História De Repente Acontece - 23: Conversa essencial.

Pov Tris

- Bebe, precisamos conversar - falei para Lou enquanto terminava de pentear seus cabelos dourados.

Estávamos sentadas na minha cama, tínhamos acabado de sair da banheira e ela ainda estava enrolada na toalha mexendo no meu celular, vendo vídeos no youtube enquanto eu arrumava ela. 

- O que foi, mamae... - ela estava longe, encantada com o vídeo do youtube que mostrava cachorrinhos. 

- Olhe pra mim quando eu estiver falando com você, Louisa.

Ela bufou e se virou fazendo bico. A cara do pai dela, aff.

- Lou, você se lembra de quando me perguntou sobre o seu papai?

Ela ficou interessada e quase abriu um sorriso pra mim. 

- Meu papai?

Concordei com a cabeça dando um sorriso e então seus olhinhos verdes começaram a brilhar.

- Meu papai chegou da viagem dele?

Eu tinha contado aquilo pra ela porque não conseguia contar para a minha filha que o pai dela simplesmente foi um filho da puta sem coração que fingiu que ela nem existia, e claro, eu nunca diria isso para criança nenhuma. 

- Sim, bebê - dei um beijinho na testa dela - seu pai chegou de viagem, e ele quer conhecer você.

Ela começou a sorrir e eu senti meu coração partir por ter que mentir pra ela. Mas menti por causa dele, porque não queria de jeito algum que ela sofresse e nem sabia se algum dia teria coragem de contar a verdade. odiava ter que fazer aquilo.

- Quando o papai vai vim pra cá? - mas de repente o sorriso dela morreu e ela ficou mais pálida do que já é - Mamãe, e o tio Eric?

Ah meu deus, essa garota não é fácil. Nem eu sabia como responder aquela pergunta? Eric foi o pai dela quando precisamos, mas ela sempre soube que na verdade ele não era o seu pai. Ela o ama tanto, eu deveria ter pensado nisso direito.

- O seu papai está muito ansioso pra ver você, ele disse que vai vir aqui amanhã pegar a gente pra almoçar, o que acha?

- Eu quero! 

Uffa, consegui contornar o assunto. Mas não por muito tempo.

- Ele vai morar com a gente?

- Não, Lou.

- Mas porque..

Porque ele vai se casar com outra, filha... Como responder isso a uma criança?

- Porque ele não é o meu namorado nem meu marido, ele mora em outra casa.

- O tio Eric pode morar com a gente então, ele é seu namorado.

Respirei fundo, crianças...

- Seu papai se chama Tobias - mudei o assunto.

- Tobias... Eu tenho que chamar ele de papai ou de Tobias, mamãe?

- Do jeito que você quiser, mas é melhor chamar de papai, né..

- Ele é bonito, mamãe? - seus olhos brilhavam mais a cada pergunta respondida.

- Você é a cara dele.

Ela fechou cara estranhando.

- Ele tem cara de menina, mamãe - perguntou preocupada e eu comecei a rir.

Ela nem dormiu direito e nem me deixou dormir, não me deixou dormir. Ela estava tão feliz que eu até me arrependi um pouco por ter contado. Se o Tobias fizesse alguma merda, se ele tirasse o brilho daqueles olhinhos cheios de esperança, eu mataria ele. 

Lou acordou cedo, e eu claro, tive que acordar também porque ela não parava de me perturbar pra saber qual vestido ficaria melhor nela. vaidosa. 

Decidiu por fim que queria usar um vestido branco estampado rodado e uma tiara branca na cabeça combinando com a sapatilha. Ela teria ficado linda até mesmo vestida em trapos, fazer o que... Ela quis escolher até mesmo a minha roupa. Eu estava com um vestido azul claro, longo, pouco decotado, com uma fenda na perna esquerda e um pouco justo. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo simples e passei minha maquiagem, nada de exageros. 

Fiquei sentada no sofá esperando ele chegar enquanto ela ficava se olhando no espelho. 

- será que ele vai gostar de mim, mamãe?

- Ei, Lou. È claro que ele vai, quem não gosta de você? 

Ela sorriu pra mim. 

Alguns segundos depois e a campainha tocou, confesso que meu coração estava disparado também. Ela olhou pra mim surpresa e eu assenti pra ela ir abrir a porta e ela quase surtou.

Vi seus pezinhos na ponta do pé e suas mãozinhas alcançarem a enorme maçaneta cumprida e então ela puxou e revelou Tobias. Ele parecia nervoso mas logo se suavizou quando olhou para baixo e viu nada mais nada menos que a filha dele. 

- Você que é o meu papai - Louisa disse e ele se abaixou na altura dela, sorrindo. 

- Eu sou o seu papai - disse todo bobo - Você lembra de mim, filha? 

Eu fingi que nem estava ali como pretendia fazer a manhã inteira. Fiquei apenas observando emocionada enquanto ele olhava ela todinha e se segurava para não triscar nela.

Mas eles não perderam tempo e foram logo para o abraço. Tobias estava com flores nas mãos e uma caixa embrulhada, mas ela nem ligou, queria ficar curtindo o pai dela.

- Eu lembro de você - ela disse - Vocẽ é meu papai - ela olhou pra mim rindo - Olha, mamãe, o papai chegou! Ele chegou!

A consciencia dele devia estar tão pesada. E eu queria mesmo que estivesse, não ia precisar me esforçar pra fazer ele pagar pelo erro dele.

- Papai - Ela sussurrou olhando pra ele.

- Filha - ele estava com os olhos cheios e passou o dedo no rostinho dela, provavelmente limpando suas lágrimas - Você é tão linda, filha - ele deu um beijo na testa dela mais uma vez e apertou ela em seus braços enormes e ela quase sumiu, mas logo começou a rir - Eu trouxe pra você - ele entregou a caixa de presente pra ela - Espero que você goste.

Me levantei e fui de fininho para perto deles.

Tobias continuou abaixado ajudando a Lou a abrir a caixa e então seus olhos subiram dos meus pés ao meus olhos. E então ele sorriu pra mim.

- As hortênsias são pra você - ele se levantou e me entregou todo envergonhado o buquê colorido - Por você ter deixado eu consertar meu erro. 

Eu peguei o buquê e cheirei, ele sabia que eram as minhas preferidas e sabia que eu adorava aquele cheiro apesar dele odiar. E então ele ficou me olhando, os olhos ternos e verdadeiros, dois olhos castanhos pelos quais eu me apaixonei. 

E encarando ele de volta, me sentindo estranhamente bem, ouvindo apenas o barulho da Lou abrindo o presente dela, e o cheiro das hortênsias - o cheiro do nosso antigo namoro - eu pensei que talvez, apenas talvez, o nosso de repente pudesse dar certo.