ASHTON’S POV
Acordo mais cedo do que o costume no dia seguinte e decido ir para a área externa do reformatório. Vejo que alguns detentos estão varrendo o pátio – pois era uma das tarefas e regras de lá –, e, mais ao longe e sentada em um banco abaixo de uma enorme árvore, noto Annabelle.
Discretamente, vou para trás de um pilar que ficava não muito longe de onde ela estava. Começo a observá-la em silêncio, mesmo que ela esteja de costas para mim. Algo nela me fascinava, e eu não conseguia acabar com a vontade de conhecê-la.
-Pode sair daí, Ashton. – ela fala alto o bastante para eu ouvir, e eu sou pego de surpresa. – É feio ficar espionando os outros, sabia?
Eu ainda estava paralisado de surpresa. Como ela tinha notado a minha presença ali?
-Não tenho o dia todo, garoto.
Respiro fundo algumas vezes e saio do meu esconderijo – se é que dava para continuar chamando daquilo.
-Como sabia que eu estava escondido?
-Seu cheiro. – respondeu simplesmente.
-Nossa, estou fedendo tanto assim? – cheiro minha blusa, mas para mim parecia normal.
-Não. – ela diz, se virando para me olhar. – Você por acaso é um daqueles psicopatas que tem a mania de perseguir outras pessoas?
-Hm... Não...? – respondo com cautela.
-Então por que estava me espiando?
Engoli em seco com a pergunta e abaixo o olhar.
-Não sei. – digo simplesmente.
Levanto a cabeça e me deparo com Annabelle me analisando.
-Você é diferente. – diz inclinando um pouco a cabeça.
-Diferente como?
-Você fala comigo, algo que a maioria daqui não faz, e ainda tem a audácia de me espionar. Ainda não descobri se isso te faz corajoso ou burro.
Fico em silêncio, sem saber o que dizer em relação àquilo.
-O que fez para chegar nesse lugar? Você e seu amigo loiro lá.
-Apenas fomos pegos no lugar errado e na hora errada. Quem fez a merda toda tinha bastante influência na polícia e mexeu em uns pauzinhos para nos encrencar.
-Entendo... – diz com a voz distante. – Qual seu sobrenome?
-Irwin. – respondo devagar.
-Certo. – Annabelle se levanta. – Bom, Ashton Irwin, é melhor ter cuidado nesse reformatório. Considerando que você e o seu amigo são inocentes e aparentemente não fazem mal nem para uma mosca, é melhor ficarem atentos. Afinal, estão no meio de assassinos e pessoas loucas.
Antes dela se afastar, vira mais uma vez para mim.
-E vê se não fique espionando as outras garotas que estão aqui, mesmo que elas fiquem mais em suas celas do que do lado de fora. – ela sorri com ironia. – Não vou dizer que foi um prazer conhecer você, pois eu estaria mentindo, então... Adeus.
-Espere. – digo assim que ela começa a caminhar. – Como assim adeus?
Ela para e olha para o lado, encarando o horizonte que ficava naquela direção.
-Não tenho mais motivos para ficar aqui, já fiz o que precisava. – murmura. O vento bate em seu cabelo, tirando-o de seu rosto.
Em seguida, Annabelle caminha para a saída do pátio. De repente, eu sinto uma pontada forte na cabeça e caio de joelhos no chão. Estava sentindo uma dor imensa, e meu cérebro parecia que ia explodir.
ANNABELLE’S POV
Estou quase chegando na porta quando escuto um gemido de dor. Olho para trás e me deparo com Ashton com as mãos na cabeça, parecendo em agonia. Dou de ombros e alcanço a maçaneta da porta, mas percebo que o garoto ainda estava de joelhos no chão.
Bufo comigo mesma e vou até lá.
-O que está sentindo? – pergunto indiferente.
-M-Minha cabeça... – ele murmura. – Não sei que está havendo.
Ergo o queixo dele para mim e me espanto com o que eu vejo.
-Não pode ser... – murmuro e me afasto um pouco.
-P-Por que está com essa cara? – Ashton pergunta com dificuldade.
Não respondo, apenas seguro o braço dele e o ergo do chão, arrastando-o até o meu dormitório.
No meio do caminho, um dos seguranças tenta me impedir, afinal os quartos eram classificados por sexo e não era permitida a entrada de um garoto na área feminina e vice-versa. Apenas faço um sinal com a mão e o tiro da minha frente, lançando-o longe.
-Como você... – Ashton começa a questionar, mas eu assobio alto e claro para Calum poder ouvir, e logo ele se interrompe. – Meus tímpanos quase explodiram!
-Fique quieto por um instante! – ordeno, e assim ele o faz.
Começo a andar de um lado para o outro, pensativa.
-Há quanto tempo você sente essa dor de cabeça?
-Você quer que eu responda mesmo? Porque acabou de pedir para eu ficar quieto e... –
Vou com força em sua direção e faço ele bater as costas na parede próxima ao armário.
-Não me provoque, garoto. Apenas responda.
-É a primeira vez que eu sinto isso. – responde ofegante e assustado com a minha reação repentina.
Calum aparece no meu quarto com uma expressão preocupada.
-Veja os olhos dele. – peço e me afasto, dando espaço.
Calum, assim como eu, ficou surpreso com aquilo.
-Viu? A cor da íris... – murmuro. – Ashton, por acaso você não está escondendo nada?
-O quê? Claro que não. Eu não tenho nada para esconder.
Fico de frente para ele e olho fundo em seus olhos.
-Repita isso, mas olhando para mim. – ordeno.
-Não tenho nada para esconder. – ele responde pausadamente, sem desviar o olhar.
-Está falando a verdade. – digo para Calum, que assente. – Termine de arrumar suas coisas. Partimos em meia hora.
Ele sai do quarto às pressas, deixando-me sozinha com o garoto assustado.
-O que está acontecendo?
-Quem são seus pais? – pergunto, ignorando sua fala.
-Por que isso é relevante?
-Apenas responda, idiota.
Ele suspirou pesadamente e encostou a cabeça na parede.
-Só conheço minha mãe. E ela quase nunca menciona sobre meu pai, desde que eu era pequeno.
-Sua mãe é humana?
-Que tipo de pergunta é essa?
Ao notar meu olhar, ele engole em seco.
-Claro que ela é humana. – continuou.
Assinto com a cabeça e me afasto dele. Ashton corre o olhar pelo meu quarto, e só então parece reparar no arsenal que eu tinha ali.
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