handporn.net
História Dança do Fogo - A Mão Branca de Nephthys - Qore Nui - História escrita por Tulyan - Spirit Fanfics e Histórias
  1. Spirit Fanfics >
  2. Dança do Fogo - A Mão Branca de Nephthys >
  3. Qore Nui

História Dança do Fogo - A Mão Branca de Nephthys - Qore Nui


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


Sim, esse na capa é o Nahari, fofo n é? >;3

Capítulo 7 - Qore Nui


Fanfic / Fanfiction Dança do Fogo - A Mão Branca de Nephthys - Qore Nui

≫ ⸞⸟⸞⸟⸞⸟⸞ ≪◦۞◦ § ◦۞◦ ≫ ⸞⸟⸞⸟⸞⸟⸞ ≪

 

 

A felicidade no ar pode ser sentida nos bigodes curtos do guepardo que se mantém firme em meio a tantos outros que o parabenizam, lhe tocam o peito e braços com as orelhas baixas, contentes pela caçada que trouxe. Isso significa para Nahari algo bem mais forte que somente alimentar sua tribo, para ele, agora, significa voltar e proteger.

Pois há dentre os muitos que vieram vê-los chegar um pequeno nanci, a seus olhos, tão pequeno e frágil que poderia facilmente lhe dar uma bronca por estar fora das muralhas naturais rochosas e vermelhas de Qore Nuiọ. Aquele rosto de olhos tão parecidos com os seus imitam o tom castanho amarelado que a mãe deu aos dois, assim como essa radiante felicidade que o contagia ao vê-lo correr em seu rumo com os braços abertos, tão eufórico que mal se aguenta quieto, mal pode correr direito, na verdade, os últimos metros são feitos em pulinhos curtos como se fosse uma lebre e logo em seguida, salta, como uma estrelinha amarela, esticando braços, pernas e todos os dezoito dedinhos.

— Wahaaaaaa Nahari!

O impacto contra o seu peito lhe rouba o ar, imediatamente, seu irmão mais novo gruda contra o seu corpo cruzando tornozelos e braços e se apertando, ronronando, com tanta saudade que mal pode falar algo além.

— Hahaaah! Mahani, oi! – por um instante, Nahari não sente, mas, uma lágrima lhe desce o canto direito do rosto.

— Hahaaaa que bom que volto bem! Eu tavo com saudade! – o pequeno no seu colo fala. E no momento seguinte, enterra o rosto contra o pêlo de seu peito.

Senti-lo apertar contra os seus ferimentos não o faz produzir sequer um gemido, pois, se dá um momento para sentir o calor gostoso desse abraço tão querido. Imaginando, com o coração gelado pelo simples susto de pensar, de como seria se ele faltasse.

— Hmmf! Mahani! – o mais velho dos irmãos o aperta contra si, ignora a dor no rosto ao ter o ombro do irmão contra ele pressionado, na verdade, gosta de sentir isso, significa que isto é real, que ele está vivo. – Tá tudo bem?

Se apertando muito depois do comum para a saudade, Nahari se deixa sentir seu calor, a sensação de sua respiração contra o seu peito que parece demorar anos para sumir, anos que adoraria poder fazer se tornar séculos.

— Uhum! Ah, tava com saudade já! – o rapaz anuncia com um sorriso contente no rosto. – Mah, tá pertano... Nahari...

Nahari não consegue deixar o pensamento lhe fugir a cabeça, a de que ele fez tudo valer a pena, este simples momento fez.

— Ah, eu tava? Hih, desculpa, hah! Vem cá, deixa eu te ver! – atacando seu irmão com o focinho, Nahari jamais poderá dizer o porquê de sua saudade tão intensa, ou do motivo de sua risada ser tão aliviadora.

— Hihihih, fucinho não! – com a mão, seu irmão mais novo o impede. – Tá com cheiro de sangue... oh! Que bom! – ele celebra ao realizar. – Vamo comê hoje!

Animado, o jovem nanci se chacoalha desfazendo seu agarrão com as pernas e as mirando para baixo, para ficar de pé outra vez. Mas se pega curioso pois, mesmo que estique os dedinhos das patas, não consegue chegar ao chão, bom, a diferença de tamanho entre eles é alguma coisa, bem pouco além da metade, e nem é esse pensamento que lhe passa a cabeça, é como o seu irmão arranjou forças para fazê-lo.

Não é mistério algum que os nanci da tribo estão bem magros, e muito longe de sua força natural, e seu irmão habitava seus pesadelos justamente por ter sido escolhido para uma caçada tão repentina. Porém, se alegra por isso, aparentemente, tê-lo dado tanta energia.

— É... vamos comer hoje, Mahani. – o guepardo acaricia a cabeça de seu irmão.

O pêlo curto faz cócegas nas suas almofadas das mãos, porém, não consegue deixar de se imaginar em outra situação, de como esses olhos tão iguais aos seus estariam cheias de um tipo diferente de lágrimas. Espantando este pensamento com o fechar rápido dos olhos e de novas ideias, Nahari o coloca no chão logo depois, sentindo, finalmente, seus braços arderem pelo esforço prolongado, o mesmo momento que precisa para olhá-lo das orelhas as patas e conferir se há um pedacinho sequer fora do lugar.

Mahani é como todos os jovens filhotes da tribo, magro, porém bem desenvolvido, talvez já na idade de se tornar um jovem caçador, um Farisha, e este simples pensamento lhe dá tanto medo que sua garganta aperta. Mas, há na sua frente alguém que viu crescer, que se tenta convencer disso ao menos.

Nele, uma pulseira de fibra de capim trançado e um pequeno e dourado brinco na orelha esquerda. E o que é mais importante é o que exibe em seu peito magro, um colar que lhe traz certa ira por lembrar, a segunda parte de um crânio de falcão, a parte de cima que fazia conjunto com a sua.

— Heheh, e como tá a vó-

— Chega disso! Peguem a caça e levem pra dentro! – um dos Kaleesha comanda.

É notável como um susto pelo rugido repentino faz todos se submetem, até mesmo os seus olhos voltam ao chão por um instante, pois, logo a ordem é acatada, dessa vez, por alguns Farisha que desejam aliviar o esforço final para os seus semelhantes caçadores. Porém, Nahari não conseguiu se abaixar, a certeza em seu coração não é a da soberba de se achar acima da ordem da tribo, mas, depois de tudo, nada além parece lhe dar medo, fora, claro, o rapazinho que protege ao seu lado, pois ele é o seu verdadeiro tesouro.

Com um olhar mais atento, o caçador sangrado procura e encontra aqueles de postos mais distintos dentre os doze Eralas por aqui, como ele, são apenas cinco Farisha, as lanças de tom branco que ainda terão de ser sangradas por um abate respeitável e honrado. E outros quatro que já possuem esse título se movem pelos arredores, como se procurando por algo ou alguém.

Por um instante, seu instinto o pede para simplesmente baixar a cabeça e sair de perto enquanto dá, pois, duvida com sinceridade de seu coração frágil e fraco, de que poderá manter uma face mascarada perante quem pode tê-lo desejado morto. Por isso, apenas se abaixa sobre um joelho e seguras as mãos de seu irmãozinho para lhe dizer com os olhos conectados aos seus.

— Mahani, olha aqui... eu vou pegar a nossa parte e vou pra nossa toca, me espera lá, tá bem?

— Oh, mais, eu acabei de te acha! – seus olhos brilham, entristecido.

— E vai me achar em casa hoje, eu prometo que vou tá lá antes... antes que... – seu peito dói, uma pontada que o faz apertar o pêlo por sobre. – Olha... juro que nunca vou te deixar para trás.

— Hmm... – com o olhar baixo, o pequeno a sua frente arrasta a patinha contra o chão de pedrinhas. – Tá bom...

Quase que imediatamente, Nahari não se contém, o abraça com força outra vez, força o bastante para fazê-lo perder o fôlego.

— Oooh que bom! Esse é meu irmãozinho! Agora, vai lá, vai! – o afastando com as mãos, o deixa ir.

E mal poderia imaginar como isso dói.

— Nahari. – a voz de Ralc logo atrás atrai sua atenção.

Primeiramente de suas orelhas que se voltam para a direção, e logo depois, para o seu rosto enquanto se vira e transforma para algo mais digno de um caçador. Surpreendente como o calor do fogo, seu irmão de caçada Farisha não está sozinho, não que isso faça muito, mas, sua companhia quase é capaz de lançar por sobre ele um manto cruel de preocupação. Dois guepardos das Lanças Vermelhas, os Kaleesha, o acompanham e um terceiro parece já conversar com Nöle mais ao fundo, que tinha com outros um tempo mais feliz.

Um Kaleesha é facilmente reconhecível pelo colar firme no pescoço, nele, os ossos da caça que o fez avermelhar, e claro, a Lança Rubra de ossos dentados que lhes nomeiam é mantida perto e preparada. Guerreiros mais velhos, habilidosos e provados, merecem o olhar baixo de Nahari ao se colocarem a sua frente, e precisam de só um gesto para que ensaie um joelho indo ao chão.

— Nahari. – o mais à direita o chama. – Caçador bom você.

É curioso para o próprio notar mais uma nítida diferença entre eles, a de como os nanci de sua tribo parecem mudar quando mais alto escalam as hierarquias. As bolinhas pretas de seu pêlo são misturadas com pinturas de tons escuros como uma pelagem nova pela força honrada. Pinturas negras que lhes dão poder e um pequeno rugido, mas, para aqueles que possuem pouca ou nenhuma, um pequeno rugido já é o bastante.

— Sha Etzo.

Nahari, mantém a cabeça baixa, por dentro, muito feliz por não sentir um pingo de medo por tê-los a sua frente, pois, nenhum deles chega aos tornozelos da senhora que decidiu servir. E isso se prova um tanto se intenção, quanto por mais que seja o ideal chama-lo pelo posto completo, Kaleesha, apenas sha, ou Lança, lhe parece ser o suficiente para o momento.

— Onde tá Katzo?! – o ímpeto firme de Etzo o faz até mesmo imitá-lo nessa sutil falta de respeito, e ao notar, morde os dentes. – Onde... está o Korisha Katzo?

Mentir para uma Kaleesha é, com certeza, um crime terrível, imagina logo agora a dor das chicotadas que receberá aquele que o fizer. Porém, se mantém firme, pois sabia a muitos passos atrás que este momento chegaria. Não que o torne menos complicado.

— O Korisha... ficou para trás. – sua resposta, com certeza, é motivo para, os que ouviram, pararem suas palavras e caminhos para se virar a ele.

Claro, a maioria está mais a frente, atravessando a passarela de madeira, adentrando sua tribo, por isso não poderiam ouvir tão bem com os sons de festança acompanhando a sua presa sendo levada.

— Durante a caçada... – a sinceridade de Nahari não o deixa dizer facilmente, e talvez isso se confunda bem com receio. – Na caçada foi ferido por um milwia.

Erguendo os olhos um pouco, demonstra a seriedade do que fala, uma seriedade de quem segue um plano que não gosta, e isso talvez se confunda com tristeza.

— Um milwia?! – o Kaleesha morde os dentes. – Ele nunca seria mordido fácil por um bicho desse! Onde ele tá!? Mentiroso!

Sua raiva repentina aparenta com seus dedos cerrados, o que por si só é suficiente para lançar uma sombra vermelha por sobre a situação, mas, não ousa mostrar os dentes, até mesmo um Kaleesha sabe quando deve demonstrar o seu respeito, e nesse instante, nada de desafiar um caçador sangrado para luta.

— Lança Etzo, só digo o que vi, não pude ajudar. – Nahari baixa sua cabeça um pouco mais.

— Mentira! – ele repete.

A tempos atrás, essa palavra seria o suficiente para fazê-lo se encolher de pavor. Porém, seu coração se enche com pensamentos e palavras que nunca antes diria, uma atitude bem mais raivosa que o seu natural, um gesto imponente de dominância lhe queima o espírito.

— Em respeito ao que foi dito a nós três, Sha Etzo, o Korisha Katzo quis fazer de seu jeito. E foi feito assim!

Como se colocasse fogo em palha, tais palavras incendeiam o coração de Etzo, pois, em seu pensamento, seu primo jamais seria tolo o bastante para se deixar ser pego por algo tão simples quanto um lagarto venenoso, seria como tropeçar sobre as próprias patas.

— Quem pensa que é?! – com os lábios tremendo, o Kaleesha leva a mão a arma que o intitula.

Porém, seu movimento incitado pela raiva abrupta é parado, por aquele que antes ouvia tudo em silêncio logo atrás, Buwei, não ousaria tocar na Lança Rubra de outro Kaleesha, porém, segura seu pulso com firmeza, e para sua atitude precipitada com somente o olhar.

— Não levante sua lança contra o caçador. Hoje vamos comer por sua mão, não a morda. – mesmo o alertando, Buwei mal parece se importar com a situação.

Na verdade, o guepardo com um colar de ossos segmentados deixa bem aparente o quão confortável está pelo simples olhar. De seu colar, uma dupla de presas pende a cada lado do pescoço, e outro par cai por suas costas, longos e serrilhados, brancos, porém listrados por tinta vermelha em espiral. Sendo o parceiro de Etzo nas caçadas, é um Nanci um pouco mais alto, de patas mais grossas e com uma nimba no seu tornozelo esquerdo, representando seu matrimônio, assim como outros dois anéis menores, de uma madeira mais fina e branca para cada um de seus filhotes, um dos poucos itens que se pôde manter nesses dias de miséria.

— Hmnf! – Etzo assente, em respeito à sua dupla. – Mas, Buwei, o Katzo não ia ser pego por algo assim, eles três devem t-

— Chega. Os dias são ruins demais para deixar seu coração mais distraído. – então, o seu olhar se desvia para o jovem que mantém uma postura distinta, uma que ele enxerga a pura verdade por detrás. – Nahari, agradecemos a caçada, vamos comer bem hoje. Aos dois também.

Nöle e Ralc, que se mantiveram calados junto ao terceiro Kaleesha, apenas fazem como o estranho revenã fez. Assentindo respeitosamente, o contido servo de Nephthys sente um borbulhar na barriga ao vê-lo, pouco depois, baixar a cabeça em um cumprimento simples, porém, conquistador de um sentimento orgulhoso que o preenche.

— Muito obrig-

Antes que pudesse agradecer, é cortado.

— Levem a caça pra dentro de uma vez! – o Kaleesha Etzo torna a falar. – Quanto a você, Nahari, vocês três vão falar com o Zaran, vão explicar bem o que houve com o Korisha Katzo.

— Mas antes... – o terceiro entre eles comenta, quebrando seu silencio. – Irá dar as honras, foi sua lança que matou o antílope, não foi?

Quem se revela é Kyenon, uma das mais novas Kaleesha da tribo, seu belo colar é feito da dura carapaça de um wübaza vermelho, uma criatura parecida com os escaravelhos, porém, do tamanho de um bebê búfalo, porém, como se tratava de um do tipo vermelho, seu tamanho é a de um adulto mesmo.

— Kaleesha. – Nahari torna a respeitá-la com o baixar de sua cabeça. – Sim, Zaran Nizwë vai ficar feliz, né?

Saindo desse momento de tenção, o trio se entreolha sentindo como se um laço fosse desatado de seus ventres, um laço feito de espinhos gelados que se perdem com o suspiro aliviado que podem soar apenas um para o outro.

— Sim, ele vai. – ela o responde, colocando a mão por sobre o quadril. – Agora vamos, não é bom deixar nosso Zaran esperando, né?

A contra gosto, a tensão do momento é contida por uma voz mais equalizadora, Kyenon é uma das raras Kaleesha fêmeas da tribo, e isso por si só a torna mais forte que a maioria, porém, mesmo dentre as fêmeas, sua voz é respeitável. Algo muito aquém de Nephthys, se perguntar a Nahari, a Senhora dos Ossos o faz olhar para o chão e se abaixar em uma forma de adoração, para os Kaleesha, é nada além de receio, um respeito mais baseado no medo do que no amor.

Seus pensamentos se tornam longínquos como o horizonte escurecido pela noite azulada, uma lembrança de uma avó atenciosa, senhora das Siemaras que acompanham o pequeno grupo de guepardos enquanto sobem as rochas ásperas e avermelhadas que os servem de rampa para as antigas, empeiradas e velhas tábuas de madeira que une o vão das pedras até a fenda um pouco larga que serve de entrada para a sua tribo.

Aqui, seu povo não possui habilidade alguma no trabalho em pedras. Porém, a rochas de tom tão avermelhado parecem ter sido moldadas pelos deuses, um detalhe que em muitas gerações foi esquecida, ignorada ou simplesmente naturalizada pela convivência, em realidade, a Pedra Vermelha possuiu nomes hoje esquecidos, já foi lugar para muitas outras memórias e canções, uma visão enegrecida que passa unicamente pelos olhos do guepardo.

Por um instante, vê nos enormes paredões de pedra farpada e de ângulo negativo e mais que difícil de escalar, mesmo com garras, bandeirolas longas como os riachos que um dia fluíram pelos lados e por tantos outros na savana. O tecido escuro que ulula contra um vento fantasmagórico e sombrio exibe um símbolo vermelho que por sobre ele contrasta, seu significado para Nahari é desconhecido, assim como os motivos de ver este tão sutil momento se dissolver em um piscar de olhos, um piscar e um golpe de uma mão gentil que bate em suas costas.

— Irmão, onde vai? – Nöle o chama puxando sua nuca com firmeza.

A dor e a sensação dormente que lhe domina as pontas do corpo o faz acordar para o que é real. Sua pata direita está esticada para frente, para um lugar que a um momento antes era caminho, mas que hoje é apenas vento e uma queda de poucos metros abaixo contra pedras amontoadas a muito tempo, com o susto, tem de se manobrar para não tombar para frente, porém, o agarrão e sua cauda pende seu equilíbrio para o lado certo.

— Ah, perdão... tô... – ele pigarreia, sem saber o que falar exatamente. – Tô cansado...

— Mal chegamo Nahari. – Ralc brinca, ajudando seu parceiro a vir mais ao centro.

— Preciso de água... – o próprio somente reclama, entredentes.

— Nahari, tem que contar pra todo mundo como a sua lança foi certinho no antílope. – Nöle muda o assunto e o clima parece acompanhar.

Na realidade, ambos se pegam um pouco mais nervosos, talvez seja a situação bizarra ou o simples fato de ter mentido na frente de três Kaleesha.

— Ah... eu conto sim, mas, vocês correram muito também, fizemos juntos. – Nahari diz.

É um instante que o trio tem para trocar olhares, e sem ser necessário palavra alguma, é dito e combinado algumas coisas.

— E onde está sua lança? – logo atrás deles, sem intenção alguma de esconder sua vigia, Kyenon deixa sua presença clara.

— Oh, quebrou... – um tanto desconcertado, ele se lembra. – Mas, vou fazer uma nova logo.

— É? Um Farisha sem sua “Sha” é estranho mesmo... – pendendo o rosto para o lado, seu olhar desce até suas patas, mas, para no meio do caminho. – E gostei da pintura na mão, vocês três fizeram alguma irmandade?

— Hm? – descendo o olhar ao seu punho direito, observa o pêlo mais claro, aqui a noite, em seus olhos o branco se confunde com cinza. – Bom, fizemos... uma homenagem.

— Estou bastante curiosa, estamos, na verdade. – ela aponta aos outros três Kaleesha que seguem espalhados pela comoção. – Você parece bem diferente desde a última vez.

— É? – ainda indeciso sobre o que dizer, o guepardo pondera. – Acho que nós três.

— Três caçadores marcados, um ferido atoa... – sua questão não precisa ser dita, está tão clara quanto a água da chuva.

Porém, Nahari não se entrega a continuar alguma conversa, seu silêncio é o bastante para fazê-la entender algumas coisas. Seja por luto ou culpa, algum segredo se guarda no olhar deste trio.

Bom, ao menos o de Nahari reflete um amarelo e brilhante das luzes do fogo que queimam nas casas que tem a sorte de tê-las, o trabalho tão importante dos mais baixos Erala, sob os cuidados dos Farisha que servem de proteção, juntam a lenha para o fogo da noite, necessário para que o frio não lhes tome o sono, ou a vida.

Se reunindo pelas laterais dessa passagem onde a muito correu forte água, grande parte da tribo observam a caça ser levada para cima, um desfile cruel para aqueles que sentem fome, em especial os filhotes, que apertam as mãos e pernas de seus pais pedindo um pedaço logo agora, pois suas barrigas doem.

Porém, como manda os costumes, tudo caçado vai para o topo, o Zaran tem posse bem logo depois que o responsável pela caçada lhe toma o coração, porém, enquanto sobem com a carne deste antílope aromatizando a tribo toda com o cheiro delicioso de sangue e carne fresca, pode Nahari notar que não é o primeiro a trazer alívio ao seu povo, e seu rosto cansado tem a chance de exibir outra vez um alívio profundo.

— Vamos! Zaran tem mais a compartilhar! – Etzo fala com altura para que sua voz chegue bem longe.

Não que fosse preciso, afinal, o cheiro e todos que se reuniram para saudar seus caçadores fizeram um ótimo trabalho, claro, se toda a tribo já não estiver os observando, sua grande maioria está.

Com seu irmão cercado seus pensamentos, relembra quantas vezes viu sua família passar por aqui, porém, com uma festividade muito mais vibrante, com risos, canções, tambores.

Mesmo que esta seja uma versão triste de memória, é sua primeira vez que a assiste daqui, que a caça é sua. No entanto, Nahari ainda sente aquela velha e sombria sensação de que, se não for rápido o bastante, ficarão sem, outra vez.

Passam em meio a comoção por entre muitos de seu povo, a tribo deve possuir um pouco mais de quarenta nanci, e se um quarto disso for composto pelos filhotes seria muito. Uma realidade cruel que o faz lembrar de tantos que vem enterrando.

Cada passo nas escadarias duras e geladas parecem diferentes agora, não que suas patas tenham mudado, ele inteiro mudou. A sensação de avançar é como se aproximar de um inimigo, um dia atrás, Nöle e Ralc que seguem pouco atrás também o seriam, porém, no silêncio que acompanha somente o trio, os Kaleesha representam um perigo já comentado por Katzo, afinal, são guerreiros poderosos que dificilmente deixariam seu sumiço passar sem um alvoroço.

A atenção que recebem à medida que se aproximam é ótima, na verdade, seria incrível poder sentir isso mais vezes, ser observado com respeito, reverência e amor é maravilhoso e dificilmente descritível. Poderia dizer ainda, que possui em si um sentimento puro de felicidade, um que o acompanha de perto, como se ela pessoalmente estivesse de guarda.

Por alguns minutos inquietantes, chegam ao espaço aberto que precede a grande toca de seu Zaran, aqui, um pátio de pedras é como a encruzilhada de várias passagens, fora a que vieram, outras cinco se alargam pelos lados na forma de uma estrela, para cada passagem, Nahari conhece os fins, além de serem o caminho para muitas tocas feitas na pedra, são também rotas para as beiradas da Pedra Vermelha, rotas de vigia, de ataque. Porém, no centro a sua frente há a casa do chefe, seu Zaran, que é construída na rocha emergida, alta o bastante para se ver de qualquer lugar da tribo, soberana como os ancestrais que por ali viveram.

Mais a frente, no centro de onde uma antiga e estranha pedra vertia água, altares de pedra para deuses irreconhecíveis pela erosão servem de mesa para as carcaças de dois javalis que estavam quase somente nos ossos. Com um cântico baixo, seu antílope é posto mais à frente, por sobre uma mesa de pedra talhada que um dia foi lugar de fartura onde os avós falavam com toda a tribo e partilhavam muito mais que o olhar.

Em um momento diferente, estaria ele nas beiradas da multidão, hoje, quando a caçada é posta, restam no centro somente os três responsáveis, eles e dois Kaleesha que ficam um pouco mais atrás, apenas aguardando Buwei e Kyenon que seguiram para a toca do Zaran.

A pedra avermelhada exibe por lá janelas escavadas, uma das poucas estruturas com mais de um andar, esta exibe três, e mais uma para baixo, onde guardam os antigos Zaran, as relíquias de tempos antigos e seus segredos, muitos segredos. Pelos panos vermelhos que servem de portas para a entrada principal e as janelas, uma figura na qual todos devem respeito se apresenta acompanhado de perto de seus dois Kaleesha.

Olhares baixam, cabeças não ousam se manter acima da de seu líder, e mesmo que Nahari tenha em si uma confiança renovada, ainda sente o costume o forçando a se submeter. E o faz perante um nanci alguns bons anos mais velho, forte como poucos podem ostentar, em seu braço direito sua Atyria é exibida com a cor do ferro da lua, no outro, o ferro do sol, e além de tudo, braceletes, colares e tornozeleiras de tecido, fios com pedrinhas e os pequenos ossos de falcão que envolvem seus tornozelos em meia dúzia cada. Porém, seu artefato mais importante é o colar de penas negras que reluzem em verde escuro como a de corvos, emplumado, essa juba penosa recai sobre seus ombros e costas enquanto boas camadas de gargantilhas protegem seu pescoço até a metade, com cores claras de amarelo, azul, verde e vermelho, uma aquarela mista tal como o anjna castanho que lhe cobre frente e trás em uma forma de saiote de linho, um dos poucos tecidos adequados para o calor da região, em suas bordas, o tom dourado desce até a altura de seus joelhos, onde afinala na forma de uma seta sem ponta, por detrás, se parte em duas para dar espaço para a cauda.

— Mais uma caça vem a nós, onde estão as lanças !? – sua voz alta parece preencher tudo.

Como se fosse água e em grande quantia inundasse todo o lugar até as alturas, sua simples voz exerce poder sobre os seus. O trio levanta as cabeças, e no centro, Nahari sente seu pêlo arrepiar por estar de frente com o seu possível maior inimigo.


Notas Finais


Já sabem, deixem um comentário bacana, seja oq for já me anima d++++++++++ a continuar, bom, um bom final de semana para vcs!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...