CUIDADOS ❥
Sexto.
– Encontrei vocês! – Mikoto disse dando algumas gargalhadas, Sakura a olhou espantada, estava tão hipnotizada pelos olhos intensos de Sasuke enquanto conversavam sobre trivialidades – e um beijo ou outro acontecia durante a conversa leve e descontraída – que ela não percebeu a presença de mais alguém ali, tampouco seu companheiro com seus sentidos aguçados, era como se só existissem os dois no mundo e tudo ao seu redor tivesse sido dissipado, Sakura pode notar as bochechas de Sasuke rubras, talvez pelo frio ou por ter sido pego como um adolescente com sua amada às escondidas pela mãe. – Estava procurando vocês para irmos embora, está muito frio. – Reclamou passando a mão rapidamente nos ombros e braços a fim de aquecê-los.
MIkoto então aproximou-se dos dois estendeu ambas as mãos e deu um puxão leve em suas orelhas arrancando gemidos de dor e uma gargalhada de Sasuke, ao ouvi-lo rir daquela maneira Mikoto percebeu como sentia falta daquele som, como música aos seus ouvidos, continuou os puxando até soltá-los para que pudessem andar com maior liberdade ao som de lamúrias de ambos os danadinhos.
Sakura estendeu o braço a Sasuke que não aceitou de primeira para seu espanto, ele tateou seu braço até chegar à mão da moça que não conseguiu conter o sorriso ao entrelaçar seus dedos aos dele, a sensação era diferente, sentia a mão dele encaixar perfeitamente na dela, andavam juntos como dois namorados, por mais que não fossem ainda, ela sentia que isso podia acontecer, ou já estava acontecendo, não sabia ao certo, sua mente estava um turbilhão de pensamentos e emoção, e por mais que aquele sentimento a tenha assustado a princípio beijá-lo fez com que seus temores fossem embora, abrir-se com ele deixando-o conhecer uma parte de si tão íntima e podendo ver o que havia por trás daquela imensidão negra que eram seus olhos lhe deu a certeza que ela queria aproveitar de tudo o viesse sem pensar muito em consequências ou efeitos colaterais, viveria aquilo se jogando de cabeça mesmo sem saber se era fundo o suficiente.
– Sakura? – Mikoto a arrancou de suas divagações com uma voz apreensiva, carregada de incerteza. – Preciso que me desculpe por hoje... – Sem entender onde ela queria chegar Sakura franziu o cenho – Não quis que mentir sobre a relação que você e meu filho mantém, mas ao fazê-lo os coloquei em uma saia justa, a verdade é que eu não soube como apresentá-la, qualquer coisa parecia inadequado para o verdadeiro significado e importância que você têm para nós... – Ela sem jeito como quem tivesse ensaiado antes para conseguir escolher as melhores palavras possíveis, algo que Sakura nunca presenciou nesse tempo que a conhecia.
– Você é mais do que isso para nós dois – pigarreou – por mais que esse cabeça dura não diga.
– Ei, mãe – Sasuke protestou arrancando um riso de Haruno – você deveria defender meu lado. – Mikoto deu de ombros o ignorando.
– Não se preocupe Mikoto, eu entendo, está tudo bem pra mim. – Sakura disse por fim com um sorriso e lançou um olhar a Sasuke que também sorria apertando um pouco mais sua mão dando a ela uma tranquilidade que há muito não sentia.
▪ ▪ ▪
Quando chegaram ao apartamento, Mikoto despediu-se dos dois com um beijo e um braço apertando-os contra seu corpo.
– Estou cansada, mas imensamente feliz – sussurrou – como há muito tempo não estive. Obrigada. – Colocou o dedo indicador na testa de Sakura e em seguida repetiu o mesmo com seu caçula, Sakura o olhou e nos olhos do jovem homem pode ver lágrimas escorrerem, ele abraçou a mãe com tanta força quanto foi possível.
– Boa noite mamãe... – A doçura na voz de Sasuke fez com que Sakura ficasse comovida com aquele momento afetuoso entre mãe e filho.
– Boa noite. – Sussurrou baixinho para não atrapalhar aquele instante.
Ela virou-se os deixando, estava exausta e tudo o que precisa naquele momento era de sua cama, Sakura seguiu pelo corredor deixando Sasuke em seu quarto, próximo à cama, agarrou sua mochila com seus itens pessoais.
– Boa noite. – Ela sussurrou de maneira doce, se inclinou na direção do rapaz beijando-o nos lábios igualmente gentil como suas palavras.
– Boa noite. – Ele sibilou entre um beijo e outro.
Sakura o deixou em seu próprio quarto que apesar de poucos centímetros do que seria o seu naquela noite foi uma tarefa dolorosa e incômoda, cada parte por menor que fosse de si desejava os braços dele ao seu redor, o calor de corpo e hálito em seu rosto enquanto se beijavam, tão perto e tão longe, conhecendo a casa foi para o quarto de hóspedes que foi reservado a ela, ao abrir a porta viu um cômodo confortável, mesmo não sendo um dos aposentos principais era maior que seu pequeno quarto no seu apartamento, havia ali dentro uma cama, cômoda e uma mesinha de cabeceira com um abajur ao lado da cama, com lençóis e toalhas limpas, como tudo naquela casa emanava uma atmosfera de “seja bem-vindo, fique quanto quiser, venha sempre que puder”, não pôde deixar de sorrir..
Acomodou-se sentando na cama confortável, seu dia havia sido o perfeito, melhor do que em seus melhores sonhos, beijara o homem ao qual estava apaixonada e que acreditava ser inalcançável, ao conhecê-lo melhor percebia que ele era tão frágil quanto ela própria e precisava amar e ser amado e se ele estivesse disposto a se abrir como hoje ela o amaria, amaria por todos os seus dias.
Os amigos, a gentileza de Mikoto, a refeição, a decoração, as canções, ficaria a noite inteira enumerando o que lhe encantara aos olhos e ao coração e ainda assim não seria suficiente para exprimir toda sua alegria nesse instante, todos gentis e amáveis, ela nunca havia tido um natal como aquele, seu sorriso foi dando lugar a uma expressão triste conforme as lembranças invadiram seus pensamentos.
▪ ▪ ▪
– Sakura – Mebuki chamou sua atenção – coma um pouco mais rápido. – Disse um pouco ríspida fazendo Sakura fazer uma cara de choro, ela engoliu o pedaço de panqueca com calda em uma garfada quase engasgando.
– Desculpe mamãe, estou tentando. – Mentiu enquanto terminava de engolir o enorme pedaço em sua boca tão pequena, era dia de Natal queria passar o máximo de tempo possível com sua mãe, mas sabia que não poderia, aquela era uma das muitas coisas que ela não entendia, sua mãe sempre dizia que quando ficasse mais velha tudo o que era confuso deixaria de ser, mas ela tinha certeza que aquilo ainda seria difícil de entender.
– Não fique assim meu amor. – Percebeu que havia sido rude com seu pequeno anjo, passou a mão em seus cabelos fazendo um carinho que arrancou um sorriso da jovem garotinha que não alcançava o chão da lanchonete – mamãe precisa trabalhar você entende não é mesmo? – Sakura assentiu com a cabeça por mais que não entendesse não queria magoar sua mãe. – Se quiser, pode pedir algo a mais para levar para casa além do sanduíche de peru, quer bolo de chocolate?
Os olhos de Sakura brilharam, Mebuki lançou um sorriso cúmplice para filha, normalmente não podiam se dar ao luxo de algo assim, economizava bastante cada centavo, mas era Natal, ela não precisava dizer coisa alguma seus olhos falavam por ela, pediu para a garçonete um pedaço de bolo para levar para a viagem, comeram um pouco apressadas pediram a conta e saíram juntas de mãos dadas da lanchonete.
Mebuki olhou para o horário, seu olhar era de pesar, pisou forte no chão contrariada as sandálias bateram com força no chão de concreto, não poderia sequer levar a filha em casa e colocá-la para dormir, quis chorar, mas não podia a menina ia chorar também e não seria bom, a despedida iria se tornar ainda mais complicada e ela não queria problemas, respirou fundo engolindo a vontade que a consumia.
– Eu tenho que ir. – Inclinou-se dando um beijo estalado na testa de sua filha. – Consegue voltar sozinha? – Sakura confirmou, despedindo-se de sua mãe.
– Eu te amo mamãe pra sempre e sempre. – Mebuki sussurrou de volta seguindo seu caminho dando um olhar ou dois para trás verificando se sua filha estava bem.
Sakura estava feliz com seu sanduíche em uma das mãos e o bolo em outra, por mais que sua família não fosse como as de mais e ela não entendesse como isso funcionava nunca trocaria o que tinha pelo o que outros têm, sua mãe era seu bem mais precioso e único.
Aquele foi o último Natal que passaram juntas.
▪ ▪ ▪
Sakura balançou a cabeça tentando afastar aquelas lembranças, amava lembrar-se de sua mãe, já que nada restou desde que ela se foi sequer uma fotografia, tudo o que sabia e tinha a seu respeito eram suas lembranças, mas nem sempre eram as melhores possíveis, quase sempre terminavam em lágrimas.
Depois de um banho relaxante com água quente – um luxo que ela não tinha em seu pequeno apartamento – adormeceu, um sonho agitado depois de tantas recordações foi impossível fazer com que seu subconsciente não lhe pregasse uma peça e naquela noite ela reviveu seu o pior dia de sua vida.
★
– Mamãe? – Sakura gritou ao presenciar sua mãe cair no chão quase inconsciente enquanto conversavam sobre algo banal, ajoelhou-se colocando sua cabeça em seu colo, acariciando seu rosto notando seu maxilar rijo e espasmos musculares que a fazia mexer-se dando a entender que podia ser uma brincadeira. – Mamãe? Por favor, fala comigo, não brinque assim. – Implorou e teve apenas o silêncio, o corpo de sua mãe estava de um jeito que ela nunca presenciou, mas sua mente jovem e sem malícia não conseguia entender o que acontecia. – Eu prometo me comportar, mas não me deixe.
Lágrimas inundavam seus olhos e caíam sobre a face de sua mãe.
– AJUDEM. – Gritou, gritou mais algumas vezes até quase sentir as cordas vocais não aguentarem e percebeu que ninguém viria porque ninguém se importava com as duas, nem um vizinho ou um amigo, não tinham nada além uma da outra e agora Sakura estava só.
★
– Sakura, acorde. – O timbre familiar da voz arrancou Haruno de seus pesadelos, ela subitamente abriu os olhos encarando a imensidão da escuridão que a engolia, estava trêmula e assustada, por mais acordada que estivesse era como se ainda estivesse sonhando, se ela fechasse os olhos conseguia ver o corpo de sua mãe caído, podia sentir as garras dos policiais a tirando de lá enquanto gritava com todo seu fôlego, a mesma dor na garganta após horas de grito e choro, as pessoas a olhavam com pena, mas ninguém teve pena enquanto ela gritava desesperadamente por socorro, ninguém quis se envolver, ela abraçou desesperadamente a pessoa a sua frente sem pensar muito e chorou como uma menininha, uma menininha que perdera a mãe e ainda tinha pesadelos frequentes com seu corpo gélido e fétido em estágio de decomposição em seu colo.
– Eu tô aqui com você agora. – Sasuke sibilou calmamente com a voz aveludada acarinhando as costas da jovem com sua mão esquerda em movimentos circulares tencionando a acalmá-la, ele não era bom nisso, subiu a mão até atingir os longos cabelos fazendo cafuné, deixando-a chorar por mais que a dor dela o afetasse também.
– O que faz aqui? – Questionou confusa sem sair dos braços acolhedores do homem que estava incondicionalmente apaixonada, sentia-se segura ali.
– Eu levantei para beber água e então ouvi seus gritos – ele explicou com calma enquanto a mantinha tão junto de si quanto fosse possível – nem mesmo minha condição me deixou tão cego de dor quanto seu desespero, eu tive medo de que algo acontecesse mesmo sabendo que você estava tão próximo de mim. – Ele soltou um suspiro. – Eu não queria te perder também.
– Obrigada... – A única coisa que conseguiu dizer, as palavras dele a fez ficar balançada e sua presença ali fez com que seu despertar não fosse ainda mais desesperador que seu sonho em si, ele estar junto dela afastava a sensação de solidão.
– Você precisa descansar – Sasuke sussurrou cheio de doçura próximo do ouvido da jovem lhe provocando um arrepio que eriçaram todos os pelos do corpo, deixando-a corada, naquele momento agradeceu aos céus por estar com sua face enterrada no peito do homem para que ele não visse o que conseguiu provocar só com seus sussurros – deve estar exausta.
– Não – balançou a cabeça negativamente – eu não quero dormir, não agora. – Por mais que quisesse teve medo que quando ele saísse por aquela por todas as lembranças ruins voltassem para assombrá-la e arrancar a paz que ele havia deixado antes de ir.
– Tudo bem então – ele assentiu – eu fico aqui com você até que pegue no sono. – Ela o abraçou ainda mais apertado sem acreditar no que ele havia proposto.
Ele deitou-se e nesse momento o vendo ali nada mais podia machucá-la, sua presença reconfortante, seu humor ácido e seu gênio forte poderiam espantar qualquer coisa que viesse atingi-la, deitou-se ficando de costas para ele, relutante sobre o que viria a seguir, nunca dormiu com um homem antes, mas não teve medo porque era ele e ele jamais a machucaria, ou faria algo contra sua vontade.
Ele levou as mãos tímidas à cintura da moça abraçando, mas mantendo uma distância segura para não assustá-la, envolveu-a com seus braços sentindo seu corpo frágil e delicado, seu cheiro era como uma droga completamente viciante.
– Qual sua comida preferida? – Ele perguntou quebrando o silêncio, Sakura ergueu a sobrancelha segurando o riso, aquilo era inesperado, mas lidar com o Uchiha era isso, imprevisível e ela o amava por isso.
– Qualquer coisa que não seja picante. – Sakura fez uma careta, aconchegando-se nos braços do rapaz aproveitando aquele momento único, não havia lugar algum no mundo em que ela quisesse estar que não fosse ali com ele.
– Comida picante é boa. – Murmurou decidido.
– Não quando você vomita no seu sapato novo. – Sasuke soltou uma gargalhada, Sakura revirou os olhos lhe dando uma cotovelada, fazendo-o rir ainda mais.
– Lá vem você bater em um homem cego.
– Quando se trata de você e de mim isso não vale. – Sakura decidida resmungou, Sasuke bocejou. – Está cansado? – Sussurrou.
– Um pouco, mas não interessa, fico com você. – Ele levou a mão até a dela entrelaçando os dedos um no outro, ela sorriu, era uma sensação maravilhosa.
– Tenho medo de dormir... – Confessou sem jeito não acreditando que teve coragem para falar aquilo a ele.
– Por quê?
– De nada disso ser real – ela soltou um suspiro padecido, apesar de poder parecer ser boba com aquilo, mas havia dito tantas coisas a ele que aquilo pareceu ser o de menos – coisas boas não costumam acontecer comigo.
– Nem comigo. – Ele confessou para a surpresa dele.
“Talvez ele me entenda como ninguém jamais iria entender”.
– Mas você apareceu e mudou isso... – Sasuke a abraçou ainda mais apertado, ela era como um sonho, um sonho difícil de acreditar que fosse real, aceitando-o em sua condição, não o julgando pela maneira como lidava com as situações do dia-a-dia que o angustiava e principalmente o amando, sim, Sasuke Uchiha sentia que Sakura Haruno o amasse, porque somente amando para aguentar suas oscilações e estar ali para ele e com ele.
– Sasuke... – Ela sussurrou emocionada.
– Sakura. – Beijou os cabelos da moça. – Durma.
– Mandão. – Ela disse com um biquinho fingindo aborrecimento.
– Sempre. – Ele sorriu de canto, sem perceber os dois adormeceram nos braços um do outro, naquele dia Sakura não teve pesadelo algum tampouco Sasuke.
Quando Mikoto acordou no dia seguinte não conseguia deixar de sorrir, sua casa aos poucos voltava a ter o brilho um outrora tivera, espreguiçou-se ainda exausta, o dia ontem havia sido longo, não estava mais habituada com tantas pessoas, a leveza de sair com seu filho, poder reencontrar velhos amigos, não pisar em ovos, como se nada tivesse acontecido de ruim ou pelo menos tivessem ambos aprendido a lidar com o que ocorreu e deixar o passado que não voltaria mais pra trás.
Olhou para a foto do marido na mesinha de cabeceira, o homem mais belo que já conheceu e nada nem ninguém mudaria isso.
– Oh, nosso menininho está crescendo. – Sasuke já era um homem, ela não podia negar e sentia muito orgulho do seu pequeno, mas depois do que lhe aconteceu ele teve que reaprender tudo principalmente a viver.
Lançou um olhar para a janela e pode ver a neve que caía, estava faminta, calçou suas pantufas macias e confortáveis, colocou um robe de cetim na cor preta que ressalta ainda mais sua beleza e seus traços marcantes, caminhou calmamente pelo corredor ao ver a porta do quarto de hóspedes aberta decidiu chamar Sakura para lhe fazer companhia, definitivamente gostava muito daquela garota, ao chegar no quarto a cena que viu foi impactante e tocante, Sasuke e Sakura abraçados enquanto dormiam com uma expressão de paz plena como duas crianças protegendo a outra dos trovões que no caso dos dois eram muito mais assustadores seus horrores que o tempo lá fora, sorriu encantada, fechou a porta e deixou que eles pudessem descansar um pouquinho mais para poder perturbá-los o dia todo mais tarde.
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