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História Danganronpa - Waking up to despair. (Interativa) - Capítulo 6: Acordando para a esperança. - Class trial - História escrita por Babel_Akumu - Spirit Fanfics e Histórias
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História Danganronpa - Waking up to despair. (Interativa) - Capítulo 6: Acordando para a esperança. - Class trial


Escrita por: Babel_Akumu

Notas do Autor


E finalmente... o tão esperado, ao menos por mim, julgamento final chegou!

Nossa, foram anos de espera, mas finalmente está aí, o que eu planejei desde que comecei a escrever essa história, ainda adolescente. Talvez, hoje em dia, eu escrevesse um plot bem melhor que o atual, mas eu tentei deixar essa ideia a mais intocável possível, pois toda essa finalização não é minha, mas sim completamente do meu eu de tantos anos atrás, que criou toda uma história e, desde o capítulo 1, fez situações que se conectariam e chegariam aqui.

Não sei se irão gostar, eu mesmo não tenho tanta certeza sobre. Por um lado, ainda acho essa conclusão sólida e boa, mas, por outro, tenho medo de ser meu elemento nostalgia falando e ignorando certas situações que, em outras histórias, eu acharia ruim. Mas tudo bem, vou deixar que vocês decidam.

No mais, apreciem o capítulo!

Pistas:

- Jalecos
Todos os ultimates parecem possuir jalecos de cientistas em seus quartos, como parte dos seus guarda-roupas. Meinu e Suzushi, porém, possuem uma estrela a mais em seus jalecos.

- Quartos
Sabendo que há no mínimo 18 pessoas na academia, com 17 sendo estudantes, a falta de um décimo sétimo quarto foi questionada. Posteriormente, na última sala restante do lado de fora da academia, foi descoberto um quarto que parece completar esse mistério e ser do último estudante.

- Sonho da Meinu
Meinu uma vez sonhou que conversava com a Rey sobre a viagem até a ilha em que agora o jogo de matança está localizado. A conversa serviu para determinar alguns fatores, como que há um décimo sétimo estudante, além do Wu, e esse não possui talento.
A veracidade da conversa foi confirmada por Meinu mencionar um relacionamento de Rey que ela nunca havia dito para ela no período em que estavam no jogo de matança.

- Memória da Meinu
Meinu pareceu se recordar do nome do estudante sem talento, que era seu melhor amigo: Ryuuga Mori. Além disso, o sonho mostrou que as censuras na Hope's Peak também a atingiram, já que seus pais biológicos foram mortos por Sarah Uchiha por serem de um culto que glorificava a ultimate esperança, tendo como objetivo matar Makoto Naegi por não ser o símbolo da esperança que eles acreditavam. Esse massacre nunca foi contado para a mulher pelo seu pai, somente por Sarah.

- Vídeo do Makoto Naegi
Makoto Naegi, já mais velho do que a aparência do New World Program, apresentou a ilha em seu vídeo para Meinu Saiko, comprovando o parentesco entre elas. A ilha é sim uma filial da Hope's Peak, o que deveria ser uma colônia de férias, mas os ultimates da turma que agora enfrenta o jogo de matança parecem ter ido até ela com outro objetivo.

- Configurações das turmas
Comparando com as turmas anteriores, parece realmente ser um padrão na Hope's Peak que as turmas sejam de 8 meninos e 8 meninas, com a turma atual sendo a exceção. Até mesmo a 78, que parecia quebrar a regra, na verdade se encaixa nela.

Turmas da Hope's Peak Academy
A turma 77 também participou de um jogo de matança, onde um Izuru Kamukura artificial era o Mastermind;
A turma 78 participou de um jogo de matança, onde Makoto Naegi e Kyouko Kirigiri são sobreviventes notáveis. Junko Enoshima era a Mastermimd e Naegi a ultimate esperança.
Os Masterminds e eventos sobre esses jogos de matança foram censurados e não aparecem em nenhuma matéria.
Uma pessoa na turma 121 estava censurada. Nenhum outro da turma parece ser alguém que conheçam.
Todos da turma 128, exceto Meinu, estão censurados. A turma tem 17 alunos, o que comprova ser a atual.

- Kyouko Kirigiri
Atuou como vice diretora da nova Hope's Peak Academy ao lado de Makoto Naegi até morrer em um período desconhecido, vítima de um câncer. Segundo dados médicos, o câncer em questão foi causado pela vez que acabou sendo envenenada, mas conseguiu sobreviver. Foi o câncer que também faz com que ela e o diretor não tivessem nenhum filho biológico.

- Câmera do Sayakuri Wu
A câmera do Sayakuri Wu estava quebrada e jogada no incinerador, quase que completamente destruída. Só foi possível restaurar uma pequena parte dela, que revelou que o homem existia.

- Voz do Mononiji
Sayakuri Wu não deveria ser uma pessoa desconhecida, pois até mesmo a voz do Mononiji era baseada na dele, já que ele era o melhor amigo de Gabriel Parker.

- Fragmentos da câmera
Na porta do último local que restava a ser aberto nos edifícios fora da Hope's Peak, próximo ao chão, foram encontrados fragmentos da câmera quebrada que pertencia a Sayakuri Wu. Estes foram constatados por serem da mesma cor e material dela.

- Porta arrombada
Mesmo sendo tecnológica, talvez por ser de um material mais simples que as demais vistas dentro da Hope's Peak, aparentemente, a porta do quarto desconhecido foi arrombada por alguém em algum momento no passado. Seu conserto foi chulo, então, com os curtos circuitos ela acabou se abrindo novamente.

- Waking up to Hope
Fragmentos que sobraram de uma grande pesquisa, sendo somente as últimas páginas. Elas dizem:
"O Programa Waking up to Hope parece um sucesso, é uma pena que eles não saibam ainda. Talento muda as pessoas, pois são fragmentos mais fortes que personalidades. O New World Program é só o início disso, e poder aplicar, desse modo, nessa surpresa secreta, é uma prova de que há sim sucesso.
A aplicação parece perfeita, queria que você ainda fosse capaz de saber para entender, mas tudo bem, foi um sacrifício maior. É tão perfeito que até me assusta, pois é exatamente como eu lembro. Não pensei que um computador pudesse ler e inserir tão bem.
Mas um computador ainda é como o Izuru Kamukura que tentaram fazer no passado, que nos censuraram sobre. É uma forma de induzir talento artificial e que gera demanda demais para pessoas de menos."
Página 2
"O que quero dizer é que essa é a prova de que é um sucesso como pesquisa, mas há um patamar ainda maior que creio ser possível, brincando com as dicotomias que todo mundo já abordou em classe uma vez.
E é graças ao tesouro chamado Izuru Kamukura natural que sei que é possível, a nossa melhor cobaia para essa ideia. Não precisamos desse método arcaico, podemos induzir de uma forma bem mais potente.
Em breve, nosso sonho vai se tornar real.
Espero que eles entendam quando o momento chegar, que foi um estímulo necessário e que, no fim, só progredimos a pesquisa que já estávamos fazendo.
Como companheiros cientistas, quando tudo chegar, espero que entendam."

- New World Program
O programa que permitia acesso a um mundo virtual com avatares que representavam o primeiro jogo de matança. O que importa, porém, não são os avatares, mas sim com que objetivo a máquina foi construída, afinal, pelo que foi visto com Naomi e até mesmo com Gabriel, ela parece ser capaz de armazenar memórias de uma forma boa o suficiente para quase deixar uma réplica de si ali dentro.

- Configurações do Memory Schocker
O Memory Schocker possui a configuração de deletar memórias em níveis variados, onde, no nível final, você se torna somente uma marionete em branco.
Se supõe, porém, que o dispositivo não servia somente para deletar memórias. E mesmo que não fosse só isso, foram encontradas falhas nele por, supostamente, ser algo artificial.

Capítulo 39 - Capítulo 6: Acordando para a esperança. - Class trial


Fanfic / Fanfiction Danganronpa - Waking up to despair. (Interativa) - Capítulo 6: Acordando para a esperança. - Class trial

 O tardar da noite apresentava o conceito de como seria aquele encontro, isto é, sombrio, ocultado pelas sombras e repleto da maldade que muitas vezes foi escondida ou despejada sobre a escuridão.

E ainda que a atmosfera claustrofóbica da escola trancada em sete chaves não permitisse que o que era noite ou não fosse realmente determinado, o contexto servia, e aquele pequeno urso de pelúcia monocromático era especialista em criar os contextos necessários.

— Entendeu?! Ela é pior que o diabo, estou te falando!! — Sua voz aguda se expressava tão alta que quase se tornava um grito, não se importando em quanto expressaria ou não, pois o isolamento acústico tornava o quarto onde estava um cofre. Não só de sons, mas também de imagens, segredos.

Afinal, o que a pequena criatura de pelúcia havia espalhado sobre o colchão de solteiro eram arquivos, fotos, teorias, verdades...

— Remanescente... do desespero? — E do colega que compartilhava essas teorias, um sorriso tão natural quanto a falsidade que tinha escapou. — Ei, Monokuma... Você não achou que eu ia acreditar nisso, né?

— Como não? Tá louco? Tá tudo aí! — O ursinho parecia querer se manter na suposta atuação. Movimentando as patas, ele esticou uma foto de uma mulher loira e de marias-chiquinhas, de braços cruzados sobre uma tragédia. — A fashionista fez isso no passado, aí a nova fashionista está fazendo no futuro! Eu já te disse uma saída secreta que ninguém achou, também te contei que vou contar uma mentira, pra que ela fique no camarim sozinha. Você só precisa ir lá e... matar de qualquer jeito, aí é contigo!

— Você realmente nos conhece, já tinha sentido isso quando falou daquele jeito com o Suzushi, quando ele ficou como responsável da peça. — As mãos do rapaz misterioso deixaram de enrolar os próprios cabelos castanhos e desceram sobre a cama, onde começou a organizar todos aqueles papéis espalhados em uma única fileira. — Mas quer saber de uma coisa? — E seus olhos tão serenos, quase ocultados pela expressão de sorriso, se expandiram, como se encarasse a alma que aquele bicho de pelúcia talvez tivesse. — Você pressupõe demais por nos conhecer, isso ainda vai te levar pro fracasso... e olha que de fracasso eu entendo bem. — Em seguida, ao terminar de arrumar, ele se sentou no colhão, como se quisesse ficar na mesma altura da criatura. — Você assumiu que eu aceitaria porque mata dois coelhos com uma cajadada só, não é? Que seria algo que eu não me arrependeria de fazer... que eu iria com tudo porque devo ser quem pensou que mataria mais fácil com uma boa justificativa, algo que me fizesse de coitado, gentil, como eu geralmente tento ser... Estou errado?

— Pra um confeiteiro, você tá analisando demais, hein?! Já te disse que mato todo mundo se contar pra alguém isso aqui!

— Tudo vai ficar bem, Monokuma...

Eu não vou contar. — Como uma cobra que esconde o bote, outra vez, seu rosto tomou uma forma mansa, assim como as suas falas. — Você não contava que eu ia cair nessa, eu sei que não. A Naomi pode ter o mesmo talento, mas essa é só uma grande coincidência, já que ela é simples como uma folha em branco. Alguém como ela com certeza não ia conseguir esconder um plano maligno desses, consigo ver só desse tempinho que ficamos juntos. — Um de seus indicadores, ocultados pelo moletom rosado, se ergueu. — E ainda te falo! Ela vai inventar a pior desculpa possível pra espantar o Suzushi de tanto que não consegue mentir. Anota o que te falo.

— Upupupupu, ela vai? — Com as patas sobre a costura que seria sua boca, o urso não pôde deixar de rir. — Você falou tanto, mas parece que no fim acreditou, afinal, já tá até contando com a minha ideia de deixar a coitada sozinha!

— Não se preocupe, Monokuma. — O indicador que já estava erguido balançou de um lado até o outro. — Eu não acreditei, mas entendo o que você quis fazer... Não queria que eu acreditasse, nunca quis, mas queria que eu... mentisse pra mim mesmo, para os outros, pra assim passar uma mensagem de esperança, algo que iniciasse os jogos, mas ainda levantasse essa chama de que mortes podem ocorrer por um bem maior. Era uma forma de me enganar e enganar todo mundo, basicamente, e você pensou que eu aceitaria justamente porque... — E o sorriso surgiu outra vez, como se mexer os lábios daquele jeito fosse o equivalente a colocar uma máscara. — Você tem total certeza de que eu sou um covarde.

— . . . Se minhas mãos conseguissem fazer barulho, eu te bateria palmas! Não sabia que você podia ser tão esperto assim, jurava que a chantagem emocional ia dar certo! Mas então, me diz... — E naquele pequeno instante, a personalidade irônica do urso pareceu desaparecer e intercalar com o que existia além da sua sombra, com a mente de quem acabou projetando sua consciência para se tornar daquele jeito. — Por que você vai aceitar mesmo assim, Shiro? — Quem perguntava era o próprio Mastermind.

— Eu também estava com essa mesma dúvida. — Ele deixou que sua língua escapasse da boca, como se o questionamento em sua mente fosse apenas uma pequena dúvida que alguém sapeca tinha ao longo do dia. — Mas, por mais incrível que possa parecer pra você, já que teve que intervir e vir falar comigo, a sua peça realmente me tocou. — E seus olhos se tornaram distantes, como se não estivesse mais ali. Talvez, na verdade, fosse justamente quando mais estivesse, mas sem a máscara que já havia criado há tempos. — Eu preciso me libertar, ser sincero comigo mesmo. Talvez eu repense bastante nesse meio tempo, no final perca a coragem e nem faça, mas... eu vou sim usar dessa sua oportunidade, vou tentar... m-matar a Naomi, mas eu não vou fazer isso por um bem maior, pra salvar os outros caso a peça não desse certo, pra eliminar um desespero supremo... Eu vou fazer por puro egoísmo, porque quero viver e sair daqui, encontrar a minha mãe que tanto amo, mesmo que isso signifique levar 15 outras vidas. Eu valorizo mais ainda a minha própria e o que tenho que fazer lá fora, por mais que odeie admitir isso... Então, se eu realmente acabar matando... não vou querer nada que tente justificar as minhas ações! Só a verdade nua e crua, pra ver se alguém finalmente consegue... enxergar além dos meus fingimentos. Mesmo que eu perca ou ganhe, eu... enquanto eu ainda tenho coragem... eu tenho que admitir... que quero sim fazer isso. Não por boas ações, por um bem maior, mas porque eu sou o maior dos egoístas, e esse egoísmo... — Finalmente, suas pupilas desceram, parecendo quase saltar novamente, como se rasgasse seus próprios olhos e, dessa vez, explodisse completamente no encontro com a alma do boneco. — Está prestes a explodir, Monokuma. Enquanto eu tenho coragem, enquanto eu não penso que talvez eu possa perder... eu vou te admitir que farei tudo isso porque eu quero e enxergo que é o melhor para o meu próprio ponto de vista. Esse é o meu lado que você não viu completamente, pois acho que nunca conseguiu perceber além dos fingimentos. Esse é o monstro que existe dentro de mim, o verdadeiro confeiteiro egoísta, Shiro Takeshi.

— . . . Obrigado, Shiro. — Como resposta, uma sinceridade assustadora surgiu do que deveria ser apenas um urso de pelúcia, mas agora se demonstrava além disso. — Mesmo que sobrevivam até sobrarem dois, não imagino vão arrancar isso de mim. Vão se perder no caminho, no básico, mas, pra você, que me surpreendeu e mostrou um lado que eu nunca tinha visto... vou te contar algo. — Era a confissão do confeiteiro sendo respondida, uma confissão que somente um egoísta como ele, que se abriu diante da oportunidade, poderia ter. — Eu nunca concordei tanto com você quanto quando ouvi tudo que disse agora. Todas essas dicotomias, se estou no lado moralmente bom... não importa... Porque, pra mim... eu sou a única pessoa certa nesse mundo, e só isso basta. É assim que joguei esse jogo, é pensando no que sempre acreditei que... eu venci.

— Venceu? — E como dois predadores devorando o ego um do outro, Shiro se encarregou de ser aquele que finalizaria aquela conversa, aumentando ainda mais o sorriso cravado em seus lábios. Sorriso este que não parecia refletir uma maldade, mas brilhar em um pensamento sincero. — A gente ainda vai te surpreender. O que você acha que viu de todos nós... vai se quebrar completamente, por algo que você mesmo criou. Mas não se preocupe... se realmente não quebrar, eu vou estar lá pra me aproveitar, já que vou ter vencido. Então vamos ver, Monokuma... se mais alguém vai te tirar dessa posição de rei que sabe tudo dos súditos.

° ° °

POV's Meinu Saiko

Se eu dissesse, caro telespectador, ou melhor... coração ao qual não sei lidar, se não neste método narrativo, que não estou pensando nos "e se", assim como foi pedido, estaria mentindo.

Dos poucos sentimentos que consigo já captar e administrar em meu peito, este começa a tomar uma imagem cada vez mais visível ao me afogar sobre ele. A culpa, é claro, está corroendo cada parte do meu corpo como se fossem as traças ao qual dedico minhas narrações de vida.

Ainda assim, mesmo tendo observado em minha frente o tombar da outra pessoa ao qual tinha cravado como aliado, e tudo por minha responsabilidade, de algum modo, tenho que encontrar a minha presença firme e ignorando os pesares, pois ainda não é o fim do julgamento, mesmo que uma punição já tenha sido aplicada.

— Vamos... seguir, pessoal. — E, diante da trava unissona que ocorria, meu companheiro de leituras foi o primeiro a tentar rompê-la. — O tempo não parou de contar, o Monokuma ainda está considerando o julgamento ativo e... infelizmente, temos tempo limitado. Mas, bom, eu realmente gostaria de acreditar que, resolvendo o mistério da sua execução... o Rik nos mostrou que é possível solucionar os mistérios desse local.

— Mas isso, Suzushi, o roteirista. — Interpolando o outro, Masao colocou sua voz altiva também, ainda que melancólica. Eu podia finalmente enxergar a frustração de uma forma que sabia definir, e sabia reconhecer como ele a sentia ao apertar os punhos quase como se fosse rompê-los. — É fazer o que a gente tinha falado que era uma merda...

— Eu sei... — Do roteirista outra vez, não somente a palavra surgiu, mas também um sorriso melancólico. — E o pior é como isso é contagiante... Quando eu o vi morrendo pra resolver tudo, mesmo sendo uma morte... eu senti que éramos capazes de solucionar isso, e é o que me deixa pensativo, Masao. Eu sei que é uma droga, mas, talvez somente dessa vez, porque realmente vamos poder finalizar esse jogo, talvez...

— Pessoal, depois vocês filosofam, caramba! — E ainda que chamasse atenção, nos olhos da degustadora, lágrimas desciam. Ainda assim, não perdeu a sua pose. — A gente já pensou demais e, que nem vocês disseram, o tempo é curto! Agora, por mais que doa... é o outro assasinato que temos que resolver.

— Você está correta, Baldrick... Haru.— Foi a vez de Desiree Akamura, que parecia ter uma neutralidade assustadora, pois não me parecia, sendo eu alguém que tinha propriedade para julgar, uma apática. — Rik Yamada... Fique sabendo que ainda sentimos por você, e prestaremos o nosso devido luto. Eu tenho que admitir de uma vez... você foi um amigo que tentou rogar por nós, mas, se ele está impedindo até mesmo o nosso luto, colocando as nossas vidas em jogo... — Sua mão, desenhada com a crosta de sangue enrijecido, se ergueu, apontando para o Monokuma. — Vamos, pesso... não, amigos! Vamos acabar com toda essa palhaçada que tanto machucou o nosso coração, para, de uma vez, conquistarmos o nosso final feliz, onde vamos poder sofrer por essa perda que nos negam!

E mesmo diante daquele receio, motivados pela pessoa que justamente menos se esperaria, uma pitada de motivação pareceu surgir nos rostos de cada um que pude olhar.

Talvez pela vingança, fosse também pela paz que isso acarretaria... eu pude ver, de forma clara e crua, como esse jogo lhes moldou, e como, agora, pareciam muito mais com a Meinu que adentrou esse jogo do que eu mesma parecia.

Pois, enquanto se focavam no objetivo, a dor que não estava ali, mas existia em meu peito, me impedia até mesmo de falar.

Essa sensação angustiante me fazia parecer prestes a enlouquecer, em talvez só abandonar os meus pensamentos e seguir pelo caminho mais fácil, onde sequer quer se vingar de tais matança, mas as aceita e faz também...

Uma perdição que não consigo sequer dar um nome concreto.

Mas que parecia ser a antítese da esperança que diziam.

— Upupupupu, ainda bem que sabem! Esperneiem e sintam toda a dor que quiserem, até ignorem esse julgamento! No final, a injustiça de terem ganhado o caso passado será realocada nesse aqui, com vocês morrendo enquanto estão lamentando pelo leite derramado!!! — Não se podendo deixar de fora, o urso fez uma provocação inicial.

— Só fique quieto, você vai ser chamado na conversa quando encontrarmos o seu dono... Se é assim, pessoal... vamos seguir então. — Outra vez, o roteirista tomou a palavra. Se pudesse concretizar algo, diria que, fazendo minhas as palavras da minha falecida amiga... ele finalmente estava tomando as rédeas desse jogo e da sua vida. — Com o assasinato de Sayakuri Wu.

— Que saco... Não temos mesmo escolha se não dançar essa porcaria de música. — Masao Shimizu coçou seus cabelos brancos, ainda parecendo bambo demais para realmente estar de pé, mas se mantendo apático sobre isso. — Vamos começar pela causa da morte, nem isso sabemos nessa merda.

Nonstop Debate

Truth Bullets

Porta Arrombada

Fragmentos da câmera

Configurações do Memory Schoker

Voz do Mononiji

Câmera do Sayakuri Wu

— Que droga! Me desculpa, Rik... Esse lugar, todo dia, suga tudo de nós... Eu só queria chorar por você, mas parece que tentar se tornar forte... trás os seus contras, já que nem isso consigo direito mais. — Um comentário de sublime melancolia, mas que Haru não deixou que se desenvolvesse demais. Se o assunto era o debate, precisaria, como ela mesmo havia dito, ser forte, otimizando o tempo que restava. — A câmera dele foi achada no incinerador, né? Por que ele não poderia ter morrido queimado? Sendo jogado lá e tudo mais...

— Não, Ba-Haru... não é nisso que acredito. — Acompanhando a dança, a violinista ditou a melodia do debate. — Eu não acredito que a intenção do assassino, que podemos assumir ser o Mastermind, era realmente matá-lo desde o início. Algo como jogá-lo para morrer queimado em um local como o que foi destacado... acaba por exigir algo metódico demais para o que estamos lidando.

— Hmpf, dá pra ver que o tal do fotógrafo, streamer, vlogger - sei lá qual era o talento - entrar naquele muquifo não foi algo nem um pouco planejado, então o Mastermind agiu na loucura. — De braços cruzados e disparando um longo suspiro, Masao parecia ter uma apatia quase depressiva sobre a situação em que estava colocado. De certo modo, ainda que eu não compreendesse, senti que ele parecia mais reger por nós do que a si mesmos.

— . . . — Sequer consegui comentar algo, pois a escuridão dolorosa ainda tomava o meu peito, por mais que quisesse que não fosse assim.

>Eu não acredito que a intenção do assassino, que podemos assumir ser o Mastermind, era realmente matá-lo desde o início.<

>Pista: Configurações do Memory Schocker<

— Eu concordo com isso!

Ao menos alguém ainda demonstrava o anseio por responder que agora eu perdia, sendo este o meu companheiro de leituras.

— Se fosse essa a intenção, ele seria muito mais cuidadoso, não deixaria nem aquelas coisas que vimos no quart-vocês sabem onde. — Não completou, era uma arma secreta que usaria mais tarde com o Monokuma. — O que eu quero dizer é que, pelo que deu a entender pela imagem que vimos, até a porta arrombada... é que o Wu encontrou alguma coisa que o Mastermind não queria que fosse descoberto. Mas, se fosse só isso, ele poderia usar o Memory Schocker. Como a gente já viu, é possível apagar até mesmo tudo de alguém com ele, então um momento assim seria o mínimo. — Juntou as mãos, recuperando fôlego. — O que eu quero dizer é que a morte foi tão abrupta que ele nem ao menos conseguiu usar o Memory Schocker pra consertar a besteira do Wu ter visto. Se jogou o corpo no incinerador, junto da câmera... foi depois de ver que não tinha jeito de consertar. — E por fim, seus olhos foram ao urso. Se ele era o Mastermind, eu não sabia, mas via que queria tentar provar e encontrar essa verdade de todas as formas. — Foi isso que eu pensei, Monokuma? Que fiz uma besteira levada por sentimentos, ansiedade, e, depois, não tive outra escolha se não essa? É como o Rik disse, não é? O ponto dos 16 estudantes que conhecemos, juntando com a Rey ser um acréscimo, é muito mais suspeito do que se tivéssemos começado com 17 desde o início. Se temos 16, é porque não foi planejado.

— Fala pra caramba, hein? — O diretor, contrapondo as perguntas do rapaz de cabelos brancos, respondeu com indiferença. — Se foi você, já sabe as respostas dessas perguntas aí, então não tem porquê eu responder. Querem votar já?

— CALMA AÍ! — Haru interviu, tentando acalmar os ânimos do urso monocromático, que somente gargalhou. — Entendi e até concordo, Suzushi, faz sentido, mas não vamos correr demais! Eu quero entender também... como que tipo... ele teria feito isso? Um tapão bem dado não mataria, então tô meio confusa...

— . . . — Constrangido, o roteirista sorriu. — A gente não encontrou nada assim...

— A última lição que aprendi com aquele idiota... — Vi o apostador apertar as próprias mãos, como se as emoções que voltasse a sentir fossem uma maldição. — É que não existir algo também é uma pista. — Por fim, suas pupilas amareladas foram ao Monokuma, acompanhadas por disparos da sua língua afiada. — O muquifo que eu tava falando era o seu. Invadimos aquela porcaria, lide com isso. — Pude ouvir a voz aguda do urso começar a trovejar um "O QU-", mas, antes de poder completar, Masao seguiu, como se não fosse nada. — CONTINUANDO. — Limpou a garganta. — Voltemos à Porta Arrombada, e o nome já explica tudo também, nem sei porque vou ser tão didático assim. — Suspirou, recuperando a paciência para retornar para a apatia. — Se está arrombada, alguém entrou sem o consentimento, até aí tudo bem, mas então, voltando a desenvolver... O que um cara com uma câmera faria ao entrar em um lugar muito suspeito? Tirar fotos, é claro. E aí aponto que o Mastermind viu isso, invadiu o próprio quarto na astúcia do momento e, num golpe súbito, pra evitar que o fotógrafo, streamer... entenderam, saísse correndo e mostrasse a desgraça para todo mundo, o que aumentaria seu trabalho de deletar as memórias de todos, só usou a primeira coisa que encontrou para tentar desmaiá-lo e, em seguida, quebrar a câmera também. Ele deve ter limpado o sangue na hora, eram visíveis, mas os fragmentos da câmera não se atentou de pegar, já que eram bem menores e também, claro, não imaginou que alguém ia chegar nos pontos de 1) saber que o Wu existiu e 2) conseguir invadir o quarto dele e fazer uma busca minunciosa.

— POR QUE VOCÊS ENTRARAM NAQUELE QUARTO? EU VOU CANCELAR ESSA POR-

— Cala a boca, ninguém te chamou na conversa. — Não eram somente as conclusões de Masao que eram afiadas, mas a sua língua também, mais que nunca. Não consigo compreender qual foi o tratamento que teve com o detetive, pois convivi com ele o mesmo tanto, se não mais, porém, nesse pequeno espaço de tempo, ele pareceu não somente compreender as ideias dele, mas também aplicar de uma forma que não parece outra se não avassaladora. — Pelo que concluímos até agora, eu não vejo como ser outra coisa se não for isso. Claro, temos poucas pistas, quase nenhuma, mas esse lugar e esse urso dos infernos nos lapidaram... Mesmo com pouco, na dedução lógica, acho que conseguimos sim determinar que ele não mataria se não precisasse, porque isso era armar algo contra si, e então, se matou, foi porque precisava muito, o que o Memory Schoker nega, ou não queria ter feito. Em resumo... dane-se a porcaria da arma, nunca vamos achar e podia ser até um cano. O que importa é que, por ele não estar lá, é reforçado como ele queria esconder esse desagradei acidente. — Masao Shimizu, talvez por não ter nada a perder, agora aposta em suas maiores teorias.

— Eu vou te matar da pior forma possível quando você errar isso... — O urso monocromático, com uma expressão tão sombria quanto a sua voz, acalmou-se e deitou o corpo sobre a cadeira do pupito, parecendo, no final, aceitar que não era o seu lugar contestar por tais detalhes.

Masao, de contraponto, somente sorriu, esbanjando uma confiança que parecia ser indiferente a ameaça dele.

— Está estoico, Masao Shimizu. — Em paralelo ao diretor, uma troca de olhares se deu entre a violinista e o apostador, que se uniram em um sorriso, contrapondo a feição de desgraça que existia até tão pouco tempo. — Se deciframos a causa da morte, talvez seja recomendado que avancemos para o motivo. Alguém tem um contraponto?

— Eu confesso... que ainda acho meio surreal, toda essa teoria. Mas o Masao está certo mesmo. — Meu companheiro de leituras cerrou os punhos, demonstrando uma expressão motivada por entre seus olhos, descendo até os lábios, que se reviravam em um pequeno sorriso. Era algo diferente de todas as falsas motivações que teve no passado. — Temos que jogar com o que temos e até com o que não temos... E eu vejo claramente como essa hipótese se encaixa melhor que qualquer uma, pois os fatos corroboram completamente para que essa falha do Monokuma... se torne algo crítico, que vai ruir toda essa estrutura dele. Obrigado... Masao. — Seus olhos se fecharam por um momento, parecia um sorriso de satisfação plena. Erguendo um dos punhos cerrados, porém, ele logo fez com que seu olhar retornasse ao mundo, prosseguindo. — Como, quem e por quê... Claro, não vai ser nessa ordem exata, mas agora estamos indo para o primeiro por quê, acho que estamos em um bom caminho, mas meu conhecimento é meio reservado a quantidade de peças que abordavam esse tema e que eu escrevi. Meinu! — Foi um chamado súbito, mas, ao olhar para o roteirista de cabelos brancos, fui capaz de perceber que toda a montagem da sua fala foi feita para me convidar para aquela dança, que eu tanto evitava. — Você é a nossa segunda maior detetive, então, por favor... fale também! Estamos indo no caminho certo? Mesmo que seja somente um sim ou não... me deixe te ouvir mais uma vez... Não quero que o que eu fiz... te cale pra sempre.

Talvez seja esse o motivo da minha narração ter voltado. Eu sinto que, de alguma forma, ele sabe direcionar completamente as situações quando se trata de sentimentos.

Agora, redirecionando para mim tanto a narrativa quanto as falas, ele busca resgatar os meus sentimentos de confiança, que me determinem a, mesmo com tanta dor, ainda falar.

Se você for o Mastermind, com certeza é assustador.

Pois, se eu fui taxada de gênio da lógica por você...

— Você é um gênio dos sentimentos, Suzushi Kowai. — Proferi, observando com atenção como o rosto do rapaz se distorcia, deixando a linha da sua sobrancelha esticada para cima, em uma clara expressão de questionamento. Neste momento, também de forma automática, meus lábios distorceram para cima, formando quase que um arco, um sorriso, a minha resposta ao rapaz. — E creio que, se não está sendo um excelente ator, você é tão sincero quanto um livro aberto, não conseguindo fingir. Mas, respondendo a sua pergunta. — Ajustei os meus óculos em meu rosto. Se ele havia me convidado para aquela dança, mesmo que eu quisesse ficar no canto, não seria capaz de recusar um convite dele. É como se me sentisse uma dívida. E, por mais que ainda houvesse turbulência em minha alma, decidi que o acompanharia. — Estava ouvindo. Por mais que a suposição pareça ser grande demais para o pouco que temos, isso que é inferir, e acredito que foi bem feito desta vez. Podemos prosseguir para o por quê inicial, mesmo que este também já tenha sido apontado na ideia de Masao Shimizu.

— E tome lacrada do apostador sensato no urso! E ainda deixando todo mundo unido!!! — Eu conseguia ver empolgação surgindo em Haru, que secava novamente os olhos, talvez ainda tentando limpar as lágrimas da dor de perder o amigo. — E sobre o por quê, gente... eu também tô com a Meinu, acho que o Masaozinho falou algo crucial! Tá na cara que esse Sayakuri Wu que estamos pensando acabou vendo algo que não devia lá dentro, já que, se arrombou o lugar, era porque alguém não queria que a gente entrasse e visse o que tinha. Será que não foi o tal... como que era mesmo? Waking up to Despair?

>Pista destacada: Waking up to Hope<

— Deixem-me destacar que o texto, a todo momento, imputa um parceiro de crime, ou um cientista que corrobora com o que quer que seja a ideia nele aplicado. — Desiree inquiriu, erguendo um dos indicadores que já secavam o sangue antes derramado. — O que eu quero destacar mesmo é que... ainda que Rik Yamada tenha sido o traidor que encontramos, ele por acaso era também o que eu chamarei de "twoitor", ou seja, o que estava junto de quem escreveu essa carta, provavelmente o Mastermind, e foi citado nela?

— Não. — Se eu deveria falar, assim faria. Dessa vez, porém, havia algo a mais... — Se me permitem, retornarei a algo do nosso julgamento passado, de agora a pouco, um segredo que não sei se deve ser levado para o túmulo. Quando Rik procurou pelo **Relato do Monokuma**, além de dizer que não houve motivos para o que a... Rey Yagami nos fez, havia também o fato de nenhum de vocês ainda desconfiar que o Rik era o traidor, e isso é algo que se manteve, que só foi quebrado porque, na própria jogada dele de encontrar o Mastermind, ele precisou disso. Rik Yamada agia com tanta naturalidade que, para que soubessem dele ser o traidor, ele sempre precisou entregar o jogo. O motivo disto? Havia naturalidade pois, naturalmente, ele estava tão preso quanto nós nesse jogo de matança, nas mesmas condições. Ao menos não sobre a sua ciência, Rik Yamada não era o parceiro de crimes que o escritor desse relato mencionou, pois, segundo ele mesmo, o seu papel como traidor começou **dentro do jogo**, não antes dele. — Esse era o meu último papel com ele, por mais quebrado que fosse. Ao menos no fim, de tanto que não consegui proteger... esperei ao menos honrar as memórias póstumas do meu companheiro e acrescentar em sua inocência.

— Pera aí, então tem mesmo mais gente envolvida???! Mas então... como é que a gente acha quem tava antes dele?! — A atitude de Haru era justificável, a apatia que tínhamos diante tantas conclusões mirabolantes que não. Afinal, o número de membros na Hope's Peak como estudantes e como traidores era ainda maior? Se sim, há sim motivo para ter surpresa.

— Pera aí, pera aí... ! — Vi meu companheiro de leituras erguer as mãos ao ar, tentando acalmar os ânimos. — Deixa eu respirar um pouco, vocês tão crescendo demais de uma vez. — Servindo como um apaziguador e juiz para todo esse mar de lógica, o rapaz continuou com a sua contribuição, apoiando as mãos sobre o pupito. — Então a teoria inicial é que, ao entrar no quarto, uma das coisas Sayakuri Wu viu e não podia foi o Waking up to Hope, certo? — Silenciosamente, concordei com a cabeça. — Mas não só isso. Ele também acabou pensando, ou pegando de algum jeito, talvez por algo ali, que o Mastermind tinha um cúmplice, isso?

Outra vez, concordei.

— O material do texto, como antes citado, parece deixar claro que há um outro alguém. Não é difícil que a associação tenha surgido para ele. — A violinista completou.

— Hmpf, sei que é doido, mas... e se esse algo ali for a porra do próprio cúmplice? — Antes de sequer podermos concordar, outra pontuação do apostador surgiu, chamando a nossa atenção. — Porque a ideia toda do Rik era que tem alguém entre nós que substituiu o Wu, e ele tava escondido antes, não? Que lugar melhor pra se esconder do que em um quarto trancado onde, em condições normais, ninguém entraria?

— Mas era só ele se esconder entre a gente, Masaozinho!

— Não, ele não podia. — Quebrei a reflexão que a degustadora tinha contra o ponto do outro, puxando uma pista em minha consciência que refletia sobre tal assunto....

"Estar no topo... é solitário."

"É por te querer ao meu lado, como a minha companheira, que eu te contei tudo, que confiei em você para expor a minha fraqueza desse jeito."






. . .


















A pista, cérebro, por favor. Imagino que doa, não consigo compreender esse aperto, mas eu ainda estou viva, preciso funcionar. Não é por lógica, não, nada parecido.

Eu quero funcionar porque quero...

Porque quero...

Sobreviver, dando um enterro digno para eles, assim como houve com os outros.

Jalecos

Quartos

Sonho da Meinu

Memória da Meinu

Vídeo do Makoto Naegi

Configurações das turmas

Turmas da Hope's Peak Academy

Kyouko Kirigiri

Câmera do Sayakuri Wu

Voz do Mononiji

Fragmentos da câmera

Porta arrombada

Waking up to Hope

New World Program

Configurações do Memory Schocker































Jalecos

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>Sonho da Meinu<

Memória da Meinu

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Câmera do Sayakuri Wu

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Fragmentos da câmera

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— No meu sonho, se me lembro bem, mencionei que o nosso aluno extra, que ocuparia o cargo de substituto, não estava presente no encontro que estávamos indo. Imagino que sonhos são argumentos não tão lógicos, mas... Rey Yagami já provou a veracidade dele. — Meneei a cabeça ao chão, encarando os azulejos de cores monocromáticas do julgamento, apoiando uma mão sobre a testa.

O mais terrível de estar nessa situação é como há esse desequilíbrio da balança e coração. É assim que se sentia, Suzushi Kowai? Tendo a lógica em mãos, mas machucando seu peito sempre que tocava sobre ela e recordava das desgraças? Me pergunto se explodiria como você caso tivesse um costume tão grande quanto ao seu...

— Meinu... obrigado, de verdade. — Foi então que ergui a minha visão para além do alcance anterior, dando de cara com os olhos enegrecidos do roteirista, que se esgueiravam ao acompanhar o sorriso nos lábios. Era meigo, inocente, mas, ao mesmo tempo, contagiante. — Você pode descansar por hora, mas talvez eu te puxe de novo, tá bom? Então... respire, pense nos bons momentos que virão. Você precisa seguir em frente pois, fazendo isso... eles também vão ter paz, Meinu. — Sua voz suave era como uma espécie de calmante, ao qual habilmente tentava sumir com as marés do meu peito. Claro, eram palavras simples, mas, talvez por serem tão singelas, aumentavam seu efeito. Sendo assim, deixei outra vez que ele conduzisse esse percurso. Fosse o Mastermind ou não, eu admito... neste pequeno momento, torno meu companheiro de leituras um porto seguro. — Então, pessoal... Acho que a ideia do cúmplice se esconder lá é plausível, certo?

— Eu não sei... talvez ele poderia se esconder dentro da academia mesmo, em uma área que não tínhamos acesso na época, pô. — Haru estava pensativa. — Mas, se era só o papel pra ele ler, eu não sei... tipo, um papel não é tão chocante assim, ele ia perceber na hora que alguém tava vindo atrás dele enquanto começava a ler. Mas agora... achar alguém que você tinha certeza que tava do outro lado do mundo...

— Minha teoria tem falhas, tá cheia de buracos, eu sei que sim, mas é que nem você disse, Haru... — Outra vez, o de cabelos brancos e olhos amarelos deixou que seus dados girassem. — Algo chocante o suficiente pra fazer com que a única reação de quem estava atrás dele fosse só bater antes que ele pudesse gritar qualquer coisa... parece precisar de bem mais que um papel, ou seja, uma visão de tirar o fôlego por um momento.

— Se for assim, desse caso que tão pouco sabemos... — Dessa vez, a violinista quem decidiu concluir. — Já determinamos muito mais do que eu esperaria. A vítima, Sayakuri Wu, ao entrar no quarto secreto após um arrombamento, se dá de cara com o aluno extra que, em tese, não estava na viagem. Ele fica incrédulo e, se aproveitando disso, o outro parceiro do projeto pega a primeira coisa que viu, talvez um pedaço de cano ou qualquer coisa que estivesse no mar, e bate no fotógrafo, derrubando e quebrando sua câmera também. O que ele não sabia, porém, é que o acerto havia sido forte demais, o que ocasionou na morte de Wu.

— Depois disso, ele só tacou fogo no corpo e na câmera, gente? — A menina de cabelos verdes parecia acompanhar o raciocínio. — Eu pensei que ele podia ter enterrado, na areia mesmo, mas aí eu lembrei! Naquele dia, quando... - seja forte, Haru! - Quando a Rey achou o corpo da Saki, que a Keehana tinha enterrado... ela escavou praticamente toda a praia em busca disso. Eu só acho que, se tivesse outro corpo lá, do jeito que ela era sortuda, teria achado também.

— Você lembrou de algo essencial, Haru! — O roteirista pareceu contente. — Acho que só sobra essa hipótese mesmo. Praticamente montamos totalmente a imagem d-

— Upupupu, a juventude cria certezas muito rapidamente!!!

Rebuttal Showdown

Erguendo sua voz de uma maneira inesperada, dessa vez, foi o próprio urso, que outrora estava tão calado, que decidiu demonstrar a diferença daquele julgamento para qualquer um outro.

Neste trial, ele era o oponente de verdade.

— Tão inocente, tão bobo! Você só tá falando porcaria, Suzushi! Esse tal estudante a mais que tá falando... não deve nem existir, não sei de onde tiraram isso, mas você precisa de uma correção, então vou te dar.

— Uma correção? E só fala agora? Não era você que me conhecia de ponta a ponta, Monokuma? — Como se dois lutadores se encarassem no ring, o roteirista de cabelos brancos não hesitou com a aproximação do urso, pelo contrário. Era como se, sabendo que ele havia saído do seu trono e descido para a luta, o homem tivesse a certeza de que os pontos estavam realmente tocando áreas críticas da criatura de pelúcia. — Você não vai me calar, como fez naquele dia, do primeiro motivo, com a peça. Agora sou eu, Monokuma... ! — Sua mão balançou de um lado para o outro, como se, metaforicamente, carregasse balas. — Que vou te colocar contra a parede, com esse grupo de amigos sofridos que você tanto tentou machucar. Juntos, vamos fazer com que você seja aquele a calar a boca dessa vez, aceitando o desespero desse destino. Ainda bem que se colocou no jogo de vez, Monokuma, porque essa é a... a expressão máxima dos nossos sentimentos, a nossa justiça em cima de você.

Truth Blades

=> Memória da Meinu

=> Configurações das turmas

=> Kyouko Kirigiri

=> Voz do Mononiji

=> Jalecos

— Você tá é maluco, Suzushi! — O diretor começou o seu avanço. — Primeiro de tudo... — Retrucando, aquela pequena criatura iniciava o básico da sua retórica. — está falando que o tal do Sayakuri Wu veio pra cá. — Quase como se erguesse do seu trono, seu braço de pelúcia se esticava em direção ao roteirista. — Mas que prova tem que ele sequer existe mesmo e é aluno daqui?

>Pista: Voz do Mononiji<

— Temos um literal vídeo que nos mostra isso, mas te conhecendo bem, diretor... — O roteirista de cabelos grisalhos sorriu com a própria provocação, como se estivesse bebendo um vinho que deixou a muito tempo em fermentação. — A voz do Mononiji sempre foi um ponto estranho desde o começo. Grossa demais, até para pessoas com as vocês mais graves daqui, como o... Daisuke... ela sempre chamou atenção. O motivo fica fácil quando revemos os personagens dessa narrativa e acrescentamos o Wu, já que a voz que o urso tinha era a mesma que ele mostrou nos vídeos. Se o Mononiji foi criado aqui, no nosso tempo de pesquisa, pelo Gabe, a pessoa que o dublou também precisava estar aqui ao mesmo tempo.

>Advance<

Level 2

— Não, isso ainda não faz sentido. — O diretor, de contraponto, apenas soltou uma risadinha inicialmente. — Vamos, olhe as suas próprias pistas, a configuração das turmas que falaram mais cedo. — De supetão, porém, a criatura trouxe ao palco um elemento próprio nosso que antes havíamos usado para descredibilizar suas teorias. — Falaram que começar com 16 ao invés de 17 era mais suspeito, mas começaram com esse número porque, em nenhum momento, existiu um décimo-sétimo estudante! — Era loucura, como se estivesse enganando o que os nossos próprios olhos estavam vendo, mas então... — De onde tiraram que existia um décimo-sétimo? De um sonho que pode ter sim fatores que se mesclam com a realidade, mas outros não! A resposta para Sayakuri Wu ainda existir, ou melhor, não existir, e mesmo assim os 16 estudantes estarem aqui presentes, mas sem ele... é que o Sayakuri Wu em si nunca existiu! Ele era somente uma persona que um de vocês adotou com o tempo, na academia, mas, ao esquecerem, a personalidade antiga voltou! — Sua teoria ecoou como se fosse uma grande vitória, uma exclamação que tinha com orgulho. — Detalhes como corte de cabelo ou algo similar são facilmente moldaveis, eu poderia ter pintado! Sayakuri Wu pode ser qualquer um daqui sem nem saber!














. . .



















E eu fui capaz de ouvir o silêncio reveberbar naquele momento, atingindo o meu companheiro de leituras como o golpe letal no calcanhar.

Por mais insana que a teoria que o urso tinha fosse, a verdade é que a própria existência de um décimo-sétimo estudante também era carregada através de suposições e brechas. Longe de ser algo concreto, era um fator que sequer podíamos confirmar, só acreditar, mas este acreditar nem sequer era inteiro, mas sim único. Era uma imagem unicamente minha, passiva de equívocos, que todos se sustentavam e levavam as suas vidas.

E, se estivesse errada, se Sayakuri Wu ainda estivesse vivo e ele que fosse um de nós, todo o esforço que tivemos agora, o falecimento do... nosso detetive... apenas seriam formas cruéis de ter adiado uma morte completamente inevitável.

Era o terror daqueles que a encararam de tão perto. Ainda que alguns não temessem a morte em si, a sensação de derrota após chegar tão próximo de realizar um objetivo, de trazer justiça e, por um motivo tão simples, tudo ser estragado e mostrado como exatamente o nosso inimigo queria... é o bastante para que as pessoas pensem que sucumbir ao profundo vazio da desesperança é o melhor a se fazer.










. . .
















Mas há uma luz.

E esta luz, Rik Yamada, Rey Yagami... me perdoem por um momento e me ajudem a carregar.

Pois, mesmo que se sustente em um fragmento simples e chulo...

Essa luz sou eu.

— Ryuuga Mori.

>Pista: Memória da Meinu<

BREAK

— Não é mais um sonho, mas uma lembrança concreta. — O olhar de Suzushi voou na minha direção no momento em que falei aquele nome, mas não somente o dele. De um a um, enquanto minhas pupilas passeavam, fui capaz de ver as expressões confusas com o fato de que aquele nome que eu disse, por algum motivo, parecia salgar suas línguas, como se fosse um tempero familiar para elas. — Eu vi o rapaz na minha mente, ainda que não possa materializar sua imagem completamente. Sua forma descontraída, a forma como superestimava os ultimates, desconsiderando qualquer atitude nossa... Apelidos, trejeitos brincalhões... Ryuuga Mori é uma existência complexa demais e repleta de muita personalidade para ser somente a minha imaginação. E o motivo de falar o nome dele é justamente para isso que estão sentindo agora, pessoal. — Não era algo que eu sabia lidar, mas, dessa vez, eu precisaria devorar e ajudar, assim como ele mesmo pediu. Suzushi Kowai, o protagonista, eu irei tomar esse papel e o que representa nessa narrativa por um instante. — O que sentem agora em suas mentes, o gosto que tem ao tentar balbuciar esse nome com seus lábios... Quanto mais estão tendo, mais a farsa do Monokuma se desbanca. No momento em que eu disse o nome dele, eu tinha uma esperança, que agora começa a se comprovar... Se todos são capazes de sentir familiaridade por Ryuuga Mori, essa não é mais uma prova factual e única a mim mesma, mas uma prova universal, que abrange todos os presentes. — Não entendi bem o movimento do meu corpo, mas este deveria ser o tão famigerado instinto outra vez, agindo como se estivesse tudo bem me dominar. Na situação de agora, porém, enquanto sinto meu corpo saltar até o roteirista, onde, junto dele e acompanhando seu sorriso, também ergo os braços e aponto, por mais vergonhosa que seja ver a cena de fora, me sinto satisfeita. — Essa é a resposta que todos nós construímos, Monokuma.

— Hmpf, vocês acabaram de quebrar a minha cabeça, mas eu gostei... — Era como se um ritmo estivesse começando a ser formado, e Masao Shimizu tomava a iniciativa de continuá-lo, batendo em seu pódio logo antes de continuar. — Graças ao... filho da mãe, mas útil pra caramba, do Rik, e a investigação que tivemos, foi possível ter certeza... os 16 alunos formados por um grupo de 9 meninas e 6 meninos era impossível em uma turma real da Hope's Peak, pois suas configurações das tturma, por mais conservadora que fossem, sempre efetuava a separação com base nos sexos biológicos, deixando 8 meninos e 8 meninas.

— Depois das coisas que vi, que chega batem no estômago quando lembro, eu até fico assustada de acreditar nisso aí, mas... — E o coral seguiu com Haru Baldrick, que removeu uma das mãos da testa para se permitir a dor de pensar. — A Rey é quem faz a gente conseguir se salvar nessa resposta! Ela mesmo disse essa ideia da nossa turma ser esquisita, e os meninos confirmaram que o motivo de ser esquisita era ela mesmo, uma aluna extra que entrou pra substituir a vaga de sortuda! Se ela era extra, então a turma já tinha 16!

— E é aí que tudo se encerra, e eu terei o prazer de tocar a sinfonia final de qualquer argumento que você ainda tinha, diretor. — E, por último, Desiree Akamura deixou que seus dourados cabelos saíssem do rosto, pois erguia a sua face e juntava as mãos de sangue seco, encarando o urso de pelúcia com uma elegância tão sublime que parecia causar desistência em quem fosse debater somente de ver. — Se Yagami acrescenta ao que já estava completo, aos dezesseis, nossa turma, originalmente, possuía no mínimo um homem, e tudo se quebrava no ponto de termos a lembrança de dois deles: Sayakuri Wu e Ryuuga Mori, mas, na tentativa de negar a existência de um, de esconder ainda mais suas mentiras, provou como elas possuem pernas tão curtas quanto as suas próprias. — Apesar da ironia da frase, manteve a seriedade impassiva, lentamente soltando uma das mãos da outra e apontando para o urso. — Pois disse, para defender que Sayakuri Wu ainda estava vivo, que ele poderia estar conosco e você somente ter mudado seu corte de cabelo, cor, o que quisesse, para disfarçar tão detalhe. Tal hipótese era forte, mas era justamente por não precisar ser uma mentira, afinal... é justamente com ela que podemos defender que você tinha soluções para a nossa teoria inicial, de Sayakuri Wu estar morto e Ryuuga Mori ser alguém que está aqui, mas disfarçado de um dos ultimates. É inegável, Monokuma, que a possibilidade de estudantes extras não seja real.

— Obrigado, Meinu, pessoal... — Vi o sorriso do meu companheiro de leituras se tornar tão terno que até mesmo pareceu, de algum modo que não compreendo, me esquentar. Em seguida, ele aproveitou a proximidade para, subitamente, segurar a minha mão, como se de fato fosse completar o movimento daquela dança. — E então, Monokuma? Depois disso tudo, acho que não tem nem como argumentar, não é? Como se sente sabendo que esses alunos que você tanto pensou que tinha na mão te pegaram de surpresa? Agora, com ele na nossa mente, é impossível de negar. Os dois, Sayakuri Wu e Ryuuga Mori! Ambos estão presentes na viagem original dessa academia! — E com nossas mãos entrelaçadas, ele as ergueu diante do urso, ainda crescido com aquela semente de confiança que tanto foi regada. — O verdadeiro número de estudantes dessa viagem da Hope's Peak... finalmente conseguimos descobrir com clareza! No total, nós éramos 17 estudantes!
















. . .






















— . . . — O silêncio se distorceu. Se, no início, era uma sensação de vitória, com o tempo, foi sendo tomado pela sensação de inquietude. — Admitir a derrota é um elemento essencial de qualquer um que tenha maturidade, então eu digo com orgulho: meus parabéns. — Os trejeitos nas falas daquele urso, que se reverberavam enquanto sua atitude corporal se tornava ainda mais mecânica, como se a vida se esvaísse, era estranhamente mecânica e manipulada. Havia um incomodo nativo em ouvir aquela voz. — Mas ainda têm um trial a vencer, estudantes. E eu me pergunto... são capazes disso?

— O que deu nele agora?! Ativou o modo sério após perder qualquer base que tinha? — A degustadora escondeu as mãos atrás das costas, mas, enquanto me afastava do roteirista e retornava ao meu lugar, pude ver que elas tremiam dada a aproximação nova do diretor.

— Não, não é só isso... — Masao meneou a criatura, em uma indiferença conclusiva. — Estamos chegando perto, é por isso que ele está desse jeito.

— Sim. — O outro de cabelos brancos, que até então ainds sorria, fechou os olhos para encarar o urso com bravura. — Se pensamos em como a vítima realmente existia, em como morreu e porque motivos... agora resta saber quem a matou.

— E o que você tem a dizer sobre isso, Suzushi Kowai? — O gatilho foi armado por um dos nossos próprios aliados, pela violinista que agora deixava seus olhos se encontrarem com roteirista. — Desconfiar para confiar, não é? Agora é a hora de tentarmos, visando salvar a sua alma, provar que a teoria do Yamada estava incorreta. Eu, porém... admito que acredito em quão sólida ela é.

— . . . Você me pegou. — E o roteirista riu, levantando as mãos, como se tivesse sido capturado por algum policial. — Eu realmente... não tenho um argumento bom que prove a minha inocência. Aquela lógica foi tão perfeita que até parece um pouco injusta de ter sido colocada lá e mesmo assim... não ter dado para fazermos nada. — Um grande suspiro saiu dele, seus ombros se erguiam. — Mas tem tanta coisa que falta, um motivo certo além de processo de eliminação que aponte pra mim... e, se deixarem, eu gostaria de descobrir isso. Se for pra morrer, eu quero pelo menos saber o motivo de estar indo embora! Mas, claro... adoraria acabar descobrindo que não sou nesse processo.

— Claro, eu não te condenaria desse jeito, Suzushi Kowai. Você me ensinou a ter empatia por você, então, por mais que eu quisesse logo causar todas as dores que senti no Mastermind... — A violinista apertou o pingente que carregava ao peito. — Eu ainda preciso pensar em mais motivos ainda, não somente para ele ter matado Sayakuri Wu, mas para ter assumido esse cargo de orquestrar tal jogo de matança.

Suzushi sorriu em resposta, movimentando as mãos como se estivesse carregando algo ali.

E, mesmo em silêncio, todos nós compreendemos. Em breve, um dos nossos últimos debates antes da verdade começaria.

Nonstop Debate

Truth Bullets

New World Program

Waking up to Hope

Kyouko Kirigiri

Turmas da Hope's Peak Academy

Jalecos

Configurações do Memory Schocker

— As motivações do Mastermind... Lemos nas cartas que ele queria criar algo artificialmente, usando talentos, não é? — Suzushi posicionou sua retórica como uma espada, iniciando o debate.

— Mas não sei se era isso mesmo, mesmo... Ele falou que artificial não era o suficiente! — E a degustadora seguiu aquele alavancar iniciado.

— A questão sobre o que é o suficiente que me intriga, admito. Ele parece querer criar algo, mas o que seria? — Desiree levantou um dos indicadores enquanto refletia. — Há um ponto no relato que encontramos, sobre esperança, que chama atenção.

— Então... Eu acho que as motivações se ligam nisso mesmo. — Mais uma vez, o roteirista argumentava.— Uma busca pelo que sustenta essa pesquisa.

— Se for assim, eu acho que tipo... o próprio jogo de matança que pode ser o motivo dele, a pesquisa de verdade! — Haru exclamou, batendo um punho sobre a palma. — Talvez essa esperança aí que ele buscava, de jeito natural... precisava disso?

— . . . — Mantive o silêncio.

Uma esperança natural, ou até, quem sabe... um desespero natural. Essas duas ideias sempre foram dicotomias, não é? — O de cabelos brancos cuja ponta desafiava a gravidade levou uma das mãos à testa, massageando ideias. — Isso está me lembrando...

>O próprio jogo de matança que pode ser o motivo dele, a pesquisa de verdade!<

>Pista: Turmas da Hope's Peak Academy<

— Hmpf, você finalmente tá falando algo que preste, então me sinto na obrigação de concordar.

A atenção sobre um tópico levantado anteriormente por Haru Baldrick retornou. E o proprietário dessa sugestão?

— Não somos os primeiros, eu vi com o detetive mais cedo, seguindo as dicas que o próprio Mastermind colocou... — Suas mãos se apoiaram no pódio. Não era possível determinar se o que lhe pesava era o corpo, cansado de tantas desgraças recentes, ou a mente. — Houveram outros desses antes de nós, uns dois que ficamos sabendo. Um com a turma do diretor e outro com uma turma que nunca ouvi falar na minha vida. O importante dos dois é que, de certo modo... parecem explorar isso que estamos lidando aqui. — Seu olhar afiado atravessou o urso, que estava tão calado e imóvel que até parecia desativado. — Rituais Kudoku, não é, seu merda?

— Então você lembrou? Fico feliz. — Uma voz atônita lhe deu resposta.

— Como eu ia esquecer dessa sessão de tortura psicológica que você tentou enfiar no meu... — Suspirou, se acalmando. Em seguida, deixou seus olhos amarelados rodearem cada um dos outros alunos. — Já devem ter ouvido falar, em livros ou sei lá. Rituais Kudoku são aquelas jarras onde colocavam vários insetos para se enfrentarem, pensando que o sobrevivente ia receber algo de ter participado dessa porcaria, um título maior, de inseto mais venenoso por ter sobrevivido ao veneno de todos... De inseto supremo, é isso que quero dizer no final...

— Izuru Kamukura e Makoto Naegi... pelo que vocês nos contaram das pistas... o fundador queria ser a esperança por si só e o nosso diretor... bom, e-ele... — Suzushi mordeu os lábios, era como se uma lógica terrível tivesse o abrangido. — Virou a ultimate esperança... graças a algo como estamos vivendo...

— Eu te falei, roteirista, eu te falei... — Como se estivessem marcando de combinarem, diante daquela estranha conclusão que chegavam, ambos os rapazes de cabelos brancos mordiscavam cada um os próprios lábios, em um ponto que o de Masao até mesmo chegou a sangrar. — O Waking up to Hope... ele mencionou sobre a ideia de um Izuru Kamukura natural... E, se lermos o que esse urso mesmo espalhou sobre as turmas... por mais que, de algum modo, tenha tido um Izuru Kamukura no jogo da turma 77, ele não o classificou como ultimate esperança, assim como fez com o nosso diretor. Esse filho da puta... eu acho que tá querendo juntar os dois nessa tal experiência.

— O talento por si só pode ser cultivado em alguém... — E nesse momento, até mesmo Desiree pareceu deixar seus olhos erguidos, como se um choque se juntasse a angústia e ódio. — Não deve ser possível. Nossas vidas, mentes, corpos... Por mais que odeie pensar em motivos bons para toda essa desgraça, eu me recuso a acreditar que todo esse sacrifício é apenas para cultivar...

— Um novo Makoto Naegi, uma nova Ultimate Hope. — Não tardei nas conclusões, mas dessa vez não foi apenas por buscar respostas. De algum modo, agora capto em meu peito a sensação de empatia, e senti que, se não me tornasse o bedel que nos condena, nunca chegaríamos a conclusão final. É algo que me dói sem que eu sequer entenda, mas um senso de dever maior comanda meus lábios. — O que Izuru Kamukura planejou originalmente e não atingiu em seu jogo de matança, mas que Makoto Naegi atingiu. Uma pesquisa que visa explorar as matrizes do talento por si, para finalmente desenvolver esse conceito de esperança, no contexto que fez Makoto Naegi nascer, mas com alguém adequado. Alma e situações corretas para criar o que pode ser determinado como, de fato, esperança definitiva.

A esperança definitiva.

Eram conclusões assustadoramente certeiras, mas, analisando logicamente, faziam sentido que fossem. Quem quer que fosse esse Mastermind, não deixou essas pistas querendo que não advinhassemos, mas sim o contrário. As suposições seriam guidas, caminhariamos por onde ele almeja, e, no final, aqui estaríamos, como os ratos de laboratório que acabamos de descobrir ser.

Qualquer expressão de surpresa que tenhamos não se deve de fato a essa revelação, é uma falsidade que tenta esconder algo que reside de verdade em nossas mentes.

A frustração.

Eu digo, leitor, que descobrir que é apenas um personagem de uma narrativa maior, que você sequer tem controle de si e só foi utilizada como instrumento de mortes e assassinatos, tudo com um objetivo tão mesquinho quanto testar uma teoria... Até a mim parece doer.

Não posso acreditar que as vidas que agora agarram minhas costas, que me fazem tentar sucumbir e cair de vez, que sussurram essa ideia que, cada vez mais, parece tão viável, se foram por uma motivação tão banal, por um mero teste de hipóteses bem formuladas.

Deve ser assim que qualquer cobaia se sente antes de ser atravessada pelas agulhas de testes.

— Mas... Mas isso não faz sentido! A gente também veio pra cá! Como que a gente ia aceitar um negócio desses?! — Eu via o tremelique de lábios na degustadora de cabelos verdes, a recusa em aceitar um absurdo tão grande que talvez sequer compreendesse completamente.

— Você viu os jalecos, Haru. Participamos sim de uma porcaria de pesquisa. — Masao respirou fundo outra vez, recuperando a sua calma. — MERDA, MEMÓRIAS DO CACETE! SE VOLTASSEM, TUDO IA SER RESOLVIDO LOGO! — Mas ele não conseguiu inicialmente, precisou liberar seu ódio e lamúrias, violentando com suas mãos o pódio que levava perto de si. — Depois choramos sobre o quanto a nossa vida foi levada ao lixo apenas para servirmos de ratinhos de laboratório, vou continuar... — Ele fechou os olhos, como se quisesse recuperar sua resiliência. — Nas cartas do Waking up to Hope, ele menciona não menciona? Que espera que entendamos? Eu acho que, já que já sabemos que viemos pra cá por livre e espontânea vontade, no mínimo a gente não sabia que esse plano de merda existia. Viemos para sermos sim cientistas, trabalharmos juntos em algo, mas não era nada dessa tragédia...

— Mas não importa o que viemos fazer, isso não muda nada agora. — Com um olhar impassivo, revolto sobre as conclusões de como a vida humana, mais que nunca, parecia um brinquedo, eu pude observar Desiree Akamura fraquejar por um momento, somente se erguendo outra vez por pura força das suas frustrações, do seu desespero para que o pesadelo finalmente tivesse fim. — Kowai, já achamos o como e o por quê, não creio que necessitamos de mais rodeios. Eu estou... cansada... e só quero acabar tudo. Você assume essa culpa e aceita esse motivo como seu, Mastermind?

Naquele instante, na sala de julgamento, o silêncio mais rígido e gélido que já havíamos presenciado em muito tempo fez seus ares.

Ninguém se atrevou a retirar ou acrescentar nas falas da violonista. Aquela figura, outras vezes tão distante e longe de todos, de algum modo, pareceu conseguir se erguer ao patamar de fazer uma declaração que, por mais frustrante que fosse, a todos conectava.

Uma Haru Baldrick negadora, cujas ânsias reornavam agora não somente a pensar sobre o destino que quase teve, mas para onde todas essas dores estavam levando, a leviandade da sua vida.

Um Masao Shimizu angustiado e repleto do ódio, que não parece compreender como alguém poderia sacrificar tanto, pessoas tão próximas, para somente criar uma imagem tão desnecessária para esse mundo, como se somente fizesse por capricho.

Uma Meinu Saiko, que, outra vez, se sentia distante de todos esses sentimentos, não conseguindo compreender se tinha somente um positivismo que até contratava com as suas dores ou só era cega para visualizar o por quê das mortes com o contexto dado serem tão ruins. Como eu poderia, afinal? Se eu também sou um fruto desse próprio experimento?

E um Suzushi Kowai...

— Não, eu não aceito. — Que erguia seus ombros e apontava ao urso, tendo um olhar tenaz e sombrio, mas ainda motivado, como se estrelas negras saltassem das suas pupilas. — Se estamos seguindo a lógica correta, Mastermind, só consigo pensar em duas coisas... Ou eu não sou você, ou então... ainda não compreendemos seu motivo completamente. — Por meio de outra surpresa dramática, aquele homem, tão acostumado a elas, fazia os pescoços se entortarem, curiosos enquanto iam em direção a ele. — Se teve algo que foi colocado a prova, quebrado, chutado e sofrido durante todo esse jogo... foi o meu ideal, o que eu sempre acreditei desde antes de pisar nessa academia... Títulos, essas classificações, a tentativa de colocar alunos normais e ultimates juntos... TUDO ISSO É UMA PORCARIA! — BAM! Subitamente, assim como sua voz se elevou, dessa vez foi a vez do rapaz de bater com sua mão no pódio. — Eu nunca apoiaria uma ideia dessas do jeito que está sendo colocada, pois essa é a coisa mais repugnante que já ouvi! Ultimate esperança? Meu desejo é o contrário, eu adoraria que alguém assim nunca sequer existisse! É um título como esse, tão soberbo e com tanto poder só por duas palavras... que faz com que toda essa igualdade que eu sempre quis ter suma mais ainda, que tudo se torne uma um mundo onde títulos e talentos são tão relevantes e discriminatórios que só por alguém receber um título como esse já tem capacidade de moldar o mundo, como Makoto Naegi fazia! Eu, aceitar uma porcaria dessas?! Eu me recuso, é sem sentido, é algo que nunca passaria por mim, nem em um milhão de anos... ! — E após tantas exclamações, em seu discurso de vocais ferventes, ele ergueu o rosto ao céu, como se estivesse prestes a declarar seu amor a tanto tempo guardado. — Se antes eu me odiava, desde sempre, existiu algo que eu odiei ainda mais, que tirava toda a minha confiança e orgulho que deveria ter desde que pisei aqui. Ah~! Como eu odeio cada um desses títulos de ultimates.














. . .





















Silêncio, um profundo e que fazia cada um dos que estavam ali se perderem na própria consciência, nos devaneios que, além de lhes afogarem em um mar de escuridão, de incertezas, também fazia o clima monótono e cruel ser cada vez mais aterrador...

Eu podia sentir as mãos tocando o meu pescoço, a minha garganta queimando, a ansiedade do motivo que parecia chegar cada vez mais.

— Eu sinto dizer, Suzushi, e tô falando de verdade mesmo dessa vez, mas... — E Masao Shimizu, talvez tão cansado de todas essas dores, virava seus olhos cansados ao roteirista, decretando o que me faltava o ar. — Chiliques não provam inocência.





















. . .



















Condenação, terror, morte.

Outra vez, desconfiamos para confiar, mas a verdade é que nunca conseguimos chegar nessa segunda parte que o roteirista tanto levou como mantra. Quando desconfiamos, as suspeitas se mostram com fundamento, não há o livramento que depois gera a confiança.

E mesmo que suas palavras fossem verdades, ele ainda morreria porque achamos provas válidas do por quê insistir em desconfiar.

— Ergam essa cabeça, galera. As vezes vocês tentam ser tão espertos que acabam sendo burrinhos, mas ainda bem que eu tô aqui, hehe! — De súbito, com o chamado, me senti sendo puxada do reino das verdades, deixando meu olhar percorrer por aquela sala até encontrar a dona da voz. E a garota de cabelos esverdeados, colocando as mãos abaixo do corpo, após tanto negar... agora sorria. — Eu confio em você, Suzushi, porque literalmente falamos a teoria que te livra de toda essa acusação, que só torna o argumento do coitado do Rik sem sentido, mas fomos com tanta sede em completar esses pedacinhos de sentido que tínhamos que só ignoramos... — Mas quando Haru Baldrick falou, eu não vi a simples menina de antes. De algum modo, talvez justamente por estar nos retirando do fundo do poço quando mais precisávamos, puxando a nossa mão e radiando nossos horizontes, eu pude ver seus olhos brilharem como nunca, como se fosse um convite, junto aos lábios, para mostrar que ainda estávamos de pé, que podíamos sorrir. — Monokuma, você queria uma Ultimate Hope, não é? Então eu vou ser egoísta e dizer... que vou me tornar essa esperança, pessoal. Vocês confiam em mim?

E se o boneco estava tão desalmado após tudo que dissemos, quando a degustadora fez aquele pedido que nos arrepiou, observei como ele pulou.

Imaginei que veria felicidade naquelas expressões, talvez um grito após o suposto objetivos que alcançou chegar, mas não. Monokuma estava de pé, mas chocado, como se a sua própria destruição tivesse surgido de repente.

E essa destruição, por algum motivo, era a mulher que sequer ainda havia dito nada que mudasse as nossas frustrações.

— Hmpf, você? Se eu te der esse voto de confiança e me deixar na mão... — O primeiro a falar foi o apostador, e, diante da sua face frustrada, um sorriso começou a surgir, como se a sua apatia estivesse sendo mudada de cabeça para baixo somente pelo tamanho da aposta. — E claro que eu vou confiar, Haru! Diz logo essa merda pra eu ver se assino embaixo mesmo!

— Haru... Baldrick. — Desiree, logo após Masao falar o nome da degustadora, também começou a falar. — Eu não sei exatamente o que dizer, é surp-mas é, eu também concordo com Masao no que se diz essa questão. Se estou pregando esse dilema, de que é possível confiar após desconfiar, quem eu seria para negar? Pois me prove, mostre como há outra solução bem embaixo dos nossos narizes. — E, de súbito, pude ver mais um daqueles milagrosos sorrisos sinceros da loira. — Amigas devem confiar umas nas outras.

— . . . Por favor, Haru Baldrick... — E antes que eu pudesse me dar conta, até mesmo eu já estava falando. — O salve.

— ME SALVE, HARU! — Suzushi gritou de surpresa, levando a mão ao peito enquanto encarava a mulher. Aquela não era uma súplica desesperada, era o contrário dela. Por ter fé em si mesmo, ter aprendido a confiar em si, ele também confiava na mulher. Seu pedido era muito mais uma afirmação do quanto acreditava nela do que uma súplica. — VOCÊ PODE SER A ULTIMATE ESPERANÇA!

— He, assim eu fico com vergonha... Imagina se acabo falando alguma bobeira logo agora? — Sua mão deslisou sobre o pódio, o sorriso ainda se mantinha, mas, ao invés de ser simples e inocente, parecia demonstrar justamente... um sorriso erguido pela vitória. — Eu não preciso mais tentar me provar, Keehana... eu sou. E eu vou te mostrar agora! — E o deslize finalizou, a mão se ergueu para apontar, com Monokuma sendo o alvo. — A teoria sobre quem é o Mastermind por trás desse jogo, por trás do Monokuma! Ela toda se sustenta na ideia de que, no processo de eliminação, o Suzushi é quem sobra pra ocupar o cargo da pessoa que substituiu o Sayakuri Wu, mas querem saber de algo... e daí?! — Outro "BAM", ela havia usado a mão livre para bater na madeira. — Eu fiquei pensando esse tempo todo, em como tava tudo errado e a gente só tava assumindo demais, indo rápido demais, e estávamos mesmo! Tanto que até nos perdemos, pois só queríamos achar um como, já pensando que o quem tínhamos! Mas esqueceram o que pensamos aqui mesmo nesse julgamento, da teoria que usamos pra ver o por quê o Wu ficou tão distraído?! — Outras batidas, duas de uma vez. — ELE FICOU DISTRAÍDO PORQUE VIU O MORI, MAS SE O MORI É O SUZUSHI, QUE É O QUE ASSUMIMOS, COMO ELE SE ASSUSTOU POR TER VISTO ELE E FOI PEGO PELO MASTERMIND DE SURPRESA, HEIN?! SE ELE SE ASSUSTOU VENDO O MORI, OU A NOSSA TEORIA TÁ ERRADA, OU O MORI SE MULTIPLICA, OU ELES DOIS NÃO SÃO A MESMA PESSOA! — As batidas se tornavam ainda mais violentas, mas, ao invés de nos incomodar, eram quase como batidas em nossos próprios corações, fazendo com que eles voltassem a bombear sangue em nossas mentes e recobrar uma falha lógica tão absurda que havíamos deixado passar pelas tensões e movimentações do Monokuma, em como ele nos distraiu ao levar o foco a ele. — O WAKING UP TO HOPE MENCIONOU ISSO, UM CÚMPLICE! A CENA NÃO ERA O MASTERMIND E O WU, MAS O MASTERNIND, O MORI E O WU! SE O QUE O RIK FALOU NAQUELA HORA É O QUE TÁ NOS LEVANDO A ACUSAR O SUZUSHI, ENTÃO ELE É MAIS INOCENTE QUE TUDO, JÁ QUE O RIK USOU AQUELA ELIMINAÇÃO DOIDA LÁ PRA DIZER QUE A PESSOA DISFARÇADA QUE ERA O MASTERMIND, MAS, SE A GENTE SEGUIR ESSA ELIMINAÇÃO, O MORI NÃO PODIA TER MATADO O WU, ENTÃO, OU ELE NÃO É O MASTERMIND OU, SE É, NÃO FOI ELE QUEM MATOU O WU! DE TODO JEITO, SE NOSSO SUZUSHI FOR UM MENTIROSO, ELE NÃO MORRE! — Respirou fundo, tomou fôlego, pois tentava usar toda a sua mente para tentar formular a sua lógica de uma forma que conseguisse ser realmente compreendida. — E EU DIGO MAIS! O MASTERMIND, OU MELHOR, QUEM, SEGUINDO ESSA LÓGICA NOSSA, MATOU O WU, NÃO É NENHUM DE NÓS TAMBÉM!! — Parecia a beira da insanidade, a ideia mais violenta de todas, completamente irreal e sem sentido, como se fosse uma salvação perfeita demais para fazer sentido, mas, mesmo assim... motivava. — CADÊ A DROGA DO NOSSO PROFESSOR QUE SUMIU, HEIN?! O MAKOTO FALOU NO VÍDEO DA MEINU, MAS ESSE FILHO DA MÃE SE OCULTA TANTO QUE TAMBÉM DEIXAMOS PASSAR DIRETO! NENHUM DE NÓS, É ESSA A ESPERANÇA QUE EU TRAGO, PESSOAL! O MASTERMIND NÃO É NINGUÉM QUE A GENTE CONHEÇA, MAS O PROFESSOR, QUE COLOCOU O MORI AQUI OU SEI LÁ, FEZ TODA ESSA SITUAÇÃO PRA GENTE SE DISTRAIR E SÓ PENSAR NOS ALUNOS EXTRAS, ESQUECENDO DELE!

Nunca ouve um silêncio tão grande quanto aquele na sala de julgamento.

Mesmo que Haru ofegasse, sequer haviam pensamentos, ações, ou até mesmo levantamentos que fossem de contraponto a ela, que tentassem procurar uma forma de refutar aquele teoria que a degustadora havia soltado.

Não por desespero, não por termos medo e estarmos se agarrando em qualquer hipótese, até mesmo as delas, usualmente fáceis de serem quebradas.

Não, aquela degustadora realmente foi mudando a cada julgamento e, nesse, provou por completo isso.

Não estávamos refutando pois a sua teoria realmente fazia um abismal sentido.

Era uma esperança que somente passou despercebida por nossos olhos tão cansados, quebrados e que só queriam colocar um fim nessa situação.

Mas, para ela, que sempre tanto negou, assim como fez com Rey Yagami...

Era possível encontrar outro sentido, outra esperança.

E era por isso que, no mais profundo silêncio, cada um de nós começava a encarar o urso de pelúcia, mantendo uma pose astuta e até mesmo confiante.

Pois foi uníssono, aquele grupo se uniu, finalmente desconfiando para confiar.

E, com essa atitude que revirou novamente os papéis, a teoria mais forte que nos apoiamos havia sido quebrada.

Meu companheiro de leituras realmente podia não ser o Mastermind.

— . . . — Os pés do urso se juntaram, como se estivesse prestando continência para um superior. Suas patas foram para trás, em uma pose tão ereta que sequer lembrava mais que ele era um animal estufado. Era de uma anormalidade tão tremenda que chegava a interessar, a aumentar as expectativas. Talvez fosse o momento da sua revelação, onde demonstraria que, saindo das sombras, quem esperava er- — É só isso? — E a nossa imagem era quebrada como vidro dos mais baratos, fazendo com que cada um se assustasse de modo diferente. Engolindo em seco, arregalando os olhos, tremendo as mãos. Com uma simples pergunta, ele desestabilizava o grupo e mostrava toda a tensão que tínhamos no corpo. — Me impressionei por um momento, mas me enganei. Nem mesmo um caso igual ao Makoto Naegi você é, quanto mais essa esperança que teorizaram que eu busco... Isso é escapismo, não esperança, mas te trarei de volta para a realidade... — Foi como o início da sinfonia, do enterro que se iniciaria. E aquele urso era, de modo tão apático, toda uma orquestra. — Já havia mencionado ao Masao, que fez o favor de esquecer, ou melhor, ignorar e supor que menti, mas, como disse, o Mastermind é um de vocês e estava encaixado no grupo de 16 pessoas originais. Foi uma grande colher de chá, pois revelei que quem planejou tudo isso não foi os que chamam de Sayakuri Wu ou Ryuuga Mori, mas um dos dezesseis nomes que já ouviram e conviveram nesse jogo mortal. Claro, essa pode ser somente uma desculpa para o Mastermind, alguém além e que nunca tiveram contato, escapar, mas irei averiguar com vocês quanto à isso também. — Outra pausa, seu olhar se ia de encontro ao do apostador, que rangia os dentes ao observar a arrogância daquele urso. — Partindo do pressuposto que há um professor, onde ele se enquadra nessa história, onde ele está? E não digo no sentido de estar nessa academia, parece ser fácil de se esconder, como dizem. Eu digo no sentido de onde está aqui, em toda essa narrativa. Se parte do pressuposto de que ele existia, deveria ter vindo ao encontro, mas não veio, ou melhor, se escondeu, por que também não foi um dos citados no sonho que Meinu Saiko teve? O único que pareceu ser citado e ter preocupação por não ter vindo foi aquele que hoje chamam de Ryuuga Mori. — O tom ameno em que usava de argumento ideias que tentou negar tempos atrás era violento, mas mostrava que ele estava disposto, com tudo de si, a provar nossa falha. — O argumento então se move para o professor ter de fato vindo com vocês, por isso não foi citado, mas, antes do jogo começar, se isolou para não ser uma das vítimas, se tornando um culpado impossível de ser achado. Se é assim, pergunto novamente... onde ele está? Não no sentido amplo, mas no sentido de se encaixar em toda essa teoria que formulam. Vocês viram, na última sala liberada, todos os nomes dos pesquisadores que estavam aqui. Até mesmo quem deveria estar mas não, como Sayakuri Wu, ou quem constataram a falta e desde o início não estava, como Ryuuga Mori. O que quero dizer é que, seguindo o que foi proposto por vocês, aquela sala, no que diz respeito aos nomes, está inalterada, se encaixando perfeitamente em tudo que concluíram. Ainda assim... — Era de fato robótico, girando o pescoço de modo anormal, até finalmente alcançar Haru, a mulher que chamamos de esperança. — Não há nenhum nome a mais, outra pessoa diferente que possam clamar como professor. Todos que estão aqui originalmente e que sabiam também estão citados com seus papeis naquela sala, então, sendo deste modo, o suposto professor deveria estar escondido, mas aí retornamos a primeira hipótese que eu havia dito. E eu digo então, estudantes, que essa é a prova definitiva que todo esse falso argumento de esperança é falso. — Era como um tiro, algo violento que penetrava nossas mentes. — Se o homem não estava escondido e, mesmo não estando, não estava citado, só resta uma única opção: o professor nunca existiu neste jogo.
























. . .



















— Você... você mexeu nas coisas! Que nem falou, jogou todos os papéis fora! Deve ter jogado o nome dele também! — Haru permaneceu tentando nos elevar, agir como a nossa esperança que ainda mostrava que tínhamos alguma salvação.

— E você tem sequer uma prova sobre isso na sala? — Mas Monokuma não permitia que sonhos se tornassem realidades naquele ambiente. — Até mesmo os papéis que foram jogados demonstram vestígios que um dia existiram lá, por isso concluíram que não lá estavam. Mas não há nada que aponte para um nome a mais, e, por mais que ausência de evidência não seja evidência de ausência, eu me pergunto... vão mesmo apostar suas vidas em alguém que sequer está classificado como escolha de votação? Jogarão suas vidas no lixo assim, por mais que pareça impossível que essa outra pessoa exista, pois não seria possível existir mais alguém além dos que já determinaram? Se todas as dicas que te dei se provaram verdades, Masao, por que justamente a que eu digo que o Mastermind é um de vocês seria a única mentira? Não parece conveniente demais para que você possa se livrar do sangue que já está manchado e afundado nas suas mãos?

— CALA A BOCA, PORRA! — Masao não se conteve, gritou com tanta ira que pareceu usar toda a sua força nisso, tendo que se segurar no próprio pódio para não cair ao chão.

— Baldrick, talvez tenha sido o suficie-

— Não, Desi! Não desacredita! — A degustadora não permitia que a violinista se tornasse distante, se afogasse tanto na própria indiferença que muitas vezes usou como suporte. Se ela fosse sucumbir, a de cabelos verdes a puxaria, puxaria todos nós. — Se ele tá tentando me fazer de boba, dizer que eu falei abobrinha... tem alguma coisa aí! Eu não sei como argumentar, mas... isso é suspeito! É suspeito! Eu não sei como, mas ele deve ter feito isso! Talvez o nome dele que seja Mori, a gente tenha confundido! Aí o professor era a pessoa que não veio o tempo todo e o Suzushi... droga... Se for isso, eu vou estar levando o Suzushi de novo pro... inferno, porque aí, até na minha nova teoria, ele volta a matar...























. . .























. . .



















O tempo passava, Monokuma observava silenciosamente. Aquele julgamento que se postergava logo chegaria ao seu fim e nós, tão perdidos quanto nunca, não teríamos outra opção.

A esperança foi colocada na mesa, a chama se ascendeu, mas não sabíamos como mantê-la ao ver a tempestade se aproximar. Por mais que existisse uma opção, ir nela seria negar as provas em que tanto nos apoiamos, os fatores que existiam e apontavam a não existência de professor.

No final, tudo apontava para aquele grupo de 17 pessoas outra vez, como se não fosse possível encaixar, de maneira alguma, uma salvação, um final feliz.

Deve ser triste ou até mesmo excitante para você, leitor, mas não sinto nada além dos fantasmas me levando a cova quando reflito como há grandes chances dessa narrativa ser apenas uma grande tragédia.

. . .














. . .













. . .

















. . .























— Obrigado por confiar, Haru. — Mas o silêncio foi rasgando enquanto o protagonista vestia a sua capa, se contagiando pelo sorriso da degustadora que nunca deixou de acreditar, tendo fé nos dizeres dela. Não somente por sua própria vida estar em jogo, aquele rapaz também procurava entender a verdade. — Na verdade... tem um jeito, mas, pra ele, não vamos mesmo poder deixar nada de lado. Eu queria que debatessemos sobre... — Suzushi Kowai brilhava, buscando fazer com que aquele final fosse o mais satisfatório possível, pois nele tudo seria resolvido. — A pesquisa que viemos fazer aqui, pessoal. Podemos?

A sugestão era curiosa, parecia não se conectar com a situação estabelecida. Por um momento, até pensei que o roteirista estava buscando comprar tempo, mas não fazia sentido.

Se ele demorar ou se envolver com o banal, não vai restar nada além da própria condenação. E este homem, atualmente, não parece desejar isso.

É por confiar em um Suzushi que vê valor em uma vida que eu nunca conheci de forma exata que quero seguir em frente com ele, que quero continuar relembrando ainda mais, me unindo em cada vez mais partes com a outra eu que existiu, com a filha de Makoto Naegi.

Eu quero...

"Eu adoro quando você sai dessa pose séria e mostra algum sentimento, nem que seja só ódio por mim."

Eu não... consigo querer. Eu não me sinto digna de querer agora que...

Eu sinto além do ódio.

— Por favor, Kowai... Suzushi... Viva. — Desiree me trouxe de volta ao mundo ao realizar aquele pedido. Antes que meu raciocínio pudesse voltar por completo, a discussão se iniciou.

— . . . O que eu puder fazer pra te ajudar, Suzushi... — Eu vi Haru saltar do seu lugar no julgamento, passeando até chegar ao roteirista, onde, levemente, bateu em suas costas com uma das mãos. Sorria mais que nunca, se sentia revigadorada, pelo que eu era capa de inferir. Talvez aquela mulher realmente tivesse o potencial para o que o Monokuma negou. — Vamos lá, amigo! Se vai falar disso aí... aquela carta que a gente achou dizia umas coisas também, né?

>Pista destacada: Waking up to Hope<

— Você tá tão afiada que já tô achando que te fizeram uma lobotomia. — E era como se a tensão se desviasse com a presença dela, causando até mesmo risadas, mesmo que leves, no apostador. — Se vamos acabar com isso, precisamos acabar direito... Waking up to Hope, certo? Aquela porcaria de carta parecia mesmo mencionar coisas estranhas... Talento vale mais do que personalidade, o que acham?

— É, é isso aí que eu também andei ficando curioso, já que, de alguma forma, quando penso sobre esse programa, acabo associando pra outra pista também, pessoal... — Foi como se eu visse o meu companheiro de leituras acessando seu banco de memórias, procurando a pista exata que necessitava...

Jalecos

Quartos

Sonho da Meinu

Memória da Meinu

Vídeo do Makoto Naegi

Configurações das turmas

Turmas da Hope's Peak Academy

Kyouko Kirigiri

Câmera do Sayakuri Wu

Voz do Mononiji

Fragmentos da câmera

Porta arrombada

Waking up to Hope

New World Program

Configurações do Memory Schocker







































Jalecos

Quartos

Sonho da Meinu

Memória da Meinu

Vídeo do Makoto Naegi

Configurações das turmas

Turmas da Hope's Peak Academy

Kyouko Kirigiri

Câmera do Sayakuri Wu

Voz do Mononiji

Fragmentos da câmera

Porta arrombada

Waking up to Hope

>New World Program<

Configurações do Memory Schocker

— Como comentamos antes sobre o New World Program, ele não parecia ser só um mundo virtual para acabarmos nos matando em um motivo... — E ainda que sua lógica estivesse caminhando para um ponto de excelência, ele não deixou de engolir em seco ao lembrar do fatídico julgamento de número quatro. — Eu vi a cópia da Naomi lá, parecia real demais até pra ser verdade... E o Gabe também pareceu recuperar as memórias quando entrou nele.

— É, eu lembro que falamos disso aí! — Haru ergueu o polegar para o roteirista. — Então você tá querendo dizer que... ele que é o Waking up to Hope?

— Não ele totalmente, mas... é uma parte. — Suzushi acrescentou, parecendo maquinar diversas ideias a cada nova conclusão que tinha.

— Você quer tanto viver que pensou em uma teoria ousada, Suzushi. — A violinista enrolou um de seus cabelos dourados no indicador, como se estivesse rotacionando até deixar uma conclusão completamente digerivel. — Se você viu a Aoki no programa e Parker também recuperou as memórias, inicialmente, pode se supor que a ideia do programa era importar e exportar memórias, talvez até, se não for exagero, fazendo um backup de momentos, mas só isso... não deixaria completo, Aoki não seria capaz de se expressar daquele modo se fosse só um amontoado de memórias, e aí que o Waking up to Hope retorna.

— Puta merda, então a ideia do talento... — Observei Masao colocar uma das mãos no rosto, outra vez demonstrando revolta por suas próprias conclusões. — É o que... o Suzushi, roteirista, viu. Que nem o desgraçado falou na carta... são fragmentos mais fortes que personalidades.

— ESPERA, ENTÃO A NAOMI QUE ELE VIU NÃO ERA UMA MIRAGEM OU LEMBRANÇA, NÃO, NÃO! ERA COMO SE FOSSE... — Haru mordeu a língua, já eu tentava entender as imputações das afirmações ditas. Mas, ao tentar assimilar, eu começava a entender cada vez mais... — Era como se fosse... uma própria... Naomi.

Se eu, ao não ter talento, havia me tornado um nada, sem sequer uma identidade.

Aquela imagem com talento feita de fragmentos tecnológicos, o amontoado de sistemas...

Era o motivo que causava um certo choque e dor na conclusão que era possível chegar.

Pois aquela imagem... não era somente um amontoado de informações, mas sim uma identidade complexa o suficiente para ser clamada como...

Alguém com talento, ou melhor... alguém.

Sem nem mesmo percebermos, ao se despedir do roteirista naquele dia, Naomi Aoki havia morrido pela segunda vez.

— Obrigado, Naomi... de verdade mesmo. — Mas, dessa vez, não houve um silêncio constrangedor, tampouco gritos histéricos ao se der conta do falecimento, muito menos vômitos. Tudo que restou na expressão daquele rapaz de cabelos brancos, foi a confidência que a companheira havia lhe deixado, refletida em um olhar sereno, mas ainda motivado. — Eu também estava batendo sobre isso, e, ao pensar, tudo parece se associar bem demais. Os jalecos, que nos imputa a responsabilidade de cientistas, o Memory Schocker, que parece remover memórias, mas talvez, de um modo mais avançado, também adicionar... O New World Program... e o Waking up to Hope. Eu acho, pessoal... que não nos resta dúvida agora. — Ele brandiu uma das mãos, como uma espada que ceifaria o monstro da dúvida que ainda restava. — Viemos aqui querendo isso, essa ideia de poder mexer tanto com o talento assim e a força dele, podendo remover algumas partes e até dar consciência a elas, como o nosso próprio fragmento de um Frankstein... — Suspirou, possuía uma clara frustração agora nos olhos, mas o motivo.... — E mesmo que seja pra provar a minha inocência, eu admito: faz sentido eu estar aqui também, nesse projeto, afinal... o Waking up to Hope não é nada se não a esperança de que não haja mais essa separação que o talento tanto causa. Seja destruindo dele, como tentaram fazer com a Meinu, ou de algum modo usando esses fragmentos em algo... no final, o resultado seria uma sociedade em que a divisão de quem tem ou não talento não aconteceria nunca mais.














. . .











. . .












Espera.

Um.

Momento.

Há algo nesse argumento que ainda consigo enxergar, que o choque da ideia não me deixa muda.

Ou não, talvez estas palavras nunca fossem me deixar muda. Me colocam no lugar que quero estar agora, no chão pelo peso que sinto me afundar, mas também...

Se eu sou Meinu, o nada da hipótese...

— Pode repetir, Suzushi Kowai? — Manifestei a minha voz, deixando que o brilho do palco, por mais que me cegasse, também chegasse no meu corpo. — Não tudo, mas a parte final, eu fiquei curiosa... O que quer dizer com "usando esses fragmentos em algo"?

O jogo de olhares girou como o próprio planeta, circulando entre eu, o roteirista, Meinu e Suzushi, não havendo nada se não surpresa na pergunta.

Até, finalmente, após poucos segundos de silêncio...

— Fico feliz que você pegou, Meinu... É esquisito ver que tudo parecia estar sempre ali, mas, ao mesmo tempo, eu sempre parecia inventar desculpas pra fingir que não. Mas não tem como pensar no absurdo até que ele bata na sua porta, não é? — Uma de suas mãos passeou pelo cabelo, seus olhos se fecharam por um momento. Respirou, ofegou, até pareceu que teria problemas de ar, mas, como se essa hipótese nunca tivesse existido, continuou. — Cabelos ficando brancos a cada dia de convívio aqui... a desculpa foi para o estresse. Uma vez, comentei de uma série com a Naomi, uma que eu adorava, mas ela me disse que havia acabado, enquanto eu achava ainda estar no maior sucesso... Masao disse que lançou novas temporadas de um certo anime, eu não sabia... E, claro, a que sempre esteve ali, bem na minha cara, mas tanto eu quanto vocês se recusavam a ver... — Simulando erguer algo com uma das mãos, o roteirista finalmente apertou o gatilho. — De tantos estudantes, eu fui o único que viu Kyouko Kirigiri, não é estranho? Não, mais que isso... não é estranho como, pessoal... — Bateu um dos pés no chão, abriu os olhos, finalmente. seu olhar parecia cada vez mais sério. — Vocês sequer tinham ideia exata de quem era essa mulher? A vice-diretora, uma figura importante, e vocês, nem mesmo a Rey, que pareceu ser escoltada até a academia por membros mais próximos do diretor, ter uma noção mínima de quem é? Justamente a vice que, em algum momento... foi envenenada, mas conseguiu sobreviver.

A tensão das conclusões parecia tomar os rostos, as suposições vingentes, mais ainda com a pergunta final do roteirista, que, de forma unissona e desconcertante, era respondida com negações.

— Ser envenenada não é normal, ainda mais com algo tão potente que, depois, ainda deixou sequelas o suficiente para causar um câncer. Mas aí, ela participou de um jogo de matança, e tudo começa a ter sentido... — Uma mão segurou o peito, quase como se fosse o rasgar. Sua firmeza tentava hesitar, mas algo o motivava e prosseguia. — Se não tínhamos noção alguma dos jogos de matança anteriores, fomos censurados completamente sobre eles... esse também seria o mesmo destino de alguma morte ocasionada por eles, mesmo que fosse tardia... Vocês não fazem ideia de quem Kyouko Kirigiri era porque, pra infelicidade do diretor, a existência da própria precisou virar um tabu, pois ela manchava essa paz oculta... Para os alunos após a morte dela, Kyouko Kirigiri nunca existiu.

E por fim, Suzushi Kowai finalmente disparou sua bala definitiva e que fez questão de explodir os miolos das realidades de todos que estavam lá, como se tudo que um dia acreditaram não fizesse sequer sentido. Ou melhor, o que ele disse que não fizesse. Não se conectava, não havia harmonia, mas, por tal teoria também ter uma base en realidade, o ponto onde não se conectava parecia querer ser expurgado ainda mais pelos falantes presentes.

— MAS SUZUSHI, SE VOCÊ TÁ DIZENDO ISSO... — E não demorou para a dúvida ser exprimida por meio das falas de alguém, sendo a degustadora, tão ansiosa. — POR QUE VOCÊ LEMBRA??!

— É aí mesmo que eu queria chegar, e talvez alguns até tenham pensado... — Os olhos sombrios e repletos de uma confiança apertaram em contato com Desiree. — Não é?

— Se for mesmo o que estou pensando, me parece absurdo demais para ser real... — Rispida, mas ainda receosa, ela respondeu.

— Mas tudo que tivemos aqui até então foram uma série de absurdos, dos piores ainda. — Ele retrucou.

— Desembucha logo, para com essa tensão que não vai levar a nada, cacete. — Masao bufou, apertando as próprias mãos. — Me mostre, Suzushi, o roteirista... a reposta que você encontrou. Por favor, faça que essa droga de desconfiar para confiar finalmente dê certo... Se salve!

— Muito bem... — E, naquele instante, senti que a atitude tão demorada finalmente começou a tomar sua forma, mais brilhante do que seria em qualquer outra situação. Suzushi Kowai, o protagonista que tanto recusou aquele cargo, finalmente levantava a sua mão em direção aos meus olhares, pedindo-o. — Você deixa que eu feche esse julgamento, Meinu? — E eu, surpreendida mas também aliviada por ter esse peso tirado das costas, covardemente lhe entreguei todos os holofotes possíveis, para que ele finalmente... fizesse tudo que um dia esperaram dele.

Suzushi havia crescido para segurar este fardo sem sentir nenhum peso.

Meus parabéns, companheiro de leituras que eu, secretamente, tanto admirei.

Você conseguiu segurar o peso que eu fui incapaz, dos sentimentos e lógica juntos, e os unir com graça.

Eu só posso dizer que... estou, de certo modo, feliz de saber que alguém conseguiu chegar nesse lugar, mesmo que não tenha sido eu.

Closing argument

Ato 1: O caso que estamos debatendo, pessoal, teve início muito antes sequer desse jogo começar. Tendo todos nós vindo até a ilha atual por nossa própria vontade, como pesquisadores, Sayakuri Wu, um de nós e a vítima, tomado pela curiosidade do cargo de fotógrafo, acabou invadindo o quarto do planejador do jogo em si, arrombando a porta, de tecnologia antiga, e sem a proteção das regras, pois elas ainda não existiam. Lá, ele se deparou com fatores que o deixaram surpreendidos, ou melhor, um fator principal: uma pessoa que não deveria estar na viagem!

Ato 2: O assassino, porém, também acabou reparando na invasão quase que de imediato. Tomado pelo desespero de ter seus planos descobertos, ele se aproveitou da surpresa e fixação de Wu na pessoa a sua frente para o pegar de surpresa por trás, batendo com um item que não fomos capazes de encontrar e quebrando a sua câmera. O que ele não esperava, porém, é que a sensação de urgência do momento fez com que a batida fosse violenta demais, o que ocasionou o falecimento do fotógrafo.

Ato 3: Agora, somente com quinze conhecidos e atendendo como cientistas, ele precisava lidar com dois fatores: fazer com que o corpo nunca fosse achado e substituir bem o faltante. A morte do Wu realmente não era um fator do seu planejamento, pois, de acordo com informações que temos como o relato da Rey, a nossa turma sempre foi diferente, contendo um décimo-sétimo estudante, mas ele ainda podia usar esse fator ao seu favor, de todo modo, só era preciso que ninguém descobrisse, e foi isso que tentou fazer, primeiro se livrando do corpo que havia acabado de matar. Para isso, ele o jogou junto à câmera no mesmo lugar onde ela foi achada: o incinerador!

Ato 4: Já quanto à substituição do Wu, ainda casava com o seu plano original. Por mais que tenhamos vindo até aqui como cientistas, a ideia do Mastermind sempre foi começar um jogo de matança, um ritual Kudoku que foi proibido e censurado ao longo dos anos, com o objetivo de incitar novos nascimentos. Para esses jogos, sempre foram usados turmas padrões da Hope's Peak, de dezesseis estudantes, então, desde que ninguém descobrisse a nossa imperfeição, era fácil repor tudo e ainda encaixar bem: ele só precisava utilizar o aluno extra, Ryuuga Mori, como impostor, no lugar que o Wu ocuparia.

Ato 5: Mas, claro, normalmente, o sumiço repentino da vítima causaria burburinhos, estranheza! Mas é aí que o elemento que vínhamos estudando toma forma: o talento. Segundo as pesquisas, ao mexer nos talentos, também aprendemos a mexer em memórias, personalidades, e fomos além delas, com a réplica que encontrei da Naomi sendo a maior prova disso, afinal, mesmo sendo um programa, possuía vida o bastante para agir inteiramente como um ser humano. A ideia, portanto, seguindo essa lógica... foi de usar esse conhecimento, armazenado no Memory Schocker, que fomos montando ao longo dos julgamentos, para deletar as memórias comprometedoras que poderiam entregar o Wu, ou seja, todas do tempo da escola, mas não só por isso... Ao fazer com que essas memórias sumissem, o assassino também criou a forma perfeita de se encaixar no jogo e estar livre, a salvo...

Tendo sumido com Sayakuri Wu, substituído ele por Ryuuga Mori e apagado as memórias de todos... seu último passo foi...

O último movimento que tornava o zero em um, o que vimos com a Naomi, a essência da pesquisa!

A forma que o assassino se encaixa tanto em tudo que propomos, mas ainda tem total segurança de que está em um zona segura, controlando tudo...

Também é o que me fez me dar de cara com ele, pois a sua lembrança mais preciosa ao entrar na academia...

Também é o ponto que sempre esteve ali e também sempre mostrou a incoerência da sua existência.

Você não é um simples professor, algo externo, longe disso...

Esse tempo todo...

— Você sente isso, não é? A derrota de ser colocado contra a parede? Você realmente tava certo naquele dia, ainda no nosso primeiro motivo, me conhecia muito bem... Afinal, você... — De mãos erguidas, como se fosse a sua finalização de tamanha metralhadora de argumentos, o roteirista deixou seus olhos arderem como chamas, declarando o suprassumo da narrativa que havia montado, o seu clímax de raciocínio.




E a resposta...
































— Você sou eu. Ou melhor... eu, o corpo que um dia foi do Ryuuga Mori... na verdade sou você. O Mastermind, o assassino do caso de Sayakuri Wu, o nosso professor, perdido no tempo... o dono original desse talento, dessas memórias, e de todas as ações que tomei até hoje... O homem a quem esses sentimentos pertencem de verdade... Por mais que seja um choque, pareça absurdo, tudo se encaixa muito bem... Você também sente que o seu fim chegou, certo... Suzushi Kowai, o Ultimate Roteirista?

Complete!

















...

















...













...














...



















O choque da informação súbita deixou todas as vozes mudas, incrédulas, mas, ao mesmo tempo, curiosas. Era uma hipótese absurda, complexa e que exigia uma completa reconstrução mental do que havíamos construído até então.

Mas era isso, uma reconstrução. O argumento do meu companheiro de leituras... talvez do meu amigo, que agora se declarava Mori, era poderoso justamente porque juntava tudo que construimos até então, até mesmo as informações que pareciam anular uma a outra, e cria a hipótese que preenche todos os furos misteriosos.

Ela nos deixa mudo justamente por, outra vez, não termos nada a falar. Por mais surreal que pareça, absurda como ele mesmo disse, no final... realmente faz sentido o suficiente para poder ser considerada uma verdade.

— E-Eu... me sinto sujo, não sei explicar... Por mais que eu tenha essas lembranças, que sejam tão vivas, que no fundo eu sinta que sou eu... diante das provas, acho que só posso... tentar me encontrar, eu não sei explicar. — O roteirista colocou uma das suas mãos na cabeça, como se ela doesse infinitamente. — Se isso aconteceu, o eu antigo, de qualquer modo, também acabou acatando. Ele não foi sequestrado, eu acho, mas era um projeto secreto do meu eu atual... O talento... é tão bom assim, Mori? Pra te fazer de-desistir... até de você mesmo? O que ele havia dito? Por favor, só confesse logo... nesse clima constrangedor, não acho que vamos ter mais argumentos. — Sua voz era acompanhada pelo olhar, ele retornava ao urso que estava inerte. Nos olhos, porém, algumas lágrimas acabavam descendo de forma involuntária, um refresco ao choque súbito e que, por mais que tentasse ser forte, ainda apertava o seu peito. — Já é hora de você aparecer, outro eu.

E de resposta, como se nossas faces fossem holofotes, todas deram luzes ao Monokuma, ainda tão silencioso e somente dando o mistério como resposta.

Havia um certo aguardo, hesitação. Eu podia ver as expressões da degustadora quando, por poucos segundos, desviava o olhar.

Havia vontade de falar, balbucios baixos, mas ela se recusava justamente pelo que tentava representar. Com esperança, desconfiou para confiar, e os frutos desse ato foram colhidos. Por ter uma boa chance, uma resposta que encaixa no que tanto procurou, por mais que as palavras começassem a surgir, com firmeza, ela se calava.

Masao, por outro lado, parecia estranhamente reconfortado com a ação tomada pelo roteirista. Talvez aquele homem já tivesse sucumbido a loucura, mas, ao observar suas afirmações serem encaixadas de maneira tão graciosa, encontrando soluções para o terror que o Mastermind o deixou em seu encontro, aquele de cabelos brancos não sentiu outra vontade se não sorrir, como se, internamente, disease que quem ri por último é quem ri melhor.

E Desiree Akamura... demonstrava um contraponto a toda a sua frieza. Com o clima de acusações baixo, a esperança de uma nova situação, pelas pupilas que quase pareciam dilatadas, ela transmitia uma espécie de pedido melancólico. "Não me dê esperanças que não possam ser realizadas.", era a súplica proferida enquanto apertava o pingente com firmeza. Se havia a opção de alguém que acabou se importando não morrer, ela depositaria toda a sua fé nisso.

Já eu, me sentia em um paradoxo. Assim como eu sou Meinu, aceitando quem sou agora e me unindo a quem um dia fui a cada uma das novas lembranças, pensei, por um momento, que Suzushi Kowai deveria fazer o mesmo, mas, para ele, era impossível. Aquela parte dele, o que ele temia, não estava dentro de si, para que pudesse tentar compreender e se adaptar.

Era uma criatura distante, um reflexo negativo de um percurso que podia tomar, mas que não podia mudar e escolher não se tornar.

Pois era justamente o que tornava aquela peça tão magnífica.

Ele era incapaz de parar a si mesmo, pois nem a si era.

De dois lados diferentes, que nunca se conectariam, aquela figura rumou.

— Bom... — O Monokuma, finalmente e causando surpresa, decidiu demonstrar sua intenção de fala, a voz que acabaria com essa tensão. — Você montou um roteiro absurdo, não é?

— Mas só fiz o básico... Suzushi. — E aquele companheiro de leituras, o homem agora tão perdido em si mesmo, retrucou. — É um papel de um roteirista sempre usar de todos os elementos apresentados no script.

— O talento te cai tão bem que até parece errado dizer que não é seu...

— Mas é esse o projeto, não é? O Gabe criou muito para auxiliar que desse certo... dos assistentes Monokumas ao New World Program, sem contar o Monodragon para caso criassem uma aberração imparável ao testarem isso... Tivemos todos os materiais possíveis pra testar de dava certo.

— E... é tão Chekhov que chega a parecer forçado, não é?

— Se é Chekhov, quer dizer que não esqueci de nada...

— Você não falou das estrelas nos jalecos.

— E precisa? Se sigo nisso, é só conectar aos experimentos. O talento tão reduzido que deixa de existir, matando a personalidade e as memórias, e o talento tão adicionado que chega a sobrescrever, criando novas personalidades e memórias. Meinu e eu somos o sucesso do projeto, mas não era o suficiente...

— É... o artificial nunca é o suficiente.

Com a finalização da súbita conversa que havia sido formada entre o meu companheiro de leituras e o diretor, nossas faces curiosas e confusas foram se retorcendo como espirais a cada trecho do diálogo, tentando acompanhar até onde chegaria.

Parecia uma derrota, uma última conversa antes dessa grande revelação.

Mas seria uma derrota para quem?

Se deveríamos desconfiar para confiar, aquele momento era o ápice desse mantra.



















...


























...

Enquanto a conversa finalizava, o urso paralizava e, por todo o ambiente, uma estranha fumaça tapava a nossa visão, o resultado de todos os esforços até então finalmente surgiu para averiguar se foram em vão ou completamente válido.

E ele chegou... andando, indo até o trono da pequena criatura e o pegando nas mãos, como se fosse um filho querido.

E, por fim, quando a fumaça súbita se dissipou de vez e nos permitiu outra vez enxergar algo além das sombras da caverna, percebemos qual era a verdade, o motivo pelo qual tanto havíamos lutado.

E ela realmente era absurda.

Pois, completando o elenco de pessoas que existia naquele julgamento, o total não eram mais cinco.

Mas sim seis, ou, quem sabe, até mesmo cinco, mas de modos diferentes.

Pois havia alguém novo, uma pessoa que segurava o urso de pelúcia nos braços, com um pequeno e envergonhado sorriso no rosto.

Alguém de terno negro, quase marrom, de pele pálida, olhos negros e simples, cabelos não brancos, mas ruivos, com uma mecha que desafia a gravidade...

Uma pessoa que, se não pelos traços mais finos do rosto, mesmo sendo supostamente mais velho, não teria diferença alguma daquele que acompanhamos por todos esses longos dias, que dividimos a companhia e, sem nenhum momento sequer levantarmos a hipótese, pensamos cogitar quem era.

Agora, em nossa frente, comprovando o absurdo...

— E-Eu pareço muito novo pra ser professor, pessoal? Não era mentira, desculpa! A Hope's Peak do Makoto nos contrata assim que nos formamos, então... eu sou no máximo uns três anos mais velho que vocês, he... — De voz mais fina, passiva e, de certo modo, gentil, coçando os cabelos com tanta naturalidade quanto alguém que se atrasa para encontrar companheiros, aquele que se desculpava e se explicava era... — Em todos os encontros, eu fiz tudo pra não gaguejar e falar bonito, queria parecer totalmente diferente pra não pegarem logo de início, mas aí exagerei e entreguei tudo... Não era pra eu ter dito aquilo no primeiro motivo, mas você captou de jeito. É meio esquisito se parabenizar, mas... foi esperto! — O Mastermind, o nosso inimigo que vínhamos enfrentando até então, aquele que todos queriam encontrar e finalizar para poderem ser livres.

E, por mais que um encarasse o outro de frente, desviando os olhares ao mesmo tempo, ainda era surreal demais observar aquela imagem refletida em um espelho distorcido...

— Ah, claro! Como Mastermind, eu também tenho que estar a caráter, tinha até me preparado. — Era alguém que gentilmente largava o urso sobre o trono novamente, aproveitando das mãos livres para ajustar a gravata e deixar mais visível para nós, destacando o tom monocromático que existia nela, onde, no centro, se casava um círculo vermelho. — Enfim... parabéns, pessoal! — Do mesmo modo, deixando as mãos nos bolsos do terno por um momento e depois retirando, vestia luvas, uma preta e uma branca, em cada um dos lados. — Vocês descobriram mesmo, chegaram ao fim dessa missão que tanto se esforçaram. — E, para finalizar aquela montagem, o verdadeiro roteirista colava abaixo do olho esquerdo justamente o símbolo avermelhado que o urso também carregava, como se ele sequer fosse mais necessário. — Vocês descobriram que eu, Suzushi Kowai, sou o Mastermind por trás desse jogo. Já que estamos no final, acho que posso dizer duas coisas... A primeira: — A imagem de tudo que poderíamos ter como surpresa ergueu um dos dedos. — Eu não menti quando falei com você, Masao, realmente acredito que ganhei. Segunda: — Outra vez, outro dedo. — E, se penso que já ganhei, não acho que tem problema em me chamar daquilo que só foi possível graças ao que criamos aqui... Eu não vou cobrar que ninguém me chame, mas fico feliz em saber que agora... sou o Ultimate Desespero.

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        ▫ Suzushi Kowai ▫

    ▫ Ultimate Desespero ▫

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— Mesmo te vendo... eu só me recuso em acreditar que é real. Hahaha... hahahaha... Dois roteiristas, ou melhor, o roteirista de verdade. — Havia choque em todas as faces presentes, surpresas negativas que tomavam os corpos e se entrelaçavam em tristes conclusões. Ainda assim, porém, no apostador, retorcido por tudo que viveu naquele jogo, ao ver o rapaz a sua frente, a verdadeira face daquele que tanto interagimos, ele não conseguiu controlar as risadas nervosas, quase como um instinto já quebrado pelo ambiente vivido. — Isso é tão absurdo quanto ele tinha falado mesmo, mas por que justamente ele parece o menos abalado?

Em um girar de pernas, ainda que sequer fosse capaz de se mover direito, Masao deixou que o seu trajeto seguisse em direção a alguém.

Não o novo roteirista, o Mastermind que acabou de surgir e chocar as nossas mentes, mas o outro, o antigo rapaz que nos fez encontrar tudo...

O meu verdadeiro companheiro de leituras.

— Demonstre... alguma maldita emoção sobre isso, Ryuuga Mori, o sem talento. — Sua mão agiu com violência sobre o outro de cabelos brancos ao qual citava, apertando o seu colarinho. — Você foi destruído, ele te tirou tudo... então por que está igualmente chocado como nós? Você deveria... estar muito mais puto!

— . . . — E, em resposta, o primeiro roteirista deixou um sorriso fraco sair do rosto, abaixando os olhos enquanto suspirava. — O problema, Masao... É que eu não sou o Mori. — Um longo suspiro, engolindo em seco com a própria noção de identidade, tão frágil e distorcida em um piscar de olhos. — Se eu penso, talvez eu consiga associar memórias distorcidas... Uma vez, sonhei que a Naomi nos apresentava algo, mas eu não estava no ângulo do... Suzushi, mas outro, talvez o do Mori. Ainda assim... o que sinto aqui dentro não é ele. Se eu relembro de algo, eu lembro...

— Das minhas irmãs, do meu pai ausente, da minha mãe que tanto tentou cuidar de mim... até mesmo do nervosismo da primeira peça que eu fiz, que nem era uma roteiro de verdade. — Em uma sincronia anormal de tanta perfeição, tanto a voz daquele ué tivemos próximos até hoje quanto a do Mastermind falavam, quase como se tivessem ensaiado.

O cruel do ensaio, porém, é que a sincronia era perfeita demais até para ele. Ela só existia justamente por...

— Essa mente, esse talento... Tudo que eu tenho é Suzushi Kowai. Eu não consigo me sentir, por mim mesmo, perdido de verdade ao me descobrir como o Mori pois... — Apertou o peito. Ainda que não estivesse, ainda existia outros dilemas em si. — Eu cheguei a conclusão que, por mais que eu pense, pra esse eu... Mori nunca sequer foi uma parte minha, para eu me sentir mal por ter o perdido.

. . .

















. . .


















Eu te entendo, Suzushi Kowai.

E eu nunca te entendi tanto quanto agora.

Por mais que essas memórias tenham retornado, que agora eu possua elas, os fragmentos dos sentimentos.

Eu, que tive tanto medo, não mudei. Aceitei essas memórias, mas a outra nunca voltou.

Eu ainda sou Meinu, somente isto.

— Não, Suzushi! — Alguém exclamou. Os olhares deslizaram pelo campo de julgamentos, a atmosfera voltou para Haru. — O nosso Suzushi! Vocês podem... ter a mesma cabeça, eu não sei bem como funciona, mas não são a mesma pessoa! Veja o rumo que ambos seguiram, em qual lado cada um de vocês está. O que eu tô dizendo é que... — Ela também se aproximou, erguendo uma das mãos na direção do nosso roteirista. — Você nunca seria ele, é o nosso Suzushi! E é justamente por não estar do lado dele... que você tem a sua própria individualidade! Você... foi além dele, Suzushi!

— Será mesmo? — Talvez o momento de tantas crises existenciais tenha nos feito não reparar nele tanto quanto deveríamos, mas a nossa meta naquele julgamento, o homem que lutamos tanto para alcançar... ainda estava lá, e ele não ficaria calado ao nos ouvir. — Vocês ainda não perceberam, pessoal? Digo, eu fui um idiota, claro que concordo. Matar vocês é algo cruel e violento, espero, e já me preparo, para morrer da pior forma possível, mas tem um sentido em tudo isso, até no porquê eu me chamei de ultimate desespero. Essa semente que acham que plantei... na verdade só desenterrei. O que eu quero dizer é que... vocês não acham cruel? Tudo isso que aconteceu? Como tiveram que assistir todos que se importaram morrendo desse modo? Eu, Naomi, Shiro, Hanako, Sarah, Saki, Keehana, Daisuke, Naoya, Gabe, Rey e Rik... Todos eles morreram, mas, no final, justamente por morrerem, se tornaram o combustível para que chegassem até aqui. A vida dos seus amigos... queimou para que crescessem.

— Seu filho da puta, não vem com esse pap-

— De que as desgraças serviram para que vocês crescessem e formentassem a esperança. É isso, não é? Eu também acho idiota, Masao. Não esquece que você conversou comigo, uma parte minha, sobre isso, pelo que eu ouvi no julgamento. — Antes que o apostador pudesse completar, ele ficou sem palavras, mordendo a língua para continuar ouvindo. De algum modo, o discurso chamava atenção. — Mas é aí que está, pessoal. Se eu sou um desgraçado, alguém que merecia morrer, as bases desse mundo todo também devem... Nascemos na censura, em uma realidade que foi criada artificialmente, mas eu digo a vocês... que a verdade é bem pior do que pensam...

Com uma das mãos, ele ergueu uma espécie de controle, ligando a tela que usualmente víamos as execuções ou resultados dos votos. Ali, subitamente, um vídeo surgiu, algo que nunca havíamos visto antes. Um grande grupo... talvez de 16 pessoas, assim como nós, posicionados em uma atmosfera peculiar, enegrecida, onde apenas um brilho mais avermelhado dos seus olhos surgia.

No vídeo em questão, eles pareciam assumir a culpa de um incidente que sequer tínhamos noção de qual era, pois o nome ou condições não pingavam em nossas línguas. Ainda assim, havia algo que nos marcava, pois, pelos dizeres, parecia ser, querido leitor...

Outras dessas histórias que você aprecia acompanhar, mais um jogo de matança.

Mas o que se sucedia, porém, era todo um estranho e resumido dossiê, onde a culpa, até então assumida por aquele grupo de facetas escurecidas, era desmentido e entregue para outras pessoas.

Para elencos da própria academia da esperança que agora frequentamos, para mais uma censura proporcionada por...

Makoto Naegi e os seus companheiros.

— Ser professor da academia te dá vantagens, ainda mais quando se pesquisa o talento... mas as pessoas nunca pensam que vamos usar delas pra alguma coisa como essa, já que pensam que, por não conhecermos, a curiosidade sobre o passado foi apagada da nossa mente. Mas é claro que não... — Ele não nos deixava refletir ou sequer concluir algo por nós mesmos, logo tomando o papel didático para nós, como se fosse necessário. — Eles não somente censuraram aqueles que vocês viram, pessoal, mas também um que envolvia a própria doutrina da nossa academia, órgãos que até hoje a dominam e, juntos, ajudam no comando do mundo. O que eu quero dizer é que... não foi alguém como Junko Enoshima ou Izuru Kamukura, diabos, que fizeram esse tipo de situação acontecer. Mas, ao mesmo tempo, em todos esses desastres, que posteriormente modificaram o mundo e brincaram com ele como se não fosse nada... Todos não tem algo em comum? Sabe... eu nunca vi alguém sem talento começar um killing game. Não, é contrário... parece que, quanto mais talento que te diferencie dos outros, te coloque em uma posição superior, mais, estranhamente, você vai ter essa disposição em acabar com o mundo.

Outra vez, em meio as suas conclusões repletas de viés, ele deixou que as imagens girassem até tomarem novas formas. Desta vez, as figuras na tela eram os dois Masterminds que ele havia declarado.

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       ▫ Junko Enoshima ▫

       ▫ Ultimate Analista ▫

    ▫ Ultimate Fashionista ▫

     ▫ Ultimate Desespero ▫

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       ▫ Izuru Kamukura ▫

     ▫ Ultimate Esperança

          (multi talentos) ▫

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Em seguida, como se mostrassem seus crimes, o espaço era refletido em um acervo de imagens do que deveria ser o mundo, mas tomado em caos, violência, em uma imagem de destruição repetida onde os causadores, todos, muitos, possuíam em suas cabeças máscaras do Monokuma.

Deixando meu rosto girar, talvez avaliando como eu deveria me portar, pois não sentia essas imagens me machucarem tanto quanto o meu próprio peito, reparei nas facetas dos meus companheiros, que, diante de uma verdade destrutiva tão exposta, demonstravam mais expressividade que nunca, ou ao menos quase todos.

Masao rangia os dentes, colocando uma das mãos em frente ao rosto, apertando as próprias têmporas, como se tentasse acalmar a ira da compreensão do que via.

Haru aprecia desacreditada, já pronta para falar em qualquer instante, tomando coragem. Ainda que estivesse vendo o resultado de tudo que foi causado por movimentos liderados por nós, talvez justamente por querer erguer essa esperança, ela tinha um contraponto.

Suzushi, o nosso, estava atônito, reflexivo não somente com a situação, mas parecendo perdido em um fator ainda mais psicológico. Por mais trágico que o nosso plot twist fosse, justamente por ser assim, mais do que sequer se entender, ou quem originalmente era, ele começava a raciocinar ainda mais de forma semelhante ao nosso Mastermind.

E Desiree, por fim, permanecia com uma neutra e indecifrável expressão. Não havia ódio em seu rosto, algo que me surpreendi, mas o que vinha daquela mulher tão silenciosa...

Parecia um mistério que eu era incapaz de solucionar.

— Mas você não pode usar eles de desculpa pra fazer um negócio terrível desses, vo-

— Não é isso que ele está querendo dizer. — Se antes havia deixado sua voz em um silêncio dos mais profundos, analisando ceticamente toda a nova situação disposta em seu campo de visão, tentando não ser mais a mesma que um dia nos condenou por completo ao ver a morte da sua amiga, a mesma violonista citada anteriormente provava que estava conseguindo ao interromper a degustadora. — Ele não quer usá-los de desculpa para se inocentar, é o contrário, e aí também que observo as diferenças do nosso Suzushi para o Kowai... O Mastermind, diferente do nosso, não aprendeu a valorizar a sua vida. — Seus olhos trocaram uma certeza quase absoluta com os do criador do jogo de matança, que retribuía na mesma moeda. — Ele possui uma tese onde não se inocenta, mas sim culpa a si tanto, se não mais, em relação a tudo isso. Este não é o primeiro jogo, muito menos o segundo. Essa situação já foi passada pelo mundo outras vezes, diversas, mas o ponto dele é... se todas as vezes foram ultimates que deram o pontapé inicial, por que um conceito como esse continua existindo? Você levou o seu repúdio para níveis extremos, não é, Kowai?

— É... acho que sim, mas eu tenho motivos, não é? — De maneira tão inocente que sequer parecia o proprietário do maior genocídio que muito de nós vivenciou em suas vidas, o roteirista por trás de tudo sorriu timidamente, como se apenas tivesse sido pego comendo algo na geladeira após estar tarde demais para alguém dever estar acordado.

E justamente por falar deste modo, pude observar uma expressão de nojo, tristeza ou repúdio, se modificando ou reafirmando entre nós.

E um em específico...

— E o que você espera que façamos, porra?! — Se antes ele havia pego o nosso companheiro de leituras, agora era o próprio Mastermind que erguia pelo colarinho. — Que a gente se revolte como esse povo aí que você mostrou?! Que cause um genocídio em geral?! Isso é burro pra caralho, que sociedade ia se comportar assim somente com um papinho torto?!

— B-Bem... a nossa já se comportou uma vez! Mas você tem um ponto, tem um ponto! — Era simplesmente patético, mas, ao mesmo tempo, intrigante. O homem não havia mudado quem era, sequer parecia a figura que muitos imaginavam, vilanesco, implacável, mas aí que estava. — Masao, eu aprendi nessas nossas pesquisas, e bom, formulei uma tese... A esperança, se eu fosse definir, é a formulação completa de um talento, tomá-lo ao extremo e desenvolver milagres a partir do que você teve como supremo, ao ponto de exercer tão bem que as pessoas em volta... vão confiar nesse seu potencial de tão bom que é, ter esperança nele e se tornarem os mesmos símbolos, é claro. Nosso diretor nega, mas foi a sorte absurda dele que fermentou a ideia de milagres serem possíveis, ao ponto dele ser uma esperança manifestada. Izuru Kamukura sequer preciso definir, a existência dele, com tantos talentos, só por funcionar, é uma esperança por si só. Agora o desespero, por outro lado, contrapondo o tudo, é o nada. Junko Enoshima, pelo que li nos arquivos, por incrível que pareça... causou toda essa desgraça absurda por estar entediada com um dos próprios talentos, o de análise... Justamente ao se unir ao desespero que ela parou de exercer o seu talento, analisar, pois tudo neste rumo tornou indecifrável para ela. O que eu quero dizer tendo explicado tudo isso é que, enquanto você precisa chegar ao ápice do talento para ter a esperança, não ter nenhum ou abdicar dos que têm é o desespero, e sabe... é nisso que acredito, é a solução alternativa que eu pensei pra nossa pesquisa, já que, veja pelo Mori... ela era sim desumana! Nós não precisamos inserir talentos desse jeito pra que a nossa sociedade pare com essa desigualdade, essa relação de poder absurda que usa do fato de alguém ser muito bom em algo pra não somente se determinar o melhor, se enchendo de soberba, mas também subjulgar todo mundo que não pertence ao mesmo grupo, como se fosse o papel deles isso, que eles mesmo decidiram! Se todos forem ultimates, ultimates desespero, até mesmo quem não tem talento, não vamos precisar causar genocídios ou catástrofes como essas do passado, mas, só de estarmos estabelecendo esse caos que os tira do pódio deles... vamos conseguir algo, Masao! — Ele conseguia, em seus monólogos, ser humano. Era uma visão ainda idealizada, mas bem centrada. O mais assustador daquele Suzushi Kowai, de expressão tão confiante enquanto gesticulava e sentia os apertos do apostador, era justamente o ponto em que o nosso estava começando a chegar... O homem conseguia aplicar os seus sentimentos logicamente. — Em um mundo onde todo mundo é Ultimate, ninguém mais é.

— Isso... eu só não consigo entender! — Haru não deixou que o silêncio fosse a resposta, pois sabia que quem cala consente. Erguendo as mãos a cabeça, segurando-a como se fosse explodir a qualquer momento, a mulher vociferou. — E POR QUE FAZER TUDO ISSO COM A GENTE?! NÃO ERA MELHOR SÓ FALAR E TER MAIS APOIADORES DO QUE NOS MATAR NO PROCESSO?! PRA EU ESTAR ACHANDO ABSURDO, O SEU PLANO TEM QUE TER SIDO MUITO BURRO!

— . . . Eu não acho que ia conseguir convencer quem eu mais quero naquelas bases anteriores. — E ele respondeu, como se, outra vez, tudo que fez tivesse o maior sentido do mundo. — Eu precisava tirar toda a esperança para a tornar um desespero completo, mas também não só isso. — Sua mão deslizou, foi até a mão que Masao ainda o apertava e, após o tocar com suavidade, sorriu. — Eu também precisava ser o pior possível, já que, assim que eu morrer, tudo isso vai ser divulgado automaticamente em todos os sites que consegui na internet. Um Ultimate fazendo um genocídio em micro escala, ou melhor, mostrando como todos que têm talento aqui foram monstros de tão sangue frio que foram, seja em criar estratégias mirabolantes em matar ou simplesmente descobrindo tudo... E sabe o que fermenta mais ainda a história? Que eles poderiam ter vindo nos inspecionar, mandar uma mensagem, preocupados com o nosso progresso, mas, de novo, simplesmente pelos nossos títulos, desconsiderando nossa moralidade completamente, nos deram acesso e total confiança para um projeto... que só ia dizimar completamente a identidade de quem não tivesse talento. Igualdade? Nem mesmo o diretor nunca quis isso, já que, ao aceitar esse projeto, também aceitaram a ideia de que aqueles sem talento são inferiores aos que tem.











. . .




























— Então... foi para nos depararmos com essa conclusão inútil que tanto lutamos? — Mas, finalmente, a nossa violonista não demonstrou apenas resiliência. A verdade estava machucando, em um ponto tão grande e único que era impossível acabar não levantando o tom de voz para um mais agressivo caso acabasse falando. — Kowai possui loucura em sua mente, é inegável, mas também... não há outro lado para nos apoiarmos. Vocês têm a ideia de que uma sociedade inteira se uniu com o único projeto de simplesmente apagar um evento da história, ao ponto da nossa geração realmente não ter a noção mínima de que ele existiu? E tudo isso em poucos anos antes de nascermos. Um genocídio inteiro, toda uma desgraça começada apenas por ultimates, foi colocada abaixo das notícias apenas por decisão de um comitê formado por muitos outros ultimates. É como se eles mesmo, em nome da esperança e tentar novamente, tivessem decidido não levar a culpa por seus próprios pecados. Como é possível tomar uma decisão se ficar contra aquele que mais nos fez sofrer aqui é ir contra todos nós, que fomos enganados para que esse mecanismo supremo continuasse funcionando? Mesmo que nós o odiemos no final... claro que devemos odiar tudo que foi construído antes dele, essa medida de esperança que só decidiu continuar com o maior estigma que poderíamos ter... — Dos seus olhos, todos foram capazes de observar a quebra da sua alma, a agonia da dor tão ofuscante que eram as conclusões atuais. Pois, abaixando o rosto enquanto tentava sequer considerar alguma hipótese, Desiree deixou que suas lágrimas derramasssem sobre o chão do julgamento. — Por que o diretor... quis voltar com essa academia? A esperança suprema não foi capaz de perceber que o problema de tudo... era justamente ela?

E, finalmente, houve o silêncio dos rostos tão aflitos.

Masao ainda espumava de raiva, apertando o colarinho do nosso Mastermind até quase o matar, mas parando sempre no último minuto, para que ele recuperasse o ar, como se não tivesse coragem para fazer o fim e finalmente concretizar o que o homem havia dito. O apostador parecia querer gritar, se revoltar, não por sua vida, mas por toda a situação que foi construída para os outros. Quase a desperdiçou para chegar a um ponto onde tudo parecia tão em vão, mas por quê?

Haru tentava buscar argumentos, alguma lógica que fizesse ela se manter naquele papel, elevar os outros, mas, antes sequer de falar algum, quando levantava as mãos e se preparava, logo as abaixava, como se percebesse que seria inútil. E, a cada vez que fazia, mais vezes ela parecia se reduzir, encarando o chão, tentando pensar em infinitas possibilidades, mas sempre chegando a conclusão de que talvez fosse impossível.

Suzushi, o nosso companheiro de leituras, permanecia no silêncio apático, mas repleto de drama, da sua situação. Seu rosto era um mistério, mas talvez não só para mim, para ele também, afinal, mesmo que o sentisse com todo o seu íntimo, aquele rosto, os pensamentos... Eles não eram seus.

Já eu? Ainda me encontrava silenciosamente perdida em meus próprios pensamentos, como estou desde que tudo começou. Possuo lembranças, algumas, mas ainda sou Meinu, nunca serei capaz de ser a mesma de antes. E por isso... admito que não sei como reagir quanto a tais conclusões sobre o mundo. Me revolta, admito que o plano parece quase perfeito, mas a minha pequena realidade traz essa revolta como um dever moral, não algo que realmente sinto.

Pois, se for enxergar o que afunda o meu peito, ainda retorna para o mesmo de antes.

Mais do que nunca, meus ombros doem pesadamente ao pensar em Rik Yamada e Rey Yagami. Se antes as suas mortes já faziam com que eu quisesse o fim da minha própria vida como solução, agora, ao pensar que Rey Yagami morreu para supostamente evitar algo que eu... sequer preciso mover um músculo para acontecer; ou que Rik Yamada morreu para que pudéssemos chegar a esse desastre que tanto nos corrói...

Enche o meu coração de dor, pois, se era para isso, foi tudo inútil.

E é a partir daí que eu consigo ver que o Mastermind me venceu. Como havia dito antes, este homem conseguiu equilibrar os sentimentos e lógica, por isso possui uma retórica tão perfeita, leitor.

Já eu, toda vez que aplico lógica ao que sinto, percebo que deveria me afundar mais, ficando pior.

Ao menos, no final de todo este desastre, apenas posso sofrer em silêncio.

Pois, mais que nunca, a minha realidade é diferente daqueles que realmente devem sofrer.

Nesta situação, eu sou irrelevan-

Meinu. É ela, não é? — Mas o mundo não era capaz de permitir que nada que eu sonhasse em ter pudesse ser real. De identidade a falta dela, de relevância ou irrelevância... Era como um pêndulo que sempre balançaria para o que machucasse o meu peito. E, ao forçar o rosto, após um choque quase estático, pude ver roteirista, mas não o nosso inimigo, o de cabelos brancos, que, com olhos penetrantes ao ponto de parecerem querer quebrar o concreto, elevou uma das mãos para a cabeça, onde deixou seu indicador repousar sobre a própria testa. — Eu sei como você pensa. — Em um tom surpreendentemente ameaçador, deixou claro que, ao menos para si, tinha as cartas em mãos. — Eu não esqueci o que você falou antes, ainda de Monokuma... Se a Haru não era adequada para ser a esperança, quem seria? Mas aí, você disse agora pouco que precisou tirar tudo de alguém para a tornar um desespero, a pessoa que você mais quer convencer. Eu acho então... que no final, você só queria convencer essa pessoa com potencial, pois, para qualquer um dos-

— É, você conseguiu ver a Izuru Kamukura natural. A nossa esperança para todo esse mundo, que todos também verão.

Mas aquela reviravolta na história não foi permitida de ser completada. Masao não teve sequer ciência do que aconteceu, mas, ao deixar que seus olhos captassem, percebeu que o terno que antes segurava o Mastermind havia sido tudo que restou dele ali.

Se agachando e se esgueirando, o ruivo rapidamente alcançou a sua outra metade e, aproximando os próprios dedos dos lábios dele, somente disse:

— Acho que é hora da execução, todos que estão ouvindo já estão sabendo tudo que precisam. — Ele sorriu, agora apertando algo na própria gravata, que começou a brilhar em vermelho. — Com a minha morte, as gravações param e tudo sobe! Todos vão ver de novo como um Ultimate, apenas com força de vontade, roteirizou todo um violento jogo de matança que, se não fosse por ele mesmo, nunca sequer seria imaginado! Afinal de contas... esse está longe de ser o primeiro massacre que abafam por ter os ultimates envolvidos!

— MEINU, É POR CAUSA DELA QUE VOCÊ GANHOU! TALENTO ASSUSTADOR, SORTE FORA DO NORMAL... ! NÃO É QUE ELA NÃO TINHA TALENTO, MAS SIM QUE-

É HORA DA... !

— VOCÊ NÃO PODE SE MATAR ASSIM, SEQUER VOTAMOS AINDA!

EXECUÇÃO!

Mas, por mais que o meu companheiro de leituras gritasse e tentasse se sustentar no pequeno fio que havia encontrado, o outro já estava garantindo tudo aconteceria, fosse perfeito ou não.

E mesmo que a conclusão chegasse após isso, já era tarde demais, pois...

Suzushi Kowai, o Mastermind, se despedia com um largo sorriso e olhos cheios de egoísmo, fazendo uma última reverência, como um ator ao finalizar o seu drama, para o palco que um dia o filmou.

E, sem sequer permitir que outras respostas fossem dadas, as correntes o puxaram pelo pescoço, até finalmente...

O levarem ao gélido e cinzento mundo da execução.

POV's ???

Do outro lado da tela, o Suzushi Kowai de cabelos brancos ainda parecia tentar gritar, como se quisesse que suas palavras chegassem ao mundo.

O resultado era nulo, pois nada chegava no outro lado da sala, onde o rumo para aquela execução acontecia.

Pois tudo que pertencia ao cenário era somente o verdadeiro Suzushi Kowai e a finalização da sua maior obra.

>Iniciando a execução do Ultimate Roteirista<

O nome?

>Waking up to Despair<

O cenário parecia ser um palco enegrecido, cuja luz só permitia ver uma cortina vermelha e um microfone, mas passos logo eram ouvidos.

O roteirista surgia com um papel em mãos, , como se estivesse realizando a leitura dos créditos do que havia acabado de finalizar, começava:

Agradecimentos especiais aos atores: Sayakuri Wu, Naomi Aoki, Shiro Takeshi, Hanako Kojo, Sarah Uchiha, Saki Konohoha, Keehana Nitou, Daisuke Yotanaka, Naoya Shimizu, Gabriel Parker, Rey Yagami, Rik Yamada e... Suzushi Kowai. Se não tivessem dado a vida por essa história, nunca teríamos chegado tão longe!

Mas, a cada um dos nomes que falava, diferentes métodos de assassinato apareciam.

Um pedaço de ferro, já apontado para a sua cabeça.

Mãos que pareciam hesitar em apertar o seu pescoço;

Dois objetos de ferro, um no lado esquerdo e outro no direito.

Uma seringa envenenada;

Uma lâmina que surgia do microfone;

Um simples caco de vidro, acompanhado por uma mão robótica que arranhava o seu pescoço;

Não só anestesia, mas também ferramentas que o abririam;

Uma espécie de capacete de cadeira elétrica;

Uma faca;

Mais mãos robóticas, que pareciam preparadas para a violência;

Um estande de ferro que o amassaria por cima;

E não uma, nem duas, mas, dessa vez, doze facas.

Era como um menu ao ar livre, onde o executado poderia escolher o melhor método por qual morreria.

E, diante de tantas escolhas, Suzushi Kowai optou por... nenhuma delas, mas a sua própria: uma espécie de corda, que surgia do além até ele, como se o convidasse para ser vestido.

E assim ele fez, delicadamente passando seus dedos por entre o nó, até encaixá-lo no pescoço com firmeza, reforçando o aperto com as mãos.

E, claro, não precisamos de segunda temporada! Por isso... aproveitem o final do show como nunc-!

Porém, a sua frase não permitiu uma continuação, já que, enquanto fazia, o chão que tinha abaixo de si rompeu, fazendo com que seu ar começasse a ser tomado pelo arranque violento da corda sobre o pescoço, não tendo tido um impacto violento demais para quebrar o seu pescoço de vez e o livrar da agonia de ter de sentir, lentamente, o seu ar sendo perdido.

E ainda assim, não era o suficiente. Primeiro, suas pernas foram quebradas com o impacto do pedaço de ferro, que deveria estar na cabeça, batendo sobre elas, ficando a balançarem sem poder sequer terem força para nada além de causar dor. Logo, em seguida, as doze facadas atingiram somente os pontos não vitais, entre pernas e braços, girando a cada vez que se enfiavam sobre a pele, para causar o máximo de gritos sem ar possíveis.

Sua barriga era amassada com violência por cada um dos violentos socos das mãos, fazendo com que ele quase se engasgasse no próprio sangue, mas parando antes.

O microfone rasgava seus lábios, de ponta a outra, criando um sorriso artificial.

A mão robótica enfiou os cacos de vidro, em pedaços ainda menores, sobre a parte que ainda restava sem a corda no pescoço, como se fossem fragmentos de tiros que o atingia justo quando mais queria usar da respiração.

Já a outra faca, de forma limpa, atingia o seu estômago, e, em um giro, ao ser retirada, deixava que um pedaço do seu intestino também começasse a se mostrar pelo pequeno buraco.

O capacete foi colocado pelas mesmas mãos que causava os apertos no pescoço, apenas o suficiente para ele conseguir cuspir o sangue, sem se engasgar, até causarem as tremedeiras involuntárias em seu corpo, por ter o cérebro atingido por descargas elétricas, mas não o suficiente para o fazer perder a noção da dor ou existência.

O veneno perfurava a sua pele, mas pela ponta do polegar do pé, para que o caminho até o coração percoresse lentamente, causando toda a agonia de ter os órgãos corroídos e comprometidos antes de finalmente chegar ao impacto.

E por fim, quando os ferimentos pareciam próximos de causar a perda de consciência completa, onde não existia mais nada em sua face além de dor, primeiro, os dois objetos gigantes fizeram questão de amassar suas costelas, como se não fossem nada além de vidro.

Encerrando o que era incapaz de ainda ser chamado de roteirista, o último item desceu sobre o seu corpo enquanto a cortina começava a descer também, como se fosse a demonstração de que o show havia acabado.

E a cortina, branca, logo se tornava de outra cor.

Um rosado que, com a escuridão, mais parecia vermelho, sendo nada mais que a explosão de sangue do corpo daquele que um dia foi chamado de Mastermind, sendo o resultado do impacto do seu corpo ser amassado de súbito, somente um último salto do que um dia foi o seu corpo ou os seus órgãos.

Não havia sequer um corpo para parar de se mexer de vez.

... Suzushi Kowai, o Ultimate Roteirista, foi executado com sucesso...

...













...













...















...




















POV's Meinu Saiko

Ele realmente se odiava, é tudo que posso concluir. Somente seguindo a linha de pensamento de Desiree Akamura que consigo acompanhar o que havia acabado de ver.

Pois aquela era uma resposta, uma solução que eu encontrava.

Somente se odiando que alguém poderia desejar morrer, e somente se odiando absolutamente para desejar morrer daquela maneira.

Observei Haru vomitar outra vez, esparramando o chão do ambiente, Desiree não se controlar em lágrimas, chorando como se nunca sequer fui capaz de ver.

E Masao.

— HMPF, NÃO ACABOU! — Não restando nada, nem mesmo a vontade de viver, pois também havia perdido, se prendendo apenas no desejo de vencer no final, fazer justiça com a sua grande aposta, puxando tanto eu quanto o roteirista que ficou vivo, rangendo os dentes com tanta ira que parecia pronto para os quebrar. — O QUE VOCÊ IA FALAR, ROTEIRISTA? O QUE ELE QUERIA COM A MEINU?!

— E... adianta agora? — De contraponto, porém, o roteirista nunca pareceu tão calmo. Ao lidar com uma frustração tão imensa, chegou a conclusão lógica de que, se nada adiantava mais, por que deixar doer tanto? Talvez ele já estivesse satisfeito demais consigo mesmo para precisar depender de uma satisfação como a de, no final, vencer esse julgamento de alguma forma. — Mas eu ainda vou te contar, mesmo que ninguém vá nos ouvir... — Ele suspirou, fechando os olhos tomando um tempo para respirar, se regular. — Meinu, é só uma suposição, mas... você lembrou de algo envolvendo talento natural, algo desse modo?

— . . . — E então, a lembrança que me marcou por muitos outros motivos, como a descoberta de como Makoto Naegi era capaz de esconder, do amigo que um dia tive e agora estava ao meu lado, da falta de moral na escolha dos ultimates... retornou para um ponto em específico. — Os meus pais, os originais, eu me lembrei deles. Ambos participavam de um grupo que tentou fazer algo contra o diretor pois... acreditavam que a esperança dele era falsa, pois não era natural.

— E é isso que ele acabou me respondendo no final, mas não me deixou falar pro mundo. A esperança natural, mas também alguém que pode se tornar o desespero... O Izuru Kamukura e parte da solução que procurava para a tese... Tudo é você, o tesouro dele, Meinu. — Suzushi, com tal conclusão, friamente bateu na mão do apostador, como se ele não fosse nada, começando a movimentar as pernas trêmulas na direção das outras duas que estavam ali, as apoiando em seus ombros. Masao, incrédulo com a situação, também me soltou, o encarando dos pés a cabeça.

— Eu... queria tanto ter sido a esperança de vocês. Estamos vivos, sobrevivemos, podemos recomeçar, mas por que tudo... tá tão amargo? — Em um tom hesitante e baixo, Haru perguntou.

— Eu não deixei de odiar, nada mudou, nada... Eu só havia trocado o meu ódio por alguém maior e que podia imputar todo o mal porque... queria me unir a vocês. Mas agora que ele se foi desse jeito... o que eu vou odiar? O mundo? Os ultimates? Eu odeio ter que pensar em odiar essas opções, pois no final, quem eu mais odiei... está me induzindo a pensar diferente, da pior forma possível dessa vez. — Desiree fungou, recuperando um fôlego que pensou que sequer era capaz. — Não me diga que, de novo... ele venceu? — E, como em uma súplica, ela pediu ao roteirista que a resposta fosse negativa.

Este, porém, continuando o legado da sua outra parte de nos destruir, não atendeu aos últimos pedidos.

— Ele venceu até mesmo no fator sorte, ou melhor, no fator esperança. — Não havia calmaria após a tempestade, como se ela nunca acabasse, pois o roteirista não permitia esse fim. — Eu sempre me perguntei os motivos pra que a Meinu tivesse que passar por essas coisas... Não ter memória, mas aí, no final dessa desgraça, também ter que ser alvo por dois julgamentos seguidos, como se ela existir que fosse o problema, mas agora, ainda mais com o que ele disse e declarou, eu entendi... — Suas pupilas brilharam como estrelas negras, eu era o alvo daquele destino limpo e seco. Finalmente, eu que era vítima da verdade que tanto usei para condenar. — Em todos esses movimentos que ele destacou, fosse esperança ou desespero, houve um guia pra como o mundo ficou depois. Eu não acho que vai ter uma guerra, uma espécie de revolução da humanidade, mas... por acaso é preciso? O nosso diretor não precisou fazer o mundo derrubar o governo pra conseguir se erguer, pelo que vimos. Com um bom discurso, ele não só fez essa academia, responsável por tantas mortes, voltar como nunca, como também... fez com que os eventos de antes não fossem nada demais, sequer importarem. Naquele ponto, eu acho que as pessoas não se enxergavam como ultimates, normais... nada disso. Eram só humanos querendo esperança após passarem por tanta desgraça. — Seu olhar passeou rapidamente por Haru. — Ele não deixaria ser você, pois seria igual ao antigo diretor. A Meinu antiga também, pois tinha influência direta dele, na vida, para se tornar igual. Ele precisava dela, pois era a sua crença, o Izuru Kamukura natural, com potencial para muitos talentos, mas como um recipiente vazio, para que ele pudesse encher do próprio viés e tese até tornar a sorte dela não uma escolha entre as melhores escolhas, mas sim uma, dentre as duas, em que levaria tudo para o mesmo caminho... — Brutalmente, um dedo se ergueu. — Uma esperança que lida com essa situação com harmonia, reconhecendo o erro da academia, mas, em um caminho diplomático, resolve o erro nativo que é ser um Ultimate, já que, mesmo sendo taxada de sem talento a vida inteira, mostrou ao mundo que nenhum destes títulos importava, se tornando uma esperança tão excepcional, se não mais, que o diretor... — O outro dedo, como se formasse um símbolo de vitória, ainda que por acaso. — Ou o desespero completo, a prova de que não é necessário talento para se erguer contra eles, que são só títulos que qualquer um pode ter, incluindo ela, porque, mesmo sem nada além do desespero ao qual tomou para si, consegue mostrar que nenhum dos outros ultimates está no topo, já que são capazes de serem derrubados por um simples ser humano, aparentemente, normal. A vontade sendo imputada pela maioria, as pessoas sem talento que se tornam Ultimate desespero, fazendo o próprio conceito de Ultimate deixar de ter sentido... — E, como se finalizasse o processo de cortar a minha cabeça, aquele homem suspirou pesadamente, tomando fôlego para declarar as últimas palavras sem que seu coração acabasse se rompendo na própria mão. — É por isso que tanto o Gabe quanto a Rey queriam que você morresse, Meinu... Você viva é a garantia de que esse plano, essa mais nova manipulação do mundo... vai dar certo.

E a verdade veio a tona mais uma vez, como uma última cruel reviravolta, a conclusão final que tiraria o sossego completo que a minha existência podia ousar o egoísmo de ter.

Eu, que até alguns momentos atrás, parecia tampouco envolvida com a realidade do mundo, de repente, por apenas um planejamento absurdo e que a mim não convém, me torno uma ferramenta neste dilema que, ao final dele, leva diretamente para o mesmo lugar.

Dessa vez... sou eu que não está conseguindo respirar bem, quase perdendo o meu fôlego e caindo para trás, somente me segurando por ser salva pelo meu companheiro de leituras, o único que parece assustadoramente são na companhia de tantos loucos.

Era mesmo pedir demais poder, por um momento, não ter mais todo esse peso sobre as minhas costas?

Com certeza era, o mundo quer me afundar.














. . .













— Saiko, Meinu Saiko... DESTRUA O MUNDO! — Mas eu sequer tive tempo para poder de fato experienciar toda a dor que a nova revelação me causava. Quase estourando minhas orelhas, Desiree se aproximou em passos nervosos, apertando com toda a força do mundo o pingente ao peito. — Ele somente acredita que ganhou, pois... pensa que a tem nas mãos, entende os seus sentimentos e pensa que, após essa experiência, você vai se erguer e querer proteger o mundo, como Makoto Naegi ao sobreviver a um jogo de matança, mas prove o contrário, não vá para nenhuma das faces que, querendo ou não, levarão ao mesmo percurso. Destrua o mundo, acabe com ele... ! — Das lágrimas, uma risada saía, uma última súplica de insanidade daquela que parecia ter o destino cravado como ter de aceitar lições dos que mais odiava. Diferente de Naoya, ela não queria ter aquele homem como precioso no peito. — Prove que ele está errado, por favor... O mundo... não importa mais. Se eles não foram atentos conosco, nos deixaram aqui, como o Kowai disse... por que devemos dar atenção e querer melhorar um lugar tão quebrado como este, repleto de censuras e desigualdades?

E a oferta, eu admito, enquanto parecia ser observada com certa preocupação pelos outros, ou somente indiferença, era vista de maneira tentadora por mim.

Um mundo que eu sequer conhecia, cujas memórias ainda existiam, mas sem nenhuma profundidade em meu cérebro. Do que ele importava? Ir contra a lógica dele seria uma prova de que as suas previsões estariam erradas, de que eu poderia ganhar.

Mas, novamente, senti as mãos sobre o meu corpo, e uma mais pesada que todas. O mundo que Rey Yagami não queria viver, que ela morreu para impedir...

Agora, como nunca, fazia sentido. Para uma mulher que tinha a maior liberdade do mundo, encarar uma realidade assim, onde eu, com as minhas ações, posso decidir as desgraças ou benefícios, mas estando todos abaixo da minha escolha... é algo violento e cruel.

Eu me tornei o monstro da mulher que passei a sentir algo em meu peito além de ódio, por destruir a realidade que ela amava que a odiasse.

Enquanto eu existisse, ela não poderia viver de verdade.

— Eu vou te mostrar... que ainda é possível tirar algo bom dessa merda de mundo. — E rompendo a minha mente, as expectativas que havia criado sobre ele e o seu desejo atual, observei uma figura quase cair sobre a outra, apertando-a com seus firmes braços, em um movimento de união de corpos que, ao meu ver, era tão forte que parecia que nunca mais se soltaria. O apostador apertava Desiree, que se encolhia sobre os seus braços, largando o pingente para deixar suas mãos ao chão, como se estivesse sem forças para ir contra qualquer coisa.

— Eu fui... tão mesquinha quanto sempre, não é?

— E daí? Você tem todo o direito de achar um inferno uma desgraça dessas, querer vencer. Quem não acharia? — O de cabelos brancos deixou um sorriso surgir no rosto, e, tão próximo do da outra, quase pareceu ser compartilhado entre ambos. Talvez não fosse esses os sentimentos que possuía, ou nem sequer tivesse mais algum, pois perdeu há tempos, mas identifiquei... uma estranha empatia vinda daquele corpo com o outro, e ele não queria que ela se esfriasse ainda mais, assim como aconteceu com ele. — Estamos fazendo tempestade em um copo d'água... eu prefiro apostar nisso. Hmpf, quando realmente sairmos... não vai ser tão ruim quanto pensamos. Só estamos tristes... porque perdemos.

— É-É! — Ouvi Haru exclamar em seguida, como se tivesse encontrado o fino fio em que se apoiaria em diante, o fragmento que necessitava. — Masaozinho, você não falou? De morarmos juntos?! Não precisamos acabar com tudo, só vamos... fugir de tudo isso! Todos nós, gente! Dane-se a esperança, dane-se o desespero! Se conseguirmos fugir, podemos ir para qualquer lugarzinho que ninguém vai nos encher o saco sobre isso, um lugar tão longe que nem vão saber que essas palavras existem... E lá, vamos poder viver de novo, por todos que foram embora e... por nós mesmos!

Viver de novo... pelos outros.

Era belo, poético. Eu queria admitir e tocar na mão que a degustadora erguia, me apoiando naquele pequeno foco de luz que a menina criava.

Mas, ao mesmo tempo...

Eu pensava.

Meinu Saiko era mesmo capaz de viver? Ela tinha esse direito? Se a antiga era forjada em mentiras, a atual era forjada em expectativas. Esta Meinu não nasceu, foi projetada, e agiu como o projeto bem queria, carregando esse peso repleto de responsabilidade que agora lhe faz pensar...

É mesmo correto abandonar tudo que viveu aqui e viver por si mesma? Fazer com que toda essa dor que passaram não importe de nada, pois só serão apagados por uma vida pacífica?

Essa esperança que a degustadora declara, estranhamente... se conecta perfeitamente com o que o próprio Mastermind falou mais cedo. Hipóteses como essa realmente parecem escapismo, não esperança.

Mas se a esperança verdadeira sou eu, me tornar esse símbolo seria causar o desastre que a sortuda tanto temeu, mas também...

Essas duas opções não eram as únicas.

Eu ainda podia...

— Eu realmente sinto muito em atrapalhar os pensamentos de vocês, pessoal. — E, como ele mesmo disse, os meus pensamentos foram rompidos pelo dono da indiferença daquela situação, o roteirista que havia passado por tanto, descoberto sobre si, e, agora, parecia distante demais de qualquer um de nós. O observei caminhar pelo cenário abandonado, já tão sem vida, pois havíamos matado a principal, que enchia o ambiente, até finalmente chegar no intervalo entre o seu lugar e o de outro, o caminho entre ele e o nosso ex companheiro, Rik Yamada. — Eu duvido muito que vamos conseguir fugir quando sairmos. Se está na internet, por mais que tentem censurar hoje em dia, não tendo uma figura centralizadora para esse evento, como o Makoto, já que você ainda está aqui, Meinu, vai ser difícil. O pessoal vai questionar, todos vão querer saber de nós e... vão exigir que a Meinu, queira ou não, assuma posição. Ainda assim, eu acho bonito essa ideia de fugirmos para algum lugar, e também acho... que, desse jeito, poderíamos fazer com que o outro eu perdesse. Por isso... — Observei aquele corpo se agachando ao chão, como se recuperasse algo largado por acidente, um detalhe mínimo que sempre carregamos, não importando o julgamento ou por qual capítulo prosseguirmos. — Tem um jeito de vencer dele e de escaparmos desse mundo que ele criou... com certeza. — O que Suzushi Kowai erguia após aquela afirmação era...

A relíquia que iniciou todo esse jogo de matança...

O item que Rey Yagami havia conquistado com a sua sorte desumana...

Em mãos, ele segurava, firmemente...

Uma pistola.

Capítulo 6: Acordando para a esperança - Fim.

>Estudantes sobreviventes: 5<


Notas Finais


Bom... sabe o que eu disse nas notas iniciais, de respeitar a minha vontade antiga e tudo mais? Por mais que eu tenha respeitado no capítulo 6, no epílogo, o próximo e último capítulo da história, eu estou indeciso...

Eu não vou dizer qual é o original, mas o epílogo tem dois finais, um que é mais triste e outro que é mais feliz, e eu queria saber qual vocês acham que eu devo postar, já que o pessoal que acompanhou até aqui é realmente guerreiro, logo, quero ouvir a voz do povo.

Se ninguém comentar nada, eu só vou seguir, dentre esses, o final original mesmo e que se dane. Acho que vou dar um prazo de uma semana, ou melhor, a próxima semana. Se ninguém comentar sobre, sigo com o final original e estamos aí.

Mas enfim, o que acharam do capítulo em si? E da revelação? Surpreendente? Gostaram? Espero que tenham entendido as coisas, é algo que construí durante toda a jornada da história e fui deixando pequenas dicas, mas agora nem sei se consegui explicar tudo, mesmo com esse capítulo gigante.

Mas enfim, vou ficar aguardando ansiosamente os comentários de vocês, pois vai ser o nosso contato antes do fatídico epílogo...

Agradeço muito por lerem até aqui!


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