Encarei o loiro por alguns instantes, e então encarei minhas mãos começando a brincar com elas. A presença do Bakugou sempre me deixava ansioso, por algum motivo. Eu sentia vontade de gritar, correr e até mesmo vomitar. Meu estômago estava um caos.
- Oh, olha, os fogos começaram, olhe!
- Uh, sim.
Olhei para o céu vendo aquelas explosão de cores acontecendo, me levantei sendo imitado pelo mais alto. Levei minha visão até Katsuki, que estava vidrado. Seu rosto se coloria, e seus olhos pareciam brilhar.
Comparando com aquele tempo, Kacchan está realmente muito diferente, parecia levar as coisas que uma forma mais leve, claro que continuava com aquele ar intenso. Parecia maduro, determinado.
E eu?
- Mama. -- Ouvi Kiichi.
- Oh, meu amorzinho, vamos ver os fogos de artifícios juntos! -- Sorrio, o pegando no colo. O mais novo se aconchega em meus braços, observando o céu.
Bom, quanto a mim, acho que eu melhorei, mesmo que seja um pouquinho.
[...]
Me apoiei no batente da porta do quarto de Kiichi, ouvindo Bakugou tentando dialogar com a criança. O loiro havia ficado com a tarefa de colocá-lo para dormir.
- Quer ouvir uma historinha?
- Não.
- Ah, qual é, poderia colaborar comigo? Sabe, eu sou o seu pai, faço parte da família agora. -- Pudi ouvir um suspiro do menor.
- Pegue aquele de capa azul, é o favorito meu e do mama.
- Certo. -- Diz com bom humor.
Não deixei de sorrir. Me afastei, me direcionando até a área da frente de casa. Senti o vendo frio da noite assoprar meu rosto, fazendo meus cabelos se agitarem e meu corpo arrepiar. Sentei-me nos degraus da-li encarando a rua, silenciosa, que vez ou outra direcionava um automóvel qualquer.
Nunca pensei que vivenciaria coisas assim. Me sinto bem.
Fechei meus olhos, ouvindo o som das cigarras que nessa época do ano parecia mais intenso. O mundo pareceu parar, me senti leve. As lâmpadas das casas perdiam seus brilhos, aos poucos, com o passar da noite. Esfreguei minhas bochechas com as mãos, aquecendo a pele gelada daquele local.
A porta da frente foi aberta, e alguém se aproximou de mim, se sentando ao meu lado. Era Kacchan. Isso foi rápido, ele conseguiu fazer Kiichi dormir, uh.
- Você foi rápido. -- Falei baixo.
- Bom, li apenas cerca de três ou quatro páginas e então ele me expulsou do quarto dizendo que só gostava de ouvir historinhas com sua voz.
- Hahaha, certo. Mas isso já foi um progresso, não é?
- Sim, realmente. - Sorri leve.
O silêncio então tomou conta do local, me fazendo ficar desconfortável. Umideci os lábios com minha língua, abrindo a boca e a fechando algumas vezes.
Respirei fundo antes de tomar coragem para falar,
- Você... -- Acabamos por falar em uníssono. -- Oh, você primeiro... -- Falamos novamente.
- ...
Que vergonha.
Encarei o outro pelo canto do olho, vendo suas bochechas avermelhadas, não muito diferentes das minhas. Oh, Kacchan podia fazer essa expressão?
* Ring Ring *
- Oh, um instante. -- O mais alto pega o celular em seu bolso, atendendo. -- Sim, não voltarei nos últimos dias. Calada, não fale isso. - Rosna.
O que?
Aconteceu tanta coisa nesses últimos dias que eu até tinha me esquecido de pensar nisso. Espera, eu deveria me preocupar sobre as pessoas saberem sobre isso? Ah, não, que droga.
- Tá, que seja, tchau.
- Quem era?
Ok, vou só perguntar assim, abertamente, como se não fosse nada de mais. Que ele não fique bravo.
- Era só minha mãe enchendo meu saco.
- Oh, era a tia, faz tempo que não a vejo.
- Sim, desde que nos mudamos ela não vem muito para cá.
Então, espera, será que ela estava falando sobre Kiichi. Claro, ele virou pai, isso é algo que tem que ser conversando, né? Aah, eu havia me esquecido completamente.
- B-Bom, falando nisso, sobre o Kiichi...
- Não, eu não falei nada a ela sobre isso. -- Suspirei aliviado. -- Só a contei que havia alguém com quem eu queria me casar e manter a união estável.
O que...?
- K-Kacchan!?
- Acha que ainda é muito cedo para contar a nossas famílias?
- Isso é algo que deve ser discutido direito. Mas minha mãe ja sabe sobre Kiichi, tanto que ela me ajudou a cuidar dele. Porém, não a contei sobre o pai.
- Oh.
- Mas sobre a gente, será que sua família não vai pensar que a diferença entre nós é enorme? Que nós temos vidas completamente diferentes?
- O que quer dizer com isso?
- Sua mãe me conheceu ainda jovem, mas não sabe sobre mim atualmente. Você é ótimo em matemática, tem um bom emprego, e uma condição familiar maravilhosa. Mas, quanto a mim, eu nem pude terminar a minha faculdade, trabalho de meio período e as vezes faço alguns bicos por aí. -- Suspirei. -- Comparando com você, estou longe, não estou me subestimando, é só a realidade.
- Ser inteligente, ter uma boa condição familiar ou um bom emprego, nada disso é tão importante como você pensa. Só sou a pessoa que sou hoje pela insistência de meus pais. A pessoa que eu realmente sou, a pessoa que habita em meu interior, bom, não há nada que eu possa me orgulhar dela. Mas você, a pessoa que você é, nisso você, com certeza, é muito melhor que eu.
- Bom, pensando por essa lógica, acho que eu nasci para me esforçar.
- É realmente. -- Diz levando as mãos até o queixo.
- Hahahaha. -- Não contive a risada, sendo seguido pelo outro.
Aah, então é essa a pessoa que eu gosto, pela milésima vez eu tenho certeza disso.
- Ah, Kacchan, tem uma coisa que eu gostaria de te perguntar. Lembra, a muitos anos atrás, quando alguns garotos estavam falando coisas ruins para mim, e aí você foi lá e me salvou?
- Uh, sim.
- Naquela época eu fiquei tão feliz e animado que nem me lembrei de te falar isso. Kacchan, obrigado, de verdade.
- Ah, bom, não foi nada. Eu estava apenas passando por ali, e acabei ouvindo o que eles disseram, e quando te vi, quase cai no chão. Você parecia, assustado, magoado, como um gatinho de rua abandonado. Eu queria te proteger, e então fiz o que pude para te salvar e... ei por que está chorando?
- Uh?
Foi quando percebi que uma lágrima grossa havia descido de meu olho.
- Desculpe, eu apenas tive memórias ruins daquele dia, aquelas palavras são coisas que me assombram até hoje, e eu... -- Parei de falar ao sentir os dedos do loiro segurarem o meu queixo.
Senti que poderia pegar fogo, ou ter uma parada cardíaca. Ele se aproximou, sua bochecha foi pressionada contra a minha face, limpando a minha lágrima com o seu próprio rosto.
O mesmo pareceu voltar para si, se afastando rapidamente com os olhos arregalados, como se tivesse visto um fantasma.
- Olha, me desculpe. -- Pereceu entrar em pânico. -- Eu apenas senti vontade de fazer isso, eu ...
Não pude ouvir nada que o outro dizia, eu quis sentir o seu calor novamente, eu quis toca-lo, meus lábios precisavam dos seus.
Me aproximei, quase pulando em seu colo, agarrei seu pescoço o puxando para mais perto, assim juntando os nossos lábios.
Um beijo calmo, e levemente desesperado. O vento daquela noite fria balançava nossos cabelos. Seus dedos acariciavam com carinho as minhas costas, nossas línguas se revezavam entre as bocas.
Quanto tempo, quanto tempo fazia que eu não sentia esse gosto. Seu aroma extremamente cheiroso, como uma droga que vicia, talvez como nicotina. Aquilo era prazeroso, viciante.
Eu realmente amo você, Katsuki.
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