Justin On
Quando a Avril começou a me perguntar aquelas coisas eu fiquei confuso, mas depois que ela disse que havia visto o Austin no auge de sua transformação resolvi contar, não seria nada justo ela ficar sem saber o quão monstro o namoradinho dela é. Assim como eu sou, mas convenhamos.
A noite estava fria, o vento soprava forte em meus cabelos e tudo o que eu conseguia fazer era ficar observando a Avril em eu quarto, assistindo algum filme de comédia, pois suas risadas davam para ouvir de longe.
Geralmente o telhado do vizinho não era confortável, muitas vezes eu dormi ali, claro que com muito cuidado para que ela ou alguém me visse ali; mas, eu precisava mostrar a ela mais imagens daquele maldito dia em que a conheci. Ela deve estar muito assustada com tudo isso, não deve estar acreditando direito, sei que a mente dela é muito mais confusa do que a de um psicopata.
Eu procuro saber coisas dela desde aquele dia do acidente, eu salvei a vida dela e ela está mudando a minha. Antigamente eu era o pior cara de todos, eu matava sem dó e nem piedade, eu era obrigado a dizer que mexia com drogas para colocar mais medo nas vítimas, porque o medo que elas sentem de mim é muito prazeroso claro que depois do sangue.
Mas hoje em dia, por culpa daquela garota loira eu não sou tão frio assim, eu ainda mato pessoas sem dó... Só que a Avril me fez criar sentimentos, que eu não tinha a muitos anos atrás, e eu odeio esse poder que ela definitivamente tem sobre mim. E bom, como eu não tinha amigos para desabafar, lá vou eu me embriagar de Bourbon, o melhor whisky que eu já tomei em toda a minha vida.
Escutei a televisão da Avril se apagar, e pude ver ela levantar de sua cama enquanto esfregava o rosto, ela parecia deprimida, como ficava quase todos os dias. Ou talvez ela esteja confusa, com medo; eu nunca iria fazer mal a ela, mas o Austin eu já não sei, não sei se ele aguentaria suportar a ideia que destinaram ela para mim e não para ele.
Muitos não sabem, mas em 1856 Austin se envolveu com uma jovem camponesa, que passou a perna em um prefeito e virou rica, o nome dela era Katherine; eles ficaram juntos durante um ano, até que ela o deixou falando que me amava e que eu era o único homem de sua vida. Naquela época, ela era a mulher mais linda da cidade, mesmo tendo várias prostitutas por ali, ela era dona de uma beleza indescritível, assim como Avril.
Katherine dizia-me todos os dias que estava apaixonada por mim, que me amava. Mesmo estando com o Austin ainda, naquele mesmo dia ele desacreditou sobre isso, ele achou que ela estava muito bêbada e fora de si, mas não. Ela se jogava para cima de mim todos os dias, até que eu consegui me inscrever no exército, eu estava disposto a deixar minha mãe e meu irmão para ajudar ao próximo.
Claro que principalmente a Katherine, ela me perturbava até em meus sonhos, quando foi voltei para casa o Austin estava muito feliz porque eles iriam se casar, mas na noite do casamento Katherine me deu um chá que imediatamente me fez dormir e acordar somente no dia seguinte, onde eu estava todo ensanguentado e por um milagre ainda conseguia respirar, e foi ai que descobri que ela era uma vampira.
Tentei de todas as formas alertar o Austin, mas ele dizia ser besteira, porque ela subitamente hipnotizava ele; nesse mesmo dia eu não conseguia mais para de comer, nenhuma comida me saciava, eu não conseguia sair de casa porque o sol machucava meus olhos. Até que Katherine me visitou a noite com um pouco de sangue, no começo fiquei perdido e confuso, mas eu tomei todo aquele copo e no mesmo instante apaguei como se houvesse algum sonífero ali.
Nos dias seguintes eu fiquei preso em casa, o sol agora queimava minha pele, meus dentes doíam quando alguém passava ao meu lado, meu olfato estava mais forte que o normal, minha audição estava mais alta do que nunca. Eu havia me transformado em um vampiro, e o pior de tudo. Eu havia me apaixonado pela mulher que me transformou.
Parei de relembrar meu passado assim que ouvi pingos caírem, pensei que eram de chuva mas apenas me toquei quando ouvi um choro baixinho vindo do quarto da Avril, me levantei rapidamente e corri para a janela dela. Ouvi ela fungar em seu banheiro e depois mais alguns pingos, senti um cheiro totalmente forte de sangue e arregalei meus olhos ao me lembrar do que ela fazia quase todas as noites.
Imediatamente abri a janela sem fazer barulho algum caminhando até a porta do banheiro que apenas se encontrava encosta, ouvi ela fungar forte dessa vez e respirar fundo logo resmungando:
- Deus, porque o Senhor foi tirar as pessoas mais importantes da minha vida? – ela falou com a voz falha. – Porque? Me diz? Porque eu sempre tenho que sofrer nessa vida?
Ela começou a chorar mais e mais, pensei em entrar ali do nada e abraçá-la e falar que tudo iria ficar bem, mas isso iria contra o meu instinto, o que iria ser mais forte. Eu até poderia a machucar, ou algo assim. Ouvi mais soluços e ela logo resmungou novamente.
- Hunf, acho que você nunca deve me ouvir, talvez você nem exista. – ela riu sarcástica. – Porque se existisse, você não teria tirado os bens mais preciosos que eu tinha, eu me lembro de quando eu era menor e sempre lhe agradecia por ter os melhores pais do mundo e o melhor irmãozinho também! Mas sabe, eu cresci e parece que você fez questão de me tirar tudo o que eu te agradecia... Me tirou eles como se eu fosse ingrata com tudo. – ela fungou. – Talvez eu seja ruim o suficiente e preciso sofrer para o resto da vida né? Talvez eu nunca tenha alguém, assim, que não seja canibal como o Austin ou maluco com o Justin. – ela riu falando meu nome.
Sorri ao ouvir ela dizer meu nome e rir, sim eu sou louco, só que isso é totalmente diferente. Avril precisa de atenção, duvido que o Austin tenha percebido os cortes nos pulsos dela ou até mesmo nas pernas, mas ela os esconde muito bem então acho que ele nem desconfia. Ele não deve desconfiar que as risadas dela não são verdadeiras, que elas não possuem a alegria que ela havia antes, mesmo eu nunca tendo a visto antes.
Olhei para o espelho novamente e ela estava pronta para mutilar seu pulso esquerdo, fiquei desesperado e a chamei entrando no banheiro, deixando-a espantada e no mesmo segundo escondendo a lamina atrás de si, guardando as pernas machucadas por seus braços, o que foi uma tentativa falha porque ainda dava para ver as marcas.
- Avril, o que você está fazendo? – perguntei me agachando.
- Nada! – ela enxugou as lagrimas com uma das mãos.
- Mentira, esqueceu que eu sou um vampiro e tenho um ótimo ouvido?
- Hunf, pensei que fosse loucura sua e até mesmo minha. Minha mente é pior do que a de um psicopata! – ela riu sem vida.
- Para com isso! Você não pode mais se... – ela me interrompeu.
- Não fala nada Justin! – ela começou a chorar sem cessar. – Me abraça por favor? – ela disse com a voz falhada e abrindo os braços.
A puxei para o meu colo e abracei ela com força, tentando conforta-la mas o cheiro de sangue estava muito forte em meu nariz, peguei a toalha cinza que parecia estar encharcada e passei por suas pernas, tirando todo o sangue que ainda escorria e abaixei seu shorts; resolvi levar ela para a cama. Sem avisar a peguei no colo e coloquei sobre a cama macia cheia de cobertores, e voltei ao banheiro para arrumar a bagunça, mas fui impedido por ela dizendo.
- Não Justin, continua me abraçando, por favor?
“Abraça-la novamente não estava em meus planos.”
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.