Liverpool possui regras não faladas que todos seguem. Ao amanhecer todos seguem suas vidas normalmente, não há nada a temer, , de tarde, já se podem ver alguns apressando para suas casas; de noite, raros são os indivíduos corajosos — ou possivelmente tolos — que se aventuram sob a escuridão dissimulada da cidade.
O relógio da cidade bate, anunciando o horário: duas horas da manhã. Sumi Collins estava sentada em um banco de um parque, iluminado somente por um poste falho, que de tempos em tempos falhava, deixando a escuridão ameaçadora cobrir a garota, porém a mesma se mostrava alheia a qualquer medo.
— Parece que aquele homem estava certo… a noite não é de se temer enquanto eu estiver próxima da organização… — Sumi diz, tomando a visão para uma pulseira em seu pulso, seus olhos se fecham levemente. Enquanto encarava seu adereço, mudava sua expressão lentamente para uma um tanto preocupada.
— Tenho que me apresentar às seis horas, então tenho quatro horas… talvez consiga dormir essa noite, afinal.
A garota se estende até abaixo do banco, pegando uma grande mochila, a qual não tinha muitos itens dentro de si, porém mesmo assim, era tudo que tinha. Sumi pega a mochila, coloca a mesma em um canto do banco e se deita nele, preparando-se para dormir mesmo que ficar vulnerável a noite fosse algo que nunca tivesse feito. Demorou para cair no sono.
A próxima coisa que ouve é um barulho de alarme vindo de sua mochila. A moça se levanta ainda com sono, abrindo sua mala e o desativando. A garota considera voltar a dormir, mas se lembra de algo importante, assim, olha para o horário e confirma que tem que se apressar. Analisa seu redor: poucas pessoas, todas uniformizadas, estavam andando até uma construção. Alguns olhavam estranho para a garota, disfarçando conforme a caminhada, porém não era surpresa, visto que havia dormido em um banco público.
Sumi pega sua bolsa e anda até essa enorme construção. Chegando na entrada, para por poucos segundos, olhando maravilhada para a enorme logo “Instituição de Kennedy”; recupera-se, andando para dentro do edifício, sendo atendida por uma secretária quase que imediatamente.
— Olá, posso lhe ajudar, garotinha? — diz, ela, olhando para Sumi de cima a baixo.
— Eu tenho que usar o banheiro, você acha que é possível..? — responde a adolescente com uma expressão neutra, recôndito com desânimo.
— Claro docinho, é naquela direção à direita — aponta para um corredor de muitas portas e poucas janelas.
Sumi agradeceu brevemente e seguiu na direção. Assim que crê que a garota não está a olhando, a mulher faz um olhar confuso e cochicha algo no ouvido de uma outra atendente, mas para Collins pouco importava. Ao chegar no banheiro olhou-se no espelho: cabelos brancos bagunçados, a esclera de seus olhos azul claro, vermelha, além de sua pele coberta com uma fina camada de sujeira — não era surpresa, afinal dormiu na rua — todavia, para si era algo familiar.
Sumi logo faz uma feição determinada ao seu reflexo, em pouco tempo abre sua mochila; dentro dela, uma conjunto de roupas sociais, junto de poucos produtos de cabelo e pele, deixou a roupa de lado, pegando os produtos e, tentando ser veloz, arruma-se. Logo já estava um tanto apresentável, pelo menos na medida do possível. A de cabelos brancos finalmente agarra as vestes formais, observando-as relutante, não estava acostumada a usar roupas dessa natureza, evidente pelo seu vestido azul claro, ainda sim trancou-se a um toalete e pôs-se a vestir as roupas descoradas, enxergou-se no espelho paralisada por poucos segundos, surpresa com o resultado das roupas, logo saiu do banheiro, após essa transformação parecia bem mais profissional e pertencente ao local, apesar de ser somente uma falsa silhueta de seu traje.
Retorna ao corredor, andando até a entrada novamente; chegando lá, tira do bolso de sua mochila um cartão completamente preto se não pela escrita prateada “Instituição de Kennedy - Divisão Z”, Sumi coloca-o no sensor, sendo aceito, entrando no local hesitante. Ao mesmo tempo, aproveita para olhar o horário: seis horas e vinte nove minutos, no próximo piscar de olhos, seis horas e meia, instantaneamente sua pulseira começa a vibrar, era algo que sabia que ia acontecer mas ainda a deixou desconfortável.
Não perdeu tempo, correu para o pátio evitando a multidão de funcionários de passos leves, estava ciente que não podia se atrasar. Todas salas da instituição estavam lotadas de todo tipo de funcionários, a única coisa os mantendo semelhantes eram seus uniformes, até as funções mais baixas usavam a mesa incolor, aos olhos da garota apressada, não havia diferença em suas identidades. Logo, chegou na frente de uma grande porta, com alguns funcionários entrando junto dela e assim que o fez, sua pulseira parou de vibrar. Com um suspiro aliviado, Sumi adentra o local: uma sala enorme com uma grande quantidade de bancos, a maioria ocupados. Senta-se em um qualquer no meio da sala, à sua frente apresentava-se um palco cheio de guardas ao fundo e um microfone no centro, pouco tempo depois, três pessoas chegariam ao palco, em passos lentos, porém conforme faziam, todos na plateia ficavam em silêncio e com uma atitude mais séria diante a presença.
Um homem velho, com uma curta barba e cabelos brancos porém ainda sim bem cuidados, aproximou-se do microfone, dando inicio ao seu discurso, os que o acompanhavam, um homem e uma mulher, aguardam ao seu lado um pouco para trás, garantindo a segurança do homem, mesmo que não estivessem com quaisquer armas.
— Bom dia, novos funcionários! Deve ser chato estar a essa hora da manhã ouvindo um velho falar, mas espero que prestem atenção — solta uma curta risada.
O homem continua seu discurso, acolhendo os novos funcionários da instituição enquanto apresentava as regras do local, porém para Sumi pouco importava o que ele falava, apenas olhou para o lado ignorantemente, enquanto deixava sua mente divagar com incontáveis perguntas.
Quando se deu conta, o discurso já estava ao fim, logo se tornaria oficialmente uma funcionária da Instituição de Kennedy. Olha novamente para o velho, porém seus olhos a levariam para as duas pessoas atrás do mesmo, a mulher, de lindos cabelos e olhos azuis escuro e um curto sorriso simpático em sua face, sua própria presença já era acolhedora por algum motivo; porém seu foco era no homem, usando roupa formal, tinha um cabelo curto e olhos da cor da noite, era alto e um tanto atraente, mas para Sumi a única coisa que importava era que o conhecia, bem como aguardava um momento que conseguisse falar com ele o quanto antes.
Wade Wharton... o homem que ao mesmo tempo lhe destruiu e lhe salvou, a primeiro julgamento acreditava que ele era o culpado pela severidade do julgamento da instituição a si, logo seria o único que ficaria ao seu lado, suportaria uma infinidade de olhos de depreciação somente para lhe dar a oportunidade de livrar-se das consequências de seus feitos.
Só parou de lhe encarar quando percebeu que as pessoas ao seu redor já estavam se levantando, prontos para sair da sala. Sumi então olhou ao redor confusa, levantando-se lentamente e procurando novamente para o homem, o qual não estava mais no mesmo local, e sim saindo da sala por uma porta qualquer enquanto conversava com a mulher de cabelos azuis. A moça tenta correr para o encontro dele, mas pela quantidade de pessoas não consegue o alcançar a tempo, perdendo-lhe de vista; desapontada, anda na direção que saiu, na esperança de que talvez o encontre. Anda por alguns corredores até chegar ao “pátio D”, já esteve lá antes, é onde as bases de algumas divisões ficavam.
“Se me lembro bem Wade faz parte de alguma divisão… mas não me lembro qual..!” Pensa Sumi, mas logo seu pensamento é cortado por uma voz a chamando.
— Veja se não é Sumi Collins… ouvi dizer que você conseguiu um trabalho aqui, jamais esperaria que fizessem isso com um Caído como você, talvez Wade se tornar o líder da divisão Z tenha sido um erro afinal — um homem chega de um corredor ao pátio e assim que avista a garota, olha aos seus arredores garantindo que ninguém o escutava e fala tais palavras com um curto sorriso.
A sua frente um homem alto de cabelos loiros e óculos olhava atentamente para a garota com um sorriso malicioso e olhar pretensioso. Sumi já tinha se acostumado com essa atitude, notou rapidamente as más intenções do homem, entretanto ao invés de recuar, continuou parada, talvez ele falasse algo que devesse ouvir…
— Quem… é você? — Sumi, com uma expressão nula, ouve o que o homem tem a dizer, talvez conseguisse perguntar a ele onde está Wade ao final, apesar de duvidar que conseguisse.
— Elliot Castillo, líder da Divisão S, acho que seremos colegas de trabalho — O homem solta uma curta risada — porém acho que não por muito tempo… ambos sabemos que você não deveria estar aqui, não é?
A garota olha para os olhos de Elliot por pouco tempo antes de direcioná-los para baixo desapontada.
— Sim, você está certo… infelizmente não foi minha escolha vir aqui, e creio que não possa sair agora — Collins suspira, enquanto fecha os punhos.
— Escute-me: não quero você causando problemas por aqui, todo mundo já tem obrigações demais, ninguém deseja cuidar de uma garota rebelde, entende? — Elliot cruza os braços.
Uma voz grossa ecoou pelo pátio: "Elliot!", seguido de um homem alto e musculoso que anda até os dois, um tanto irritado, ambos reconhecem ele: Wade Wharton, líder da Divisão Z, estava furioso.
— O que você está fazendo implicando com Sumi? Pensei que tínhamos concordado que ela era minha responsabilidade, ou você irá contra seus superiores?
Elliot muda sua expressão para uma um tanto irritada, caso Wade decidisse denunciá-lo para seus superiores poderia ser punido, desse modo, faz menção de sair, sem antes colocar sua mão no ombro do homem e falar em seu ouvido:
— Você não sabe o que está fazendo… trate de cuidar dessa garota — e então, sai do local, sem aguardar uma resposta.
Wade fica um pouco abalado com o que Elliot disse, mas logo vira sua atenção para Sumi.
— Ignore-o, você está bem?
— Sim… estava te procurando.
— Imaginei — Wade estende sua mão a ela, ao abri-la revela chaves em um chaveiro, com formato de um gato tigrado de cor alaranjada, às quais oferece para a garota —. A instituição tem apartamentos reserva, consegui arrumar um para você.
Surpresa, Sumi pega as chaves, sabia que Wade ia buscar uma moradia a ela mas não tinha expectativas muito altas, e para sua situação atual, pouco importava a qualidade do local, já estava satisfeita.
— Obrigada… você está fazendo todo esse esforço por mim, por quê? Percebi que você se colocou contra a vontade dos seus chefes várias vezes durante o meu "julgamento".
— Fiz o que achei certo… mas não ache que pegarei leve contigo somente porque é um caso especial, quando estamos no trabalho, temos que trabalhar — expressou Wade com uma voz estrita, porém Sumi já sabia disso e não esperava o contrário, respondendo apenas com um curto "Sim" —. Vejo que as roupas que te arranjei couberam, isso é ótimo, evite chamar atenção, alguns já estão preocupados quanto a você.
— Percebi… ainda mostrarei meu valor, seja cuidando de caídos ou até expondo a Corvo de Sangue… pouco me importa desde que consiga lhe devolver o favor.
Wade abre um curto sorriso de aprovação e então coloca a mão na cintura.
— Certo… então está pronta para conhecer os outros membros da Divisão?
Sumi acena com a cabeça e então segue o homem para uma sala cuja porta tinha as palavras "Divisão Z - Apenas entrada autorizada", com o cartão de Wade, a porta se abre, e apesar de preocupada, Sumi abre seus olhos determinada e encara a luz ofuscante da sala, ainda tinha muitas dúvidas e medos, mas sabia que teria de enfrentar seu futuro alguma hora, e independentemente do que a aguarda, terá de superar.
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