01.
–Alguém com dúvida? – o professor com os fios castanhos presos em um coque dirige a pergunta aos seus alunos. Quando não tem resposta, ele encara um menino conversando no fundo da sala –Senhor Bieber, quer que eu lhe tire alguma dúvida?
–Não, senhor, tô sabendo essa porra toda – o loiro bagunceiro ironiza, um ou dois riem.
Styles, o professor, suspira.
–Espero que esteja mesmo, senhor Bieber. Afinal, não queremos repetir os acontecimentos do ano passado… ou queremos?
–Não, senhor professor!
–Certeza? Pois eu posso sempre dar aquela ligada para sua mãe, a última pareceu fazer efeito.
–Certeza absoluta, Styles – Justin Bieber cospe entre dentes, o veneno em sua voz sendo papável de tão evidente.
–Certo! Então, continuando…
–Mas, professor – o loiro o interrompe ao se por de pé –Demente também não está prestando atenção. Por que não dá uma bronca nele… quer dizer, nela. Nele! Ou seria nela? Eu nunca sei.
Desta vez, ninguém consegue segurar o riso, fazendo Harry Styles se enfurecer diante da cena.
–Senhor Justin Bieber! Se o senhor não se comportar, serei obrigado a mandá-lo para a coordenação!
–Me mandar pra sala do ruivo escroto não vai mudar o fato de que Demente é uma aberração que deveria estar sendo tratado (ou tratada?) em um hospital de malucos! Além disto, deveriam castrá-lo pra espécie não reproduzir!
–Basta! Saia desta sala agora mesmo, senhor Bieber!
–Tanto faz, tanto faz… meu velho tem dinheiro pra comprar esta escola toda mesmo, nada nunca vai me acontecer – são suas últimas palavras antes de deixar a sala de aula, as mãos ao alto em sinal de rendição.
O professor de filosofia, mesmo com o resto vermelho de raiva, suspira aliviado. Entretanto, outros alunos não sabem a hora de parar, e, descaradamente, riem e comentam das palavras do valentão loiro. Harry se irrita com a falta de consideração de alguns.
Camila, que esteve o tempo todo acompanhando a troca entre professor e aluno, vira instantaneamente seu corpo na carteira, procurando com suas orbes acastanhadas a menina de cabelo negro no fundo da sala. Por sorte, Lauren (assim de chamava ela) está submersa demais em seu caderno do Batman para notar que havia sido (diversas vezes) maldosamente citada. A latina suspira tranquila e volta sua atenção ao quadro negro a tempo de pegar o fim da explicação:
–E, como dever de casa para vocês, adolescentes mal-educados, quero que discutam com seus pais à respeito de educação.
Quando o sinal do intervalo toca, professor Styles não hesita em ajeitar o jaleco, juntar seus pertences e sair porta afora, sem nem se despedir ou dar uma segunda olhada para a turma do terceiro ano.
Adolescentes, adultos repetentes e semi-adultos correm em direção à porta da sala, desesperados por comida e paz. Alguns tomam a liberdade de puxar seus telefones e tirar fotos da matéria sendo exibida no quadro negro (o que é algo comum para os preguiçosos de plantão), outros caminham até o tablado, se sentando na plataforma de madeira para bater-papo e aproveitar seus respectivos lanches. É a única hora em que os jovens podem, de fato, tirar um pouco da tensão de seus ombros. O certo é não deixar a chance passar.
Entretanto, contrariando todo o resto, uma morena em especial nem se dá ao trabalho de sair do lugar, ela simplesmente se limita a procurar por seu fone de ouvido em um dos bolsos de sua mochila com a mão direita enquanto a outra dá os últimos retoques do desenho presente no seu velho caderno. A imagem de um monstro de nove cabeças enfeita a folha branca, ele cospe fogo ao passo que luta com um suposto guerreiro numa armadura prateada. Este chama-se Fênix e é o personagem principal da história criada inteiramente pela menina que a desenha.
–Não vai lanchar? – Lauren nem precisa levantar seus olhos do caderno para saber quem sentou na cadeira vazia ao seu lado, seu cheiro a denuncia.
–Tu já viste eu não lanchar alguma vez? – é grossa, apesar de não ser, nem por um segundo, sua intenção. E, por entender, a outra menina não leva como ofensa.
–Tem uma primeira vez para tudo, não?
–Não? – só falta o chifre do grande monstro para a morena dar aquela parte da sua história por completa.
Mas, antes, uma latina bufa: –Será que você pode me dar um pouco de atenção?
–Em um segundo.
–Eu não quero em um segundo, eu quero agora – Karla Camila Cabello, mais conhecida como Camila, age impulsivamente ao puxar o caderno da carteira da morena, esticando os braços para deixá-lo longe de alcance. Lauren, surpresa, fica sem entender por um segundo.
–Camz! – por fim reclama.
–Lolo! – ela zombeteiramente imita o tom de voz da última.
–Dá-me o caderno.
–Me dá carinho e atenção.
–Primeiramente dá-me o caderno, por obséquio.
–Promete me dar um beijo, então? – a latina morde os lábios em antecipação.
Lauren suspira:
–Quantos tu desejares.
–Oh, ok – vira de lado na carteira, sentando sobre os joelhos para poder ficar na altura da cabeça da morena e pousa o caderno, junto dos personagens que ele carrega, encima da mesa.
–Muito obrigada – Lauren mal tem tempo de terminar seu agradecimento antes de ter lábios grossos sendo chocados contra os seus, apesar de não conseguir evitar o gemido que lhe sobe pela garganta ao sentir a outra tão próxima de si novamente. E está tão imersa no sentimento que quase deixa passar o modo como a latina move uma mão para a sua nuca, deixando a outra correr livremente pelos fios negros.
É uma sensação única para Lauren tê-la tão entregue. Ela simplesmente adora os momentos que consegue pegar sua Camz sem as barreiras que ela insiste em erguer, sem a frieza, sem todos aqueles ‘hoje não’. Afinal, a morena pode até ser ingênua, inocente, carente e insegura, mas ninguém, nem mesmo o mais forte dos homens, aguentaria todas aquelas mudanças radicais de humor da latina. Ninguém menos ela. Porque Lauren a ama. E, independente da reciprocidade, ela sempre amará.
(…)
Lauren foi diagnosticada com Síndrome de Asperger aos cinco anos de idade, quando todas as crianças à sua volta começaram a avançar de um modo divergente ao dela. Seus pais, ingênuos, não compreendiam o porquê da sua caçula agir tão anormalmente ao compará-la aos outros meninos e meninas de mesma idade. E, apesar do medo, dispuseram de tudo para encaixá-la em alguma roda, com alguém.
Entretanto, Lauren não soube facilitar.
Na mesma época em que os seus colegas de classe começaram a se interessar por idas ao parque ou filmes super-heróicos, a morena ocupava miseravelmente seu tempo com desenhos feitos à mão e livros focados em heróis históricos. Nos aniversários, ela se recusava a receber brinquedos, acatando somente se fossem relacionados ao universo ou espaço sideral.
Era difícil para sua mãe satisfazê-la com peças de roupa quando seu gosto fugia (e ainda foge) completamente do que chamavam de moda, ou normal. Era difícil para o seu pai vivenciar momentos pai-filha quando Lauren tinha ainda de aprender como interagir com outros. Enfim, tudo relacionado à morena podia (e iria, com certeza) trazer uma bela de uma dor de cabeça a qualquer um que conhecesse ou gostasse dela o suficiente para se importar. Portanto, eram e ainda são poucos os que se importam.
(…)
–Lauren, está me ouvindo?
–Sim, senhora Cabello, eu estou.
–O que eu acabei de dizer então?
–Eu não sei, senhora Cabello.
A moça de meia-idade suspira, puxando do seu porta-lápis uma caneta esferográfica de cor azul. Ela distraidamente anota meia dúzia de palavras numa folha de papel branca enquanto digita números no telefone fixo na ponta da mesa de madeira.
–Miley? Será que pode me chamar os pais da Lauren, por favor? – a senhora espera a resposta positiva da secretária antes de encaixar o dispositivo de volta no gancho.
–Então, Lauren – foca sua atenção na menina sentada à sua frente –Preciso que você me responda umas perguntas antes de liberá-la. Pode ser?
–Sim, senhora Cabello – ela assente.
–Como tem se alimentado?
–Alimentação correta – é automática a resposta.
–Como tem dormido?
–Tenho dormido bem.
–A escola, como vai?
–Vai normal.
–Conheceu alguém novo?
–Ninguém novo.
–E Camila?
Nessa, ela hesita. Lauren sempre hesitará se tocarem no nome da latina, e é quando, geralmente, o assunto morre. Sua psicóloga sabe disso, motivo de fazer questão em perguntar. Ela quer que Lauren reaja, quer vê-la agir humanamente.
–O que tem a Camz, senhora Cabello?
–Me diga como ela tem andado, Lauren.
–Por quê? A senhora é mãe dela, a senhora sabe.
–Mas eu quero ouvir de você. Vamos, responda.
Como esperado, a morena começa a piscar os olhos descontroladamente, sua respiração ganhando velocidade ao passar dos segundos. Por que ela perde o controle? Ela perde o controla por ter Camila como assunto e perde o controle pela pressão imposta pela senhora Sinuhe, mas, principalmente, por ter que manter o controle.
Os olhos, a respiração. É o sinal que nunca passa despercebido pela psicóloga, o sinal que ela precisa para dar um basta na provocação.
–Lauren. Respira, ok? Preciso que você mantenha a calma.
–Eu… Eu estou calma – ela luta contra a fala.
–Então fica ainda mais calma. Você consegue?
–Eu con… Consigo – se você perguntar, ela sempre conseguirá.
–Me mostre.
Ao poucos, a morena vai controlando a entrada e saída do ar, diminuindo consideravelmente o subir e descer do seu próprio peito. Ao poucos, ela volta a respirar.
–Isso, com calma – a moça a incentiva.
–Eu consegui?
Sinuhe Cabello ri.
–Sim, você conseguiu. Boa garota.
Lauren dá um tímido sorriso de volta à psicóloga, ajeitando as partes da sua roupa que foram bagunçadas pela sua pequena crise. Afinal, ela precisa dela retas. Como sua coluna. E seu cabelo. Seus óculos, os cadarços do seu tênis. Tudo precisa estar certo, reto e perfeito. A única coisa que ela não consegue, mesmo após tentar loucamente, colocar em ordem são os seus pensamentos. Desordenados, bagunçados, sujos.
A mão da senhora Cabello encima do seu dedo inquieto a lembra que ela tem uma pergunta para responder.
Então, ela tira os óculos de grau, passando a mão no rosto.
–Camz – sussurra após um tempo –Às vezes, quando não tem mais ninguém, ela conta sobre os animais de estimação que ela e a irmã têm.
–Mesmo? E o que ela diz sobre eles?
A morena flexiona o maxilar.
–Ela diz o quanto que os animais dão trabalho, reclama sobre ter sempre de limpar toda a sujeira feita. Camz não gosta de ter que ficar os alimentando todo dia, a irmã nunca ajuda, é claro – pausa –De vez em quando, ela se arrepende de ter adotado os animais. Camz era só uma criança na época em que pediu por eles, não é culpa dela.
–Eu concordo. Mais o quê?
–Ela tem dois cachorros, um papagaio e dois hamsters. Todos com nomes de comida – Lauren ri distraidamente, presa e perdida nos pensamentos sobre Camila.
Senhora Sinuhe também: – E o que você acha sobre tudo isso, Lauren?
–O que eu acho? O que eu acho importa, senhora Cabello?
–Sim! É claro que importa! Me diz o que passa pela sua cabeça, menina.
Silêncio. A senhora discretamente suspira em derrota e desapontamento. Logo quando elas pareciam estar chegando em algum lugar, a menina resolve se fechar, caminhando de volta para o seu pequeno mundinho interior. De novo.
Mas Sinuhe não desiste.
–Lauren? Você está me ouvindo?
–Sim, senhora Cabello, eu estou.
–Consegue me responder?
É claro que ela consegue, Lauren sempre consegue.
E é quando, inesperadamente, ela procura pelo rosto da mais velha. Certeza paira em seus olhos esverdeados: –Sim, eu consigo, senhora Cabello – e na sua voz rouca.
–Ok – senhora Sinuhe assente satisfeita –Leve quanto tempo precisar.
Não é preciso muito.
–Camz. Eu… Eu tenho vontade de confessá-la segredos, às vezes.
–Segredos? – a psicóloga ergue uma sobrancelha, a morena assente –Que segredos?
–Não seriam segredos se eu te contasse, senhora Cabello…
A senhora sorri.
–Mas é claro! Não precisa contá-los, Lauren.
–Entretanto – a morena continua como não tivesse sido interrompida –Sinto que preciso tirá-los do meu peito urgentemente. Deixaria eu confidência-los à senhora?
–Sim, é claro que sim, Lauren! Nem precisa pedir!
Lauren mexe no fecho do casaco nervosamente: –Sobre o animais… Mesmo não gostando de limpá-los, nem alimentá-los, eu não acho que Camz deveria desistir deles.
–Por que não?
–Porque amor é assim, senhora Cabello.
A senhora sorri em orgulho e surpresa: –Assim como?
–Nem sempre o que eles têm a oferecer vai agradar a nós, senhora Cabello. Mas, independente da oferta, temos que continuar lutando. Porque os momentos bons, quando vêm, fazem a espera valer à pena. E… É disso o que vivemos, senhora Cabello: de momentos bons, gratificantes e satisfatórios. Camz pode até odiar ter que cuidar dos animais, mas eu sei e vejo o quanto ela se emociona por tê-los. Ela os ama.
–E você? Ela te ama, Lauren? – nem a própria Sinuhe consegue acreditar que teve a audácia de perguntar aquilo à morena. E teme terrivelmente pela resposta. Teme que a resposta mexa no progresso psicológico da menina, teme que a resposta atrapalhe o raciocínio dela. Mas, principalmente, ela teme pela sanidade de Lauren e teme pelo seu coração.
Mas a outra, como sempre, a surpreende: –Não. Camz não ama, senhora Cabello.
(…)
São quatro horas da manhã na casa da Lauren quando o telefone fixo toca. Ela está deitada, barriga e rosto virados pro colchão da cama de solteiro, sem coberta nem travesseiro. Ela traja um par de meias, calça de pijama e um casaco liso ao se por de pé, caminhando até a parede. Retira, sem pressa, o aparelho gritante do gancho e o leva até o ouvido.
–Alô? – sua voz de sono sai falha.
–Lauren?
Camz. A morena automaticamente reconhece a voz. Ela sempre reconhece. Não só a voz, mas tudo nela. Do cheiro do cabelo até o tamanho do pé.
–Camz!
–Merda! Desculpe te acordar, Lauren! Eu…
Lauren se apressa: –Não, está tudo bem, eu não estava dormindo.
Mentira. Ela dormia que nem um bebê antes de o telefone tocar, mas é óbvio que a morena jamais falaria qualquer coisa que pudesse, de qualquer forma, trazer à latina o mal ou a culpa. É uma pequena mentira para protegê-la, mentiras que Lauren conta sempre que preciso.
–Bem… Chris está?
E pronto, a latina a quebrou, mais uma vez. Quatro horas da manhã e Camila liga para sua casa. O que Lauren poderia esperar? Óbvio que a ligação não é para ela. Por que seria?
–Chris? A… Acho que está – com muito esforço, Lauren consegue formular uma frase. Ela consegue agir mesmo com o barulho do seu coração bombando loucamente no seu peito, bombando de mágoa –Es… Espera um segundo, por obséquio, Ca… Camz.
Então, após recuperar um quinto do controle do próprio corpo, ela solta o telefone, deixando-o pendurado somente pelo cabo. Joga, inquietamente, o cabelo para trás, procura pelo óculos na estante e abre a porta, caminhando pela corredor em passos rápidos e longos. Coringa, seu fiel Pastor-alemão, a segue. É somente em frente ao quarto do irmão o qual ela para, puxa o ar e dá três curtas batidas na porta azul. Quando não recebe resposta, resolve entrar.
Chris ronca escandalosamente na sua cama no outro lado do cômodo, a janela está aberta e o ar-condicionado desligado. Diferente de Lauren, Chris consegue dormir de todas a formas, em qualquer lugar, ele somente exige algo acolchoado, o resto não importando. E a morena inveja isso. Inveja o poder do irmão de conseguir cair morto em tudo quanto é lugar, de qualquer forma, a qualquer hora. Pois, para Lauren, dormir é um ritual. Ela sempre tem de cumprir todas as funções, todos os dias antes de se deitar. Caso contrário, ela simplesmente não encontra paz.
Abanando pensamentos desnecessários e se lembrando da missão em mãos, Lauren chega perto do irmão mais velho, cutucando-o no rosto. O outro, sono-leve, dá uma última roncada antes de abrir os olhos em surpresa.
–Lauren? Está tudo bem? – pergunta contra o travesseiro.
–Sim, está tudo bem.
–O que foi, então? Espero que o mundo esteja acabando para você vir me incomodar.
Lauren nem pisca: –É Camz, ela está na linha atrás de ti.
–Camila? – a mais nova assente –Merda.
Ela assiste enquanto Chris rapidamente senta na cama, tirando os fios castanhos do rosto e calçando o chinelo. Ele corre até o telefone do próprio quarto, o encaixando à orelha.
–Mila? Mas que porra que aconteceu para você estar ligando a essa hora?
Essa é a deixa para Lauren ir embora, voltar para o seu próprio mundinho. O recado está entregue, ela não tem mais utilidade aqui. A morena sabe disso, mas não se mexe. Acima da sua vontade de se refugiar para o seu habitat natural, de se esconder na sua caverna segura, Lauren precisa desesperadamente ouvir notícias de Camila. Ela precisa saber se a latina está bem, se ela está se sentindo bem. Afinal, quando uma pessoa liga para a casa da outra durante a madrugada, boa notícia ela não traz. Então, agindo à mando do coração, a morena puxa a cadeira da escrivaninha, se sentando enquanto observa os movimentos do irmão. Coringa deita próximo ao seu pé.
–Quê? Merda! Onde você está? – o tom de voz do Chris não é muito reconfortante para quem espera pelo bem da pessoa no outro lado da linha –Escuta, preciso que você mantenha a calma, ok? Me diz exatamente o que diabos está acontecendo para eu poder ajudá-la.
Ajudá-la? Ajudá-la com o quê? Milhões de situações passam pela cabeça da Lauren ao passo que ela tenta loucamente não perder o controle. Ela precisa do controle. Se não por ela própria, que seja por Camila.
–Mila, Camila, escuta – o irmão pausa, deixando seus olhos caírem na figura cansada, preocupada e ansiosa da Lauren. Ele suspira –Mila, me dá um segundo, por favor – solta o aparelho telefônico por um momento e anda até a mais nova.
–Chris? Eu não vou a lugar nenhum – esta, por sua vez, diz firme, já sabendo o que estava por vir.
–Você não entende, Lauren. Vai dormir, amanhã terá um dia cheio.
–Eu não me importo! A Camz…
Chris a corta: –Esquece a Mila, ok? Ela está bem e…
–Bem? Ela não me parece estar, não pelo modo o qual tu estás agindo.
O mais velho bufa: –Olha, pirralha, eu não queria que fosse assim, mas vou falar logo de uma vez: não, Mila não está bem! Porém, ela não quer e nem precisa da sua ajuda. Você servirá mais se estiver dormindo, está claro? Vai. Dormir. – ele termina devagar e firme, não deixando espaço para Lauren discutir.
Portanto, a morena o encara antes de se levantar da cadeira. Com um último empurrão, ela sai do quarto, olhando por trás do ombro com os olhos vazios. Camila não a queria ali, por que ela deveria ficar? Camila não precisava dela ali, por que ela deveria ficar? Não, ela não fica, ela sai. Se Camila não quer, por que ela deveria fazer? É simples.
–E nem pense em escutar a conversa, mocinha! Eu saberei se isso acontecer! – Lauren ouve as últimas palavras do irmão antes de entrar na sua pequena caverna e fechar a porta atrás de si. Se todo herói tem um lugar seguro, este definitivamente é o dela. Mas, do que adianta o lugar seguro quando a donzela está em perigo?
(…)
Faz tempo, sim faz tempo. Um ano, três meses e dez dias. Lauren saberia, ela esteve contando. Faz um ano, três meses e dez dias que Camila terminou seu caso com Chris, o irmão mais velho, mais esperto e mais bonito da Lauren. Por quê? Ninguém sabe, nem mesmo a morena. Se ela gostaria de saber? Sim, desesperadamente sim.
Afinal, eles pareciam bem.
Camila foi a primeira menina com quem Chris criou laços na escola. Eles tinham de sete para oito anos de idade quando se conheceram. Foi amizade à primeira vista. Amizade essa que, com o tempo, virou tesão. Sim, tesão. Camila nunca amou. Chris, por outro lado, se viu completamente apaixonado pela melhor amiga.
A latina era uma visitante rotineira da casa dos irmãos, antes vindo como ombro-amigo, hoje como companheira de transa. Andava sempre com Chris, para cima e para baixo. Já que, antes de criarem uma amizade coloria, eles eram melhores amigos, e nada, nem ninguém, mudaria isso.
Entretanto, com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais claro as verdadeiros intenções de Chris para com a latina. Ele queria romance, ser amado e amar. Ela, por sua vez, só procurava por alguém que pudesse lhe esquentar a cama, por mais horrível que pareça. Ela não queria alguém com quem passar o dia dos namorados, Camila só queria foder. Não queria fazer amor, ela queria transar. Chris não. Chris nunca quis nada disso. Seu verdadeiro plano? Começar com o sexo casual para então evoluir para o amor verdadeiro. Ela era sua alma gêmea, ele acreditava nisso. Também acreditou que poderia conquistar, aos poucos, o coração de pedra da melhor amiga. Em outra palavras, Chris era um tolo. Lauren é uma tola.
Uma vez, após o sexo, Camila deu um basta em toda melação do Chris, juntando suas roupas e rumando para casa sem se despedir. Para trás, ela o deixou confuso, inquieto e de coração partido. Então, um dia, eles se encontraram novamente e terminaram a relação após uma conversa sensata de adultos. Foi quando Chris finalmente entendeu: Camila não ama, ela nunca amará. Foi burrice dele acreditar que poderia ganhá-la. E é burrice de Lauren pensar o mesmo. Chris adoraria avisar a irmã sobre o cadeado que tem em torno do coração da latina. E avisaria, se não simpatizasse mais com a ideia de guardar aquela descoberta para si mesmo e deixar todos os outros homens (e mulheres) aprenderam da pior forma, como ele próprio aprendeu. Todos os homens e mulheres que a desejam, incluindo sua irmã. Ademais, Chris gosta de ser o único em saber algo sobre Camila. Ele ama ser o único em algo relacionado à ela.
Ao todo, foi um término saudável, e todos ficaram satisfeitos com ele. Todos menos a família do Chris e os pais da Camila, que torciam pelo casal. Bem, a família do Chris sem a irmã mais nova, Lauren. Esta nunca foi a favor, não. Desde o dia em que a pequena latina de dez aninhos entrou no esconderijo secreto da Lauren, procurando pelo quarto do Chris, que a morena se encontra loucamente de joelhos pela outra. Pela pequena latina. Por Camila. Lauren torcera desde o início pelo fim do relacionamento, esperando, pacientemente, que ela pudesse ter, um dia, sua chance com a latina. E, agora que ela tem, não pretende deixá-la escapar sem antes lutar. Usando todas suas armas, todos seus poderes. Afinal, por amor, loucos são sãs e sãs são loucos. E isto definitivamente é amor. Lauren definitivamente a ama.
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