Seria uma espécie de elevador a subir. Anthony sentia suas pernas tremerem, sua cabeça girar dando várias voltas, suas coxas e antebraços estremecendo devido a intensidade de como subia, tão rápido feito vulcão. Pois então sua consciência antes apagada fora recobrada aos poucos. O coração do rapaz estava agitado, aflito. Ele não sabia o que estava acontecendo. Quando percebeu o automóvel estacionar sentira a colisão de imediato. Olhou ao redor com dificuldade e os olhos semicerrados, sentia vertigem. O sangue bombeando rápido nas veias, o coração batendo forte dentro da caixa torácica, e as pernas tão bambas quanto bambu. Estava numa espécie de campina. Coçou a garganta ao se dar conta de que não era o único ali.
Havia 32 pessoas ao seu redor aglomeradas dentro do específico lugar de onde vieram. Uma marcação, todos tinham, inclusive Anthony. A dele era o número 13. Percebeu isso ao tocar por baixo do tecido da camisa qual usava na região esquerda do abdômen, próximo a virilha. Havia um chip rastreador implantado bem ali com o código descrito como treze. Além disso percebeu que há 20 metros de distância, logo a frente havia um canteiro de armas brancas. Franziu o cenho encucado. O que aquilo significava? Mas então seu baixo ventre fisgou quando uma voz mecânica feminina eclodiu fortemente pelo local, sendo emitida através das micro caixas de som invisíveis a olho nú.
— Atenção! — ordenou roubando a atenção de todos os presentes. — Sejam todos bem vindos á zona BWCD-47; este é o sistema operacional da RICV. Aqui vocês irão testar suas habilidades de sobrevivência. Nessa unidade há um labirinto e uma floresta, somente irá encontrar a saída o mais forte e o mais esperto. Não se acanhem, foram todos minuciosamente escolhidos para vivenciarem esse momento único na busca pela cura. A partir de agora serão um por um. — a voz mecânica anunciou deixando o rapaz de cabelos acastanhados extremamente confuso. Sentiu uma agonia no coração semelhante à uma sensação de perda. Era como se algo estivesse torto e muito errado. Quando a voz mencionou cura Anthony imediatamente se lembrou de onde viera, a Comarca das Rochas. Fora isso, por mais esforço que fizesse não conseguia se lembrar de mais nada. — Lembrando que morrendo no jogo, morrerás lá fora também.
A voz mecânica ditou fazendo todos enrugarem a testa. Lá fora? O que isso significa? Onde é que estariam todos eles? Seria uma realidade falsa criada pelas autoridades? Anthony tinha essas indagações em sua cabeça. Lembrava que sua Comarca fora a mais atingida pelos vírus TDC. Muitos habitantes da região morreram infectados tornando-se demônios assustadores que agora vagavam por ai comendo carne humana, mordendo e infectando uns aos outros. A Comarca das Rochas sofrera muito com a infecção do vírus que se proliferou tão rápido quanto respirar. Lágrimas brotaram no canto dos olhos do rapaz de 1,78. Aquela agonia que sentia no peito não tinha fim.
— Quando o relógio apitar no três, dois... Um. — um estouro de canhão eclodiu quando a voz finalizou a contagem regressiva.
O banho de sangue estava formado. A princípio Anthony ficara imóvel, sem reação. As pessoas mais ligeiras e sorrateiras pegaram das armas disponibilizadas no canteiro e começaram a se matar. Tudo acontecera tão rápido e bruscamente que Anthony pouco conseguiu acompanhar. A carnificina estava feita e após alguns instantes de divagação o rapaz finalmente tivera uma reação. Correu como se não tivesse fim ao canteiro de armas desviando sorrateiramente dos possíveis ataques letais. Com o coração na boca e a respiração acelerada conseguiu alcançar a primeira coisa que viu, uma espada montante.
Pego a mesma parou por pouquíssimos instantes para analisar a situação ao redor. Já havia cadáveres frescos enfeitando a arena da campina. Ofegou tenso e suando pela testa, pisando fundo para correr para longe dali. Percebeu que muitos fugiram para dentro da floresta, e Anthony faria o mesmo. Correndo destrambelhadamente com o montante em mãos o rapaz de 22 anos disparou em direção a floresta afim de fugir da morte eminente. Percebeu que havia pessoas com o sangue frio para matar e que não tinham piedade, ou nem sequer pensavam duas vezes na hora do ato. Enquanto corria sentiu suas pernas fraquejarem durante o percurso pisando em falso e escorregando. Uma sombra espreitou, Anthony virou o pescoço e deu de cara com um homem negro alto que carregava consigo duas espadas duplas pontiagudas. Ele teve certeza que agora seria a sua morte.
Trincou os dentes com raiva ao ser quase acertado, rolando na grama cortada para fugir do golpe e consequentemente tendo a espada montante caída há poucos centímetros de distância. Estava desarmado e vulnerável, qualquer passe em falso o destruíria. Apesar de assustador o grandão não intimidou o rapaz. Anthony estava pronto para morrer se fosse com coragem, e sendo assim esquivou de mais um golpe quase certeiro do homem de pele escura tendo a superfície das roupas rasgadas e a pele razoavelmente cortada por um triz. Bufando pelas ventas estava e de repente o toque do canhão eclodiu chamando a atenção de ambos e mais especificamente do rapaz alto e armado.
Luana 05 — Comarca da Pesca.
Diego 02 — Comarca das Sementes.
Scarlett 12 — Comarca da Horta.
Sophie 22 — Comarca da Energia.
Haskel 28 — Comarca do Transporte.
Um grande telão virtual flutuante surgiu anunciando os nomes, números e comarcas dos demais participantes que foram mortos junto de seus respectivos rostos mostrados à todos. Fora uma breve distração, o suficiente para Anthony se arrastar no gramado e recuperar a espada que havia caído a pegando pela lâmina de aço e tendo a palma da mão razoavelmente cortada. Percebendo isso o grandão avançou em cima do rapaz num golpe sedento e impiedoso fazendo-o se defender por puro reflexo ao chutar o pulso esquerdo do maior. Nesses milissegundos Anthony se levantou exasperado, e aproveitando o pulso aberto do outro reuniu toda a garra e ódio que sentia disparando no grandão e acertando com toda a força a haste da arma de espada dupla, fazendo-a voar longe para vários metros de distância dos dois.
Ambos se encararam naquele curto período de tempo. O maior acreditou que seria morto pelo rapaz de cabelos castanhos e olhos amendoados, mas na realidade o que Anthony fizera foi fugir para dentro da floresta, correndo desesperadamente para fora do alcance e do campo de visão de qualquer um. Surpreso o maior ficou, enquanto Anthony no fundo sabia que iria se lamentar futuramente por tê-lo deixado vivo. Engolindo seco Anthony não parava de correr. Pisava na grama verde, na seiva, nos galhos secos e deteriorados ultrapassando todas as árvores gigantes que encontrava pelo caminho. Seu coração estava á mil por minuto.
Ofegava enquanto corria logo decidindo estacionar numa árvore encostando e apoiando as costas na mesma. Precisava recuperar o oxigênio e o equilíbrio mental. Sentia que iria surtar antes de sair vivo dali. Se o propósito do teste fosse enlouquecê-los, além de matá-los, não demoraria muito para acontecer com o rapaz das Rochas. Escutou passos vindo através das árvores. Seria mais alguém tentando lhe matar? Logicamente que sim, pois esse era o propósito de tudo aquilo, matar uns aos outros para somente um sair vivo e servir de teste para a cura final dos cientistas de Cohab, a sede principal localizada na Comarca das Ciências.
“Anthony”
Escutava a voz masculina dentro da sua cabeça, lhe chamando.
“Anthony”
Era repetitivo, e provocava vertigem no rapaz. Arrastou as costas no tronco da árvore caindo no solo de seiva, delirando... Transpirava puro suor pela testa, tórax, pescoço, panturrilhas, e abdômen. Suava frio. A cabeça de Anthony girava dando várias voltas e junto disso vinham vozes que ao mesmo tempo que eram estranhas também eram vagamente conhecidas. Revirou os olhos de boca aberta, babando. Cenas passavam pela mente do rapaz; eram laboratórios químicos. Havia corpos estirados em macas, tudo era azul e sintético, mas além disso havia também um par de olhos verdes esmeralda. Aqueles olhos... Anthony os conhecia de algum lugar, mas não conseguia se lembrar de onde.
“Anthony"
Repetia a voz junto daquela imagem embaçada de par de olhos verdes, tão intensos. Molhou a garganta com saliva revirando os olhos em delírio, tudo girava, mas então de repente algo o fez voltar para dentro. Uma garota ruiva surgiu do nada com um par de adagas. Se parecia com uma raposa, e foi tão rápida voando na direção de Anthony que ele pouco pudera ter qualquer reação que fosse. A raposa mirou no peito do rapaz, e foi tão voraz na hora de atacar quanto a flechada que recebeu nas costas fazendo-a tombar morta no chão. De olhos arregalados o garoto ficara, confuso, desorientado e sem nada entender. Há 5 metros de distância estava um rapaz magro e esguio com um arco e flechas apontado na sua direção. Ele havia acabado de matar a garota raposa, mas com certeza não para defender Anthony, e quando o mesmo acreditou que seria o próximo o rapaz de arco e flechas sumiu de vista com seu semblante sério e carregado.
Por quê não me atacou também? Anthony se questionou de olhos apertados e rosto umedecido por suor, mas estava atordoado de mais para raciocinar ou pensar em qualquer coisa. Respirou fundo encarando o cadáver da ruiva a sua frente, molhando os lábios. Subsequentemente o canhão estourou anunciando os novos mortos.
Maron 23 — Comarca da Pesca.
Rayna 24 — Comarca do Transporte.
Foram mais dois mortos incluindo o rosto da raposa ruiva que aparecera no telão virtual flutuante. Anthony suspirou cansado ao visualizar aquilo, mais cedo ou mais tarde o seu nome, número e rosto também estariam ali expostos. No entanto, ele não pretendia morrer agora e por isso decidiu se levantar com dificuldade segurando o montante em mãos. Passou pelo cadáver da garota e se afastando um pouco dali subiu na próxima árvore mais alta que encontrou, escalando-a, ficando à aproximadamente sete metros do chão. Deitou-se no galho acomodando suas pernas e braços cansados, deixando a espada sobre seu colo. Acreditou que naquele ponto não seria facilmente encontrado pelos outros, então decidiu que somente mais tarde saíria para caçar algo para comer. Além disso precisava encontrar algum rio de água doce para que pudesse se hidratar.
Encostando a cabeça no casco da árvore fechou os olhos tentando controlar sua respiração. Seus batimentos cardíacos agora estavam menos acelerados; iam se estabilizando aos poucos. Anthony precisava descansar, pois era apenas o início de uma longa e dolorosa batalha sangrenta.
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