— Gosto de noites assim, hoje mesmo está fresco — Chuuya comentou, cruzando os braços enquanto andava calmamente lado a lado de Fyodor e Dazai.
— Gosto também, na verdade, prefiro dias frescos sempre, trocar as bandagens muitas vezes por causa do calor é definitivamente péssimo — murmurou, fazendo um biquinho. Fyodor sorriu, e concordou com a cabeça.
— Dias assim são bons porque fazem com que eu me sinta tranquilo — Fyodor disse, colocando as mãos atrás das costas.
Pouco depois da dança de Nakahara e Dostoevsky, os três resolveram caminhar pela cidade, a noite encontrava-se calma e leve, o vento não era forte, e o ar parecia limpo. E enquanto Dazai fazia pequenos comentários sobre os lugares em que passavam, Chuuya e Fyodor complementavam, logo, deixando com que um silêncio confortável se instaurasse novamente.
— Eu gosto dessa ponte, do som da água — Dazai mais uma vez iniciou o pequeno diálogo, encostando a mão no corrimão e parando, encostou os cotovelos e aproximou mais seu corpo, olhando a escuridão do mar, iluminado apenas pelos postes de luz da ponte. Chuuya e Fyodor trocaram um olhar entre si, e pararam também, indo mais para perto. — Vocês acham, que as águas desse riacho, são trágicas? — perguntou com o olhar um tanto vago, Chuuya pareceu pensar, e em seguida soltou um murmúrio negativo.
— Não, para mim os lagos e riachos são bons, me trazem uma sensação de aconchego — murmurou. Dazai concordou com a cabeça.
— Então cômico — respondeu baixinho.
— Eu particularmente tenho medo de água, odeio lugares fundos como cachoeiras e riachos, então para mim, eu prefiro não estar tão próximo de um. Apesar de que o som me agrada. Mas digo que é trágico. — Fyodor olhou para Dazai, vendo-o rir soprado e acenar positivamente com a cabeça.
— Trágico… Bem, eu acho que os riachos são trágicos também. Porque apesar de belos, eles podem conter muita história, não acham? — questionou calmamente, Fyodor manteve seu olhar em Dazai, e acenou positivamente com a cabeça, suspirando em seguida. — Uma vez soube que uma das crianças da igreja em que eu frequentava, morreu afogada. Então para mim, também são trágicos — respondeu, com um pequeno sorriso em seu rosto. Fyodor e Chuuya se entre-olharam, e calmamente, as mãos do russo foram as costas de Dazai, iniciando movimentos calmos de vai e vem. — Apesar de serem bonitos e me acalmarem, eles guardam uma melancolia inexplicável. — Penso se em outra vida, eu não morri afogado. — Dependurou-se no corrimão, e em seguida riu sem humor. — Como vocês acham que morreram na vida passada?
— Não sei. Acho que velhice — Fyodor murmurou sem pensar muito.
— Acho que devo ter morrido com alguma doença, transmissível. — Piscou lentamente, respondendo sem pensar muito também.
— Legal — resmungou Dazai, em seguida, endireitando sua postura. — O que faremos agora? Poderíamos beber — sugeriu.
— Hm, não tenho certeza se é uma boa — Fyodor respondeu, recolhendo suas mãos para cruzar seus braços.
— Eu não acho que seja uma ideia ruim, desde que não seja muito — Chuuya interviu, Fyodor olhou-o pensativo e suspirou, acenando positivamente com a cabeça.
— Vamos ao bar em que eu e Fedya nos conhecemos.
— Parece bom para mim — Fyodor concordou, olhando para Chuuya em busca de uma resposta, este que apenas acenou positivamente com a cabeça em silêncio.
Os três iniciaram caminho, e em boa parte do percurso mantiveram-se em silêncio, não sabiam se era por falta do que dizer, ou se não precisavam realmente de falar algo para que tudo continuasse. E mesmo que na mente de cada um deles, se mantenha o turbilhão de pensamentos, as diversas questões, sobre o que era aquilo, o que seria daquilo, e o que foi aquilo, se perpetuasse de forma infindável. E bem, como todos esses pensamentos e questionamentos inundavam a mente de cada um deles, Fyodor decidiu finalizar o silêncio, com uma questão boba, que talvez para qualquer um fosse simples, mas que esperava obter uma resposta verdadeira de Dazai.
— Por que você tirava cartas de tarot?
Dazai surpreendeu-se levemente com a pergunta, e seus olhos voaram brevemente até o russo, antes de voltarem-se a rua. Ele cruzou os braços, e diminuindo os passos pareceu pensar.
— Foi uma forma de me conhecer melhor, eu me sentia bem conversando com as cartas. Pode parecer bobo, mas geralmente, eu conversava, perguntava como estavam, e pedia para que me mostrassem o que fosse preciso. E era confortável, era bom, era o que eu queria. Mas eu fiz mais que acender cartas, muito mais — murmurou a última parte, com um sorriso nostálgico. Chuuya olhou-o por cima dos ombros, e sorriu também.
— Dazai era bom, realmente bom, ele sempre dava conselhos incríveis, e ele devorava livros e livros de tarot para melhorar a própria interpretação, era admirável — disse, contemplativo. Dazai soltou um murmurio positivo, suspirando logo em seguida.
— Me pergunto se sei ainda o significado de cada uma delas.
— Por que não tenta de novo? — Fyodor questionou, Osamu olhou-o brevemente mais uma vez, e abaixou o olhar, não dando uma resposta. — O que mais você fazia?
— Eu gostava de acender velas e fazer orações para alguns deuses, principalmente os gregos, era confortável também. Eu gostava de ler sobre eles, por isso comecei a ler livros na verdade, eu lembro que Chuuya guardava para mim os livros, revistas e coisas assim na casa dele, já que meus pais eram intolerantes.
— Acho que eu ainda tenho o grimório do São Cipriano na minha estante. — Colocou os braços atrás das costas. Dazai mirou-o no mesmo instante, quase surpreso.
— Você ainda tem?
— Bom, provavelmente, Tanizaki trouxe o restante dos livros da última vez que ele veio me visitar. Então se não estavam comigo antes, agora estão. — Jogou no ar, fingindo que não tinha certeza de que aqueles livros definitivamente estavam em sua estante.
Dazai recolheu a atenção aos dedos de suas mãos, perdendo-se em pensamentos por alguns segundos.
— Será que eu posso levá-los?
— E por que não poderia? — Chuuya perguntou como se fosse óbvio, e Dazai riu.
— Certo.
Mantiveram-se em silêncio por mais alguns breves minutos, e quanto a isso, deram este silêncio a Dazai, dado que após lembrar-se daquilo, dos livros especificamente, ele não poderia deixar de pensar, pensar sobre tudo. Não pudera por muito continuar seus estudos sobre religião, Deuses, e o que mais que lhe interessava, tanto em história quanto em assuntos místicos, isso porque não era permitido por seus pais, então, agora saber que tudo aquilo que possuía e pagou por, não perdeu-se assim como o que antes estivera em sua adolescência, o fazia pensar, questionar, se seria um sinal, de que aquele ciclo não haveria acabado.
Afinal, ele lembra-se bem, de ler sobre coisas que voltam, e voltam, e voltam, até o momento em que você aprende algo delas.
— Fedya. Você acha… Que isso, de você, com Deus, acabou? — Dazai perguntou. Fyodor comprimiu os lábios, e apertou as pontas dos dedos em sua palma, pensando momentaneamente antes de responder.
— Sinceramente? Não. Eu acho.
— Entendo. Mas por que?
— Porque foi uma vida com ele, uma vida vivendo assim, eu não sei dizer se foi uma vida devida ao desespero, esperança, ou porque eu o amava de fato ou acreditava nele. Acho que um pouco de tudo, mas creio que o desespero e o desamparo era maior. Ainda é difícil para mim abandona-lo, mas descobrirei o que fazer em algum momento. Apenas quero um afastamento dele, por enquanto, se em algum momento, eu perceber que era realmente amor, e que já não mais sinto mágoas relacionado aos meus privamentos pessoais, e que ainda acredito nele, voltarei a pensar sobre, por enquanto, apenas peço algo específico a ele.
— Posso perguntar o que? — Chuuya olhou-o, e assim que o fez, sentiu-se arrepiar, ao perceber o quão afetuoso era o olhar de Fyodor para consigo.
— Você não precisa saber — respondeu baixinho.
Em sua mente, a resposta que dava a Chuuya, era: Óstia.
Seus olhos iam as mãos do ruivo, e em seguida, voltavam a frente, percebendo assim, que haviam chegado ao destino.
Já no andar de cima, Chuuya e Fyodor já se encontravam, eles esperavam que Dazai chegasse com as bebidas — estas que eram apenas para ele mesmo, e o ruivo, já que Dostoevsky decidiu não beber —, e enquanto aguardavam, os dois observavam a movimentação da rua; era uma rua vazia, com poucos carros, e o que se passava, era apenas algumas pessoas que iam e vinham, e grande parte delas em direção ao bar.
— Você mentiu para mim hoje sobre estar tudo bem sobre Dazai e eu sem você? — perguntou baixinho assim que viu uma oportunidade. Chuuya arregalou os olhos levemente, e engoliu em seco.
— Não sei — resmungou.
— Como não sabe? — Olhou-o calmo.
— Uh, eu estou tentando me convencer que está tudo bem na verdade. E de certa forma eu penso que está tudo bem, mas ao mesmo tempo eu sei que não está, para falar a verdade não reconheço bem meus sentimentos. Acho que sofri tanto por ama-lo que já agora, pergunto-me se todo esse sofrimento vale para no fim, eu realmente estar ao lado dele. E… — Fechou os olhos, respirando profundamente. — Eu não me arrependo nem um pouco por ama-lo e sofrer por ele. Estou acostumado com a dor, e mesmo acostumado eu continuo a chorar, e agora, é algo novo em meio a isso tudo, e é bom, é bom. Não sei se entende, já que você também escreve, mas… A dor me inspira, e isso é bom, isso é bom.
Fyodor surpreendeu-se com a resposta, e em seguida, sorriu fraco, acenando positivamente com a cabeça.
— Pensando por esse lado… — iniciou. — A dor me permitiu escrever muito.
— Sem ela não entenderiamos, não saberiamos como escrever.
— É.
— Mas, apesar de tudo, eu sei que essa é a resposta que eu tenho, um motivo para a dor, como um consolo, entende? Porque é melhor ter sofrido por um motivo, do que pensar que foi sem quaisquer propósito, e apenas porque o mundo é ruim. E eu sei que é diferente, porque eu sofro por amo-
— Não menospreze sua dor, está tudo bem Chuuya — cortou-o. Aproximando-se levemente, até que seus braços tocassem nos ombros do ruivo. O garoto olhou-o, e nenhuma expressão foi-se possível ser vista em seu rosto.
— Talvez — resmungou, apoiando a cabeça em sua mão. — Mas ainda sim, eu quero que esteja tudo bem.
— Você quer se auto-enganar.
— Talvez sim, talvez não — respondeu, suspirando.
— Eu não quero que faça isso.
Chuuya abaixou a cabeça, e riu fraco, olhando para Fyodor de forma carinhosa em seguida.
— Você não quer que eu me machuque? Você não era assim antes.
— Eu não quero que sofra.
— Isso é amável da sua parte.
— É?
— Sim, Fyo. É fofo, obrigado — respondeu, com um sorriso afetuoso, e em seguida, suas mãos cautelosas foram as mãos de Dostoevsky, apenas para aperta-las levemente. — Eu posso lidar com isso. Não se preocupe, já estou acostumado. — Dostoevsky comprimiu os lábios, e limpou a garganta, suspirando logo em seguida. Chuuya recolheu as mãos, ainda com o sorriso no rosto, desta vez, voltando a olhar a rua a frente. Dazai logo apareceu com as bebidas, encostando-se no guarda corpo, entregando a Chuuya o seu copo. — Obrigado — agradeceu, já bebericando a bebida, fazendo uma pequena careta ao sentir o amargor do álcool.
— Você não quer mesmo Fedya?
— Não, obrigado — respondeu educadamente. Dazai balançou os ombros, e levou o copo aos lábios, também bebendo.
— Noites como essas são as que você só quer beber, beber e dormir — Dazai comentou, com um meio sorriso.
— Fumar — Chuuya complementou.
— Você nem mesmo fuma — Dazai rebateu.
— Mas aqui é uma boa área para fumantes.
— É você tem razão. Mas eu pensei também em maconha, é uma pena que fede.
— Realmente — murmurou. — E você, Fedya, o que você quer ou iria querer? — Dazai olhou-o, bebericando sua bebida e encostando-se mais no guarda corpo.
— Um beijo — respondeu, baixo. Dazai voltou a sorrir, e trocou com Chuuya, um sorriso fofo.
— Ah, que adorável! Isso não é difícil de conseguir — Chuuya disse, piscando bobamente e rindo como se não estivesse envergonhado.
— Ainda não estou pronto para conseguir algo assim, digo, beijos no rosto e tudo. Pele, eu recebi quando não estava esperando, mas quando aguardo por isso, me deixa ansioso, sinto que poderia morrer apenas de pensar. — Fechou os olhos suspirando logo em seguida.
— Oh, entendo, entendo — Dazai concordou, pensativo. — Vamos fazer o seguinte, eu ou Chuuya o daremos um beijo, em um momento em que você não esperar, certo?
— Uh… — Desviou o olhar. — É, por mim tudo bem, eu acho. Gostei.
— Combinado então — disse brincalhão. Fyodor virou o rosto, apenas para esconder-se devido a um acanhamento que lhe subia o corpo.
Mantiveram-se alí, Fyodor outrora tinha seu olhar em Chuuya ou Dazai, estes que pouco falavam, o que era quase estranho, mas ainda sim, confortável. Dazai mantinha seus comentários jogados no ar, e as vezes, Chuuya fazia perguntas em que as respostas íam tão rápido quanto surgiam, não obtendo tempo o suficiente para se manter um assunto fixo. O silêncio a muito tempo já não era um desconforto entre eles, nem mesmo trazia desejo de preenche-lo.
— Você ainda escreve? — Chuuya perguntou, olhando para Fyodor por cima dos ombros.
— Faz alguns meses, quase um ano que não escrevo — respondeu em um murmurio simples, Nakahara acenou positivamente com a cabeça e soltou um murmurio pensativo.
— Qual dos seus livros você mais gosta? — Dazai questionou, buscando tornar aquele assunto mais duradouro. Fyodor soltou um murmurio pensativo e estalou a língua.
— Não tenho um favorito eu acho? Mas há um que sinto mais afinidade… — Desviou o olhar para as próprias mãos por alguns segundos, antes de voltar-se aos dois. — O nome é Crime e Castigo, escrevi a alguns anos, e posso dizer que sinto como se em outra vida ele tivesse sido parte de mim. — Riu, sorrindo levemente.
— Por que diz isso? — Nakahara olhou-o curioso, Dostoevsky balançou os ombros e coçou a nuca.
— Não sei bem. Tenho carinho por cada um dos meus livros, mas este, há algo diferente, e também, gosto muito de um dos personagens, e quando releio aquele livro, percebo que nem eu mesmo sabia que eu estivera tão quebrado.
Dazai e Chuuya concordam com a cabeça, pensativos.
— Eu gostaria de ler este — O ruivo diz.
— Quando quiser, apenas venha a minha casa buscá-lo.
— Também quero ler.
— Posso te emprestar a versão em russo.
— Certo — Dazai concorda, sorrindo. Seus olhos se fecham, enquanto ele leva novamente a bebida aos labios, e assim que sente o gosto amargo do álcool em sua boca, ele faz uma pequena careta. — É engraçado sair assim, com vocês, porque faz tempo… Antes de conhecer Fyodor, que eu não saio, digo, saía com Chuuya ou Oda, mas era pouco e nunca fazíamos coisas assim. Não é Chuuya?
— Saímos mais na adolescência, e em um certo período da universidade. Mas só — respondeu, cruzando os braços bebendo de sua bebida também.
— Nunca saí muito também, principalmente depois de me mudar para o Japão — Dostoevsky complementou, não surprendendo os outros dois que apenas acenaram positivamente com a cabeça em entendimento. — Vocês tinham grupos de amigos na adolescência?
— Chibi e eu tínhamos um grupo quando ingressamos na universidade, não éramos todos do mesmo setor, inclusive três deles já eram formados. Mas fomos amigos por um tempo, até termos de nos separar, foi o único momento em que estivemos dentro de um grupo real de amigos… ou colegas, mas foi coisa de poucos meses.
— Então…?
— Então que todos sumiram, digo, eu e Dazai tivemos de nos distanciar deles, por culpa de alguns problemas. E hoje, não temos contato com nenhum.
— Eu ainda tenho contato com Ranpo-san e Kunikida-kun na verdade — Dazai intrometeu-se. — Kunikida me envia mensagens de bom dia todos os dias mas não conversamos, e Ranpo me liga uma vez por mês.
— Os dois são ocupados — Chuuya murmurou. — Não converso com nenhum ainda, acho que eu e Dazai estivemos muito tempo em uma bolha onde só há eu, ele, Oda, Ango, as crianças de Oda e para mim, meu irmão, que foi difícil manter algo quando uma situação complicada apareceu, vimos que seria mais fácil manter distância, e apesar deles terem se esforçado para não perder contato, o problema era que eu e Dazai não queríamos manter.
— Hm… Sim. — Dazai desviou o olhar, virando seu copo novamente. — Na verdade, o período difícil, foi quando eu comecei a me viciar em drogas, eu não queria que eles se envolvessem, e não queria que me privassem também, e como Chuuya era o meu mais próximo amigo, eu e ele decidimos nos isolar, a decisão foi principalmente dele, porque eu já estava tão disperso de tudo, que mal conseguia raciocinar as vezes.
“E eu não era realmente próximo deles o suficiente para confiar” Chuuya pensou, suspirando logo em seguida, levando seu copo aos lábios também. Ele já conseguia sentir o álcool bater.
— Ah, inclusive. Ele, Ranpo-san é aquele que eu te disse que namorava Poe — Dazai mencionou, mudando um pouco de assunto. Fyodor pareceu lembrar-se de quando Dazai dissera isso, e sorriu levemente.
— Oh sim, me lembro. Eles eram legais?
— Sim. No nosso grupo, era Ranpo-san e Poe-san, que eram dois dos três mais velhos, eles já tinham finalizado a universidade e já tinham uma carreira firmada, Stoker-san, que também tinha uma carreira firmada-
— Bram Stoker? — Fyodor arregalou os olhos levemente. — O escritor fantasma?
— Sim, sim, você deve saber, Poe e Bram são grandes amigos, então…
— Tenho curiosidade de saber o rosto dele — Fyodor murmurou, colocando a mão no queixo.
— Ele é como a própria criação, parece um vampiro — Chuuya comentou, rindo levemente. — Ah, tinha Yosano-san também, que estava fazendo medicina, e Kunikida-kun, que estava fazendo engenharia, área da matemática e tudo.
— Como vocês se conheceram? Tão diversos.
— Dazai conheceu Kunikida quando estava visitando o setor de engenharia por causa de uma garota. — Chuuya riu soprado, e Fyodor acenou positivamente com a cabeça. — Depois disso, foi só questão de tempo até que viessem apresentações atrás de apresentações.
— Acho que entendi — Dostoevsky disse, levando as mãos até as costas. — Não sei ao certo o que dizer mas sinto muito por terem se distanciado.
— Está tudo bem — Dazai respondeu. — Não é como se eu não esperasse também, tudo foi sempre, eu e Chuuya, mas agora. Temos você também.
— Sim.
Ficaram em silêncio, e enquanto Dazai e Fyodor pareciam apenas observar o movimento da rua, a cabeça de Chuuya parecia pesar levemente, ele não sabia se devido a bebida, ou os diversos pensamentos que lhe surgia a mente.
Ele nunca deixou-se pensar muito no quanto ele e Dazai viviam em uma bolha, e ele nunca sentira tanta falta de algo ou alguém além do Osamu em sua vida, então para ele sempre fora normal, mas por que agora parecia algo tão, estranho? Eles tinham Fyodor agora também, mas não era essa a questão, a quanto tempo eles estiveram se privando de contato social? O ato de sair fazer amizades, colegas.
Bem, quando tiveram aquele grupo de amigos no início, Chuuya não era realmente amigo deles, e a única pessoa na qual ele conversava, era Bram, porque ele era quieto e fácil de conversar — pelo menos era para o Nakahara.
Mas agora, agora ele ainda queria viver assim?
Ele não sabia.
Viver isolado era algo bom mesmo?
Porque Chuuya não era realmente próximo de Oda ou Ango também, é verdade que eles cresceram juntos, e que no fim, os dois viraram quase uma figura de irmãos ao ruivo, entretanto, este, nunca tivera muita abertura — de sua parte, pois tinha dificuldade em conversar —, para contar mais sobre si aos homens mais velhos.
Para Chuuya, tudo que ele possuía, era Dazai e Tanizaki, seu irmão mais novo.
— Eu não tive muitos amigos também, na verdade, tive alguns colegas na infância, lembro-me de ter dito talvez para vocês, ou para um de vocês, que eu costumava conversar com os adolescentes pois eles me aceitavam melhor que os adultos e crianças da minha idade. Mas, depois de algum tempo, eu acabei me distanciando deles, e bem, o único que não, foi Nikolai, já que ele se manteve meu amigo, até conhecermos Sigma e nós três nos tornarmos próximos. E acredito que agora, posso coloca-los, vocês dois, na minha lista de pessoas próximas. Também sou isolado — disse, calmamente, quase como se lesse os pensamentos de Chuuya.
— Estamos no mesmo barco — Dazai comentou, rindo fraco. — Não sinto tanta falta de ser sociável, talvez porque eu não sou sociável, é um pouco irritante. Cansativo. — Fyodor concordou em um murmurio incerto, e Chuuya, manteve-se em silêncio, em sua mente ainda perpetuava-se a ideia, de que talvez, ele quisesse ter feito mais.
(...)
Eram-se cinco e quinze da manhã quando Chuuya acordou, havia chegado em casa por volta das onze, e assim que deitou-se, nem pode perceber quando apagou. E agora, acordava, bem mais cedo do que o horário que comumente acordava. E após passar alguns longos minutos, observando o seu relógio de cabeceira passar das quinze, até as dezoito, ele finalmente buscou por seu celular jogado, encontrando-o entre os lençóis do outro lado da cama. Ligou-o, e assim que o fez, viu uma chamada perdida na tela de bloqueio, e algumas notificações de bate-papo também alí.
A chamada perdida, era de seu irmão mais novo, ligou-o a quase oito, e as mensagens, eram de Fyodor, perguntando se ele havia chegado bem, já que o ruivo recusara a insistência de Dazai e Dostoevsky para levá-lo em casa.
Entrou no chat de Fyodor, apenas para respondê-lo dizendo que sim, e que havia pegado no sono, e em seguida, foi ao contato de seu irmão, ligando-o de volta. Tanizaki estudava em uma escola na cidade vizinha, então naquele momento, ele já estaria acordado, e se não estivesse, pelo menos Chuuya o faria não atrasar muito.
O celular tocou pelo que Nakahara poderia contar, quatro vezes, até que ele fosse atendido.
— Chuuya-san.
— Tanizaki. Você me ligou ontem, meu celular estava no silencioso, desculpa.
— Tá tudo bem, eu só queria conversar contigo, faz tempo que não ligamos, e também, queria avisar que o pai e a mãe, devem te ligar esses dias — respondeu simplista. Chuuya podia escutar o som de ovos fritando no fundo, imaginou que o irmão estaria preparando seu café.
— Entendi. Mas, sobre o que eles querem falar?
— Não é nada ruim, é só algo legal, acho que você vai gostar. De qualquer jeito, por que está acordado essas horas?
— Acordei sozinho e não consegui dormir de novo — resmungou.
— Entendi.
— E aí, como andam as coisas?
— Estão bem. O pai e a mãe reclamaram que você não liga.
— Normal.
— Você deveria ligar.
— Eu esqueço.
— Hmmm.’
— E a escola?
— Vai bem.
— Que bom.
— Eu vou desligar, se não vou queimar o ovo mexido — disse rindo soprado, Chuuya riu também e concordou em um murmurio. — Posso te ligar mais tarde?
— Pode. Vou te contar como foi ontem.
— Aé’ você saiu com aqueles garotos não foi?
— Sim.
— Certoo!’ me conte tudo, agora eu vou into, tchaaau.’
— Tchau.’ — despediu-se, desligando o celular em seguida, retirando o celular do silencioso.
O que seus pais queriam falar com ele? Chuuya questionou-se, suspirando antes de colocar-se sentado e espreguiçar-se.
Olhando para a parede em silêncio, as memórias da noite anterior passaram a tornarem-se mais claras, até o momento em que a sua conversa com Dostoevsky no bar viera a tona.
Ele não sabia dizer, aquilo que ele fazia, sobre dizer que estaria tudo bem se Dazai o quisesse, estaria tudo bem, era auto-enganação?
Era verdade que Chuuya tinha medo que seu sofrimento torne-se apenas uma lembrança na qual ele mal consegue distinguir o quão doloroso era amar Dazai e não ser correspondido, mas ao mesmo tempo, tem mais medo de perpetuar-se nessa dor, de nunca esquecer Dazai, e agora, sentia-se incomodado, incomodado por se assustar com a ideia de que talvez um dia, Fyodor e Dazai abandonariam-no. Uma ideia de que de primeira ele julgou como um pensamento besta, dado porque viera em conjunto de um momento em que estava tudo acontecendo bem ao redor deles, mas agora, sozinho nesta madrugada, ele se pegava pensando.
E se Dostoevsky deixar de quere-lo?
E se Dostoevsky deixar de quere-lo, e quiser apenas Dazai, e assim, Chuuya não terá nenhum, assim não poderá amar Fyodor, não poderá amar Dazai.
Ele não queria ser fraco, não como sempre se sentiu. Ele não queria ser abandonado de novo.
Por que ele tinha que mentir tanto para si mesmo?
Sentia-se desmoronar, sua mente parecia cada vez menor para si mesmo, cada vez mais apertada e lotada de pensamentos que iam e vinham. Então, de repente, no silêncio, ele escutou o seu celular vibrar. Pegou-o, e viu, o número de Dostoevsky na tela, atendeu em menos de um segundo.
— Chuuya? Vi que respondeu minha mensagem, acordado a esta hora?
— Fyo… — disse, baixinho, recolhendo as próprias pernas.
— O que aconteceu?
— Minha mente não me deixa em paz.
— O que tanto pensa?
— Você não vai me deixar, vai? — perguntou, mais baixo que antes, fazendo a linha ficar em silêncio antes de Fyodor soltar um arfar surpreso.
— Nunca, por que a pergunta? — questionou cauteloso.
— Dazai sempre parece pronto para me abandonar, penso se você não me abandonará junto dele — admitiu sincero. Tudo que ele precisava naquele momento eram palavras de afirmação.
Palavras de afirmação.
O confirme que não irá o deixar.
Por favor.
— Você quer que eu vá aí?
— Está tarde… Muito cedo — murmurou, mesmo que seu cerebro gritasse que queria, que queria muito.
— Você quer que eu vá?
— Quero.
— Então estou indo.
— Tudo bem.
Chuuya desliga o celular, e suspira.
“Era realmente necessário fazer ele vir?” Perguntou-se, abraçando as próprias pernas, soltando um longo suspiro.
Pensamentos sempre acabavam com ele, em um momento ele estava bem, e em outro, não.
Era tudo tão repentino, se ele pudesse apenas esquecer.
Chegava-se as cinco e cinquenta, e então, Fyodor chegara. Chuuya o atendera as pressas, assim que escutou a campanhinha, e assim que o viu, respirou profundamente, antes de abraça-lo. Dostoevsky retribuiu o abraço prontamente, mesmo que tivesse tomado alguns segundos até dar-se por si. Nakahara manteve-se daquela forma, até finalmente afastar-se, e andar até o sofá de sua casa, sentando-se. O russo fechou a porta atrás de si, e arrastou-se até onde estaria o ruivo. E então, sentou-se ao lado dele.
— O que se passa na sua mente? — Fyodor murmurou, com um sorriso acolhedor. Chuuya fechou os olhos, encostando a cabeça no assento.
— Você estava certo, sobre se enganar. Eu tenho medo que você perca o interesse por mim, e Dazai que já não tem nenhum romântico, se distancie de mim, e ambos os dois me deixem — admitiu, permitindo-se ser vulnerável.
“Fyodor me diga algo, por favor me diga algo que não me faça mais duvidar que você não tirará seus olhos de minha vida, e assim, Dazai também não irá nos abandonar” implorou mentalmente, enquanto suas unhas cravavam-se em suas mãos.
Fyodor comprimiu os lábios, não sabia o que dizer para fazê-lo entender, não sabia. Dostoevsky já sabia a resposta, mas não sabia como verbaliza-la.
— Chuuya olhe para mim — pediu. O ruivo olhou-o, abrindo os olhos vagarosamente.
Dostoevsky apertou as calças que vestia com as mãos, e com calma, dirigiu uma de suas mãos ao rosto de Nakahara, acariciando em silêncio. Fyodor forçou um pequeno sorriso, e viu o ruivo engolir em seco, querendo fechar os olhos novamente.
O Dostoevsky, respirando profundamente, juntando o que tivesse em seu peito que o permitisse fazer algo, ele aproximou seu rosto, fazendo com que o ruivo arregalasse os olhos. E foi tão calmo, tão lento, tão demorado, até o momento em que seus lábios, tocaram nos de Chuuya, em um beijo casto, e sincero, que Fyodor esperava ser capaz de dizer mais do que poderia verbalmente. Nakahara soltou o ar que nem sabia que prendia, e suas mãos foram a cintura de Fyodor, apertando as vestes do homem, enquanto seus olhos agora estavam fechados, buscando memorizar exatamente como era a textura dos lábios do russo.
Fyodor podia sentir todo o seu corpo tremer, enquanto a sua mente, não conseguia se decidir se pensaria demais ou se ficaria completamente vazia, seu corpo também não conseguia, já que queria mover-se, fazer algo, mas não lhe obedecia. E no fim de tudo, ele apenas queria continuar assim.
Foram longos segundos, talvez até minutos, até que eles se afastassem, e então, com os olhos arregalados novamente, Nakahara olhava para Fyodor.
Aquilo era diferente de qualquer outra pessoa que já tivera beijado, nem mesmo todos os beijos mais quentes que já tivera, nunca o fizera sentir tanto quanto agora, Chuuya estava em choque, queria sorrir, queria gritar.
Já Fyodor, sentia como se seu coração fosse sair pela boca, suas mãos tremiam no rosto de Chuuya, e seus olhos mal conseguiam ficar parados, tentava controlar a própria respiração, falhando miseravelmente. Eles não sabiam o que dizer, não sabia o que fazer, sentia-se em transe.
Mas Chuuya, ele tinha certeza, que aquilo, era definitivamente um sinal, de que Fyodor não planejava abandona-lo.
— Eu não planejo deixar que Dazai nos abandone também, se isso passar pela sua cabeça — respondeu, antes mesmo de qualquer questionamento, com a voz fraca e entre-cortada.
Chuuya sorriu, sorriu enquanto seus olhos se enchiam, e novamente, puxou Fyodor, prendendo-o em outro beijo, não um selinho, mas um beijo calmo em que o russo não sabia o que fazer, mas o Nakahara não se importava, ele definitivamente não se importava.
Fyodor teve que se inclinar, até que estivesse sentado nas pernas de Chuuya, com as mãos do mesmo ainda em sua cintura, enquanto as suas próprias, uma nos fios da nuca do ruivo, e as outras em seu rosto. E agora, ele provava a textura de como os lábios se moviam, como era beijar Chuuya, mesmo que sua boca ainda obtivesse o leve gosto de álcool, gosto esse que pouco a pouco sumia, sumia, se desmanchava, se misturava.
Era tão bom.
Fyodor se sentia tão bem.
Chuuya se sentia tão bem.
Ele tinha certeza que em lembrança, ele sentiria falta daquele beijo a cada momento do seu dia, de sua semana, se não pudesse novamente beijar Chuuya, este, que tinha certeza, que passaria pelo mesmo.
Aquela era a melhor resposta que ele poderia querer.
Fyodor apenas poderia lembrar-se de quando escreveu: “E nós nos beijávamos, chorávamos, dávamos gargalhadas; nossos lábios ficaram inchados de tanto beijar.”
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