Tão bonitinho, o jeito que você desgraça minha vida
Capítulo onze- Veneno
- Você está fedendo a sexo. - informou Cassian com as sobrancelhas franzidas e nariz enrugado. - E muito. - enfatizou.
Estava na sala principal da casa de Rhysand, todos estavam presentes com bebidas nas mãos e conversando, a noite estava agradável, mas o Cassian tinha um talento nato para irritar alguém que estava quieto.
- Tem coisas que não precisam ser ditas. - repliquei ao desviar minha atenção dele.
Parecia que todos haviam parado de falar para prestar atenção na minha conversa com o macho, sinceramente, eu não precisava ser alvo de atenção deles!
- Que cara é essa? Não foi bom? - indagou.
Pelo contrário, foi ótimo e esse era o problema! Herpia fazia eu ser inconsequente quando abria um sorriso e implicava comigo, a atração que eu sentia por ela era tão intensa que eu precisava me controlar, mas ao mesmo tempo não queria! Falei ontem para ela que eu devia ir embora, pois não iria conseguir me conter caso continuássemos, contudo no meu interior eu torcia para que ela suplica-se para eu ficar. E a fêmea pediu para que eu não fosse e permanecesse.
Eu fiquei.
Pelo caldeirão, seu corpo era como fogo e eu era a faísca que a incendiava, fazendo labaredas intensas se prolongarem pela madrugada toda. Adorei sua voz melodiosa gemer meu nome ou a sensação de suas unhas em minhas costas, a forma que se contorceu nos meus braços quando gozou... Mas meu infortúnio não era só atração! Era eu ser influenciado por suas ações e acompanhava ela em situações que acreditei que nunca iria me permitir fazer junto de alguém que não era tão íntimo, ou perceber que novas coisas que se manifestavam dentro de mim, como aceitar beber com ela em bares ou envolver minha mão em sua cintura para lhe guiar em uma dança na rua. Ficar distraído ou pensativo quando a admirava, ela era destemida e não aceitava perder, corajosa, inteligente, debochada, linda e mantinha um arsenal de sorrisos escondidos para usar nas horas certas, apesar de que, quando ela sorriu para mim durante nossa dança... Aquele havia feito estragos dentro de mim, foi impossível não retribuir o gesto e desejar que a música não para-se, que Herpia continuasse a brilhar tão intensamente como um ser de luz, que caso eu não a segura-se, partiria para os céus para se transformar em uma constelação.
Seus olhos carmins e sorrisos ficaram marcados na minha cabeça, como quando alguém que entalha algo na madeira para que fique gravado por toda eternidade, até que a queimassem. Ela despertava em mim uma vontade de beijar cada ferida que estava no seu corpo, abraçar todas as tormentas que haviam em seu ser e descobrir o que estava escondido em seu coração.
Ela era um veneno e eu estava me envenenando com uma gota a cada dia.
Mas seja lá o que for o que esteja brotando em mim, eu vou negar. Passei anos de minha vida apaixonado pela Mor e infelizmente nada veio há acontecer entre nós, quando me atraí pela Elain ela se tornou parceira de Lucien e o Rhsy me impediu de lhe reivindicar caso duela-se contra o macho. Não queria passar por aquele maldito sentimento de novo, de ver minhas esperanças serem destroçadas na minha frente, como se o caldeirão me negasse o direito de ter uma parceira ou alguém que me amasse também e a Herpia... Ela... Eu não sei.
No final, sempre parecia que minha felicidade escapava de minhas mãos e isso estava fazendo eu me reprimir.
- Apenas cala a boca Cassian. - respondi com mal humor.
O férico entortou a cara, os outros voltaram a se divertir e eu fiquei observando eles. Mor estava sentada perto da lareira com Feyre e pareciam estar bem animadas, a Grã senhora detalhava suas ideias sobre o quadro que queria pintar e pelo que percebi, sua amiga era a modelo. Amren tomava seu vinho e assistia o Rhysand segurar o filho e ficar levantando ele no ar, a risada gostosa da criança preenchia todo recinto, Cassian havia voltado para o lado de sua parceira no sofá e a Elain... Estava ainda na cozinha.
Bebi mais um gole do vinho e tentei afastar qualquer pensamento sobre a fêmea de minha mente e até mesmo sobre aquele pequeno desejo egoísta de ter uma parceira. Mor nunca foi, Elain também não, Herpia poderia ser apenas mais uma maldita decepção que eu não estaria pronto para confrontar. Continuaria a agir da mesma forma com ela, mas não colocaria mais expectativas e bloquearia qualquer sentimento que pudesse desenvolver por ela.
Uma barreira para meu coração que estava sem saber se devia continuar a sonhar ou desistir de tudo.
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No dia seguinte eu me encontrei com a Herpia no ringue, apesar de parecer melhor do que ontem, desconfiava que alguns lugares ainda formigassem um pouco. Hoje eu não pretendia fazer como sempre, sem movimentos repetidos e nada de ficar calado observando ela, não, hoje iriamos nos enfrentar! Pedi para que fizesse o aquecimento de sempre, mas dessa vez eu me juntei a fêmea. Alongamos, praticamos algumas flexões, abdominais e entre outros exercícios até que o suor começasse a deslizar pela pele.
- Pegue sua espada, vamos lutar.
Eu sabia o que aquele olhar queria dizer, ela estava ansiando por esse momento há muito tempo, um verdadeiro combate para se vingar. A férica estava animada e por mais que tenta-se disfarçar, não conseguia ocultar seu entusiasmo ou a ânsia de encostar sua lâmina no meu preciso pescoço. Deixei que ela se posicionar-se na minha frente e após ambos erguerem suas armas, começamos nossa luta.
Herpia estava mais ágil, sorrateira e astuta, não desperdiçava nenhum movimento, era graciosa e violenta com suas estocadas. Eu tentava fazer ela se cansar ao distribuir golpes pesados contra sua espada, mas ela esquivava e contra-atacava! Não podia perder o foco se não ela se aproveitava e atingia um braço com a sua lâmina afiada. A luta estava sendo divertida, ambos estavam usando a inteligência para fazer seu oponente abrir uma brecha para atacar e se não conseguíssemos, partíamos para uma investida mais potente. Claro que se estivéssemos em um combate entre a vida e a morte, não iríamos continuar com essa dança, mas partir para movimentos mais letais para acabar logo com o sangue na espada e o inimigo morto no chão, mas aqui era só um combate para avaliarmos nossas habilidades, então nós segurávamos um pouco. Apesar que isso não impedia da fêmea girar seu corpo e investir um chute visando meu pescoço com uma rapidez tão alarmante que por pouco não conseguia erguer meu braço para defender! O golpe havia sido pesado e no mísero segundo que tinha desviado minha atenção para mim defender, Herpia usou isso de vantagem e encostou sua espada bem perto de minha garganta.
- Parabéns pirralha, mas esse é só o começo. - falei com certo deboche na fala, mas estava muito orgulhoso de ver o quanto ela havia melhorado em pouco tempo.
Herpia parecia que estava em um transe olhando para sua lâmina contra minha garganta, preferia que ela tirasse logo aquele objeto frio de perto da minha jugular! Mas antes que eu fizesse algum comentário, a fêmea recolheu sua arma e avançou para cobrir sua boca contra a minha. Fiquei surpreso, mas não consegui não impedir seu fogo selvagem, sua ânsia de me beijar após um combate tão intenso, então a puxei para mais perto e a acompanhei em seu ato impulsivo.
Aqui estávamos nós, ao em vez de continuarmos outro round, vivenciávamos um ato de beijo tão vicioso que fazia eu esquecer de qualquer cronograma que devíamos seguir. Sua boca era deliciosa e causava sensações entorpecentes por todo meu corpo, como se na sua língua residisse alguma droga que fazia eu ficar viciado por ela, causava tantos fenômenos pela minha extensão que me perguntava se já não havia me tornado um viciado.
Pelo caldeirão, ela fazia eu querer mais, muito mais.
Quase gemi de frustração quando nos separamos, eu tremia de desejo por ela e sentia o incômodo no meio das pernas latejar. Entretanto devia me controlar, não podia continuar com isso aqui, se não iríamos parar no chão ou na parede, com meu membro dentro dela e com seus gemidos no meu ouvido.
- Você... Acha que isso vai me distrair para a próxima luta? - indaguei com uma pitada de blefe, aquele beijo havia de fato me desconcertado.
- Sei que não. - respondeu com ironia.
Mais uma vez voltamos para nossas posições e retomamos a lutar, dessa vez eu estava obstinado a não vacilar e entregar o gostinho da vitória para ela! Mesmo que o desejo de sua boca estivesse boiando em minha mente, mantive meu jogo de pés e inclinação da lâmina afiada e sem erros, ela era um furacão de determinação e precisão, não queria me deixar confortável, mas tudo bem, dessa vez não iria passar. Com a força certa fiz suas pernas estremecerem quando nossas espadas chocaram, aproveitei a proximidade e a puxei pelo ombro para mais perto, visando atingir seu abdômen com uma joelhada bem certeira. A fêmea cambaleou para trás e tossia, buscava desesperadamente pelo ar que havia escapado dos pulmões e antes que ela pudesse voltar a agir, eu a derrubei no chão.
Ganhei.
A manhã se desdobrou com uma rapidez surpreendente, ficamos tão focados em nossas lutas que mal havíamos cumprimentamos as sacerdotisas que tinham vindo treinar ou até mesmo notado o sol subir aos poucos para o céu. Era de minha natureza ser quieto e observador, mas Herpia tinha o dom de prender toda minha atenção para ela, ainda estava alheio ao que acontecia ao meu redor, claro, contudo quando a férica estava perto eu acabava inconscientemente desviando meu foco para ela. A luta não era a única desculpa para meu descuido de não saber o que acontecia ao meu redor.
Talvez minha curiosidade em relação a ela fosse um dos motivos que fizesse eu agir assim, tão absorto. Ela guardava tantos segredos que eu queria desvendar, além disso, Herpia parecia não perceber que no meio da infinidade de escuridão que eu estava familiarizado, ela brilhava como um farol, abrindo um caminho para mim, com seus malditos sorrisos ou olhos cativantes.
- Azriel, você irá vim hoje também? - perguntou.
A fêmea estava perto e se contentava a não demonstrar qualquer fisionomia que entrega-se o que acontecia entre nós dois para o resto dos féricos que estavam no ambiente. Seu convite era tentador e por mais que eu tenta-se procurar desculpas para evitar, eu não conseguia impedir o impulso de querer novamente lhe ver pressionada contra o meu corpo. No final, iria aceitar tomar minha dose de veneno nesta noite! Iria me embebedar até que escorresse pelos meus lábios e deixa-se o cálice vazio.
Não conseguia inibir a atração magnética que fazia eu ir até ela.
- Vou me atrasar, mas irei.
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Meu atraso não tinha sido uma desculpa, mas acreditei que iria demorar um pouco mais no meu trabalho. Os segundos se transformaram em horas e eu me mantive atento às informações que meus espiões conseguiam trazer para mim, já havíamos vasculhado várias regiões que podiam ser um provável esconderijo, tinham revirado até a última gruta que podiam ver. A notícia ruim era que não acharam o bruxo, entretanto a boa era que as opções da toca diminuíam, então haveria um momento que iríamos encontra-lo. Talvez eu devesse sair em missão também para procurar ao em vez de deixar com meus agentes.
A luz brilhava no céu, eram nove horas quando pousei no acampamento da férica e encontrei ela e o lobo se banqueteando com um Hart bem gordo. Herpia deu tapinhas na madeira, um pedido silencioso para que eu sentasse perto dela, então caminhei até ela com meus olhos totalmente vidrados nos seus.
Avelã no vermelho, vermelho no avelã.
- Deixei uma parte para você. - explicou enquanto apontava para o espeto de carne que jazia encostado a fogueira, estava quase todo assado e exalava uma cheiro agradável ao meu paladar.
Peguei meu jantar e me sentei ao seu lado, um pouco mais à esquerda, Agnar melava seu rosto com sangue enquanto enfiava a cabeça toda dentro da barriga do herbívoro.
- Eu sei, uma criança não é mesmo? Depois que termina de comer, vai ter que ser EU que vai lavar toda aquela cabeça fedorenta a sangue dele até que o branco volte e fique cheirando a flores de jasmim. - falou a fêmea apontando com o osso todo roído para o animal.
Agnar retirou a cabeça de dentro do hart e uivou, sem falar do olhar de desaprovação que jogou para sua companheira de "matilha". A férica riu e voltou a provocar o lobo de pelagem neve, mas que agora parte estava avermelhada, eu me mantive quieto enquanto comia e assistia a troca de farpas dos dois, deixei que aquele ambiente acolhedor me envolvesse e lentamente eu relaxei.
Quando a comida acabou, entramos em uma conversa sobre nosso treino de mais cedo, pontuamos as falhas e os pontos positivos, mas vagarosamente o assunto mudou para coisas do cotidiano, como a caça dela e a venda de peles. Não contei muito sobre o meu, afinal tudo que eu fazia era espionar e estudar os próximos movimentos dos meus inimigos, não tinha muito espaço para conversa. Com um suspiro profundo, levantei e olhei para o céu. Antes de entrar na barraca e lhe encher de carícias, queria experimentar aquela sensação novamente... Aquela que fez eu sentir que Herpia era o centro do mundo, que seu sorriso era o mais lindo que eu havia visto, quando me confundiu em se parecer com um ser de luz ou quando fez meu coração bater como um louco e criou o desejo de beijar as estrelas, pois ela tinha se tornado uma.
Retirei do meu bolso uma caixinha de música dourada com detalhes rústicos e delicados, girei a manivela que estava na sua lateral e a coloquei onde estava sentado, após isso levantei minha mão em direção da Herpia.
️ Lost my mind (Música)
- Dança comigo. - falei baixinho, mas ela havia escutado.
Dessa vez ela havia ficado chocada com meu pedido, eu acabei dando uma risada anasalada e segurei sua mão. A fêmea se levantou e caminhou comigo até um espaço mais aberto, então escutando a melodia da música chegar até meus ouvidos, eu segurei sua cintura e comecei a guiar ela em uma dança lenta.
Herpia parecia que estava assimilando aos poucos o que estávamos fazendo, mas gradualmente eu percebia que ela estava se soltando e deixando o quer que estivesse dentro dela, subir até a superfície. Então a girei, fazendo que seus pés seguissem os meus em movimentos leves e harmônicos, lentamente eu vi seu sorriso desenhar em seus lábios macios, era tão bonito que fazia meu coração pulsar.
Herpia estava começando a brilhar de novo, os olhos cintilavam, o corpo se movia como a brisa da primavera e seu sorriso era as constelações. Me sentia embriagado, ela me embebedava com seu veneno e eu não conseguia me arrepender de tomar! Segurar em meus braços tamanha criatura tão luminosa fazia parecer que eu estava pecando, maculando com minhas feridas e escuridão, contudo eu não conseguia larga-la!
Inferno, eu não queria soltar ela! Queria ser um pouco mais egoísta e toma-la só para mim. Estava sendo hipócrita quando falava que iria sufocar o que sentia por ela e depois afirmava que a queria só para mim.
Não, não iria pensar nisso agora!
- Será que eu estou na sua mente, com a metade da frequência com que você está na minha? - perguntei enquanto mergulhava na vastidão dos seus olhos carmins.
Devia ter perdido minha cabeça para lhe indagar tal sentença que pairava dentro do meu ser.
Ela prendeu a respiração, sua mão apertou a minha e seus lábios tremeram.
- Terá que descobrir a resposta Azriel. - respondeu.
Sim, eu iria e caso descobrisse que não era na mesma regularidade que eu pensava nela, eu faria ela pensar! Beijei ela como se fosse minha resposta, uma promessa emudecida. Herpia retribuiu o ato e paramos nossa dança para que pudéssemos saborear melhor a boca um do outro.
- Venha, vamos entrar. - sussurrou a fêmea após distanciar seus lábios dos meus.
Concordei com a cabeça e a segui, mas antes de entrarmos na barraca eu olhei para o lobo que estava agora de barriga cheia.
- Agnar, aconselho a você ir dormir um pouco mais longe da barraca.
O animal parecia que estava resmungando e se soubesse falar, apostaria que iria acrescentar xingamentos! Mas ao ouvir meu aviso, se levantou e foi para mais longe.
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