Eu imediatamente corro para segurá-la antes que Lila colida com o chão. A acomodo gentilmente em minhas pernas, verificando desesperadamente suas pulsações.
– Ela tá respirando...
Sussurrei para mim mesmo, aliviado, notando que Lila abria os olhos lentamente, atordoada e irritada.
Eu retiro a fita de sua boca e as amarras do pulso, ela imediatamente se levanta, colocando a mão no braço, retirando o blaser que estava usando para estancar o próprio sangramento.
Lila: O que você tá olhando, em?
Perguntou, irritada como sempre.
– Sabe, não faz mal agradecer as vezes – Eu suspiro, mas logo o anúncio do Monokuma vem a mente mais uma vez. – Alguém morreu...
Lila: De novo? Hm, esse jogo tá avançando mesmo. Tá, vamos, onde é?
– Eu não sei.
Lila: Como que você... como que você não sabe?!
– Não disse no telão!
Lila: Céus... Monokuma! Cadê você, urso irritante?!
Lila continuou a gritar pelo Monokuma, sua voz cada vez mais aguda e irritada. Até que as risadas daquele urso maldito começam a ecoar pelos altos falantes da escola. A atmosfera, antes já tensa, se intensificando ainda mais.
Monokuma: Puhuhu, alguém aí está ansiosa demais para ver o corpo! Desculpem a falta de profissionalismo em não dizer onde estava, eu pensei que todos já estavam lá. Mas enfim, venham até a piscina e se juntem ao show!
A transmissão para, deixando um clima tenso e uma Lila furiosa junto. Ela respira fundo, colocando o blaser novamente e arrumando o cabelo, começando a andar apressadamente para a área das piscinas. Meu senhor, o que essa garota tem de baixa ela tem de brava...
Lila: Isso é ridículo...
Escutei ela sussurrar para si mesma antes de descer as escadas.
Nós entramos na área do vestiário e na parte de trás, ao entrarmos na área da piscina, o cheiro úmido e abafado misturava-se com algo mais denso, algo que deixava o ar pesado. Lila andava à frente, seus passos ecoando no piso molhado do vestiário. Eu a segui, meu coração acelerando a cada passo.
Quando finalmente chegamos à piscina, a visão foi de tirar o fôlego — mas não da forma que alguém esperaria. Flutuando no centro da água, o corpo de Hikaru Iru jazia inerte, seu rosto pálido contrastando com a superfície límpida da água. Ao redor de sua cintura, cordas de jardinagem amarravam seu corpo, e algumas flores flutuavam ao redor, como se tivessem sido dispostas deliberadamente. Era um espetáculo mórbido.
Lila: E assim ele termina... cercado por flores? Isso é doentio.
Consegui sentir uma pitada de ironia em sua fala.
O silêncio que seguiu foi tão pesado quanto a visão do corpo de Hikaru. Eu dei um passo à frente, tentando entender o que estava acontecendo, mas minha mente estava um turbilhão.
Antes que qualquer um de nós pudesse processar totalmente, as portas atrás de nós abriram-se com um estrondo, e Ayame era a última a chegar, atraída pelo anúncio do Monokuma. Os sussurros começaram imediatamente, e eu senti os olhares pesados recaindo sobre mim e Lila.
Ethan: Vocês dois... chegaram juntos. E você... está ferida, Lila? Isso não parece suspeito para ninguém?
Me virei rapidamente, sentindo o calor da acusação nas palavras dele. Meu estômago revirou.
– Eu a encontrei presa num armário! Ela estava machucada antes de tudo isso!
Lila: Se eu fosse a assassina, você acha que eu estaria presa num maldito armário? Por favor, usem a cabeça antes de acusar, seus idiotas.
Ela cruzou os braços e fechou os olhos, tentando manter uma pose mais forte.
Os olhares desconfiados continuaram por alguns instantes, e eu sabia que, mesmo com nossa defesa, as suspeitas estavam apenas começando.
Monokuma: Puhuhuhu! Vejo que a tensão está no ponto certo! Bem, boa sorte para descobrir o culpado, mas guardem as acusações e justificativas! para o julgamento, até mais!
Hatsune: Ei, espera!
Ela tentou chamar a atenção do Monokuma, mas, na mesma rapidez que ele apareceu, logo sumiu.
Aiko: Ele nunca nos da uma chance de fala, acho que é hora de investigar.
Ayame: Isso tudo tá tão estranho...
Ethan: Eu quem diga.
– Certo, precisamos agir rápido. Vamos dividir nossas tarefas e procurar pistas. Não podemos deixar que a pressão nos afete.
Lila: Eu não estou esperando que todos tenham confiança em mim, mas isso não significa que vou ficar parada aqui. Se alguém pode descobrir algo, sou eu.
Ela começou a se afastar da piscina, mas então parou e se virou para nós.
Lila: Vocês vêm ou vão ficar só se olhando?
Os outros começaram a se mover, e um clima de urgência tomou conta do grupo. Todos nós sabíamos que cada segundo contava.
Haruka: Eu vou verificar os vestiários e o corredor. Alguém pode ter visto ou ouvido algo, vai que tem algum resquício de algo.
Ayame: Eu posso ficar aqui, perto da piscina. Tem que ter alguma coisa aqui...
Ethan: Eu vou dar uma olhada na área da cozinha e dar uma olhada nos álibis. Bem, se é o Hikaru que tá envolvido com isso, talvez tenha deixado alguma pista por lá.
Hatsune: Não vai esquecer algo importante dessa vez.
Ethan: Nah, nem pensar, aquilo foi estratégia...
Hatsune: Sei...
Ethan: Tsu, Tsu... eu ainda tenho aquilo, você sabe.
Hatsune: Você... fica quieto...
Ela suspirou e franziu a testa, enquanto Ethan sorria, satisfeito com a reação dela.
Hatsune: Eu vou dar uma olhada na parte do lixo.
Ela foi a primeira a ir embora.
Lila: Hum... e eu vou dar uma olhada nos armários e nas outras salas. Pode haver algo que nos leve ao assassino.
– Ok, então eu vou... eu não sei! O que você acha que eu devo fazer?"
Kazuki: Você deve ir junto com a Lila. Não pode deixar que ela vá sozinha, especialmente com toda essa coisa que aconteceu com ela.
A ideia de seguir Lila me deixou nervoso, mas eu sabia que era necessário. Segui-a enquanto o resto do grupo ainda discutia sobre o que iria fazer, alguns já se dispersavam, mas o que o Ethan e a Hatsune falaram... não sai da minha cabeça.
– Lila, espera. O que exatamente você espera encontrar nos armários? E se alguém já tiver deixado alguma pista para trás?
Lila: Não sei, mas se alguém está armando um plano aqui, pode ter deixado algo. Além disso, quem sabe o que os outros estão pensando? É melhor estarmos um passo à frente.
Ela olhou para mim, a determinação em seus olhos era inegável.
– Certo, vamos lá então.
Enquanto caminhávamos pelos corredores, a atmosfera pesava sobre nós. Os ecos de nossos passos eram a única coisa quebrando o silêncio.
Lila: Você está nervoso, não é? O que exatamente está te preocupando?
Ela lançou um olhar significativo para mim.
– É só... toda essa situação. Não posso deixar de pensar que, se as coisas não derem certo, você pode acabar sendo a principal suspeita novamente – O que eu disse pairou no ar.
Lila: Eu posso cuidar de mim mesma, não preciso de você. E se você realmente confia em mim, precisa deixar isso pra lá. Não podemos permitir que as incertezas nos consumam, entendeu?
Ela disse isso com tanta intensidade que, por um momento, acreditei que realmente poderia confiar nela.
– Ok, mas se algo acontecer... – O barulho de Lila fechando um armário atrás de mim interrompeu meu pensamento.
Lila: Vamos, Alex! O que você está esperando? Precisamos nos concentrar!
Ela se virou rapidamente e voltou a verificar os armários ao longo do corredor.
Cada porta que se abria revelava apenas objetos comuns ou coisas que o Monokuma deixou para nos zoar, mas eu sabia que as respostas estavam lá fora, em algum lugar. O peso da morte de Hikaru nos pressionava, e a ideia de sermos os próximos só aumentava a ansiedade.
Lila continuava a procurar incansavelmente, estava irritada, parecia que arrancaria as portas dos armários com apenas um puxão. Mas, quando estava no penúltimo armário não tinha só coisas fúteis.
Lila: Eu sabia que ia ter algo aqui.
Ela tirou de dentro um anel ensanguentado, a gente o olhava, tentando adivinhar de onde teríamos o visto antes.
– Isso é da Hastune – Afirmei.
Lila: Hm? Você tem certeza?
– Claro que sim, eu não diria se não tivesse certeza. Posso? – Estendi a mão para pegar o anel.
Lila: Todo seu, agora, se importaria de me deixar sozinha? Eu quero... investigar com mais seriedade, tem várias coisas nesse armário, não quero compartilhar com ninguém.
– Todo seu.
Lila podia ser bem infantil as vezes, mas passar um tempo com ela, mesmo que momentâneo, faz eu até me acostumar.
Eu saí dali, a deixando sozinha como pediu e fui até a parte do lixo. Mas, não era a Hatsune que estava ali, era a Haruka, que segurava algo em mãos.
– Hm? Haruka? – A chamei, ela parecia pensativa.
Haruka: Ah, oi. Ei, cê sabe de quem é?
Ela ergueu o que parecia ser um removedor de esmalte bem na frente do meu rosto, como se quisesse ter certeza de que eu veria.
– Calma, eu tô vendo! Espera, o que é isso? Parece removedor de esmalte.
Haruka: E é um! Parece novo... quem será que usou?
– Hmmm, eu vou perguntar pra alguém, mas, cê não viu a Hatsune por aí? Acho que ela perdeu algo... – Tentei disfarçar a desconfiança.
Haruka: Vi sim, ela tá investigando os dormitórios, a gente resolveu trocar, o Ethan tava enchendo o saco dela. Mas ei, Alex, não precisa perguntar, eu mesma faço isso! Eu sinto que você vai querer ou vai fazer tudo.
– Ata... bem, eu vou indo e eu vou perguntar de qualquer jeito – Sorri para ela, mas por dentro, estava tenso.
Haruka: Seu bobinho!
Ao menos consegui arrancar um sorriso vindo dela, isso me deixou aliviado, a Haruka estava séria e para uma pessoa que vive sorrindo, isso é preocupante.
Decidi que o melhor caminho seria ir até os dormitórios. O corredor estava quase vazio, exceto por alguns alunos que sussurravam entre si, trocando informações, suas expressões uma mistura de preocupação e curiosidade. Fiquei atento aos sons ao meu redor, o que só aumentava minha ansiedade. Enquanto caminhava, avistei Ethan saindo de um dos dormitórios, com uma expressão confusa no rosto. Ele parecia estar em sua própria cabeça, como se estivesse tentando montar um quebra-cabeça.
– Ethan! – Chamei, aproximando-me dele.
Ele olhou para mim, surpreso.
Ethan: Oi, Alex. O que você está fazendo aqui?
Perguntou, ajustando a postura.
– Estou procurando a Hatsune. Você a viu? – Indaguei.
Ethan balançou a cabeça lentamente.
Ethan: Sim e não, quero dizer, não sei onde ela está agora, mas acabei de sair do quarto dela. Foi estranho, a Aiko que tava lá e estava falando sobre algo... não consegui entender muito bem. Estava muito agitada.
A inquietação aumentou em mim.
– Agitada? Sobre o que? – Questionei, esperando que ele soubesse mais.
Ethan parecia hesitar, pensando.
Ethan: Ela mencionou algo sobre "manter a verdade oculta". Parecia preocupada com alguém descobrir alguma coisa... acho que é sobre o segredo dela, ehehe.
Isso só aumentou meu nervosismo. Se Aiko, a pessoa mais calma daqui, estava nervosa, algo sério estava acontecendo.
– Você viu mais alguém por perto? – perguntei, tentando conectar os pontos.
Ethan franziu a testa.
Ethan: Não vi mais ninguém, mas a Ayame estava por perto. Ela entrou no quarto da Hatsune antes de eu sair. Parecia normal, mas...
Ele pausou, olhando pensativo.
Ethan: Havia algo nos olhos dela. Um tipo de intensidade.
Isso me fez pensar. O que Ayame estaria fazendo ali? O que Aiko e Ayame estavam escondendo? Aliás, Lila e Ayame não estavam conversando ontem?
– Obrigado, Ethan. Vou ver o que posso descobrir – Disse, decidindo que precisava falar com Lila e talvez com Ayame.
Antes de eu me afastar, Ethan acrescentou:
Ethan: Cuidado, Alex. Essa situação está ficando complicada. Não confie em qualquer um, entende?
– Eu sei. Vou ter cuidado – Respondi, consciente de que precisava ser cauteloso.
Deixando Ethan para trás, segui meu caminho, determinado a encontrar Hatsune e entender o que estava realmente acontecendo. A ideia de que Lila, Aiko, Hatsune e Ayame poderiam estar envolvidas em algo sombrio só aumentou meu medo.
Chegando à área comum, avistei Kazuki sentado sozinho em uma cadeira, a cabeça baixa, claramente perdido em pensamentos. A preocupação em seu rosto me fez hesitar, mas eu precisava saber o que estava acontecendo.
– Kazuki? – Chamei, aproximando-me.
Ela levantou os olhos, a surpresa rapidamente se transformando em alívio.
Kazuki: Alex! Que bom que você está aqui. Você também está preocupado com a Hatsune?
Assenti, sentando-me ao lado dele.
– Você sabe onde ela está? O Ethan disse que viu a Aiko e a Ayame no dormitório dela.
Kazuki balançou a cabeça.
Kazuki: Não sei. Aiko estava agindo de forma estranha mais cedo, mas nem mesmo eu consegui descobrir o que estava acontecendo. Quando perguntei sobre a Hatsune, ela mudou de assunto rapidamente, parecia bem incomodada.
O nervosismo em meu estômago se intensificou. As peças do quebra-cabeça estavam se encaixando, mas ainda faltavam várias informações.
Kazuki: E se algo aconteceu com a Hatsune? Eu não posso acreditar que ela simplesmente desapareceu assim ou...
– Não podemos pensar assim. Precisamos descobrir o que está acontecendo. Vamos atrás de Ayame, talvez ela tenha alguma informação.
Kazuki concordou, e juntos decidimos que iríamos ao dormitório de Hatsune para tentar encontrar Ayame ou Aiko.
Chegando ao dormitório, batemos à porta, mas não houve resposta. A tensão aumentou enquanto decidíamos o que fazer a seguir.
– Devemos entrar? – sugeri, olhando para Kazuki.
Ele hesitou, mas sua determinação era evidente.
Kazuki: Sim, precisamos saber se ela está aqui.
Apertei a maçaneta e a porta se abriu com um rangido. O quarto estava vazio, mas a atmosfera parecia pesada, como se algo tivesse acontecido ali.
– Onde você acha que ela foi? – Perguntei, olhando ao redor.
Kazuki: Não sei... mas precisamos encontrar alguma pista.
Enquanto examinávamos o quarto, avistei algo no chão, meio escondido sob a cama. Era um bilhete amassado. Peguei e desenrolei, revelando uma mensagem críptica. "A verdade não deve ser revelada. Mantenha o segredo a salvo". Troquei um olhar preocupado com kazuki.
Kazuki: O que isso significa?
– Não sei, mas parece que alguém está escondendo algo. Precisamos descobrir o que realmente está acontecendo aqui.
Com a inquietação crescendo, a ideia de que a verdade poderia ser mais sombria do que imaginávamos me deixou ansioso. As peças estavam se movendo, mas ainda não tínhamos o quadro completo.
Kazuki e eu continuamos a examinar o quarto, tentando encontrar mais pistas sobre o que poderia ter acontecido com a Hatsune. A sensação de que estávamos em uma armadilha aumentava a cada minuto que passava.
Kazuki: Precisamos de mais informações.
Disse virando-se para mim.
Kazuki: Você falou com a Haruka, certo? O que ela disse?
– Ela mencionou um removedor de esmalte que parecia novo. Não era algo comum de se ter por aqui, especialmente com tudo o que está acontecendo. Pode ser uma pista – respondi, tentando conectar as informações.
Kazuki franziu a testa.
Kazuki: E se a Hatsune estiver em algum lugar tentando resolver esse mistério sozinha? Se ela for a única que sabe de algo, pode ser que esteja em perigo... e a Lila? Ela também quer descobrir sozinha, né?
Fui tomado por um frio na barriga. A ideia de que Hatsune pudesse estar em apuros era angustiante.
– Precisamos encontrar a Ayame. Se ela estava com Aiko, talvez saiba mais sobre a situação – Sugeri.
Kazuki assentiu, e nós dois saímos do dormitório, decididos a procurar Ayame.
Kazuki: Espera.
Ele me interrompeu de repente.
Kazuki: Deixa que eu vou falar com a Ayame, você precisa se concentrar em achar a Hatsune.
– Mas... – Tentei dizer algo, porém não fui permitido.
Kazuki: Vai logo.
Eu assenti e dei um tapinha em seu ombro, saindo da área dos dormitório. Onde mais eu podia procurar? Onde Hatsune estava? Ah... já sei.
Subi as escadas, eu pude escutar Ethan falando com a Mia e com o Hiroshi, provavelmente sobre o estado do corpo, enquanto ele anotava tudo calmamente. Em uma das salas, Elena estava sentada em cima de uma mesa, anotando algumas coisas em um caderninho, assim como Ethan.
O corredor estava mais calmo agora, mas a tensão era palpável, como se o ar estivesse carregado de segredos não ditos.
Eu entrei na biblioteca, ou seja lá como eu deva chamar esse lugar, e lá estava ela, de pé em uma cadeira enquanto lia alguns arquivos criminais.
– Você não tem medo de cair? – Perguntei, cortando o silêncio.
Hatsune: Ah!
Assim que eu disse isso, Hatsune se assustou e quase caiu no chão.
– Espera, calma, sou só eu!
Hatsune: Você... me assustou.
Ela se virou e deu um pulinho para sair de cima da cadeira, ainda segurando o arquivo em mãos.
– O que é isso?
Hatsune: É um arquivo criminal, ele conta sobre um dos diversos casos de serial killer, como a pessoa aqui se comporta e coisas assim. Eu já li muitos de cima a baixo, até o caso da Junko Enoshima.
– Bem, esse é impossível alguém não saber.
Hatsune: Pois é... mas enfim, foi o Ludwig que me recomendou vir aqui.
– Ah... é, a gente veio aqui ontem. Mas eu tava procurando você.
Hatsune: Eu? Por quê?
– Isso é seu, não é? – Eu estendi o anel na direção dela.
Hatsune: É meu sim! Onde você achou? Eu jurei que tinha perdido! Fiquei chorando a noite inteira! Ah... não conta pra ninguém sobre isso.
Ela pegou o anel da minha mão e ficou o olhando, passando o dedo para limpar o sangue.
– Eu achei dentro de um dos armários.
Hatsune: Ué...
– O que?
Hatsune: Tá... manchado... eu tinha leves suspeitas que não tinha sumido sozinho, alguém pegou.
– Eu também pensei isso... hm, Hatsune, posso ver suas mãos?
Hatsune: Hm? Claro.
Ela estendeu o braço em minha direção e eu segurei as suas mãos com cuidado. As unhas dela ainda estão pintadas na cor preta, não tem outras manchas, não que eu enxergue pelo menos.
Hatsune: É algum fetiche?
Ela perguntou com inocência.
– Ah? Não, não! Era pra conferir algo, desculpa! – Soltei sua mão rapidamente.
Hatsune: Não tem problema, você é uma caixinha de surpresas.
Hatsune sorriu gentilmente para mim, notei o seu rosto ficar corado e o mesmo aconteceu comigo.
– Bem, eu vou indo agora, eu tô tentando entender algo... mas tá difícil. Você viu a Ayame por aí?
Hatsune: Sim, mas a última vez que eu a vi, ela estava bem... fora de si, digamos assim.
– Hm... onde você viu ela?
Hatsune: Perto da cozinha.
A tensão no ar era palpável, e a revelação de Hatsune sobre Ayame só aumentou minha preocupação. Eu precisava encontrar Ayame o mais rápido possível.
– Obrigado, Hatsune. Vou procurar por ela – disse, tentando manter a calma, mesmo com a ansiedade crescendo em meu peito.
Hatsune acenou com a cabeça, seu sorriso ainda presente, mas seus olhos refletiam uma preocupação que não consegui ignorar.
Hatsune: Tome cuidado, ok?
Ela disse, sua voz um pouco mais baixa.
Hatsune: Essa situação já é estranha e não quero que você se machuque.
– Pode deixar – Respondi, tentando tranquilizá-la. – E você também, não se esqueça de ficar segura.
Saí da biblioteca, passando pelo corredor que levava à cozinha. O som das vozes de Ethan, Mia e Hiroshi se tornava mais distante, substituído pelo silêncio inquietante do prédio.
Quando cheguei à cozinha, a encontrei. Ayame estava encostada na pia, com as mãos na cabeça, parecendo distante. O olhar dela estava fixo em um ponto indefinido na parede, e eu podia ver que algo a incomodava.
– Ayame? – Chamei suavemente, para não assustá-la.
Ela virou a cabeça lentamente, como se estivesse acordando de um pesadelo.
Ayame: O que você quer?
A voz dela era fraca, quase um sussurro.
– Ethan disse que você estava com a Aiko. O que aconteceu? – perguntei, aproximando-me um pouco.
Ayame respirou fundo, parecendo hesitar.
Ayame: A Aiko… ela… ela estava tão confusa. Não conseguia entender o que estava acontecendo, e eu só queria ajudá-la. Mas então, ela começou a falar sobre um monte de coisas estranhas, coisas que eu não consegui entender, coisas sobre... a Hatsune.
Ayame balançou a cabeça, como se quisesse afastar os pensamentos ruins.
– O que ela disse? – perguntei, minha curiosidade e preocupação crescendo.
Ayame: Algo sobre saber demais...
Ayame começou a se agitar.
Ayame: Ela ficou tão nervosa, e eu não sabia como ajudá-la. Eu a deixei sozinha por um momento para buscar água, e quando voltei, ela não estava mais lá. Eu procurei, mas… não a encontrei.
Um frio percorreu minha espinha. Aiko também desapareceu? O que estava acontecendo com elas?
– Precisamos encontrá-la – disse, tentando pensar em um plano. – Você sabe onde ela poderia ter ido?
Ayame mordeu o lábio, pensando.
Ayame: Talvez… talvez ela tenha ido para o vestiário. Enquanto a gente conversava, ela sempre falava sobre os fantasmas que ouviu falar sobre aquele lugar. Eu achei que era só uma história, mas agora… pensando no passado...
Sua voz quebrou.
– Eu não posso entrar lá... mas eu tenho certeza que ela vai te ouvir – Eu a encorajei, tentando transmitir confiança. – Você faria isso?
Ayame: É pela Investigação, certo?
Ayame acenou com a cabeça. Ela estava claramente nervosa, mas havia uma determinação crescente em seus olhos.
Ayame: Mas você acha que a Aiko está lá?
Perguntou, sua voz cheia de incerteza.
– Eu espero que sim – respondi, tentando ser otimista. – Precisamos acreditar que ela está bem, e se ela souber tanto assim, precisamos dela conosco.
Ayame: É...
Ela colocou uma mecha atrás da orelha, eu não pude deixar de não notar as unhas dela.
– Você tirou o esmalte azul?
Ayame: Hm? Sim, já tava perdendo a cor.
– Ah... entendo...
Ayame: De qualquer forma, eu vou atrás daquela garota.
Ela se foi em um piscar de olhos e eu me encostei no balcão, suspirando profundamente. De repente, a porta se abre, entrando Ethan e Elena, que ainda aparentava estar escrevendo algo.
Ethan: Eai garoto.
– Oi...
Ele olhou para a Elena.
Ethan: Falta quantas linhas?
Elena: Umas... cinco.
Ethan: Em quanto tempo você acha que termina?
Elena: Dois minutos.
Ethan: Hm, ei, Alex.
– Eu tô te ouvindo.
Ethan: Será que você pode decorar algo pra mim? É o álibi da Ayame, eu não tô podendo anotar agora, aí você me lembra caso dê algo.
– Certo...
Ethan: Ela disse: eu sequer falei com ele, apenas na hora de se apresentar e nada mais. Não o vi antes de morrer, além do dia dos segredos, mas depois disso, não vi ele mais. Assim que eu saí do ginásio, fui direto para o meu quarto, eu vi até a Hatsune no caminho até lá. Mas enfim, eu passei o resto da noite no meu quarto desenhando, até capotei lá mesmo.
– Isso é muita coisa pra decorar, mas tudo bem, eu vou tentar.
Elena: Terminei.
Ethan: Certo, valeu, Alex! Vamos, Elena.
Nunca imaginei ver esses dois trabalhando juntos...
– Você já descobriu seu ultimate? – Perguntei enquanto eles iam embora.
Ethan parou e virou-se para mim, com um sorriso sinico no rosto.
Ethan: Não.
Então ele foi embora, isso me deixou com uma pulga atrás da orelha, confesso. Afinal, esse cara é tão enigmático...
Fiquei ali por mais alguns minutos, tentando processar tudo. A tensão do ambiente era inegável, e o pedido de Ethan para decorar o álibi de Ayame só tornavam as coisas mais complicadas. Por que ele confiaria isso a mim? E por que ele e Elena parecem estar tão próximos?
Depois de sair da cozinha, minha mente estava uma confusão de pensamentos. Eu ainda tentava entender como tudo estava interligado, mas não sabia por onde começar. Decidi procurar por pistas na biblioteca, onde Hatsune parecia passar seu tempo.
Antes de chegar lá, senti uma mão puxar meu braço com urgência. Era Ludwig, que parecia agitado e ansioso, os olhos arregalados.
Ludwig: Alex! Você precisa ver isso.
Ele disse, sem rodeios.
– O que foi? – perguntei, surpreso pela abordagem direta.
Ludwig não respondeu de imediato. Em vez disso, olhou em volta, certificando-se de que estávamos sozinhos no corredor. Ele tirou um pedaço de papel amassado do bolso e o colocou em minhas mãos. As letras desenhadas à pressa e tremidas quase pareciam gritar da página: "Ela sabia demais. Eu não tive escolha".
Meu coração disparou. Era impossível não sentir um calafrio subindo pela espinha enquanto meus olhos percorriam a frase repetidamente.
– Onde você achou isso? – Sussurrei, tentando manter minha voz firme.
Ludwig: Estava entre alguns livros na biblioteca, perto do lugar onde a Hatsune estava sentada.
Explicou Ludwig, nervoso.
Ludwig: Eu não queria mostrar isso para mais ninguém antes de falar com você.
Respirei fundo, o peso da situação ficando cada vez mais real. Não éramos detetives, nem tínhamos experiência para lidar com algo assim. Éramos apenas adolescentes, amigos de alguém que tinha sido tirado de nós de forma brutal.
– Não podemos tirar conclusões precipitadas – disse, olhando para Ludwig com seriedade. – Mas isso pode ser importante. Precisamos ser cuidadosos sobre como perguntar isso a Hatsune sem levantar suspeitas.
Ludwig assentiu, claramente aliviado por não ter que lidar com isso sozinho.
Ludwig: Sim... mas o que fazemos agora?
Perguntou, a voz ainda baixa, quase como um eco. Guardei a nota no bolso, sentindo o papel áspero contra minha pele como um lembrete constante de nossa responsabilidade. Não sabíamos exatamente o que estávamos enfrentando, não somos adultos, não somos experientes, mas tínhamos que encontrar um jeito de descobrir, mesmo que cada passo parecesse mais assustador que o anterior.
Eu acabei perdido em meus próprios pensamentos, estava tão focado que nem percebi Ludwig ir embora, só "acordei" quando senti Lila puxando minha camisa.
Lila: Você tá acordado? Céus...
– Ah, me perdoa – Tentei me recompor. – Você estava me chamando?
Lila: Sim, o julgamento vai começar daqui a pouco e eu preciso te mostrar e dizer uma coisa antes disso.
Eu a olhei, ela estava séria, o que parecia ser muito raro.
– Certo... pode falar.
Lila: Bem, eu meio que preciso te contar o "segredo" da Ayame. É algo bem besta, ela gosta de serial killers, tipo... muito! Ela até já falou isso publicamente, né?
– Sim, sim. Isso nem é segredo... que estranho.
Lila: Ela tá trabalhando em um mangá novo inspirado... no que tá acontecendo.
Ela tirou um pequeno livrinho de dentro do blaser e sorriu, orgulhosa.
– Você roubou?
Lila: Eu não diria roubar, apenas coletei coisas importantes, agora vamos, eu não quero que o Monokuma venha encher meu saco.
Lila saiu batendo os pés forte no chão, mas eu não podia mais dizer nada, tudo o que eu podia pensar era: por que tantas provas apontam para a Hatsune? Estamos no caminho errado ou... eu apenas não quero acreditar no pior? Lila não me contou tudo...
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