25 de Agosto de 2013
Os corredores da escola estavam movimentados, com alunos indo e vindo, mas o som de vozes e passos parecia distante para Stiles. Enquanto caminhava em direção à sala de Educação Física, seus pensamentos se voltavam para Jackson. A imagem de seu colega de classe machucado e indefeso na saída da escola, não saía da sua cabeça. Stiles sentia uma sensação de culpa e aperto no peito que ele não conseguia explicar completamente. Era como se ele estivesse conectado de alguma forma ao que aconteceu, mesmo sem saber os detalhes.
Ao chegar à porta da sala de Educação Física, ele avistou Scott sentado, mexendo no celular. Ele se aproximou, e Scott olhou para cima, dando um aceno discreto.
"E aí..." Stiles murmurou, tentando não deixar transparecer seu desconforto. "Alguma notícia sobre Jackson?"
Scott suspirou, guardando o celular no bolso. "Nada demais. Ele ainda tá se recuperando, mas... tem uma coisa."
Stiles franziu a testa, percebendo que o tom de Scott havia mudado. "O que foi?"
Scott olhou em volta, certificando-se de que ninguém estava ouvindo antes de continuar. "Segundo a minha mãe... Quando ele acordou, antes de desmaiar de novo, ele só disse uma coisa... um nome."
"O nome de quem?"
"O seu," Scott respondeu, olhando diretamente nos olhos de Stiles. "Ele disse 'Stiles'."
O coração de Stiles apertou no peito. Ele tentou processar o que aquilo significava. Por que Jackson teria dito seu nome? Ele e Jackson nunca foram amigos, muito pelo contrário. O fato de que seu nome foi a única coisa que Jackson conseguiu dizer antes de perder a consciência deixou Stiles desconfortável.
"Isso é estranho..." Stiles disse, esfregando o rosto com as mãos, tentando dissipar a sensação de desconforto que o dominava.
Antes que Scott pudesse responder, a porta da sala se abriu bruscamente, e ambos se viraram ao mesmo tempo. Uma figura alta e bem arrumada entrou, trazendo consigo uma presença marcante. O homem tinha os cabelos lisos, perfeitamente penteados para trás, uma barba impecavelmente feita e olhos claros que pareciam perfurar o ambiente com intensidade. Sua aparência era impecável, quase formal demais para um professor de Educação Física.
"Bom dia, turma," a voz grave do homem ecoou pela sala, enquanto ele se dirigia ao centro, sem olhar diretamente para Stiles ou Scott. "Meu nome é Peter Hale, e vou ser o novo treinador de vocês, tanto nas aulas de Educação Física quanto no time de Lacrosse."
Stiles sentiu um arrepio subir pela espinha ao ouvir o nome. Hale. Ele conhecia esse sobrenome, sabia que estava relacionado a Derek. O desconforto no estômago de Stiles evoluiu rapidamente para um calafrio que percorreu seu corpo inteiro. Ele trocou um olhar com Scott, que parecia tão confuso quanto ele, mas não tão abalado.
Peter continuou. "O treinador Bobby teve que se afastar temporariamente, devido a algumas... acusações feitas à ele. Então, enquanto ele lida com isso, estarei à frente de tudo."
Stiles não conseguia tirar os olhos do homem. Algo nele parecia errado, algo que ia além do fato de ele ser parente de Derek. Peter Hale irradiava uma sensação perigosa, algo que fazia os instintos de Stiles gritarem para que ele se afastasse. O frio na barriga de Stiles aumentava, e ele sabia que isso não era coincidência.
O sinal de término da aula ecoou pelos corredores da escola, e os alunos começaram a se dispersar. Stiles, ainda com a mente ocupada pelo desconforto que sentira durante a aula, observou de longe enquanto Peter Hale recolhia uma prancheta com anotações. Ele hesitou por um momento, mas decidiu que precisava falar com o novo treinador, apenas para saciar sua dúvida.
Stiles respirou fundo e se aproximou lentamente, tentando aparentar confiança. "Ei, treinador," ele chamou, atraindo o olhar de Peter, que estava prestes a sair da sala.
Peter parou e virou-se, dando um sorriso que não parecia alcançar os olhos. "Stiles, certo? Já ouvi falar bastante de você."
Stiles arqueou uma sobrancelha, tentando decifrar o tom do homem. "Ah, é? Comentários bons ou ruins?"
O sorriso de Peter se alargou, mas agora parecia mais uma provocação. "Terríveis, na verdade. Você é um dos piores, senão o pior jogador do time, mesmo estando na reserva."
A resposta atingiu Stiles como um soco no estômago, mas ele tentou disfarçar a surpresa. "Bem, é bom saber que mantenho minha reputação intacta," ele brincou, em uma tentativa falha de desviar o peso da crítica.
Peter deu um passo mais próximo, cruzando os braços enquanto o observava de cima a baixo. "Você precisa treinar mais, Stiles. Se quer ser algo mais do que um peso morto no time, vai ter que se esforçar. E bastante."
Stiles piscou, tentando entender para onde essa conversa estava indo. "Treinar mais?"
"Treinos mais pesados, mais rigorosos," Peter continuou, seu tom de voz agora suave, quase sedutor. "Se quiser, posso ensiná-lo a ser um jogador melhor. Seu físico... ainda pode ser aprimorado."
A sugestão deixou Stiles desconfortável, mas ele não conseguia identificar exatamente o porquê. A forma como Peter o observava, como se ele fosse um projeto em potencial, o deixava inquieto. "Hum... valeu, mas eu acho que estou bem sendo o pior jogador," ele respondeu, tentando manter o tom leve, mesmo que a tensão estivesse clara em sua voz.
Peter inclinou a cabeça levemente, sem desviar o olhar, como se estudasse cada expressão no rosto de Stiles. "Você está desperdiçando o que tem, Stiles. Pense no que eu disse. Com o treinamento certo, poderia ser um jogador de verdade."
Antes que Stiles pudesse responder ou perguntar sobre Derek, Peter interrompeu seus pensamentos. "Agora estou ocupado, mas podemos conversar mais sobre isso depois," ele disse, virando-se abruptamente e saindo, deixando Stiles parado na sala vazia com mais perguntas do que respostas.
Enquanto observava Peter se afastar, Stiles sentiu o peso de uma atmosfera estranha que pairava sobre a interação. Havia algo nesse homem que não parecia certo, e ele sabia que, de alguma forma, isso iria além dos treinos de Lacrosse.
***
O som dos pneus do jipe de Stiles roçando o asfalto parecia mais alto do que o normal naquela manhã. O hospital se erguia à frente, uma construção fria e imponente, refletindo o estado de espírito de Stiles. Seus dedos apertavam o volante com mais força do que ele percebia, e um peso invisível parecia afundá-lo no assento enquanto ele dirigia até o estacionamento.
Por que ele sentia tanto peso no peito? Jackson havia sido um babaca a maior parte do tempo. Eles nunca foram amigos de verdade. Então, por que, no fundo, ele se sentia responsável?
Stiles estacionou o jipe e permaneceu ali por um momento, olhando para o prédio à sua frente. As memórias do último dia na escola invadiram sua mente. A cena de Lydia chorando, os paramédicos correndo, o choque nos olhos dos colegas ao contarem o que havia acontecido. Jackson, espancado e trancado em um armário a noite inteira.
Ele balançou a cabeça, tentando afastar o desconforto que o dominava. Não havia como ele ter culpa, certo? Ele não tinha nada haver com Jackson, ele nem ao menos tinha mais um relacionamento com Theo, para que ele o ameaçasse. E, de fato, depois de todo o drama com Scott, Theo, e Derek, ele não queria acreditar que o que acontecera com Jackson tinha qualquer ligação com ele.
"Talvez eu só me sinta mal porque ninguém merece passar por isso", ele murmurou para si mesmo antes de desligar o motor e sair do jipe.
Atravessando as portas do hospital, o ambiente estéril e o cheiro de desinfetante o envolveram. Cada passo que ele dava em direção ao quarto de Jackson parecia aumentar o peso em seu peito. Ele não sabia o que diria. Jackson poderia acordar e lançar algum insulto, ou, pior, talvez estivesse frágil demais para isso.
Subiu de elevador até o terceiro andar, onde Jackson estava internado. As paredes brancas e os rostos cansados de enfermeiros e médicos faziam o hospital parecer ainda mais frio. Finalmente, ele encontrou o número do quarto de Jackson e parou em frente à porta, hesitante. Ele respirou fundo e bateu levemente antes de entrar.
Lá estava ele, deitado na cama, seu rosto inchado e coberto de cortes. Ele estava pálido, mas acordado, olhando para o teto com uma expressão apática e um olhar longínquo, como se não estivesse ali.
Stiles tentou não fazer barulho ao entrar, mas Jackson virou a cabeça, os olhos inchados se fixando nele. Houve um momento de silêncio constrangedor. A respiração de Stiles ficou presa na garganta. Ele nunca tinha visto Jackson assim... vulnerável.
“Você...” Jackson murmurou, sua voz rouca e fraca. "Veio ver o estrago?"
A provocação soou, mas estava vazia. Não havia raiva real ali. Apenas dor e ressentimento.
Stiles fechou a porta e deu alguns passos para mais perto da cama. "Eu... só queria ver como você estava."
"Claro", Jackson soltou um suspiro amargo e olhou para o teto novamente. "Todos querem ver o resultado de um declínio. Faz bem para o ego deles."
Stiles coçou a nuca, incerto de como continuar. Ele não queria que essa visita fosse mais um fardo para Jackson, mas, ao mesmo tempo, não conseguia afastar o peso em seu peito. "Isso é... complicado, cara. Eu sinto muito pelo que aconteceu."
"Sentir muito não muda nada." Jackson virou a cabeça lentamente, seus olhos fixos nos de Stiles. "Sabe o que é engraçado? Antes disso, eu pensava que nada poderia me derrubar. Eu era invencível. Mas agora..." Ele gesticulou fracamente em direção ao próprio corpo. "Aqui estou. Vulnerável. E a única pessoa que aparece é você."
Stiles se aproximou, puxando uma cadeira e sentando ao lado da cama de Jackson. "Não sei o que dizer. Mas eu tô aqui. Não porque quero ver seu estado, mas porque... sinto que preciso estar."
Jackson fechou os olhos por um segundo, respirando profundamente. "Sabe, Stiles, há coisas que você não entende. Coisas que eu nunca deixei ninguém ver. Você sempre foi um alvo para mim, e... mesmo assim, está aqui."
O silêncio entre eles foi profundo, carregado de uma imensa tensão. Stiles desviou o olhar, sentindo o desconforto crescer. "Por que você não me conta o que aconteceu, Jackson? Quem fez isso com você?"
Jackson riu, mas a risada era vazia, dolorida. "O time resolveu ficar do lado do Theo, e então decidiram me agredir." Disse com um forte tom de sarcasmo.
Stiles engoliu seco, virou as costas para Jackson, percebendo o erro de ter ido ali, ele não sabia o motivo, mas ele preferiu não tocar no assunto a qual Jackson havia falado seu nome entre os apagões.
"Stiles..."
Stiles congelou por um momento ao ouvir Jackson chamá-lo, mas não se virou. O ar parecia mais pesado, e ele se esforçava para manter o controle da respiração. As palavras de Jackson eram enigmáticas, mas Stiles sabia que havia algo errado. Ele não podia deixar aquilo passar, mesmo que sentisse um turbilhão de emoções girando dentro de si.
Ele deu um passo à frente para sair do quarto, mas Jackson o chamou de novo, desta vez com uma voz mais hesitante, quase vulnerável.
"Stiles... espera."
Relutante, ele se virou, vendo Jackson tentar se sentar um pouco mais ereto na cama. Havia uma dor evidente em seus movimentos, e um certo desespero em seu olhar. Algo havia mudado no tom dele, e isso fez Stiles hesitar.
"É que... Eu não lembro de tudo..." Jackson começou, sua voz trêmula. "A verdade é que... eu não sei quem fez isso comigo."
Stiles franziu a testa, aproximando-se mais uma vez da cama. "Você... você não lembra?"
Jackson balançou a cabeça lentamente, com os olhos se fechando por um instante. "É como se tudo fosse um borrão. Eu me lembro de estar no vestiário... e então, tudo fica escuro. Quando acordei, já estava aqui. Os médicos disseram que fui encontrado trancado no armário... mas quem fez isso? Eu... eu não sei."
A revelação pegou Stiles de surpresa. Ele havia chegado ali com tantas suposições, achando que Jackson pudesse fornecer respostas. Mas, em vez disso, ele estava tão perdido quanto ele.
"Então... nada?" Stiles perguntou, tentando entender. "Nenhuma lembrança do ataque, de quem poderia ter feito isso?"
Jackson balançou a cabeça de novo. "Nada. É frustrante, Stiles. Eu o…deio não saber o que aconteceu. Mas... o que quer que tenha sido, me deixou assim. E agora... eu sou um alvo fácil, caso queiram finalizar o trabalho."
Stiles sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Se Jackson não conseguia lembrar, quem mais poderia saber o que realmente aconteceu?
"E quanto a Derek Hale?" Stiles perguntou num impulso, a voz mais alta do que pretendia. Ele nem sabia por que tinha mencionado Derek, mas a ideia não saía de sua mente. Ele não podia afastar as suspeitas.
Jackson levantou uma sobrancelha, parecendo confuso. "Derek? Nem sei quem ele é."
"Eu não sei..." Stiles suspirou, passando as mãos pelo rosto. "É só... eu só pensei que talvez ele pudesse saber de algo."
Jackson deu uma risada fraca e dolorida. "Você é... sempre misterioso Stiles. Mas não, não me lembro de nada envolvendo um tal de Derek."
Stiles não pôde deixar de concordar, mas a sensação desconfortável não desapareceu. Derek poderia ser capaz de muitas coisas, especialmente se sentisse que alguém representava uma ameaça para ele.
***
A noite caía, e o vento frio da cidade chicoteava o rosto de Stiles enquanto ele caminhava em direção à casa de Derek. Cada passo era uma luta para manter a calma, sua mente rodava em círculos, cheia de perguntas e poucas respostas. A visita ao hospital deixou um nó apertado no peito de Stiles — ver Jackson naquela cama, sem memória do ataque, o fez sentir um peso inexplicável.
Ao chegar à porta, ele hesitou por um segundo, respirando fundo antes de bater. O som dos nós de seus dedos ecoou na varanda vazia, e logo a figura de Derek apareceu no reflexo da janela, com um olhar confuso, mas não surpreso.
"Derek," Stiles começou, tentando não soar tão hesitante quanto se sentia. "A gente precisa conversar."
Derek franziu as sobrancelhas, mas abriu a porta, permitindo que Stiles entrasse. O ambiente estava escuro, iluminado apenas pela luz fraca de uma lâmpada no canto. O silêncio entre os dois era quase palpável, e Stiles sentiu a tensão aumentando a cada segundo que passava sem uma palavra.
"Sobre o quê?" Derek perguntou, sua voz rouca, enquanto ele se encostava em uma bancada, cruzando os braços sobre o peito.
Stiles caminhou lentamente até o centro da sala, parando perto da janela. Ele olhou para fora, como se estivesse ponderando suas próximas palavras, antes de se virar para encarar Derek. "Visitei Jackson hoje."
Derek permaneceu impassível, mas Stiles notou uma leve mudança em sua postura. Algo quase imperceptível, mas que despertou um alerta na mente de Stiles.
"Ele está mal", continuou Stiles, com a voz casual, como se estivesse apenas fazendo um comentário. "Ele não se lembra de nada. Do ataque, na escola… nada."
Derek não disse nada, seus olhos fixos em Stiles, como se estivesse analisando cada palavra que saía da boca dele. Mas o silêncio era revelador demais. Ele estava escutando atentamente.
"É estranho, né?" Stiles disse, dando um pequeno passo à frente. "Quer dizer… um cara como o Jackson? Forte, popular, sempre com uma resposta afiada na ponta da língua. De repente, ele é encontrado inconsciente no vestiário, espancado. E ninguém sabe quem fez isso."
Derek estreitou os olhos, a tensão em seu corpo evidente, mas ainda assim, ele manteve o controle. "Você acha que eu sei de alguma coisa?"
Stiles deu de ombros, fingindo despreocupação, mas seus olhos cravaram-se nos de Derek. "Eu não sei. Você sempre parece saber mais do que aparenta. Especialmente quando se trata de proteger alguém." Ele logo lembrou da conversa no carro em relação ao Theo.
Os dois ficaram em silêncio por um longo momento. Stiles observava cada pequena reação de Derek, procurando uma pista, qualquer sinal de culpa ou hesitação. Derek se afastou da bancada e começou a caminhar pela sala lentamente, como se estivesse ponderando as palavras de Stiles.
"Eu não faria isso," Derek finalmente falou, sua voz baixa, quase um sussurro. "Mesmo que eu quisesse proteger alguém."
Stiles sorriu de lado, um sorriso pequeno e sem humor. "Não estou dizendo que foi você. Mas, se fosse, eu meio que entenderia. Sabe... Jackson não é exatamente o colega dos sonhos."
Derek parou, encarando Stiles com intensidade. "Você veio aqui pra me acusar, Stiles?"
"Não," Stiles respondeu, sua voz finalmente firme, deixando claro que ele estava testando os limites. "Eu vim aqui pra saber se você tem algo a dizer."
Mais um longo silêncio se seguiu. Derek desviou o olhar por um momento, como se estivesse pesando suas opções. Isso foi o suficiente para que Stiles percebesse a tensão que ele tentava esconder.
"Você me conhece," Derek murmurou, sua voz carregada de algo que Stiles não conseguiu identificar de imediato. "Eu posso ser o vizinho misterioso, que pode aparentar ser perfeito, mas eu não fiz isso."
"Então quem fez?" Stiles insistiu, avançando mais um passo. "Porque alguém fez, e Jackson está pagando o preço."
Derek olhou profundamente nos olhos de Stiles, a intensidade de seu olhar quase o sufocando. "Se eu soubesse, você seria o primeiro a saber."
Stiles o observou por mais alguns segundos, tentando decidir se acreditava ou não. Algo no tom de Derek sugeria uma verdade complexa, uma que ele não estava pronto para admitir ainda.
"Seja o que for, eu vou descobrir," Stiles disse, virando-se para a porta. "E espero que você não esteja envolvido, porque… eu não sei se conseguiria lidar com isso."
Derek não respondeu, apenas observou Stiles sair. O som da porta se fechando ecoou pela sala, deixando Derek sozinho em um silêncio profundo.
A casa estava silenciosa. O barulho dos talheres arranhando o prato era a única coisa que preenchia o ambiente, enquanto Stiles jantava lentamente na cozinha. A luz fraca iluminava o cômodo, criando sombras longas nas paredes. Seu pensamento ainda estava preso ao encontro com Derek. O peso da suspeita sobre o ataque a Jackson rondava sua mente como uma nuvem sombria.
A porta da frente se abriu com um rangido, e o som dos passos pesados de seu pai ecoou pela casa. Stiles não se virou, mas soube que o xerife Stilinski estava cansado. A tensão no ar ficou palpável quando Noah entrou na cozinha, colocando seus pertences na bancada com um baque firme. O estalar dos objetos ressoou, e Stiles congelou por um segundo.
“Oi, pai,” Stiles disse, a voz fraca. Ele não precisava olhar para saber que algo não estava certo.
Noah puxou uma cadeira e sentou-se à mesa, cruzando os braços, o rosto endurecido. "Fiz algumas perguntas sobre o que aconteceu com Jackson hoje," ele começou, a voz grave, sem rodeios.
Stiles engoliu em seco, sentindo o peso daquelas palavras. Ele colocou o garfo de lado, perdendo o apetite. "E o que você descobriu?" Ele tentou manter a voz neutra, mas o nervosismo estava evidente.
Noah olhou diretamente para ele, seus olhos examinando cada expressão no rosto de Stiles. "Perguntei a todos que estavam lá no momento em que o encontraram. E alguns alunos mencionaram algo interessante." Ele fez uma pausa, seu olhar se intensificando. "Disseram que poderia ter sido o Theo Raeken."
O nome de Theo fez o coração de Stiles acelerar. Ele mordeu o lábio, tentando não reagir, mas sua mão tremeu ao pegar o copo de água. "Theo? Por que Theo?" Ele perguntou, forçando uma expressão de surpresa.
"Você deve saber muito bem por quê," Noah retrucou, a raiva começando a se infiltrar em sua voz. "Há alguns dias, Theo e Jackson tiveram um desentendimento. E adivinha só? Aparentemente você foi o motivo desse desentendimento."
Stiles engoliu em seco novamente, sentindo o clima entre eles ficar mais denso. Ele sabia que seu pai estava cavando mais fundo, tentando chegar a uma verdade que ele não estava pronto para enfrentar.
"Foi só uma besteira, pai. Um mal-entendido. Nada sério." Stiles tentou desviar, mas a tensão crescente no ar o fez perceber que suas palavras não estavam surtindo efeito.
Noah se inclinou para frente, seus olhos agora carregados de algo mais do que apenas suspeita — havia uma mistura de decepção e fúria. "Stiles, vou te fazer uma pergunta, e eu quero a verdade." Ele deu uma pausa pesada, antes de continuar. "Você e Theo têm alguma coisa? Algo... a mais do que só amizade?"
As palavras caíram como uma bomba na mesa. Stiles sentiu o sangue esvair-se de seu rosto. Ele abriu a boca para responder, mas nenhum som saiu no começo. Sua mente corria em círculos, buscando desesperadamente uma maneira de escapar daquela conversa.
"O quê? Não! Não, pai, eu e o Theo… a gente… a gente só… só somos amigos. Nada além disso," ele gaguejou, tentando parecer convincente, mas a mentira parecia fraca até para ele.
O rosto de Noah endureceu ainda mais, seus olhos agora cheios de fúria reprimida. "Você está mentindo pra mim, Stiles?"
"Eu não tô!" Stiles protestou, a voz vacilante. Ele sabia que estava se afundando mais a cada palavra.
Sem aviso, Noah se levantou bruscamente da cadeira, batendo as mãos na mesa. "Você acha que pode mentir pra mim na minha cara? Eu sei o que está acontecendo! E se você não for homem o suficiente pra admitir a verdade, então você é mais fraco do que eu pensava!"
Stiles tentou se levantar, as palavras presas na garganta, mas antes que pudesse reagir, sentiu o primeiro golpe. A mão de seu pai o acertou com força no rosto, o impacto ecoando pelo ambiente silencioso. Stiles caiu no chão, atordoado, a dor irradiando pela mandíbula.
"Pai, para!" Ele gritou, mas Noah estava cego pela raiva. O xerife se abaixou, puxando Stiles pelos cabelos e o jogando contra a parede.
"Você é uma vergonha!" Noah gritou, seus olhos selvagens. "Tudo o que eu fiz por você, e é assim que você me retribui? Falando mentiras, e pior! Tendo esse tipo de comportamento homossexual!? Não o criei para isso."
Os golpes continuaram, e Stiles tentou se defender, levantando os braços para proteger o rosto, mas seu corpo já doía demais. As lágrimas começaram a escorrer de seus olhos, e o desespero tomou conta. Ele precisava sair dali, precisava fugir daquela loucura.
Finalmente, em um impulso de pânico, Stiles se levantou cambaleando e correu para a porta da frente. Ele mal conseguia enxergar direito, sua visão turva pelas lágrimas e pela dor. Abriu a porta com dificuldade e correu para fora em busca de ajuda, talvez até de Derek, a noite fria o envolvendo enquanto ele tropeçava na calçada.
O som de um carro se aproximando veio de repente, mas Stiles não teve tempo de reagir. Um farol brilhou em sua direção, e antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, sentiu o impacto brutal do veículo o atingindo em cheio.
Seu corpo foi arremessado no ar e, em seguida, tudo ficou escuro.
23 de Setembro de 2013
Scott caminhava em direção à um corredor mais afastado da delegacia, onde as luzes piscavam ocasionalmente, projetando sombras trêmulas nas paredes. Ele encontrou Theo, que o esperava, com os braços cruzados e um olhar impassível. O lugar era deserto e silencioso, o ambiente perfeito para uma conversa longe de ouvidos curiosos.
"Por que você me chamou aqui, Scott?" Theo perguntou, com a voz baixa, mas carregada de desconfiança. "O que rolou?"
Scott respirou fundo, a tensão em seus ombros evidente. "Eu não queria falar disso em qualquer lugar... e com qualquer pessoa. Tem alguma coisa que não tá encaixando." Ele fez uma pausa, procurando as palavras certas. "Sei que já falei isso mas... ninguém o investigou ainda, e eu sei que ele tem algo a ver com tudo o que está acontecendo."
Theo arqueou uma sobrancelha, interessado, mas ainda cético. "Quem exatamente?"
Scott passou a mão pelos cabelos, seu rosto se contorcendo com a frustração que vinha acumulando há semanas. "Sr. Hale, desde que ele assumiu o cargo, Stiles... Ele mudou. Não só emocionalmente, mas fisicamente. Eu vi o que o treinador estava fazendo com ele."
Theo estreitou os olhos. "Ce tá falando dos treinos?"
"Não são apenas os treinos," Scott afirmou, sua voz agora mais intensa, mas ainda controlada. "Eu vi as marcas nos braços dele, Theo. Os hematomas, as expressões de cansaço, a forma como ele hesita em falar sobre o que está acontecendo. Stiles estava sendo... abusado por ele, tenho certeza." Ele disse com firmeza, mas recebendo um olhar de reprovação de Theo.
Um silêncio pesado pairou entre os dois. Theo, que normalmente não era do tipo que se preocupava com os outros, pareceu desconfortável pela primeira vez. "E você acha que ele..." ainda era difícil para ambos dizer as palavras, no entanto, Theo se manteve forte em dizê-las. "...matou Stiles?"
Scott assentiu, com os olhos cheios de água. "Sim... Stiles ele... Stiles não fala nada, mas... eu via como o treinador olhava para ele, como ele o manipulava para treinos cada vez mais pesados. Como se ele quisesse quebrá-lo de dentro para fora."
Theo respirou fundo, absorvendo as palavras de Scott. "Então, o que você deve achar que o Sr. Hale tem a ver com o que aconteceu com Jackson? Porque, se ele fez algo ao Stiles, ele poderia muito bem ter feito isso também."
Scott fez uma pausa, refletindo sobre isso. "Jackson mencionou o nome de Stiles antes de desmaiar. E desde que o Hale chegou, as coisas começaram a desmoronar. Primeiro o ataque a Jackson, depois outros ataques em sequência logo depois os rumores... e agora... o Stiles."
"Você acha que ele poderia ter tentado matar Jackson por ciúmes?" Theo perguntou, cauteloso.
Scott assentiu lentamente, os olhos agora fixos nos de Theo. "Eu sei que parece absurdo, mas tudo começou a dar errado quando ele chegou. Ele tem uma história sombria, e acho que ele está manipulando tudo ao nosso redor. Ele está preparando o próximo movimento... e acho que estamos no meio disso."
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