Sebastian deu uma risada amarga.
- Você ainda acha que vai conseguir sair daqui? – ele perguntou ainda rindo.
- Você não sabe do que eu sou capaz. – disse o olhando com desprezo. – Só uma chamada e você está fodido, Garcia.
- Qual é? Vai convocar seus soldadinhos de chumbo? – ele perguntou rindo. – Me admiro seu amado Guerra não ter descoberto.
- Eu sei ser discreta quando eu quero.
- Agora a pergunta que não quer calar, como conseguiu ser a presidente da Máfia Russa?
- Это вас не касается. (Não é da sua conta.) – disse e sorri.
Sebastian me olhou confuso.
- Quer dizer que a vadia também fala Russo? Fala comigo direito, porra! - ele esbravejou. – Quer que eu ande com um tradutor?
- Eu disse que não te interessa, seu imbecil. – rosnei o olhando.
- Claro que interessa, o que é seu, será meu. – Sebastian disse.
- Мудак. (Imbecil) – disse e revirei os olhos.
- Pare de falar comigo em Russo, vadia. – ele disse com raiva.
Dei risada o olhando.
- Vamos, responda.
- Нет. (Não.)
- Desaprendeu a falar português? Então a levem para o porão e deem um tratamento vip até ela aprender. – Sebastian disse rindo.
Os dois armários, vulgo seguranças, me pegaram bruscamente pelos braços, me deixando em pé, mas sem me soltar.
- Depois eu apareço lá, querida. – Sebastian disse tocando em meu queixo com a mão ensanguentada.
Virei o rosto. Nojento!
Fui arrastada para o porão. Nem tive o trabalho de descer as escadas, porque eles simplesmente me jogaram lá de cima. Fui rolando escada a baixo, parece que meus ossos estavam sendo triturados, a cada degrau que eu rolava. Cheguei ao chão com muita dor, nem consegui me mover.
- Acho que depois disso, ela não vai precisar mais do tratamento vip. – um deles disse entre risadas.
E acabei apagando.
(...)
- Acorda, vagabunda. – ouvi e jogaram um balde de água gelada em mim.
Eu estava do mesmo jeito que caí, senti uma forte dor no tornozelo. Que ótimo, eu torci. Gemi de dor tentando me sentar, tudo no meu corpo doía, sem exceções. Olhei para cima e vi Margarida alí sorrindo com as mãos na cintura, sorrindo como se fosse superior a mim.
- Sabe, eu não sou tão ruim assim, vim te trazer algumas notícias. – ela começou a falar andando pelo porão.
Me mantive sentada no chão.
- Paulo está louco atrás de você. É divertido ver o desespero dele, sem ao menos ter uma pista onde você possa estar. – ela disse e deu risada.
Nesse momento imaginei como Paulo estaria. Isso me machucava mais do que qualquer pancada.
- E o Pietro? – perguntei. Ela gargalhou.
– Não para de chorar perguntando por você. “Mamãe, mamãe. Eu quero a mamãe” – ela fez uma vozinha escrota para imitá-lo. – Tadinho do garoto. – ela disse com desprezo.
Respirei fundo. Meu Pietro estava sofrendo. Oh céus.
- Eles vão sofrer ainda mais. As buscas em São Paulo são inúteis, nunca irão descobrir onde você está, mas se quiser, posso ir consolar o Guerra. Ele deve estar tão frágil...
Ela disse maliciosa e deu as costas para mim, provavelmente indo embora.
- Você vai consolar o diabo, sua piranha. – murmurei e dei uma rasteira nela.
Obviamente com a perna que o meu pé não estava machucado. Margarida caiu no chão, fazendo um barulho no piso de madeira, antes que ela conseguisse se levantar, fui para cima dela e apertei com força em seu pescoço.
- Uma coisa que você deve aprender, nunca dê as costas para seu inimigo, сука (vadia). – disse sorrindo e apertando ainda mais aquele pescoço de galinha que ela tem.
Margarida segurou em meus pulsos, tentando soltar minhas mãos de seu pescoço. Tentativa falha.
- Há muito tempo que eu queria fazer isso. – disse a olhando, enquanto seus olhos estavam esbugalhados olhando para cima.
Ela estava com a boca aberta em buscar de ar. Ela batia os pés no chão, tentando sair de baixo de mim. Tirei uma mão do seu pescoço e segurei em seus cabelos com força, batendo sua cabeça no chão.
- Socorro! – a vadia conseguiu gritar.
- Diga logo suas últimas palavras. Repassarei para o patife do seu pai. – disse apertando ainda mais seu pescoço.
Margarida se debatia em buscar de ar. Se ela acha divertido o sofrimento de Paulo e Pietro, eu acho divertido ela morrendo em minhas mãos. Ouvi abrirem a porta e rapidamente desceram as escadas, me tirando de cima da Margarida, que começou a tossir. Vagabunda!
- Amarrem-a. – ouvi Sebastian mandar.
Me pegaram e me colocaram em uma cadeira, amarrando meu tronco junto a mesma.
- Filha, você está bem? – Sebastian agachou-se perto da Margarida, que ainda torcia com as mãos no pescoço massageando.
Gargalhei.
- Essa vadia tentou me matar, pai. – ela disse com dificuldade.
- Eu só estava me defendendo. – disse irônica rindo.
- Sua desgraçada! – Sebastian gritou e veio até a mim, acertando tapas em meu rosto. – Eu só não te mato agora mesmo, porque eu ainda tenho meus planos, se não, você iria dar um salve para o capeta.
- Nem pra me matar você tem coragem. Cafetão de merda, ainda por cima é covarde. Mata logo, filho da puta. – o provoquei.
Sebastian puxou a sua arma e apontou para a minha testa.
- Puxa logo a merda desse gatilho. – disse.
Sebastian destravou a arma.
Quero dizer, que Pietro e Paulo, eu amo vocês.
- Não, pai. Ela vai se arrepender por isso. Ela não merece morrer agora, merece sofrer. – a puta da Margarida levantou-se.
- Acho que se eu tivesse apertado mais um pouquinho esse pescoço, não teria que estar ouvindo essa voz de puta. Poxa. – fingi decepção.
- Isso é apenas o começo do seu sofrimento. Você vai pedir para morrer. – Sebastian disse
- Você que vai suplicar pela morte, Garcia. Já imagino as inúmeras formas de tortura, sabe, lá na Rússia temos uma método maravilhoso. Vocês vão gostar de conhecer. – disse sorrindo.
- Isso é o que veremos. – ele disse me olhando superior.
- Quando a morte bater em sua porta, não fuja, ela vai te encontrar onde estiver. – disse calmamente o olhando.
Sebastian me olhou por alguns segundos e saiu juntamente com a Margarida. Me deixaram amarrada na cadeira e saíram. Vamos Alícia, pense. Coisa pior você já passou na Rússia e saiu viva.
O que eu mais queria saber como foi que esse filho da puta descobriu isso. Ninguém em São Paulo sabia disso, ninguém mesmo. Nem Valéria que está comigo quase desde o começo. E isso me preocupa, caso ele resolva abrir a boca vão todos ficar com ódio de mim. Mas eu simplesmente não podia contar. Eu jurei que não contaria.
Confesso que disse umas inverdades, eu não menti, só omiti algumas coisas. Não era exatamente verdade quando eu disse que consegui meu império com o dinheiro que Hugo havia deixado naquela casa caindo aos pedaços. O dinheiro que aquele imbecil guardava não dava nem pra pagar a gasolina de possíveis carregamentos. Mas deu pra me manter por alguns dias.
Sem estudos, sem ninguém e sem nada, o único jeito era me distrair em uma balada. Já que se eu ficasse enfurnada em casa, ficaria louca de tanto pensar no que o Paulo fez comigo ou então a casa cairia sobre minha cabeça. Só queria esquecer um pouco os problemas, então fui para a uma boate, bem badalada. Me certifiquei de que não era uma das boates do Paulo, porque se ele me encontrasse, ele ia acabar com a minha vida por ter fugido de lá.
Me lembro como se fosse hoje quando cheguei aquela boate.
Pior coisa que tem é sair sozinha sem conhecer ninguém.
Peguei aquela fila enorme e entrei na boate mostrando minha identidade. Dentro da boate estava um verdadeiro inferno, músicas tocavam em um volume ensurdecedor, as pessoas dançavam sem parar, algumas se pegavam em qualquer lugar. Mesmo assim, adorei aquilo. Me dirigi para o bar e pedi uma água.
Nossa Alícia, você sai de casa para vir tomar água em uma boate. Nossa, se superou em. O barman riu do meu pedido e trouxe minha água.
- Seus pais sabem que a senhorita está aqui? – uma voz me deu um susto enorme.
Me virei e era um homem, deveria ter uns cinquenta anos. Ele usava trajes diferentes para quem mora em São Paulo, e o sotaque também era diferente. Pensei em não responder, porque eu nem o conhecia, mas não faz mal respondê-lo. Pelo menos alguém para conversar.
- Eu não tenho pais. – o respondi.
- Sinto muito. – ele lamentou sentando-se do meu lado.
- Ah tudo bem. Você não é daqui né? – perguntei curiosa. Seu sotaque o entregava.
- Não. – ele riu breve. – Sou russo.
- Deve ser bem legal falar russo.
- Sim, é. – ele disse. – Você me parece ser bem nova, quantos anos tem?
- Dezoito. – respondi.
- Jovem! Ah, que indelicadeza minha, meu nome é Yure Dimitri. – ele disse estendendo a mão.
- Gostei do nome. Eu me chamo Alícia, Alícia Gusman. – apertei sua mão.
- Também gostei. Alícia é um nome marcante. – ele disse e eu sorri.
- Oh é. E você? Não tem família? – perguntei curiosa.
Achei uma companhia para a minha noite.
- Na verdade eu tinha. – ele respondeu e arqueei as sobrancelhas o olhando. – Minha esposa morreu em um acidente de carro e minha filha morreu com sua idade, ela tinha leucemia. – ele disse tristonho.
Meu Deus, que triste.
- Nossa. Eu sinto muito, sinto mesmo. Mas com certeza ela deve estar em um bom lugar. Minha mãe morreu em um acidente de carro também.
- Creio que estejam. Por isso que vim aqui, você parece tanto com a Lara. Olha... – ele disse pegando seu celular e me mostrando uma foto da sua filha.
Na foto aparecia ela abraçada com ele. Os dois sorriam. Ela era mesmo linda.
- E essa era a minha esposa, Kátia. – ele passou a foto revelando sua amada.
Ela tinha os olhos azuis.
- Eram lindas. – disse.
- Sim, eram. – ele suspirou. – Às vezes a vida nos faz passar por cada coisa...
- Eu que digo. – suspirei também lembrando o que passei na mão do Paulo.
- Enfim, não gostaria de conhecer a Rússia? – ele perguntou e eu mordi os lábios com receio. – Não precisa ficar com medo.
- É que... – me embolei nas palavras.
Eu tinha acabado de conhecer o cara e ele estava me convidando para ir para a Rússia.
- Não estou com pensamentos maliciosos quanto a você, até porque eu vejo a minha Lara em você. – ele disse e o olhei.
Ele estava sendo sincero. Eu sentia isso.
- Eu acho que não tenho nada a perder mesmo. – dei de ombros.
Não tinha como a minha vida ficar pior, então eu aceitei.
E foi a melhor decisão que eu já tomei em toda a minha vida. Yure se mostrou um grande pai para mim. Ele cuidou de mim como o Hugo jamais cuidaria. Ele me ensinou tudo o que eu sei, até falar em Russo. Em momento algum ele tentou abusar de mim, afinal para ele eu era a sua filha. E às vezes ele me chamava de Lara, mas eu fingia que nem ouvia. Lara fazia muita falta a ele, e era nítido. Tinha dias que ele ficava enfurnado no quarto sem querer falar com ninguém.
Rússia era um lugar incrível, adorei conhecer. Os costumes, a cultura, a língua, tudo me encantava. E olha que estava ficando craque no idioma. Yure deixou de falar português comigo para que eu aprendesse rapidamente o russo, o que me deixou louca. Aprender outro idioma nunca é fácil.
O que me espantava era a sua grande mansão, ele vivia muito bem. Tinha muito dinheiro, mas eu nunca parei para pergunta-lo por que. Eu o comparava com o Paulo, eram carros luxuosos e seguranças andando por toda a casa. Mas eu ignorei tudo isso, eu tinha uma vida que nunca imaginei ter. Eu me sentia feliz. E era isso que importava. Todos naquela casa me respeitavam, diferente da casa de Paulo onde todos me tratavam como um lixo, até ele próprio. Só me queria para o sexo e nada mais. Como eu o odeio.
Tudo mudou quando minha menstruação atrasou. Eu já imaginava o que era, e minhas dúvidas foram comprovadas quando fiz o teste de gravidez. Droga, eu não poderia estar grávida de alguém que só me violentou, e meu medo maior era contar para Yure e ele me pôr de casa para a fora. Se ele me comparava com sua filha, creio eu que ela não engravidaria assim tão nova, mas a culpa não era minha. Eu não engravidei porque eu quis, mas também não iria tirar meu bebê. Por dois meses passei a usar roupas mais largas para disfarçar a barriga, mas um dia eu teria que contar, não daria para esconder por muito tempo. Nesse dia juntei toda a coragem que eu não tinha e fui falar com o Yure.
- Posso entrar? – perguntei batendo na porta do seu escritório.
- Entre, minha flor. – ouvi Yure dizer com aquele sotaque russo, combinamos de falar somente assim, sorri com o apelido carinhoso.
Mas logo o sorriso foi levado pelo o medo.
Yure estava falando no celular, mas rapidamente encerrou a chamada para me dar atenção. Ai Deus, me ajude.
- Eu preciso te falar uma coisa. – disse com medo de encará-lo.
- Aconteceu alguma coisa? – ele perguntou.
- Sim. – respirei fundo. – Tem uma coisa sobre mim que eu não contei.
- O que seria? – ele perguntou me olhando.
- Há exatamente dois meses atrás, quando eu ainda morava em São Paulo, eu fui violentada sexualmente e... – Yure me cortou.
- O quê? Quem te tocou? Me conte e ele pagará por isso. – Yure disse transtornado, nunca tinha o visto assim.
- Eu não lembro. Estava escuro, aconteceu em um beco. – menti.
Não iria dizer que tinha sido Paulo Guerra, se Yure fosse atrás dele, sabe lá o que Paulo seria capaz de fazer. Eu não permitiria que ele tirasse a única pessoa da minha vida.
- Por Deus... – ele disse batendo na mesa. – Por que não me contou antes?
- Eu tive medo. – disse. – E… há alguns dias eu descobri que estou grávida.
Soltei tudo de uma vez e fechei os olhos com força.
- G-grávida? – ele perguntou perplexo.
- A culpa não foi minha, me desculpe, se quiser eu saio agora da sua casa. – disse nervosa.
- Jamais iria deixar você nessas condições no meio da rua, Alícia. – ele disse me olhando. – Estou com ódio desse ser que fez isso com você. – ele respirou fundo. – Caramba…
- Eu... – iniciei baixando minha cabeça.
- Eu vou ser avô. – o ouvi dizer e levantei minha cabeça o olhando. Ele estava sorrindo.
- Você não ficou decepcionado? – perguntei.
- Não tem o porquê. Aliás, você não teve culpa de nada. Não se preocupe, seu bebê vai nascer bem, eu vou cuidar de vocês. – ele disse e senti meus olhos marejarem.
- Meu Deus, obrigada por isso. – disse me levantando e indo abraça-lo.
- Não tem porque agradecer, minha Lara. – ele disse afagando meus cabelos.
Novamente me chamando por Lara, mas só ignorei como todas as outras vezes.
Yure me tratava com muito amor e carinho, e me dava mais atenção do que eu merecia. Os dias iam se passando e minha barriga crescendo ainda mais, ia crescendo também meu amor pelo meu bebê.
Eu já estava no meu quarto mês de gestação. Já tinha feito os exames, e constatou que eu ganharia um garotinho. Meu garoto. Eu não poderia estar mais feliz, mais uma notícia naquele dia me desestruturou, e onde era meu céu, se transformou em um inferno.
Eu estava deitada, assistindo TV, enquanto acariciava a minha barriga. De vez em quando eu falava com meu pequeno Pietro, era assim que ele iria se chamar.
- Alícia! – ouvi uma das empregadas me chamar.
- Entra! – respondi.
- Aconteceu uma coisa horrível. – ela disse desesperada.
- O quê? – perguntei nervosa.
- Venha comigo. – ela disse e me levantei rapidamente.
Na casa estava uma movimentação estranha. Os seguranças caminhavam pra cá e pra lá, em passos apressados. Segui a empregada até o escritório do Yure, ela abriu a porta e por um momento eu senti minhas pernas fraquejar, por um momento desejei que estivesse em um pesadelo e quando eu acordasse nada disso seria verdade. Mas não era.
- Não pode ser... – murmurei levando minhas mãos até a boca. – Não. – senti meus olhos marejarem. – Quem fez isso com ele? – perguntei já chorando, eu não conseguia sair do lugar. Eu estava em choque.
- Ninguém. Ele se suicidou. – um segurança disse. Ele era praticamente o braço direito do Yure.
- Por quê? – perguntei em prantos.
Yure estava sentado em sua cadeira, sem vida, e com a marca de um tiro no meio da testa. Ele tirou a própria vida, mas por quê? Por que ele me deixou sozinha?
- Isso não sabemos. – a empregada respondeu.
- Por que você fez isso comigo? – perguntei e fui até a cadeira, a arma estava caída em seu colo e ele de olhos abertos, com um vestígio de sangue escorrendo em sua testa. – Porque me abandonou? – eu estava em prantos, chorando sem parar, passei a mão em seus olhos, os fechando.
- Querida, por favor, se acalme. Isso não é bom para o bebê. – a empregada disse.
- Você não entende. Eu vou ficar sozinha de novo no mundo.
- Quanto a isso, você não precisa se preocupar. – o segurança disse pegando uns papéis que estava em cima da mesa. – Yure deixou tudo para você e o seu filho.
- Tudo o quê? – perguntei enxugando minhas lágrimas.
- Toda a sua fortuna, e o principal, a presidência da Máfia Russa.
- O quê? – perguntei sem acreditar. – Máfia?
- Não sabia? Yure era o presidente, e deixou o cargo para você. Aqui no testamento ele diz claramente, que tinha total confiança em você e não tem pessoa melhor para exercer esse cargo.
- Mas... Mas eu nem sei o que é isso, eu nem sei o que fazer. – disse nervosa.
- Calma, nós vamos te ajudar nisso. Yure foi um grande líder, você não será diferente.
- Onde quer que ele esteja, ele vai sentir orgulho de mim. – disse encarando mais uma vez seu corpo.
Fui até ele e peguei em suas mãos, já estavam ficando gélidas, então as beijei.
- Obrigada por tudo. – sussurrei.
Nos primeiros dias não foram nada fáceis, Yure me fazia uma falta enorme e no cair da noite, eu ia chorar de saudades. Mas ele me dava forças para continuar e suportar qualquer dor. Fiquei mais em choque em saber tudo sobre a máfia, como eles driblavam as autoridades, como faziam tudo sem que ninguém percebesse. Isso era o que eu mais repugnava, mas passei a gostar. Passei a amar fazer aquilo, cuidar de negócios, contrabandear drogas, armamento, mulheres, se tornou o meu hobby favorito. Isso era loucura, eu sei.
Todos me obedeciam, todos me respeitavam e isso fazia com que eu me sentisse poderosa. Eu era a presidente da Máfia Russa com apenas dezoito anos, e por isso muita gente apontavam o dedo na minha cara, dizendo que eu não ia conseguir, que eu era um pirralha no meio de assunto de gente grande. Mas o que eles não sabiam, era que nenhuma crítica me abalava, porque eles queriam estar no meu lugar. Apesar dessa reviravolta na minha vida, não esqueci um dia sequer, do quanto Paulo Guerra me fez mal, e eu estava disposta a fazer pagá-lo por tudo o que me fez, só estava esperando meu pequeno Pietro nascer.
Depois de alguns meses na Rússia, decidi voltar para o Brasil, apenas para iniciar o meu plano. Comprei uma casa enorme e me estabilizei lá. Eu estava com sete meses de gravidez quando conheci Valéria em uma boate. No caso, minha boate. Com oito meses de gravidez, conheci o Renan. Mesmo estando em São Paulo, eu comandava tudo na Rússia, tinham minhas pessoas de confiança, mas a palavra final era a minha.
Eu realmente nem sabia o que fazer com tanto dinheiro, então tive a ideia de construir meu império aqui também. Mas Paulo Guerra sempre estava em primeiro lugar, em São Paulo. E isso me deixava com ódio. Então dei início ao meu plano, mas o que eu não imaginava, era que iria me apaixonar por ele. Decidi ocultar muitas coisas da minha vida, não havia necessidade de contá-lo, e acho que esse foi o meu maior erro.
Agora estou aqui, esperando que ele me encontre. Ou alguém na Rússia sinta a minha falta e venha me procurar.
Uma semana depois...
Paulo Guerra POV
Desespero.
Essa é a palavra que me define.
Faz uma semana que Alícia sumiu. Uma semana que a minha vida virou um inferno. Nunca fiquei tão longe assim dela e isso me destruía. Eu não sabia mais o que fazer. Eu estava um lixo e tentava amenizar a dor com uma garrafa de Vodka ou alguns cigarros. E isso não funcionava. Pietro também não ajudava muito, todos os dias chorando perguntando pela a mãe, como se eu não chorasse também todos os dias sem saber onde ela está, sem saber se ao menos ela estava viva.
Deus, não quero nem pensar nisso. Eu morreria também.
- Paulo? – alguém interrompeu meus pensamentos entrando no escritório.
Era o Davi.
- Fala.
- Encerramos as buscas. Não tem um lugar se quer, que não procuramos. Eu ainda estou tentando rastrear o celular da Alícia, desde aquele dia que você recebeu a mensagem.
- Tudo bem, Davi. – suspirei.
- Você está acabado, cara. Vai dormir, descansar.
- Queria que fosse fácil assim, deitar e dormir, mas nem isso estou conseguindo.
- Não perca a fé, irmão. Nós vamos encontrá-la. – Davi disse e assenti com a cabeça.
- Tá difícil, Davi... – disse e bateram na porta. – Entra.
Era a Jack.
- Senhor, só pra avisar que Pietro acordou chorando e chamando por você. – ela disse.
- Ok. – disse me levantando.
- Então cara, vou lá ver se encontro alguma coisa, alguma pista, sei lá. – Davi disse enquanto saíamos do escritório.
- Tá bom. – respondi.
Caminhei até o quarto do Pietro, entrei e ele estava chorando na cama.
- O que foi, Pietro? – perguntei sentando em sua cama.
- Eu quelo a mamãe. – ele disse.
Eu também quero. Suspirei e afaguei seus cabelos.
- Depois ela vem.
- Naum, quelo agola. – ele disse estressado enquanto chorava.
- Você não está com fome? Vou buscar alguma coisa pra você comer. – disse me levantando da cama e saindo do quarto.
- Naum papai. – ouvi Pietro gritar.
Continuei andando, por que isso tem que ser tão difícil?
- Eu quelo minha mamãe. – Pietro correndo e chorando atrás de mim.
- Pietro, volte para o seu quarto. – pedi sem olhar para trás.
- Cadê a mamãe, papai? – ele bateu o pé no chão. – Cadê a minha mamãe? – ele gritou.
- EU NÃO SEI ONDE ESTÁ A SUA MÃE, PORRA! – me virei gritando estressado, Pietro parou no mesmo instante com medo e começou o berreiro, só que mais alto.
Droga Paulo, não desconta o estresse no seu filho. Fui até ele e o peguei nos braços, ele abraçou meu pescoço.
- Me desculpa, filho. – um nó se formou em minha garganta. – Eu também queria saber onde está a sua mãe.
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