"Não existem segundas chances, porque nada volta a ser como era antes. Depois que algo é quebrado sempre vão existir marcas que vão provar que algo esteve errado." _ Caio Fernando Abreu.
_ Quanto tempo eu fiquei apagado? - Tony tinha tubos enfiados no nariz e no braço. Ele se sentia fraco, exausto até.
Rhodey sentou na cadeira disposta ao lado da cama.
_ 4 dias. - disse simplista.
_ Thanos... Ele chegou... - Stark parou para respirar, o simples ato de falar exigia muito esforço e causava lhe um cansaço imenso.
_ Não se esforce tanto. Você chegou quase morto e teve duas paradas cardíacas, antes de conseguirem te estabilizar.
_ Rhodey...
_ Sim, Thanos esteve aqui e pegou a joia do Visão... Isso foi a mais ou menos um mês, Tony. Todos achavam que você tinha morrido.
_ James...
_ Sim, Tony?
_ Peter... - foi apenas um sussurro, antes de Anthony adormecer sobre o efeito dos remédios.
Rhodey levantou passando a mão no rosto, a fim de tentar espantar a exaustão que o assombrava.
_ Como ele está? - Steve, que até então estava esperando do lado de fora, surgiu na porta do quarto B2, na ala hospitalar do complexo dos Vingadores.
_ Destruído. Acho que Peter está entre os que se foram... - ditou olhando para o amigo sobre a cama mais uma vez – Estou com medo, Steve. - o negro passou a mão na face novamente. Sua expressão e era uma mistura de fadiga, nervosismo e preocupação.
Rogers se remexeu incomodado.
_ Desde... Bem... Você sabe... Já tem um tempo que o Tony não está bem. Mas ele estava tentando, sabe? Mesmo depois do que houve na Sibéria... Ele continuou tentando e aquele garoto o ajudou com isso. Eu finalmente vi meu amigo feliz de novo. Tranquilo, até. Sem a ajuda das drogas ou do álcool. E... - James respirou fundo – E eu não sei se ele consegue dessa vez, Steve. Eu realmente não sei. - desolado, o Tenente-Coronel deixou o quarto.
Steve permaneceu ali um pouco mais, observando o homem sobre o leito. Já tinha se passado tanto tempo...
*
[Steve – Memory On]
_ Tony, eu preciso... - Steve adentrou a oficina no lado leste do complexo, a procura de Stark.
Parou na porta quando percebeu que o homem que procurava não estava ali, aparentemente. “Isso é algo raro de se ver”, pensou o Capitão.
_ Aqui em cima, Cap. – Ele ouviu a voz do moreno vindo das escadas que davam para o terraço do prédio.
Rogers não demorou a encontrar o outro, que estava sentado confortavelmente no chão com uma garrafa de uísque pela metade.
_ Venha, aprecie as estrelas comigo. Quer um pouco? - Tony ofereceu o copo que estava em sua mão.
_ Não é cedo demais para beber? – brincou Steve, sentando-se ao seu lado e pegando o copo para tomar um gole.
_ Engraçadinho. - Stark bufou com o trocadilho.
O relógio de pulso caro marcava exatamente 3:20 da manhã. Teoricamente todos deviam estar dormindo, porém não era estranho de se ver agentes, doutores ou civis acordados ali. Os motivos eram diversos: desde a falta de sono, trabalhando acumulado, algum projeto empolgante ou ainda, a sombra de seus fantasmas e/ou culpa.
Desde que passou a morar ali, o Capitão notou que todas as vezes que Stark se hospedava no complexo, ele ficava acordado por quase toda madrugada. Fosse trabalhando em sua armadura ou em algum outro equipamento para a equipe. Mais de uma vez o flagrou debruçado sobre suas ferramentas, dormindo ou desmaiado em algum canto da oficina.
_ O que estamos comemorando? - perguntou Steve, já no segundo gole.
_ A nossa falta de sono, Cap. - Tony pegou a garrafa de uísque e bateu de leve contra o copo que o loiro segurava. - Tim-tim! - falou fazendo ambos rirem.
Rogers sorveu do liquido amargo, sentindo-o queimar a garganta. Stark pegou o copo da mão alheia e fez o mesmo, fazendo uma pequena careta no final.
_ Hmm.. Acho que acabei de te beijar, Picolé. - ele riu como um tolo, num claro sinal que estava bastante embriagado - Sua boca tem gosto de uísque importado barato. - Anthony riu mais um pouco – Droga eu não acredito que disse isso... Importado barato. Sacou a referência? - continuava entre risos.
_ Barato? - Steve ergueu a sobrancelha. - Pensei que fosse seu. - A fama do Homem de Ferro e seu gosto por coisas caras era conhecida no mundo inteiro.
_ Nãoooo - o moreno negou com veemência - Eu peguei na sala do Fury – sussurrou baixinho, como se contasse um segredo e voltou a ri.
_ Acho que já está na hora de dormir. Vamos, eu te levo. - falou o loiro sorrindo de canto, sentindo-se um pouco desconfortável com aquela conversa.
_ Sim, senhor! - Tony fingiu bater continência e riu um pouco mais - Não se preocupe Cap, já beijei piores. - ditou tentando se levantar e cambaleando para o lado.
Num reflexo o loiro o pegou, antes que Stark caísse chão.
_ Bem... Pelo menos você tem pegada. - brincou Tony novamente.
Steve rolou os olhos mais uma vez, habito que pegou do homem ao seu lado. Deixou o ar sair pesadamente e retornou a falar:
_ Vamos, eu te levo ao seu quarto.
_ Hmm só porque me beijou, acha que já pode me levar pra cama? Que safadinho... Saiba que eu sou difícil. Não durmo com ninguém no primeiro encontro. - As palavras saiam emboladas, por conta da embriaguez do moreno. - Mas... Por você eu posso abrir uma exceção. - Anthony piscou desajeitadamente, tropeçando em seguida.
_ Cala a boca Stark. - Rogers riu – E eu não te beijei. Agora vamos.
_ Que pena. - suspirou o bilionário sem perceber que deixava escapar aquele pensamento por sua boca. - Eu realmente queria você na minha cama.
Rogers parou e olhou para Tony mais uma vez. Agora ele estava bocejando e lutando para manter os olhos abertos.
_ Algo errado, Picolé?
_ Cala a boca, Stark.
_ Cala a boca voc...
Os lábios se chocaram de forma desajeitada, mas não demorou para que entrassem um ritmo harmônico. As línguas dançavam ladinas, como se conhecem de outros tempos, de outras eras.
_ Porra...
_ Olha a língua - disse um Steve tentando recuperar o fôlego.
_ Por que eu tô sonhando com você de novo? - Tony soltou sem pensar. Havia tanto álcool em seu sangue, que ele já não conseguia distinguir o que era realidade – Caralho, já até estou pensando em dá pra você! Devo tá ficando maluco. E... Porra... - ele passou a ponta dos dedos nos lábios - Você beija bem pra caralho.
Steve soltou uma risadinha. Segurando o moreno novamente quando este ameaçou desmaiar.
_ Eu sei – disse Rogers para o homem, que agora, entregava-se ao sono. O loiro jogou o por cima de seu ombro, para levá-lo de volta ao quarto – Você também disse isso na última vez, Tony. - sorriu.
[Memory off]
*****
O quarto estava escuro e seus olhos pouco conseguiam distinguir as formas dos moveis espalhados pelo cômodo. Sua cabeça borbulhava com as mais diversas cenas e pensamentos, causando uma dor aguda que espalhavam até seu peito. Tinha sido liberado da ala hospitalar aquela manhã e levado até o seu quarto por Nathasha. Soube pela loira que Nebulosa estava ajudando a equipe a procurar Thanos e que havia recebido um quarto no complexo dos Vingadores.
Como um filme, as lembranças começaram a se materializar diante de seus olhos e o choro, que tanto foi contido, rasgou sua garganta com força quando ele finalmente se viu sozinho naquela escuridão.
Tony gritou. Gritou de agonia, de dor e de tristeza. Seu choro desesperado, fazia seu corpo sacudir com os tremores; uma de suas mãos agarrava a camisa que lhe cobria o peito, enquanto a outra esmurrava a parede, tentando desesperadamente dissipar aquele tormento. Estava descontrolado.
"Ele se foi... Peter se foi... É minha culpa. É tudo minha culpa...", os pensamentos ecoavam em sua mente perturbada, misturada a imagem do adolescente sorrindo, da batalha e de sua morte. Aquele menino havia sido sua salvação, a luz e esperança de um futuro não tão amargo.
A dor o dilacerava. Tomava cada átomo do seu corpo, destruindo-os em fragmentos ainda menores.
"Eu o perdi. É minha culpa...".
Tony o amava. Amava seu menino gênio e tagarela como nunca pensou que conseguisse amar alguém na vida. A ideia de ser pai nunca havia passado por sua mente, mas com Peter a relação fora tão natural, tão certa... Que mais parecia um presente da vida. Depois de anos afundado em si e em todas as suas dores, ele havia conseguido subir a superfície e tragar oxigênio.
Tony Stark se transformara em um novo homem, uma melhor versão de si mesmo, despertada pela alegria contagiante e o falatório sem fim do jovem Parker.
Respirava com dificuldade, sugando o ar em meio ao choro e sons guturais que deixavam sua boca. Objetos eram jogados contra as paredes do quarto e móveis eram destruídos apenas com sua força bruta. Estava fora de si, finalmente se permitindo sentir toda a dor que reprimira por tanto tempo. O remorso o consumia, assim como a perda e a consciência de nada que fizesse, poderia consertar seus atos. Nada traria Peter de volta.
"É minha culpa..."
A porta foi arrombada e logo Tony se viu preso por braços fortes.
_ Me solta! - ele berrava.
A visão embaçada pelas lágrimas frenéticas que caiam, a dor de cabeça que o assolava, os vidros que haviam cortado lhe a pele... Nada se comparava ao desespero que tomava o âmago de seu ser. Ele apenas queria ser deixado em paz, fosse para morrer ou se afundar em seu luto.
_ Tony! – Steve o chamou, tentando trazê-lo de volta a razão.
_ Me solta! - ele se remexia e lutava contra os braços do supersoldado – Eu o matei! Eu o matei! A culpa é minha!
Rogers esperou até que o bilionário cansasse. Aos poucos o moreno parou de lutar, mas continuava a repetir:
_ A culpa é minha. Eu o matei... Eu o matei... Eu matei o Peter....
Steve sentiu um bolo formar em sua garganta e seu coração se comprimir do tamanho de uma azeitona. Nunca imaginou que chegaria ver Stark naquele estado. Agora deitado desajeitadamente, o grande Homem de Ferro chorava como uma criança em seu peito, enquanto chamava por Peter. O loiro podia ver fios se sangue sair dos ferimentos causados pelas coisas que foram arremessadas - cujo os pedaços deviam ter ricocheteado no moreno.
_ Eu o matei...
_ Não Tony. Você não o matou. Peter sabia o que estava fazendo. Ele foi corajoso... - Rogers finalmente conseguiu dizer, tentando ao máximo manter sua voz firme – A morte dele não é sua culpa. A culpa é de Thanos!
_ Mas eu o levei lá... Eu dei a ele o uniforme! Eu o trouxe pra tudo isso. Ele é só um menino...
_ Tony, Peter não era só um menino... Ele...
Bruscamente Stark se desvinculou dos braços fortes.
_ O que sabe sobre Peter?! - Berrou para o outro – O que sabe sobre mim?! - apontou para o próprio peito – Você foi embora! Você não sabe nada! Ele era uma criança. Minha criança! Eu devia protegê-lo. Era a minha obrigação! Então não ouse falar de Peter, seu traidor! Você não sabe de nada!
Os dois se encarava fixamente. Anthony parecia um animal enjaulado que fora gravemente ferido, pronto a sucumbir a loucura que a dor causava; enquanto Steve o olhava com pena e aflição. As palavras machucavam o soldado mais do que ele gostaria de admitir.
_ Tony... - Rhodey começou calmo. Em algum momento ele havia adentrado o quarto, e agora, postava-se entre os dois heróis – Se acalme... Não adianta perder a cabeça agora, okay? Vamos encontrar Thanos e acabar com aquele desgraçado. Peter não ia querer te ver assim. Ele te amava... Tony... - James finalmente conseguiu fazer o amigo encará-lo. Stark parecia mais perdido do que nunca e isso preocupou o coronel – Não podemos trazer o Peter de volta... Mas podemos vingá-lo. Então se acalme... okay? Pelo Pety.
_ Pelo Pety. - Tony repetiu assentindo.
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