Elijah
O mundo pareceu girar mais rápido quando Winn caiu nos braços de Elijah, tudo em seguida veio em um turbilhão.
Em um segundo, Irynna estava sacudindo o irmãozinho e gritando para que ele abrisse os olhos e no outro, uma grande explosão jogou vidro para todos os lados, causando histeria geral. Os convidados mais próximos da porta foram puxados para fora por uma espécie de vento enfeitiçado e explodiram no ar como nuvens de sangue.
Em meio a confusão de feéricos desesperados para desviar dos estilhaços e crianças que agora corriam por suas vidas, Elijah identificou as três figuras de vestes cinza que provocavam a agressão. Eles pareciam muito com os sacerdotes que um dia habitaram Sob a Montanha; quando aquele ainda era um lugar sagrado; mas os colares de gemas vermelhas e pulsantes eram únicos. O que quer que fossem, não eram nada que Elijah tivesse visto ou estudado antes.
Ele não podia ver seus rostos através do capuz, mas sabia que não eram da Corte Noturna. Talvez nem de Prynthian.
Antes que mais velarianos fossem arrastados para a rua, a Grã-Senhora deixou o lado do filho; ainda desacordado; para criar uma barreira de ar sólida de um lado ao outro da galeria, bloqueando o acesso das criaturas aos moradores e aos filhos. O esforço de sua mãe para mantê-la de pé era nítido.
Elijah já havia visto ela usar seu poder antes, mas em geral, somente para criar animais de água quando contava histórias de ninar. Aquela era a primeira vez em que a via usar para defesa, ele achava um pouco assustador o tamanho do poder dela, mesmo que não estivesse em seu máximo por conta da gravidez .
- Elijah! Irynna! Tirem todos daqui pela porta dos fundos e levem seu irmão para casa.
Ele e Irynna congelaram. Não eram instruções difíceis, na verdade, eram bem razoáveis, mas suas pernas não se moviam. Elijah podia ver as criaturas avançando lenta e dolorosamente contra as várias camadas do escudo de sua mãe. Ele também achava ser impossível alguém resistir ao poder dela daquela forma.
- Agora! - Dessa vez, o comando de Feyre surgiu efeito e Elijah se levantou-se imediatamente.
- Tudo bem, escutem. - Era difícil sem ouvido por cima dos gritos, todos estavam apavorados e toda vez que os sacerdotes jogavam algo no escudo de Feyre; uma lata de lixo ou uma escrivaninha ou o que encontrassem no caminho; o espaço ecoava com mais gritos de pavor.
Elijah se posicionou atrás da mãe e abriu as asas para bloquear a visão dos agressores. Com isso, teve a atenção instantânea de todos.
- Eu quero que saiam por aquela porta e que sigam até o final da rua o máximo que conseguirem. Não voltem para a rua principal e se encontrarem alguém, digam para que volte para casa. - Elijah entendeu que eles também precisavam de um incentivo para se mover. - Vamos, andando!
Graças a Mãe, em um minuto Elijah e Irynna acompanhavam os últimos moradores para a rua dos fundos, deixando sua mãe e os sacerdotes para trás. Irynna carregava um Winn que só agora recobrava a consciência em seus braços.
- Elijah não podemos deixar-la lá dentro, precisamos fazer alguma coisa! - Irynna ainda estava com o mesmo olhar assustado de antes e sua voz soava trêmula.
- Ela disse para voltarmos para casa e deixar Winn seguro. Então é isso que faremos - Ele estava se preparando para voar quando sentiu a irmã puxá-lo.
- Me escute - Irynna agarrou o braço do irmão para que ele fosse obrigado a encará-la. - Ela está grávida, não vai aguentar o escudo por muito tempo e eles virão para cima.
- Nós não podemos fazer nada Irynna, seja lá quem são essas pessoas, estão usando magia. O que quer fazer? Ir para cima deles com uma faca? - Ele odiava estar gritando com ela, mas também estava assustado e aquela não era hora para discussões.
- Nós podemos distraí-los - A voz de Winn saiu rouca mas firme. Ele estava bem.
Elijah podia ver que a irmã ficou tão aliviada quanto ele quando segurou a cabeça do menino e o abraçou. Irynna o pôs no chão e com uma rápida olhada, conferiu se tudo estava de fato bem. Quando terminou, voltou sua atenção para o outro irmão novamente, bem menos abalada e com fogo voltando aos olhos.
- Elijah, papai não está aqui, nem Amren. Quando Cass e Azriel chegarem pode ser tarde demais. Nós não podemos atacá-los mas podemos distraí-los. Assim, mamãe pode sair da galeria e contra-atacar e nós vamos embora.
O príncipe não deveria parar para pensar, deveria simplesmente seguir o comando. Todos seus instintos lhe diziam para fazer o que a mãe tinha falado e ir embora. Eles tinham treinamento, mas se nem a mãe deles não podia lidar com aquilo, não tinha nenhuma forma de eles conseguirem.
No entanto, por pior que aquilo fosse, Irynna estava certa. Sua mãe não aguentaria muito tempo e ele não podia ouvir sequer um par de asas vindo para o resgate. Depois de destruírem a galeria poderiam muito bem se voltar contra as casas, e atacar mais moradores. Se é que já não tinham feito isso.
Ele fechou os olhos e fez uma oração rápida ao Caldeirão, torcendo para que o escutasse pela primeira vez.
- Tudo bem - Aquilo era uma péssima ideia, Elijah podia sentir - Mas nós vamos manter distância, vamos atraí-los para longe das casas e criar espaço para mamãe avançar.
Irynna e Winn apenas confirmaram com a cabeça. Sem vacilar, os três avançaram abaixados pela lateral do prédio, para observarem as criaturas sem serem notados. Eles estavam mais próximos da galeria dessa vez, a um passo de entrar pelas vitrines destruídas. Isso significava que sua mãe estava perdendo a força muito rápido.
- Eu ouvi eles recitando um encantamento, acho que é assim que ativam o poder. - Winn estava de joelhos, com os irmãos logo atrás. Agora, de dentro da galeria labaredas de fogo surgiam aqui e ali, como uma última tentativa de afastá-los.
- Eu não ouvi nada - Irynna olhou desconfiada para o irmão mais novo.
- É uma longa história - Winn como sempre apenas deu de ombros. - O que vamos fazer?
- Eu e Irynna vamos sobrevoa-los para chamar atenção, você fica aqui. Quando Cass ou Az chegarem, nós voltamos para buscá-lo.
- Eu não quero ficar aqui! Eu posso ajudar. - Winn podia muito parecer uma criança na postura de um adulto de vez em quando.
- Não é uma boa ideia arriscar os três, Winn - Elijah podia ver Irynna analisando os adversários, procurando por algum ponto fraco enquanto se dirigia ao irmãozinho. - Nós precisamos ser rápidos e você não nunca usa suas asas, seria um alvo fácil.
- Eu não gosto da sensação delas. - Winn soou como se pedisse desculpas.
- Está tudo bem. - Elijah apertou gentilmente os cabelos do irmão; muito semelhantes ao seu se não fosse pelos cachos e o comprimento, para confortá-lo uma última vez. - Nós voltaremos logo.
E com isso ele e a irmã entraram na rua principal.
Elijah sentia como se fizessem horas desde que o irmão desmaiara, mas provavelmente não se passaram mais de dez minutos, ele não podia evitar a sensação de ansiedade, como se seu sangue corresse a 100 km/h.
Com a mente de uma guerreira focada, Irynna certamente ignorava a mesma sensação ao disparar para o céu.
De cima, os dois podiam ver as chamas ficando cada vez mais inconsistentes e fracas e passo a passo, as criaturas avançavam ainda mais.
Irynna imediatamente se lançou contra a criatura na ponta esquerda, quase derrubando-a com um rasante de surpresa. Tomando isso como incentivo, Elijah fez o mesmo com os outros dois. Não demorou muito para eles se tornarem a atração principal e terem a atenção toda para si.
A medida que chegava mais perto, Elijah podia ver que Winn estava certo. Os sacerdotes pareciam recitar palavras como se cantassem uma música. O príncipe também notou que conforme o ritmo das palavras cresciam, as gemas em seus pescoços brilhavam com mais intensidade. Como se estivessem vivas.
- Irynna! - Elijah teve uma clareza repentina - Os colares são as fontes do poder!
Infelizmente, ele esqueceu de continuar se movendo ao parar para avisar a irmã. Elijah se tornou um alvo fácil, exatamente como tinham dito que Winn seria. Esse segundo de descuido fez com que ele fosse jogado para baixo da mesma forma que tinha visto acontecer com aquelas pessoas na exposição. Elijah colidiu ao chão com um estampido forte, depois disso, não havia uma parte de seu corpo que não queimasse como fogo.
Os Sacerdotes estavam a dez passos do príncipe, a canção que recitavam ficou ainda mais forte e fazia seu cérebro fritar, provocando nele uma agonia infinita que percorria cada nervo de seu corpo.
Elijah tinha quase certeza que gritava de dor, mas não podia ouvir. A agonia era tanta que saber o que acontecia ao redor não fazia diferença.
Ao longe, ele apenas tinha uma vaga noção da irmã acima, pronta para atacar novamente com o que parecia um galho de árvore torcido. Ele queria dizer para ela pegar a mãe e o irmão e voar para longe. A aflição de não poder fazer isso o fazia chorar mais do que a própria dor.
Ele não podia acreditar que tinham sido burros a ponto de achar que aquilo realmente daria certo, o que eles achavam que aconteceria era a única pergunta que surgia em sua cabeça. Era uma questão de tempo até um deles se voltar para ela também ou então para Winn, que Elijah sabia ainda se esconder na esquina.
Elijah tinha certeza que era impossível aguentar uma dor como aquela por muito tempo, aquele deveria ser seu fim e depois dele, todos que amava sofreriam a mesma coisa. O príncipe não deixaria isso acontecer, ele ainda estava ali. Se por sorte ou azar, não sabia, mas ainda estava ali.
Ele tentou se levantar, mas o corpo falhou. A dor era intensa demais para simplesmente afastá-la. Aquilo era simplesmente ridículo. Elijah nunca imaginou como morreria, mas certamente não achava que seria com seu sangue borbulhando enquanto o matava de dentro para fora. Provavelmente só não estava morto ainda graças aos dons de cura que todos herdaram de sua mãe.
Da mesma forma que tinha percebido a função das gemas muito tarde, Elijah teve uma última ideia para tentar se salvar, nos seus segundos finais. Ele com certeza não podia impedir a magia de atingi-lo, mas podia se curar mais rápido do que ela o matava. Talvez aquela fosse a benção que tinha pedido ao Caldeirão, um momento de clareza para se concentrar.
E ele a recebeu.
Do mesmo jeito que Amren tinha ensinado todos eles, Elijah imaginou seu poder na forma de um elemento, o ar. Não um ar que alimentava as chamas que o derretiam, mas um vento rebelde que acaba com tudo em seu caminho, um tornado.
E simplesmente assim, à medida que o poder de cura se espalhava, Elijah retornava ao controle. Ele finalmente podia ouvir ao seu redor, e por pior que seus gritos ainda soassem, o desespero deixava seu corpo pouco a pouco. Ele finalmente conseguia saber o que estava acontecendo.
Não existia mais sinal algum de sua mãe.
Irynna tinha conseguido a atenção da criatura que primeiro atacou e muito mais esperta que Elijah, ela não parava um segundo e não mantinha nenhum padrão no voo.
Ela avançava e recuava sem deixar muito fácil para o sacerdote acertá-la, mas permitindo que isso quase acontecesse vez ou outra, para mantê-lo entretido na direção oposta da cidade.
Elijah sentia como se quase pudesse levantar, só precisava se esforçar um pouco mais e precisava de uma distração que atraísse as criaturas tempo o suficiente para sair dali.
Infelizmente, Elijah não foi o único que percebeu que uma distração era necessária. Ainda deitado no chão, ele foi o primeiro a ver o irmãozinho surgir no meio da avenida, sem ninguém para protegê-lo, balançando os braços para cima como se sua presença não fosse óbvia o suficiente.
- Olhem aqui suas estátuas esquisitas! Eu estou bem aqui. Venham me pegar.
Elijah pode dizer que seu irmãozinho se arrependeu imediatamente de ter feito isso, apenas pelo olhar de desespero quando percebeu que tinha funcionado e que as duas criaturas realmente deixaram o irmão mais velho para voltar sua atenção para ele.
Pelo menos essa exposição deu a Elijah exatamente o que ele precisava.
Ele rolou para o lado e quando se levantou já voava em direção ao menino. Elijah chegou nele um segundo depois de Irynna.
- Tudo bem o plano não deu certo, o que fazemos agora? - Irynna estava ofegante, mas fora isso, não parecia machucada. Ela mantinha a posição de defesa, como se nada fosse a afastar daquela luta.
Do mesmo jeito que os três estavam juntos, os sacerdotes se uniram novamente como uma linha de ataque pronta para revidar, eles não tinham muito tempo.
- Vocês lembram como usar o poder para se curarem mais rápido?
- Mas eu não estou machucado. - A voz de Winn não passava de um sussurro enquanto observava as criaturas se preparando.
- Sim, nós lembramos. - Irynna também não tirava os olhos deles com medo de perder a investida.
- Então façam isso agora, não importa se estão machucados ou não, apenas façam.
Elijah não podia ver, mas sabia que eles faziam isso pelo olhar de concentração. Ele mesmo tentava pensar em um furacão para reativar o poder.
A essa altura, não tinha muito o que eles pudessem fazer. Eles eram os alvos e por mais tempo que ganhassem com a cura, aquilo não era definitivo e não impedia as criaturas de atacarem de outras formas.
Assim que ele pensou que tudo estava acabado, asas finalmente chegaram para o resgate.
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