D-8.
Ela não age como lhe dizem que devia.
Eu sei que Jinsoul segue a opinião geral de que “Ha Sooyoung é uma depravada indecente, e ninguém pode confiar nela.” É rara a pessoa que não pense desse jeito, e eu não me admiro com o porquê. Imagino que já se tenham espalhado inúmeras histórias, tanto de coisas que eu fiz como coisas que eu não fiz com várias garotas, e eu sei que a minha imagem simplesmente não é... nada bonita nessa escola. Isso afasta algumas pessoas, e às vezes atrai algumas. Masoquistas? Enfim, não importa.
Eu não me envolvo com qualquer pessoa que me queira; eu faço as pessoas me quererem. É essa a graça. E eu ultimamente só consigo pensar no quanto eu vou me divertir nos próximos oito dias fazendo Jinsoul precisar de mim.
Inclusive, hoje, eu percebi que ela é realmente uma pessoa admirável.
Ela com certeza não confia em mim, e talvez ela até tenha ranço à custa das histórias que devem ter lhe contado.
Mas ela pelo menos disfarça isso, e é isso que eu acho engraçado nela.
Sempre que eu falo com ela, Jinsoul não me despreza, e fala comigo como se eu fosse uma pessoa qualquer. Não sei se ela sente alguma pontada de antipatia quando eu abro a boca, mas ela nunca me tratou mal ou olhou para mim com maus olhos. Ela é tão, tão meiga. Eu não acredito que estou realmente cogitando fazer uma garota dessas se apaixonar por mim.
Não que eu vá desistir por isso, óbvio.
Mas é até um pouco pesaroso saber que vou acabar quebrando um coração tão doce. Ela merecia namorar alguém mais parecida com ela, como a Yerim, que também é um raiozinho de sol ambulante.
Eu nem sei como Yerim é minha amiga, na verdade. Nós nos conhecemos desde pequenas porque as nossas mães são amigas, mas apesar de termos crescido basicamente juntas, eu e ela somos muito diferentes. Yerim tem uma namoradinha, a Yeojin, e elas são perfeitas uma para a outra. Eu já perdi a conta das namoradas que eu tive. “Namoradas”, entre aspas. Nunca chegou sequer perto ao que Yerim e Yeojin tinham, e nunca acabava bem para a garota que achava que seria boa ideia ficar comigo.
E eu sinceramente não sei porque Yerim não me abandonou até agora. Talvez ela veja alguma bondade inexistente em mim, ou ela simplesmente ache engraçado ser minha cúmplice e minha confidente de planos indecentes. Ah, eu realmente gosto muito da Yerim.
De qualquer maneira, voltando à (futuramente) minha Jung Jinsoul.
Hoje, foi ela que veio falar comigo.
Na primeira aula, antes do professor chegar, Jinsoul se inclinou um pouquinho sobre a minha mesa e sussurrou com um sorriso até que bonitinho:
— Obrigada por ontem, de verdade.
— Não foi nada.
Ela sorriu largo. Pareceu que ela tinha ensaiado aquela fala durante a noite toda para a proferir assim que me encontrasse, e tive vontade de rir.
Te enfeiticei tão rápido assim, Jinsoul?
A aula seguiu e eu conseguia senti-la olhar para mim pelo canto do olho de tempos em tempos.
Eu tinha noção da minha própria beleza, mas não esperei que fosse necessário tão pouco para que Jinsoul se visse obcecada comigo daquele jeito.
Acho que, àquele ponto, ela já não estava disfarçando ranço algum.
Ela tinha perdido o ranço.
E foi tão fácil que fiquei irritada. Era suposto você me desafiar, Jung Jinsoul.
Depois de inúmeras encaradas irritantes, a aula terminou, e tive vontade de puxá-la contra um cacifo e dizer ao ouvido todas as coisas mais desprezíveis que já fiz. Coisas que ela já tinha ouvido de outras bocas, e que devia lembrar. Coisas que a fariam querer fugir. Era suposto ela ter medo de se aproximar de mim. Não podia ser tão fácil.
— Você não me odeia, Jinsoul?
Fui rápida e direta, assim que saímos da sala. Eu não tinha nada a perder, muito menos tempo. Oito dias não eram tanto como parecia, e se fosse para eu ter obstáculos, que eles viessem cedo, para eu me conseguir livrar deles rápido.
E é verdade que era um pouco contraditório eu estar tentando atiçar o universo (ou Jinsoul) a agir contra mim, mas eu realmente queria passar pela experiência de fazer uma good girl acanhada começar lenta e relutantemente a me querer. E eu ia arrancar isso de Jinsoul.
— Ah, eu…
Ela pareceu ficar aflita, como se estivesse tão confusa com os próprios sentimentos que a pergunta baralhasse todo o seu interior. Então, respondeu:
— Eu… Não. Você é legal, não é?
Eu não sou, garota.
Jinsoul era uma menina inteligente, então porque não agia como tal?
— Você não ouve o que falam de mim? — perguntei rápido, com os olhos frios, olhando para ela de um jeito talvez um pouco intimidador demais. Vi que ela começava a ficar pálida. Não consegui entender o que ia na cabeça daquela menina.
— Sim, eu ouço, mas…
— Você devia ter cuidado comigo, é só isso que estou dizendo.
Pensando nesse momento, fico constrangida. Que coisa clichê de se dizer.
Mas o que vale é que funcionou do jeito que eu queria. Ela franziu as sobrancelhas de um jeito super penoso e olhou para mim com um certo medo, sibilando algo incompreensível entredentes antes de se virar desconfortavelmente e se afastar de mim sem me dirigir mais a palavra.
Vi-a afastar-se, a passos curtos e rápidos, de cabeça baixa. Imaginei que tivesse o coração acelerado. Agora, se era de assombro ou de desgosto, eu não sabia.
Mas se eu tinha mexido com o coração de Jinsoul, fosse de que jeito fosse, o dia já tinha lucrado.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.