Tudo estava escuro, absolutamente escuro. Calafrios lhe percorreram da ponta dos pés a cabeça. O coração batia continuamente frenético. Sentiu a ponta de todos os dedos formigarem. Estranha lhe fora a sensação. Os olhos foram abrindo periodicamente, e quando os obteve aberto por completo um susto tremendo lhe envolveu o peito. Há vários metros de distância havia um infinito corredor escuro, e pelas laterais outros infinitos corredores escuros. Anthony começou a se apavorar. O que estava acontecendo afinal? Como havia parado ali? Quem o havia desacordado e posto dentro do labirinto? Não imaginou que fosse assim, se sentiu apunhalado pelas costas.
Ofegante e com o coração na mão, Anthony tentou andar em passos lerdos e muitíssimos cuidadosos pelo bréu da infinita escuridão. Checou seus bolsos e com as mãos trêmulas percebera que seus itens explosivos estavam seguros consigo, além da espada montante. Bufou respirando fundo, pensando que os óculos especiais de Kwame com certeza estariam sendo de muitíssima utilidade agora, nesse momento. Difícil de mais enxergar naquele bréu. Molhando os lábios com os olhos marejados, Anthony continuou andando vagarosamente. Tinha que encontrar a saída do labirinto, mas sentia medo.
Ergueu a montante empunhando-a com a destra, afim de se defender de qualquer ataque surpresa. Devagar virou pelo corredor a esquerda, descobrindo que havia muitos outros corredores por ali, tal como um fiel labirinto deveria ser. Engoliu seco começando a suar pelas têmporas, evidenciando seu nervosismo. Com a espada erguida o rapaz caminhou tão lerdo quanto uma tartaruga, sentia medo de arriscar qualquer passo em falso e ser eliminado no mesmo segundo, era uma questão de vida ou morte.
O cheiro que exalava das paredes de concreto era singular, Anthony não soube identificar o que era. Outra vez respirou fundo, mesmo que não estivesse calmo teria que buscar o equilíbrio interno. Caminhando pela escuridão, um grito hediondo se aterrou chegando aos ouvidos do rapaz das Rochas. Arregalou os olhos assustado com aquilo, com o coração disparado à mil por segundo. Fora um grito feminino.
— Emma! — exclamou em voz alta, preocupado.
Sumamente uma imagem flutuante e ofuscante surgiu ao seu redor. Não era feito de matéria, e tampouco tangível. Da pouca luz que havia aos arredores, tal presença imaterial fez presente uma iluminação que fizera Anthony questionar a natureza daquilo. A imagem feminina cujo tinha o rosto de sua mãe lhe encarou com um sorriso esnobe de desdenhoso, fazendo o das Rochas sentir burburinhos no estômago.
— Na posição que está, achas mesmo que consegues salvar um de seus amigos? — a figura flutuante questionou fazendo o das Rochas enrugar a testa.
— Você não é real! — replicou com voracidade.
— Tú és real? Se achas inteligente Anthony Swank? — devolveu trazendo mais burburinhos na boca do estômago do rapaz.
De repente a imagem feminina rodopiou oscilando e trazendo à tona a figura de três portas distintas, uma do lado da outra. A porta da esquerda cujo era feita de madeira de cedro, a porta do meio que era quatro palmos menor, e a porta da direita cujo era a mais alta sendo destacada por um bonito tom de vermelho vinho. O esboço de mulher fitou Anthony que parecia zonzo com tudo aquilo. Não havia chegado nem na metade do labirinto, mal havia alcançado o início e aqui estava sendo questionado pelo semblante familiar de sua própria mãe.
— Achas mesmo que podes salvar seus amigos? — interrogou. — Queres mesmo salvá-los? — completou a pergunta, trazendo a Anthony uma dor singular dentro do peito.
Fez uma careta repreendendo a si mesmo por ter aquele sentimento de protetor. Mas quem afinal ele estava protegendo? Os outros ou a si mesmo? Não havia como todos saírem dali, não havia amigos, nunca houve. Anthony se martirizou em agonia plena. Ele queria sair vivo daquele teste — muito — e parece que aquela figura feminina era sua própria consciência conversando consigo.
— Há três portas. Cada uma delas lhe mostrará algo distinto. A da esquerda irá lhe levar direto a saída do labirinto; a da direita lhe mostrará a verdade sobre si mesmo; e a do meio irá salvar todos os seus amigos. Só podes escolher uma porta, sem exceção. — a imagem flutuante explicou fazendo aquele maldito nó na mente do rapaz.
Ele deveria escolher apenas uma porta. Segundo a mulher, apenas uma delas o levaria direto a saída do labirinto, e sair do labirinto era tudo o que Anthony desejava. Mas também tinham os outros... Anthony se sentia incapaz de cometer tal ato de traição, mesmo que ninguém fosse evidentemente amigo de ninguém, o das Rochas se sentia mal só de pensar em deixá-los para trás já que há a possibilidade de salvá-los. Além de tudo isso, também havia a porta da verdade. Anthony queria muito, desde quando entrou na BWCD-47, saber a verdade sobre si. Todos pareceram se recordar do mais importante, menos Anthony. E por noites e mais noites dentro daquela gruta o rapaz vinha se martirizando por conta disso.
— Isso é alguma pegadinha? — questionou após muito pensar nas possibilidades. A imagem esboçou um sorriso de desdém, e então retrucou.
— Tens apenas dois minutos para escolher. — alegou com convicção, fitando o jovem rapaz das Rochas que confuso estava.
Anthony não se via escolhendo apenas uma das portas, pois ele precisava de todas. Mas após poucos segundos de raciocínio ele chegara numa conclusão. Aquilo era uma charada, um enigma de vida. Caberia a Anthony decifrá-la. Mas como? O das Rochas se torturou naquele tempo intermediário entre os dois minutos que lhe foram dados. Escolhendo a porta de cedro seria levado direto ao confim do labirinto; escolhendo a vermelho vinho lhe seria mostrado toda a verdade de suas origens; e escolhendo a menor de todas estaria ajudando seus amigos e os livrando da morte eminente.
Era uma escolha tremendamente difícil, quase impossível de se fazer, mas Anthony tinha que efutuá-la dentro do prazo de dois minutos. Respirando fundo ao fitar o trio de portas, o castanho analisou as possibilidades com cuidado, visando os prós e contras da situação. Qual delas escolher? Qual delas? Questionava-se internamente em evidente aflição.
— 30 segundos. — avisou a figura feminina deixando o castanho ainda mais bagunçado de agonia.
Anthony transpirava frio. Fechando os olhos decidiu ir pela sorte. Correu em direção à uma das portas sem saber qual que estava adentrando, e com coragem e atitude atravessou uma delas de olhos fechados.
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Os corredores do sede P-38 da RICV estavam silenciosos. Entre suspiros Anthony colocava seu plano em prática. Havia passado sua vida inteira ali, naquele cárcere privado. Seus pais foram mortos, explodidos pelas bombas de dilasinador. Desde então só havia o Codlerman consigo. Na época era só um rapaz de 14 anos com par de olhos verdes; os verdes mais bonitos quais Anthony já viu.
Darren cuidou bem de si, ambos eram órfãos e se cuidaram, era mútuo, recíproco... Com o passar dos anos Anthony se viu apegado ao rapaz mais velho. Um amor singelo e verdadeiro brotou não só de Anthony, mas de ambas as partes. Amar é querer o bem do próximo, isso é amor verdadeiro. Colocar suas prioridades em segundo plano em momentos desesperados; isso chamá-se amor.
A sede P-38 da Comarca das Rochas abrigava todas as crianças, jovens e adolescentes hipoteticamente imunes ao vírus TDC segundo as pesquisas científicas da Cohab. Eram dezessete cobáias no total, poucos se comparar com as sedes das outras Comarcas. O virus não foi misericordioso na Comarca das Rochas, e muito menos a reação das autoridades sobre tal façanha. Apesar de tudo, Anthony tinha um plano em mente, e o colocaria em prática hoje. Encarou Joshua Banks, o rapaz que estava sentado no beliche de cima, declarando em seguida.
— Em menos de 30 minutos tire todos daqui. — declarou fazendo o colega de quarto se alarmar pelo comentário impertinente do outro.
— Não... Você não vai fazer isso.
— Vou! — rebateu decidido.
— Thony, você não pode! Isso é loucura, eles vão nos perseguir, vão nos caçar, nos descobrir e acabar com todos nós. — havia temor e muito medo na voz alheia cujo Anthony pôde captar perfeitamente bem.
— Já está feito Josh, cabe agora à você colocar a segunda parte do plano em prática. Eu preciso de você. Precisamos sair daqui o quanto antes. — insistiu. O das Rochas não iria desistir facilmente, estava convicto do que fazia. Banks balançou a cabeça em negação, completando em seguida.
— E tudo isso por causa do Darren? — aquela direta pegou na ferida de Anthony. Sim, grande parte era pelo Darren, mas não só por ele, era pelos dois. O castanho suspirou profundamente fechando e reabrindo os olhos, respondendo em sequência.
— Por favor Josh, preciso que faça isso. — insistiu. — Se não fizer, dentro de meia hora estaremos todos mortos. — completou a dramatização da frase.
Anthony havia espalhado bolinhas explosivas por toda a extensão da sede P-38, mas não fara isso sozinho, teve a ajuda dos seus amigos de Comarca qual crescera junto, inclusive o Darren. O objetivo principal era explodir a sede e fugir para algum outro lugar. Anthony não fazia idéia de para onde ir, mas conseguira convencer todo o pessoal. Havia um certo tempo para as bolinhas explosivas serem ativadas, e se não agissem dentro do tempo limite tudo estaria perdido.
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Anthony havia acabado de burlar as câmeras da sede como costumava fazer para visitar os aposentos de Darren. Girou a maçaneta com cuidado evitando fazer barulhos bruscos, e assim que entrou no recinto encostando a porta atrás de si, deparou-se com um moreno de peitoral desnudo e calças largas de tecido fino. Darren estava de costas para si, e até então não havia se dado conta de sua presença. Pelos minutos seguintes Anthony se manteve em silêncio apenas observando a estrutura corporal malhada do homem a sua frente, era algo que certamente lhe roubava o foco. Todavia, independente disso Darren sempre lhe rouba o foco, o homem mais alto de pele amendoada sempre teve o poder de lhe desconcentrar; desde quando ambos eram crianças ou pré adolescentes.
— Urrum! — coçou a garganta produzindo aquele ruído de propósito para chamar a atenção do outro. Simultaneamente o maior se virou mostrando seu peitoral malhado e desnudo, fitando Anthony que estava de pé em frente a porta.
— O quê faz aqui? — questionou notoriamente surpreso, mas sem esboçar tamanha emoção.
— Já está na hora... — o rapaz avisou começando a se aproximar do maior em passos lerdos. — Estão todos nos esperando. — completou, agora tocando nos ombros largos e robustos, fitando profundamente os verdes favoritos de sua alma.
— Eu disse que era cedo de mais. — Darren contrariou aquela idéia, mas Anthony não se deu por vencido.
Nos segundos seguintes o castanho selou vossos lábios iniciando um beijo de coração; sedento, cheio de saudades, apaixonado. Darren era tudo o que Anthony tinha nesse mundo, e não poderia desfazer dele por nada. Puxava os fios da nuca do rapaz maior aprofundando o beijo que era mutuamente correspondido pelo Codlerman, amarrando o rapaz menor pela cintura enquanto o beijava vorazmente dessa vez. A atração entre ambos era evidente, tão claro quanto água. Darren não conseguia resistir aos encantos de Anthony, e Anthony não conseguia resistir aos encantos de Darren. Ambos estavam juntos desde sempre, ambos estavam apaixonados e viviam aquele amor proibido longe dos holofotes das câmeras de vigia da P-38 que proibia permanentemente contato físico entre as cobaías.
Anthony agarrou as costas malhadas e desnudas do maior, arranhando-as de leve por puro instinto até que separou vossas bocas em busca de fôlego e oxigênio. Estava quase pendurado no corpo do maior quando o mesmo fora levado para a cama, sendo sentado na beira e obtendo a maior visão do corpo robusto do Codlerman à frente de seus olhos. Anthony não queria estar longe dele, e se estava fazendo tudo aquilo era para terem uma chance de estarem juntos novamente. Suspirou em expectativa quando Darren desceu o zíper das calças deixando aparente sua cueca boxe branca e o conteúdo adentro que lá havia, possivelmente enrijecido. Foi involuntário Anthony passar os olhos por lá, aquele lugar onde já havia estado tantas vezes em tantas noites escondidas e perigosas.
Levou os dedos da destra segurando no membro por cima da cueca, e no mesmo instante que fizera isso Darren subiu na cama por cima do rapaz, deitando e grudando vossos corpos como se fossem um só. Eles estavam apenas com saudades um do outro. Eles se amavam incondicionalmente. Ao menos era no que Anthony acreditava. Confiava no amor de Darren para consigo desde os 8 anos de idade, um sentimento forte e real que ía além da carne, apesar da atração física também existir e já ter sido consumada diversas vezes em diferentes noites dentro da sede.
Eles se beijavam com paixão sentindo e recebendo a quentura que ambos os corpos emanavam. Se pudesse Anthony pararia o tempo ali mesmo, naquele exato milissegundo. Não lembrando da RICV, da Cohab, dos experimentos, e nem dos outros. Talvez fosse um sentimento egoísta, mas Anthony estava perdidamente apaixonado e só conseguia desejar estar com ele, com o dono dos olhos verdes mais lindos quais já viu.
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Anthony corria desesperadamente para fora da sede. Ele precisava sair dali o quanto antes. Joshua ficara encarregado de liderar os outros para a saída através dos dutos de ventilação. Era a melhor maneira que havia encontrado para fugir daquele lugar sem ser eminentemente rastreado. Tinha combinado de encontrar com Darren — o seu amor — do lado de fora da sede. O das Rochas corria como se não houvesse fim ou saída. Os explosivos seriam ativados em:
Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três...
Anthony estava por um fio da porta que estava prestes a se fechar.
Dois...
Escorregou o tênis pelo chão liso do corredor como se deslizasse em um snowboard.
Um!
E foi assim que o portão automático se fechou deixando o castanho bufando pelas ventas de tanta excitação e perda de fôlego. Do lado de fora da P-38 o rapaz se levantou começando a caminhar rápido para longe, procurando Darren em todos os cantos, mas não o avistando em lugar algum. De cenhos franzido mirou o edifício gigantesco da P-38, que sequentemente sofrera uma explosão irreversível.
O estouro foi tão bruto e violento que fizera Anthony cair de costas no chão apavorado com a própria armadilha que havia feito. Olhou com desespero pelos cantos desertos da Comarca destruída das Rochas e não encontrara ninguém, nem Darren e nem mesmo o seu amigo Joshua com as outras crianças e jovens. Anthony começou a ofegar de nervoso. Uma irá descomunal cresceu dentro de si ganhando uma força inimaginável. Darren não estava no local onde haviam marcado, os outros residentes da sede também não estavam aqui; então o que havia acontecido?
— Eu matei todo mundo... — dizia entre martírios, segurando a própria cabeça, tentando evitar um colapso eminente. — Eu matei todos eles... — repetia para si mesmo em paranóia enquanto segurava o crânio andando para lá e para cá em nervosismo e aflição absoluta. — NÃOOO!!! — surtou berrando enlouquecido enquanto olhava o edifício da P-38 em chamas por sua causa, sua única e exclusivamente culpa, pois havia sido sua a idéia de fuga.
Um barulho dos sons de helicóptero eclodiu nos céus acima da cabeça atordoada e catatônica de Anthony, fazendo-o mirar para cima. O automóvel pousou próximo de si em terra firme. Não tardou para uma mulher de expressões orientais e um jeito de andar presunçoso sair de dentro do helicóptero com suas vestes brancas e sorriso deslambido, se dirigindo diretamente ao rapaz cabisbaixo.
— Sou Oshiro Aiko, cientista, médica e General da Cohab. — apresentou-se levianamente. — Venha comigo Anthony Swank. — ditou ela estendendo a canhota para o rapaz segurá-la, mas o castanho nenhuma reação tivera. Ele olhou ao redor e constou que havia seguranças armados com armas de fogo para proteger a mulher oriental, caso tentasse qualquer coisa. — Venha ou terei que arrastá-lo a força. — a mulher mudou o tom de presunçoso para autoritário em dois segundos.
— E fazer igual fizera com meus pais, me explodir vivo? — retrucou cheio de ódio e amargura com os olhos marejados.
— Creio que não estejamos tão diferentes nesse aspecto agora. — respondeu na ponta da língua com um sorrisinho venenoso, lançando um curto olhar a P-38 destruída. — Um excelente trabalho Sr. Swank. Não é qualquer um que bombardeia uma sede cheia de testes, experimentos químicos, utensílios científicos, e cobaías preciosas. — aquele dizer só deixou Anthony com um pesar maior no peito. O remorso era o pior sentimento que o ser humano poderia carregar ou levar consigo. — Como foi o único que sobrou desta Comarca de minérios, deves vir comigo. — acrescentou ao final.
Apesar de toda a situação inquietante, Anthony continuava hesitando. Não queria acreditar que Darren e seus outros amigos estavam mortos. Como tudo pôde ter dado tão errado assim? Tem coisas que não fazia sentido na mente de Anthony. Ele havia planejado a richa junto com Darren todos os detalhes para ambos fugirem juntos; e agora a sede da Comarca das Rochas estava destruída e os seus amigos mortos. Anthony era o único sobrevivente.
— Peguem-no. — a mulher ordenou fazendo seus seguranças pegarem Anthony à força pelos braços que nem se quer tentara resistir. Estava desolado de mais, catatônico de mais para isso. Ao entrar no helicóptero a cientista general se ajuntou ficando na frente do rapaz e o mirando nos olhos, sendo o último sobrevivente da Comarca das Rochas. — Não se preocupe; em breve se esquecerá de tudo isso. Confie em mim. — a general prometeu ao rapaz que tudo o que fizera foi escutá-la em sua plena e devastadora morbidez.
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