O sol já estava no alto do céu, mas as nuvens estavam deixando tudo nublado e com um clima sombrio.
Hinata havia acabado de acordar, se sentando e sentindo Bokuto se remexendo na cama, rindo pela atitude do maior. Logo se colocou de pé, caminhando até o banheiro e adentrando o cômodo, fechando a porta atrás de si, indo até a pia e se olhando no espelho; estava um trapo.
Lavou seu rosto com água gelada na tentativa de tirar aquela sensação ruim que o cercava, respirando fundo ao perceber que não houve diferença. Fez o resto da higiene matinal — na casa de Bokuto tinha alguns de seus pertences para caso fosse ficar na casa do rapaz por surpresa — e voltou ao quarto, pegando sua bolsa e indo até seu amigo, que estava na cama.
— Bokuto, eu já vou indo. Obrigado por cuidar de mim — sussurrou, deixando um beijo na bochecha do maior, que sorriu e acenou — ainda sonolento — para o ruivo.
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Hinata caminhava pelas ruas de Beaufort apressado, não sabia se Kageyama estaria o seguindo ou se algo ruim aconteceria, então se apressou ainda mais para chegar em sua casa.
As ruas estavam movimentadas, ainda mais por ser sábado, um dia onde as pessoas aproveitam para sair e se divertir. O ruivo vez ou outra trombava em algumas pessoas na calçada, seu coração estava acelerado e sua mente se lembrava da sensação de ter seu coração arrancado naquele sonho bizarro, e isso estava o agoniando muito, tanto que nem percebeu que aquela maldita frase escapara por seus lábios enquanto atravessava a rua.
— Litterae non entrant sine sanguine, omnia cinis aequat. Huc, Kageyama Tobio. — Num piscar de olhos, dois carros se envolveram em um acidente grave, onde algumas pessoas morreram na hora e outras ficaram feridas.
Hinata se assustou de imediato, entrando em choque ao ver a cena à sua frente, aquilo era… culpa sua? Não… Kageyama era o culpado.
— Huc, Kageyama Tobio — disse com a voz trêmula, podendo sentir uma brisa gélida, como aquela que o "atingiu" na noite anterior, indo de encontro com seu corpo.
Não demorou para ver aquele ser demoníaco, dono de uma altura exorbitante e asas gigantescas, mas que logo tomou um tamanho "humano" — ainda que mantivesse as asas. Hinata jurou que, em meio àquela aura sombria e horripilante, pôde ver uma beleza naquele que invocara.
Acabou por ajoelhar-se no chão, vendo pessoas correndo até onde os carros estavam, as chamas já se alastravam e o cheiro de fumaça intoxicava todos que ali estavam presentes. Suas mãos foram até seu peito, o palpitar de seu coração o assustava, ia morrer ali mesmo?
Teve sua mão segurada por Kageyama, que sorriu de forma macabra, levando Hinata até uma loja que estava vazia — todos que ali estavam agora se encontravam no local do acidente.
O demônio não tirou o sorriso do rosto, o que assustou o ruivo, pensando que iria morrer pelas mãos do ser sobrenatural que estava logo ali.
— Vamos, humano, me diga o motivo de ter me invocado para o seu mundo. — Sua voz era grave e rouca, o que deixou Hinata ainda mais apreensivo.
— Hm… — O ruivo sabia que tinha que tomar cuidado com o que iria dizer, até porque não iria contar que invocou Kageyama por um motivo esdrúxulo. — Eu… precisava da sua ajuda.
— "Precisava"? — perguntou de forma sarcástica, já pensando em mil e um jeitos de matar o ser humano que ali estava.
— Quer dizer… preciso. — Algumas gotas de suor escorriam da testa de Hinata até suas têmporas, descendo pelo canto da bochecha e indo até a região do maxilar.
— Bom, me dê uma boa razão para não te matar aqui e agora.
— Você pode… hm… matar pessoas! Você deve gostar de fazer isso, certo? — Acabou por gaguejar enquanto inventava alguma desculpa para não morrer.
— 'Tá de brincadeira comigo, desgraçado?! — Apertou seus dedos no pescoço do ruivo, tendo seu pulso segurado pelas mãos de Hinata.
— Desculpa, me desculpa! E-eu quero me vingar de a-algumas pessoas, Kageyama! — Estava chorando, era realmente fraco sob pressão.
— Se vingar? Oh, até uma criança tem suas próprias ambições e desejos. — Soltou Hinata, rindo em seguida.
— Eu não sou uma criança, tenho vinte e três anos
— Que seja, eu não vou te ajudar. — Sem dizer mais nada, sumiu em meio ao caos, deixando Hinata para trás.
O ruivo caiu de joelhos novamente, chorando em alívio por ainda estar vivo após o momento de tensão com o demônio.
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Hinata estava em um estado neutro enquanto voltava para sua casa, ele queria que sua vontade, que o mal que o ocupava se tornasse realidade, queria a vingança contra muitas pessoas. Porém, conseguiria lidar com a maldade do demônio?
O ruivinho não demorou muito para chegar e entrar em sua casa, concluindo que algum furacão tinha passado por ali por causa da bagunça em que o local de encontrava.
Colocando sua mochila no sofá, foi atrás dos produtos de limpeza para dar uma faxina no lugar, mas foi impedido assim que sua televisão ligou, dando logo no canal de notícias.
— "Vamos às atualizações sobre a situação caótica da cidade de Beaufort. Na manhã de hoje, um acidente grave foi presenciado por várias pessoas na avenida principal da cidade. Sobre as pessoas envolvidas, quatro morreram e duas ficaram gravemente feridas. Indo para o litoral, a maré subiu ao ponto de inundar as residências que foram construídas e fortificadas na beirada, nenhuma morte ou feridos. No parque HillWorth, um dos grandes e mais famosos brinquedos quebrou, matando cinco pessoas, sendo duas crianças, dois jovens e um idoso. Próximo à comunidade estrangeira da cidade, foi possível registrar um vendaval incomum tomando conta de todo o local, mas, felizmente, ninguém se feriu. Em breve voltaremos com mais atualizações sobre todos os acidentes que ocorreram simultaneamente em Beaufort".
Aquilo fora o cúmulo para Hinata, todo aquele caos, todo aquele sofrimento, tudo aquilo era culpa de seu egoísmo, mas ele não estava completamente arrependido.
— Está gostando, criança? — Sentiu a presença do demônio atrás de si, virando-se rapidamente.
— P-por que trouxe o caos à cidade?
— Você me invocou por causa de uma maldita vingança e agora vem bancar o santinho e tentar me obrigar a ficar numa coleira e ser controlado por ti? Nem morto que eu faço isso. — O ser sobrenatural cruzou os braços, estava irritado, tinha que admitir, mas queria ver até onde aquele humano iria.
— Mas eu não odeio a cidade inteira!
— Problema seu.
Hinata se aproximou do moreno, segurando no colarinho da roupa que o demônio usava.
— O que pensa que está fazendo?! — Kageyama levantou a mão, fazendo Hinata ser jogado a alguns metros de distância, ouvindo o menor gemer de dor.
— V-vamos fazer um contrato, Kageyama… — O ruivo disse, ofegante.
— E o que eu ganho com isso? Você? — Hinata estaria mentindo se dissesse que não se sentiu abalado ao ouvir tal coisa. O que ele poderia oferecer ao demônio além de si mesmo? Não tinha nada para dar.
— O que você quer em troca?
— O que você pode me dar, Hinata? — Kageyama se aproximou, segurando o rosto do menor e forçando-o a olhar para si. — Diga-me.
— Apenas… eu. — O demônio riu descaradamente, até que não era tão ruim.
— Fechado, temos um contrato. E agora que você é meu, ah, eu posso fazer o que eu bem quiser com você! — Kageyama riu de forma divertida, iria fazer muito bom uso do ser que ali estava.
Logo uma marca surgiu no pescoço do ruivo, era como uma assinatura e comprovação de que o contrato havia sido feito e agora estava selado.
— O quê? Espera... — Hinata não pôde terminar sua frase, pois as grandes asas do ser sobrenatural o cercaram, logo ele já não estava mais em sua casa.
Ele sabia que havia sido um erro se oferecer como parte do contrato, mas fazer o quê? Hinata ainda estava se preparando para se vingar contra algumas pessoas da cidade.
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