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História Corrupted (Livro 1) - Um Velho Amigo - História escrita por moonysupreme - Spirit Fanfics e Histórias
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História Corrupted (Livro 1) - Um Velho Amigo


Escrita por: moonysupreme

Capítulo 99 - Um Velho Amigo


2 de novembro de 1995
Hogwarts
20:15

– Mimbulus... – Eleanor disse, ao chegar em frente ao quadro da Mulher Gorda, mas se calou antes de terminar a frase, recebendo um olhar confuso do quadro. – Hã...

– E então? O que ia dizer? – Arqueou uma sobrancelha, mas Eleanor apenas balançou a cabeça em negação.

– Acho que vou só... – Sorriu para a mulher, constrangida, e ergueu a mão para bater 3 vezes na moldura do quadro. Já havia sido acusada de deixar um fugitivo de Azkaban entrar no castelo, no terceiro ano, sem sequer saber da senha; certamente, não iria arriscar que algo parecido acontecesse de novo, agora que realmente sabia a senha.

Cerca de um ou dois minutos depois, a passagem se abriu, revelando Hermione, que tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo bagunçado, e vestia um suéter azul claro, com um olhar tenso no rosto.

– El...oi. – Sorriu fraco, mas pareceu um pouco decepcionada ao vê-la.

– Puxa, Hermione, não precisa soltar fogos de artifício... – Ironizou, fazendo careta.

– Desculpa! – Fechou os olhos, rindo, sem graça. – É que... você não viu o Ron, viu? Não vejo ele desde o jogo...

– Eu estava falando com ele ainda agora... acho que deve ter um hora, ou mais... – Contou, e ela ergueu as sobrancelhas, curiosa. – Ele só estava um pouco chateado com o desempenho dele no jogo... mas vai ficar bem.

– Certo. – Suspirou, parecendo mais aliviada, e deu um passo para o lado, para que Eleanor tivesse espaço para entrar.

Podia jurar que um funeral estivesse acontecendo na Sala Comunal da Grifinória; todo o time estava reunido em volta da lareira, além de mais alguns alunos, mas o silêncio era quase ensurdecedor, além de todos estarem com olhares tristonhos nos rostos. Procurou por George entre eles, e o encontrou encolhido no canto de um dos sofás, com a boca, ainda, inchada.

– Eu... vim numa hora errada? – Parou de andar e olhou para Hermione de soslaio.

 Não! Você é sempre bem-vinda aqui... – A assegurou. – É que Harry e os gêmeos... bem...

 Ah. – Engoliu em seco. – Isso... eu fiquei sabendo...

– É... – Suspirou, frustrada, e as duas se calaram enquanto observavam, de longe, o time.

– Que merda nós vamos fazer agora? – Angelina perguntou, de braços cruzados, com algumas veias saltadas em sua testa. – Sem batedores, sem apanhador... não temos time! Estamos perdidos!

– É tão injusto... – Alicia bufou, encarando o fogo da lareira com o rosto contorcido.

– E é claro que isso acontece na minha vez de ser capitã! – Ela exclamou, levando ambas as mãos até o topo da cabeça. – Quando Wood era o capitão, o máximo que tivemos foi Harry sendo atacado por Dementadores! Sem ofensas, Harry... – Olhou para o garoto rapidamente.

– ...obrigado? – Ele pareceu confuso.

– Eu acho isso um monte de merda, se querem saber! – Lee exclamou, muito irritado. – Duvido que o Crabbe tenha sido expulso do time dele, mesmo tendo jogado aquele balaço no Harry, depois do jogo ter acabado!

– E não foi mesmo. – Gina negou com a cabeça. – Ele só recebeu algumas frases pra escrever. Eu ouvi o Montague contando isso durante o jantar, dando risadinhas...

– Eu ouvi a Helena discutindo com a Madame Hooch, dizendo que queria tirar ele do time por isso, mas a Hooch disse que quem tem que punir ele é o Snape, o diretor da casa. – Katie contou. – E todos nós sabemos que isso não vai acontecer.

– E proibiram o Fred, que não encostou um dedo em ninguém! – Lee apontou para o amigo, que estava no meio dele e de George; ambos estiveram calados o tempo todo. – É uma palhaçada mesmo...

– Não encostei em ninguém porque as garotas me seguraram, vocês querem dizer. – Fred o corrigiu, com uma expressão raivosa no rosto. – Se me deixassem fazer o que eu queria, o Snape ia ter que raspar o merdinha do Malfoy do gramado...

De repente, Harry abriu as mãos, e algo começou á voar, rapidamente, através da Sala Comunal; o pomo de ouro. Por alguns minutos, todos ficaram em silêncio, seguindo os movimentos dele, quase que hipnotizadas, enquanto Eleanor e Hermione permaneciam afastadas do grupo, se sentando em uma das mesas espalhadas pela Comunal.

Em comparação á Comunal da Lufa-lufa, a da Grifinória era, na opinião de Eleanor, muito mais aconchegante. Em todas as vezes que passou por lá, a iluminação era fraca, apenas pela luz da lareira, e as almofadas e cortinas vermelhas davam ao ambiente um ar confortável. A Comunal da Lufa-lufa, é claro, era linda, mas era tão iluminada e... amarela... que haviam dias em que era doloroso só de olhar.

No entanto, mesmo que se sentisse confortável ali, o clima estava tão pesado que era quase palpável. Não era nenhuma surpresa que ninguém quisesse continuar ali por muito mais tempo.

– Eu vou me deitar. – Angelina se levantou, com os olhos pesados. – Quem sabe, amanhã, quando eu acordar, não vou descobrir que isso tudo foi um pesadelo, e nós ainda não jogamos... – Resmungou, e andou em direção às escadas que levavam aos dormitórios; Alicia e Katie foram junto.

Gina também não demorou muito; no entanto, ao procurar por Hermione, para desejá-la boa noite, notou a presença de Eleanor, e a cumprimentou rapidamente. Quando todos já haviam ido se deitar, com exceção dos gêmeos, Lee, Harry e Hermione, Eleanor se levantou da mesa e andou na direção do sofá em que George estava sentado, o cutucando no ombro com a mão que não segurava a bolsa de gelo.

O ruivo, que antes cobria o rosto com as duas mãos, olhou para trás, parecendo surpreso ao vê-la ali. Tão surpreso, na verdade, que gaguejou por alguns segundos, sem saber o que dizer. Fred e Lee, notando a reação dele, trocaram olharem bem humorados.

– El! Eu... hã... eu não... é que... quando você... não vi... como... – Gaguejou, e recebeu uma cotovelada discreta de Fred, o lançando um olhar repreensivo, enquanto Lee continha a risada.

– Bem, eu estou morto de sono... – Fred se levantou, estranhamente, sem parecer tão irritado quanto estava antes. – Acho que vou voltar pro dormitório... foi um dia longo...

– Eu também estou muito cansado... – Lee se levantou, também, em um salto. – Muito cansativo, narrar um jogo inteiro de quadribol... preciso descansar minhas lindas cordas vocais. – Se espreguiçou, mas olhava para Eleanor de soslaio.

– Bem... boa noite, então. – Fred deu dois tapinhas no ombro do irmão, enquanto se apressou para subir as escadas, com Lee em seu encalço.

– Eu não sei o que deu neles... – George disse, com as bochechas vermelhas, balançando a cabeça em desaprovação.

– Vai entender. – Ela deu de ombros, se jogando no sofá, ao lado dele. – Eu... trouxe isso. Pra diminuir o inchaço. – Estendeu a bolsa de gelo para ele.

– Ah... – Ele ergueu as sobrancelhas, aceitando a bolsa e a levando até os lábios, fazendo uma rápida careta, ao sentir o gelo entrando em contato com o machucado. – Obrigado...

– Não foi nada. – Negou com a cabeça. – De qualquer forma, você deveria ir na Madame Pomfrey amanhã... caso não melhore.

– Acho que consigo sobreviver com um lábio inchado por alguns dias. – Ironizou, soltando ar pelo nariz.

Um silêncio desconfortável se fez entre os dois, enquanto Eleanor observava Harry e Hermione cochichando, no sofá de frente para eles, e ela tinha certeza que George, assim como ela, relembrava a pequena discussão que haviam tido mais cedo. Ela não sabia dizer exatamente porque aquilo a trazia tanta agonia, já que, comparada com as últimas brigas em que havia se metido, essa era, de longe, a mais leve. Só sabia que não conseguiria passar mais um minuto sem falar nada.

– George, eu... – Ela cortou o silêncio, falando um pouco mais alto do que queria, o que o fez dar um pequeno salto e se virar para ela, assustado, ainda segurando o gelo contra seus lábios. – ...acho que te devo um pedido de desculpas.

O ruivo franziu o cenho e abaixou o gelo, a encarando, parecendo sem palavras.

– Pelo quê? – Deu de ombros.

– Por favor, não me faça repetir as coisas que eu falei... – Ela fez careta.

– Não! – Ele se corrigiu, rapidamente..– Não foi isso que eu quis dizer... é que... não tem pelo que você se desculpar...

– Não? – Agora, era a vez dela de ficar confusa.

– Não. – Sorriu de lado. – Agora, se estamos falando de mim... eu, sim, te devo um pedido de desculpas.

– Não deve! – Negou com a cabeça freneticamente. – Escuta, você estava certo, eu não deveria ficar tão irritada se você quiser me ajudar... é que as coisas têm sido tão complicadas, e eu sinto que as pessoas estão me subestimando, e isso tem me irritado tanto... acabei descontando em você, e eu sinto muit...

– Não, você me escuta! – A interrompeu, virando o corpo em direção á ela, ficando com as pernas cruzadas. – Você tinha razão, eu deixei o que ele falou me atingir, mesmo sabendo que era isso que ele queria... depois das coisas que aconteceram com você, e quando ele falou da minha família, acho que eu vi uma oportunidade de fazer ele engolir as próprias palavras...

– Era isso que você estava tentando fazer? – Ergueu as sobrancelhas, ironizando, e ele parou de falar para gargalhar.

– Admito que me empolguei um pouco... – Sacudiu a cabeça, enrugando o nariz. – Me disseram como você ficou, depois de tudo, e eu não iria conseguir dormir hoje se não me desculpasse por isso...

Mais alguns segundos de silêncio.

– E você ainda trouxe isso aqui pra mim... – Ele balançou a bolsa de gelo em suas mãos. – ...o que só piorou a minha culpa, pra ser sincero.

– Bem, eu... – Deu de ombros, envergonhada, e se encolheu um pouco, abraçando os próprios joelhos e escondendo parte do rosto atrás deles. – ... não foi nada. – Negou a cabeça.

– Nós estamos bem, então? – Ergueu as sobrancelhas, indagando, e ela o encarou por alguns segundos, sem perceber.

– Estamos. – Sorriu fraco. – Acho que você já entendeu que eu não gosto que me tratem como se eu precisasse de bebês... não vamos ter mais problemas.

– Ah, não vamos mesmo. – Arregalou os olhos, de brincadeira, enquanto balançava a cabeça freneticamente. – Se você já usou um garfo como arma uma vez, quem dirá qual vai ser o próximo objeto?

– Ah, pelo amor de Deus... – O empurrou com o pé, revirando os olhos. – De todas as coisas que eu te falei, você prestou atenção logo nessa?!

– Se bem que... você tem uma coisa por utensílios de cozinha, não é? – Fingiu curiosidade, e ela o encarou, séria e confusa. – Eu me lembro vividamente de você me batendo com uma frigideira, durante as férias...

Ela continuou o encarando, ainda mais confusa, mas logo deu uma risada constrangida.

– Você deve ter sonhado com isso... – Balançou a cabeça e desviou o olhar.

– Não sonhei! – Fez careta. – Você está brincando... não lembra mesmo disso?!

– ... não... – Negou com a cabeça, fazendo bico, e ele a encarou por alguns segundos, desconfiado. – O quê?

– Você têm tomado aqueles remédios? – Estreitou os olhos, parecendo esquecer que estava brincando alguns segundos antes.

– É claro que tenho! – Fez careta, ofendida, e lançou um olhar furtivo para Harry e Hermione, que ainda cochichavam, não parecendo ouvir o que ele havia dito. – E dá pra falar mais baixo?! Não sei se você percebeu, mas eu não quero que a escola inteira saiba que eu estou tomando remédios! – Sussurrou.

– E por que não está lembrando das coisas, então? Não é a primeira vez! Vem acontecendo há semanas! – Questionou. – Você disse que eles servem pra ajudar com os efeitos!

– Os efeitos do estresse pós-traumático! – Acrescentou. – Não acho que tenha a mesma eficácia quando se trata de magia das trevas. – Murmurou, desviando o olhar, e ele assentiu, parecendo convencido.

Por alguns segundos, ficaram em silêncio, novamente. Mas, desta vez, não era um silêncio pesado. Estavam confortáveis; George encarava as chamas da lareira, enquanto Eleanor olhava por cima dos próprios ombros, na direção da janela, de onde era possível ver alguns flocos de neve caindo.

– O Ron já deveria ter aparecido... – Ela disse, franzindo o cenho, preocupada, e se virou para Harry e Hermione, que pararam de conversar e olharam para ela, confusos. – A neve está ficando mais forte... – Apontou para a janela, e eles olharam para lá também; Hermione pareceu muito preocupada.

– Alguém tem ideia de onde ele pode estar? – George indagou. – Não vejo ele desde cedo...

– Ele nem chegou á voltar pro castelo... – Hermione respondeu, cruzando os próprios braços, com uma expressão preocupada no rosto. – Mas a El estava com ele... onde você o viu pela última vez?

– Eu conversei com ele no Grande Lago. – Eleanor disse. – Mas ele disse que não ia demorar muito...

– Eu deveria ir procurar por ele... – Harry se levantou.

– Eu não sei se essa é uma boa idéia. – Eleanor negou com a cabeça, fazendo careta, e ele a encarou, confuso. – Quando eu falei com ele, ele parecia um pouco... chateado com o desempenho dele no jogo. Você não acha que ele vai se sentir envergonhado se você for atrás dele?

– Mas por que ele se sentiria envergonh... – Harry parecia muito desorientado.

– Acho que ela tem razão. – Hermione assentiu, e o amigo a olhou. – Pense bem, Harry... você conhece o Ron, sabe como ele é orgulhoso...

– Que tal eu ir, então? – George se voluntariou, levantando ao mesmo tempo em que Harry se sentou de volta no sofá, derrotado.

– Pior ainda! – Eleanor o puxou de volta. – A última coisa que ele precisa é ouvir alguma piadinha...

– A neve está piorando, você mesma disse! – Apontou para a janela. – Ele já deveria ter volt...

Naquele exato momento, o retrato da Mulher Gorda girou, com um rangido de estremecer os tímpanos, e os quatro se viraram na direção do som, encontrando um Ron com as bochechas tão vermelhas quanto o uniforme de quadribol, os lábios roxos, com alguns flocos de neve espalhados pela sua roupa, além de alguns nos seus cílios e em seus cabelos. Por alguns segundos, eles apenas o encararam, incrédulos.

– Ron! – Hermione se levantou em um salto, com os olhos arregalados á ponto de Eleanor achar que eles iriam saltar de seu rosto. – Onde você esteve?!

– Andando... – Ele respondeu, e Eleanor notou que seu queixo tremia sem parar.

– Você está congelando! – Ela exclamou, e Hermione o puxou em direção á lareira. – Eu falei pra você não demorar á voltar pra escola!

– Eu... ach-cho que p-perdi a noç-ção do temp-po... – Murmurou, se sentando no chão, de frente para a lareira, enquanto Eleanor pegava um cobertor que estava largado em cima de uma das poltronas e o jogou por cima de seus ombros.

– Tudo bem aí, Ron? – George o olhou, parecendo genuinamente preocupado, e o irmão se virou na direção dele, apenas balançando a cabeça, com certa dificuldade. – Tem certeza? Eu posso ir na Madame Pomfrey buscar aquela poção de aquecer...

– Hã... – Eleanor arregalou os olhos, se lembrando de quem também estava na ala hospitalar. – Se você quiser mesmo, Ron, eu vou lá buscar...

– Bobagem, eu vou... você já veio de lá pra cá, com o gelo. – George deu de ombros.

– Ah, não tem problema, eu bem que estou precisando caminhar mais... – Inventou, e antes que pudesse receber olhares desconfiados dos outros, Ron murmurou em negação, enquanto negou com a cabeça. – Você... não quer a poção?

Mais uma vez, ele negou com a cabeça.

– Tudo bem, então... – George suspirou. – Eu vou me deitar, já que Roniquinho não precisa dos meus cuidados... boa noite pra vocês.

– Boa noite. – Eleanor, Harry e Hermione responderam, enquanto Ron apenas balbuciou algo parecido com "Banôche".

– Boa noite, El. – Ele disse, e ela se virou para ele, sorrindo, mas um tanto confusa.

– Boa noite...? – Repetiu, e ele apenas balançou a cabeça e, rapidamente, subiu as escadas em direção aos dormitórios.

Ficaram em silêncio por alguns minutos, enquanto os tremores de Ron, aos poucos, diminuíam, e os flocos de neve espalhados por seu corpo começassem a derreter e pingar no tapete.

– Se sente melhor? – Hermione, sentada no chão, ao lado dele, perguntou.

– Uhum. – Ele assentiu. – Hã... me desculpem...

Hermione lançou um olhar desnorteado para Eleanor e Harry, que estavam sentados lado a lado no sofá, e eles também se entreolharam, sem entender muita coisa.

– Não é culpa sua, Ron. – Eleanor balançou a cabeça. – Nós só ficamos preocupados... você disse que iria voltar logo pro castelo, e não voltou, então nós...

– Não isso... – Ele a interrompeu, negando com a cabeça.

– Pelo que, então? – Harry franziu o cenho.

– Por achar que eu conseguiria jogar quadribol... – Suspirou. – Eu falei com a Eleanor, e decidi que vou pedir pra sair do time amanhã, de manhã.

– O quê?! – Hermione exclamou, incrédula.

– Ron, para com isso! – Eleanor também levantou o tom de voz.

– Você não vai querer fazer isso, Ron... – Harry bufou, balançando a cabeça freneticamente, parecendo um pouco irritado. – Senão, só vão sobrar três jogadores no time.

"Ai, merda...", Eleanor pensou consigo mesma, fazendo careta e fechando os olhos. "Eu não devia ter deixado pra ele descobrir isso quando chegasse.."

– Como assim? – O ruivo o encarou, estreitando os olhos.

– Eu... deixei essa parte de fora quando conversamos. – Eleanor deu uma risadinha nervosa.

– Que parte? – Alternou o olhar para ela, que engoliu em seco.

– Hã... – Gaguejou, tentando encontrar as palavras. – Harry, uma ajudinha? – O deu uma cotovelada, com certa força.

– Droga, Eleanor! – Ele fez careta, colocando a mão no lugar atingido, e ela gesticulou com a cabeça na direção de Ron. – O que a Eleanor te falou, Ron?

– Que o Malfoy estava envolvido com os distintivos e aquela música... e que você e o George acabaram com ele no final do jogo. – Relembrou. – Inclusive, boa! – Sorriu de lado, recebendo um olhar repreensivo de Hermione.

– Ah, é, boa... – Harry deu uma risada irônica, abaixando a cabeça para encarar os próprios dedos. – ...se a Umbridge não tivesse expulsado á mim, Fred e George do time de quadribol.

– O QUÊ?! – Ron gritou, encontrando forças para se levantar do chão em um salto, jogando para trás o cobertor que Eleanor havia colocado em seus ombros alguns minutos antes.

– É. – Assentiu. – Para sempre.

– PARA SEMPRE?! – Repetiu, esganiçado.

– Isso mesmo que você ouviu. – Sorriu sem mostrar os dentes, um tanto rabugento, e Eleanor encarava Ron um tanto preocupada; ele parecia á ponto de ter um ataque.

– Eu acho que vou ter um faniquito... – Murmurou, com a voz falha.

– Ron, vê se senta! – Ela se levantou e o puxou até o sofá onde estava sentada antes, ao lado de Harry.

– Não precisa ficar assim! – Hermione exclamou, tensa, permanecendo de pé enquanto Eleanor se sentava do outro lado de Harry.

– Eu tenho certeza que a Angelina vai encontrar outras pessoas pra preencherem as vagas dos três! – Eleanor o consolou. – Hermione está certa, você não tem com o que se preocupar...

"Acho difícil encontrarem alguém que possa ser tão bom quanto eles...", pensou, também, mas decidiu manter essa observação consigo.

– E você não acha que, se tivesse alguém com talento pra substituir eles na Grifinória, a pessoa não teria passado nos testes?! – Ron questionou, se inclinando para a frente para encará-la, e Harry fez o mesmo.

– Bem... – Ela abriu a boca e fechou por alguns segundos, sem saber o que responder..– Quem sabe... hã... não tem um talento não descoberto?

– Ah, tá bom... – Resmungou, se jogando contra o encosto do sofá e cruzando os braços, emburrado.

– Oras, nunca se sabe! – Ela defendeu seu ponto de vista, mesmo que não fosse exatamente o seu ponto de vista. – Justin e Ernie não entraram no terceiro ano, e, esse ano, arrasaram nos testes!

– Mas isso foi em um espaço de dois anos! – Ele retrucou. – Não vão ter novas revelações do Quadribol em dois meses!

– Eu estou tentando te consolar, Ron, droga! – Revirou os olhos. – Mas se você não quer cooperar, que se dane!

– Eu não quero consolo! – Negou com a cabeça. – Isso é tudo culpa minha... – Choramingou, massageando as próprias têmporas, frustrado.

– Você não me fez bater no Malfoy. – Harry retrucou.

– Mas você não faria isso, se não fosse pela música, e pelos distintivos! – Bateu nas próprias pernas. – E eles não existiriam se eu não estivesse no time!

– É simples, se não fosse com você, seria com outra pessoa. – Eleanor acrescentou. – Realmente não é culpa sua.

– E ele falou um monte de coisas sobre... outras pessoas. – Harry disse, e Eleanor notou que ele a olhou de soslaio. – O meu ponto é: ele mereceu.

– Mas se não fosse pela música... – Ron continuou resmungando consigo mesmo.

– Isso não tem nada a ver... – Harry suspirou, negando com a cabeça.

– Não adianta, Harry, ele está em surto, não vai querer ouvir a voz da razão! – Eleanor bufou, derrotada.

– Foi aquela música que estragou tudo! – Ron se ajeitou no sofá, de repente, agitado. – Eu já estava nervoso, sim, mas ela só piorou tudo!!

– E é compreensível! – Eleanor afirmou.

– Qualquer um ficaria nervoso. – Harry acrescentou.

Enquanto os dois meninos continuavam em um debate de "Ron Weasley: Culpado ou Inocente?", Eleanor seguiu Hermione com os olhos, enquanto a grifinória se afastava da discussão em direção á janela, observando os flocos de neve que atingiam a vidraça com cada vez mais força. De repente, os ombros dela se ergueram, e os olhos se arregalaram; quando Eleanor estava prestes á perguntar o que ela tinha visto, sua atenção foi roubada por Harry, que, em um ato explosivo, exclamou:

– Olha só, Ron, para com isso, tá bem?! – Ele bateu contra o acolchoado do sofá, encarando Ron, irritado, com o rosto levemente vermelho. – As coisas já estão ruins o suficiente sem você ficar se culpando por tudo!

Ron, então, se calou, e, parecendo um tanto constrangido, ficou mexendo nas próprias vestes, com uma expressão infeliz no rosto, pelos próximos segundos.

– Mione? – Eleanor a chamou, voltando a atenção para ela. – Tudo bem aí?

– Sim! – Hermione se virou para ela, ainda com os olhos arregalados, mas sorrindo. Parecia um tanto agitada. – Tudo... ótimo!

– O que foi? – A encarou, desconfiada.

– Nada! – Virou de costas para a janela, cruzando os braços, tentando fingir descaso. – Tudo jóia...

– "Jóia"? – Fez careta. – Os anos 80 ligaram, eles querem as gírias deles de volta... – Ironizou, e a amiga soltou uma risadinha rápida e nervosa. – Ok, agora você está me preocupando... – Franziu o cenho e se levantou do sofá, decidindo ignorar a competição de "quem suspira mais fundo" entre Ron e Harry, que continuavam em silêncio, emburrados.

Andou em direção até Hermione, se sentindo até mesmo preocupada, já que ela não estava agindo normalmente... tentou enxergar através da janela, mas a nevasca já havia começado. Além de que, mesmo que pudesse enxergar, não saberia o que estava procurando.

– Você viu alguma coisa? – Sussurrou, ao ficar próxima o suficiente dela. – Foi algum Comensal?

– O quê? Não! – Negou com a cabeça, e sua reação fora firme o suficiente para Eleanor se considerar convencida. Ficou, pelo menos, um pouco mais relaxada. – Ai... olha só... – Levou Eleanor para mais perto da janela, pelos ombros, e apontou para a janela.

– O que é pra eu olhar, exatamente? – A encarou, questionando se a amiga havia perdido a cabeça de vez.

– Nunca me senti tão mal na vida... – Ron resmungou, do sofá.

– Ali! – Apontou na direção da orla da floresta. – Não está vendo uma luzinha acesa?

Ah, é? – Harry resmungou, em resposta á Ron, alheio á conversa entre as duas garotas. – Bem-vindo ao clube, você vai odiar.

Enquanto isso, Eleanor estreitava os olhos para tentar enxergar através da nevasca, mas, ao ver o que Hermione havia apontado, sentiu seu peito gelar, e, por impulso, deu dois tapas agitados no braço da amiga, afobada.

– Hermione! – Sussurrou, esganiçada.

– Eu sei, eu sei! – Ela assentiu, dando risada, enquanto Eleanor corria em direção ao retrato da Mulher Gorda. – Eleanor, espera! – Arregalou os olhos, a puxando pelo braço.

– O que nós estamos esperando?! – Fez careta, enquanto Harry e Ron as olhavam, sem entenderem o motivo de tanta agitação.

– Ok, o que é que houve com vocês? – Harry indagou, rabugento.

– Acabamos de ver algo que vai levantar o ânimo de vocês também... – Hermione disse, com a voz trêmula, parecendo se conter.

– Duvido muito... – Ron resmungou.

– Ah, é? – O encarou, aceitando o desafio. – Hagrid voltou.

– VOLTOU?! – Harry arregalou os olhos e se inclinou até a beira de seu assento, alternando seu olhar entre ela e Eleanor.

– ESTÁ ESPERANDO O QUÊ, HARRY?! – Eleanor estalou os dedos, afobada. – VAI PEGAR A SUA CAPA! RÁPIDO!

* * * *

Os próximos minutos se passaram como um borrão; quando se deram conta, Harry já tinha corrido até o dormitório e voltado com a Capa da Invisibilidade e o Mapa do Maroto, enquanto Hermione tentava colocar em si mesma um dos cachecóis e um par das luvas que havia tricotado para os elfos. Eleanor estava agitada demais para sentir frio.

– Pelas barbas de Merlin... – Ron grunhiu, impaciente, enquanto eles esperavam Hermione colocar as luvas antes de saírem da Sala Comunal.

– Oras, está frio demais! Você não viu a nevasca?! – Ela retrucou, se defendendo.

Passaram pelo buraco do retrato o mais rápido que puderam, e, assim que ele se fechou novamente, se amontoaram embaixo da Capa da Invisibilidade. No entanto, não estava sendo muito eficaz; quatro pessoas para apenas uma capa era coisa demais, e Ron, sendo o mais alto, ainda precisava ficar encolhido para que a capa cobrisse seus pés.

– Vamos fazer o seguinte! – Eleanor sussurrou, impaciente. – Harry, me dá o mapa, e eu vou fora da capa! Eu fico vigiando, e, se o Filch aparecer, a gente muda o caminho!

– Não, é arriscado! – Ele negou com a cabeça. – Dá pros quatro virem aqui, tá bem? É só irmos com calma, e encolhidos!

Não dá pra ir com calma! – Ela resmungou.

Se controla, Eleanor!

Mas que inferno...

Contra a vontade de Eleanor, eles andaram lentamente, e com muita cautela, pelos corredores. Desceram as várias escadas, parando em cada andar para que Harry pudesse verificar o Mapa á procura de Filch e Madame Norr-r-a, mas, para a sorte deles, não esbarraram em ninguém, com a exceção do fantasma Nick Quase-Sem-Cabeça, que flutuava por um corredor escuro, assobiando uma melodia que era extremamente a de "Weasley É Nosso Rei".

Passaram pelo saguão de entrada, aproveitando que Filch ainda não havia fechado as portas (Eleanor achava que ele se esquecia), logo estavam andando pelos terrenos cobertos de neve. Àquela altura, já poderiam se distanciar um pouco, e Ron podia até mesmo erguer a postura; ninguém conseguiria enxergá-los através da nevasca, mas estava frio demais para que eles quisessem se afastar uns dos outros.

Ao se aproximarem da orla da floresta, eram cada vez mais visíveis as janelas acesas da cabana de Hagrid, e a fumaça que saía de sua chaminé. Durante todo o percurso, Eleanor e Harry trocavam olhares animados, ambos parecendo não conterem a animação.

Na verdade, estavam tão animados que quase saíram correndo em disparada até a cabana; Ron e Hermione precisavam dar pequenas corridas para acompanharem os passos apressados dos dois, enquanto tentavam manter todos cobertos, já que era claro que, nem Harry, nem Eleanor, se importavam mais com isso.

Ao chegarem até a porta, os dois bateram freneticamente na porta, e Eleanor se balançava sob os próprios pés, como se dando pequenos pulinhos. Com as batidas, eles escutaram Canino latir, agitado.

– Hagrid! – Harry gritou.

– Hagrid, somos nós!! – Eleanor gritou também, e ouviram uma risada calorosa e muito familiar vindo de dentro, o que os fez sorrirem também.

– Ah, eu devia saber! – Hagrid respondeu, do lado de dentro, e os quatro se entreolharam por baixo da capa, com os olhos brilhando. – Puxa vida, não tem uma hora desde que cheguei... sai da frente, Canino, seu bobão!... vocês foram rápidos... Canino, não faça isso!

Eleanor sorria de orelha á orelha, enquanto ouvia o som da porta sendo destrancada, e logo depois aberta, com um rangido. No entanto, quando a cabeça de Hagrid apareceu na porta, o sorriso sumiu de seu rosto em menos de um segundo.

– MEU DEUS, HAGRID! – Exclamou, assustada, arregalando os olhos, e Hermione soltou um gritinho agudo, mas contido.

– Falem baixo! Pelas barbas de Merlin, falem baixo! – Ele arregalou os olhos, olhando para os lados, checando se havia alguém, e em seguida olhou por cima da cabeça dos garotos, como se tentando adivinhar em que altura estavam. – Por baixo da capa, hã? Vamos lá, entrem... – Abriu um pouco a porta.

– Desculpa, desculpa! – Hermione sussurrou, enquanto os quatro se espremiam pela fresta da porta.

– Hagrid! Ai, Hagrid... – Eleanor não conseguia dizer nada além disso, embasbacada.

– Não foi nada! Não foi nada, eu prometo! – Ele disse, apressado, enquanto fechava a porta atrás deles, dando uma última olhada em volta. Correu, então, em direção á todas as janelas, fechando as cortinas, enquanto Eleanor continuava o encarando, boquiaberta.

Os cabelos dele, antes volumosos, agora estavam pareciam pesados e lambuzados de sangue. Seu olho esquerdo não era mais do que uma fenda inchada, no meio de uma massa roxa e preta, cheia de pus. Seu rosto estava cheios de cortes profundos, e, em suas mãos, outros cortes mais frescos, que ainda sangravam. Enquanto andava de uma janela para a outra, ele mancava, e parecia um tanto desengonçado, o que fez parecer que também tinha algumas costelas quebradas.

– "Não foi nada"? – Ela fez careta, saindo debaixo da capa, e os outros três fizeram o mesmo. – Hagrid, pelo amor de Deus! – Suspirou, com a respiração descompassada.

Ele não respondeu, olhando através das cortinas, furtivo, e ela pôde ver uma capa de viagem grossa, que parecia ser de couro de dragão, estava jogada por cima de uma cadeira, acompanhada de uma mochila grande o suficiente para caber vários Caninos, pendurada na parede ao lado da porta. Ainda sem respondê-la, Hagrid agora mancava até a lareira, pendurando nela uma chaleira de cobre.

– Hagrid! – Eleanor o chamou, novamente, preocupada, tentando se equilibrar enquanto Canina subia em cima dela.

– O que é que houve com você?! – Harry disse, parecendo tenso também.

– Já disse, nada! – O meio-gigante respondeu, firme. – Aceitam uma xícara de chá?

– Hagrid, corta essa! – Ron negou com a cabeça. – Você está todo arrebentado!

– E eu estou bem! – Ele os olhou, tentando sorrir, mas até mesmo isso parecia ser doloroso demais; ao invés de sorrir, parecia estar fazendo caretas. – Como vocês estão enormes! É ótimo vê-los de novo, depois de tanto tempo... as férias foram boas? – Mudou de assunto

Eleanor queria muito aceitar a isca; desde o início do ano letivo, vêm desejado que ele estivesse por perto para oferecer uma xícara de chá e alguns quadradinhos de chocolate, pronto para escutar sobre seja lá o que ela tivesse para dizer. Mas, no momento, isso não parecia tão importante quanto a quantidade de ferimentos que ele parecia ter.

– Pelo amor de Deus, Hagrid, você claramente foi atacado! – Ela exclamou, passando as mãos entre os cabelos, em um ato desesperado.

– Pela última vez, não foi nada! – Ele deu de ombros.

– E você acharia que não foi nada se um de nós desse as caras por aqui com um quilo de carne moída no lugar do rosto? – Ron questionou, com o rosto contorcido, parecendo um tanto enojado.

– Você tem que ir na Madame Pomfrey! – Hermione afirmou, com a voz trêmula, e Eleanor assentiu freneticamente, concordando.

– Urgentemente! – A lufana acrescentou. – Esses ferimentos estão péssimos...

– Eu vou cuidar deles, não se preocupem, ok? – Ele balbuciou, com rispidez, e os quatro se entreolharam, angustiados, até decidirem se sentar em volta de uma enorme mesa de madeira, no centro da cabana.

Hagrid deu passos pesados até a mesa, e puxou para o lado um enorme pano tricotado que a cobria. Embaixo dele, estava um pedaço de carne crua, sangrenta e bizarramente esverdeada, do tamanho de um pneu... talvez maior.

– Você não vai comer isso, vai? – Ron indagou, se inclinando para a frente, observando a carne de perto. – Parece radioativa... – Fez careta, enojado.

– É assim que deve parecer, é carne de dragão. – O professor explicou, se sentando em uma enorme cadeira de balanço. Eleanor contorceu o rosto, não gostando muito daquilo. – E não a trouxe para comer.

Ele apanhou a carne e prensou no lado esquerdo do rosto, onde os ferimentos estavam piores. Sangue esverdeado escorreu até sua barba, e ele suspirou, aliviado.

– Assim está melhor. – Ele sorriu fraco.

– Sangue de dragão alivia a dor... – Eleanor sussurrou para Ron e Harry, que pareciam ambos confusos e enojados.

– Então... – Harry engoliu em seco, como se tentasse ignorar a vontade dd vomitar. – ...vai nos contar o que aconteceu com você? – Perguntou.

– Não posso, Harry. Ultraconfidencial. – Negou com a cabeça. – Vai custar mais do que o meu emprego se eu contar... – Murmurou, como se falasse mais consigo mesmo do que com os garotos.

– Foram os gigantes, Hagrid? – Hermione perguntou, em um sussurro, e os dedos de Hagrid soltaram, por impulso, a carne de dragão, e ela escorregou, batendo, com um barulho nojento, em seu peito.

– Gigantes?! – Ele arregalou os olhos, engasgando nas próprias palavras, pegando o enorme bife antes que caísse no chão, para a infelicidade de Canino, e o colocou de volta no rosto. – Quem foi que falou em gigantes?! Com quem vocês andaram conversando?? Quem disse a vocês que eu estive... quem disse que eu estive... hein?!

– Nós... adivinhamos. – A garota disse, inocentemente, mas com a voz esganiçada.

– Ah, foi? Adivinharam, é? – Hagrid se virou para ela, a encarando fixamente com o olho que não estava coberto pela carne.

– Foi meio... óbvio. – Ron acrescentou, tentando aliviar a culpa da amiga, e Harry concordou com a cabeça, cutucando Eleanor para que ela fizesse o mesmo. Por alguns segundo, Hagrid apenas observou enquanto os quatro apenas assentiam freneticamente.

Depois de os encarar, ele apenas bufou, jogando a carne de volta na mesa, decidindo checar a chaleira, que havia começado á chiar.

– Nunca vi garotos para saberem mais do que devem como vocês... – Ele resmungou, derramando água fervendo em quatro das suas enormes canecas.  – E isso não é um elogio! Não mesmo! Abelhudos, é o que vocês são... intrometidos! – Exclamou, com a respiração descompassada.

– Então, você foi procurar os gigantes? – Eleanor ergueu as sobrancelhas, recebendo um olhar repreensivo de Hagrid. – Oras, você praticamente confirmou!

Ele bufou, derrotado, enquanto coloca as canecas de chá diante de cada um. Então, voltando á prensar a carne no rosto.

– Está bem... – Ele resmungou. – Fui.

– E encontrou?! – Hermione perguntou, arregalando os olhos, com o tom de voz baixo.

– Bom, eles não são exatamente difíceis de encontrar, para ser sincero... – Hagrid observou, e Eleanor concordou com a cabeça, dando de ombros. – Bem grandinhos, sabem...

– Onde é que eles ficam? – Ron indagou, curioso.

– Nas montanhas – Respondeu, mau humorado.

– Então, isso não significaria que os trouxas podem... – Eleanor ergueu o olhar, preocupada.

– Podem, sim. – Ele assentiu, já prevendo a pergunta que seria feita. – Só que as mortes deles sempre são divulgadas como acidentes de montanhismo...

– Ah. – Foi tudo que ela pôde responder, dando um gole no chá. "E pensar que já viajamos para lugares montanhosos...", pensou consigo mesma, relembrando algumas das viagens de sua família, engolindo em seco.

Ele se ajeitou na cadeira, tentando ficar mais confortável enquanto continuava prensando a carne contra seu rosto. Era um pedaço tão grande que conseguia cobrir a exata metade de seu rosto.

– Vamos, Hagrid, conta pra gente o que você fez por lá! – Ron exclamou. – Conte como foi atacado pelos gigantes e Harry pode lhe contar como foi atacado pelos Dementadores... – Antes que pudesse terminar a frase, Hagrid engasgou no próprio chá e o cuspiu, em um jato, de volta na caneca, enquanto soltava a carne no chão, num movimento assustado; Eleanor sentiu algo pingar em seu rosto, mas não quis saber se era sangue de dragão ou cuspe misturado com chá.

– Como ass... – Hagrid questionou, entre as tosses, enquanto batia no próprio peito, tentando se controlar. – Como assim, dementadores?!?

– Você não estava sabendo? – Eleanor questionou, confusa, mas seu olhar estava focado em Canino, que devorava o pedaço de carne derrubado no chão.

– Não estou sabendo de nada que aconteceu desde que parti para a missão, em julho! Estive em uma missão secreta... não queria corujas me seguindo por toda parte! – Balançou a cabeça, com os olhos arregalados. – Dementadores desgraçados! Você não está falando sério, Harry!

– Estou, sim. – Harry assentiu, ajeitando-se na cadeira. – Apareceram em Little Whinging e atacaram meu primo e eu... então, o Ministério da Magia me expulsou...

– QUÊ?

– ... e marcaram uma grande audiência no Ministério, e tudo... mas conte à gente sobre os gigantes, primeiro.

Eleanor o encarou, levemente impressionada, e ele pareceu perceber, pois sorriu de lado e a olhou de soslaio.

– Você foi expulso?! – Hagrid questionou, embasbacado.

– Conte sobre as suas férias de verão e eu te conto sobre as minhas. – Deu de ombros, como se dissesse "esta é minha última oferta".

Hagrid o encarou, muito sério, com o único olho que não estava coberto, enquanto Harry mantinha uma expressão de inocente curiosidade no rosto.

– Ah, tá bem... – Hagrid grunhiu, derrotado, enquanto se abaixava e arrancava, com certo esforço, a carne de dragão da boca de Canino.

– Hã, Hagrid? – Eleanor arregalou os olhos, vendo a cena. – Eu não sei se isso vai ser muito higiêni... – Antes que pudesse terminar a frase, o pedaço de carne já estava de volta no rosto de Hagrid.

"Ótimo... saliva de cachorro, germes, sangue de dragão, carne crua...", pensou consigo mesma, "...vou ficar surpresa se ele ainda tiver um rosto na semana que vem...", fez careta, enquanto ele dava outro gole enorme no chá.

– Bom, viajamos assim que o ano letivo terminou, no início de julho...

– Viajamos? – Hermione interrompeu. – Madame Maxime foi com você, então?

– É... foi. – Ele afirmou, e uma expressão envergonhada apareceu através dos poucos centímetros de rosto que não estavam cobertos pela barba ou pelo sangue verde. – É, fomos só nós dois... e vou lhes dizer uma coisa, ela não tem medo de dureza, a Olympia... é uma mulher fina e bem vestida, e, sabendo pra onde iríamos, fiquei imaginando como iria se sentir, escalando montanhas e dormindo em grutas e tudo, mas ela não reclamou nem uma vez!

– Você sabia aonde estavam indo? – Foi a vez de Harry interromper. – Sabia onde os gigantes ficam?

– Bom, Dumbledore sabia e nos disse.

– Eles ficam escondidos? – Ron perguntou também. – É tipo uma localização secreta, onde eles moram?

– Não, não é. – Hagrid negou. – É só que... a maioria dos bruxos não tem interesse em saber, desde que saibam que estão bem longe. – Contou, e Eleanor suspirou baixinho. – Mas o lugar em que eles moram é bem difícil de se chegar... pelo menos para os humanos, então precisávamos das instruções de Dumbledore. Levamos um mês para chegar lá...

– Um mês?! – Eleanor ergueu as sobrancelhas, incrédula.

– Mas por que vocês não podiam simplesmente... usar uma Chave de Portal? Ou qualquer outro transporte! – Ron sugeriu, e Hagrid o olhou com algo que lembrava pena.

– Estávamos sendo vigiados, Ron... – Ele respondeu, com a voz grave.

– Como assim?

– Você não entende. – Balançou a cabeça. – O Ministério está de olho em Dumbledore, e em todo o mundo que acha que é partidário dele, e...

– Nós sabemos disso. – Harry disse, apressado, parecendo impaciente para saber o resto da história. – Nós sabemos que o Ministério está atrás do Dumbledore... mas agora, o que você ia dizen...

– Por isso, não puderam usar magia para chegar lá? – Ron continuou, perplexo, e Harry revirou os olhos, disfarçadamente. – Vocês tiveram de agir como trouxas o caminho todo?

– Oras, não é tão ruim assim! – Hermione fez careta para ele. – Não entendi!

– Não foi bem o caminho todo – Hagrid se apressou á mudar de assunto, querendo evitar uma discussão. – Só precisávamos ter cuidado, porque Olympia e eu chamamos bastante atenção, vocês sabem...

Ron soltou um tipo de risada roncada e contida, mas, ao receber um olhar feio de Eleanor, tomou, rapidamente, um gole de chá.

– ... então, não somos muito difíceis de seguir. Fingimos que estávamos tirando umas férias juntos, então chegamos à França e agimos como se estivéssemos indo para o lugar onde fica a escola das Beauxbatons, porque sabíamos que estávamos sendo seguidos... – Ele prosseguiu. – Tivemos que viajar devagar, porque não tenho permissão pra usar magia, e sabíamos que o Ministério estava só esperando uma desculpa para nos prender. Mas conseguimos enganar a anta que estava nos seguindo, lá pros arredores de Di-Jão...

– Quem é Jão? – Ron sussurrou consigo mesmo, parecendo se perder.

– Ah! Dijon! – Hermione exclamou. – Estive lá nas férias, uma vez!

– Depois disso, nos arriscamos a usar um pouco de magia, e não foi uma viagem ruim! – Afirmou. – Demos de cara com uns trasgos malucos, na fronteira com a Polônia, e tive uma confusão rápida com um vampiro, em um pub de Minsk... mas, fora isso, não poderia ter sido mais tranquila.

Eleanor fez careta. Não parecia ter sido tão tranquila assim.

– Então, chegamos ao lugar e começamos a subir as montanhas, procurando sinais deles... tivemos que abandonar a magia quando nos aproximamos mais. Por um lado, porque eles não gostam de bruxos e não queríamos deixá-los irritados muito cedo e, por outro lado, porque Dumbledore nos avisou que Você-Sabe-Quem já devia estar atrás dos gigantes. – Contou. – Disse que era quase certo que já tivesse despachado um mensageiro. Pediu que tivéssemos muito cuidado para não chamar atenção quando estivermos por perto, para o caso de haver Comensais da Morte por perto...

Eleanor se ajeitou na própria cadeira, desconfortável, enquanto Hagrid fez uma pausa para tomar um grande gole de chá.

– Continua! – Harry o apressou, ansioso.

– Encontrei eles – disse Hagrid, resumindo. – Passamos por uma crista de montanha uma noite e lá estavam eles, acampados do outro lado. Pequenas fogueiras acesas embaixo e enormes sombras... parecia que estávamos vendo partes da montanha se mexendo!

– Qual o tamanho? – Ron perguntou, segurando em sua xícara de chá como se fosse o item mais importante do mundo.

– Uns seis metros. – Hagrid respondeu, dando de ombros. – Alguns dos maiores, talvez, uns sete metros.

– E quantos tinham? – Harry acrescentou.

– Presumo que uns setenta ou oitenta...

– Só? – Hermione ergueu as sobrancelhas, admirada, e Eleanor a encarou, confusa.

– "Só"? – Repetiu. – São gigantes de seis metros, no mínimo! Acho que oitenta tá de bom tamanho, não é?!

– Não é isso... – Ela balançou a cabeça. – É que, antigamente, tinham muitas tribos, e eram mais de cem gigantes em cada uma! Muito mais que cem...

– É... – Hagrid confirmou, entristecido. – Restam oitenta, mas haviam muitos outros... deviam existir umas cem tribos diferentes em todo o mundo. Mas já faz muito tempo que estão morrendo.

– Por que? – Eleanor perguntou, sentida. Não havia lido muito sobre os gigantes; como Newt Scamander havia explicado em seu livro, ele focava apenas em criaturas mágicas, e os gigantes eram muito mais que meras criaturas. Eram seres. Muito incompreendidos, é claro, mas ainda eram seres.

– Os bruxos mataram alguns, é claro... mas, principalmente, os gigantes mataram uns aos outros, e agora estão morrendo mais rápido que nunca. Não foram feitos para viver agrupados. – Hagrid explicou. – Dumbledore diz que a culpa é nossa... foram os bruxos que os forçaram a morar bem longe, e que eles não tiveram escolha senão ficar juntos. Para a própria proteção.

– Não parece muito justo. – Eleanor fez careta, e Hagrid apenas balançou a cabeça.

– Então, você os viu. – Harry acelerou o assunto. – E aí?

– Bom, esperamos até amanhecer... não queríamos nos aproximar no escuro, escondidos, para nossa própria segurança. – Relembrou. – Lá pras três horas da manhã, eles dormiram, onde estavam sentados mesmo. Não tivemos coragem de dormir. Primeiro, porque queríamos ter certeza de que nenhum deles ia acordar e subir até onde estávamos, e, segundo, porque os roncos eram incrivelmente altos. Provocaram uma avalanche pouco antes do dia clarear... em todo o caso, quando clareou descemos para falar com eles.

– Assim? – Ron questionou, assustado. – Vocês simplesmente... entraram em um acampamento de gigantes?

– Bom, Dumbledore disse à gente como fazer. Dar presentes ao Gurgue, apresentar os respeitos... vocês sabem.

Os quatro se entreolharam. Não sabiam.

– Dar presentes ao quê? – Harry decidiu perguntar.

– Ah, ao Gurgue... vocês sabem, o chefe.

– Como é que vocês souberam qual era o Gurgue? – Ron perguntou, constrangido.

– Era o maior, o mais feio e o mais preguiçoso. Ficava sentado ali, esperando que os outros lhe levassem comida. Cabras mortas e outras coisas do gênero. – Explicou, e eles assentiram, compreendendo. – O nome era Karkus, calculo que tivesse uns vinte e dois, vinte e três anos, e o peso de um elefante macho adulto. A pele parecia couro de rinoceronte e tudo!

Eleanor apenas ouvia tudo, muito interessada na história. Até mesmo havia apoiado a cabeça na própria mão, ao apoiar o braço em cima da mesa.

– E você simplesmente... foi até ele? – Hermione perguntou, com os olhos arregalados.

– Bom... desci até ele, até onde estava deitado no vale. Os gigantes acamparam nessa depressão entre quatro montanhas bastante altas, entendem, à margem de um lago... e o Karkus estava deitado ali, bradando para que os outros alimentassem ele e a mulher. Olympia e eu descemos a encosta da montanha...

– Mas eles não tentaram matar vocês quando os viram? – Ron estava boquiaberto.

– Com certeza, era o que se passava na cabeça de alguns. – Hagrid disse, encolhendo os ombros. – Mas, fizemos o que Dumbledore nos tinha dito para fazer... erguer o presente bem alto, manter os olhos no Gurgue e não dar atenção aos outros. Então, foi o que fizemos. Eles ficaram quietos, observando a gente passar, até chegarmos até os pés de Karkus, nos curvarmos e colocarmos o nosso presente na frente dele.

– E o que é que vocês deram? – Eleanor perguntou.

– Comida, eu presumo... – Ron deu de ombros.

– Não, não, ele não tem problema para arranjar comida... levamos uma coisa mágica. Gigantes gostam de magia... só não gostam quando a usamos contra eles. – Afirmou. – Em todo o caso, naquele primeiro dia demos um ramo de fogo gubraiciano.

– Uau! – Hermione exclamou, baixinho, mas Harry e Ron a olharam, confusos.

– Um ramo de...?

– Fogo perpétuo, se eu me lembro bem. – Eleanor respondeu. – Já ouvi isso em alguma aula...

– Vocês já deviam conhecer! – Hermione os repreendeu. – O Professor Flitwick já mencionou esse tal fogo, no mínimo, duas vezes em aula!

– Bom, como eu ia dizendo... – Hagrid disse, depressa, tentando continuar a história antes que Ron pudesse responder, e uma discussão começasse. – Dumbledore enfeitiçou o ramo para arder para sempre... o que não é coisa que qualquer bruxo possa fazer... então eu o depositei na neve aos pés de Karkus e disse: "Um presente para o Gurgue, dos gigantes, de Albus Dumbledore, que lhe envia os mais respeitosos cumprimentos."

– E que foi que o Karkus disse? – Harry se sentou na beira da própria cadeira, ansioso.

– Nada. Não falava inglês.

– Ah, não! – Eleanor ergueu as sobrancelhas.

– Não fez diferença. – Ele prosseguiu, calmamente. – Dumbledore tinha avisado que isso podia acontecer... Karkus sabia o suficiente para dar um berro e chamar uns gigantes que sabiam a nossa língua, e eles traduziram para nós.

– E ele gostou do presente?

– Ah, sim, fizeram um alvoroço quando entenderam o que era... – Respondeu, virando o pedaço de carne para que o lado mais frio ficasse sobre os machucados. – Ficou muito satisfeito. Então eu disse: "Albus Dumbledore pede ao Gurgue para falar com o seu mensageiro quando ele voltar, amanhã, com outro presente."

– Por que você não podia falar naquele dia mesmo? – Hermione indagou.

– Dumbledore queria que a gente fosse muito devagar. Deixasse eles verem que cumprimos nossas promessas. Voltaremos amanhã com outro presente, e então voltar com outro presente, dá uma boa impressão, entende? – Contou, e Eleanor balançou a cabeça. – E dá tempo a eles para experimentarem o primeiro presente e descobrir que é bom, e fazer eles quererem mais. Em todo o caso, gigantes como Karkus... se a gente dá informações demais, nos matam só para simplificar as coisas. Então, recuamos com uma reverência e fomos embora, arranjamos uma pequena gruta para passar a noite e, na manhã seguinte, voltamos, e, desta vez, encontramos Karkus sentado esperando por nós e demonstrando ansiedade.

– E vocês falaram com ele?

– Ah, sim. Primeiro, lhe demos de presente um elmo de guerra, simplesmente lindo, indestrutível, feito por duendes, sabem, e então sentamos e conversamos.

– Que foi que ele disse?

– Não falou muito. Ouviu a maior parte do tempo... mas fez sinais positivos. Ele já ouviu falar sobre Dumbledore. – Contou, e eles pareceram curiosos. – Ouviu falar que ele foi um dos únicos que foram contra matar os últimos gigantes na Inglaterra. Karkus pareceu estar muito interessado no que Dumbledore tinha pra dizer...

Eleanor foi despertada do transe em que se encontrava, de tão imersa que estava na história, quando Canino apoiou a cabeça em sua perna. Rapidamente colocou a mão na cabeça dele, fazendo carinho, e voltou á prestar atenção na história de Hagrid. Sabia que ficaria ali por um tempo, mas sentia que era muito importante saber do que aconteceu com os gigantes.

– E alguns dos outros... principalmente os que sabiam algum inglês... se reuniram a nossa volta e também escutaram. Estávamos muito esperançosos quando nos despedimos naquele dia. Prometemos voltar no dia seguinte com outro presente. – Contou, e eles balançaram as cabeças.
–Mas naquela noite tudo desandou.

– Como assim? – Ron perguntou, frustrado.

– Bom, como eu disse, eles não nasceram para viver juntos, os gigantes... – Hagrid relembrou, melancólico. – Não em grupos grandes como aquele. Não conseguem conviver por muito tempo... quase matam uns aos outros em intervalos de semanas. Os homens lutam entre eles e as mulheres lutam entre elas... os que sobraram das antigas tribos lutam entre si, e isso sem falar nas disputas por comida e melhores fogueiras e lugares para dormir. Seria de se esperar, já que a raça toda está quase desaparecendo, que parassem com isso, mas...

Hagrid respirou fundo, e eles apenas aguardaram a continuação. Imaginavam que fosse um assunto complicado para ele, então apenas deixaram que ele levasse o tempo que precisasse.

– Naquela noite, houve uma briga... assistimos da entrada da nossa caverna, de onde se via o vale. Durou horas, vocês não acreditariam no barulho. E, quando o sol nasceu, a neve estava vermelha, e a cabeça dele, no fundo do lago.

– Dele quem?! – Eleanor ergueu a postura, arregalando os olhos.

– De Karkus... – Hagrid revelou, pesaroso. – Havia um novo Gurgue, Golgomate.

– Ah, não... – Hermione fez careta, decepcionada. – E então?

– Bom, não tínhamos contado com um novo Gurgue, só dois dias depois de fazer contato amigável com o primeiro, e tínhamos a estranha impressão de que Golgomate não estava tão interessado em nos escutar, mas precisávamos tentar.

– Vocês ainda foram falar com ele?! – Ron arregalou os olhos. – Depois de terem visto ele arrancar a cabeça de outro gigante?!

– Claro que fomos! – Hagrid exclamou. – Não tínhamos viajado de tão longe para desistirmos em dois dias! Descemos com o presente que pretendíamos dar a Karkus, oras... mas percebi que não ia adiantar antes mesmo de abrir a boca. Ele estava sentado lá, com o elmo de Karkus na cabeça, rindo da gente, quando nos aproximamos. Ele é enorme, um dos maiores do grupo. Cabelos pretos, dentes da mesma cor e um colar de ossos. Alguns dos ossos me pareceram humanos... mas, mesmo assim, resolvi tentar, entreguei a ele um enorme rolo de couro de dragão, e disse: "Um presente para o Gurgue dos gigantes", e, no instante seguinte, eu estava pendurado no ar de cabeça para baixo, agarrado por dois companheiros dele.

Hermione levou as duas mãos á boca, e Eleanor sentiu seu peito gelar, soltando um suspiro de espanto.

– E como foi que você saiu dessa? – Harry perguntou, parecendo preocupado também.

– Não teria saído se Olympia não estivesse lá. – Hagrid contou. – Ela puxou a varinha e executou feitiços com a maior velocidade que já vi alguém executar. Fantástico! Atingiu os dois que estavam me segurando bem no olho, com Feitiços Conjunctivitus, e eles me largaram na mesma hora no chão!

Eleanor fez uma nota mental sobre o Feitiço Conjunctivitus. "Parece interessante...", observou, decidindo pesquisar mais sobre depois.

– Mas aí entramos em uma roubada, porque tínhamos usado magia contra eles, e isso é o que os gigantes odeiam nos bruxos. Tivemos que dar no pé, e sabíamos que, depois disso, não poderíamos voltar ao acampamento deles.

– Caramba, Hagrid! – Ron exclamou, baixinho, admirado.

– Então, por que você levou tanto tempo para voltar pra casa se só passou três dias lá? – Hermione indagou, e Eleanor encarou Hagrid, curiosa.

– Não partimos três dias depois! – Ele respondeu, indignado. – Dumbledore estava confiando na gente!

– Mas você acabou de dizer que não poderiam voltar lá! – Eleanor apontou, confusa.

– Não de dia, não poderíamos, não. Tivemos que repensar a coisa toda. Passamos uns dois dias escondidos em uma gruta, observando. E o que vimos não foi nada bom.

– Eles arrancaram mais cabeças? – Hermione resmungou.

– Não. Gostaria que sim.

– Como assim?

– Não demoramos muito pra descobrir que ele não fazia objeções a todos os bruxos... só á nós.

– Comensais da Morte. – Eleanor afirmou, engolindo em seco e desviando o olhar.

– É. – Hagrid assentiu, sombriamente. – Uns dois apareciam para visitá-lo todos os dias, levando presentes para o Gurgue, e ele não pendurava essas visitas pelos pés.

– Como é que você sabe que eram Comensais da Morte? – Ron perguntou.

– Porque reconheci um deles – Respondeu, em voz baixa e zangada. – Macnair, se lembram? O cara que mandaram vir sacrificar o Bicuço? – Perguntou, e todos eles assentiram, menos Eleanor. Não se lembra de tê-lo visto, mas, é claro, não podia confiar muito na sua própria memória. – É perverso, aquele lá. Gosta de matar tanto quanto o Golgomate... não me admira que estejam se dando tão bem.

– Então, Macnair convenceu os gigantes a se unirem a Você-Sabe-Quem?! – Hermione perguntou, desesperada.

– Calma aí, ainda não terminei minha história! – Hagrid exclamou, indignado, e ele parecia estar gostando de contar as histórias para eles, para alguém que não queria sequer tocar no assunto antes. – Eu e Olympia discutimos o problema e concordamos que, só porque o Gurgue parecia estar favorecendo Você-Sabe-Quem, não significava que todos iriam seguí-lo. Tínhamos que tentar convencer alguns dos outros... os que não queriam Golgomate para Gurgue.

– E vocês sabiam quem eram? – Eleanor perguntou.

– Ora, eram os que estavam sendo espancados, você não acha? – Respondeu, pacientemente. – Os que tinham juízo, estavam saindo do caminho de Golgomate, se escondendo nas grutas em torno da ravina, exatamente como nós. Então, resolvemos explorar as grutas à noite, e ver se não conseguiríamos convencer alguns.

– Vocês saíram explorando as grutas à procura de gigantes?! – Ron repetiu, com assombro na voz.

– Bom, não eram os gigantes que nos preocupavam mais... estávamos mais preocupados com os Comensais da Morte. Dumbledore recomendou que não nos metêssemos com eles, se pudéssemos evitar, e o problema era que sabiam que andávamos por perto, pois imagino que Golgomate tenha contado...

Eleanor, nesse momento, quase foi amassada por Canino, que subiu em cima dela, tentando se fazer confortável em seu colo; algo que era difícil, já que apenas suas patas traseiras já tomavam conta de quase todo o espaço que ela tinha para oferecer.

– Á noite, quando os gigantes estavam dormindo e queríamos sair rondando as grutas, Macnair e o outro estavam explorando as montanhas à nossa procura... foi difícil impedir Olympia de saltar em cima deles. – Hagrid contou. – Ela estava doida para atacá-los... tem uma coisa quando se irrita, a Olympia... impetuosa, sabem, imagino que seja o sangue francês dela... – Observou, e contemplou o fogo com os olhos embaçados.

Harry e Eleanor se entreolharam, enquanto ele parecia ter se perdido nas lembranças. Depois de trinta segundos, Harry pigarreou alto, chamando a atenção dele de volta para a conversa.

– Então, o que foi que aconteceu? Você chegou a se aproximar de algum dos outros gigantes? – Indagou.

– Quê? Ah... ah, claro que sim. Na terceira noite, depois que mataram Karkus, nos esgueiramos para fora da gruta em que estávamos escondidos e voltamos para a ravina, mantendo os olhos muito abertos para os Comensais da Morte... entramos em algumas grutas, mas nada. Então, lá pela sexta gruta, encontramos três gigantes escondidos.

– A gruta devia estar apertada. – Ron observou, ironizando.

– Não tinha lugar nem para um amasso. – Hagrid afirmou, e Eleanor arqueou uma sobrancelha.

– Eles não atacaram vocês quando os viram? – Hermione perguntou, confusa.

– Provavelmente teriam, se tivessem condições, mas estavam muito feridos, os três... o bando de Golgomate desmaiou eles de tanta pancada; tinham recuperado a consciência e se arrastado até o abrigo mais próximo que encontraram. – Explicou, e ela balançou a cabeça, entendendo. – Em todo o caso, um deles sabia um pouquinho de inglês e traduziu para os outros, e o que tínhamos a dizer parece que não caiu muito mal. Então, voltamos várias vezes para visitar os feridos... calculo que em um determinado momento tínhamos convencido uns seis ou sete.

– Seis ou sete?! – Ron exclamou, parecendo ansioso, mas um tanto aliviado. – Não é nada mal, eles vêm ajudar a gente a lutar contra Você-Sabe-Quem?

– Você disse "em um determinado momento"... – Eleanor observou. – O que mudou? Os Comensais fizeram a cabeça deles também?!

Hagrid a olhou, negando com a cabeça, mas parecendo entristecido.

– O grupo de Golgomate tomou a gruta de assalto... depois disso, os poucos que sobreviveram não quiseram mais nada conosco.

– Então... não virá gigante nenhum? – Ron perguntou, não parecendo mais tão ansioso.

– Não. – Hagrid confirmou, soltando um grande suspiro e, mais uma vez, virando o pedaço de carne para aplicar o lado mais frio no rosto. – Mas cumprimos o que fomos fazer... levamos a mensagem de Dumbledore. Alguns a ouviram, e espero que um dia se lembrem. Talvez, os que não quiserem ficar perto de Golgomate se mudem das montanhas... e é até possível que se lembrem que Dumbledore é a favor deles... talvez eles venham, então.

Agora, a neve realmente cobria toda a janela; mesmo através das cortinas, era impossível ver qualquer coisa além de neve. Eleanor sentiu sua perna um pouco gelada e úmida, mas, ao lançar um olhar rápido, concluiu que era apenas Canino, babando em seu colo.

– Hagrid? – Hermione disse, baixinho, depois de alguns minutos em silêncio.

– Hm?

– Você ouviu... viu algum sinal de... descobriu alguma coisa sobre su... sua... mãe enquanto esteve lá?

Eleanor e Hagrid viraram para ela ao mesmo tempo; Hagrid, muito sério, mas inexpressivo, e Eleanor, com uma expressão raivosa, como se pedindo que ela parasse de falar imediatamente.

– Desculpe... eu... esquece... – A grifinória gaguejou, e Eleanor suspirou baixinho e massageou a ponte do nariz.

– Morta. Há anos. Eles me contaram.

"Boa, Hermione...", pensou, consigo mesma, mantendo os olhos fechados.

– Ah... eu... realmente lamento – Ela disse, com a voz fraquinha. Hagrid encolheu os seus enormes ombros, olhando para o chão.

– Não precisa. – Ele disse, brusco. – Não me lembro muito dela... não foi uma boa mãe.

Eles ficaram em silêncio. Hermione olhou nervosa para Eleanor, Harry e Ron, claramente querendo que dissessem alguma coisa, mas Eleanor apenas balançou a cabeça em negação.

– Mas... você ainda não nos explicou como foi que ficou nesse estado, Hagrid. – Ron relembrou, indicando o rosto manchado de sangue de Hagrid.

– Ou por que demorou tanto pra voltar! – Harry acrescentou. – Sirius falou que Madame Maxime voltou há séculos...

– Quem atacou você?! – Eleanor exclamou, de repente, franzindo o cenho, muito séria.

– Não fui atacado! – Ele respondeu, afobado. – Eu...

Mas as últimas palavras foram abafadas por uma série de batidas firmes na porta. Hermione prendeu a respiração, arregalando os olhos, e sua caneca escorregou por entre os dedos e se espatifou no chão; Canino saltou do colo de Eleanor e começou á latir na direção da porta, parecendo muito desconfiado e, Eleanor notou, um pouco arisco. Um comportamento nem um pouco comum para ele.

Os cinco se voltaram para a janela, ao lado da porta. A sombra de um vulto pequeno e colorido se mexeu por trás da cortina fina.

– É aquela... coisa! – Eleanor sussurrou, fazendo careta.

– Entrem aqui embaixo! – disse Harry depressa, agarrando a Capa da Invisibilidade, e a rodando no ar para cobrir Hermione, Eleanor e ele, enquanto Ron se curvava e mergulhava sob a capa também.

Encolhidos, os quatro recuaram para o canto mais isolado da cabana; Eleanor, sendo mais familiarizada, os guiou até lá. Canino latia, nervoso, para a porta, e Eleanor não podia deixar de reparar nisso; Hagrid parecia completamente confuso.

– Hagrid, esconda as outras canecas! – Hermione sussurrou, e ele, rapidamente, apanhou as canecas de Harry, Ron e Eleanor, as escondendo sob a almofada da cesta de Canino, que agora saltava contra a porta, agitado. Hagrid o empurrou para o lado, com o pé, e a abriu.

A Professora Umbridge estava parada ali, trajando o seu casaco cor-de-rosa e o gorro combinando. Os lábios contraídos e tingidos de rosa choque, ela deu dois pequenos passos para trás para olhar o rosto de Hagrid; era muito menor que Hagrid.

– Então... – Disse ela, devagar e em voz alta, como se estivesse falando com alguém surdo. – Você é o Hagrid, não é?

Sem esperar pela resposta, ela entrou na sala, os olhos saltados girando em todas as direções, e os quatro garotos, sob a capa, prenderam as respirações.

– Sai para lá! – Ela sussurrou, com rispidez, sacudindo a bolsa contra Canino, que mostrava os dentes para ela, parecendo feroz; Eleanor não gostou nem um pouco daquilo, contorcendo o rosto, irritada.

– Hã... não quero ser mal-educado... – Hagrid disse, piscando rapidamente, tentando entender o que estava acontecendo. – ...mas, quem é a senhora?

– Meu nome é Dolores Umbridge. – Ela respondeu, enquanto seus olhos analisavam a cabana de cima á baixo. Duas vezes, olhou diretamente para o canto em que eles estavam espremidos, e Eleanor engoliu em seco.

– Dolores Umbridge?! – Hagrid fez careta, parecendo ainda mais confuso. – Pensei que a senhora fosse do Ministério... a senhora não trabalha com Fudge?

– Eu era subsecretária sênior do ministro... – Ela confirmou, agora andando pela cabana, e observando cada mínimo detalhe, desde a mochila de viagem encostada à parede até a capa de viagem largada sobre a cadeira. – ...agora, sou professora de Defesa Contra as Artes das Trevas...

– Tem muita coragem – Hagrid comentou. – Não tem muita gente que aceitaria esse cargo.

– ... e Alta Inquisidora de Hogwarts – Prosseguiu, parecendo fingir que não escutou o que ele disse.

– E o que é isso? – Hagrid indagou, franzindo a testa.

– É exatamente o que eu ia perguntar – Umbridge riu, cínica, apontando para os cacos no chão que vieram da caneca de Hermione.

– Ah! – Hagrid exclamou, lançando um olhar contrariado para o canto em que os quatro estavam escondidos. – Ah, isso foi... foi o Canino. Ele quebrou a caneca, quando a senhora bateu na porta... aí eu coloquei o restante do chá nessa aqui... – Apontou para a caneca da qual estava bebendo, uma das mãos ainda prensando a carne de dragão sobre o olho. Umbridge estava de frente para ele agora, examinando cada detalhe de sua aparência, como havia feito antes, com a cabana.

– Ouvi vozes... – Ela confessou em voz baixa.

– Eu... estava conversando com o Canino – Hagrid respondeu, confiante.

– E ele estava conversando com você?

– Bom... de certa maneira, sim! – Assentiu, um pouco menos confiante. – Às vezes, digo que Canino é quase humano, sabe...

– Hum. – Sorriu, forçada. – E o... Canino, por acaso, é uma mulher? Pois eu pude jurar que ouvi uma voz feminina...

Eleanor arregalou os olhos; tinha quase certeza de que havia sido a última á falar antes das batidas.

– Eu... – Hagrid gaguejou. – ...gosto de criar vozes para ele, de vez em quando. Estava experimentando uma voz feminina antes de você chegar, na verdade... – Soltou uma risadinha nervosa. – "Hagrid, você não vai acreditar no dia que eu tive..." – Ele afinou a voz e fez uma imitação do sotaque de Eleanor; ela apenas fez careta e ficou boquiaberta, observando a cena.

Enquanto isso, Umbridge não parecia nem um pouco entretida com a imitação. Muito menos convencida.

– Há quatro pares de pegadas na neve que vêm do castelo até sua cabana. – Umbridge disse, com astúcia.

– Bom, eu acabei de voltar... – Hagrid deu de ombros, apontando para a mochila. – Talvez alguém tenha vindo me visitar mais cedo e não tenha me encontrado.

– Não há pegadas saindo de sua cabana.

– Bom, eu... eu não sei por que seria... – Gaguejou, puxando, ansioso, alguns fios da barba e olhando, novamente, para o canto em que estavam, como se pedisse ajuda. – Hã...

Eleanor olhou em volta, pensando se havia algo pela cabana que pudesse usar para distrair a professora, mas era arriscado...

Umbridge se virou e andou pela cabana, estudando tudo atentamente. Ela abaixou para espiar embaixo da cama, e Eleanor precisou resistir bravamente á vontade de a chutar ali mesmo. Depois disso, abriu os armários de Hagrid, olhando o que havia dentro deles como se fosse sua própria casa, e então, analisou as pequenas criaturas que Hagrid tinha, espalhadas em pequenas caixas e jaulinhas, com um olhar enojado. Aquilo deixou Eleanor mais irritada ainda.

– Você disse que acabou de voltar? – Ela indagou, observando o balcão de madeira.

– Isso mesmo. – Ele assentiu. – Não fazem três horas, desde que cheguei...

– E imagino que já tenha tido tempo de limpar a sua... casa? – Ironizou, dando ênfase na última palavra. – Quer dizer... parece bem limpo para um lugar que esteve abandonado por, no mínimo, dois meses...

Eleanor sentiu os outros três olharem para ela, com os olhos arregalados.

– Bem, hã... – Hagrid olhou em volta, parecendo perceber a limpeza da cabana pela primeira vez. – O Canino ficou aqui, então, presumo que o diretor tenha cuidado dele... grande homem, o Dumbledore...

Umbridge não respondeu; passou a menos de cinco centímetros de onde os quatro garotos estavam colados contra a parede; Harry chegou a encolher a barriga quando ela passou, lançando um olhar aterrorizado para Eleanor. Depois de espiar dentro do enorme caldeirão que Hagrid usava para cozinhar, ela se virou de volta para ele.

– O que aconteceu com você? Como foi que se feriu dessa maneira?

Hagrid retirou depressa a carne de dragão do rosto, o que foi um erro, porque o hematoma em volta do seu olho agora estava extremamente escuro, além do sangue verde que havia secado no seu rosto.

– Ah... tive um... pequeno acidente. – Deu de ombros, desviando o olhar.

– Que tipo de acidente?

– Aaah... tropecei.

– Tropeçou! – Ela repetiu, calmamente, sorrindo.

– É, foi. Na... na vassoura de um amigo. Eu não voo. Bom, olhe bem o meu tamanho, acho que não haveria vassoura que aguentasse comigo. – Deu uma risada constrangida, apontando para o próprio corpo. – Um amigo meu cria cavalos abraxanos. Não sei se a senhora já viu algum, bichos enormes, alados, sabe... eu tinha dado uma volta em um deles e estava...

– Onde é que você esteve? – Umbridge perguntou, calmamente, interrompendo Hagrid. Mais uma vez, deixando Eleanor extremamente enraivecida.

– Onde é que eu...?

– Esteve, isso mesmo. O trimestre começou há dois meses. Outra professora precisou cobrir suas aulas. Nenhum dos seus colegas soube me dar informação alguma sobre o seu paradeiro, você não deixou endereço... onde esteve?

Houve uma longa, longa, longa pausa em que Hagrid encarou Umbridge com o olho que, até pouco tempo, estava coberto. Se ficassem em silêncio o suficiente, provavelmente conseguiriam ouvir o som das engrenagens em sua cabeça tentando encontrar uma desculpa convincente.

– Estive... estive fora tratando da saúde.

– Tratando da saúde – Ela repetiu, e seus olhos percorreram o rosto inchado e machuxado de Hagrid; o sangue de dragão escorria, lentamente, pela sua barba. – Entendo. Vejo que funcionou bastante.

– É. – Prosseguiu. – Um pouco de ar fresco, a senhora entende...

– Entendo, como guarda-caça, deve ser difícil encontrar ar fresco... – Umbridge disse, meiga. As bochechas de Hagrid, ou, melhor, a parte que não estava coberta por hematomas ou sangue verde, ficou corada rapidamente.

– Bom... mudança de cenário, a senhora sabe...

– Cenário de montanhas? – Retrucou, rapidamente.

"Como ela..." Eleanor arregalou os olhos, assustada, mas preferiu, para o bem da sua saúde mental, acreditar que tinha á ver com o casaco de pele que ele havia deixado á mostra.

– Montanhas? – Hagrid gaguejou, e seu olhar alternava de um lado para o outro como se acompanhasse uma bolinha de pingue pongue. – Não, preferi o sul da França... um pouco de sol e... e mar.

– Verdade? Você não parece ter se bronzeado muito...

– Não... bom... pele resistente. – Hagrid disse, tentando sorrir, sem parecer suspeito. Eleanor, apenas naquele momento, reparou que ele havia voltado com dois dentes faltando. Umbridge o encarou, séria, e o sorriso dele sumiu, aos poucos. Ela, então, ergueu a bolsa para abraçá-la contra o corpo, dando uma última olhada pela cabana.

– Naturalmente, vou informar ao ministro o seu atraso em voltar.

– Certo. – Hagrid confirmou com um aceno de cabeça.

– Você precisa saber também que, como Alta Inquisidora, tenho o dever difícil, mas necessário, de inspecionar os meus colegas. Portanto, é provável que nos vejamos de novo, muito em breve. – Avisou, e se virou, bruscamente, se dirigindo até a porta.

– A senhora está nos... inspecionando? – Hagrid repetiu, sem entender.

– Ah, sim. – Ela respondeu, mansamente, o olhando novamente, com a mão na maçaneta. – O Ministério está decidido a se livrar dos professores incompetentes, Hagrid. Boa noite. – E saiu, fechando a porta com um estalo.

Eleanor encarava a porta, boquiaberta, com o rosto contorcido, sentindo o rosto ficar vermelho de raiva; Harry fez um movimento para tirar a Capa da Invisibilidade, mas Hermione agarrou seu pulso.

Ainda não! – Sussurrou. – Talvez, ela ainda não tenha ido embora...

Hagrid parecia estar pensando a mesma coisa, pois atravessou a sala mancando e olhou para o lado de fora, através de uma fresta na cortina.

– Está voltando para o castelo... – Observou, em voz baixa. – Caramba... inspecionando as pessoas, é?

– É. – Harry afirmou, retirando a capa. – Trelawney já está em observação...

– Aquela...! – Eleanor exclamou, irritada. – Argh! Quando eu penso que aquela mulher não pode ficar mais desprezível!

– Hum... que tipo de coisa você está planejando fazer com a gente em aula, Hagrid? – Hermione perguntou, olhando rapidamente para Eleanor, tensa.

– Ah, não se preocupe, tenho um monte de aulas preparadas... – Hagrid respondeu, entusiasmado, recolhendo a carne de dragão e a prensando, novamente, em cima do olho. – Tenho uns dois bichos que andei criando para o ano das N.O.Ms... esperem para ver, são realmente especiais! – Confessou, olhando na direção de Eleanor, animado.

Eleanor se virou para ele, atenta, deixando sua raiva de lado, por alguns momentos. Se encontrava em conflito; queria saber quais eram as criaturas, mas, ao mesmo tempo, sabia que Umbridge estaria respirando diretamente na nuca de Hagrid... não poderiam se dar ao luxo de terem animais radicais nas aulas. Por mais que ela queira.

– Especiais como? – Ela perguntou, colocando um sorriso inabalável no rosto.

– Não vou dizer! – Ele respondeu, feliz. – Não quero estragar a surpresa! Ah, você vai adorar... tenho certeza!

– Escute, Hagrid... – Hermione disse, com urgência, parecendo impaciente. – A Umbridge não vai ficar nada satisfeita se você trouxer para a aula alguma coisa que seja perigosa demais!

– Perigosa? – Hagrid riu, jovialmente. – Não seja boba, eu não traria para vocês nada que fosse perigoso! Quero dizer, tudo bem, eles sabem se defender...

"Ai, céus...", Eleanor pensou, mas manteve o sorriso no rosto. Havia passado tempo demais com Hagrid para achar que falar com ele, naquele momento, adiantaria de alguma coisa.

– Hagrid, você realmente precisa passar na inspeção da Umbridge... – Ela decidiu dizer, para que, talvez, ele entendesse a gravidade da situação.

– E, pra isso, seria melhor que ela o visse nos ensinando a cuidar de pocotós, como diferenciar ouriços de porcos-espinhos, coisas assim! – Hermione acrescentou, séria.

– Mas isso não é muito interessante, é? – Hagrid retrucou. – O que eu tenho é muito mais impressionante... venho criando eles há anos. Calculo que eu tenha o único rebanho domesticado da Grã-Bretanha.

Eleanor sentiu sua responsabilidade fraquejar, e sua curiosidade ficar aguçada. Único rebanho domesticado... por alguns segundos, se calou, pensando no que poderiam ser, enquanto Hermione, vendo o olhar no rosto da amiga, sabia que era uma batalha perdida.

– Hagrid... por favor... – Ela pediu, com um certo desespero na voz, e, com isso, Eleanor sacudiu a cabeça e assentiu, concordando.

– Umbridge está procurando qualquer desculpa para ir atrás de professores que ela acha que são muito próximos de Dumbledore... – A lufana acrescentou. – Estava igual um abutre, na aula da McGonagall, e aposto que vai fazer igual com você!

– Escute a gente! – Hermione suapirou. – Por favor, Hagrid, ensine a gente alguma coisa sem graça que vai ser pedida no nosso exame.

Mas Hagrid apenas deu um enorme bocejo e lançou um olhar para a sua enorme cama, do outro lado da cabana.

– Escute, foi um longo dia, e está tarde... – Ele disse. – Olhem, não precisam se preocupar comigo! Eu juro que tenho material realmente bom programado para as aulas, agora que voltei... é melhor vocês voltarem para o castelo...

Os quatro garotos se entreolharam; Harry, Ron e Hermione pareciam derrotados, mas Eleanor não esperava muita coisa de diferente. No entanto, não havia desistido.

– Não se esqueçam de apagar as pegadas por onde vão passar, eh? – Ele disse, alguns minutos mais tarde, quando tiveram certeza de que poderiam voltar para o castelo, sem riscos.

– Não sei se Hagrid conseguiu entender o recado... – Ron sussurrou, enquanto se locomoviam pela neve, sem deixar vestígios, graças ao Feitiço que Hermione lançava ao passarem. – Estava quase explodindo de ansiedade, olhando pra Eleanor!

– Eu?! – Ela fez careta, o olhando.

– Você é a que tem mais chances de fazer ele te escutar! – Harry comentou. – Se você, que realmente gosta da matéria dele, disser que ele não pode exagerar, ele não vai ter como negar...

– A Trelawney já está no olho da rua... – Ron lamentou, balançando a cabeça.

– Você acha que eu vou deixar o Hagrid chegar no ponto da Trelawney? – Eleanor o olhou, séria, e quase tropeçou na neve por isso. – Eu vou voltar depois, pra falar com ele, tá bem? Vou fazer de tudo pra Umbridge não conseguir tocar em um fio da barba dele!

– Eu realmente espero que você consiga fazer ele ouvir a voz da razão... – Hermione disse. – ...porque eu não sei se ele vai ter muitas chances, sem nossa ajuda.

– Vocês já repararam que, ultimamente, ela têm sido a fonte de quase todos os nossos problemas? – Ron observou, e Eleanor murmurou, concordando.

– Ah, confie em mim. – Ela assentiu. – Eu reparei.


Notas Finais


voltei, novamente!
mais uma vez, me desculpem pela demora desse capítulo, mas vocês já devem imaginar o motivo...
também vim avisar que, agora, os capítulos serão postados durante os finais de semana (principalmente aos sábados, mas, talvez, como hoje, saiam aos domingos), pois notei que muitos leitores estão ocupados durante a semana!

espero que tenham gostado do capítulo xx


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