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História Corrupted (Livro 1) - Pai e Filho - História escrita por moonysupreme - Spirit Fanfics e Histórias
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História Corrupted (Livro 1) - Pai e Filho


Escrita por: moonysupreme

Capítulo 76 - Pai e Filho


3 de julho de 1995
Mansão Malfoy
14:01

O caminho de volta para casa foi silencioso para Draco e Narcissa. É claro, não precisaram passar muito tempo juntos, já que o caminho de volta era rápido; iam da Estação de King's Cross para a Mansão Malfoy, e vice-versa através de uma chave de portal. É claro, as chaves de portais eram extremamente caras e difíceis de serem colocadas, mas não era nada que o dinheiro dos Malfoy e a influência de Lucius não pudessem resolver.

Draco sentia um nó em sua garganta se apertar desde o primeiro momento em que encontrou sua mãe; alguém o azarou no trem, o fazendo ficar desmaiado até alguns minutos depois do trem chegar na Plataforma 9¾. Por sorte, ele, Crabbe e Goyle não foram esquecidos lá dentro.

Não disse uma palavra á sua mãe sobre quem havia sido, pois tinha uma parte dele que acreditava ter sido Eleanor, e ela já havia se metido em problemas demais por causa dele. O que o lembrou...

– Mamãe, é verdade? – Ergueu o olhar para a mãe, enquanto ela o bombardeava de perguntas sobre quem havia o azarado. – O Lorde das Trevas...

– Aqui não, Draco! – Narcissa sibilou, o encarando de forma repreensiva. Aquilo confirmou suas dúvidas.

 É verdade, então? – Sua voz falhou. – O meu pai...?

Narcissa fingiu não escutar as palavras dele e continuou andando, com um falso olhar de superioridade no rosto, pois ainda haviam algumas pessoas na Plataforma, e os Malfoy nunca seriam pegos desprevenidos, em um momento ruim.

Ficou calado o resto do caminho, e precisaram se apressar, pois a chave de portal era acionada exatamente ás 14:00. Teve um pouco de dificuldade para acompanhar os passos rápidos e largos de sua mãe, já que ainda estava um tanto tonto por causa da azaração. "Não era pra eu ter ido lá...", pensou consigo mesmo, "... só estou fazendo ela me odiar mais...".

Por sorte, conseguiram chegar no horário certo. Em alguns segundos, já estava sentindo a velha sensação de ser puxado pelo umbigo e de estar sendo arremessado através do espaço-tempo. Já haviam feito isso tantas vezes, afinal, era o único transporte digno para os Malfoy. Nunca seriam pegos usando Pó de Flu e ficando imundos, como os Weasley, já que tinham dinheiro o suficiente para subornar o Ministério e para instalar uma chave de portal de ida e volta toda vez que precisavam sair de casa.

– Preciso que vá direto para o seu quarto. – Narcissa disse, ao pararem em frente á porta de entrada. Um ruído atrás deles a fez dar um salto e se virar bruscamente, como se aterrorizada com a possibilidade de alguém os ter seguido. A fonte do ruído provou ser nada mais do que um pavão branco, esgueirando-se majestosamente pelo gramado.

– Mãe? – Ele franziu o cenho, a olhando, esperando alguma coisa. Qualquer coisa. Mas ela não respondeu, apenas o lançou um sorriso forçado e passou as mãos pelo cabelo dele. – O que está acontecendo?

– Apenas... suba direto. – Balançou a cabeça, abrindo a porta lentamente, parecendo temer que a porta fizesse barulho.

A Mansão Malfoy estava escura, cinzenta e fria, como sempre. Mas, agora, de alguma forma, parecia ainda mais sombria. Talvez, a mudança não fosse na casa, e sim em Draco. Estavam no hall de entrada, em frente á duas enormes escadas que se uniam no topo, formando um tipo de sacada do segundo andar, que dava visão para o primeiro andar.

O hall era grande, mal iluminado e suntuosamente decorado, com um magnífico tapete cobrindo a maior parte do piso de pedra.

Apertou suas mãos em volta da alça de sua mala, engolindo em seco, e andou em direção ás escadas no hall de entrada. Antes que pudesse pisar no primeiro degrau, a enorme porta da sala de estar se abriu, revelando a figura de seu pai.

Mas, ao contrário do que ele esperava ver, que era Lucius arrependido e se culpando por ter feito... o que fez com Eleanor, ele parecia tão calmo e composto. Como sempre. Como se nada tivesse mudado, e sua consciência não pesasse nem um pouco.

Parou de andar e virou o corpo na direção do pai, semicerrando os olhos para o analisar melhor. Talvez, ele expressasse seu arrependimento com alguma microexpressão, e Draco só precisava prestar atenção.

– O que está esperando? – A voz de Lucius o fez sair do transe. – Suba para o seu quarto. Eu converso com você depois. – Seu rosto se contorceu levemente, e, parecendo nem sequer ver Draco ali, se virou para a esposa. – Você precisa se juntar á nós.

– Eu pensei em ajudar Draco á desfazer as ma... – Narcissa mexeu as mãos, parecendo nervosa, mas Lucius fechou os olhos e suspirou fundo, massageando a ponte do nariz.

– Você precisa estar comigo. – Repetiu. – As pessoas comentam. Precisam saber que estamos de acordo.

Ela não respondeu por alguns segundos.

– Certo. – Sorriu fraco. – Estou indo.

– Mãe? – Draco a chamou, tentando entender o que estava acontecendo.

– O elfo vai te ajudar com as malas, filho. – Balançou a cabeça para ele, se apressando á passar pela porta da sala de estar, que Lucius abriu.

– Simmy! – O homem gritou, em direção ao longo corredor para o fundo da casa, e um elfo carrancudo e gorducho veio andando. – Leve as malas de Draco para o quarto dele e arrume as coisas dele.

– Como quiser, mestre. – Simmy, o elfo doméstico, fez uma reverência exagerada, encostando seu enorme nariz no chão, o amassando.

– Pai... – Draco deu dois passos na direção do pai.

– Agora não. – Sibilou, o fazendo parar. – Iremos conversar quando for a hora.

– Mas por quê...

– Lucius. – Uma voz fria chamou, do lado de dentro, e Draco viu os olhos do pai se arregalarem, por um segundo. Pela primeira vez, ele pareceu assustado. – A reunião precisa continuar... á não ser que Draco queira se juntar á nós?

Agora foi a vez de Draco arregalar os olhos. Seu peito, por uma fração de segundo, congelou; não havia passado pela sua cabeça á quem aquela voz poderia pertencer, mas, de repente, tudo ficou muito claro.

– Estava dando ordens ao elfo, milorde. – Lucius disse, com a voz mais grossa e um tanto trêmula. Deu as costas para Draco, bruscamente, e voltou para a sala de estar, batendo a porta atrás de si.

Por alguns segundos, Draco ficou paralisado, encarando a madeira maciça e a maçaneta de bronze da porta, tentando entender o que sentia; era uma mistura de medo, raiva e nojo.

Desde que descobriu que seu pai havia sido o responsável pela tortura de Eleanor, algo dentro dele o fazia ter um resquício de esperança de que tudo aquilo fosse um mal entendido, e que Lucius, talvez, estivesse arrependido e mal conseguisse conviver com o fato de que havia feito aquilo. Afinal, ele sabia que o pai havia sido um Comensal, mas não que havia tido qualquer envolvimento nas coisas horríveis que fizeram.

Agora via que era ridículo pensar isso. Estava mentindo para si mesmo, e, no fundo, ele já devia saber disso. Eleanor foi torturada por seu pai. E de propósito. Tão propositalmente que ela quase morreu por isso... e a culpa era toda dele.

Suas pernas pareciam estar presas no mesmo lugar; estavam trêmulas demais para subir as escadas. Simmy já havia aparatado com todas as suas malas, e agora, tentava tirar a única mala que restava das mãos de Draco, que não escutava a voz dele e nem se mexia. Sequer piscava.

Por um segundo, tudo que sentiu foi raiva de seu pai. Estava feliz, verdadeiramente feliz, ao lado de Eleanor, e, pela primeira vez, nada parecia ameaçar essa felicidade, e ele arruinou tudo aquilo; e quase a matou, no processo. Sentiu uma vontade inexplicável de chutar a porta da sala de estar e pedir por uma explicação, um pedido de desculpas, uma prova do arrependimento de Lucius, mas era mais esperto do que isso. Não duraria dois segundos naquela sala, se realmente estivesse acontecendo o que ele pensou que estivesse acontecendo. Não se soubessem que ele estava disposto á enfrentar seu próprio pai para defender uma nascida trouxa.

De repente, voltou á ter consciência de onde estava. Olhou para baixo e viu Simmy puxando a mala de suas mãos com toda a força que tinha; soltou a alça da mala e o elfo caiu sentado no chão, agarrado á mala.

– Simmy vai levar sua mala, menino Draco! – Ele balançou a cabeça freneticamente. Draco não pensou em responder, por alguns segundos; nunca fez questão de responder ou dar atenção aos elfos, seja Dobby ou seja Simmy, mas, no fundo de sua mente, pensou: "Eleanor responderia... com todo aquela mania dela de querer ser gentil com todos".

– Obrigado... Simmy... – Disse, balançando a cabeça, á contragosto, e o elfo pareceu surpreso por ser reconhecido por ele, pela primeira vez, em anos, por algo que não fosse receber ordens. – Mas eu posso levar essa mala sozinho. – Estendeu a mão para tomar a mala das mãos dele, mas ele desviou.

– Simmy recebeu ordens do Mestre de levar as malas para o quarto do menino Draco e arrumar tudo! – Negou com a cabeça.

– Mas eu posso levar. – Insistiu. Antes que pudesse argumentar novamente, Simmy aparatou, o deixando falando com o ar. "Elfo teimoso...", resmungou, em sua cabeça.

Olhou em volta, reparando que os rostos pálidos dos retrados espalhados pelas paredes do hall de entrada o observavam, desconfiados, e decidiu obedecer as ordens de sua mãe: subiu direto para o seu quarto, derrotado.

Seu quarto ficava no terceiro andar da mansão, que tinha um total de cinco andares. Nunca entendeu exatamente porque tinham tantos quartos, se eram apenas três pessoas; ás vezes, passava dias sem ver seu pai, já que haviam muitos andares e corredores espalhados. Se não fosse por sua mãe, que fazia questão de, pelo menos, comer todas as refeições na companhia dele, e por Simmy, ele passaria todos os seus dias na Mansão em isolamento. Se bem que, agora, essa possibilidade não parecia tão ruim.

E, se não se sentir confortável em casa, pode simplesmente passar os seus dias escondido em algum lugar do lado de fora, já que a mansão acumulava muitas terras ao redor dela, terras grandiosas, e ele suspeitava que eram muitos hectares. Suspeitava que nunca fosse conseguir explorar todos os cantos do terreno.

Ao passar por todos os retratos espalhados pela casa, do primeiro andar até o corredor de seu quarto, Draco suspeitou que todos eles soubessem das "coisas horríveis" que ele havia feito. Nunca recebeu olhares tão feios de seus antepassados, e ele escutava alguns deles cochichando pelas suas costas. "Do que eles querem falar?", pensou consigo mesmo, emburrado, "... estão mortos! Todos eles! Do que eles sabem?".

Pôde respirar aliviado depois de fechar a porta do seu quarto, já que não havia nenhum retrato ali para o julgar. Por um segundo, se esqueceu que Simmy havia recebido ordens de arrumar suas coisas, e se assustou ao ver a cara enrugada e carrancuda dele ao lado de seu armário.

– Eu posso cuidar disso. – Disse, passando as mãos entre os cabelos, sem ligar se estava os bagunçando.

– Simmy precisa arrum...

– Simmy. – O interrompeu sério. – Eu quero ficar sozinho agora. Eu arrumo. Pode sair... – Abriu a porta do quarto, e esperou que ele saísse.

– Como quiser, senhor. – Ele fez uma reverência e saiu se arrastando.

Draco fechou a porta mais uma vez, e olhou em volta. Tudo era tão cinzento, triste e sem vida que era como se estivesse vendo o mundo através de lentes em preto e branco. A única coisa que o convencia de que isso não havia acontecido era a vista do terreno da Mansão Malfoy pela janela, exibindo os jardins perfeitamente verdes e bem cuidados, com diversas árvores, flores e vários tipos de vida animal; já havia visto cavalos, patos e pavões, espalhados por lá.

Porém, não estava com a mínima vontade de admirar a beleza do lado de fora, então fechou as cortinas bruscamente, deixando o quarto ainda mais escuro. Aquiles, sua coruja, piou, entristecido com a escuridão, em cima da cama de Draco. O loiro mexeu a varinha e acendeu as velas do quarto; sempre fazia magia em casa, mesmo sendo menor de idade, já que o Ministério da Magia não tinha controle sobre quem havia usado magia em uma família inteiramente bruxa.

Com mais um movimento de sua varinha, fez suas roupas saírem de seu malão e irem em direção ao armário. Não se deu o trabalho de as dobrar, poderia fazer isso depois, só queria esvaziar as malas de uma vez para poder se deitar e, com sorte, fingir que não existia até o início do próximo ano letivo.

Enquanto usava sua varinha para desfazer as malas, sua mente estava em outro lugar. Desde a noite anterior, quando descobriu que seu pai havia torturado a pessoa mais importante de sua vida, seus pensamentos não eram sobre qualquer outra coisa. Não parava de reviver o momento em que percebeu que ela sequer conseguia o olhar, e como parecia ter medo do toque dele.

Apenas depois de alguns minutos que ele percebeu que estava se olhando no espelho que tinha no canto de seu quarto. Era difícil ver seus traços claramente ali, pois era um espelho muito velho, empoeirado e embaçado, mas ainda conseguia ver o necessário para sentir nojo de si mesmo. Nojo da cor de seu cabelo e da cor de seus olhos, e qualquer outro traço que compartilhava com seu pai. Talvez, se ele fosse diferente dele, Eleanor talvez ainda conseguisse o olhar, e o deixasse ajudar.

A culpa é de Potter. Ele tinha certeza. Dumbledore havia dito em seu discurso que "ela havia se recusado á abandonar um amigo em perigo", e, por isso, havia sido torturada. Era pra ela ter voltado, e deixado ele lá... não era pra ter se arriscado... era tudo culpa dele. Tudo.

Estava mentindo para si mesmo, e sabia disso. Eleanor arriscaria sua vida até mesmo por um trasgo, e, no fundo, Draco sabia que esse era um dos traços dela que ele mais admirava, por mais que achasse burrice, algumas vezes. Era uma das pessoas mais corajosas que ele conhecia, e isso não era culpa de ninguém além da pessoa que a fez mal.

E essa pessoa estava sob o mesmo teto que ele. E não havia nada que Draco pudesse fazer para vingar ela.

Em um momento de impulso, agarrou nas laterais do espelho com as duas mãos e o empurrou em direção ao chão de madeira. O som do vidro se quebrando preencheu seus ouvidos, e ele tinha certeza de que o som havia ecoado, mesmo que minimamente, até o primeiro andar. Mas não dava a mínima.

Olhando para o chão, viu seu reflexo em um dos milhares de cacos de vidro, e percebeu que estava destinado á carregar o fardo de ter o mesmo rosto da pessoa que torturou a garota dos seus sonhos. Sequer sabia se ela conseguiria o olhar novamente, um dia, e não poderia a culpar se ela não o fizesse, nem se ele quisesse.

Sem Eleanor, não sabia se conseguiria sentir aquele tipo de felicidade novamente.

*****

– O que diabos aconteceu aqui? – A voz de Lucius despertou Draco de seu sono. Havia caído no sono e sequer se lembrava disso; ergueu o corpo, se sentando em sua cama, e viu a figura alta e esguia de seu pai parada em cima dos milhares cacos de vidro, com os braços atrás do corpo.

– O que foi que você fez? – Se levantou da cama bruscamente, ainda sentindo como se estivesse dormindo. – Você... você torturou ela! – O acusou, e Lucius o analisou por alguns segundos, inexpressivo.

– E quem te falou isso, hein? – Indagou, sereno, fechando a porta do quarto.

– Não importa! – Exclamou, com o cenho franzido. Algo em sua cabeça implorava que ele parasse de falar com o pai dessa forma, mas ele sentia que se guardasse para si mesmo, explodiria em menos de uma semana. – Você poderia... poderia ter matado ela!

– Eu não sei do que está falando. – Lucius fingiu descaso. – Espero que não esteja falando da garota... fiquei sabendo que ela perdeu a sanidade... é uma pena, não é?

– Ela não perdeu a sanidade! – A defendeu, impulsivamente. – E você sabe disso... como pôde?

– Você não sabe o que fala. – Disse, lentamente. – A garota perdeu a sanidade, você não deveria levar em conta o que ela diz.

– Ah, não? – Levantou as sobrancelhas. – Quem é que está lá embaixo, então? Na sala de estar?

– Olhe o modo como fala. – Avisou, ríspido, contorcendo o rosto. – Não vou permitir esse tipo de desrespeito sob o meu teto. Muito menos pra defender alguém da laia dela.

– É uma pessoa! Como pôde torturar uma pessoa? – Inventou, tentando fazer parecer como se tudo isso não tivesse á ver com quem era "a pessoa". – Ela... ela tem a minha idade!

– Não é nada que eu não tenha feito antes. – Sibilou, e Draco se calou no mesmo instante, o olhando como se esperasse ter entendido errado. – Você não tem noção das coisas que eu precisei fazer para garantir que o mundo fosse um lugar melhor pra você.

– Como os nascidos trouxas vão fazer do mundo um lugar pior pra mim? – Questionou, inconformado.

Sua cabeça ficou mais leve e ele se sentiu mais tonto. De repente, a imagem que tinha de que seu pai era um herói e um exemplo á ser seguido estava sendo destruída diante de seus olhos. Agora, ele temia o próprio pai. De uma forma que nunca sentiu antes. Não sabia do que mais ele seria capaz; ser deserdado era a mínima de suas preocupações, agora que sabia que ele não sentia o mínimo de remorso por ter torturado Eleanor.

Não conseguiu falar mais nada. Apenas encarava o pai de olhos arregalados e a respiração descompassada, enquanto Lucius o encarava de volta, parecendo questionar se Draco estava escondendo algo dele.

– Eu só irei perguntar isso uma vez, Draco. E eu quero a verdade. – Disse, com um tom ameaçador em sua voz. – Como você soube que eu estava lá?

– De que importa?

– ME RESPONDA! – Vociferou, e Draco se encolheu, involuntariamente. – A fedelha saiu falando aos quatro ventos que eu estava lá?

Silêncio. E foi justamente isso que disse á Lucius tudo que ele queria saber.

– Você falou com ela. – Disse, desacreditado, e Draco nunca viu um olhar tão decepcionado no rosto do pai. – Você falou com ela e acreditou nas besteiras que ela te falou? Sobre seu próprio pai?

– Mas você acabou d...

– Não importa! – O interrompeu. – E se fosse mentira? Você iria acreditar na nascida trouxa interesseira ao invés de acreditar no seu pai? Sangue do seu sangue?

Draco não soube responder; se sentiu culpado por alguns segundos, por mais que ainda sentisse raiva. Depois de alguns segundos, Lucius virou as costas e saiu do quarto, o deixando mais uma vez, sozinho.

Draco se sentiu impotente. Um covarde. Enquanto Eleanor lidava com as consequências de ter enfrentado o Lorde das Trevas em carne e osso, ele sequer conseguia enfrentar o próprio pai. Ela havia sido destemida, e ele, um covarde. Nunca havia a merecido, e agora, não merecia nem mesmo o seu perdão. Não depois de não conseguir a defender.

*****

Como Draco havia imaginado que faria, passou os próximos dias do lado de fora da Mansão. Se sentia inquieto ficando trancado em seu quarto, sabendo que o Lorde das Trevas estava sob o mesmo teto que ele, provavelmente planejando como faria Eleanor e Potter pagarem por o terem desafiado e saído vivos.

Por impulso, tentou se aproximar da sala de estar para escutar do que falavam, mas Simmy recebeu ordens específicas de Lucius para não deixar que ele sequer se aproximasse da sala. Disse que "o escândalo de Draco" havia sido motivo o suficiente para mostrar que ele não era digno de confiança até se mostrar arrependido pelas coisas que disse.

Até mesmo Narcissa se encontrava mais distante, e Draco suspeitava que isso tinha á ver com o artigo de Rita Skeeter, perto do Baile de Inverno. Afinal, lembrava que seu pai havia dito que ela havia chorado ao ler a matéria, por causa da irmã dela, que havia sido deserdada depois de, assim como ele, se apaixonar por um nascido trouxa da Lufa-lufa. Era como se Narcissa visse relances do passado toda vez que o olhava, e ela parecia estar evitando fazer isso, por mais que tentasse disfarçar o máximo que podia. Draco era observador demais para deixar isso passar batido.

De vez em quando, antes que Lucius saísse das reuniões e pedisse para Simmy buscar o jornal para que ele pudesse ler, Draco conseguia roubar o exemplar do Profeta Diário do dia e procurar por algo nas páginas que o desse quaisquer notícias sobre Eleanor.

Para seu desapontamento, não havia nada. Quer dizer, nada de verdadeiro. Como seu pai havia dito antes, estavam espalhando que Eleanor havia sido torturada até a insanidade, e que suas declarações eram questionáveis, já que "poderiam ter sido frutos de seus delírios". Mas ele sabia que ela estava em perfeito juízo. Sabia que era tudo verdade.

Por volta do final de julho, ele pensou em enviar uma carta para ela. Chegou á escrever uma longa carta; exatamente dois pergaminhos, mas Aquiles se recusou á sequer sair de sua gaiola. Tentou o atrair para fora com petiscos, mas nada adiantou.

Simmy entrou no quarto, para recolher a roupa suja da semana, e se deparou com uma cena um tanto cômica; Draco havia colocado a gaiola de Aquiles no chão, feito um caminho de petiscos até o lado de fora dela, e estava deitado no chão, batendo com as mãos no piso de madeira, tentando fazer com que a ave saísse, mas ele estava encolhido no canto da gaiola, o olhando de forma que parecia que estava o julgando.

Ao perceber a presença do elfo, Draco deu um salto do chão, ficando dois tons mais avermelhados e ajeitando as próprias roupas.

– Simmy estava só recolhendo as roupas, senhor... – Fez uma rápida reverência. – Simmy não quis atrapalhar sua conversa!

– Não era uma conversa! – Se defendeu, por mais que tivesse passado os últimos quinze minutos tentando numerar motivos para a ave sair de sua gaiola. – Esse pássaro idiota... não quer entregar uma carta...

Aquiles piou, irritado, de sua gaiola.

– Isso, você responde! – Draco resmungou de volta. – Esse bicho vai me enlouquecer!

– Talvez o destinatário da carta não queira ser encontrado. – Simmy sugeriu, e Draco se virou para ele, sério. – As corujas têm poderes mágicos, senhor... podem encontrar qualquer um que você quiser... desde que a pessoa queira ser encontrada. E se quer ser encontrada por quem está enviando, também...

– Ah. – Levantou as sobrancelhas, engolindo em seco. – Isso... explica muito.

– Mas Simmy pode estar errado, senhor. – Afirmou, balançando a cabeça. – Se for um de seus amigos, por exemplo... eles mandaram cartas para o senhor, mas o Mestre intercep... – Se calou de repente, arregalando os olhos.

– O quê? – Draco franziu o cenho. – Eu recebi cartas? De quem?

Simmy negou freneticamente com a cabeça, tampando a boca com as próprias mãos, parecendo horrorizado.

– Me responda! – Exclamou. – Quem foi? Os nomes? Você tem as cartas?!

De repente, Simmy voou em direção ao armário, abrindo uma das portas, colocando sua cabeça dentro do armário e fechando a porta repetidamente contra sua própria cabeça. Os gritos esganiçados dele ecoaram pelo quarto, estando amplificados pelo eco de dentro do armário.

– SIMMY MAU! SIMMY MAU! – Ele gritava, entre os gritos.

– Eu devo ter queimado alguma bruxa em alguma vida passada... – Draco revirou os olhos e bufou antes de puxar ele pelas vestes surradas, tentando o tirar dali. – Simmy, chega! Acabou!

– Não, não! – Bateu a porta com mais força ainda. – Simmy mau, simmy mau...

– Eu estou mandando você parar! – Ordenou, e, hesitante, o elfo soltou a porta do armário. Com um último puxão, o tirou do meio do caminho da porta do armário, o fechando direito. Tendo feito isso, colocou Simmy de volta no chão. – Pronto! Vê se sossega...

– Simmy sente muito, senhor. – Esfregou a própria cabeça. – Simmy recebeu ordens de não falar nada. E Simmy quase desobedeceu elas... Simmy precisou ser punido!

– Eu sei, eu sei. – Balançou a cabeça, suspirando, derrotado. – Não vou te perguntar mais nada, esqueça. Pode... continuar recolhendo as roupas.

Rapidamente, Simmy recolheu as roupas que havia ido buscar no primeiro lugar e saiu do quarto, tonto, e Draco fechou a porta assim que ele saiu. Murmurou "elfo maluco" antes de recolher os petiscos de Aquiles do chão, fechando a gaiola e a colocando de volta na cômoda. Não havia ponto em continuar tentando convencer Aquiles de entregar uma carta para alguém que não queria recebê-la. E o pior de tudo era que sequer conseguia a culpar por isso.

Deu uma última olhada no envelope, lendo o nome dela, antes de o rasgar no meio. Esperava, com todo o restante de esperança que ainda havia dentro de si, que conseguisse falar com ela quando voltassem para a escola.

*****

Sequer tentou ler o Profeta Diário pelas próximas semanas, já que estavam dizendo a mesma coisa sempre, ou então sequer citavam o nome dela, apenas fazendo piada com o nome de Potter. Mas isso não era importante, pelo menos, não para Draco.

Já estava entediado de passar os dias do lado de fora. Havia chegado á conclusão de que observar pavões era extremamente entediante, e também não sentia vontade de andar á cavalo. Acabou optando por pegar uma pilha de livros na biblioteca e procurando por uma sombra para ficar debaixo e ler durante o resto da tarde.

Decidiu não dar mais atenção ao distanciamento emocional de sua mãe; não adiantava questionar ou tentar abordar o assunto, já que ela sempre dizia que era impressão dele e que estava tudo bem. Nunca citou o artigo de Rita Skeeter, ou a tortura de Eleanor. Na verdade, sequer citou nada que pudesse envolver Eleanor da mínima forma possível, até mesmo Hogwarts havia se tornado um assunto um tanto sensível.

Todos os dias, acordava com a vaga lembrança de que havia sonhado com Eleanor. Nunca lembrava o suficiente para saber do que os sonhos se tratavam, a única certeza que tinha era de que sentia a falta dela. Era difícil não pensar nela, estando praticamente sozinho, por meses.

Como Simmy havia dito, Lucius estava interceptando as cartas que Draco recebia de seus amigos; talvez, achasse que Eleanor fosse enviar alguma coisa. Draco preferiu não o falar sobre o fato dela não querer nem olhar para ele, e preferia fingir que tinha chances de receber alguma carta, ou qualquer coisa, dela.

Acabou ficando incomunicável por todas as férias. Na última semana de agosto, tinha certeza de que já havia lido todos os livros da biblioteca, ou, pelo menos, os únicos interessantes. Simmy não era uma criatura tão interessante assim de se conversar, e ele tinha a impressão de que ele o temia. Suspeitou que, mais uma vez, isso tivesse á ver com sua semelhança com seu pai.

Quando seus pais estavam ocupados nas reuniões com o Lorde das Trevas, ele entrava escondido em uma das salas de visitas da casa, onde Narcissa havia pendurado a tapeçaria da Família Black. Passava alguns longos minutos analisando a queimadura que ele acreditava á pertencer á sua tia exilada.

Passou todo o mês de agosto aproveitando as reuniões para procurar algo que o desse mais informações sobre essa tia, mas era impossível. Era como se toda a existência dela tivesse sido apagada.

Ele tinha tantas perguntas que queria fazer para ela. Uma delas sendo: valeu a pena? Perder tudo por alguém que gosta? Se perguntava se ela estava sendo feliz, longe da família, longe de todos, ou se algo havia dado terrivelmente errado e, agora, ela estivesse sendo infeliz e destinada á sofrer pelo resto de seus dias. Mas, era difícil encontrar algo sobre uma tia cujo nome sequer estava em algum lugar para ser encontrado. Era apenas um espaço carbonizado da tapeçaria.

No entanto, aquilo serviu de consolo para ele, de certa forma. Passou tanto tempo, durante as férias, se odiando e se castigando por achar ser igual ao pai, mas, talvez, não fosse ele quem ele era tão parecido. Se perguntava se tinha qualquer traço de semelhança física com sua tia...

De repente, sentiu uma chama de esperança se acender. Talvez ele tivesse mais em comum com sua tia, que não parecia ter feito nada de errado, do que com seu pai, que havia torturado a garota quem ele... bem, que ele gostava... e sequer sentia uma gota de remorso por isso. Talvez, pudesse ser diferente dele. Seria diferente dele.

Não encontrava nada sobre sua tia em nenhum dos livros, álbuns ou lembranças da família Black. Na verdade, não encontrou muitas coisas sobre a família nas milhares de caixas espalhadas pelos cômodos da casa. As fotos de infância de Narcissa pareciam ter sido enfeitiçadas para apagarem a existência de uma terceira pessoa, e em todos os diários, o nome de uma terceira irmã Black estava apagado. Era como se, literalmente, ela não existisse mais para eles. Como diabos ele poderia encontrar alguém que não existia?

E, é claro, não podia exatamente pedir para a mãe compartilhar suas lembranças sobre a irmã. Ninguém sequer sabia que ele procurava essas informações sobre a tia; fazia questão de entrar e sair das salas antes que as reuniões acabassem, e de colocar tudo de volta no exato lugar onde encontrou. Como se nunca tivesse estado por lá. Até mesmo tomava o cuidado extra de desviar dos retratos, afinal, sabia que não podia confiar neles para ficarem de boca fechada.

– Sr. Malfoy. – A voz de Simmy o despertou de seu cochilo, no último dia de agosto, e ele percebeu que havia adormecido enquanto lia nos jardins da Mansão, embaixo da sombra fresca de uma árvore. – O Mestre mandou Simmy lhe avisar que ele está te chamando.

– O que ele quer? – Se espreguiçou, erguendo o corpo. Seu pescoço se estalou, o dando um rápido torcicolo.

– Sua carta de Hogwarts, senhor. – Explicou, mexendo nas próprias mãos. – Simmy acabou de recolhê-la!

– Só agora?! – Franziu o cenho. – Simmy, que dia é hoje?

– 31 de agosto, senhor.

– E só mandaram a carta agora? – Contorceu o rosto. – Aquela escola está cada vez mais desorganizada... – Resmungou, enquanto se levantava. Andou em direção á mansão, deixando seus livros para trás.

– Simmy leva os seus livros, não se preocupe! – Simmy guinchou, se apressando para tentar levantar a pilha de livros que Draco lia, mas a pilha era um pouco maior do que ele. – Simmy consegue! – Grunhiu, enquanto tentava manter a pilha de pé, com as pernas tremendo.

A reunião parecia ter acabado; a casa estava vazia. Pelas informações que Draco conseguiu reunir, o Lorde das Trevas se escondia em muitos lugares diferentes, e aparecia na Mansão Malfoy apenas para as reuniões. Aparentemente, "não era seguro" ficar permanentemente na Mansão, já que Potter e Eleanor haviam, claramente, visto Lucius em meio aos Comensais no cemitério, na noite da terceira tarefa. Os Comensais temiam que a Ordem da Fênix aparecesse, de repente, procurando por ele, e preferiram não arriscar mais uma derrota de seu amo.

Ao entrar na sala de estar, Draco sentiu um arrepio subir pela sua espinha; não havia ficado cara á cara com o Lorde das Trevas ainda, sequer sabia como era o rosto dele, mas conseguia sentir a presença dele toda vez que entrava na sala de estar. A cadeira na ponta da mesa, que era igual ás outras, havia sido substituída por um tipo de trono, e toda a mesa estava lotada de copos vazios de uísque de fogo. Lucius e Narcissa estavam sozinhos na sala, sentados em duas cadeiras na lateral da mesa.

– Você mandou Simmy me chamar? – Ele perguntou, parado no batente da porta, e percebeu que Narcissa sorria para ele.

– Mandei. – Lucius disse, sem tirar os olhos do envelope amarelado em suas mãos. – A sua carta de Hogwarts chegou.

– ...tudo bem. – Balançou a cabeça. – Posso ir pro meu quarto agora?

– Filho! – Narcissa exclamou. – Não está esquecendo de alguma coisa?

– ...por favor? – Franziu o cenho levemente.

– Você foi nomeado Monitor. – Lucius tirou um distintivo verde e prateado de dentro do envelope, o exibindo entre seu dedo indicador e seu polegar. O distintivo reluzia entre os dedos dele.

– Mesmo?? – Arregalou os olhos e deu passos apressados até a mesa, estendendo a mão para analisar o distintivo de perto.

Lucius, silenciosamente, colocou o distintivo na mão dele, que ergueu ele em direção á luz, como se checando se era real mesmo. Na verdade, havia se esquecido totalmente que os monitores eram nomeados no quinto ano; sua cabeça estava em outro lugar durante todos esses meses.

Pela primeira vez desde que voltou para casa, se sentiu feliz consigo mesmo. Monitor. Era algo importante, definitivamente, afinal, se lembra de que seu pai sempre falava sobre ele precisar se tornar Monitor. Pelo menos, havia cumprido isso.

– Está seguindo o legado dos Malfoy. – Lucius disse, inexpressivo. – Pelo menos esse.

– Como? – Ergueu o olhar para o pai, não escutando direito o que ele havia dito.

– Eu também fui Monitor. – Contou. – Era um dos mais respeitados do meu tempo.

"Você torturava os outros para te respeitarem também?", Draco pensou consigo mesmo, e, de repente, não estava mais tão feliz por ter se tornado Monitor. E não se sentia mais tão diferente assim de seu pai.

Tinha a mesma pele, o mesmo cabelo, o mesmo formato do rosto... os mesmos olhos. E agora, era um Monitor, assim como ele havia sido. Como pode ter acreditado que era diferente dele se tudo que ele faz apenas o torna mais parecido com ele?

Agora, tinha certeza de que sua maldição era estar acorrentado ao legado Malfoy. Seu destino era ser uma segunda versão de seu próprio pai, e seguir o mesmo caminho que ele. E não importa o quanto ele tente, nunca conseguiria escapar disso.

Mais um nome na tapeçaria, mais um membro da dinastia. Isso era tudo que ele iria se tornar, no final.


Notas Finais


alguns leitores me pediram mais um capítulo seguindo o ponto de vista do Draco, e eu decidi atender esse pedido!
espero que gostem <3


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