Dazai sentia-se esquisito, mas não de uma forma ruim, só era um sentimento diferente, uma estranheza diferente. Tudo aquilo com Chuuya e Fyodor parecia demais para que pudesse processar.
Ele não fazia ideia de como aquilo pudera acontecer, de como Fyodor pode trazer algo assim para suas vidas. E era estranho que tenha aceitado tão bem aquela situação, aceitado que Chuuya gostasse de Fyodor também, e agora em sua mente, fazia sentido toda aquela conversa com Chuuya naquela madrugada, o ruivo não se importava se Dazai sentia algo por Dostoevsky também, e isso era de certa forma, confortável. E caso pensado com carinho, ele perceberia que também não se importava caso Chuuya gostasse de Dostoevsky também, isso porque ele amava Chuuya, e mesmo que os dois não ficassem juntos, ele continuaria tendo a companhia dele, e por fim, poderia dar seu amor ao russo junto dele.
Caso perguntado a alguém, diriam a Dazai que ele deveria confessar seus sentimentos por Chuuya, mas para Dazai, nunca seria tão fácil como “se confessar”, havia muito mais por trás que o impedia isso, e vinha principalmente de como e quando conhecera Chuuya, e também, de seus problemas com insuficiência.
Dazai ainda se lembrava do dia em que quis pregar uma peça em um professor, lembrava-se de quando o professor de educação física percebeu e no fim, ninguém rira de sua brincadeira, isso, exceto por uma pessoa: Chuuya.
Ele estava tendo educação física na outra metade da quadra, e Dazai pode jurar escutar alguém rir, e ao virar-se percebeu um garoto ruivo de olhos azuis, tão lindo como ninguém que ele já houvera visto antes, adorável com seus fios curtos e ruivos, que com o tempo, vieram a crescer. Dazai teve certeza que sentiu suas bochechas esquentarem, ele sorriu, mesmo que de forma inconsciente, sorriu alegre, grato, e bobo.
No entanto, com o tempo em que apenas o via de longe, a atenção de Dazai sobre Chuuya passou a diminuir, e ele acabou se esquecendo desse pequeno “gostar”, acabou se esquecendo de sua pequena paixão pelo ruivo de olhos azuis. Mas, sua paixão sumiu, apenas para que voltasse de forma forte na adolescência, quando por um trabalho em dupla ele voltou seu contato com Nakahara. Obviamente ele já havia percebido que o ruivo estava em sua sala, mas ele não se importava de primeiro momento, apenas achava cômico que ele estivesse em sua sala, não passou disso por um tempo. Mas ao conhecer Chuuya, saber mais sobre ele, em um piscar de olhos, ele se viu apaixonado, se viu com o coração por entre os dedos, preso aos olhos azuis do ruivo novamente.
Ele não era do tipo doce, ele era explosivo, de personalidade forte, mesmo que em alguns momentos ele demonstrasse sobre como poderia ser amável com Dazai. E bem, de início Chuuya era realmente amável, mas com o passar das semanas, meses, Dazai teve a graça de reconhecer a verdadeira personalidade de Chuuya, e ele não pode estar mais à mercê dele.
Eles cresceram juntos, estiveram juntos por muito tempo, se tornaram a família um do outro, Dazai já não podia mais enxergar a sua vida sem Chuuya, pois se aproximava a um momento, onde ele vivera mais com o ruivo, do que teve sua vida sem ele. Ter Nakahara tornou-se essencial. E Dazai não poderia arriscar perder Chuuya, não poderia arriscar querer ele.
E no fim, ele tinha medo que pudesse “infectar” o ruivo com sua melancolia. Tinha mais medo e receio do que nunca, isso depois de um acidente onde Chuuya encontrou-o quase morto, e bem, houveram muitos outros incidentes onde Dazai abriram os olhos dele e o fizeram perceber que se estivesse com o ruivo romanticamente apenas poderia puxá-lo para o seu poço de tristeza, percebera isso em uma noite, uma madrugada.
Dazai ainda lembrava-se de quando fora dormir na casa de Chuuya, ambos adolescentes. Após subirem as escadas depois do jantar, jogaram cartas e jogos de videogame, para por fim, Chuuya adormecer primeiro. Naquele dia, Dazai mostrara ao ruivo um de seus primeiros quadros de paisagem, Chuuya o elogiara, dissera que ele era bom naquilo, e o Osamu sentiu-se tão radiante que quis abraçar o amigo. Ele já havia recebido elogios antes, mas era tão diferente quando recebia um elogio da pessoa em que gostava pela primeira vez.
Ele pulou nos braços de Nakahara alegremente, fazendo-o confuso e perguntando diversas vezes o motivo da animação repentina, no entanto, alegre tal como o amigo. Dazai perdeu-se por longos segundos abraçado a Chuuya, até que em um dado momento o sorriso de seu rosto já não estava mais lá, e ele apenas conseguia aproveitar o momento, quieto, em silêncio, pois agora nem mesmo Nakahara dizia algo.
— Dazai? Você está bem? — Chuuya murmurou após um longo momento, sentindo o aperto de Dazai tornar-se mais forte. — Você não costuma abraçar por muito tempo.
— Estou bem.
— Se há algo que você quer desabafar, você pode me contar, sou seu amigo, lembra?
Dazai apenas estava alegre, mas por que Chuuya pensou imediatamente que ele estivesse triste? Era de seu feitio parecer apenas triste?
— Tenho medo que algo aconteça com você, se acontecer qualquer coisa, me conte, está ouvindo Osamu? — Chuuya reforçou, Dazai engoliu em seco e apertou o ruivo mais forte no abraço. Doía, doía mais saber que Chuuya parecia mais cuidadoso agora, depois de encontrar Dazai quase morto, doía porque ele não queria que Chuuya sentisse-se triste, doía porque ele não queria que Chuuya se preocupasse, ele não queria que sua vida fosse fundamental para Chuuya, porque ele iria embora logo, ele tinha que ir pois não suportava a si próprio.
Ele não queria que Chuuya continuasse o amando.
Ele sabia que Chuuya o amava.
Ele definitivamente sabia ele não era idiota.
— Você seria feliz se me namorasse? — Dazai murmurou, e neste momento Chuuya travou, começando a tremer enquanto seus dedos perdiam a força em volta de Dazai.
— Por que a pergunta?
— Você saberia lidar comigo Chuuya? — Perguntou, fazendo o ruivo engolir em seco. — E-eu não digo isso como se eu gostasse de você — mentiu, — é como se, talvez… Se você soubesse lidar comigo, existiria outra pessoa que talvez quisesse, mas que me ama romanticamente, isso porque eu sei que não gosta de mim — mentiu mais uma vez.
— O-oh… E-eu acho que sim? — Disse com sua voz abaixando-se gradativamente, Dazai estremeceu sentindo seus olhos se encherem.
— Acha?
A insegurança é o primeiro sinal de um não. Dazai lera isso uma vez.
— Q-quer dizer, eu não sei. N-não é uma pergunta fácil? — Disse nervoso, Dazai podia sentir claramente os dedos de Chuuya tremerem, mas fingia não ver, fingia não saber.
Ele era ótimo em fingir.
Afinal teve de fazer isso a vida toda.
Com seus pais.
Seus irmãos.
Oda.
E Chuuya.
— Se você fosse outra pessoa. O que acharia de mim? — Dazai murmurou, encolhendo-se.
— Como eu seria outra pessoa?
— Sendo alguém. Que não fosse você.
— E por que essa pergunta?
“Se você fosse outra pessoa, seria mais fácil deixar que você me ame. Eu me sentiria menos culpado por te destruir.” Isso foi o que Dazai quis dizer, foi o que ele pensou.
— Apenas estou curioso — respondeu, com mais uma mentira.
— Mas que tipo de pessoa você pensa, caso eu fosse outro alguém?
— Alguém mais parecido comigo.
Alguém mais parecido com ele que não foi forçado a odiar a si mesmo.
— Por que parecido com você?
Dazai não respondeu, apenas se afastou de Chuuya, virando-se de costas enquanto ia até sua bolsa. Nakahara observou-o em silêncio, confuso, esperando uma resposta, no entanto, pelo resto da noite Dazai não lhe disse nada, apenas remexeu em sua bolsa como se estivesse buscando algo alí até que Chuuya adormecesse, com a luz acesa e olhos presos em Osamu, que agora, estava sentado no chão, com um caderno de desenhos em mão.
Dazai rabiscava. Não era nada em específico, apenas rabiscava, sem ter o que desenhar, talvez buscasse apenas um alívio no ato de desenhar, mas não parecia ajudar muito, e quando finalmente tomou coragem para subir o olhar, vira Chuuya dormindo, virado para ele, olhos fechados e respiração calma. Ele sentiu seu coração apertar.
O acastanhado levantou-se do chão, foi a sua mochila novamente, e buscou por um rolo de bandagens, e em seguida, por seu estilete, escondeu-o em sua calça e antes que saísse do quarto, ele olhou para o ruivo uma última vez, apagando a luz do cômodo e se dirigindo para o banheiro da casa.
Quando estava finalmente no banheiro, ele soltou sua respiração, esta que doía em seu peito, sentia-se desesperado, a dor não parecia parar, ele odiava tanto a si próprio, odiava, odiava ele definitivamente se odiava.
Ele entrou na banheira da casa, pois ali seria mais fácil de limpar quaisquer resquícios de sangue, e aos poucos, passou a desatar suas bandagens, sentindo seus dedos tremerem a cada pedaço de pele que via sendo exposto, seus lábios forçavam-se para baixo, como se não fosse capaz de fazê-los ficar de outra forma, tremiam enquanto ele tentava controlá-los.
Quando as bandagens finalmente foram desfeitas, ele levantou a lâmina do estilete, iniciando os cortes em seu braço mais uma vez. E a cada novo corte que fazia, sentia-se mais e mais fraco, sentia-se mais odioso, sujo, se odiava, como se odiava. Sua pele já não era mais pura, sua pele já não era mais como a de um humano.
Ele estava sujo.
Seu pai o dissera para orar, para pedir para Deus limpá-lo.
Mas quem era Deus afinal?
Quem era aquela divindade terrível que apenas destruía a sua vida?
Se Deus existisse realmente, seu pai não seria daquela forma, porque talvez, só talvez. Seu pai fosse mais gentil com ele, e dessa forma, ele conseguiria se tratar com mais gentileza também. Se Deus existisse, sua mãe o protegeria, se Deus existisse Min-ho o protegeria. Se Deus existisse, Deus o protegeria.
Ele odiava Deus tanto quanto odiava a si próprio.
O sangue escorria por sua palma, escorria agora pelo estilete, ele não percebera que cortara fundo de mais, e por pouco, não cortou uma veia. E enquanto via o sangue jorrar e escorrer por seus braços, indo as bandagens retiradas, ele se assustou ao ver a porta do banheiro ser aberta, seus olhos voaram a ela, apenas para enxergar a imagem de Chuuya, parado em frente a porta agora aberta. O ruivo parecia sonolento, mas assim que seus olhos desceram ao sangue de Dazai, eles se arregalaram, e o acastanhado pode jurar ver os olhos do ruivo brilharem, claramente sinalizando que ele começou (ou começaria) a lacrimejar.
Em passos lentos, Chuuya andou até ele após trancar a porta atrás de si. E assim que estava ao lado da banheira, ele entrou, retirando o estilete das mãos de Dazai — este que continuava paralisado, sem conseguir ter quaisquer reações —, o jogando no chão. Seus braços puxaram o acastanhado com força para um abraço, até que sua cabeça estivesse deitada no peito de Chuuya.
— Se quiser chorar, você pode — Chuuya disse, baixo, esforçando-se para manter a voz firme. — Ninguém irá te julgar, só eu e você estamos aqui. Eu não irei ver se não quiser.
Dazai escondeu-se mais nas vestes de Chuuya, enquanto em silêncio, deixava as lágrimas caírem. E o ruivo, manteve sua palavra, não olhou para o rosto de Dazai enquanto ele estivesse chorando, e o acastanhado agradeceu por isso.
Chuuya era tão bom.
Quando as lágrimas não quiseram mais sair, quando seus olhos ardiam, Dazai limpou o rosto nas mangas de sua blusa, e se afastou, olhando para o ruivo.
— Obrigado.
— Você não precisa agradecer por isso Dazai.
— Preciso.
Chuuya olhou-o em silêncio, e receoso, ele se aproximou novamente do acastanhado, colocando as duas mãos nas bochechas do mesmo.
— Não esconda o que dói, você pode me contar.
— Não quero te incomodar.
— Você não incomoda. Apenas me conte, por favor. Confie em mim.
Dazai nunca poderia manchar Chuuya, ele não poderia ser sincero.
— Tudo bem. Obrigado por se importar comigo. Por não ter nojo.
— Não agradeça por isso… — Resmungou, suspirando logo em seguida. — Eu não tenho nojo de você, por favor Dazai. Vou fazer algo, apenas para que saiba que eu nunca teria nojo de você.
Osamu piscou lentamente, e pode sentir seu rosto esquentar ao ver Chuuya se aproximar. Sentiu, em sua bochecha, um beijo casto.
Os olhos do acastanhado se arregalaram, e suas mãos se apertaram nos braços do ruivo. Em seguida, o garoto se afastou, apenas para que desta vez, pudesse depositar um beijo em sua testa, e outro em sua outra bochecha, abaixo de seus olhos, ao lado de seus olhos, na ponta do seu nariz, em um de seus olhos fechados, até que por fim, novamente ele se afastasse, desta vez levantando o braço de Dazai calmamente. Olhando-o nos olhos, vendo a atenção dele totalmente em si, o Nakahara aproximou seus lábios do pulso do garoto, desta vez, sem hesitar, nem mesmo por um segundo; deixou um beijo nas feridas recentes que ainda escorriam sangue.
Dazai em um instante arregalou os olhos, puxando o pulso logo em seguida com rapidez.
— C-chuuya! — Exclamou, envergonhado, chocado. Olhava agora para o rastro de sangue nos lábios do ruivo, um resquício que com o puxão fez com que sua bochecha ficasse tambem manchada.
— O-o que? — Piscou algumas vezes.
— “O que” você pergunta? — Murmurou agitado, se movendo para trás, enquanto se encostava no encosto da banheira.
— Fiz algo errado? — Desviou o olhar brevemente, e Dazai pareceu ainda mais incrédulo.
— Sua boca está com sangue!
— Ah. — Soltou, dando de ombros logo em seguida. — Porra, era de se esperar né, seu pulso tava com sangue.
— Inacreditável — disse tentando disfarçar a vergonha, em seguida, colocando-se de pé. Chuuya segurou-o prontamente, apenas para puxá-lo para baixo novamente.
— Por que está indo embora agora?! — Disse em um quase grito, Dazai cruzou os braços e franziu o cenho.
— E-
— Fique aqui, vou limpar o seu braço e enrolar as bandagens de novo. — Desta vez quem fez menção de se levantar foi Chuuya, no entanto, Dazai também não lhe permitiu. — O que foi?
Osamu não lhe respondeu a princípio, mas sua resposta foi dada quando ele levou seu polegar aos lábios do Nakahara, limpando o sangue, e em seguida chupando o próprio dedo. Os olhos de Nakahara se arregalaram, e em um instante Dazai pode vê-lo ficar da cor de seus fios de cabelo. Dazai quis rir.
Perplexo, Chuuya se levantou ainda de olhos arregalados, e ao sair da banheira, ele tropeçou, caindo no chão. Osamu levantou-se no mesmo instante para verificar se seu amigo estaria bem, mas ao olhá-lo encontrou a imagem do garoto escondendo o rosto em seus braços.
— Eu juro que eu te mato com minhas próprias mãos — resmungou. Dazai não pode impedir-se de rir da sentença do amigo, estalando a língua.
— O que foi, foi seu primeiro beijo?
— Isso não é um beijo babaca — resmungou mais uma vez.
— Óbvio que é! Um indireto — brincou, Chuuya bufou e com o braço livre mostrou o dedo do meio para Dazai, que não pode se impedir de gargalhar. — Estou brincando, não te roubei seu primeiro beijo — rastejou dentro da banheira, deitando a cabeça sobre seu braço limpo que estava apoiado no encosto. Ele se manteve em silêncio enquanto via o ruivo ajeitar-se, sentando no chão, olhando Osamu brevemente antes de colocar-se de pé. Então, Dazai o chamou — Chuuya. — O garoto olhou-o. — Você promete que nunca vai namorar comigo? Promete que não vai se deixar se apaixonar por mim? Promete que não vai me ver desta forma mais? — Disse a última palavra em um sussurro que Nakahara não pode escutar.
O ruivo arregalou os olhos, cruzando os braços nervoso.
— Não poderemos ser mais amigos se isso acontecer.
— D-dazai.
— Apenas prometa.
— Você-
— Chuuya — chamou-o sério.
— E-eu não posso garantir isso.
— Por que não?
— Provavelmente eu vou gostar de você em algum momento, talvez eu já tenha gostado, mas você não precisa se preocupar, porque eu não vou perceber quando acontecer e tudo vai continuar como sempre, e eu não gosto de você agora. Gosto da nossa amizade… Assim. — Encolheu os ombros, Dazai pode vê-lo tremer. Osamu sabia que era mentira.
— Obrigado Chibi — murmurou, abrindo um sorriso com dificuldade. Chuuya olhou-o ressentido, e foi até a pia, pegando um rolo de papel higiênico para ajudar a limpar as feridas.
Dazai não conseguia se ver como um bom parceiro para o ruivo, não se via digno dos sentimentos dele.
Nakahara nunca poderia olhar para ele com aqueles olhos de desejo, seria ruim caso ele fizesse.
Dazai buscava por quem parecia-se como ele.
E ele não merecia ser desejado por Chuuya.
Não merecia.
Todos esses pensamentos, todos esses sentimentos e limitações, eles se mantém até o momento atual, onde ele consegue se ver com Fyodor, sabe que o russo saberá lidar com ele, e que de certa forma, ele se vê semelhante a ele, vê que; não de uma forma ruim “eles se merecem”, porque ele e Fyodor são iguais, ele se identifica com o russo, mesmo que ele não saiba exatamente com o que são parecidos, e mesmo que Dostoevsky seja melhor do que ele nunca fora capaz de ser antes, ele ainda acredita que eles se merecem.
E talvez, justamente por Dostoevsky ser melhor que ele, por ele acreditar que ele era melhor; que o sentimento de aceitação sobre Chuuya e Fyodor estarem juntos bate tão forte em seu peito.
— É isso por hoje — o professor da universidade anunciou, despertando Dazai de seus pensamentos. O acastanhado olhou para frente, vendo seus colegas de turma recolhendo seus materiais para saírem. A última aula do dia havia acabado, e ele esteve por todo momento disperso em questionamentos, memórias e pensamentos, isso durante a semana toda em verdade. E agora, agora era-se uma sexta-feira, uma sexta-feira de poucas trocas de mensagens com Fyodor ou Chuuya, pois tudo parecia estranho depois daquele dia, tudo parecia difícil de conversar.
Dazai juntou seus materiais também em silêncio, guardando-os em sua bolsa e em seguida, colocando-a sobre o ombro. Quando ia se levantar, sentiu seu celular vibrar em seu bolso, e ao pega-lo viu o número de Oda brilhando na tela.
— Odasaku?
— Oi Dazai. Você já está saindo da faculdade?
— Sim. Estava juntando meus materiais, por que?
— Você esqueceu os seus remédios aqui em casa — resmungou. Dazai estalou a língua e soltou um murmurio afirmativo.
— Depois passo aí.
— Não precisa, eu te levo aí. Você já está saindo?
— Estava, mas posso esperar.
— Beleza — respondeu, pronto para se despedir.
— As crianças estão com Ango?
— Sim. As irmãzinhas de Ango está na cidade, e as crianças queriam brincar com ela — respondeu simplista. — Você comeu?
— Não — murmurou.
— Vou te levar algo para comer.
— U-uh. Certo — Deu de ombros. — Vou ficar na sala até você chegar então — disse, sentando-se em sua cadeira novamente.
— Ja, já chego — avisou, despedindo-se e em seguida desligando. Dazai guardou seu celular no bolso, colocou sua bolsa sobre a mesa, deitando a cabeça sobre ela, e em seguida suspirando.
O acastanhado pegou seu celular para se distrair até a chegada de Oda, entrou no aplicativo de mensagens, e no topo, estava um grupo recém criado por ele mesmo, onde Chuuya e Fyodor estavam também. Ele clicou no grupo, e começou a re-ler a últimas mensagens absorto.
“Vamos sair hoje.” Chuuya enviou as seis e meia da manhã, e prontamente, Fyodor respondeu dizendo que estaria livre no dia. Dazai só viera a ver a mensagem mais tarde, por volta das oito, quando já estava beirando a estar atrasado para a faculdade.
“Parece bom para mim, o que vocês querem fazer?” Dazai respondeu. E em seguida, Chuuya lhe enviou uma mensagem brincando sobre o horário que o garoto havia acordado.
“Vamos a um bar que toque música.” Fyodor escreveu.
“Você sabe dançar?” Chuuya perguntou.
“Não necessariamente. Eu não sugeri com a ideia de dançar.”
“Bem, podemos ir então, conheço um que quase sempre fica quase vazio.” Chuuya respondeu. Dazai não pode deixar de sorrir novamente ao saber o possível motivo de ter ser um lugar vazio.
“Quantas horas?” Dazai questionou.
“Vamos nós encontrar as sete, pode ser?”
“Por mim tudo bem.” Chuuya respondeu.
E alí, acabava a troca de mensagens, Dazai leu por fim a sua mensagem, na qual concordava também, e desligou o celular, suspirando.
Em seguida, ele buscou por sua garrafa de água dentro da bolsa, no entanto, não a encontrou, percebendo assim que teria que comprar outra. Ele se levantou, e andou em direção a porta, mas ao sair, ele esbarrou com um garoto que entrava na sala, fazendo com que o celular do garoto caísse. Dazai se abaixou prontamente para pegá-lo.
— D-desculpe — o garoto pediu, olhando Dazai se levantar com seu celular em mãos.
— Está tudo bem. — Entregou o celular ao jovem, e assim que esteve rente ao olhar dele, pode finalmente prestar atenção na aparência do garoto; Seus fios de cabelo eram brancos, tendo somente uma mecha em um tom mais escuro, seu corte de cabelo era peculiar, e seus olhos, assim como seu cabelo, era singular, único de roxos banhados em amarelo. — Bem, tome cuidado da próxima — disse finalmente, piscando brevemente. Dazai lhe ofereceu um sorriso, passando por ele, no entanto, sentiu-o segurar aeu braço levemente.
— Você é Dazai? — Perguntou. Dazai piscou lentamente novamente, desta vez acenando positivamente com a cabeça.
— Por que? Quem é você?
— Meu nome é Atsushi Nakajima. Eu estava te procurando na verdade — ele disse, sorrindo calorosamente, parecia um pouco nervoso.
— Uh, me procurando? Para que? — Questionou. O garoto encolheu os ombros e Dazai pode vê-lo claramente tornar-se nervoso com a pergunta, encolhendo os ombros ficando em silêncio por alguns segundos.
— E-eu soube que você que você faz pinturas muito boas, e-eu apenas queria umas dicas — soltou rapidamente. Dazai franziu o cenho duvidoso, mas balançou os ombros sem qualquer pergunta.
— Tudo bem — murmurou encolhendo os ombros. — Vamos comigo na máquina de bebidas, quero comprar água. Você me diz o que quer saber até lá, mas eu não sou nenhum professor.
— Certo! — Declarou animado. Dazai o deu um sorriso breve e iniciou seu caminho, Atsushi o seguiu prontamente em passos rápidos. — Você gosta de pintar o que exatamente?
— Uh… Eu gosto de pintar pessoas. — Cruzou os braços pensativo.
Gostava de pintar Chuuya.
E agora, tornou-se uma nova paixão pintar Fyodor também.
— Oh, sério? Pensei que gostasse mais de paisagens.
— Por que pensou isso?
— Não sei. Acho que combina com você — respondeu pensativo. Dazai acenou positivamente com a cabeça e olhou-o.
— Eu pinto paisagens. Às vezes.
— E qual a sua parte favorita de pintar?
— Talvez seja clichê, mas colocar meus sentimentos é o que eu mais gosto. — Sorriu para Atsushi, este, sorriu de volta acenando positivamente com a cabeça. — Sabe, nunca te vi aqui.
— H-hm… — Desviou o olhar. — Eu tinha trancado a faculdade. — Dazai observou-o desconfiado, mas não disse nada pelo resto do caminho, até que chegaram finalmente à máquina de bebidas. Dazai pagou por uma garrafa de água e uma lata de suco de laranja, lata esta que entregou a Atsushi em silêncio. — O-oh… Obrigado. — Dazai o deu um sorriso, e encostou-se na máquina de bebidas atrás de si, abrindo sua garrafa de água. — Dazai? — A atenção do acastanhado foi ao garoto ao ouvir seu nome. — Dazai… Dazai-san. Posso te chamar assim? — Osamu piscou algumas vezes, e não pode se impedir de rir.
— Claro, claro. Quantos anos você tem afinal?
— Dezoito.
— Sou apenas três anos mais velho — murmurou. Atsushi sorriu e concordou em um acenar leve. — Você terminou a escola mais cedo ou algo assim? Para já estar na faculdade…
— A quanto tempo você está?
— Dois anos.
— Não é muito a mais — Atsushi respondeu. Encolhendo os ombros. — Mas respondendo sua pergunta, sim, eu terminei a escola mais cedo. Meu pai disse que eu era capaz, e essas coisas. — Desviou o olhar brevemente. Dazai podia ver que Atsushi parecia ansioso, quase nervoso, ele colocava-se para frente e para trás em seus pés, outrora pondo-se nas pontas dos pés enquanto suas mãos estavam atrás das costas, segurando a lata de suco. E mesmo que em seu rosto mantivesse um sorriso, era claro que ele estava agindo estranho, Dazai se perguntou se esse era o jeito dele. — Dazai-san, por que quis fazer artes?
Osamu levou a mão livre ao queixo pensativo, e em seguida, olhou para Atsushi.
— É minha terapia. E eu gosto da ideia de fazer isso para o resto da vida, mesmo que eu more debaixo da ponte por desemprego — resmungou a última parte um pouco mais baixo, Nakajima quis rir pois havia escutado, mas não o fez, apenas acenou positivamente com a cabeça.
— Eu não acho que você vá ser desempregado. Se você for tão bom quanto eu imagino que seja, tenho certeza que conseguirá vender seus quadros.
— É, talvez. E se tudo der errado eu posso me tornar professor, afinal eu já sei história das artes mais do que eu gostaria de saber, porém me tornar professor é apenas o último dos casos. — Dazai riu soprado, levando a garrafa de água aos lábios novamente.
— Tenho certeza que se dará bem.
Dazai respirou profundamente e sorriu fraco, acenando positivamente com a cabeça. Enquanto sua atenção saía de sua garrafa novamente, e voltava para Atsushi, ele não pode deixar de se perguntar enquanto o via a sua frente, o porque real, dele o ter procurado. Pois no momento, o Nakajima perguntava tudo, menos dicas sobre como se aprofundar em arte, Dazai estava curioso, mas a companhia do garoto parecia boa, ele era alegre, e isso lhe tirava um pouco os pensamentos ruins por uns instantes.
E havia outra coisa, ele nunca vira Atsushi pelo campus, nem mesmo em outros departamentos.
Dazai desencostou-se da máquina de bebidas, pronto para chamar o garoto de cabelos brancos para ir para a sala, no entanto, ele viu ao longe no corredor, Oda. Ele não havia demorado para chegar, o que surpreendeu um pouco o acastanhado, dado que o homem provavelmente passaria em algum lugar para comprar almoço. Então, Dazai balançou as mãos no alto para chamar a atenção do irmão.
— Ei! — Chamou, o homem mais velho buscou por ele, até vê-lo no fim do corredor. Ele sorriu, e andou até Dazai em passos lentos. Atsushi que continuava de costas para de onde Oda vinha, virou-se para ver quem andava na direção deles, e no momento em que Oda viu Atsushi, ele travou no mesmo lugar.
— Atsushi-kun? — Soltou, um pouco distante, ele já estava perto o suficiente para que não tivesse que gritar.
— Oda-san — murmurou, Dazai pode perceber que o garoto pareceu mais nervoso ao ver seu irmão.
— Vocês se conhecem? — Osamu questionou confuso. Oda engoliu em seco e desviou o olhar.
— Hm… — O mais velho coçou a nuca, se aproximando um pouco mais, enquanto parecia sem jeito. — E-ele… Ele trabalha no café que eu costumo ir com Ango.
Era uma mentira, Dazai percebeu no mesmo momento.
— É-e, é isso, Oda-san é um cliente muito fiel!
— É mesmo? — Dazai franziu o cenho, olhando para os dois desconfiado.
— Sim… — Oda respondeu incerto. Seu olhar foi a Dazai, e antes que lhe fosse perguntado mais algo, o homem colocou nas mãos de Osamu uma sacola. — Aí está a comida e os remédios… — Dazai sorriu, assentindo com a cabeça.
— Obrigado.
— B-bem… Eu acho que já vou indo, obrigado pela conversa Dazai-san, tchau — Atsushi falou de repente, tropeçando em seus próprios pés enquanto dava passos para trás. — T-te vejo depois também Oda-san — disse por fim, andando apressado para longe. Dazai olhou-o sumir pelo outro lado do corredor e franziu o cenho.
— Que estranho — murmurou.
— O que? — Oda perguntou.
— Eu nunca vi ele por aqui.
— Atsushi?
— Isso.
Oda não respondeu.
— Bem… Você quer a carona?
— Quero.
Dazai foi a sua sala buscar a sua bolsa, enquanto Oda o aguardava ainda no corredor, e durante o caminho, Dazai não pôde deixar de pensar naquela situação estranha que havia ocorrido. Não era algo que ele estivesse realmente interessado, mas ainda era curioso. Ele tinha certeza que Oda o estava escondendo algo, isso o incomodava, mas fora isso, ele não se importava realmente. Dazai já estava acostumado com Oda escondendo coisas — que ele não sabia como esconder, Osamu sabia de muitas das coisas que ele escondia, apenas porque Oda não sabia mentir, principalmente para o irmão.
— Você vai sair hoje? Eu e Ango vamos fazer o jantar, se você quiser ir lá em casa, eu posso te buscar — o mais velho sugeriu. Os dois já estavam no carro, ambos colocando o cinto.
— Tenho compromisso. Vou sair com Fyodor e Chuuya.
— Vocês três estão saindo ou algo do tipo? — Perguntou, olhando para o irmão brevemente enquanto já ligava o carro.
— Eu acho que é algo como isso — respondeu. Oda olhou-o surpreso e Dazai riu.
— Não esperava que fosse admitir.
— É… É complicado, eu acho. A nossa situação.
— E por que?
— Eu gosto de Fyodor, Chuuya gosta de Fyodor. Eu gosto de Chuuya.
— Você ainda gosta de Chuuya!? — O mais velho virou-se para Dazai com os olhos arregalados. Dazai novamente riu, acenando positivamente com a cabeça.
— Eu nunca parei de gostar dele — resmungou, encostando a cabeça no banco, olhando o irmão de lado.
— Eu achei que tinha… Você parou de falar nele depois do dia em que dormiu na casa dele.
— ‘Nah.
Os dois compartilharam alguns minutos de silêncio, Dazai suspirou e nesse momento, Oda apertou o volante pensativo.
— Então… Como você se sente sobre essa situação…?
— É estranho. E bem.
— É bom?
— É bom — concordou relaxado. — Chibi realmente gosta de Dostoevsky, e eu gosto de ver. Gosto de como eles se tratam, como Fyodor gosta de Chuuya.
“Eu gosto de como Fyodor trata Chuuya, gosto de como ele pode amá-lo da forma que eu não posso. Gosto tanto de Fyodor que estou me apaixonando pelo amor deles.” Isso foi o que Dazai gostaria de dizer em voz alta, mas sentia-se envergonhado demais de seus próprios pensamentos.
— Então, você está apaixonado por eles?
— Sim — murmurou. — Mas Chuuya, Chuuya… — Fechou os olhos, respirando profundamente mais uma vez. — Chuuya não pode ser meu.
— Por que diz isso? Acha que ele não pode corresponder seus sentimentos? — Oda perguntou, encolhendo os ombros.
— Não. Eu não tenho medo disso.
— Então de que tem medo?
Dazai manteve-se em silêncio.
Ele tinha medo de si mesmo.
— Vou te deixar em casa. Coma antes de sair com eles, certo? Se não irá passar mal no encontro, garanto que tanto Dostoevsky quanto Chuuya não irão gostar. Se você precisar de algo pode me ligar, irei te encontrar onde estiver.
Oda parecia preocupado, talvez ele soubesse que a mente de Dazai estava bagunçada, talvez soubesse que ele sentia-se mal.
— Tudo bem Oda. Obrigado. Eu te amo. — Sorriu, O irmão lhe deu outro sorriso, um aconchegante desta vez.
— Também te amo Dazai.
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