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História Corrupted (Livro 1) - Tronquilhos - História escrita por moonysupreme - Spirit Fanfics e Histórias
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História Corrupted (Livro 1) - Tronquilhos


Escrita por: moonysupreme

Capítulo 82 - Tronquilhos


3 de setembro de 1995
Hogwarts
06:13

O dia amanheceu tão escuro e chuvoso quanto o anterior, e Eleanor mal conseguiu se levantar do sofá onde havia passado a noite sem sentir como se seu pescoço tivesse se partido ao meio; definitivamente odiava ficar com torcicolo.

Alguns alunos que acordavam mais cedo já perambulavam pela Sala Comunal, mas nenhum deles pareceu ligar para o fato de ela ter dormido lá. Na verdade, um setimanista, ao ver que ela recolhia suas folhas e livros de cima da mesa, com uma cara de quem havia dormido muito mal, apenas sorriu e falou "Se acostume com noites assim... depois do quinto ano, só piora", bem humorado. Eleanor não achou tanta graça.

Ainda se sentindo um tanto sonolenta, ela levou suas coisas de volta para o dormitório, onde Hannah e Susan já haviam acordado e Susan já se aprontava para ir tomar café da manhã.

– Bom dia... – Eleanor disse, apressada, colocando as coisas em sua cama e as organizando, para poder colocá-las de volta na mochila.

– Por que não dormiu aqui ontem? – Hannah perguntou, confusa.

– Caí no sono fazendo o trabalho do Binns...

– Até os trabalhos dele fazem os outros dormir, como pode? – Ela murmurou, surpresa. – O humor dele está mais morto do que ele!

– Dormiu bem, Eleanor? – Susan indagou, com um tom mais acusatório do que se esperaria de uma pergunta tão inofensiva. Como se soubesse, ou, ao menos, suspeitasse que soubesse de algo.

– Dormi, sim. – Eleanor mentiu, com seu melhor sorriso no rosto. Elas não precisavam saber dos pesadelos, e, além do mais, ela sequer imaginava que Susan havia a visto tendo um na noite anterior. – Só estou com um baita torcicolo... aquele sofá não presta...

– Você vai poder voltar á sentar conosco? – Hannah perguntou, mudando de assunto rapidamente, como se essa pergunta estivesse em sua cabeça desde a conversa que tiveram, depois do jantar. – Eu não aguento mais sentar do lado do Ernie, ele reclama demais! "Ai, porque você mastiga muito alto", "Ai, porque você não sabe usar uma faca"... – Engrossou a voz, fazendo uma imitação fajuta do amigo.

– Não é seguro, nós falamos sobre isso ontem... – Eleanor suspirou. – O melhor pra todos vocês é se forem desassociados de qualquer conexão comigo. Ficarem fora do radar.

– Você também estava fora do radar. – Susan relembrou.

– Até eu entrar no Torneio. – Eleanor retrucou. Era mentira, e ela sabia. Estava envolvida naquela história desde o terceiro ano, depois de estar presente durante a revelação de que Sirius era inocente e Pettigrew, que estava vivo, era o verdadeiro culpado.

Mesmo que ficasse fora de todo o resto, depois daquela noite, haviam muitas chances de estar em perigo, por ter sido uma testemunha. Aquela fatídica noite foi o que concretizou todo seu envolvimento com Harry Potter e sua história com Voldemort. Toda a história na qual ela pensava que jamais faria parte, alguns anos antes.

– O que nós fazemos, então? – Susan suspirou e cruzou os braços. – Fingimos que não te conhecemos?

– Não precisa ser tão extremo, senão podem suspeitar que tem algo de errado... é só... ficarmos afastados. – Ela explicou, se virando para elas. – Ernie, inevitavelmente, vai ficar próximo de mim, por causa das monitorias, mas vocês precisam tomar mais cuidado do que ele.

– Eu, mestiça, Justin, nascido trouxa, e Susan, sobrinha da Madame Bones, sim, sim, nós entendemos essa parte. – Hannah balançou a mão. – Depois que o Ministério for desmentido, então, tudo volta ao normal?

Ela fitou a loira por alguns segundos, sem saber se deveria a contar a verdade inevitável. Lançou um rápido olhar para Susan, que também parecia pensar o mesmo que ela; as coisas nunca mais seriam as mesmas. Eleanor nunca mais poderia ser vista com eles. Não se quisessem continuar seguros.

– É claro. – Eleanor sorriu para ela. – Tudo de volta ao normal. – Balançou a cabeça.

Susan suspirou profundamente, mas Hannah sorriu, aliviada, parecendo convencida.

– Nós vamos... pro Salão Principal. – Susan disse. – Vemos você depois.

Eleanor assentiu enquanto as duas saíam, conversando sobre as aulas do dia. Aproveitou para se aprontar, rapidamente.

Não conseguiu ficar pronta á tempo de ir ao Salão Principal e tomar café. Na verdade, teria tempo, mas não sentia a menor vontade de ficar sob os olhares dos outros novamente, e seria muito pouco tempo para comer sem pressa, então, preferiu se dirigir direto para a primeira aula do dia.

Depois dos dois tempos de Feitiços, vieram dois tempos de Transfiguração, e o Professor Flitwick e a Professora McGonagall passaram boa parte de seus primeiros tempos falando sobre as N.O.Ms, para a infelicidade de Eleanor.

– O que vocês precisam lembrar... – Flitwick disse, no topo de uma pilha de livros, para que sua estatura minúscula pudesse ser vista por todos da turma, enquanto Eleanor rabiscava um cubo no topo de seu pergaminho, desatenta. – ...é que esses exames podem influenciar seu futuro durante muitos anos! Se ainda não pensaram seriamente em suas carreiras, agora é o momento de o fazerem. Caso tenham dificuldade, iremos trabalhar com mais afinco do que nunca, para garantir que possam provar o que valem!

Eleanor não gostou nem um pouco de pensar que, logo, teria que tomar uma decisão sobre qual carreira seguir. Poderia escolher uma carreira trouxa, é claro, mas estava decidida á permanecer no Mundo Bruxo. Apesar de tudo, ainda sentia que ali era onde pertencia.

Seu único problema era decidir entre as únicas opções que a interessavam: seguir a carreira de magizoologista, como Newt Scamander, uma das figuras mais famosas do Mundo Bruxo, e, também, uma das que ela mais admirava. Ou, assim como Lupin e Hagrid, se tornar professora de Hogwarts. Mas, principalmente, igual á Hagrid, pois gostaria de passar um pouco mais de um ano na posição.

Depois da longa introdução, a turma passou mais de uma hora relembrando os Feitiços Convocatórios, que, de acordo com Flitwick, com certeza cairiam nos exames, e ele finalizou a aula passando para a turma a maior quantidade de deveres que eles já receberam.

Em Transfiguração, Eleanor até mesmo ousaria dizer que foi pior. Ainda se sentia completamente envergonhada por toda a briga com Harry na frente da professora, e deixou isso bem claro ao se sentar atrás de Ron, que era consideravelmente mais alto, para se esconder do olhar severo de Minerva, ao invés de se sentar na primeira fileira, como sempre fazia.

– Vocês não podem passar nos exames sem se aplicarem seriamente ao estudo e a prática. – A professora disse, muito séria, enquanto andava de um lado para o outro entre as fileiras. – Não vejo razão para alguém nesta classe deixar de passar no N.O.M de Transfiguração, se houver esforço e atenção.

Eleanor ouviu Neville, na fileira ao lado, resmungar em descrença. O lançou um sorriso solidário, pois sabia da dificuldade que ele tinha com as aulas.

– Você também, Longbottom. – A professora o olhou, mostrando que o ouviu. – Não há nenhum problema com o seu trabalho, á não ser sua falta de confiança.

Ele se encolheu mais ainda em sua cadeira, e, algumas mesas á frente, Eleanor viu Hannah virar para trás, o procurando, e sorrindo para ele, demonstrando apoio. Ela ergueu a mão em um joinha, e ele balançou a cabeça, sorrindo fraco e corando. Satisfeita, a loira virou para a frente novamente.

– Então, hoje, iremos começar á estudar os Feitiços de Desaparição. São mais fáceis do que os Conjuratórios, que, normalmente, vocês não experimentariam até os N.I.E.Ms, mas estão inclusos entre os feitiços mais difíceis que serão exigidos nos N.O.Ms.

E ela parecia estar totalmente certa; toda a turma parecia ter tido dificuldades com os Feitiços de Desaparição. Ao fim do segundo tempo de aula, apenas Ayaan, Hermione, Eleanor e Susan haviam conseguido fazerem suas lesmas desaparecerem com sucesso, conseguindo, cada uma, dez pontos para suas casas. A Lufa-lufa saiu especialmente vitoriosa da aula, já que ganharam mais pontos do que as outras casas.

As quatro também foram as únicas que não receberam dever de casa; o resto da turma recebeu a ordem de praticarem o feitiço e se prepararem para uma nova tentativa na próxima aula.

Na hora do almoço, ficou apenas com Hermione na mesa da Grifinória, o que ela estranhou, já que não havia visto Harry e Ron desde o fim da aula de Transfiguração.

– Foram correndo pra biblioteca pra se adiantarem nos deveres. – Hermione explicou, ao ser questionada pela ausência deles. – Mas, como não estou falando com Ron, eles que se virem... – Deu de ombros.

– Não est... o que é que houve, agora? – Eleanor franziu o cenho.

– Bem, eu estive tricotando alguns gorros, certo? Fiz vários e espalhei pela Sala Comunal, escondidos, para libertar os elfos que os recolherem! – Explicou, depois de colocar sua xícara de café de volta na mesa. – E ele começou á falar que não era justo libertar eles sem eles saberem... e ainda disse que os elfos não considerariam os gorros como roupas!

– Oras... mas são roupas! – Deu de ombros. – Por que não considerariam?

– Porque ele disse que pareciam mais bexigas de lã! – Exclamou, enraivecida, e Eleanor precisou tampar a próprias boca pra conter uma risada. – Você está rindo?! – Hermione pareceu muito ofendida.

– Não estou! – Se apressou para se defender. – Tenho certeza que seus gorros eram lindos... – Balançou a cabeça e comeu algumas (várias) garfadas da salada em seu prato.

– Eu aposto que sim, pois todos haviam sumido hoje de manhã! – Ela sossegou, sorrindo de lado, satisfeita.

– Afinal, não acha que Ron, só dessa vez, pode estar certo? – Indagou, depois de dar um gole no suco de laranja para ajudar a engolir a salada. – Quer dizer, se você precisa esconder os gorros, talvez eles não queiram ser livres...

– Oras! Mas... você... – Hermione, agora, parecia muito ofendida. – Eu achei que você apoiava o F.A.L.E!

– E eu apoio! – Ergueu as duas mãos, em sinal de rendição. – Só estou dizendo... eles merecem, pelo menos, saberem que estão sendo libertos...

Sem dizer mais nada, Hermione, rapidamente, finalizou seu prato e se levantou da mesa da Grifinória, a deixando sozinha e partindo para fora do Salão.

Bufando, frustrada, e tentando disfarçar o fato de estar completamente sozinha na mesa da Grifinória, mesmo que não pertencesse á casa, ela olhou para a mesa dos professores, com uma pequena esperança de ver Hagrid de volta, já que teriam aula de Tratos de Criaturas Mágicas depois do almoço, mas se decepcionou ao ver o rosto enrugado e rígido da Professora Grubbly-Plank.

Não era como se desgostasse da professora; muito pelo contrário, Eleanor gostava dela. Eram aulas interessantes, e a professora parecia ter um certo tipo de admiração pelo extenso conhecimento de Eleanor em relação ás criaturas mágicas. Na verdade, nas aulas de Grubbly-Plank, Eleanor podia sentir como os sonserinos se sentiam com Snape, ao receberem pontos por responderem a mais simples das perguntas.

Ainda assim, não era pessoal, mas Eleanor apenas preferia Hagrid. Não o trocaria nem se Grubbly-Plank desse as aulas mais interessantes do mundo. E odiava o fato de não saber onde ele estava, ou se estava bem.

"Não seja ridícula, Hagrid sabe se defender... ele tem três metros e meio de altura, pelo amor de Deus!", pensou consigo mesma, em uma tentativa falha de se tranquilizar. Ao mesmo tempo, resistia a vontade de se levantar, se dirigir diretamente á Dumbledore e exigir uma explicação de onde ele estava. Mas preferiu confiar no silêncio e discrição do diretor em relação á ausência dele. Talvez, ele estivesse em uma missão importante.

No final, ela não se importava de onde ele estava, desde que ele voltasse. E que voltasse bem.

E então, algo a atingiu: Canino. Quem estava cuidando dele? Hagrid havia o levado? Ou o pobrezinho estaria sozinho, trancado, na cabana? Sentiu um enorme aperto no coração ao o imaginar sozinho; era um cão extremamente energético e sociável, precisava de suas caminhadas diárias e de carinho.

Sem ânimo pra continuar comendo, e não querendo adiar sua estadia na mesa da Grifinória, ela se levantou também e se apressou para sair da escola; o dia havia ficado ainda mais frio, a fazendo se aconchegar em seu robe enquanto descia, correndo, o gramado em direção á cabana de Hagrid, na orla da Floresta Proibida.

– Bom dia, professora... – Ela disse, ofegante, ao ver Grubbly-Plank parada, em frente á cabana de Hagrid.

– Sparks, bom dia. – Ela sorriu para ela, evidenciando as rugas ao redor dos olhos. – Animada para a aula? Chegou adiantada.

– É claro. – Mentiu, sorrindo de volta, e lançou um olhar furtivo para a cabana de Hagrid, esperando ver algum sinal de Canino. – Mal podia esperar para ver as criaturas da aula de hoje...

– Tenho certeza de que já ouviu falar deles. – Afirmou, com tranquilidade, como se já não esperasse menos dela.

– Talvez. – Afirmou. – Professora, uma pergunta... você também está substituindo Hagrid nas funções de guarda-caça?

– Por que a pergunta? – Grubbly-Plank franziu o cenho levemente.

– É... eu... – Tentou pensar em uma desculpa, mas desistiu no meio do caminho. – Hagrid, por acaso, levou o Canino com ele? Ou deixou ele por aqui...?

– Ah, o cachorro? – A professora ergueu as sobrancelhas. – Não, ele ficou por aqui. Está na cabana... me dá um baita de um trabalho... mas é um bom companheiro.

– Ah! – Suspirou, aliviada. Naquele momento, sentiu alguns respingos de chuva começarem á cair em seu rosto – Você têm cuidado dele, então? Menos mal... achei que estava sozinho...

– Eu o alimento todos os dias. Só não posso brincar, nem passear... – Negou com a cabeça.

– Eu posso ficar responsável por ele, se a senhora preferir... não tenho muita coisa pra fazer mesmo. – Deu de ombros.

Estava mentindo. Na verdade, tinha muitas coisas para fazer. Mas, pela primeira vez desde o início do ano letivo, queria ter responsabilidade por algo que era escolha dela. E nada mais justo do que fazer algo para Hagrid, já que não podia mais ser sua assistente.

– Tem certeza? Ele é bem agitado... – A encarou, parecendo hesitante em a dar essa tarefa, mas Eleanor assentiu freneticamente, entusiasmada. – Bem... iria tirar um item da minha lista de afazeres...

– Exato! E eu adoro o Canino! E ele me adora! – Exclamou, se sentindo verdadeiramente animada, pela primeira vez desde que voltou para a escola.

– Acho que não faz mal. – A professora assentiu, e quando Eleanor ameaçou correr para dentro da cabana, ela a parou. – Não, não, agora não! A aula já vai começar... os outros estão vindo. – Apontou para o topo do gramado, de onde era possível ver a turma descendo, na direção delas.

Grubbly-Plank, então, andou para mais longe da cabana de Hagrid, onde havia montado uma longa mesa de cavalete, parecendo estar cheia de gravetos. Eleanor estava tão animada e, admitia, aliviada por Canino estar bem cuidado e por poder cuidar dele, que não prestou atenção nos gravetos.

Hermione se juntou á ela primeiro, parecendo um pouco mais calma, mesmo que um pouco emburrada, e, quando Harry e Ron chegaram, ela se afastou e se juntou ás meninas da Grifinória.

– Bom dia. – Eleanor sorriu para os dois garotos, já que não havia falado com eles ainda, naquela manhã. – Dia corrido, hoje?

– Nem me fale. – Ron resmungou, parecendo exausto. – Não quero mais ouvir falar de N.O.Ms pelo resto da semana...

– Bem-vindo ao clube. – Ela riu pelo nariz, mas ficou séria em uma fração de segundo, ao ouvir uma risada um tanto familiar atrás deles. Seus ombros, involuntariamente, se enrijeceram.

Não se virou, mas Harry e Ron sim, e, pelos olhares nos rostos deles, era exatamente o que ela imaginava. Draco e seu grupo de minions, dando altas risadas de algo. E, julgando pela proximidade deles, não era difícil imaginar que se tratava de Harry ou Eleanor.

Ela nunca admitiria, mas, no fundo, desejou que fosse sobre Harry. Assim, pelo menos, não sentiria como se todo o tempo que passou com Draco tivesse sido uma mentira, um desperdício. Sentiu um frio na barriga, pois era a primeira vez em que pensava, especificamente, sobre seu relacionamento fracassado, desde que chegou na escola.

– Todos presentes? – A professora perguntou, quando os últimos alunos da Corvinal se juntaram á eles. Eleanor reconheceu Damien, ao lado de Michael Corner, mas não se surpreendeu, afinal, ele já estava na aula no ano anterior. Ela só não sabia o nome dele, mas já havia o ajudado com os explosívíns. – Vamos começar logo, então. Juntem-se em volta da mesa. – Ela chamou todos com um movimento das mãos, e eles se amontoaram ali.

Ao prestar mais atenção nos gravetos na mesa, Eleanor ergueu as sobrancelhas e conteve um sorriso. Agora, sim, se sentia de volta á Hogwarts. Estava em seu elemento; na aula de Tratos de Criaturas Mágicas, uma matéria a qual dominava, e reconhecia aquelas criaturinhas.

– Alguém sabe me dizer o nome dessas coisas? – Grubbly-Plank perguntou, e Hermione levantou a mão na mesma hora que Eleanor. A lufana, no entanto, não se sentiu nem um pouco intimidada; sabia que Grubbly-Plank tinha uma preferência por ela.

Enquanto as duas mantinham as mãos erguidas, os outros alunos se inclinavam para olharem melhor para as criaturas. Alguns até mesmo se assustaram quando os gravetos saltaram da mesa e revelaram ter braços e pernas. Na verdade, se não fossem pelos pequenos olhinhos brilhando, seriam facilmente confundidos com uma planta exótica, cheia de raízes.

Parvati e Lilá exclamaram, animadas, como da vez que Grubbly-Plank os apresentou aos unicórnios, e Eleanor se sentiu um tanto amargurada, lembrando que elas nunca haviam demonstrado tanta animação nas aulas de Hagrid, por mais que ele se esforçasse para torná-las o mais interessante possível.

Quer dizer, os vermes foram um tanto chatos, mesmo que Eleanor jamais admitisse isso para ele, mas as salamandras foram interessantes! E os hipogrifos também! Os explosívíns... bem... talvez, interessantes até demais.

– Acalmem-se, meninas! – Grubbly-Plank disse, bem humorada, pegando um punhado de comida e espalhando entre os tronquilhos, que, imediatamente, atacaram a comida. – Bem? Qual o nome desses bichos?

Eleanor e Hermione ergueram as mãos ainda mais alto, e Hermione parecia um pouco agitada. Provavelmente, já havia reparado na preferência de Grubbly-Plank por Eleanor.

– Srta. Sparks? – A professora inclinou a cabeça na direção dela, e Eleanor abaixou a mão, sorrindo fraco.

– São chamados de tronquilhos, senhora. – Respondeu. – Eles são guardiões de árvores. Podem ser encontrados, na maior parte, em árvores que são usadas para a produção de varinhas.

– Cinco pontos para a Lufa-lufa. – Ela disse, parecendo orgulhosa, mas não surpresa com o conhecimento de Eleanor. Não mais. – Para quem não ouviu, ou não prestou atenção, esses são os tronquilhos. E, como disse a Srta. Sparks, são encontrados, principalmente, em árvores que fornecem materiais para varinhas. Alguém sabe o que eles comem?

– Bichos-de-conta. – Eleanor ergueu a mão novamente. Nunca tinha a oportunidade de ser o tipo de aluna que sabia todas as respostas, e gostaria de aproveitar as oportunidades. – Ovos de fada também, mas esses são mais raros de encontrar, então, os Bichos-de-conta são mais usados...

– Boa, garota. Mais cinco pontos. – Grubbly-Plank balançou a cabeça. – Portanto, sempre que precisarem da madeira de uma árvore, levem Bichos-de-conta o suficiente, pois precisarão distrair o tronquilho guardião. Eles podem não parecer perigosos, mas se forem ameaçados, vão tentar furar seus olhos, e, como vocês podem ver, seus dedos são muito afiados. Vocês não vão querer isso perto dos seus olhos.

Damien, que se inclinava para os olhar de perto, ao ouvir o aviso da professora, ergueu a postura rapidamente, arregalando os olhos e ajeitando a gravata, para disfarçar. Ao ver que Eleanor havia reparado em seu pequeno susto, ele ficou vermelho e desviou o olhar.

– Apanhem uns Bichos-de-conta e um tronquilho, tem o suficiente aqui para dividir vocês em grupos de três, para estudarem eles com atenção. – A professora ordenou. – Quero que façam, individualmente, um esboço, com todas as partes do corpo identificadas, até o final da aula.

Eleanor olhou em volta, desnorteada, já que não tinha um grupo; com certeza, Harry, Ron e Hermione formariam o trio deles, e, já que nenhum de seus amigos da Lufa-lufa fazia parte da aula de Tratos de Criaturas Mágicas, ela estava realmente sozinha.

Ficou para trás dos outros enquanto eles se apressavam para irem até a mesa, e estava perto o suficiente para ouvir enquanto Harry sondava a Professora Grubbly-Plank.

– Onde o Hagrid foi? – Ele perguntou.

– Não é da sua conta. – Ela respondeu, ríspida, assim como da última vez em que Hagrid sumiu. "Harry também... não sabe perguntar...", Eleanor pensou, consigo mesma.

Antes que pudesse se virar para Harry, o perfume exageradamente forte de Draco preencheu suas narinas, e ela não percebeu o quão perto ele estava até ser tarde demais. Ele se debruçou entre ela e Harry, pegando o maior tronquilho da mesa, com um sorriso convencido no rosto. A proximidade do rosto dele e seu sorriso fizeram Eleanor sentir vontade de afundar a cabeça dele na grama. Não o queria tão próximo assim, e sentiu como se ele tivesse invadido seu espaço pessoal.

Talvez, estivesse exagerando. Talvez, apenas quisesse um motivo para sentir raiva dele e o culpar por tudo que aconteceu. Seria mais fácil se ela conseguisse...

Como se escutando suas preces, Draco se virou para Harry, contorcendo o rosto para ele, e, abriu a boca. Ela sabia o que estava vindo, pois, quando Draco Malfoy abria a boca, não diria nada de bom.

– Quem sabe... – Ele murmurou, achando que apenas Harry estivesse escutando. – ...aquele caipira não acabou se machucando pra valer?

E, num estalar de dedos, o motivo que Eleanor estava procurando caiu em seu colo como uma benção dos céus. Seu sangue rapidamente ferveu e ela virou a cabeça na direção dele, que ainda não parecia ter percebido que ela escutou.

– Quem sabe o que vai acontecer com você se não calar a boca? – Harry sibilou.

– Vai ver, ele anda se metendo com coisa grande demais pra ele. – Draco disse, num tom de advertência. – Se é que me entende. – E se afastou, como se nada tivesse acontecido.

Harry se virou para Eleanor, rezando para que ela também tivesse prestado atenção, e, para sua felicidade, ela parecia estar tão irritada quanto ele, assim como preocupada. Uma sensação estranha os consumiu; um mau pressentimento. Os dois sabiam que o pai de Draco era um Comensal da Morte, e, talvez, Lucius soubesse de algo?

O peito de Eleanor gelou; se Hagrid, de alguma forma, tivesse esbarrado nos Comensais da Morte por aí, e, por algum motivo, ainda não estava de volta... algo não parecia certo. Algo não estava certo.

Quase seguiu Harry quando ele avançou na direção da mesa que Ron e Hermione ocupavam, mas se lembrou de que ainda estavam na aula, e ainda não tinha um grupo. Até que, como um anjo salvador, Damien acenou para ela.

– Ei, Eleanor! – Ele chamou, ignorando os sussurros preocupados que Michael Corner o lançava, parecendo não aprovar a decisão de chamar Eleanor. – Dá pra relaxar? Ela precisa de um grupo, e nós não temos uma terceira pessoa... – Sussurrou, o dando uma cotovelada.

– Oi... – Ela disse, ao se aproximar.

– Somos apenas dois, por aqui. – Ele apontou para si mesmo e Michael. – E você sabe bastante dos tronquilhos, não é? Sua ajuda ia ser bem útil...

Ela sorriu fraco, ignorando os olhares tensos que Michael lançava na direção dela, e começou á organizar suas coisas na mesa.

Com um punhado de Bichos-de-conta, ela os amontoou ao lado do tronquilho, que pareceu maravilhado com aquele tanto de comida, só pra ele. Comia rapidamente, mas foi tempo o suficiente para Eleanor conseguir ter uma boa noção de sua aparência.

Não precisou de muita referência, é claro, já que, no livro de Newt Scamander, havia um diagrama perfeito da anatomia de um tronquilho, e ela havia lido o livro o suficiente para o ter memorizado. Porém, decidiu que iria fingir estar aprendendo algo com a aula, e desenhou o que via á sua frente.

Damien e Michael também ficaram em silêncio, desenhando o tronquilho de um ângulo diferente, e Michael lançava alguns olhares furtivos para o pergaminho de Eleanor.

Enquanto rabiscava um dos galhos que usavam como pés, Eleanor escutou a voz de Draco á algumas mesas de distância, e fingiu estar concentrada no desenho, por mais que estivesse traçando a mesma linha várias e várias vezes, enquanto tentava escutar o que ele dizia.

– Meu pai esteve conversando com o Ministro há alguns dias, sabem... e parece que o Ministério está realmente decidido á agir com rigor para acabar com o ensino de segunda categoria dessa escola. – Ele disse, num tom forçado. – Por isso, mesmo que aquele caipira supernutrido apareça, provavelmente será demitido na hora!

– Eleanor...? – A voz de Damien a trouxe de volta para a realidade, e ela percebeu que havia exagerado na força em que estava traçando o desenho; havia rasgado o pergaminho e estava rabiscando a mesa pelos últimos 20 segundos, atraindo olhares curiosos dos outros alunos.

Ignorando os olhares, Eleanor olhou para o tronquilho, imaginando se, se ela se esforçasse o suficiente, e arremessasse ele na direção de Draco, ele o acertaria diretamente nos olhos? Naqueles malditos olhos, que assombraram seus sonhos durante todo o quarto ano, e, agora, seus pesadelos. Ou, talvez, bem na boca? Aquilo o calaria de vez...

Desistiu de refazer o desenho, depois de rasgar o pergaminho. E não demorou muito para os sinos badalarem e eles serem liberados da aula.

Ela se apressou para se juntar á Ron, Hermione e Harry, que parecia ter sido furado por um tronquilho na mão, tinha um dos lenços de Hermione enrolados na mão, parecendo muito irritado.

– Você ouviu também? – Ela perguntou.

– Como você acha que isso aconteceu? – Ele ergueu a mão machucada. – Estava com um tronquilho na mão, e acho que apertei um pouco forte demais.

"Bem feito", ela não pôde deixar de pensar, com pena da criatura, "...ele não tem culpa do Draco ser um babaca".

– O que aconteceu com o tronquilho? – Ela perguntou, e Harry a encarou, incrédulo, por alguns segundos. – O que é? Eu só quero saber!

– Depois de quase decepar meu dedo, ele correu de volta pra floresta. – Respondeu, mau humorado, e Eleanor assentiu, satisfeita. – Se eu ouvir o Malfoy chamando o Hagrid de caipira mais uma vez...

– Eu te ajudo. – Ela resmungou, bufando.

– Não vão brigar com ele, vocês dois! – Hermione advertiu. – Harry, não se esqueça que ele, agora, é monitor, e pode tornar sua vida muito difícil!

– Uau, imagino como seria ter uma vida difícil. – Harry ironizou, e Eleanor não pôde deixar de dar risada, assim como Ron, mas Hermione franziu a testa.

– E você, Eleanor! Não se esqueça que você tem que manter as aparências para continuar no cargo de monitora! – Ela sussurrou, e Eleanor se perguntou como ela sabia disso, mas presumiu que Harry tivesse os contado tudo.

– Não precisa me lembrar. – Eleanor parou de rir e balançou a cabeça.

– A Eleanor já bateu no Malfoy antes... isso, pra ela, tecnicamente, seria manter as aparências, não é? – Ron sugeriu, e recebeu um olhar seco de Hermione. – ...só uma sugestão. – Ficou vermelho, e Eleanor riu pelo nariz.

– Eu só gostaria que Hagrid não demorasse pra voltar, nada mais do que isso. – Harry murmurou, com as mãos no bolso das vestes. – E não diga que a tal Grubbly-Plank é uma professora melhor! – Ele acrescentou, em tom de ameaça, olhando de soslaio para Hermione.

– Eu não ia! – Ela se defendeu.

– Porque ela nunca vai ser melhor que o Hagrid. – Ele afirmou, e Eleanor concordou com a cabeça, mesmo que a aula de hoje tivesse sido boa. Nunca admitiria isso.

O céu parecia incapaz de escolher se iria chover ou não enquanto eles andavam até a aula de Herbologia. Juntos, andaram pelos canteiros de hortaliças, e Eleanor pôde ver, na distância, os outros alunos da turma descendo em direção ás estufas.

A porta da estufa mais próxima se abriu, assim que eles chegaram perto o suficiente, e alguns alunos do quarto ano saíram de lá, incluindo Gina, Luna e Isaac, andando em trio.

– Oi. – A ruiva disse, alegre, ao passar por eles, andando um pouco á frente de Isaac e Luna.

Isaac tinha o nariz e a bocheca sujos de terra, enquanto Luna tinha os cabelos amarrados em um nó no topo da cabeça. Os dois andavam de braços cruzados, e Eleanor acreditaria em qualquer um que a dissesse que os dois são irmãos, já que pareciam compartilhar muitos dos mesmos traços.

Isaac, assim como Luna, tinha os olhos grandes e azuis, os dando um ar de surpresa o tempo todo. Ambos tinham um nariz de botão que ela considerava adorável e sorrisos dóceis. No entanto, ele parecia ser melhor em se misturar com a multidão do que Luna, já que Eleanor tinha total certeza de que nunca o havia visto pela escola.

Ao ver que ela estava ali, Isaac acenou, sorrindo fraco, mas Luna, ao ver que Eleanor e Harry estavam lado á lado, se apressou para andar até eles, puxando o amigo, muito contrariado, pelo braço.

– Oi, Luna, oi, Isaac. – Eleanor sorriu para eles, e reparou que Luna usava brincos que pareciam miniaturas laranjas de rabanetes.

– Nós acreditamos que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado retornou, acreditamos que vocês lutaram com ele e que conseguiram fugir. – A loira disse, sem responder ao "oi" de Eleanor, como se tivesse a urgência de demonstrar seu apoio.

– Hã... certo. – Harry balançou a cabeça, sem jeito, enquanto Eleanor estava muito ocupada fuzilando Parvati e Lilá com o olhar; havia reparado que as duas estavam rindo dos brincos de Luna, e não via a menor graça naquilo.

– Perderam algo aqui? – Ela ergueu a voz, arqueando a sobrancelha pra elas, que aos poucos, foram parando de rir.

– Podem rir. – Luna disse, parecendo ter a impressão de que as duas estavam rindo do que ela havia dito, e não do que ela usava. – Mas as pessoas também não achavam que Snorkacks de Chifre Amassado existiam.

– Ora, e tinham razão, não? – Hermione questionou, impaciente. – Snorkacks de Chifre Amassado não existiram.

Luna a encarou, muito séria, e foi embora, dando passos pesados e impacientes, enquanto puxava Isaac pelas vestes. Seus passos pesados faziam os rabanetes em suas orelhas balançarem loucamente, e, ao longo do caminho, Parvati e Lilá não eram as únicas a darem risadas.

– Legal, Hermione. – Eleanor bufou, observando os dois se afastando.

– O quê? – Hermione cruzou os braços.

– Será que você se importa de não ofender as únicas pessoas que acreditam na gente? – Harry indagou, irritado. – Ou seria muito difícil pra você? – Resmungou, voltando á andar.

– Ah, pelo amor de Deus, Harry! Vocês podem arrumar gente melhor do que ela! – Ela se defendeu, tentando acompanhar os passos deles, enquanto Ron andava atrás deles, tentando se distanciar da briga. – Gina me contou tudo sobre ela! Pelo jeito, ela só acredita nas coisas quando não tem provas de que elas existem!

– Hermione, nós somos bruxas. Vindas de famílias trouxas. – Eleanor retrucou. – Tem certeza que podemos ditar o que existe e o que não existe? – A encarou, arqueando uma sobrancelha, e Hermione pareceu sem argumentos por alguns segundos.

– É... eu... – Abria e fechava a boca, sem fazer som algum. – ...só estou dizendo que eu não espero muita coisa de alguém cujo pai é editor do Pasquim!

– Se O Pasquim acredita em nós, eu prefiro dar mais credibilidade á eles do que ao Profeta Diário. – Deu de ombros. – E, afinal de contas, não é como se o Profeta Diário fosse muito verdadeiro. Ou você esqueceu do que eles vêm publicando?

Antes que Hermione pudesse responder, para sua sorte, Ernie e Justin pararam na frente deles.

– Eu quero que você saiba, Potter. – Ernie disse, em um tom exageradamente alto e claro, como se quisesse que os outros escutasse. – Que não são apenas os excêntricos que apoiam você. Eu, pessoalmente, acredito em você, cem por cento. Minha família sempre se manteve firme ao lado de Dumbledore, e eu, o mesmo.

Eleanor conteve um enorme sorriso ao ver aquela cena. Imaginava que havia sido idéia de algum de seus amigos; declararem apoio público, para, assim, poderem voltar á andar juntos. Justin balançava a cabeça ao lado de Ernie, tão entusiasmado, que pareceu esquecer que também deveria falar. Só lembrou quando Ernie o deu uma cotovelada.

– Er... e eu também! – Ele afirmou, alisando o local atingido. – Você tem nosso apoio. – Sorriu.

– Ah... muito obrigada, Ernie... Justin... – Harry balançou a cabeça, parecendo surpreso, mas satisfeito.

Ernie não era exatamente o cara mais simpático de todo o mundo. Na verdade, era exatamente o contrário. Tinha uma relação minimamente amigável com Harry; no segundo ano, se voltou contra ele, depois de Justin ser petrificado e Harry ser apontado como o responsável, apenas para se voltar contra ele novamente, no quarto ano, quando achou que ele havia entrado no Torneio de propósito e estava tentando roubar os holofotes de Eleanor. Mas, ela não podia deixar de admitir, Ernie era uma pessoa justa. E extremamente leal.

Harry parecia muito feliz por ter o voto de confiança de dois de seus colegas de classe, além de serem pessoas que não usavam rabanetes nas orelhas. A demonstração pública de apoio de Ernie fez Lilá parar de sorrir de vez, parecendo um tanto irritada, e Eleanor viu que Zacarias Smith os encarava de cara feia.

– Foi bem legal, o que eles disseram. – Ron comentou, quando voltaram á andar em direção ás mesas.

– Foi mesmo. – Harry concordou. – Mas eu não acho que tenha sido diretamente pra mim. – Olhou para Eleanor de soslaio.

– Do que está falando? Eles falaram bem claramente... "Potter". – Eleanor deu de ombros e desviou o olhar.

– Tá bem. – Ele ergueu as sobrancelhas. – Se você diz... – Murmurou, decidindo não insistir, e o assunto se deu por encerrado.

Não foi surpresa nenhuma para Eleanor, mas ela ainda se irritou quando, assim como todos os outros professores, a Professora Sprout passou o início da aula falando sobre a importância das N.O.Ms, a fazendo encarar as mandrágoras nos vasos e considerando puxar uma delas para fora. Os gritos das mandrágoras eram fatais, e era exatamente disso que ela precisava. Não aguentava mais ouvir sobre as N.O.Ms, ainda mais quando se lembrava da quantidade de deveres que todos os professores estavam passando.

A pilha de deveres só piorou no final da aula, quando Sprout os passou uma atividade para a próxima aula. Cansados, frustados e fedendo á bosta de dragão, o adubo preferido da professora, todos marcharam de volta ao castelo.

Antes que sequer passasse pela entrada do Salão Principal, uma voz feminina e familiar exclamou, do fim do corredor.

– EL! – Chamou, e ela se virou na direção da voz, vendo o enorme cabelo alaranjado de Helena batendo em seu rosto, enquanto ela corria até Eleanor.

– O que houve, Elle?! – Perguntou, preocupada com a euforia dela.

– Ah, nada demais... só queria saber... ai... como foi seu primeiro dia... e agora, o segundo, né? – Ofegou, parando ao lado dela.

– Normais, eu acho. – Deu de ombros. – E o seu?

– Cansativos. – Deu de ombros. – Vou ver se apareço lá pelo campo, na quinta-feira, pra te assistir, o que acha? – Perguntou, andando ao lado dela em direção ao Salão Principal.

– ...campo? Quinta-feira? – A encarou, com o cenho franzido.

– Oras, os testes de quadribol da Lufa-lufa... eu ia reservar o campo pra Sonserina, na quinta-feira, mas o capitão da sua casa já tinha reservado. – Disse, como se fosse óbvio. – Você estava sabendo, não é? Você é do time...

– Eu nem sei quem é o novo capitão... – Negou com a cabeça.

– É o Summerby... ninguém falou nada com você?! – Indagou, genuinamente confusa, enquanto Eleanor dava passos pesados para longe dela, na direção da mesa da Lufa-lufa. – El? Eleanor?! Droga... – Chamou, sem sucesso, e se apressou para seguí-la.

– Summerby! – Eleanor chamou, engrossando a voz, quando se aproximou da mesa da Lufa-lufa o suficiente para que ele a escutasse.

Sheldon Summerby era um setimanista, de pele castanha e cabelos ondulados e castanhos, com os olhos cor-de-mel, e um rosto repleto de sardas. Ele ergueu o olhar para ela, parecendo muito confuso, já que eles nunca interagiram muito; apenas uma troca rápida de palavras antes dos jogos.

– Sparks... algum problema? – Ele franziu o cenho.

– Você não me avisou que os testes iam acontecer na quinta-feira! – Cruzou os braços. – Não é pro time inteiro estar lá?

– Ué, você... você ainda vai continuar no time?! – Ele pareceu ainda mais confuso.

– É claro que vou! – Exclamou, irritada. – Quem disse que eu não vou?

– Eu só pensei que... você sabe... depois de... de tudo... você fosse sair do time... pra se concentrar no seu bem estar, ou alguma outra coisa... – Pareceu sem graça.

– Pensou errado. – O encarava de cara feia, enquanto Elle, ao seu lado, parecia estar ali só pelo caso de ela decidir voar em alguém. – Você poderia simplesmente ter me perguntado?

– Ok, Sparks, escute... – Ele se levantou da mesa, no mesmo momento em que os gêmeos e Lee se aproximavam, tendo visto que Helena também estava ali. Os quatro ficaram parados atrás de Eleanor enquanto Summerby dava a volta para chegar mais perto dela.

Àquele ponto, grande parte da mesa da Lufa-lufa prestava atenção na conversa, já que Eleanor estava visivelmente irritada, e Summerby fez questão de se aproximar para que pudessem falar mais baixo.

– Não preciso escutar nada, só vim avisar que vou estar presente pros testes, na quinta-feira. – Deu de ombros, mas ele entrou na frente dela antes que ela pudesse andar para longe.

– Tem certeza que você consegue lidar com a pressão dos treinos? Do campeonato? – Ele perguntou, num tom exageradamente preocupado e lento, como se falasse com uma criança de cinco anos.

– Eu consegui lidar antes. Por que não conseguiria agora? – Ergueu as sobrancelhas de forma desafiadora, quase como se pedindo que ele falasse o que estava pensando em voz alta. – Você acha que eu não sou capaz?

– Eu... eu não disse isso, eu... – Ele gaguejou. – Só estou dizendo... que Diggory ficaria preocupado, e eu só estou fazendo o mes...

– Não envolva Cedric nisso. – O interrompeu. – Ele acreditava no meu potencial e sabia que eu, tanto quanto qualquer outra pessoa no time, conseguiria lidar com a pressão.

– Mas as circunstâncias estão diferentes. – Sussurrou, como se tivesse medo da reação dela. – Eu só preciso garantir que você não vai ter um piripaque e deixar o time na mão, entende?

– E quem você colocaria no meu lugar? – Arqueou a sobrancelha, engolindo, calada, a insinuação de que ela "teria um piripaque".

– Bem, o Smith tem sido bem direto sobre querer ser o apanhador... – Confessou, alto o suficiente para os gêmeos, Lee e Helena escutarem e darem gargalhadas escandalosas. – Hã... algum problema?

– Ah, não! Problema nenhum! – Helena disse, secando uma lágrima que escorria.

– Mais pontos pra nós, não é, pessoal? – Lee cutucou Fred com o cotovelo, ainda gargalhando. Sheldon os encarava, muito confuso.

– Acho que o Campeonato de Quadribol esse ano vai ser só entre a Grifinória, a Sonserina e a Corvinal, então... – Fred exclamou.

– O que é que vocês querem dizer com isso? – Summerby contorceu o rosto.

– Cara, se você acha que substituir a Eleanor pelo Smith é uma boa decisão... – George ergueu as sobrancelhas e colocou uma mão no ombro de Eleanor. – ...fizeram uma péssima decisão te colocando como capitão, só dizendo!

– Não foi uma péssim...

– Ei, cara, tá tudo bem! – Ele ergueu as mãos, em sinal de rendição. – Eu te encorajo á fazer isso, inclusive! Afinal, todos queremos ganhar, não é? – Deu uma última risada.

– Ele tem razão. – Eleanor concordou, sorrindo de lado. – Não me deixe te atrapalhar, vai, coloca o Zacarias no meu lugar! Vai ser divertido!

– Mas voc...

– Boa sorte com o time, Summerby. – Ergueu o queixo e se virou para andar para longe, sendo acompanhada por Helena, Lee e os gêmeos.

Antes que pudesse dar sequer cinco passos, a voz de Sheldon, levemente esganiçada, soou através do falatório.

– Sparks! Espera! – A chamou, e ela se virou para ele, o olhando por cima do próprio ombro.

– Sim?

– Eu... te vejo na quinta-feira. – Disse, derrotado.

– Ótimo. – Assentiu, e continuou andando. Antes de continuar andando, desacelerou os passos e esperou que os outros três se juntassem á ela. – Obrigada por isso. – Murmurou, baixo o suficiente para que todos escutassem.

– Amigos são pra essas coisas. – Helena sorriu, e a empurrou com o ombro, de leve.

– É, e nós também queremos ter uma oportunidade de acabar com vocês duas nas partidas. – Fred afirmou.

– Não teria graça acabar com a Lufa-lufa sem poder dar risada da sua cara... – George ergueu as sobrancelhas pra ela, que revirou os olhos.

– Obrigada, também, Lee. – Eleanor se virou para ele, sorrindo. Estava levemente surpresa por ele ter ajudado ela á manter a posição no time, mesmo que não tivessem trocado 5 frases sequer.

– Amigos dos meus amigos também são meus amigos, não é? – Ele sorriu de volta, estendendo a mão para ela, que a apertou.

Eles se separaram de Helena enquanto ela ia para a mesa da Sonserina e eles iam para a mesa da Grifinória, e, Eleanor se sentou junto de Harry, Ron e Hermione, enquanto os gêmeos e Lee se sentavam próximos.

– Aconteceu alguma coisa? – Hermione perguntou, curiosa, e Eleanor presumiu que ela tivesse visto o tumulto com Summerby.

– Quase me tiraram do time por acharem que eu "não ia saber lidar com a pressão". – Resmungou, despejando algumas batatas cozidas. – Francamente, as pessoas acham que eu virei algum tipo de boneca de porcelana?

– Acho que só estão preocupados... – Hermione sugeriu.

– Mas eu aguento o tranco, cacete! Eu ter sobrevivido á tortura deveria provar isso, não é? Não o contrário! – Exclamou, espetando uma das batatas com um pouco mais de agressividade que o normal. – E não é preocupação nenhuma! O Summerby nunca trocou mais de duas palavras comigo fora dos jogos! Ele só queria me jogar pra fora do time porque tem medo de eu "ter um piripaque" e deixar o time na mão!

– Eu achei que você não quisesse continuar no time... – Harry murmurou, com o cenho franzido.

– Não queria, mas também não queria que me expulsassem! – Se defendeu. – Se for pra sair, eu saio sozinha! – Deu de ombros, e os três deram risada.

– Eu estava vendo e achei que você fosse acabar batendo nele... – Hermione confessou.

– Eu deveria ter furado ele com um garfo, isso sim. – Ela resmungou, olhando para o garfo em suas mãos. – Já fiz isso uma vez, não faria mal fazer de novo...

– De nov... o que você quer dizer com isso? – Ron franziu o cenho.

– Eu nunca contei pra vocês?! – Os encarou, incrédula, enquanto os três negavam com a cabeça, confusos. – Eu... já ameacei o Draco com um garfo... – Contou, abaixando o tom de voz.

Ron engasgou na própria bebida enquanto dava uma risada escandalosa.

– Um garfo?!? – Hermione arregalou os olhos e franziu o cenho. Eleanor assentiu, ficando vermelha. – Um garfo! – Repetiu, incrédula.

– Por acaso, as facas estavam em falta? – Harry questionou, enquanto Ron ainda dava risada.

– Na verdade, não...

– Eu tenho tantas perguntas...

– Eu só... tenho uma... – Ron disse, ofegante, secando uma lágrima que escorria pelo seu rosto. – Como não viramos amigos antes, hein, Eleanor?

*****

Depois de acabar de comer, Harry se despediu deles e rumou para a sala de Umbridge, e Eleanor aproveitou as últimas horas antes do toque de recolher para correr até a cabana de Hagrid.

Foi um longo caminho, e ela passou tempo o suficiente trancada no Largo Grimmauld, sem fazer qualquer tipo de exercício físico, para estar ofegante e cansada ao finalmente parar ao lado do canteiro de abóboras. Ficou paralisada ao ver que as luzes estavam acesas do lado de dentro.

– Hagrid... – Ela murmurou, sorrindo de orelha á orelha e correndo até a porta, a abrindo, rapidamente. – Hagr... – Quase exclamou, mas o sorriso se esvaiu de seu rosto ao ver que, quem estava ali, de fato, não era Hagrid, e sim Dumbledore, acompanhado da Professora Grubbly-Plank.

– Olá, Eleanor. – O diretor disse, inclinando o corpo para a frente, numa rápida e casual reverência.

– Eu sinto muito... – Ela gaguejou, com medo de ter atrapalhado alguma conversa importante. Quase foi derrubada pelo peso de Canino pulando em cima dela, eufórico, com o rabo abanando freneticamente. – Eu só vim ver o... – Repousou a mão na cabeça do cachorro.

– O Canino, é claro. – Ele assentiu. – Hagrid me pediu para garantir que ele saísse da cabana para correr pelos terrenos, pelo menos duas vezes por semana, e eu vim aqui fazer exatamente isso... mas Guilhermina estava me contando que você se ofereceu á ficar responsável por ele?

– Sim, senhor... ai! – Balançou a cabeça, mas se virou na direção do cachorro, que a assustou com um latido alto, para chamar sua atenção. Então, ela se agachou para poder acariciá-lo melhor.

– Se já terminamos por aqui, diretor, eu preciso ir terminar algumas tarefas de guarda-caça, se não se importa... – A Professora Grubbly-Plank disse, recolhendo seu molho de chaves de cima da mesa de jantar.

– É claro. – Ele sorriu, educado. – Obrigado por abrir a cabana para mim, Guilhermina.

Grubbly-Plank apenas assentiu e se retirou da cabana, acenando com a cabeça para Eleanor. Mais alguns segundos de silêncio se fizeram, enquanto Dumbledore observava Eleanor e Canino, com um olhar pensativo no rosto.

– Ele parece ter uma afeição por você. – Dumbledore observou. – Dizem que os cães desenvolvem uma afeição especial por pessoas verdadeiramente bondosas. São animais extremamente sensitivos.

– Gosto de pensar que sou. – Ela disse, num tom fraco de brincadeira, sem tirar os olhos de Canino.

– Pelo que eu sei, cães não são os únicos animais que tem afeição por você, não é? – Ele indagou, e ela se perguntou onde ele queria chegar. – A Professora Grubbly-Plank estava me contando sobre você nas aulas de Tratos de Criaturas Mágicas. Ela tem uma ótima impressão de você.

– Eu falei pro senhor... penso em seguir a carreira de magizoologista. – Murmurou, sentindo uma pontada de raiva por não poder mais ser a assistente da matéria. Poderia ter tanto mais conhecimento se pudesse continuar.

– Espero que você não tenha ressentimentos em relação á isso. – Ele disse, e ela ficou em silêncio. – Saiba que Grubbly-Plank aproveitou a oportunidade de conversar comigo para, pessoalmente, te elogiar e falar sobre seu conhecimento.

– Ela é legal. – Deu de ombros. – Hagrid também me elogiaria. – Ergueu o olhar para o diretor, rezando para que ele entendesse o que ela queria dizer. "Onde está o Hagrid?!"

– Irá revê-lo em breve, eu espero. – Ele afirmou, desviando o olhar. – Me responda, Eleanor... você tem mesmo interesse em se tornar magizoologista? – Mudou de assunto.

– Hã... sim, senhor. – Ela assentiu, confusa. – Na verdade, tenho dúvidas entre me tornar magizoologista ou professora... – Deu de ombros.

– Interessante. Muito interessante. – Ele murmurou, como se falasse consigo mesmo, e tinha uma expressão indecifrável em seu rosto. – Bem, se você já vai cuidar de Canino, presumo que eu não seja mais necessário aqui. – Voltou á sorrir normalmente.

Eleanor se ergueu do chão para se despedir do diretor corretamente; era educada demais para não, pelo menos, estender a mão para ele.

– Boa noite, senhor. – Ela estendeu a mão, enquanto Canino a rodeava, agitado.

– Ah, não é necessário. – Ele negou com a cabeça, como se fosse besteira, e então, pegou algo em cima da mesa. – E eu acredito que isso deva ficar com você. – Colocou nas mãos dela. – É a chave desta cabana... peço que mantenha ela trancada enquanto não estiver aqui.

– Com certeza! – Assentiu, apertando a chave em suas mãos.

– Boa noite, Eleanor. – Se despediu, saindo da cabana, a deixando na companhia de canino.

Por alguns minutos, ela permaneceu ali, parada, olhando em volta. Geralmente, a cabana parecia um lugar tão acolhedor e seguro, mas agora, sem Hagrid, parecia frio e triste.

– Vamos lá... – Ela chamou Canino para o lado de fora, depois de dar um longo suspiro. – Temos algum tempo pra você correr por aí...

Passou um bom tempo sentada na grama, em uma quase completa escuridão, sendo iluminada apenas pela luz acesa da cabana, enquanto Canino corria de um lado pro outro, recolhendo gravetos e latindo com euforia.

"Pelo menos, um de nós se sente livre..."



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