Keigo pov
Eu estava na prisão. Fui fazer umas coisas importantes, e uma delas, envolvia falar com o Kayo.
Deixei para fazer isso por último, já que a coisa que eu menos me importo nesse mundo é com ele.
Aí você me pergunta:
Mas por que você está indo falar com ele, então?
Simples. Quero esfregar na cara dele que eu consegui. Eu venci. E agora ele está preso, não vai poder sair nunca mais.
Eu estou muito feliz de poder entrar lá, sabendo que vou me deparar com ele atrás das grades.
Isso me dá um conforto e tanto.
Pensa só. Eu nunca mais vou ter que lidar com casos onde ele está envolvido. Não é uma beleza?
Sem contar que também preciso cobrar o Kayo de todo o dinheiro que ele deve as famílias que destruiu.
Acha que coisas assim são baratas? Há!
Quero ver da onde ele vai tirar toda essa grana estando preso. Mas sinceramente, ele deveria receber muito para matar as pessoas por acordo de terceiros.
Falando nisso, o Dabi está investigando, e interrogando o Kayo todos os dias. Justamente para descobrir quem pagou ele pra matar as pessoas. Afinal, quem o pagou também são criminosos. Só não sujaram as mãos.
Sobre o caso mais recente, que foi o do assassino da Inko Midoriya. Ele conseguiu três suspeitos. Entre eles: o patrão dela, uma colega de trabalho, e um funcionário com cargo inferior da onde ela trabalhava.
Não temos muitos detalhes ainda, mas acredito que o Toya vá descobrir logo. Ele é bom no que faz, sem contar que está com a ajuda da irmã, e delegada, Fuyumi. Que tomou a frente do caso junto com ele. Ah, e lógico que eu estou ajudando como posso também.
Não poderia ficar de fora.
Katsuki pov
O resto do dia, depois do clube de basque, foi tranquilo. Tirando o fato de que a situação entre mim e o Izuku estava sendo a pior de todas.
Nós não estávamos conseguindo manter uma conversa direita. Isso se eu no mínimo tentasse iniciar uma, já que o Izuku se manteve calado o dia todo. Por causa disso, nós trocamos apenas palavras necessárias. Em sua maioria, de forma seca, rápida, e sem emoção. Como se tivéssemos falando com um completo estranho no metrô.
Isso me incomoda? Pra caralho.
Eu simplesmente decidi tentar ignorar, mas era impossível.
A todo o momento eu me pego distraído. Observando o esverdeado e tentando entender o que se passa na cabeça dele.
...
O dia se passou, e eu cansei de escutar pessoas querendo encher o meu saco. Perguntando o que ouve. Se brigamos... E eu sempre respondia dizendo que não interessa pra pessoa.
O que elas tem com a minha vida?! Me deixem em paz!
Eu já estava puto com o mundo. Tudo ao meu redor me irritava mais que o normal, e essa porra fez eu acabar tendo uma crise de ansiedade durante as últimas aulas.
E o Izuku ligou?
Nem um pouco...
Eu fiquei bem mal com isso. Sério, eu estava péssimo com a maneira que ele estava me tratando.
Tipo... Eu sei que ele está em um momento difícil, e que pode estar se passando inúmeras coisas na mente dele. Mas, poxa. Precisa agir assim comigo?
Eu passei a tentar aceitar que o problema não sou eu exatamente. Como se ele não estivesse bravo comigo, especificamente. Mas sim, com tudo.
Como ao menos isso eu entendo, me levo a acreditar que a situação está assim.
Bem... eu não me machuco tanto se pensar dessa forma...
Enfim... Voltamos pra casa, e eu estava com dor de cabeça. Torcendo pra que não precisasse falar com ele. Independente sobre o que seja. Qualquer que fosse a resposta dele, eu sentia como se fosse uma facada no meu peito. O mínimo de diálogo que tivemos durante esses últimos dias, era uma apunhalada atrás da outra.
Parece até que invertemos as personalidades, mas ele ficou com a minha pior fase.
Sinceramente, eu já fui assim. Mas não era por nenhum motivo plausível. Eu sempre fui revoltado, desde pequeno. Na minha adolescência, eu era o próprio demônio. Um completo arrombado sem noção. Mas é lógico que conforme eu cresci, também mudei. Não posso dizer que deixei de ser o demônio de antes, até porque eu continuo sendo o mesmo. Só mudei as minhas atitudes. Comportamentos no geral...
Ah, foda-se. O meu passado não importa agora.
O Izuku ficou agindo assim durante dois dias, até agora. Terça (ontem, um dia depois do assassinato), e quarta. Que no caso, é hoje. Foi tudo mesma história. Parecia até que eu estava revivendo terça-feira. Isso estava me matando...
Depois da faculdade, voltamos pra casa. Eu comecei a fazer a janta, como todos os dias. Era uma rotina simples, e tals... Tirando o fato de que eu estava péssimo.
Cansado de ter que lidar com tudo aquilo.
Quando eu fui para a cozinha, ele foi subir as escadas.
— aonde você vai? — perguntei.
— pro quarto. — ele respondeu seco, como antes.
— não vai comer?
— não.
— mas você não pode ficar ser comer, Izuku.
— mas eu não quero.
— mas...
— você vai me obrigar, é isso?
— não, eu...
— eu estou sem fome. Então me deixa em paz! — após dizer isso, ele subiu de uma forma mais rápida.
Eu estou apenas aceitando isso. Mesmo que esteja me magoando, não tem o que fazer. Ele fica bravo quando eu tento agradar, e não quer falar comigo. Então só me resta esperar...
Izuku pov
Eu fui pro quanto e fechei a porta, sem tranca-la.
Minha mente estava completamente confusa. Eu queria poder me jogar de um prédio agora, mas o Katsuki não ajuda também.
Parece que ele não me entende...
Mesmo que eu esteja nitidamente sem tanta paciência agora, ele age como se nada de ruim tivesse acontecido. Sempre falando coisas positivas, ou tentando mostrar que está feliz de alguma forma.
Eu estou muito bravo... Mas não é com ele exatamente.
Só de pensar que eu poderia ter evitado tudo isso...
Mesmo que eu não demonstre, ainda estou extremamente triste com o que aconteceu. E sempre, toda a hora, me vem aquela sena na minha cabeça.
Uma sena que certamente me traumatizou...
Enfim... Eu só queria que ele pudesse entender que eu não estou pra brincadeira. Eu não quero saber como está o dia, como estão minhas notas ou se eu estou bem!
Eu só... Sei lá... Queria um abraço, e ouvir ele dizer que me ama...
Quando o Katsuki falou que estava tudo bem, eu fiquei indignado. Ele não tem consideração? Tipo... Ele não entende o que acabou de acontecer? Essa está sendo a pior semana da minha vida inteira. E ele simplismente age da forma que sempre agiu.
Que ódio!
Mas por que tinha que ser assim? Por que logo a minha mãe? Por que não eu...?
A minha vontade de chorar apareceu de repente, mas eu segurei. Não queria chorar agora...
Com isso, eu desci com o plano de beber um pouco de água. Tinha que me acalmar de alguma forma.
Eu estava tentando ser o mais forte possível. Mas é tão difícil...
Respirei fundo, então eu desci, indo até a cozinha.
O loiro estava lá sentado na mesa, ele fez alguma coisa lá pra comer, mas eu não prestei atenção. Enquanto mexia no celular.
Seu olhar estava bem deprimido.
— mudou de ideia? — ele perguntou sem desviar o olhar do aparelho.
— não. — por algum motivo, quando eu respondi, ele fez uma expressão meio dolorida. — ah... — suspirei. — o que foi? — quando perguntei, ele tirou sua atenção do celular no mesmo instante.
— oi?
— o que você tem? — perguntei de novo.
— ah... Nada. Eu estou bem. — ele disse, novamente forçando aquele maldito sorriso. Isso me fez ficar irritado.
Como ele pode sorrir em um momento como esses?
— por que você age dessa forma?! — eu perguntei, sentindo novamente as lágrimas preencherem os meus olhos.
O sorriso dele se desfez na hora.
Eu peguei o copo com a água e sai de lá. Indo até a sala.
Eu não queria voltar pro quarto, então apenas me sentei no sofá da sala e fiquei lá...
Depois de uns minutos eu consegui me acalmar. Então pude escutar a torneira da cozinha ligada.
Raciocinei que o loiro estava lavando a louça, ele sempre faz isso antes de ir para o quarto. Isso significa que provavelmente vou ter que lidar com ele de novo...
Mesmo que ele esteja parecendo meio triste, eu acredito que seja só porque eu não estou dando atenção a ele. Parece até uma criança, que precisa de alguém pra brincar 24hrs por dia, se não chora.
Que saco...
...
Os minutos foram se passando, e ele já tinha ido para o quanto.
Eu estava procrastinando para não ir, mas estava morrendo de sono. Não queria acabar dormindo no sofá, se não acordaria todo dolorido.
Eu fui até a cozinha guardar o copo que tinha pego, e subi as escadas, indo até o quarto. Assim que abri a porta, me deparei com ele.
O loiro estava sentado na cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos e cabeça baixa.
— Katsuki? — perguntei, mas ele não me respondeu.
Eu me sentei ao seu lado, pretendendo lembrá-lo do remédio. Que provavelmente havia esquecido. — Katsuki?!
— o que você quer?! — ele finalmente olhou pra mim, e pude ver lágrimas escorrendo se seus olhos sem parar.
Isso me deixou bem surpreso, e eu acabei paralizando por uns segundos.
— por que você está chorando?
— você deveria saber...!
— mas eu não sei.
— e de que isso importa? Você já nem liga mais pra mim.
— quem disse que eu não me importo?!
— eu digo! Você está agindo igual a um filho da puta comigo! Como acha que eu deveria agir?!
— filho de que?!
— foi isso mesmo o que você ouviu! A minha cabeça está prestes a explodir! Só fazem dois dias, e eu já não aguento mais!
— eu não estou te entendendo!
— quer que eu explique?!
— lógico!
— você...! V-você está me machucando... — ele disse com um tom mais baixo.
— ah?...
— eu estou fazendo de tudo pra te entender, mas eu não consigo. E você também não me explica! Está me tratando feito lixo, como se isso não importasse mais! Você não sabe quantas vezes eu já tive que passar por isso!
— a minha mãe acabou de morrer, e você fica aí todo triste por causa da porcaria de um relacionamento?!
— é esse o ponto! Eu não quero reviver todo esse inferno de novo! Era sempre a mesma coisa! Em todos os meus relacionamentos, em todas as vezes, eu fui feito de idiota. As pessoas que eu dava a vida me tratavam como merda, e me largavam! Quantas vezes o meu coração já se partiu? Nem eu sei mais...
— mas eu... Eu não estou te tratando como lixo!
— é claro que está! Isso está doendo muito, Izuku! Você está me machucando de novo! É sempre a mesma história! É sempre a mesma droga! Estou começando a achar que o problema seja eu!
— talvez seja! — disse, e ele colocou as mãos no rosto, as levando até os fios loiros. Os segurando com força.
— justo agora que eu pensei que daria tudo certo... Eu deveria ter desistido quando da última vez não funcionou! E também, agora você me vem dizendo que eu estou triste por causa da "porcaria" de um relacionamento! Está chamando o meu amor por você de porcaria?!
— mas eu...
— VOCÊ NÃO ME AMA MAIS, É ISSO?! — ele gritou, começando a soluçar em meio as lágrimas.
Eu me senti não horrível quando ele disse aquilo...
O quão terrível eu estava sendo pra ele a ponto de deixá-lo assim, e sem nem perceber?
— é claro que eu ainda te amo! — respondi. E ficamos em silêncio por uns instantes. — eu não deixei de te amar, Kacchan!
Novamente, silêncio.
— eu não sabia que estava agindo de uma forma tão ruim com você... Me desculpa!... Kacchan, para de chorar...
— e-eu não consigo... Não dá!
— Kacchan, olha pra mim!
— não!
— por favor!
— Izuku... Eu não quero olhar pra você. — quando ele disse isso, eu me senti determinado. Então o puxei, e o abracei.
Ele não retribuiu, mas esse não era o meu propósito.
— então, só me escuta! — disse, não obtendo resposta.
Pude perceber que ele estava respirando bem rápido.
— eu estava muito confuso com tudo o que estava acontecendo. Estava tendo que lidar com coisas que ainda não estava preparado, por isso fiquei estressado! Mas eu acabei descontando em você... Eu não imaginei que te afetaria tanto! Me desculpa, kacchan. Eu fui muito insensível com você, achando que estava tudo normal. Eu não vou repetir esse erro... Nunca mais! Então me perdoe, por favor! Eu te amo, Kacchan! — depois de falar tudo isso, ele finalmente bê abraçou de volta. Com bastante força, inclusive.
— I-Izuku... Não me deixa...
— eu não vou! Eu te amo, te amo muito! Não quero te ver assim... — eu comecei a acariciar os cabelos dele.
O loiro escondeu o rosto no meu peito, soltando um pouco a força com que me segurava. Ele parecia mais calmo.
— me desculpa, amor...
O Katsuki suspirou fundo antes de responder. Sua respiração voltou ao normal, mesmo que ainda estivesse soluçando algumas vezes pelo choro recente.
Eu me senti tão mal por saber que eu sou o culpado dele estar assim...
No fim das contas, eu só estava me importando comigo mesmo.
— tudo bem...
Eu me senti tão aliviado quando ele disse isso. Não sei nem explicar.
— agora você pode olhar pra mim? — perguntei, e ele se afastou lentamente de mim. Ficando sentado na minha frente com os olhos fixos nos meus. — como você está? — disse, exatamente preocupado.
Ele me olhou por uns segundos, parecendo formular uma resposta.
— quero saber como você está primeiro. — ele respondeu.
— bem... Eu... Estou meio mal ainda, Kacchan... — depois de dizer isso, segurei o rosto dele com as duas mãos, fazendo um carinho. Pelo contrário do que eu esperava, ele deu um pequeno sorriso, que dessa vez, não era forçado como os de antes.
— então estamos iguais... Mas, eu vou tentar te entender agora. Aí, vou te fazer sorrir de novo.
— vai?...
— vou. Eu vou fazer você se sentir bem. Aí eu também vou poder ficar bem...
Eu senti todo o peso que sentía ir embora. Todo o clima ruim que esteve entre a gente durante esses dois últimos dias. Simplesmente se foi. E eu pude me sentir leve de novo.
— eu fui um ser humano horrível... Só estava pensando em mim mesmo...
— tudo bem. Eu também não estava conseguindo te entender de qualquer jeito. Pensava que você estava bravo comigo...
— não exatamente. Eu só acabei descontando a minha raiva na pessoa mais próxima... Que no caso, era você...
— entendi...
— Kacchan. Eu não vou te deixar. Independente do que aconteça. Eu nunca vou fazer isso!
— você promete?
— eu prometo! Juro pela minha vida!
— não é pra tanto. — ele disse soltando uma risada.
— é claro que é! Eu te amo mais que tudo, e quero deixar isso bem claro! Nunca mais quero te ver mal por pensar numa coisa dessas!
— está bem claro pra mim... Mas então eu também preciso te prometer isso.
— então é uma promessa dupla?
— é a nossa promessa.
— hum... Tá bom. É a nossa promessa. Se você quebrar eu corto o se pescoço.
— isso vale pra você também?
— vale!
— então tá. — ele disse e me abraçou de novo.
Ele parecia tão mais tranquilo... Isso me acalma também...
No fim das contas, só precisávamos conversar.
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