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História Crime e Recompensa - Uma voz no silêncio - História escrita por BiadeAsa - Spirit Fanfics e Histórias
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História Crime e Recompensa - Uma voz no silêncio


Escrita por: BiadeAsa

Notas do Autor


Boa noite. Não ia postar esse capítulo hj, mas estava muito longo então dividi.

Capítulo 21 - Uma voz no silêncio


Sue

Eu não escutava o som de nada.

E o silêncio pode ser perturbador quando estamos sob o efeito da adrenalina. Ele perpetua no nosso ouvido um zumbido incômodo e agudo como um apito para cães. O silêncio faz tudo parecer barulho ao nosso redor, até o menor dos movimentos. O ar quando sai pelo nariz na respiração, os batimentos cardíacos e até a gota de suor que escorria da minha testa e caía no chão. Tudo é gritante. Tudo chama a atenção.

Tudo é perigoso.

O silêncio é meu maior inimigo quando estou em missão. Eu preciso me esgueirar e me concentrar não só nos movimentos do meu inimigo, mas principalmente nos meus. Porque qualquer balançar, desde a ponta dos meus dedos até o meu cabelo solto podem revelar onde estou e me deixar vulnerável. E eu não posso bobear, cada dia em que eu saio de noite e me visto propriamente, é uma sentença. 

Saí com vida, mas voltarei com ela?

Pai nosso que estás no céu, se realmente estás aí, olhe por mim.

Minhas orações inúteis reverberam em minha mente, originadas pelo meu medo, mas que eu sei que não serão ouvidas porque Deus deve estar ocupado demais cuidando de alguém que realmente valha a pena. E eu não sou essa pessoa, se Deus olhar para mim, ele irá me castigar, e não me ajudar, porque o que eu mereço está longe de ser uma benção. Então por que ainda tento apelar quando estou com medo?

Consigo escutar o gotejar de um cano quebrado ao longe, e ele me desconcentra do meu alvo. Ele está atrás da terceira coluna, e eu estou agachada atrás dos caixotes do depósito de teto baixo rodeado pelo encanamento. Por um momento cogito atirar em um dos canos e fazer jorrar a água do esgoto, inundando o local e a todos nós, a mim e aos meus inimigos. Nenhum de nós merecia a piedade, então por que eu ainda tentava rogar para uma divindade?

A arma na minha mão oscilava conforme meus dedos estremeciam. Eu nunca vou me acostumar com o poder da morte, de causá-la em alguém apenas por mirar um objeto fatal e encerrar a existência de outra pessoa com um tiro. Que poder é esse que as pessoas muitas vezes almejam ter que vai além da própria defesa? Eu estou cansada de tudo isso, de ter que me mover como uma peça de tabuleiro de xadrez, avançando e derrubando os outros, para que o meu triunfo se sobressaia, e minha vitória deixe para trás a derrota de tantos outros que nunca nem conheci, mas sei que caíram e falharam porque eu os subjuguei.

Cresci no meio de toda essa confusão e morte, eu deveria estar ciente de que minha sobrevivência era o resultado da devastação da vida dos outros. Sempre foi assim. Comigo, com a Mary, com o Harry e com o meu pai. Principalmente com ele, nunca vacilando, nunca titubeando quando se tratava de proteger sua própria vida, mesmo que isso implicasse em findar a dos outros.

Mas eu não era assim. Não conseguia ser. Quando segurava minha faca na mão e feria os outros, eu tinha em mim principalmente o desejo de sair viva, e, quando me deixava levar pela raiva e impulso do momento, também um certo gosto pela minha superioridade. Porque eu era boa no que eu fazia, eu tinha habilidades que ninguém contestava, porém ultimamente andava me questionando muito: valia a pena ser assim?

Não seria mais fácil ser apenas uma pianista em um vilarejo comum dando aulas particulares para crianças e jovens no dia de semana e vivendo tranquilamente na minha casa de dois cômodos? E no final de semana sair para passear com o cachorrinho recém-adotado em uma feira da praça central, caminhando de mãos dadas com ela? Tomando sorvete no outro lado da esquina, rindo das suas piadas bobas e do seu jeito descontraído de enxergar a vida, o seu olhar poético sobre o sol e reflexões do começo da tarde me fazendo sorrir com sua linda imaginação e perspicácia intelectual?

Sem facas ou armamento pesado. Sem Máfia. Sem dor. Sem mortes. Sem ter que me submeter às vontades asquerosas do meu pai.

Era um sonho? sim. Impossível de se realizar? Com certeza! Eu nunca teria essa vida perfeita que estava fantasiando. E que lugar mais caótico para se ter um devaneio, não? Será que a minha morte está tão próxima que eu já estou tendo relances de outras vidas que talvez eu possa reencarnar? Se tiver sorte, renascerei como uma planta. Uma trepadeira talvez.

O silêncio ainda era minha mais notável companhia, apesar de eu saber que não estava sozinha; estava sendo vigiada, alguém à espreita esperando um vacilo meu para atacar. Eu contava os segundos mentalmente e tentava controlar minha respiração para que ela não se descontrolasse e ressoasse muito alto. Eu queria chorar, mas seria ruidoso e não podia revelar meu esconderijo. Contudo, ficar imóvel ali não me levaria a lugar nenhum, eu deveria me mexer, fazer alguma coisa, ter alguma atitude, afinal, eu estava ali por consequência minha mesmo, era a líder da missão, a ponta, a cabeça, a isca.

Mas não estava preparada para colocar meu corpo à risca, como um alvo que seria acertado sem pensar duas vezes.

Calma, Sue, você só precisa ter calma. Você sabe fazer isso, já fez isso tantas vezes, é só ser racional, deixar a cabeça no lugar e agir!

Eu conversava comigo mesma tentando não me descontrolar. Segurei firme a arma nas mãos e me apoiei em um joelho, me movimentando com muito cuidado para não me destacar. Espiei pelo vão entre as tralhas amontoadas ali onde eu estava escondida. Não vi ninguém, nada de suspeito, mesmo assim não era hora de relaxar.

Me levantei devagar, apoiando um pé de cada vez, e apontando a arma para frente, ainda instável na minha mão.

Direita. Esquerda. Para trás. Olhei em todas as direções possíveis com os sentidos aguçados, mas tudo o que me rodeava ali eram aquelas caixas velhas, goteiras do encanamento e o silêncio. O maldito silêncio. Aquilo ali me cheirava a armadilha, como se eu estivesse caminhando a cada segundo para a minha morte. Mas o que eu poderia fazer além de seguir o trajeto? 

Dei um passo. Dois. Olhei para trás rapidamente, deixando que meu suspiro de desespero saísse com o som baixo porém significativo. Os olhos abertos mais do que o comum, inclinei o corpo para a brecha por onde estava espiando anteriormente. Eu vi uma silhueta imóvel ao fundo, não tão imóvel, mas que tentava se esconder entre a grossa tubulação e as sombras. 

Meu instinto dizia “aponte a arma e atire!”, mas meus braços pesaram para baixo feito chumbo e eu apenas observei meu possível primeiro alvo. Fiquei fitando seu corpo não revelado por cinquenta segundos. Nada aconteceu. Ele não se mexeu, eu não me mexi.

Sue, acabe logo com isso! 

A voz insistia na minha cabeça. O coerente seria eu atacar primeiro, mesmo que isso me revelasse, mas então por que parte de mim estava hesitante?

Lutei contra meus próprios medos e me forcei a levantar o braço, encaixando minha mira e o indicador no gatilho. Soltei o ar devagar, fazendo uma contagem mental. Talvez se eu contasse até trinta eu teria um objetivo mais acertado, e um tempo para mim mesma e de concentração. Queria tanto acabar com tudo, acelerar o relógio da vida e me jogar para o dia seguinte, a semana seguinte, onde eu não estivesse mais sob essa pressão e tensão recorrente. Ou talvez um salto temporal para um período onde eu já esteja morta. E talvez não seja preciso o relógio andar muito para isso, talvez acontecesse até o final do dia.

...29...30!

Se não for agora, não será nunca mais. Inspirei com força, e já estava fechando os olhos para atirar quando vi o corpo se mexer. Mas ele não parecia em posição de ataque, como se tivesse me visto. Ele estava assustado e confuso. Aguardei, ainda não era seguro me revelar. Quando a silhueta humana se encaixou no foco de luz razoavelmente distante daquela bagunça subterrânea, eu vi seu rosto.

Foda-se que eu não podia fazer barulho, perdi o controle e soltei um grito agudo e assustado, e baixei a arma imediatamente.

Não pode ser…

Era… ela. Mas como? Não faz sentido, eu nunca disse para onde iria naquela noite, eu nunca dei margem para a minha localização, como ela havia chegado ali? E por quê? O que ela queria se arriscando desse jeito?

Seus olhos não paravam em um ponto fixo, ela procurava algum sinal de movimento, alguma indicação de que não estava sozinha, e abraçava o próprio corpo com os braços, assustada e frágil. Que droga, o que estava fazendo ali? Como isso foi possível?

Totalmente fora dos meus planos e do meu padrão de comportamento, saí do meu esconderijo e corri para o salão aberto, pisando com força nas pequenas poças de água acumuladas no chão, o som do chapinhar ecoando como uma sirene naquele local antes tão silencioso.

— Emily! — eu gritei. Ou pelo menos tentei gritar, minha voz não saiu.

E de repente foi como se a água sob meus pés tivesse se tornado cola e me fixado ali com tamanha força que eu não conseguia sair do lugar. Queria correr para ela, abraçá-la e protegê-la com meu próprio corpo, porque ela estava tão perigosamente exposta que minha intuição berrava na minha cabeça que se eu não fizesse nada agora, nunca mais o faria porque seria tarde demais.

— Emily, o que está fazendo aqui! — Mais uma vez, minha tentativa de chamar sua atenção e alertá-la falhou. Minhas palavras nasciam na minha mente mas morriam antes de sair pela minha boca, sem nenhum ruído enquanto eu movimentava os lábios freneticamente exigindo ser notada.

Nada.

Ela não me via, balançava a cabeça para a direita e a esquerda, se virava para trás, o cabelo batendo contra seu rosto suado e a expressão de pânico. Ela sabia que estava correndo risco, mas então por que desceu até aqui, por que não ficou na sua casa quieta e segura? E, o que mais parecia não fazer sentido: por que ela não me enxergava? Eu estava ali, a poucos metros de si, presa como se meus pés estivessem afundados no chão, a voz incapaz de sair para que me escutasse, mas eu estava ali, ela deveria me ver, não estava distante.

Seria uma alucinação? Eu andava tão preocupada com ela e sem cuidar bem de mim mesma que acabei desenvolvendo algum tipo de surto psicótico no meio da minha missão pela Máfia? Se for assim, será meu fim, eu serei encontrada, capturada e morta por aqueles que tanto querem colocar as mãos em mim.

— Sue? — finalmente ela disse alguma coisa, a voz fina e trêmula, chegando aos meus ouvidos como um sussurro, e de repente aquele silêncio anterior havia se transformado em gritos dentro da minha própria cabeça. Vozes clamando por piedade para não serem mortas, existindo apenas dentro de mim, e me enlouqueciam a cada segundo. Por que não paravam? — Sue, você está aqui?

Sim, Emily, eu estou!, queria muito responder, mas estava muda. Parecia que centenas de abelhas haviam picado minha boca e eu não conseguia falar. 

— Sue, me ajuda!

Que dor de partir o coração vê-la assim, os olhos vermelhos e as lágrimas caindo sem pudor. Ela rodava sobre os próprios pés, queria encontrar uma saída, mas não havia. Ela estava assustada demais para reagir e eu imóvel demais para chegar até ela.

E não precisou de mais tempo até que eles aparecessem: os capangas que me aguardavam ali, mortalmente armados e nos cercaram em poucos segundos. Seria aquele o meu fim. O meu e o dela. E eu, inútil como sempre, não poderia fazer nada para impedir a cena de horror que eu sei que aconteceria ali.

Erga o braço, faça alguma coisa! Atire!

Não conseguia. Estava petrificada, tal qual uma estátua de praça, imobilizada como um poste. A única coisa que se movia em mim era o meu coração, batendo tão rápido que a qualquer momento ele poderia parar por cansaço e me fazer desmaiar.

Emily tentou correr, o que obviamente não deu certo, havia vários deles por todos os lados. Foi interceptada por braços brutos que a agarraram e a seguraram com força. Eu nada fazia, apenas assistia, nem mesmo os olhos conseguia fechar para evitar ver a minha garota sofrer daquele jeito. O show de horrores se apresentava como em uma tela de cinema, mas tão real que quebrava a quarta parede.

Outro se aproximou dela, a arma em punho, direcionada para a sua cabeça. Emily parecia prestes a desmaiar, nunca vi seus olhos tão arregalados e tão assustados antes como agora. Eu, a essa altura já chorava como uma criança que acabou de ser desmamada. Eu gritava, mas sem voz, eu sentia falta de ar, me sufocava, mas nada parecia me despertar para fora dali. Olhei para baixo, vi meus sapatos no chão, não pareciam presos, mas então por que eu não conseguia sair?

Eu correria para o meio deles, mesmo que isso não a protegesse, mas eu morreria por ela. Eu merecia ter uma sentença ruim, um final trágico como já era de se esperar que eu tivesse sendo um membro da Máfia. Mas ela não. Emily Dickinson não merecia ter esse mesmo fim que eu, ela não era uma pessoa má, muito pelo contrário, ela era a alma mais pura e bondosa que eu já havia conhecido nessa terra. Se tinha alguém nesse mundo que não merecia ter o triste fim que se encaminhava, era ela.

Mas teve o azar de me conhecer, e todo mundo que entra na minha vida tem a mesma sentença: a condenação. Era como se eu fosse uma jóia, mas ao contrário de uma pedra preciosa, eu era como um amuleto amaldiçoado. Tal qual o basilisco da câmara secreta que paralisava e matava quem o olhasse nos olhos.

A uma curta distância, aquele homem que mirava sua pistola olhou para mim, ainda tendo Emily como alvo. Como se estivesse me desafiando e debochando de mim, ele sorriu, mas sem nenhuma emoção, estava frio como uma geada.

— E então, vai fazer alguma coisa, Susan? — ele perguntou e sua voz me cortou ao meio, fechando ainda mais a minha garganta me impedindo de respirar.

Vou fazer! Vou me mexer! Vou salvá-la!

Mas meus membros continuaram sem responder ao meu comando. Apenas meus pensamentos se movimentavam, mas ideias não eram ações, e sem ações eu não podia fazer nada.

— Por favor, Sue… — sua voz implorando pela minha ajuda me destruiu de tantas formas que eu era incapaz de explicar.

Ela fechou os olhos, lágrimas saíram no ato, e mordeu os próprios lábios numa tentativa de reprimir seus soluços de desespero. Eu a observava e sentia sua dor, mas do que me adiantava minha compaixão se eu estava interceptada pelo meu próprio medo?

Eu tinha força física, sempre treinei, sempre estive em forma, então por que meus braços pareciam tão fracos?

Reaja, Sue, por favor, reaja!

Movida pelo meu ódio e incapaz de ter que aceitar ver a ruína de Emily perante meus olhos, eu canalizei toda minha potência para minha mão direita que estava segurando a arma. Numa velocidade mínima, subi sua estrutura até a altura do meu peito e apontei para frente, para aquele homem que estava com o seu revólver encostado na cabeça de uma pessoa inocente. Eu só precisava apertar o gatilho, era só acionar sua ferramenta principal para matá-lo e impedir que o pior acontecesse.

Ou ele morre, ou a Emily.

Mas o esforço que eu fiz apenas para erguer o braço já havia sido demais, eu não consegui fazer um mínimo movimento com o dedo para atirar, congelei outra vez.

E o silêncio voltou a me atingir com força. Aquele apito da ausência de som maltratando meus ouvidos outra vez.

— Ela não vai fazer nada — o algoz decretou, sua voz soava distante, ele olhou para Emily ao falar, ela olhou para ele ao ouvir, seus olhos refletindo o medo e a decepção, porque ela aceitou que ele estava certo. Eu não faria nada.

Seu corpo tremia como nunca pensei que fosse possível. E, por um momento, seu olhar se encontrou com o meu, e pude ter certeza que dessa vez ela havia me visto. Estava desgastada, e seu último ato foi esse olhar raivoso e inconformado.

— Como pode fazer isso comigo? — ela disse, mas eu não escutei sua voz naquele lugar, ela veio diretamente nos meus ouvidos, como se tivesse nascido dentro do meu cérebro.

E o homem apertou o gatilho, liberando a bala que em altíssima velocidade a atravessou e fez seu corpo despencar rumo ao solo. Tirando dos seus olhos a cor da vida, dos seus pulmões o fôlego da respiração e do seu coração as últimas batidas.

Tirou-a de mim.

Mais uma vez tentei gritar, e dessa vez minha voz saiu. Eu corri e meus pés já estavam leves, meu corpo me obedecia. Mas tarde demais.

— Não! — eu cheguei mais perto, apavorada, desesperada e profundamente infeliz. — Não! Não! Não! Não!

Mas minha falta de controle e excesso de agonia não serviriam de nada. Ela não me responderia, não encaixaria sua mão na minha, não sorriria quando eu dissesse que suas poesias eram a coisa mais linda que já havia lido, não me beijaria mais. Não ficaria comigo.

E eu olhei para ela sem poder fazer mais nada.

Foi minha culpa.

Ela permaneceu ali, imóvel sobre o chão, e seu corpo sem vida.

+++

Acordei e me sentei rapidamente na cama. Estava suada, me tremendo e minha roupa e travesseiro molhados, não sabia se de suor ou de lágrimas porque também acordei chorando. Estava horrorizada, e ao mesmo tempo aliviada. Tudo não passou de um sonho. Melhor dizendo, um pesadelo. 

Foi o pior que eu já havia tido até então, e olha que nessas últimas semanas eu meio que já havia me acostumado com minha rotina de terror noturno. Sempre acordava assustada e chorando, mas não como agora, com o desespero me dominando completamente.

Olhei as horas no relógio, ainda era de madrugada. Meu corpo estremecia de frio e medo. Me abracei e ao sentir minha pele tão quente, me dei conta de que estava com febre. 

Me levantei, sentindo o chão gelado fazer meus pés doerem, e caminhei cambaleante até a janela a fim de fechá-la porque a ventania da noite fazia todos os meus músculos doerem.

Céus, como era horrível acordar mais cansada do que havia dormido.

Peguei meu celular da mesinha e voltei para a cama. Me embrulhei da cabeça aos pés, a fim de que o lençol me protegesse desse mal estar. Passei a mão na testa, estava suada e muito quente. Eu ainda me tremia, mesmo encolhida. Deveria trocar de roupa, porque essa encharcada só me deixaria mais doente.

Contudo, nada fiz além de chorar e soluçar. As lembranças do pesadelo recente me açoitando e me dando uma surra.

Vi a Emily morrer na minha frente sem poder fazer nada, e foi tão real que ainda dói. Não podia fechar os olhos que a cena voltava como um filme nas minhas pálpebras, uma sessão de tortura que eu não queria ver nunca mais.

Isso me incomodou tanto, o jeito como me pareceu verídico, a agonia de não saber distinguir sonho da realidade, que eu me vi desesperada por ter notícias dela. E daí que era de madrugada? Eu precisava saber se minha namorada estava bem.

Como já estava com o celular nas mãos mesmo debaixo das cobertas, enviei uma mensagem para a Emily, perguntando se ela estava bem. Sei que fui movida pela preocupação e que de nada adiantaria falar com ela agora, que provavelmente estava dormindo, mas minha ansiedade me forçou a tentar uma comunicação. Não acreditava em premonições através de sonhos, mas também não queria arriscar.

Durante todos esses dias, entre um confronto e outro, onde eu saía de casa com a incerteza de que voltaria viva ou não, meu único pensamento de conforto era a Emily. Pensar que talvez um dia eu pudesse ter uma brecha na vigilância constante do meu pai e sair escondida para vê-la, ou nos breves momentos em que conversamos por mensagem ou por ligação, é apenas isso que me mantém sã, que me impede de surtar e dizer um sonoro “não” para o Thomas Gilbert e nunca mais lhe dar ouvidos — o que certamente me mataria, mas quem liga?

Entretanto, mesmo Emily Dickinson sendo minha pessoa preferida nesse mundo, eu ainda me questionava se havia feito certo ao pedi-la para namorar comigo. Quer dizer, nem foi um pedido, eu apenas me atrapalhei com as palavras, a deixei magoada com minha falta de jeito e na hora de corrigir meu erro não consegui produzir nada que pudesse significar um pedido formal. Nada de “Emily, você quer namorar comigo?”, o que eu fiz foi a forma mais idiota de dar a entender que quer ficar com ela. A sorte que eu tinha dela ser compreensiva e não guardar rancor de mim mesmo eu sendo essa pessoa horrível era uma coisa de outro mundo. No fim das coisas, meio que estabelecemos essa relação mesmo sem os procedimentos padrões. E eu estava feliz com essa parcela da minha vida.

Eu gosto dela. Gosto muito, a Emily é minha “yellow person”, é minha poeta preferida, é a única que consegue me tocar sem mãos, que me faz sentir vontade de sorrir mesmo sozinha, só de pensar nela, é a única que o beijo realmente me desperta interesse e entrega. Ela é a pessoa que eu quero, que eu desejo mais que tudo. Ainda assim, mesmo com toda essa certeza dos meus sentimentos, por que eu ainda fico insegura? Por que ainda parece errado eu chamá-la de namorada? Por que me sinto machucada sempre que meus pensamentos vão até ela e recaem sobre meus problemas?

E por que o universo era tão injusto conosco que havia nos afastado tão dolorosamente?

A última vez que nos vimos foi há quatorze dias, quando eu fui até a porta da universidade esperá-la chegar, quando conversamos um pouco sobre como nossas vidas tinham tomado rumos complicados, mas pelo menos ainda tínhamos uma a outra. Foi nesse dia que nos beijamos mais uma vez e eu senti a rotação da terra parecer um movimento simples e irrelevante comparado às piruetas do meu coração apaixonado.

Eu não podia negar, muito menos fugir, mesmo a minha preocupação sendo gritante em cada passo que dou, escapar da Emily e dos meus sentimentos por ela não era uma saída. Por onde eu entrei não tinha volta, só me restava torcer para que eu fizesse as coisas certas e ela permanecesse segura, mesmo que essa segurança significasse passar algumas semanas longe de mim.

Sinto tanta falta dela…

Não demorou muitos minutos e meu celular vibrou de leve nas minhas mãos. Olhei para a tela e fiquei surpresa ao ver que Emily havia me respondido quase na mesma hora.

03h20: oi, sue, eu tô bem sim, pq?

Um fardo extraordinariamente pesado saiu do meu coração naquele momento. Ela me respondeu que estava bem, e isso era tudo o que eu precisava saber. Joguei o celular para o lado e deixei meu corpo despejar o cansaço sobre a cama, cobrindo o rosto com as mãos, enxugando minhas últimas lágrimas derramadas e respirando muito aliviada. Precisei de dois minutos para pensar e me situar no presente. Entender que não estava mais dormindo, despertei do pesadelo, e, apesar de estar sozinha, a Emily estava bem na sua casa. Menos mal.

Peguei meu celular de volta e enviei outra mensagem.

03h25(você): pq está acordada a essa hora?

Mais uma vez ela não demorou para responder.

03h25: eu não consegui dormir, fiquei escrevendo e perdi as horas. agora tenho que tomar muito mais cuidado aqui, não tenho mais usado nenhum caderno, escrevo nas notas do celular e só quando tenho certeza de que não tem ninguém por perto :|

03h25: e vc? por que não está dormindo? fiquei até assustada ao receber mensagem tua do nada perguntando se eu to bem.

Encarei a tela do meu celular sem saber se deveria dar explicações. O que eu diria? A verdade, que havia tido um sonho onde a via morrer? Ou criava outra desculpa?

03h26(você): tive um pesadelo ☹️ daí acordei e não consegui mais dormir; fiquei pensando em ti e queria saber como estava, faz tempo que não te vejo e estou com muita saudade. sei que não tenho conversado direito, mas é que tá tudo horrível aqui, sinto muito, Em :(

Li e reli minha mensagem mesmo depois de enviada, e fiquei me sentindo uma idiota sentimental. Já imaginava Emily rindo da minha cara por eu ser assim, desenfreada. Mas eu queria muito dizer que estava com saudade, não só dizer, queria abraçá-la, mas não podia fazer isso pelo aplicativo.

Como se ela estivesse adivinhando meus pensamentos, me enviou uma figurinha cheia de corações rosas com os dizeres “abraço virtual" e eu ri, só ela mesma pra ter essa ideia. E como eu queria que esse abraço fosse real.

03h28: tbm estou com saudade, não tem um minuto do dia que eu não pense em ti. na vdd minha cabeça não tem outra coisa. E não me pede desculpa, sei que não é tua culpa, eu tenho paciência, vou te esperar :)

03h28: é uma pena que vc tenha sonhos ruins e eu não possa estar aí pra te abraçar, certeza que dormiria muito melhor.

Eu achava muita maldade ela me dizer uma coisa dessas por mensagens, quando eu claramente estava carente e precisando de companhia. Fiquei mais triste, mas também com o coração quentinho por saber que ela tinha razão, se ela estivesse aqui, eu não teria tempo para ter pesadelos, seria impossível. Dividir a cama com ela curaria todas as minhas dores. Mas quando eu teria esse privilégio outra vez? Parecia ser um dia muito distante de acontecer.

Eu não sabia mais o que responder para ela sem perder a compostura. Eu não queria assustá-la, porque no estado em que eu estava minha vontade era de enchê-la de emojis de coração e textos longos explicando o quanto sinto sua falta e é horrível essa distância. Às vezes resistia ao impulso de lhe pedir uma foto, qualquer uma desde que eu visse seu rostinho e me preenchesse com a paz que só sua imagem me proporciona. Mas como não tinha essa coragem, me restava ter que ficar clicando na sua foto de perfil e admirando-a com o olhar bobo e apaixonado.

Estava prestes a dizer boa noite e me despedir para não tomar mais seu tempo, já que ela precisava acordar cedo para estudar, quando vi na tela duas novas mensagens suas. Voltei para ler imediatamente.

03h30: Debruçada em meu outro problema

Outro problema desponta —

Maior que o meu — mais Sereno —

Sobre coisas de grande monta —

 

Verifico a ponta do lápis —

Os números me fogem — 

Por que razão, Dedos meus,

Essa perplexidade?

03h30: escrevi ainda essa noite, tava pensando em ti, acho que deu pra perceber na palavra “problema” rsrs. Ah, desculpa se soou ofensivo :/

Não, Emily, não foi ofensivo. Muito pelo contrário, foi encantador! Era incrível como essa garota conseguia transpassar minhas emoções para seus escritos e me dar a sua essência poética como se ela me lesse com sabedoria e entendimento.

Atentei àquele poema mais de uma vez, não era um pedaço de papel como já estava acostumada, mas ainda assim eram suas palavras, e elas penetravam em mim como uma agulha, mas não me machucava, me injetava as sensações devidas de cada verso. Como se por um momento eu deixasse de ser a Sue que sempre penso que sou, e me tornasse uma peça única moldada pelas suas mãos.

Emily Dickinson tinha esse poder sobre mim. Não sei se ela sabe, mas ela tem. E é avassalador.

Eu me peguei sorrindo, pensando no quanto ela é incrível, como pessoa, como escritora. Preciosa. Esse sempre foi meu adjetivo preferido para ela. Eu tinha esse sentimento em mim, de ser uma desbravadora que passou anos em terras desconhecidas e exóticas a procura de ouro e outros materiais preciosos, e sempre encontrando mais do mesmo, até que enfim me deparei com a raridade da Dickinson, e seria eternamente grata pela coincidência do destino de ter nos unido.

Ao mesmo tempo em que ficava abalada ao lembrar que essa coincidência não foi a das mais felizes. Emily podia ter morrido no dia em que foi sequestrada, podia eu ter sido a responsável pela sua morte. E desde então quase nada mudou quanto a isso. Ela ainda era um alvo, e estando comigo era como se a circunferência desse alvo aumentasse. 

Outra vez o flashback do meu pesadelo me atingiu como um raio, ele despertou ainda mais meus medos e acentuou minhas angústias. Não foi real, mas o perigo ainda era. E se eu a perdesse nunca encontraria consolo. Eu morreria junto.

03h36: Sue? Ainda aí? Não gostou do poema?

Sua nova mensagem me fez olhar para o celular outra vez, me lembrando que não tinha respondido ainda. Havia tantas coisas que eu queria dizer. E Emily adorava quando eu me expressava sobre o que ela escrevia.

Mas o que falar agora? Depois de ser preenchida por esse sentimento de ternura, e rapidamente esvaziada pela preocupação que me ronda? Até quando essa montanha russa de emoções vai me impedir de demonstrar inteiramente tudo o que eu sinto por ela?

Emily me dava suas palavras, e através delas eu sabia como ela estava se sentindo. E eu dava o quê, além de silêncio e ausência?

Outra vez me sentindo insuficiente para a única pessoa que já me fez sentir suficiência.

Não tive outra saída, comecei a chorar. Impossível controlar o aperto no meu peito crescendo cada vez que eu tentava respirar. Eu não entendi como podia oscilar tanto, me sentir bem por alguns segundos e mal pouco tempo depois. Meu corpo ainda queimava, e não sabia se de febre ou de tristeza, se eram sintomas da crise de ansiedade que se aproximava, se eu já não tinha mais controle de nada que meu cérebro estava dando comandos aleatórios e independentes para que eu entrasse em combustão e explodisse. 

Como um modo de autodestruição ativado, uma bomba-relógio, um circuito elétrico descascado, perigosamente exposto numa cerca de rua. Estava prestes a me desintegrar e me derramar na minha cama junto com as minhas lágrimas.

Por que eu tenho que ser assim, essa sucessão inarredável de desastres?

Eu estava infeliz, chateada, preocupada, doente, extremamente frágil e… sozinha. Eu não tinha ninguém. Mary estava no seu quarto, provavelmente dormindo, meus pais eram dois que eu não podia contar nem para pedir um copo de água. Não me sobrava nenhuma rota de fuga, nenhum bálsamo, nenhuma solução mesmo que de curto prazo. Só conseguia pensar que aquele era o fim da linha, o jeito mais patético e imbecil de morrer: sozinha enquanto choro, abraçando meu corpo numa tentativa inútil de me manter aquecida. Que bela vida solitária, Susan Gilbert.

Mas você tem a Emily…

Uma voz salva-vidas veio das profundezas do meu cérebro falar comigo. Eu só pude achar que ela estava brincando. A Emily não estava aqui comigo, tudo o que eu podia receber dela eram migalhas da sua companhia, tê-la virtualmente não era o mesmo que sentir seu corpo presente no meu, porque isso sim me confortaria, mensagens não.

Mas é só o que você pode ter agora.

Que droga! Odiava quando essa parcela da minha mente me tomava conta e me dizia essas coisas porque eu sabia que tinha razão.

Tentando controlar meu choro, peguei o celular de volta. Eu amei aquela poesia, como sempre ela chegou até mim e massageou meu coração do jeito que só Emily sabia fazer, mas não estava em condições de explicar isso para ela agora. Esperava que ela não me odiasse e não pensasse que eu estava evitando a sua arte.

Ainda insegura, comecei a digitar.

03h47(você): Emily, faz uma coisa pra mim?

Não sabia se ela ainda estava acordada ou se desistiu de conversar depois que eu aparentemente ignorei suas últimas mensagens. Mas, para meu conforto, ela visualizou imediatamente e iniciou a digitação também.

03h47: faço sim, meu bem ❤️ só pedir

Ela definitivamente era a pessoa mais fofa, amável e agradável do mundo.

03h48(você): Pode me mandar um áudio? Eu preciso muito ouvir sua voz agora.

Sabia que provavelmente estava exigindo muito dela, suas circunstâncias também não eram favoráveis, ela estava sob intenso rigor dos pais, e era quase quatro da manhã, com certeza sua casa estava silenciosa, e não queria que ela se arriscasse tanto falando comigo e recebesse uma bronca. Mas eu não sabia mais o que fazer, meu corpo inteiro doía e parecia estar sendo pressionado em um espremedor de suco, minha cabeça latejava e meus olhos ardiam de tanto chorar. Eu precisava dela, precisava ter pelo menos uma pequena parcela daquilo que para mim significava paz. Sinto muito se estava sendo egoísta, mas foi meu ato de desespero, minha última jogada e chance de me salvar nessa noite.

Emily não me respondeu imediatamente desta vez, eu fiquei pensando se não havia passado dos limites com esse pedido. Quem eu pensava que era, pedindo para ela fazer isso a essa hora da madrugada! Onde estava minha noção e bom senso?

Apaguei o celular outra vez e coloquei debaixo do travesseiro, aceitando que eu já havia batido minha cota de “webnamoro” do dia com a Emily e olhei para o teto quase que invisível pelo breu do meu quarto e fiquei ali imóvel com medo de fechar os olhos e adormecer outra vez, porque isso poderia significar mais um pesadelo, e eu não tinha emocional para outra dose de sofrimento intenso.

Contudo, eu senti a vibração sob minha cabeça. Rapidamente virei meu corpo e me apoiei nos cotovelos na cama, retirando o aparelho de onde havia colocado e dando um pequeno sorriso ao ver a notificação na tela

[Nova mensagem de Minha poeta]

Eu abri, e, para meu extremo agrado e surpresa, havia um áudio de 57 segundos. Esqueci que o chão estava frio e corri para colocar meus pés para fora da cama, ignorando o gelado do porcelanato em contraste com meu corpo febril. Procurei os fones na gaveta da mesinha e depois de tentar me guiar no escuro tateando o fundo da cavidade, encontrei. Voltei para a cama conectando o plugue no meu celular e colocando os fones no ouvido. Com meu coração batendo a mil, eu dei play no áudio da Emily.

Imaginei ela me dizendo alguma coisa cordial como um “boa noite, como vai?” ou me contanto qualquer causo do seu dia na faculdade. Na verdade eu aceitaria escutar qualquer coisa dela, mesmo que ela estivesse me recitando uma receita de pão de queijo ou simplesmente lendo o manual de instruções de montagem de um brinquedo de lego. O importante era ouvir sua voz, não importava o conteúdo, qualquer coisa bastava.

Mas Emily Dickinson não é o tipo de pessoa que entrega as coisas pela metade, ela não é previsível, ela sempre mostra sua melhor versão e surpreende a todos. Mesmo nesses meses de convivência eu ainda não estava acostumada com sua imensa habilidade de ser extremamente perfeita em tudo o que faz. Logo escutei o que ela tinha para me dizer. Mas não era uma conversa, ou um recado, ou palavras jogadas.

Era uma música. Emily me mandou um áudio cantando. Ela estava cantando para mim. 

Try not to let the burn become a scar

What's left of me is only broken parts

You take the pretty and color it dark

My only grievance is a broken heart

Escutei a primeira parte imersa na sua voz suave, seus sussurros cuidadosos que havia emitido porque possivelmente não queria ser ouvida por mais ninguém, mas já era o suficiente para eu ouvi-la e me deixar levar pela melodia e sua potência vocal. Ela era a pessoa mais talentosa que já havia pisado nessa terra.

When you finally find yourself

Tell him I said, Tell him I said

When you finally find yourself

Tell him I said, Tell him I said

Goodbye

Terminei seu áudio, foram 57 segundos da sua voz cantando para mim, mas que podiam me curar por uma vida inteira. Ela era perfeita demais, eu não tinha palavras. Não sabia o nome daquela música, mas eu a conhecia, nós já havíamos escutado uma vez no intervalo das aulas da faculdade quando dividimos os fones, era da sua banda preferida, Echosmith. Eu não costumo escutar muita música, sempre toquei mais música clássica, mas como adorava fazer qualquer coisa com a Emily, três minutos sentadas juntas uma do lado da outra era o meu programa preferido. E essa lembrança me deu saudades, quando poderia voltar para faculdade para repetir essas atividades com ela? Quando a veria outra vez?

Coloquei o áudio para reproduzir mais uma vez, sentindo que as partes quebradas do meu coração estavam se colando, pelo menos momentaneamente. E senti algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto mais uma vez, mas dessa vez não era de tristeza, era de um sentimento terno e confortável que apenas seu canto conseguia me proporcionar. Seu poder de me tirar do fundo do poço, limpar meus trapos e colocar paz no meu peito mesmo à distância era coisa de outro mundo.

04h00: obrigada por isso, Em. Você é a melhor namorada do mundo ❤️❤️❤️❤️❤️❤️

Mesmo eu não sendo de mandar muitos emojis — essa característica era da Emily —, eu não me segurei no envio dos corações, se pudesse eu enviaria o meu para ela também, mas a tecnologia ainda não estava avançada nesse nível, porque se fosse possível eu me enviaria para a sua casa e ficaria com ela até o amanhecer.

Descobri que sua voz sussurrando a música era meu novo vício, então coloquei aquele áudio em um looping e me deitei de novo. Dessa vez fechei os olhos sem medo de ter pesadelos, porque adormecer com a voz da Emily era uma terapia, impossível de se ter um pensamento ruim enquanto a escuto.

“Tente não deixar a queimadura se tornar uma cicatriz

O que sobrou de mim são apenas partes quebradas

Você tira a beleza e a pinta de escuridão

Minha única queixa é um coração partido”

 


Notas Finais


Até a próxima :)


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