Uma corrente de sangue na minha cabeça
Juro por Deus, quero morrer dentro deste sentimento.
Dizem que sabes, quando sabes
Bem, eu sei, olhando para ti
Dessa vez ele leva rosas brancas. Não tem um motivo ou significado profundo por trás, Levi as escolhe com carinho, porém.
O túmulo está limpo, as flores anteriores, margaridas amarelas, estão murchas e marrons, mortas após tanto tempo. Em seu ritual semanal, Levi as substitui com cuidado, olhos azuis brilhando para o sol refletido na pedra.
Já é primavera, o tempo corre de um jeito imprudente, deixando suas vítimas no caminho sem olhar para trás. Ele não espera, não para, apenas segue em sua liberdade infinita, construindo, e levando, desestruturando e então reafirmando. Parece lento por um momento, mas então você pisca, e não é mais.
Já é primavera.
As coisas não estão perfeitas, Eren continua trabalhando muito para suportar e vencer mais um luto em sua vida, Zeke segue tentando encontrar seu próprio propósito de vida, Armin desistiu de resistir a Mikasa, mas isso não significa que a relação dos dois é fácil, Isabel está lutando com seu papel de mãe, estudante, namorada e mulher, ela ainda não cresceu, mas age como se tivesse. Farlan continua inseguro, quieto, observador, a paternidade trouxe a tona muito dele mesmo, o fez perceber que ambos precisam amadurecer. Connie, Nicolo e Sasha são pais incríveis, um trio com três pontas conectados, é emocionante assistir como três pessoas podem se ligar, Levi respeita a logística disso.
E Levi está vivendo.
Um ano e meio atrás ele estava preocupado em sobreviver, levantar mais um dia, aguentar. Hoje ele vive, não é perfeito, não é incrível todos os dias, mas ele tem tanto que, mesmo tropeçando às vezes, ele não consegue pensar em motivos para desistir, não mais.
Levi gostaria que Berthold tivesse tido a mesma chance. Ele não conheceu o garoto, não profundamente, os dois não tiveram a mínima chance de criar uma conexão de cunhados e talvez amigos, mas Levi não o culpa, às vezes o mundo realmente pesa demais. Mais do que ninguém, Levi entende o garoto, ele sentiu isso, ele sabe que uma mão estendida não era o suficiente.
Eren precisou dar muito mais para que hoje ele estivesse bem, uma mão não faz jus ao sentimento doado, a dedicação e o sofrimento que é lutar por outra pessoa.
Ele também não romantiza isso, não é culpa de ninguém.
– Ele está melhor. – Levi conta, como sempre o mais objetivo possível, nunca passando muito tempo ali. – Isso é um bom sinal, talvez logo você terá mais que minha voz para escutar.
Levi não saiu ileso de tudo, ele ainda é ansioso, pessimista e emocionalmente traumatizado. Seu TOC tem piorado com o passar do tempo, mesmo que suas performances nas lutas sejam boas, mesmo que Eren seja presente, um noivo atencioso, Levi tem noção do quanto de autocura vai ser necessária para um dia ele se considerar bem, mas ele está vivendo.
Olhando para a lápide de Berthold, Levi toma fôlego para ir embora.
Nanaba não é tolerante com atrasos.
A volta do treino diário é interrompida por Isabel, uma prova surpresa prende ela e Farlan na universidade, Sasha está trabalhando, Nicolo no restaurante e Connie preso em algum projeto que o impede de atender o telefone, Eren não é uma opção sabendo que ele está com Sasha, Armin está em um desfile com Mikasa e Erwin não é realmente acolhedor para a ruiva sequer considerar ligar para ele.
– Eu não me importo de pegar a pirralha, Isa, não seja idiota. – Virando o volante com a mão livre, Levi muda o percurso em direção a conhecida creche.
– Eu sei que você tem treino hoje e me sinto tão mal por pedir isso novamente.
– Eu já saí da academia. – Ele corta o discurso lotado de pedidos de desculpas, não há necessidade disso, ele adora Kaya. – Vai fazer tuas coisas, eu me viro com a cagona essa tarde, ok?
– Levi…
– Pare de se sentir culpada, ela vai ficar bem. – A ruiva grunhi no telefone, mas não discute mais, murmurando então uma despedida desanimada que faz Levi revirar os olhos.
Kaya é uma bola de energia, com quatro meses agora, a garotinha é tão esperta que surpreende, dois pequenos dentes já estão saindo de sua gengiva na frente e os reflexos são incríveis, Levi jura que já a viu tentando sentar sozinha, mesmo que Farlan murmure ciumento sobre isso.
Ela também é um raio de sol e quando Levi a pega na porta da escola de melequentos, um sorriso de canto surge sem sua permissão. Carregando um bebê gordo e babento e uma mochila enorme, Levi nunca se sentiu tão agradável, é como uma terapia pessoal, cuidar e vigiar do pequeno ser humano loiro.
Kaya é quase uma cientista, Levi supõe, ela não sabe nada sobre o mundo, apenas foi jogada aqui para crescer e lidar com isso, obrigada. Então tudo é um experimento, um acontecimento, a curiosidade é extrema e as conquistas são imensas apesar de tão simples.
O pé pode estar suado, mas ele tem um gosto e sensações incríveis na boca, assim como os dedinhos das mãos, o cabelo incomoda os olhos que doem se olhar muito tempo para a luz amarela no céu.
E ela também já entende que chorar desencadeia a atenção imediata dos adultos dispersos. Às vezes ela o faz só para testar se realmente funciona, seu sorriso banguela denuncia seu teste ao rir do desespero alheio.
Uma verdadeira cientista, realmente.
– Pirralha, eu não deveria esperar mais da filha do Farlan. – Levi diz enquanto olha para o espelho do carro, refletido nele Kaya está com um biquinho manhoso, claramente incomodada por não ter colo e carinho depois de um dia inteiro longe das suas pessoas favoritas. – Nós já estamos chegando, seja paciente.
Ela não foi, porém, logo um choro estridente soou e Levi se viu compelido a parar o carro em frente a um shopping qualquer para verificar o bebê.
O dia estava quente e a menina vestida com um macacão grosso, desajeitadamente, Levi a trocou na cadeirinha mesmo antes de pegá-la no colo, sorrindo suavemente enquanto balançava na tentativa de acalmar o choro.
Duas senhoras passam fazendo cara feia e isso é razão o suficiente para Levi decidir entrar no shopping, ele não está afim de ser acusado de sequestro hoje.
O ar condicionado os atinge e isso funciona quase instantaneamente, relaxando, Kaya para de chorar com pequenos soluços molhados, lágrimas molham seu rostinho e a baba escorrendo de seus dois dedos na boca suja todo o body rosa de babados.
Mas ela está calma, então Levi ignora a bagunça enquanto balança os braços suavemente, suspirando sem entrar muito fundo no shopping, se contentando em apenas aproveitar o ar condicionado grátis.
– Viu? Era só um pouco de calor, coisinha ansiosa. – Falando baixo, Levi bufa baixinho quando é respondido com uma risada. – Eu deveria saber que você só estava sendo uma merdinha, máquina de cagar.
Uma sequência de Ans e Hums seguem em uma confusão de baba e conversa de bebê, Kaya se expressa abertamente no colo do padrinho, já acostumada com o homem mal humorado a pegando na creche ao menos duas vezes por semana.
Não que ele vá reclamar, nunca.
– É, eu sei, aquelas botas estão realmente caras. – Olhando para a vitrine da loja de grife, o Ackerman torce o nariz, Kaya bufa e sopra em seus dedos, mastigando e falando ao mesmo tempo. – Eren é meu noivo, não meu sugar daddy, mas…
Sua mão sobe automaticamente para bater no bumbum de fralda, distraindo a menina mais um pouco com o som de sua voz e estimulação sensorial, ele nunca admitirá para ninguém que leu livros sobre o assunto, mas saber lidar com bebês é um enigma complicado para alguém como ele, então valeu a pena aprender.
– Talvez eu aproveite um pouco disso também, não faria mal-
– Levi? – A voz é familiar e é quase intuitivo quando ele se vira na direção dela, os olhos arregalados ao perceber quem é. – Isso é um bebê?
– Mãe… – A palavra é um suspiro cansado, não uma saudação, mas a mulher ignora, seus longos fios presos em um rabo de cavalo deixam seu rosto afiado à mostra, os olhos estudando o filho com cuidado.
– É bom ver você. – Ela diz muito suavemente e Levi estranha, não acostumado com o tom. – Ela é adorável.
– Sim, é. – Ele estava falando de Kaya. – O que…?
– Você parece bem. – Não escapa o olhar interessado na joia no dedo anelar de Levi, nem o brilho confiante em sua postura, mesmo assim, Levi não consegue evitar o modo como seu coração apertou com a atenção, foi a tanto tempo desde a última vez que ela falou assim com ele… – Será que podemos, não sei, tomar um chá? Eu realmente gostaria de falar com você.
– Eu não tenho dinheiro. – É automático e as palavras parecem ofender Kuchel, que torce a boca em uma carranca antes de bagunçar a cabeça. – Escuta, mãe, eu-
– É rápido. – Ela sorri nervosa, já andando na direção da praça de alimentação sem dar chance de Levi discutir. – Não é sobre dinheiro.
Kaya balbucia e com um suspiro, Levi a ajusta nos braços, as mãos segurando firmemente o bebê, inconscientemente procurando segurança.
– Eu também acho estranho. – Ele sussurra, desconfiado enquanto segue a progenitora até uma cafeteria e então a mesa escolhida por ela, o clima entre os dois é desconfortável e constrangedor. – Esse é um daqueles ótimos momentos para encher as fraldas, garota.
– Então, essa é sua…? – Kuchel sorri e Levi leva um tempo para responder, a respiração tremulando com o movimento da boca dela, tão raro e bonito, ele não sabe como se sentir com isso.
– Afilhada. – Deixando Kaya apoiada em em seu ombro e de costas para a mãe, Levi não pode evitar sua atitude protetora. – Então?
– Acho que preciso de um chá gelado. – Estende a mão, chamando o garçom. – Ela é tão gordinha, me lembra você nessa idade.
– Mãe…
– Você era tão pequeno, seu pai te levantava com uma mão só-
– Mãe! – O chamado revela o desconforto de Levi, citar o falecido marido não foi uma boa ideia. – Pare com isso.
– Não seja rude. – Ela tenta soar gentil, mas Levi reconhece de longe o brilho ameaçador nos olhos cinzentos, a paciência desaparecendo rapidamente. – Eu sou sua mãe, garoto, tenho direito de saber como você está.
– Eu não acredito em você. – Levi é sincero, cansado demais para tentar entrar no jogo de palavras da genitora. – O que quer, de verdade?
Eles se encaram, a guerra silenciosa se estende até que o atendente para na borda da mesa.
– Traga dois chás gelados de pêssego, sem açúcar. – Kuchel diz sem desviar o olhar de Levi e apenas quando os dois estão a sós novamente, ela desvia o olhar para Kaya. – Aquele seu namorado não me deixou sequer vê-lo depois do acidente, eu não pude fazer nada, Levi, tive que conseguir informações por Erwin e se não fosse ele eu nem saberia sobre sua carreira lutando, fui excluída da sua vida e eu sou sua mãe, não é justo comigo.
– O que você sabe sobre ser justo? – Levi tenta se controlar, mas é difícil com tamanha hipocrisia da mulher. – Por quê você faz isso?
Cobrindo o rosto com a única mão livre, Levi suspira fundo com os olhos ardendo e cheios de lágrimas, o peito pesa e dói só em falar com essa pessoa, ele não está pronto e ter essa conversa é um erro, ele não deveria estar aqui.
– Levi.
– Eu preciso ir. – Ele estende a mão com a palma aberta, deixando claro que não escutaria mais nada. – Não me procure, não fale comigo, só me deixe em paz, ok? Eu não me importo com o que você acha.
– Levi Ackerman! – Ela se levanta, irritada, toda a máscara anterior derrete com a audácia do seu único filho. – Não ouse, menino, não acha que já fez o bastante?
– Eu não quero saber! – Ele fala mais alto, chamando atenção de outros clientes, Kaya resmunga incomodada. – Você deixou de ser minha mãe a muito tempo, pare de agir como se fosse uma! – Ele não se importa com a expressão de choque dela, ele não pode. – Nós não temos nada em comum, eu não conheço você e não quero conhecer, eu desisti de tentar encontrar qualquer resquício de bondade em você, eu desisti… eu desisti de tentar ser seu filho.
Levi ignora seus olhos ardendo, a barriga retorcida, ele precisa ir para casa.
– Então pare de fingir que é minha mãe e me deixe em paz, nós não temos mais conserto, o que quer que existiu, morreu com o papai. – As palavras soaram como facas cortando o peito de Levi, não foi aliviante dizer o que estava enterrado, doeu, recuperar a mágoa tão bem trançada em si mesmo foi como arrombar o que estava lacrado, dilacerou.
Kuchel permaneceu parada e com os olhos arregalados, quando os dois copos de chá gelado chegaram, ela estava sozinha.
Finalmente sozinho dentro da segurança do carro, Levi toma um momento antes de colocar a bebê na cadeirinha. Seus braços seguram ela trêmulos e sem controle, ele finalmente deixa ir, chorando sobre a pequena criatura.
Pacientemente, Kaya fica quieta durante todo o tempo.
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Depois de deixar Kaya com Farlan e dirigir até a própria casa, Levi foi diretamente até o banheiro, pronto para ficar limpo e preparar o jantar para ele e Eren que, provavelmente, ainda estaria trabalhando no escritório.
Então foi surpreendente chegar na cozinha e encontrar o moreno no fogão, calça de moletom caindo nos quadris estreitos e avental fofo pendurado pelo pescoço, olhos focados na mistura na panela e braços tatuados movendo-se com ritmo, balançando o corpo – mais especificamente os quadris – ao mesmo tempo.
A visão é tão caseira e calorosa que Levi passa longos segundos ali parado, imperceptível enquanto admira o noivo cozinhar depois de tantos meses de luto silencioso.
No entanto, ele não consegue ficar apenas observando por muito tempo, seus pés o levam instintivamente até Eren e seus braços circulam a cintura desnuda, o rosto fica grudado nas costas musculosas e o nariz aspirando o cheiro de sabonete fresco daquela pele.
Eren riu anasalado depois de pular de susto, uma mão acariciando a pele pálida ao redor do seu corpo.
– Baby? Tudo bem? – Com o silêncio de Levi, ele tenta se virar para abraçar de frente, mas o Ackerman o mantém no lugar, usando a força de seus músculos mais fortes devido a todo treinamento diário para isso. – Levi?
– Podemos ficar assim mais um pouco? – Ele diz baixinho e com um suspiro, Eren cantarola, voltando a cozinhar e deixando leves carinhos nas mãos em seu corpo entre uma panela e outra.
Levi quer chorar, ele sente seus olhos úmidos e o peito pesado, a vontade de explodir e dividir a dor com Eren é sufocante, ele quer fazer isso, dizer o quanto sua mãe tentando alcançá-lo logo agora machuca, mas ele também não quer fazê-lo agora, e parece certo, abraçando o mundo em seus braços, Levi está seguro, seu ponto de apoio está bem na sua frente e ele pode lidar com seus próprios demônios por um tempo, entender seus sentimentos antes de falar, trabalhar consigo mesmo alguma vez.
E só quando Eren termina o jantar e precisa de espaço para arrumar os pratos que Levi se afasta, os olhos mais claros e o peito mais leve, é fácil sorrir para o homem lindo que o convida com a comida servida nas mãos.
Eles se sentam ali na cozinha mesmo, lado a lado enquanto cavam a refeição bem feita e por longos minutos, o silêncio é agradável e receptivo, leve de um jeito que não foi por um tempo.
– Então. – Eren é quem corta o silêncio, chamando a atenção de Levi com um sorriso pequeno em seus lábios cheios. – Como foi seu dia?
– A mesma coisa de sempre. – Da de ombros, pensando por um momento antes de completar a fala. – Demorei pois passei no cemitério e também peguei Kaya na creche.
Eren anui, segurando o garfo com um pouco mais de força, o convite indireto está ali e só depende dele mesmo para decidir, Levi nunca empurrou, apenas citando em pequenas conversas o fato de que, em seu lugar, ele estava visitando Berthold.
O moreno é internamente agradecido por isso.
– Estou com saudades da cagona, talvez a Isa pudesse vir passar um dia com a gente? Eu poderia cozinhar… – Há um brilho novo em Eren e Levi adora isso, a forma como, lentamente, seu sorriso foi se tornando verdadeiro novamente.
O sentimento de impotência e a frustração lentamente vão dando espaço para a aceitação, a saudade ainda é forte e a ferida ainda dói as vezes, mas agora ela não lateja tanto, principalmente por conta do remédio mais eficaz que Eren poderia ter, o rapaz pequeno e agora repleto de músculos definidos com seus pequenos sorrisos e mal humor infinito, o elixir Levi é tão forte que Eren se sente zonzo.
– Acho que ela adoraria isso. – Levi responde baixinho, terminando sua refeição com um suspiro satisfeito. – E o seu dia?
– Trabalho, estresse. – O revirar de olhos esverdeados é divertido. – Nem todo mundo pode trabalhar socando as pessoas, seria incrível, mas… – Deu de ombros enquanto Levi balança a cabeça, lançando um olhar falsamente decepcionado para o noivo. – Só um pensamento me manteve sã neste dia entediante.
– Ah é? – Não passou despercebido o sorriso atrevido do mais velho. – E o que seria esse pensamento?
– De que eu veria o amor da minha vida no final dele. – Piscando galante, Eren se diverte quando aquelas bochechas pálidas ficam rosadas.
– Estamos engraçadinhos essa noite, hein? – Bufa, fingindo irritação ao desviar das mãos grandes se aproximando para apertar as bochechas coradas.
– Estou tentando ter sorte aqui, ok? Seja um bom menino e me ajude nesta tarefa. – Balançando a cabeça como se estivesse falando algo muito esperto, Eren não consegue deixar de rir alto quando Levi o olha com decepção estampada.
– Idiota.
Os dois se levantam e se movem automaticamente para limpar a bagunça, a rotina é calma e afetuosa enquanto organizam a cozinha novamente. Eren até o momento acreditou que suas tentativas de flerte idiota foram ignoradas, porém Levi se manteve atento até que não restasse mais o que fazer no cômodo.
– Você sabe que não precisa fazer nada, não é? – Ele pergunta casualmente, ficando de costas para o homem mais alto. – Não para ter sorte comigo, meu velho.
Com um sorriso satisfeito, Levi anda a passos largos em direção ao quarto compartilhado, praticamente alegre por ter deixado Eren sem palavras tão facilmente, o coração acelerado com o próprio atrevimento divertido.
Ele é surpreendido quando se aproxima da cama, um corpo maior jogando o dele contra o colchão macio, fazendo com que quicasse algumas vezes no lugar.
– Eren!
– Amo quando usa pronomes possessivos. – O moreno diz enquanto afunda o rosto no pescoço cheiroso de Levi, saudade e carinho transbordando em sua voz. – Você dizendo "meu" abala meu pobre coração, garoto.
– Também te chamei de velho. – Levi diz e não reclama ao ser ignorado pois beijos suaves são espalhados até sua boca, onde Eren pairou com seus olhos arregalados contra os cinzentos dilatados.
– Oi. – Eren diz com um sopro, é um pouco dolorido e frágil e Levi ama e odeia isso, a intimidade prova o quão recente todos os problemas ainda são, atingindo seu relacionamento mais do que ele gostaria, mas é o que é, então cabe a ele cuidar disso quando Eren não pode.
– Oi. – Suavemente, o máximo que ele pode, Levi responde seguido de um roçar de lábios que faz o homem acima de si respirar mais forte, Levi então prossegue com um beijo leve e macio como pluma, muito gentilmente aprofundando a carícia, fisicamente suave de um jeito que Levi quase nunca é.
Os dois se envolvem lentamente, beijando pescoço, queixo e lábios enquanto se despem sem urgência, ainda é necessitado, porém com uma cadência diferente, como se o medo estivesse infiltrado em suas veias, deixando-os à mercê da vontade de estar o mais próximos possível.
Eren é rápido e eficiente em alcançar o lubrificante, cobrindo seus dedos longos e levando-os até onde Levi é macio, apertado e quente, cutucando com gentileza e cuidado até a introdução, que arranca um gemido baixo dos lábios do mais novo, o primeiro de muitos.
Arqueando, Levi aproveita cada segundo disso, deitado preguiçosamente enquanto recebe mais daqueles dedos, seu corpo se ajustando flexível e receptivo sob o olhar intenso do outro homem.
Ele deixa sua mente vazia, aproveitando cada segundo de Eren e quando abre os olhos, quase goza com a visão daquelas orbes encarando-o com tanta necessidade.
– Levi. – "Livai" nada mais é que um suspiro, rouco e possessivo, Eren é lindo enquanto desmonta seu garoto lentamente.
Dedos deslizam e batem na próstata, fazendo Levi abrir a boca em um gemido profundo, o corpo relaxado em êxtase controlada, vertigem de prazer nublando seus olhos.
– Eu- – Ele engole a própria respiração, engasgando com o misto de sensações, o olhar, o prazer queimando seu corpo. – Por favor…
– Eu sei, meu amor, eu sei. – Com cuidado Eren puxa os dedos antes de empurrar os quadris de Levi mais para cima, encaixando as mãos nas coxas firmes enquanto fica de joelhos, deixando suas partes inferiores próximas o suficiente. – Eu tenho você, baby.
O deslizamento suave arranca o ar dos pulmões dos dois, é profundo e dói tão bem, o prazer pulsando onde ambos estão conectados.
Eren não tem pressa em seu ritmo, batendo lentamente no fundo e voltando, focado em se mover na mesma velocidade calma e profunda, quase preguiçosa, fodendo lentamente e aproveitando cada segundo disso.
Levi não consegue manter os olhos abertos por muito tempo, perdido na sensação enquanto Eren desliza as mãos por toda sua pele, pegando onde consegue alcançar, explorando sem deixar de mover os quadris enquanto ele apenas fica lá, sem fôlego e tremendo de prazer quente.
Ainda parece pouco e soltando um som lamentável, Levi choraminga com o prazer constante em seu corpo, construído tão lentamente que arde e deixa sua cabeça pesada.
– Eren… – Ele geme, agarrando os quadris do mais velho com os tornozelo, prendendo-o contra seu corpo com firmeza. – Mais, eu preciso-
O mundo gira e sentir a posição nova é a primeira percepção de Levi, agora sentado no colo do mais alto, suas mãos procuram segurança enfiando as unhas naquelas costas bronzeadas enquanto seu próprio peso trabalha em deixar a penetração ainda mais funda.
O ângulo muda e um grito abafado escapa de seus lábios, Levi não consegue pensar quando é levantado com facilidade por braços fortes que o guia para um ritmo novo, como se fosse possível, Eren vai mais fundo, pressionando tão bem que é difícil respirar.
– Eren-
– Lá? – Com um pouco mais de pressa, Eren enruga a testa enquanto foca seu ritmo no mesmo lugar, balançando contra o corpo pálido e incrível sob suas palmas, suando enquanto segura seu orgasmo para trabalhar o do outro. – Assim?
– Ah- sim, sim… não para. – Jogando a cabeça para trás, Levi morde os lábios com força, a queimadura insistente subindo em sua barriga. – Eren-
– Lindo, eu me pergunto… – Ele arfa. – Como você pode ser meu?
Levi balança a cabeça, ele não consegue falar agora.
– Meu garoto, tão perfeito, tão incrível… – Levi geme alto o suficiente para fazer Eren gemer junto, levado pelo som.
É demais para os dois.
– Eu te amo.
Levi balança a cabeça, de repente sobrecarregado.
– Você me tem nas mãos, baby.
E ele está perdido, vem rápido e com força, desossando cada parte dele com um grito final, abafado então pelos lábios de Eren, que se desfaz junto, tão afetado quanto, murmurando entre o beijo e se movendo até a última gota, ambos estremecendo pesadamente até que a exaustão os faz cair contra os lençóis.
– Eu também te amo. – Levi sussurra o mais baixo que pode, o rosto afundado no peito do homem da sua vida.
Uma mistura de alívio, afeição, carinho e calor seguro o mantém feliz, é tão bom pois não há qualquer resquício da angústia anterior. Não é apenas uma bolha.
– Lee… – Eren chama também baixinho, cansado e largado ao lado do mais novo. – Sabe a data do nosso aniversário de dois anos juntos?
– O que tem? – De olhos fechados, Levi relaxa enquanto aspira o cheiro maravilhoso do homem contra ele.
– É um bom dia para um casamento, não é?
Arregalando os olhos, Levi não se mexe, surpreso com a decisão, com tudo que aconteceu, essa era a última preocupação dele, não enquanto Eren estivesse tão magoado.
Mas agora…
– Eu- – Parece tão bom…
– Você gosta?
Ele se vira, encontrando olhos inseguros e preocupados, os seus próprios refletem apenas afeição, e isso é o bastante para Eren suspirar aliviado, eles se conhecem tão bem.
– Eu amo isso.
É o suficiente, para os dois.
&&&
Connie, Farlan e Isabel analisam de perto Levi acalmar Kaya, parece tão fácil e rápido que o trio se vê chocado, encarando a dupla como se ambos fossem aliens.
Sasha esfria a papinha – comendo um pouco as vezes – de um lado e Eren observa tudo com certo divertimento, Nicolo está ao seu lado, não muito diferente com um sorriso grande e orgulhoso.
– Você parece bem. – O loiro puxa assunto, feliz quando Eren concorda sem demonstrar nenhuma chateação com isso.
– Agora eu estou. – Desabafa, encolhendo os ombros levemente. – Eu percebi que precisava querer isso.
– Como assim?
– Melhorar. – Explica. – Minha vida inteira ficou de cabeça para baixo, eu só trabalhei enquanto Levi recolhia os cacos e… poderia pensar que isso não era justo, mas ele nunca reclamou. – Olhos verdes brilham de orgulho. – A força dele me fez perceber que preciso tentar, ainda é uma merda, mas não estou sozinho.
– Elas tem sorte de ter você. – Nicolo diz sabendo que Eren entendeu de quem ele está falando: Sasha e Isabel. – Você poderia e tem o direito de passar por isso como e quanto tempo quiser, mas decidir tentar superar é… gentil.
– Eu pensei em todos que amo. – Ele junta as sobrancelhas, claramente afetado ainda. – Meu relacionamento, principalmente, estava sendo afetado, eu precisava fazer alguma coisa, perder novamente seria como perder parte de mim.
– Acho que entendo. – Eles se encaram, levemente constrangidos com o desabafo repentino, é confortável, no entanto. – Meu relacionamento não estava na melhor fase, sabe, Sasha trabalha demais e quando está focada só consegue pensar em comida, eu e Connie muitas vezes não recebíamos atenção por dias, isso abalou nossa intimidade, a minha com ela e a dela com Connie.
– Não fico surpreso com isso.
– Sim, até mesmo Isabel percebeu o quão frio o relacionamento parecia, e isso nunca foi só culpa da Sasha, ela sempre será assim e nós entendemos que ela precisa desses momentos para si mesma, presa na própria cabeça com um prato na mão. – Eren concorda balançando a cabeça, entendendo. – O problema estava nessa falta que eu e a outra parte sentíamos, mesmo sendo três, então… eu me vi me apaixonando uma segunda vez.
Nicolo enrugou as sobrancelhas, claramente perdido em lembranças.
– E o que você fez?
– Tomei uma atitude. – Ele conta, certo sobre isso, confiante. – E foi o melhor para todos, nosso relacionamento nunca esteve tão firme, brigamos, sim, como qualquer casal, ou trio? Mas estamos indo bem, acredito.
– Uma atitude. – Eren reflete, olhando para Levi no outro lado da sala. – Como?
– Um ponto de partida, mais do que você mesmo espera, além das expectativas. – Nicolo conta, tentando de alguma forma ajudar com suas palavras. – Algo que marca que vocês estão prontos para o que está por vir.
– Como finalizar um ciclo?
– Tipo isso.
Eles são interrompidos por Isabel se jogando entre os dois, braços magros se esticando para abraçar dois dos homens da sua vida, no rosto bonito um sorriso muito satisfeito pela própria façanha.
– O que vocês estão fofocando, velhos?
– Rude, Isabel, rude. – Nicolo reclama, rindo baixinho quando ela bufa.
– Estávamos falando… – Eren começa, falando baixo como se estivesse contando um segredo. – Sobre como nossa garotinha favorita é linda, simpática e incrível, amamos ela. – O sorriso de Isabel aumenta. – Não podemos resistir a nada que ela peça, tão especial… Kaya realmente é uma coisinha e tanto.
– Kaya? – O sorriso morre e os olhos verdes brilham de decepção. – Estou perdendo espaço para minha própria filha?
– É o que se espera quando você cresce. – Sasha se joga ao lado de Nicolo e Connie ao lado dela, os três dão as mãos automaticamente.
– Com ciúmes da própria prole? – O careca provoca, recebendo uma língua mostrada atrevidamente pela filha indignada.
– Vocês deveriam estar do meu lado! – Ela esbraveja, mas Eren não dá atenção, seus olhos são atraídos para a cena de Levi sorrindo enquanto Kaya vomita a papinha na camisa do pai, os dentes estão à mostra e as covinhas bem marcadas. – Ele nem me dá mais atenção.
Eren ri e ninguém discorda, afinal, a cena é adorável demais para não assistir mesmo.
– Eu pari meu inimigo! – Com os braços para cima, o grito de Isabel atrai Levi, que revira os olhos.
– Quanto drama desnecessário. – Ele diz balançando a cabeça, desacreditado. – Todo mundo sabe que não há competição. – Um pequeno sorriso maldoso se faz em seus lábios. – Não quando Kaya sempre será a vencedora.
Isabel grita e o resto gargalha sob a devastação da ruiva, até mesmo Farlan, que precisa desviar de um sapato voador por isso.
Mais tarde do mesmo dia, Levi se deixa cair no sofá após se despedir das visitas, não é tão tarde, mas ele se sente exausto e quando Eren inicia um cafuné insuportavelmente gostoso em seus cabelos, Levi quase dorme no lugar.
– Ei. – Eren chama, parando o cafuné ao falar. – Acha que aguenta mais algumas horas desse dia?
– Hum? – Balbuciando de olhos fechados, Levi pega a mão morena que se afastou, colocando em sua cabeça novamente, arrancando uma risada do outro com sua atitude mimada.
– Preciso ir em um lugar. – Eren murmura, piscando para a forma relaxada contra ele. – Está tudo bem?
Eren não deixa transparecer seu medo e nervosismo, ele guarda o tremor e a sensação de afundamento em seu estômago, ele sabe que precisa aceitar.
Mesmo que doa.
– Ham? – Levi abre os olhos e por um minuto Eren se sente relaxado sob o peso deles. – Agora estou bem.
– Agora?
– Semana passada… – Levi se ajusta, abrindo os olhos e parecendo mais desperto que antes. – Eu estive com mamãe- Kuchel, no dia que peguei Kaya na creche.
– Semana passada? – Eren enrugou o cenho, visivelmente preocupado, Levi dá de ombros. – Por quê não me contou?
– Eu quis lidar com isso primeiro, digerir que depois de tudo que ela fez… – Suspira. – Não existe nenhum laço entre nós mais, se é que um dia existiu.
Eren abriu a boca, pronto para dizer que ele poderia ter estado ao lado do noivo nesse momento, mas as palavras permaneceram na garganta e foram engolidas em seco diante o olhar de Levi. Preocupação cintilou clara como o dia, ficou óbvio no mesmo momento o motivo de Levi não ter dividido sua angústia imediatamente, ele estava sendo protetor, guardando Eren de problemas enquanto o próprio chafurda em suas dores sem pensar no outro.
A intenção anterior é ainda mais pesada, o coração acelerado deixa Eren enjoado, ele precisa fazer isso e por mais doloroso que seja, está na hora de iniciar seu próprio ponto de partida.
– Eu- – Ele começa a dizer, inseguro, o que atrai a atenção de Levi imediatamente. – Você tem cuidado de tudo ultimamente, desde a casa até nosso relacionamento, eu sei que não é justo e agora… marcamos a data do nosso casamento.
– Eren, não é-
– É como me sinto, e se vamos nos casar… então eu preciso ser justo com você. – Levi se aproxima para envolver o moreno em seus braços e Eren derrete contra eles, fechando os olhos e suspirando baixinho. – O que aconteceu… não é sua culpa, e se vamos fazer isso, se eu for tornar você meu marido…
Um sorriso carinhoso se abre em seus lábios, falar tal palavra deixa seu peito tão quente que é quase sufocante, ele está absolutamente ansioso para isso.
– Então eu preciso fazer direito, não é? Seguir em frente dói muito, Levi. – Abrindo os olhos, Eren encontra olhos de chumbo encarando-o tão intensamente que arrepia, ele ama esse garoto, definitivamente. – Mas com você, acho que posso fazer isso.
– Eu sempre vou estar aqui para ti. – Eles falam baixinho, quase como se estivessem contando segredos, Eren concorda com a cabeça.
– Então… sobre suas visitas semanais, o que acha de margaridas? Eu não entendo muito de flores, mas…
– Margaridas são perfeitas, amor. – Levi corta o monólogo, ele nem consegue disfarçar o quão orgulhoso está agora e com um sorriso tímido, Eren é o primeiro a se levantar.
Eles estão de mãos dadas quando saem do apartamento, juntos.
Eu seguro-te até sermos mais velhos.
Amo-te quando estou sóbrio
Esteja lá até o ar parar
A bombear os pulmões
Beija - me como da primeira vez
Mesmo nos piores momentos
Mesmo quando dói, juro que me mantém jovem.
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