ASHTON IRWIN’S POV
Eu e Luke havíamos chego no reformatório Hampton naquela manhã fria, porém ensolarada, de Agosto. Nosso advogado não havia nos dado muitos detalhes sobre como seria nossa estadia ali, apenas que havia sido determinado na justiça que nós dois passaríamos um bom tempo trancafiados juntamente de outras pessoas. E essas outras pessoas seriam um problema, pois eram criminosos.
Meu amigo e eu fomos parar ali por uma triste – porém previsível – injustiça. E o fato de termos sido mandados para um reformatório cheio de criminosos cumprindo pena e de psicopatas em tratamento era algo perigoso, pois não fazíamos ideia do que aquelas pessoas pensavam e nem como agir diante delas.
Fomos recebidos por um homem corpulento e careca, que usava um abrigo azul já desbotado. Sua expressão séria e suas sobrancelhas grossas não o tornavam um cara amigável, sem contar o fato de trabalhar num lugar como aquele.
-Pelo horário, vocês irão apenas largar suas coisas em seus quartos e já seguir para o refeitório. Novatos ou não, a regra é para todos. – disse ele antes de nos levar para dentro do casarão cinza e cheio de rachaduras.
Os corredores tinham um cheiro esquisito, de mofo misturado com alguma coisa que não pude distinguir. Luke só olhava para frente, sem observar nada. Ele provavelmente estava tentando manter uma postura resistente, mas eu sabia que virmos para este lugar o abalou. Nossa antiga vida não existiria mais por um bom tempo, e mesmo que voltássemos para a cidade, nada mais seria como antes.
O homem nos indicou nossos quartos, que ficavam um de frente para o outro – único acordo que nosso advogado conseguiu. Apenas largo minha sacola e mochila em cima da cama e volto para o corredor, onde aguardávamos Luke. Chegando no refeitório, noto seis mesas grandes distribuídas sem nenhuma organização. Recebemos alguns olhares curiosos, mas de início ninguém pareceu ficar interessado na nossa presença.
Eu ia me sentar à mesa quando noto um garoto, que devia ter no máximo 10 anos, em um canto do refeitório. Ele estava sentado com as pernas próximas do corpo, e ficava balançando para frente e para trás como se estivesse em algum tipo de transe. Franzi as sobrancelhas ao me perguntar o que uma criança estaria fazendo em um lugar como aquele.
Pouco depois de termos sentado, uma senhora vestida de branco veio colocar em cima da nossa mesa uma tigela com uma pasta branca.
-Que merda é essa? – Luke murmura consigo mesmo.
Eu pego a colher e dou uma cutucada naquilo. Parecia uma espécie de mingau, só que centenas de vezes mais nojento. Quando volto a erguer o olhar, percebo que uma garota entra no refeitório. A temperatura dali pareceu aumentar alguns graus com sua presença, e todos a olhavam. Eu devo ter ficado alguns minutos de boca aberta: ela é branca e tem longos cabelos pretos e com uma mecha vermelha em uma das laterais, usava uma jaqueta preta de couro, jeans e coturnos da mesma cor. Era uma visão bela e sombria ao mesmo tempo.
A tal garota encara as demais mesas e imediatamente todos desviam o olhar. Ela senta-se em uma mesa vazia e pouco depois um garoto de pele levemente bronzeada se aproxima, lhe entregando uma sacola com algumas maçãs. Franzo o cenho ao ver aquilo.
-Por que ela pode comer aquilo e nós temos que ficar com esse mingau nojento? – cochicho para Luke.
Quase que de imediato ela vira-se na nossa direção e me encara. Foi algo sinistro, já que não teria como ela escutar um sussurro daquela distância... Teria?
-Ela tem privilégios porque dorme com os seguranças. – um garoto, que devia ter a nossa idade, se aproxima de nós. Ele tem o cabelo colorido, de tom verde, e uma pele mais clara que a de Luke.
-Sério? – questiono.
Volto a observar a morena, que parece encarar diretamente o garoto que estava conosco. Pouco depois ela levanta e, com a maçã que havia dado uma mordida, se aproxima do menino agachado no canto do refeitório. Ele recebe a maçã que é jogada em sua direção e a come em instantes, com uma saciedade que eu jamais havia visto. Fiquei ainda mais curioso sobre sua presença em um lugar como aquele.
-Enfim, sejam bem vindos a este maravilhoso lugar. – o garoto disse com sarcasmo. – Me chamo Michael.
-Ashton. – cumprimentei.
-Luke. – meu amigo falou sem muito ânimo.
-Então, o que vocês fizeram para parar neste fim de mundo?
-Nada. – respondi de imediato.
-Se estão aqui, então não foi “nada”.
-Fomos pegos na hora errada e no lugar errado.
Ele nos encarou por alguns instantes, com as sobrancelhas erguidas.
-Então não fizeram nada mesmo?
Negamos com a cabeça, e o garoto assobiou.
-Nossa... Vocês são praticamente duas ovelhas no meio dos lobos. – ele ri.
-Quem era aquela garota de antes? – pergunto de repente.
Michael analisa a minha expressão e balança a cabeça, sorrindo.
-Pode esquecer, meu chapa.
-O quê?
-Eu conheço esse seu olhar. – ele caçoa. – Mas posso te garantir: você não vai querer mexer com Annabelle Lacy.
-O que ela fez?
-Os rumores dizem que, quando criança, ela matou toda a família. Mas, sabem, não passam de rumores, afinal qual criança conseguiria tal feito? Não tem muito tempo que ela está aqui, apenas alguns dias.
-Vocês têm alguma coisa? – Luke pergunta ao garoto.
-Sim, raiva um pelo outro. Eu sou curioso, e logo após sua chegada fui fuçar os arquivos dela para tentar saber os detalhes da vida dela, mas de uma forma ou outra, Annabelle descobriu o que eu estava fazendo e... Bom, a briga foi feia. Mas mais para mim do que para ela.
-Você apanhou de uma garota? – Luke ergue as sobrancelhas, surpreso.
-Esse tipo de pergunta é meio antiquada, cara, e até machista. – Michael ri. – Não subestime uma garota, ainda mais uma do tipo da Annabelle.
Olho em direção da porta, por onde ela havia saído. Aquela garota já tinha conseguido minha atenção, e eu queria muito saber quem ela era.
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ANNABELLE’S POV
Hoje à noite seria lua cheia, e seria o momento perfeito para ir até a colina e resolver meu problema de anos. Do alto da árvore em que eu me encontrava, eu podia sentir o cheiro dos cinco. Precisava achar Calum, então desço em um pulo e me deparo com um dos garotos curiosos de antes. Ele me encarava sem piscar, e eu ergui uma sobrancelha diante daquilo.
-Algum problema? – pergunto ríspida.
-Eu... Sou Ashton.
Ri pelo nariz e o encarei.
-E por que isso deveria ser relevante para mim?
Ele ficou quieto e com uma expressão de idiota. Revirei os olhos, apesar de estar me divertindo com a falta de reação dele, e segui para dentro do casarão. Porém, mal abro a porta quando esbarro em um garoto loiro, o mesmo que estava com o tal de Ashton no refeitório.
-Olha por onde anda. – ralhei, encarando-o com raiva.
Surpreso e provavelmente brabo, ele só me olhou rapidamente e foi se juntar com o amigo.
-Você viu os olhos dela? – escutei-o perguntando depois que eu já não estava mais na vista dos dois. – Por um momento achei que fossem vermelhos.
-Eles são, Luke. – o outro respondeu. – Isso é muito estranho, né?
Ri da ignorância deles e segui a procura de Calum. No meio do caminho, me deparei com um pequeno rato correndo próximo à parede, assustado. Antes de ele dar mais um passo, eu piso em seu rabo, fazendo-o parar. Me abaixo e o pego.
-Para que a pressa? – pergunto passando a mão em sua pequena cabeça. – Você não tem um propósito de vida além de transmitir doença para os humanos.
Ele começou a chiar desesperado, e eu apenas ri da situação.
-Bom, não vou mais ocupar seu tempo.
Largo-o e o deixo correr mais alguns poucos centímetros. E então, apenas com o olhar, quebro o seu pescoço, fazendo com que ele desabe de lado, duro no chão.
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