Na floresta obscura, Bakugou tentava concentrar ao máximo sua audição lupiana, mas o único som que ouvia era o farfalhar das árvores. Um rosnado de frustração escapou por sua garganta. Estava caçando uma Fada Negra que vinha matando alguns humanos, fazendo com que o Conselho agisse e mandasse uns dos caçadores da instituição irem à sua caça, no caso, ele. Chegava a ser frustrante em saber que estava sendo ludibriado por uma fada, ela era esperta, sabia disso, mas não podia ser melhor do que ele. Katsuki não aceitaria isso, jamais.
— Porra! — sibilou, sentindo suas presas surgirem.
Balançou a cabeça e concentrou-se, precisava manter o foco. Respirou fundo e fechou os olhos, aumentando ainda mais a própria audição; o vento leve, as árvores dançando calmamente, os pássaros cantarolando animadamente, coelhos pulando entre os arbustos, esquilos entre os galhos das árvores, porém nenhuma batida de asas ou até mesmo passos. Foi quando um arrepio subiu por sua coluna e ao arregalar os olhos desviou de um ataque que não esperava, moveu-se por instinto. As garras da fada fizeram um estrago na árvore e ela apenas soltou uma leve risada.
— Interessante. — A fada deu dois passos para frente do lobo que acabou recuando. Alargou ainda mais o seu sorriso, movimentando as asas em plena excitação. — Então, o Conselho resolveu mandar um de seus alunos para me caçar, que hilário — cantarolou. — Vai fazer o que, lobinho? Uivar para a deusa da lua e pedir sua tola proteção? — Riu ainda mais quando o ouviu rosnar.
A fada, mesmo provocando, estava fervendo de ódio. Como o Conselho ousou em mandar um estudante à sua caça, considerando-a uma insignificante? Ah, não, não, não, ela não iria permitir que fosse categorizada daquela forma. Mataria aquele lobisomem e deixaria-o de enfeite perante a instituição por determinarem que ela fosse apenas uma pequena pedra dentro de seus calçados. Era ultrajante. Entretanto, ela estava subestimando-o. Sorrindo de canto, Bakugou respondeu:
— Escute aqui, sua fada desgraçada, você acha mesmo que o Conselho mandaria alguém insignificante para a sua caçada? Não, eles mandaram o melhor, alguém que irá terminar o serviço da maneira mais prática e rápida possível. Se quisessem mandar alguém descartável, teriam mandado os outros inúteis. — E sem esperar investiu um ataque, liberando as suas garras, seu alvo era a garganta da fada, mas é claro que ela desviou e contra-atacou chutando-o no rosto.
— Você deve ter um ego inflado, não é? — Era uma pergunta retórica. Bateu as asas e aproximou-se rapidamente do outro, alargando suas garras, tentando atingir qualquer parte do corpo do outro, mas Katsuki desviou num salto e enfiou as garras sobre o peito esguio, mas não profundo o suficiente para feri-la gravemente. — Ugh! — Dando dois passos para trás e pondo a mão sobre o ferimento, brilhou seus olhos violetas, ativando a sua cura. Fechando o semblante, encarou o lobo, deixando faíscas de seu poder saírem por seus dedos. Estava começando a se descontrolar, sabia disso, estava tão frustrada e nervosa com o maldito Conselho.
Tinham expulsado-a devido algumas de suas práticas, e querendo esfregar em como perderam um precioso membro, começou seus sacrifícios, esperando que um dos altos viessem até ela, mas tudo o que mandaram foi um estudante. Aquilo foi o estopim de sua ira. Tentava a todo custo acertar o lobo, que notando o quão desatenta ela estava, debochava. Aquilo só aumentava seu ódio e sua guarda que estava baixa; Bakugou sabendo disso, instigava ainda mais os comentários sarcásticos, até que conseguiu derrubá-la e atravessar o próprio braço no peito da fada.
— Derrotada por um simples estudante — disse Katsuki, alargando o sorriso. Em seus últimos suspiros, a fada murmurou raivosamente:
— Eu te amaldiçoo, lobinho: aquele que não se importa com os demais não ouve os outros, e apenas vive com o som de sua própria voz e ego; terá aquilo que mais ama retirada de você. — Era uma língua estranha, estava tão paralisado que não soube como agir, no fim, riu. Uma gargalhada tão alta que acabou assustando alguns animais pequenos. Aquilo deveria ser uma grande piada, ter algo que ama retirado de si, patético.
Não dando bola para o que uma Fada Negra morta proferiu, retornou para a instituição, não antes de acenar para o corvo que estava na árvore o observando — era o animal de recados do Conselho —, com a localização dada e que o trabalho tinha sido finalizado com excelência.
Na manhã seguinte, quando levantou cedo para poder ir para a instituição, pois, infelizmente ainda era um estudante, seu corpo inteiro vibrava em êxtase; mais uma vez, o Conselho pediu para que fizessem o trabalho sujo para eles, o que de certa forma era um crédito caso futuramente fosse membro do Conselho — apenas pessoas escolhidas a dedo pelos próprios faziam parte. Estava tão animado que poderia se vangloriar por novamente ter sido chamado e completou tudo com sucesso, que quase não notou algo crucial; sua voz.
Toda a animação se evaporou em segundos, seu corpo inteiro ficou gélido subitamente, algo que não deveria ser possível já que era lobisomem, mas ali estava ele, em frente ao espelho, em pleno pânico. Tentava proferir vários palavrões, mas nada saiu, nem mesmo um ruído.
A sua voz tinha sumido.
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