo faz sentido... tudo mesmo!

– Não tem como você ter estudado com ele! Ele entrou no mesmo ano em que entramos pra Hogwarts... – Ele pareceu realmente muito confuso.

– Minha mãe ainda trabalha lá... ela vive falando dessa peste! Diz que é um dos piores da escola... – Comentou, relembrando de todas as vezes em que Daisy chegou estressada em casa. – Se eu soubesse que ele era seu primo, ia te fazer uma visita e aproveitava para dar uma surra nele...

– Boa sorte com isso. – Ele sorriu, ainda incrédulo. – Se tem algo pior que o Dudley, são os pais dele...

– Me parece algo bem comum na Smeltings. – Fez careta, andando ao lado dele, enquanto Arthur, Lupin e Helena andavam atrás deles. – Pirralhos mau educados, preconceituosos e esnobes... realmente, nada mudou.

Andaram por mais alguns minutos, fazendo mais comentários ligeiramente maldosos sobre os alunos de Smeltings, até chegarem ao aglomerado de lojas onde a entrada para o St. Mungus ficava.

– É aqui que nos separamos, então. – Lupin disse, colocando as mãos nos bolsos. – A entrada do hospital é aqui perto, e a do Ministério é pra lá. – Explicou, sinalizando para os lados indicados.

– Ah, pra aquele lado! Ainda bem... achei que tínhamos ido para o lugar errado! – O Sr. Weasley deu uma gargalhada bem humorada, mas Harry não pareceu nem um pouco feliz pela possibilidade. – Nunca venho a pé, e a perspectiva é bem diferente no mundo dos trouxas... e também, nunca usei a entrada de visitantes também!

Helena sorria para ele, achando graça, e eles se despediram enquanto iam para lados opostos. Os três fizeram questão de desejar boa sorte para Harry mais uma vez, antes de andarem na direção ao edifício abandonado onde ficava a passagem secreta para o hospital bruxo.

Lupin deu alguns passos adiantados até a mesa da recepcionista, enquanto Eleanor e Helena se sentavam nos assentos da sala de espera. Pela primeira vez, ela pôde olhar em volta e realmente observar o lugar, já que, da última vez em que esteve lá, estava ocupada demais tentando ir embora para prestar atenção na área da recepção.

Uma das bruxas que aguardava atendimento tinha uma coloração amarela no rosto, e ao virar o rosto para o lado, Eleanor percebeu que ela estava transfigurada para que sua boca ficasse avantajada como o bico de um pato. Helena, ao ver a mesma coisa, soltou um ronco, tentando conter a risada, e tentando evitar que a bruxa se sentisse constrangida, Eleanor puxou uma das revistas na mesa, cobrindo o rosto da ruiva com ela.

– Helena! – A repreendeu, em um sussurro, enquanto a outra apertava o nariz, tentando conter os roncos.

– Eu não tava esperando isso! – Sussurrou de volta, com a revista cobrindo seu rosto. – Ai, não tenho maturidade pra estar aqui...

– Claramente! – Eleanor balançou a cabeça em negação, mas tinha um pequeno sorriso no canto da boca. Só por precaução, evitou olhar na direção da pobre mulher.

Lupin se juntou á elas, se sentando no assento em frente, tampando a visão da mulher. Soltou um suspiro, aliviada, e seus ombros relaxaram um pouco.

– Você já será atendida. – Ele sorriu fraco na direção de Eleanor, com um olhar cansado. – Pedi especificamente por Wendy, já que você se dá melhor com ela... pode facilitar o exame, não é?

– Acho que sim. – Ela deu de ombros.

– Quem é Wendy? – Helena fez careta.

– Uma medibruxa que cuidou de mim quando eu estava aqui, da última vez. – Explicou. – Ela é muito legal, e é mais paciente do que os outros em relação á afefobia...

Depois de alguns minutos de espera, a figura familiar de Wendy surgiu em frente á elas, vestindo seu sorriso carismático de sempre, mas desta vez, tinha o cabelo loiro, cortado em uma franja, e as pontas tingidas de azul turquesa. Ela realmente era um pontinho de luz em meio á tantos medibruxos sérios e entediantes.

– Eleanor! – Ela exclamou, repousando as mãos no quadril. – Puxa, achei que não fosse te ver tão cedo! Sentiu minha falta tanto assim? – Deu risada, enquanto Eleanor se levantava.

– Não pude ficar longe por muito tempo, não é? – Eleanor sorriu de volta. Precisava causar uma boa impressão nela, e a convencer de que estava bem, senão não seria permitida á voltar para Hogwarts.

Por mais que tivesse medo de retornar á escola, sentia que precisava fazer aquilo. Acreditava, no fundo, que tinha muito á ver com as palavras de Dumbledore. Que eles dependiam dela e de sua responsabilidade para desbancarem as mentiras do Ministério. Como eles fariam isso se ela não fosse permitida á voltar para a escola? Precisava se controlar e manter a calma. Era algo muito maior do que ela.

– Vamos para a consulta, então? – Wendy a chamou com um movimento da cabeça, e Eleanor a seguiu, com Lupin e Helena em seu rastro.

Entraram em uma pequena sala, quase como um consultório, e Wendy puxou algumas cadeiras para que Helena e Lupin se sentassem, enquanto Eleanor se sentou em uma maca.

– Como pode ver, Eleanor está muito mais saudável do que estava quando saiu daqui... – Lupin apontou, tentando melhorar a situação.

– Você realmente parece melhor do que a última vez em que eu te vi. – Wendy observou, a olhando de perto. – Não está tão pálida, parece ter voltado á forma saudável... – Anotou em sua prancheta.

Eleanor lançou um olhar nervoso para os outros dois, e, enquanto Lupin balançava a cabeça de forma encorajadora, Helena ergueu os dois polegares para ela, em forma de joinha, e sorria abertamente.

– Vamos ao que importa, não é? – Wendy ergueu o olhar da prancheta, e Eleanor se virou para ela. – Como estão seus pesadelos?

– Eu... – Eleanor gaguejou. – Bem, é que... meio que... melhoraram... – Deu de ombros. – ...mas ainda acontecem, quase sempre, sabe...

– Eu... não entendi. – Tinha um olhar confuso.

– Não estão tão intensos... não acordo gritando, mas ainda tenho pesadelos... – Explicou, sentindo que estava começando á suar. "Droga, Eleanor, se controla...", pensou, consigo mesma.

– Quase não dá pra notar que ela está tendo pesadelos mais. – Helena afirmou, chamando a atenção para si. – Dividimos o quarto, e ela quase não faz barulho. Só se debate e acorda um pouco assustada.

– Ah, sim, sim! Isso é bom! – Wendy sorriu de forma genuína, e anotou em sua prancheta, mais uma vez. – É avanço, não é? Nós gostamos de avanço! – Balançava a cabeça.

Helena deu uma piscadela exagerada para Eleanor, que a agradecia mentalmente pela ajuda. Wendy, no entanto, ficou um pouco mais séria e olhou, lentamente, para Eleanor.

– Olha, vamos falar do elefante na sala... – A loira suspirou, segurando sua prancheta contra seu corpo. – Fiquei realmente preocupada com o que li sobre você no Profeta Diário, sabe...

Eleanor e Lupin trocaram olhares nervosos e ela ficou sem palavras por alguns segundos, porém, Wendy prosseguiu.

– Mas, te vendo aqui, agora, vejo que foi bobeira achar que fosse verdade... – Riu pelo nariz, nervosa. –  Acho que eu já deveria esperar isso do Profeta Diário, não é?

– Você... acredita em mim? Que eu não... perdi a sanidade? – Eleanor ergueu as sobrancelhas, sem reação.

– Claro que não! Nenhum de nós, aqui no hospital, acreditamos nisso... – Comentou, sorrindo fraco. – Trabalhamos com pessoas que realmente perderam a sanidade, entende... conseguimos distinguir.

Ela sentiu que seus olhos brilhavam com a chama de esperança que acendeu dentro de seu peito.

– El vai poder voltar á estudar, então? – Helena se sentou na beira de sua cadeira, ansiosa.

– É claro que vai! – Ela respondeu, como se fosse óbvio, e ficou muito confusa quando os outros três soltaram suspiros aliviados. – Vocês acharam que não?! Claro que vai... só vai precisar tomar alguns cuidados, é claro, mas nada que a atrapalhe muito.

– Cuidados? – Eleanor franziu o cenho ligeiramente.

– Bom, é possível que o acidente tenha afetado a sua memória um pouco... você pode perceber, daqui á algum tempo, que está mais esquecida ou avoada do que antes, e isso é normal! Então, precisa tomar Poções de Memória... elas agem como suplementos, e vão te ajudar á recuperar a agilidade de antes.

"Ótimo, mais uma coisa que eu preciso lembrar de fazer...", Eleanor resmungou, mentalmente, "...vou precisar anotar tudo que preciso fazer quando chegar na escola, já que é capaz de me pedirem para construir uma pirâmide daqui á alguns dias."

– E quanto aos seus poderes, Eleanor? – Wendy a tirou de seus devaneios. – Alguma... manifestação acidental? Talvez, algo se movendo sozinho, ou... algo se quebrando...

Por alguns segundos, Eleanor arregalou os olhos e se perguntou se Wendy lia mentes ou se alguém da Ordem da Fênix a conhecia e havia a contado. Parecendo perceber o olhar em seu rosto, a medibruxa foi rápida em se explicar.

– É que é comum, em casos traumáticos, entende... – Disse, se embolando em suas palavras. Era realmente muito jovem, talvez, da idade da Tonks, e não era surpreendente que se atrapalhasse de vez em quando, já que era muito nova na profissão. – Ainda mais em pessoas da sua idade, e como o seu caso foi especialmente traumático, seria completamente normal...

– Ah... – A expressão de Eleanor suavizou. – Podem ter acontecido... algumas coisas.

– Isso também pode ter á ver com o fato de você não poder praticar magia! – Explicou, gesticulando com as mãos. – Quando voltar para a escola, e praticar magia com frequência, esses acidentes vão diminuir!

– Espero que sim... – Suspirou. – Não quero acabar machucando ninguém. – Murmurou, para si mesma.

– Na maioria dos casos, são manifestações pequenas de magia, então não machucam ninguém! O máximo que acontece nessas manifestações são coisas quebrando ou saindo do lugar... não se preocupe. – A assegurou, balançando a cabeça.

Por algum motivo, Eleanor não acreditou naquilo. Sentia que não eram manifestações "fracas" de magia, principalmente pelos olhares que recebeu na noite em que quebrou quase todos os itens de vidro e porcelana durante a conversa com Dumbledore... "...se fosse algo normal e leve, não reagiriam daquela forma".

Depois de mais alguns minutos de perguntas simples, elas foram dispensadas enquanto Lupin e Wendy ficaram dentro da sala para conversarem sobre o "caso" de Eleanor. Ela e Helena decidiram voltar á sala de espera e se sentarem nos assentos novamente, esperando a volta de Lupin.

– Foi realmente rápido, não foi? – Eleanor observou, cruzando as pernas enquanto lia uma revista bruxa para se distrair. Fez questão de não pegar o Seminário das Bruxas, se lembrando de quando fizeram artigos horríveis sobre Hermione. – Confesso que achei que fosse demorar mais...

– Tem um salão de chá aqui? – Helena observou, lendo o quadro á esquerda da mesa da recepcionista. Eleanor também ergueu o olhar para ler, de longe, e concluiu que havia um salão de chá para os visitantes junto de uma loja do hospital no 5º andar.

– Acho que sim. – Deu de ombros. – Eu nunca fui lá. Na verdade, não saí do 4º andar... só ficava andando entre meu quarto e... – Se calou, de repente, lembrando de Alice e Frank.

– E... aonde? – Helena a olhou, confusa pela pausa repentina dela.

– Eu... preciso fazer algo. – Se levantou da cadeira, se lembrando de que havia prometido á si mesma que os visitaria em todas as oportunidades que tivesse. – Acha que Lupin vai demorar muito?

– Sei lá... o que é que você quer fazer? – Helena deu de ombros, ainda a fitando.

– Visitar uns pacientes que conheci quando estava aqui... acho que trouxe dinheiro, posso comprar algo pra eles na lojinha... – Murmurou consigo mesma, checando seus bolsos da calça e do casaco, tirando algumas moedas de dinheiro bruxo dali. – Você enrola o Lupin, e eu vou lá, rapidinho...

– Ah, não! – Helena saltou de sua cadeira. – Não vou te deixar perambular por aí, sozinha! E além do mais, é melhor esperar o Lupin, ou é capaz dele colocar o hospital em quarentena até te achar. – Negou com a cabeça.

– Mas ele vai demorar muito! – Resmungou, apontando para a porta.

– A gente não tem hora pra chegar! Sua consulta já acabou, não temos mais nenhum compromisso por hoje. – Argumentou. – Sem chances, Sparks, você vai esperar aqui, comigo...

– Você parece até o Cedric, falando assim... – Ela revirou os olhos e cruzou os braços, se sentando novamente.

– Ah, Cedric... – Helena se sentou ao lado dela, suspirando, alguns tons mais rosada. – Como será que ele está, hein?...

Eleanor a olhou, incrédula, mas não respondeu, apenas dando risada e balançando a cabeça em desaprovação.

– O quê? A primeira paixão, não se esquece tão cedo! – Helena deu risada ao ver a cara dela.

– Primeira paixão?

– El, meu anjo, eu tenho uma queda por ele desde antes mesmo de você entrar na escola... – Ela arqueou uma sobrancelha, e Eleanor riu mais ainda. – É sério! Pensei muitas vezes em torcer pela Lufa-lufa nos jogos de quadribol, até mesmo quando era contra a Sonserina e eu estava jogando...

– Agora, pode torcer por mim também. – Eleanor fez careta pra ela.

– Olha, eu já quase derrubei o Fred da vassoura por muito menos. – Disse, em tom de advertência, mas segurava a risada. – Ei, aquele menino ali não estuda com você? – Ela ficou séria de repente e apontou para o outro lado da recepção.

Eleanor, rapidamente, inclinou o corpo para o lado e olhou na direção em que a ruiva apontou. No entanto, a recepção estava um pouco mais lotada do que o normal, e ela não conseguiu enxergar nenhum rosto familiar por ali.

– Quem? – Perguntou, ainda com o pescoço esticado.

– Ali, do lado da velha de chapéu! – Apontou, novamente. – Cacete, você não enxerga? Vou perguntar pro Harry onde ele fez os óculos dele, você está precisando!

– Tem umas oito pessoas amontoadas ali, eu não tenho visão raio-x! – Se defendeu. – Quem é?

– Ah, agora ele já passou pela saída! – Ela se encostou na cadeira.

– Mas quem era? – Ajeitou a postura, curiosa.

– Eu sei lá o nome dele... é um fofinho, aquele! – Gesticulou, como se beliscasse as próprias bochechas. Eleanor a olhava, muito confusa. – Você sabe!

– Não, não sei! – Negou com a cabeça. – Você não lembra o nome?

– Eu não lembro nem o nome dos meus colegas de classe, imagina os seus! – Riu, sarcástica. – Qual o nome dele... Neil? Nathaniel? Niall? Newlin?

– ... Nigel, o menininho da Grifinória? – Fez careta. – Ele não é da minha turma! – Ficou muito ofendida, por alguns segundos.

– Não, tonta! – Negou com a cabeça. – Ele foi com a Gina pro Baile! Ele é da sua turma sim, eu tenho certeza!

– Ah! O Neville?!

– Isso, Neville, foi o que eu disse. – Deu de ombros.

– Você falou tudo, menos Neville. – Arqueou uma sobrancelha.

– Tá, tá, você entendeu! – Balançou as mãos. – Foi ele que eu vi!

– Você deve ter se confundido... quase ninguém da nossa idade vem aqui. – Negou com a cabeça, se encostando no assento. – E não tem motivo pra ele vir aqui, além disso.

– Vai que ele foi azarado, sem querer. – Deu de ombros. – Só sei que vi ele ali.

Eleanor deu de ombros também, decidindo acreditar que Helena havia se enganado. Não havia motivo para Neville estar no St. Mungus, afinal. Se algo tivesse acontecido com ele, ele não teria ido embora, e sim estaria internado. Provavelmente, não era ele...

Lupin surgiu ao lado delas, segurando um pedaço de pergaminho, que Eleanor reconheceu como o pergaminho da prancheta de Wendy. Ao se levantar, tentou ler o que estava escrito nele, mas Lupin rapidamente o colocou dentro do paletó, fingindo não ver que ela tentava ler o que era.

– Vamos voltar? – Lupin perguntou para elas.

– Na verdade, eu estava pensando... – Eleanor murmurou, sem jeito, olhando para o quadro. – ...emvisitarAliceeFrank... – Sussurrou, em tom quase inaudível, e rapidamente.

– O quê? – Ele inclinou a cabeça na direção dela, com o cenho franzido.

– Ela quer passar na lojinha, comprar um presente e visitar uns pacientes que ela conheceu quando estava aqui. – Helena explicou, antes que Eleanor pudesse responder.

– Você quer dizer... – Lupin olhou para Eleanor, e ela assentiu. – Bem, eu... é... acho que...

– Vamos aceitar isso como um sim! – Helena sorriu abertamente e, cuidadosamente repousando a mão no ombro de Eleanor, andou com ela em direção ao elevador que levava aos andares superiores.

– O que está fazendo?! – Eleanor sussurrou, enquanto as duas deixavam um Lupin perplexo para trás.

– Ele é igual minha tia. – Ela confessou. – Precisa aproveitar esses momentos de confusão, acredite em mim. – A deu uma piscadela e pressionou os botões do elevador.

Lupin deu passos apressados até a porta do elevador, parecendo voltar á realidade, e disse algo como "irei esperar vocês voltarem", antes das portas se fecharem e o elevador começar á subir.

Uma voz alta e clara soou, assim que o elevador parou. "5º andar, salão de chá dos visitantes e loja do hospital", disse, e as portas se abriram.

As duas andaram lado á lado, um tanto perdidas, já que nenhuma delas havia estado ali antes, mas, por sorte, o estande de presentes do hospital ficava em frente ao elevador, e Eleanor decidiu levar de presente para eles um vaso com uma planta mágica que lembrava um cacto florido. Não sabia, no entanto, qual era o nome da planta, já que nunca foi muito boa em Herbologia, de qualquer forma.

– Você conheceu eles quando estava aqui ou já conhecia eles antes? – Helena perguntou, enquanto Eleanor pagava 5 sicles ao vendedor.

– Só quando estava aqui. – Ela respondeu, um tanto evasiva. Não queria falar muito sobre eles. – Obrigada. – Sorriu para o vendedor e andou de volta ao elevador, segurando o pequeno vaso em ambas as mãos, com cuidado.

Esperaram o elevador voltar ao 5º andar e, depois de poucos minutos, estavam descendo até o 4º andar. Por ser um elevador mágico, chegaram rapidamente, e Eleanor andou á frente de Helena, já reconhecendo o corredor como a palma de sua mão.

Alguns medibruxos acenaram e sorriram para ela ao a reconhecerem, dizendo para ela "não se importar com o Profeta Diário", o que a fez se sentir um pouco mais esperançosa de que conseguiria desbancar todas as mentiras ditas sobre ela.

Helena se esforçava para a acompanhar, a alcançando apenas quando Eleanor parou em frente á porta do quarto de Frank e Alice. Deu duas batidas, caso Andy estivesse ali, de visita, mas ninguém respondeu, então ela a abriu.

Os dois estavam em suas camas, como da última vez que ela os viu, exceto que Frank, desta vez, também estava sentado, e olhava para a parede, enquanto Alice olhava para os próprios pés, em transe.

– Vamos lá, entre. – Eleanor murmurou para Elle, entrando no quarto, mas a ruiva permaneceu no batente, um pouco hesitante e nervosa.

Eleanor parou ao lado da cama de Alice, olhando para o rosto dela. Por algum motivo, sentia que era mais próxima dela, entre os dois. Talvez, fosse o fato de terem características tão parecidas; Alice, assim como ela, tinha os olhos castanhos e os cabelos escuros e compridos. Tinha um olhar dócil, mesmo que estivesse completamente vazio, e sua boca estava sempre curvada em um pequeno sorriso, como se fosse moldada daquele jeito. Algo na alma de Eleanor dizia que, se as circunstâncias fossem diferentes, elas se dariam muito bem.

– Não sei se algum dos dois gosta de plantas... – Eleanor disse, olhando para a planta em suas mãos. – ...mas eu pensei em trazer algo pra vocês, já que não pude visitar antes.

Helena observava a cena, muito confusa, mas permaneceu em silêncio.

– Não sei se vou poder voltar aqui tão cedo, sabe... vou voltar pra escola em setembro. – Ela prosseguiu. – Mas Andy disse que vem visitar vocês com frequência, não é? Acho que não vão ficar sozinhos... – Pensou consigo mesma.

Suspirou e apoiou o vaso na cabeceira entre as camas de Alice e Frank, a posicionando bem ao lado do livro empoeirado dos Contos de Beedle, o Bardo que ela costumava ler para eles enquanto estava internada.

Antes, se sentia horrível por, diferente deles, ter saído sã da tortura. Não achava justo, ela ter tido essa chance, enquanto eles estariam presos ali, pelo resto de suas vidas. Ainda não achava justo, e talvez nunca entendesse porque a vida funcionava daquele jeito. Mas, pela primeira vez, se sentiu motivada.

Decidiu dar uma chance á si mesma. Já que estava viva e podia mudar sua situação, não deixaria a oportunidade passar. Poderia estar do mesmo jeito que eles, e aquilo quebrava seu coração. Queria mudar, e, talvez, voltar á viver como antes, mesmo sabendo que isso, provavelmente, não seria possível.

Decidiu que queria melhorar. E iria dar o seu máximo para conseguir; por Alice e Frank.

– Eles... costumam ser quietos assim? – Helena perguntou, um tanto desconcertada, enquanto as duas desciam pelo elevador, até o 1º andar, onde Lupin as esperava. – Meio calados...

Eleanor não demorou muito durante sua visita; não havia muito o que fazer, e não queria fazer Lupin esperar por muito tempo.

– Eles foram torturados. – Eleanor disse, direta, sabendo que Helena estava curiosa para saber o que houve com eles, mas não sabia como abordar o assunto. – Até a insanidade... como dizem que aconteceu comigo.

– Ah. – Murmurou, constrangida. – Bem... é legal da sua parte visitar eles. – Observou, forçando um sorriso.

– É o mínimo que posso fazer. – Deu de ombros. – Visitava eles todos os dias, quando fiquei aqui... Wendy disse que não tinham muitas visitas, e que as enfermeiras desistiam de tentar conseguir alguma reação deles, depois de um tempo.

– Deve ser bem solitário. – Suspirou. – Acha que eles... tipo... que eles tem consciência do que acontece? Que eles escutam tudo, vêem tudo?

– Na melhor das hipóteses, acho que sim. – Decidiu ser otimista. – É melhor do que acreditar que estão vazios por dentro, não é?

– Eu acho... – Assentiu, e ficaram caladas até a porta do elevador se abrir.

*****

Estavam sentadas no metrô de volta para a estação de Highbury & Islington. Eleanor sugeriu que chamassem o Nôitibus Andante, mas Lupin disse que estava com muita dor de cabeça para aguentar os trancos e barrancos que eram forçados á aguentar dentro do ônibus.

Helena permaneceu calada por boa parte do caminho, parecendo pensativa desde que Eleanor a falou sobre Frank e Alice. De vez em quando, ela fazia alguma piada para descontrair e fingir que não pensava em nada, mas sua expressão ficava mais séria logo depois, enquanto fitava o chão.

Lupin não dormiu no trajeto de volta pra casa, já que era o único adulto responsável e estava tomando conta das duas, então permaneceu em alerta por todo o caminho. Pareceu extremamente incomodado com todas as paradas que o trem dava, bufando e sacudindo as pernas.

Eleanor, no entanto, que já estava acostumada, olhava para fora das janelas, vendo os borrões dos túneis do lado de fora passando por eles em alta velocidade. Se deixou ficar submersa em um mar de pensamentos sobre sua consulta, os conselhos de Wendy, Alice e Frank, a volta para Hogwarts, a audiência de Harry, e todas as responsabilidades que teria dali pra frente.

Quando se deu conta, já estavam prestes á descer do trem, e precisou ser guiada por Helena em meio á multidão, mais uma vez. Porém, como estava na hora do almoço, estava bem menos vazio do que de manhã, na hora em que todos iam para o trabalho.

– Acham que a audiência do Harry já acabou? – Eleanor cortou o silêncio, enquanto andavam pelas ruas em direção ao Largo Grimmauld. O sol já estava á todo vapor no céu, esquentando sua pele de forma confortável.

– Que horas são? – Lupin perguntou, pensativo, e Eleanor ergueu o braço, olhando seu relógio de pulso.

– Nove e meia. – Respondeu, rapidamente, e Lupin franziu o cenho, olhando para o chão enquanto andavam. – E então?

– Talvez... eu não sei. – Deu de ombros, parecendo genuinamente confuso. – Deveria ser algo rápido, é claro, mas conhecendo o Ministério...

– É pra gente se preocupar, então? – Helena arregalou os olhos e franziu o cenho, um tanto assustada.

– Não. – Ele negou com a cabeça. – Precisamos pensar positivo. Harry precisa disso agora.

– O que ele precisa é que alguém dê uma surra no Fudge. – Eleanor resmungou, se aconchegando em seu casaco, aproveitando a luz do sol que batia em seu rosto. – Fico mais do que feliz de fazer isso por ele...

Lupin a lançou um olhar de repreensão, mas riu pelo nariz e balançou a cabeça em desaprovação, ficando em silêncio. Ela e Helena trocaram olhares bem humorados com a reação dele, e continuaram fazendo piadas com Fudge até chegarem em frente ao Largo Grimmauld.

Antes de subir os degraus para entrar na casa, deu uma última olhada para o lado de fora, apreciando a luz do sol e o ar fresco. Estar do lado de fora era muito diferente de respirar ar puro através das janelas do Largo Grimmauld, e ela não percebeu o quanto sentia falta de poder sair e apreciar o lado de fora até ficar presa por quase um mês.

– Eleanor, vamos... – Lupin a chamou, a tirando de seu transe, dando espaço para que ela passasse pela porta antes dele.



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