Bakugou já estava ficando irritado enquanto seguia o vampiro na floresta. Ele nem fazia questão de lhe dizer onde estavam indo. A única coisa que fez foi lhe dizer um: vamos. Mais nada. E nem se quer poderia ficar puto com a situação, pois o seu lobo interno parecia ter sido enfeitiçado pelo vampiro metido do Conselho.
“Caralho!”, pensou, mordendo o interior de sua bochecha. Como odiava aquela situação. O quanto se xingava por ter sido descuidado ao enfrentar a Fada Negra, se tivesse sido, não estaria nessa situação. Pensar nisso deixou o seu lobo melancólico, o que lhe fez ficar com mais raiva ainda. Bakugou sabia que tinha sérios problemas com seu lobo, ele era uma parte de si, mas uma parte que não aceitava. Não admitia.
Quando, enfim, Shinso parou e olhou para si, ficou confuso. Eles estavam, literalmente, em lugar nenhum. Era um floresta comum. Vazia. Bakugou não escutava nada.
— Está enfeitiçado — disse o vampiro, mas isso ainda não respondia às dúvidas do loiro. Aproximou-se de uma árvore e enfiou a mão no buraco que havia nela, puxando uma alavanca que tinha do lado de dentro do tronco. A terra tremeu levemente antes de uma porta se abrir, logo abaixo deles. Mesmo desconfiado, Bakugou seguiu o vampiro que descia as escadas. Conforme andavam, a porta ia se fechando enquanto as tochas de dentro do lugar se acendiam.
Bakugou não esperava ficar estupefato. Jamais imaginou ver uma biblioteca tão grande e exuberante. Era maior do que a biblioteca da Instituição e, sabia, de alguma, que era maior do que a do próprio Conselho.
Shinso virou-se para o lobo e sorriu de canto, pela forma em que os olhos dele brilhavam ao olhar ao redor. Talvez, mas só talvez, não tenha sido ruim trazê-lo aqui. Balançou a cabeça, dispensando-se desses pensamentos.
— Fique à vontade, vou procurar na sessão de línguas mortas — disse, por um lado não queria deixá-lo sozinho, no entanto, ver o loiro completamente alegre olhando para os livros lhe deixou contente.
Enquanto o vampiro se distanciava, Bakugou aproximou-se das estantes, passando suavemente as mãos sobre os livros, o lugar estava limpo, então certamente Shinso vinha aqui constantemente para cuidar da biblioteca. Bakugou amava ler, era algo tão gostoso em sua opinião, de certa forma lhe deixava relaxado, apesar de ter certos momentos em que ficava com raiva dos personagens, mas ainda assim, não deixava de ser incrível. Bakugou também amava ler livros relacionados ao mundo sobrenatural, era algo fascinante.
Quando Shinso retornou com algumas pilhas de livros e distribuiu sobre uma das mesas vazias, o lobo se aproximou. Shinso olhou para ele.
— Vamos começar a procurar… — Com um aceno, ambos se sentaram. Talvez eles tivessem perdido a noção de tempo, mas nenhum deles parecia querer sair daquele ambiente. Shinso reparou o quão calmo o lobo estava e não deixou de sorrir com isso, nem parecia àquele ser completamente agitado.
Um curto suspiro escapou dos lábios do vampiro ao fechar outro livro. Nada. Não importa quantos livros tivessem lido, parecia que nenhum fechava. Hitoshi tinha certeza que era uma língua morta, mas seria uma língua que sua família nunca teve conhecimento? Mordeu o lábio com força ao pensar nessa possibilidade. Bufando pegou outro livro, não podia deixar sua mente vagar num cenário em que não encontram o livro.
Bakugou, ao seu lado, sentiu as preocupações do vampiro, não deixando de encará-lo por sua visão periférica. Não queria admitir, mas também estava preocupado com a situação. Nesse momento queria estar explodindo, no entanto, não conseguia. Via como o vampiro estava se esforçando, mesmo sendo um rabugento — algo que ele também é — e um completo mandão, ele estava ali. Desviou brevemente o olhar e continuou a sua busca, pegando outro livro.
Mais alguns minutos de silêncio até Bakugou levantar-se com um largo sorriso. Shinso franziu o cenho devido a movimentação, mas ficou aliviado no mesmo instante que viu o sorriso de Bakugou.
“É um sorriso lindo”, pensou.
Pegou o livro oferecido pelo loiro e olhou, sorrindo de canto. Realmente, era uma língua antiga, não se admirou por terem demorado para encontrar; sendo sincero consigo mesmo, estava impressionado que sua família tinha algo. A primeira língua das Fadas. Extinta após um século.
— Como você teve acesso a isso, Margaret? — questionou para si mesmo. Fechando o livro apenas para olhar a capa. Não tinha nada muito significativo. Suspirou, ponderando brevemente onde ela poderia ter lido sobre a primeira língua. — Família? — murmurou. — Talvez… — Resolvendo deixar aquilo de lado, voltou a abrir o livro e começou a procurar. Bakugou, obviamente, ajudou-o. No final, eles já tinham a maldição da Fada em mãos. — Aquele que não se importa com os demais não ouve os outros, e apenas vive com o som de sua própria voz e ego; terá àquilo que mais ama retirada de você. — Fez uma careta e olhou para o loiro. — Você realmente ama o som da sua voz, né? — disse ironicamente, recebendo um olhar feio do lobo. Hitoshi suspirou cansado, sentando-se.
— É como eu suspeitava, seu ego é tão grande que foi a sua própria ruína… Como sempre foi para todos e sempre será. — E olhou seriamente para o lobo, que engoliu seco. — Ou você muda a sua personalidade ou ficará sem sua voz pelo resto da vida. Mas não é apenas isso — levantou-se, ficando próximo do loiro, que não recuou —, você terá que aceitar a sua outra metade. Pare de negar o seu lobo, aceite os sentimentos do seu lobo; vocês dois são um só, não dois, um. Aceite-o, aceite seus sentimentos e mude! Ou vamos parar por aqui!
Bakugou olhou firmemente para os olhos arroxeados do vampiro, sentindo o peso daquelas palavras. Mordeu o interior de sua boca. Ele sabia. Sabia perfeitamente que precisava aceitar o lobo, mas isso seria diferente do que lhe foi ensinado. Era óbvio que ele sabia que sua personalidade era horrível, seu lobo constantemente demonstrava seu desgosto com suas atitudes. Mas o que ele podia fazer? Como mudaria? No fundo, Bakugou estava com medo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.