Faziam três dias desde que retomei a consciência e nada de Natsu fazer o mesmo. Ele continuou a dormir tranquilamente sem alguma mudança, como se estivesse em coma. Se completou sete dias desde o ocorrido, por esse tempo, sem mais perseguições dos demônios ou mais explicações da mãe da Levy. Serviu para ela dar atenção ao estado crítico de Natsu, que não dava nenhum sinal de que iria acordar.
Grandeeney disse que agora que tinha o último ingrediente é capaz de fazer a poção que queria, a pétala de uma flor negra que segundo suas informações é perigosa e precisa de maior atenção ao ser manuseada, assim feito o seu recolhimento.
Com meu pescoço curado e bem melhor do que antes, aproveitei o dia para visitar os arredores. A floresta transmite sensações boas, parece mágica e a cada respirada era um lote de paz em meus pulmões. Na teoria, era para ser um dia para me acalmar e ficar em paz, se não fosse…
— Dá pra parar com isso Gajeel? — A voz estridente de Levy entrou em meus ouvidos, seguido do bocejo entediado do mesmo.
— Negado. — Ele a apertou ainda mais nos ombros, ajeitando o corpo que não parava de se remexer loucamente para se desvencilhar dali, sem nenhum sucesso pela força do moreno. — Vai acabar tropeçando direto pro chão de novo com esse seu tamanho. — Riu ao zoar.
— Eu consigo andar sozinha, seu brutamontes! — Esperneou em um grito.
Quase revirei os olhos, coçando os ouvidos para toda aquela gritaria em meio à uma floresta silenciosa. Nunca vi a minha amiga perder tanto a pose assim, em geral é uma garota calma e animada, e por vezes ou outras desde que vim para cá a vejo eufórica com frequência, o que sempre acontece quando ele está por perto.
— Dá pra namorarem de uma vez? — reclamei, sendo respondida por bufos da Levy.
— Negado! — Ela disse tentando virar o corpo para me ver. Fitei Gajeel, percebendo a sua falta de resposta.
Os dois vieram a pedidos de Grandeeney, que preferiria que eu não andasse em uma floresta sozinha e acabasse me perdendo, segundo ela o ambiente é como um labirinto, o que discordei ao observar os arredores, tudo tem somente um caminho, o real problema seria se eu me perdesse.
Ao pensar em sair de lá vim a procura de ar fresco, mas a verdade é que fui chutada a pontapés por passar tempo demais com o rosado, a albina já estava de saco cheio de topar comigo por perto e/ou olhar para minha cara toda vez que fosse verificar o estado do seu paciente, já que o meu ferimento se curou parcialmente ao ponto de conseguir mexer o pescoço, então deixei de dormir naquele quarto e em consequência ver Natsu frequentemente.
Como na foto, estranhamente se encontrava uma grande variedade de flores de pétalas amarelas em volta de todo o lugar, tornando a atmosfera cheia de luz junto ao verde das folhas, que harmonizam meus pensamentos e me deixam tranquila.
O ar diferente do da cidade grande, é abundante e tranquilo, vezes e outras com o vento calmo vindo em contato com a pele e o som das folhas voando por aí. Ficar aqui é agradável.
— Aconteceu algo entre vocês dois? — Fui direta, observando a reação daquele “casal” complicado.
Levy corou, enquanto Gajeel continuou com a sua cara pacífica e silenciosa. Sinceramente é mais difícil o entender do que Natsu, o rosado mesmo sendo complicado no início era bem mais fácil de ser interpretado por dizer tudo que lhe dava na telha, o contrário de Gajeel, não consigo definir o que se passa na sua cabeça, além da expressão que sempre usa. As raras vezes que escuto ele dizendo algo que o diz respeito é quando está falando da Levy pra mim, e isso só acontece quando minha amiga não está por perto… quando está, a coitada leva diversos apelidos até a cabeça explodir, mas que ele adora a irritar é o mais óbvio que consigo descobrir.
Se fosse para o definir de algum jeito, seria usando sua reputação briguenta e de badboy roqueiro, o que não ajuda em nada. Ele é como uma camada espessa de ferro que vira vidro quando fala da pessoa qual está apaixonado, e ainda é um momento raríssimo da sua personalidade.
— É claro que não! — negou a azulada, exclamando como se dependesse da própria vida.
Suspirei. Juntar os dois é uma tarefa tão difícil… acho que realmente concluí que preciso fazer isso.
— Por que não brincamos de falar da pessoa que gostamos? — Tentei levar para frente ao propor uma idéia, recebendo olhares entediados que não entendi o motivo.
— Não vai ter graça, todo mundo sabe que você gosta do Salamander — admitiu, colocando a Levy no chão que não demorou muito para esquecer a situação anterior e concordar com ele.
— Verdade, não tem graça nenhuma! — Cerrou uma das sobrancelhas, cruzando os braços para me encarar simultaneamente. — Nisso eu tenho que concordar.
— O-O quê? — Me confundi sendo fitada pelos dois. — S...Salamander?
— Fazer o quê — comentou ele, dando um assobio longo e enevoado. — Todo mundo viu você dormindo em cima dele.
— Verdade, Lu… nunca pensei que era uma depravada, sempre foi tão tímida… — Desviou o olhar sem jeito. — Será que você…
Corei com a expressão sugestiva de Levy, um dos superpoderes que vinham no pacote “melhor amiga da baixinha”, era a facilidade para saber o que ela própria está pensando, depois de tanto tempo decorei as suas expressões uma a uma.
— Como a conversa virou o foco todo pra mim?! — A interrompi do desastre que diria em seguida, fazendo-a se calar no mesmo instante. — M-Mudando de assunto… Gajeel… naquele dia que você e o Natsu saíram juntos…
Após ter morrido com a frase, ele me fitou de modo curioso, abrindo o sorriso de canto ao aparentar se lembrar de algo.
— Ah, aquele dia? — pronunciou com um ar duvidoso. — Nada demais, eu o levei pra alguns colegas meus mas não durou muito, parece que umas garotas pararam ele e foram pra outro lugar… sabe, fazer aquela coisa a três.
— O QUE?
— Estou brincando — respondeu para o meu alívio, soltando uma risada em seguida. — Ele parecia estar com a cabeça em outro lugar, então foi embora.
— Entendo — falei me recompondo. — E depois naquela noite no colchão…
— Lu, você está um pouco vermelha. — Cutucou a minha bochecha e estreitou os olhos.
— Acho que é o calor, está meio abafado…
— Nessa época o clima é fresco durante o dia.
— Sério? Nem notei. — Soltei uma risada sem graça.
Ela me encarou desconfiada, ação que fora prolongada pelo silêncio.
— Estão ouvindo isso? — Gajeel nos chamou a atenção para olhar em volta, apontando com o queixo em direção ao som, nós duas fitamos o mesmo local, ouvindo o som alto de folhas sendo pisadas por passos pesados e rápidos.
— São eles? — a azulada disse, ficando séria com o barulho vindo em nossa direção. — Não é possível que atravessaram a barreira...
— Não, é um som quadrúpede. — respondeu o moreno como se entendesse exatamente o que Levy disse, sacando o rifle pendurado nas costas. — Com fome e atraído pela nossa conversa, talvez.
Após o som ter parado repentinamente, o animal pulou do arbusto e o empurrou ao chão, que precisou apoiar o rifle em meio aos dentes do urso para não ser mordido e ter parte do ombro arrancado.
— Vamos embora daqui, Lu. — Saiu me puxando para o lado contrário. — Deixa com o Gajeel!
— E vai ficar tudo bem?! — exclamei o observando chutar o animal com força na tentativa de o impulsionar para trás. — É um urso!
O urso rugiu, trazendo a careta contida de nojo do moreno quando a saliva gosmenta lhe tocou o rosto. Torci o nariz com o cheiro forte do bafo do animal, se eu consigo senti-lo daqui, imagina o Gajeel.
— Vamos! — Me pegou pelo braço. — A última coisa que precisamos é virar comida de urso.
— E no total de zero preocupações com seu namorado…
— Ele não é meu namorado! — exclamou.
Fui puxada para entrar no aro de uma caverna coberta por folhas feito uma cortina, as empurrando para o lado à que assim consigamos passar, revelando o enorme campo do outro lado.
Me surpreendi com a beleza daquele lugar, de cara parecia ser somente uma caverna, só que ao entrar se dá de cara com o longo ambiente florido e banhado em sol.
— Que lindo… — comentei maravilhada, tendo de cerrar os olhos pelo sol direto ao meu rosto.
— Já pode começar a desembuchar! — ela disse a seguir de ter arrumado a cortina de folhas, andando em minha direção com os braços cruzados.
— Sobre o quê? — Me fiz de sonsa, observando a feição de Levy se contorcer em suspeita.
Eu sei o que ela quer saber, mas não tenho certeza se a reação seria positiva desde sempre deixou claro que não confia muito em demônios, e pelo que ouvi da história de Grandeeney sobre ela ser uma guardiã que me protege justamente de demônios, é compreensível.
— Sobre… — Levy hesita a fala abrindo e fechando a boca diversas vezes. Entrei num estado de nervosismo, me preparando para os diversos avisos sobre demônios. — Você e o Natsu… deram certo?
— Pera, o quê?
— Não me faça repetir, pelo amor de Mavis! — Ela arfou frustrada. — Só queria uma notícia do que você me contou naquele bar, bem… acho que sei a resposta, porém queria ouvir diretamente da minha melhor amiga.
A observei juntar os dedos diversas vezes envergonhada, talvez por depois de tanto tempo me alertando, enfim ter se mostrado curiosa quanto ao assunto.
— Andou arredando tanto o pé que estou surpresa em ouvir isso — comentei me sentando na primeira pedra no caminho que serviria como uma cadeira.
— Mesmo sendo aquele convencido, não posso deixar de apoiar a minha amiga. — Sorriu. — E então, o que aconteceu pra ter acordado em cima dele? O beijou? Ainda é virgem…? Você viu ele pelado…? Doeu?
— Muitas perguntas constrangedoras… — ruborizei. — Er… sim?
— Para qual delas?!
— Acho que… todas.
— Você entregou sua virgindade para o diabo! Ainda mais sendo uma humana, sua safada! — bradou apontando-me o dedo. — Grandeeney sempre me disse que dá má sorte por causa de uma história antiga…
— Levy! — resmunguei com as bochechas coradas.
— Bom, acho que o que importa é se você está feliz, mesmo sendo aquele convencido! — repetiu. — Seria justo se eu te contasse o motivo do Gajeel estar comigo também, é uma longa história.
— Estou toda a ouvidos.
— Sabia qual o motivo do Gajeel sempre se envolver em brigas? — contou num sorriso triste e num ar totalmente diferente de antes, sentando-se ao meu lado para fitar o céu. — Antes eu o achava um idiota por andar com aquela gente que ele anda e sempre participar de brigas em troca de dinheiro. Acho que a idiota era eu por tê-lo julgado antes de saber o motivo, mesmo que pelo método.
Concordei silenciosa. A reputação dele é péssima, Gajeel é conhecido por faltar sempre as aulas e é sempre encarado com maus olhos pelos alunos que não o conhecem direito. Por nunca estar dentro de uma sala de aula, é mais fácil encontrá-lo com o outro lado da escola, os “delinquentes”, eu diria, qual sempre organizam apostas diversas entre si.
— Ele fazia essas coisas porque precisava de dinheiro para cuidar da doença da mãe, já que nunca conseguia um emprego por o olharem torto nas entrevistas de emprego, o viam como uma péssima escolha. Babacas… — Suspirou pesadamente. — Teve um dia que ele me procurou e como sempre me encheu o saco, me zoou de todos os diminutivos possíveis e riu, e ainda sim, ele parecia muito diferente, e é claro que eu percebi, deu para notar pelo tom de voz mais forçado que o normal. O estado da mãe dele havia piorado mais, com o aparecimento incomum de manchas azuis acinzentadas por todo o corpo, por não ter nenhuma noção do que fazer, os médicos a colocaram para repouso em casa com o mísero tratamento de sedativos apenas para diminuir a dor. É por isso que parecia tão pra baixo.
— E o que você fez?
— Deixa eu terminar, Lu! — reclamou. — Eu arranquei dele o motivo de estar tão para baixo e ouvi os seus problemas, não podia deixá-lo dessa forma, não sou uma pessoa ruim! Nunca tinha o visto triste em todo esse tempo, sabe o que é isso? E depois de tudo fui ver o estado da mãe dele, o estado era péssimo… a parte branca dos olhos foi tomada em um azul transparente e opaco, além das manchas a pele estava pálida, parecia um corpo sem vida — disse. — Foi por isso que fiquei tanto tempo longe de você durante esses dias, até fiz aquele trabalho junto ao Gajeel, foi quando descobri que era uma doença causada por magia negra.
— Doença demoníaca…? Por que ela estaria infectada sem ter nenhum envolvimento com demônios?
— Não sei, para um teste…? Se o trabalho do demônio era imobilizar a vítima, deu certo — respondeu. — Os médicos não eram capazes de diagnosticar a doença por não terem poder para isso, precisaria de um médico capaz de usar magia pura, como a minha mãe. Ela usou seu poder mágico para a curar parcialmente, dando a mãe do Gajeel uma chance de sobrevivência… e como agradecimento, ele….
— Ele…?
Levy avermelhou as bochechas, mordendo o lábio inferior e cerrando o punho.
— Ele me beijou...
— Já era hora, finalmente!
— Finalmente?! Não é assim que se agradece as pessoas! — Levantou brusca. — E a minha mãe viu tudo!!! Brutamontes idiota...
— E desde aí não desgruda de você. — Abafei o riso. — Que fofo.
— Assim não tem graça, droga. — Bufou. — Vou ir ver se o idiota não foi comido pelo urso, não sai daí, okay?
Despedida pelo meu sorriso e o aceno com a cabeça, a azulada passou pela cortina de folhas e sumiu da minha vista. Fico feliz que as coisas tenham começado a dar certo entre os dois depois de tanto tempo.
Com a ausência dela, parei para observar o ambiente ao redor, detalhando e percebendo coisas que não vi antes. Como toda floresta, a magia a envolve totalmente, tendo em destaque este lugar que dava sensações mais reconfortantes que os outros lugares do bosque. Cada pétala das tulipas amarelas exalava uma aura diferente e soltava partículas douradas pelo vento.
Me levantei atraída por aquele poder mágico, entusiasmada que aquilo se assemelhe a um chamado, colocando a pequena pétala entre os dedos para a analisar melhor. Me sinto mais encaixada que o normal aqui.
Fui andando cada vez mais pelo bosque, entrando em meio a árvores que desciam vinhas verdes pelos galhos, quando próximas ao chão as folhas eram tomadas pela cor dourada em degradê. Afastei as vinhas entrando em outro campo que as tulipas iam se tornando menos constantes.
— Um… túmulo? — Feito de pedra e ouro no topo do túmulo, as vinhas cobriam parte dele, cercando a joia polida em forma triangular que fora esculpida dentro do túmulo. As plantas criaram a idem forma triangular para que assim não encoste na gema. — Dezenove anos de vida, você viveu muito pouco, hum? — falei lendo a única parte legível.
O azul da joia me lembra o céu durante a noite, apresentando delicados tons púrpura profundos. Dependendo do ângulo que eu a olhava, vez era azul, vez era roxa.
Ao a tocar de relance, uma pequena corrente elétrica corria pelos meus dedos, fazendo-me recuar com a mão pelo choque repentino.
— Lu? — Ouvi a voz de Levy me chamar. Afastei do túmulo e fui até o chamado, topando com ela me procurando pelo campo. — Aí está você! Não some assim!
— Ah, desculpa. — Sorri olhando para trás pela última vez.
— Ele quase virou comida de urso! — comentou. — Tinha que ver, eu não esperava por isso.
— Jogou ele pra cuidar de um urso sozinho e não esperava? — Me surpreendi.
— É o Gajeel, um simples urso não toma conta dele. — Sorriu de canto com o brilho especial no canto do olho. — Vamos voltar, espero que a Grandeeney saiba fazer ensopado de urso!
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