10 de abril de 2034.
Acordo antes das sete com um pouco de torcicolo e vou até a cozinha preparar algo para comer. Abro a geladeira de porta dupla e me deparo com um paraíso de condimentos, nem lembro a última vez que minha geladeira esteve cheia desse jeito.
Após alguns minutos tentando decidir, resolvo fazer uma das minhas coisas favoritas: misto de queijo e geleia de morango.
Faço a refeição olhando os fundos da casa através da porta vazada. Os passarinhos se empoleiram na pequena fonte próxima ao muro; libélulas voam baixo, aproveitando a água parada da piscina; corujas piam, anunciando a passagem da madrugada para a manhã.
As mesas e as cadeiras ainda estão no deck, e pensar que terei que suportar todas aquelas pessoas hoje novamente, durante e depois do enterro.
Começo a mexer no celular, até que por volta das oito horas, Rita chega.
- Bom dia.
- Bom dia. – respondo.
A mulher rechonchuda e de baixa estatura sorri e passa por mim. Minutos depois retorna vestida com seu uniforme. Gente rica e seus costumes bobos.
- Já comeu?
- Sim. – digo. – Mas um cafezinho cairia bem.
- Certo. – fala de forma gentil.
No momento que ela coa o líquido, sua família me vem à mente. Nunca conheci o marido de Rita e tive pouco contato com seus filhos, os quais devem ter mais ou menos minha idade atualmente.
- Como estão seus filhos?
- Antônio está trabalhando, mas não sai lá de casa; Mariellen está fazendo doutorado; e Lucas se casou recentemente e sumiu, mas tenho certeza que a mulher dele é a responsável por isso.
- Como pode ter tanta certeza?
- A garota nunca gostou de mim. – fala de forma ríspida.
Lanço-lhe um olhar incrédulo. Ela serve uma xícara de café, colocando o açucareiro ao meu lado.
- Noras e sogras: a guerra eterna.
Ri brevemente.
Minha mãe nunca se deu cem por cento bem com Aline, os olhares e gestos eram constantemente percebidos por mim, mesmo que as duas não admitissem. Fátima sempre buscou respeitar minha decisão, mas no fundo sei que pensava que o fato de estar junto com minha ex-esposa de alguma forma “sujava” a imagem da família. Se fosse por ela, estaria casado com alguma riquinha herdeira por aí.
~ <> ~
Passo em casa para tomar banho e vestir algo mais apropriado para a cerimônia mais tarde.
A água molha meu cabelo, escorrendo pelo pescoço e seguindo pelas costas. Aproveito a massagem natural que estou recebendo e tento me preencher de pensamentos positivos, mas a tensão que sinto é quase palpável. Decido apelar para a última coisa que sei que vai me acalmar: masturbação.
Coloco uma calça jeans e uma camisa polo, ambas pretas, e pego a jaqueta de couro, caso faça frio.
De volta à casa da minha mãe, todos se aprontam para o velório que começará daqui a aproximadamente uma hora. Sento no sofá, fazendo companhia a tio Dionides. Checo o instagram e depois o whattalk, vendo uma mensagem não respondida de Caio:
CABEÇÃO: Vamos no barzinho hoje a noite? É meu dia de folga e a patroa liberou.
Penso no que responder, será que só nego o convite ou conto logo o que está acontecendo?
- Ele teria odiado tudo isso. – meu tio quebra o silêncio.
- O quê?
- Essa bobeira de velório, Tom não ia querer um monte de gente chorando ao redor do corpo dele.
Pondero suas palavras. Meu pai realmente sempre foi um homem alegre, capaz de encontrar solução pro maior dos problemas.
- Ele iria querer uma festa, estilo dia dos mortos no México. E com certeza iria querer que enchêssemos a cara de uísque. – fala de forma descontraída.
Suas palavras me arrancam um sorriso, mas também despertam a curiosidade:
- Como ele era antes da minha mãe, da empresa?
- Do mesmo jeito, talvez menos estressado.
- Sempre tive interesse em saber, mas ele nunca contou como era sua vida antes.
- E tinha motivos para isso. – respira fundo, olhando para baixo. – Nosso pai sempre se preocupou mais em ser empresário do que cuidar e dar atenção aos filhos. As únicas vezes que se dirigia a nós era para xingar, por algo que havíamos feito de errado ou nos bater, quando chegada em casa bêbado.
Fico atônito perante sua fala.
- Nossa mãe era calma demais para ir contra suas ordens, ou seja, ele mandava, ela obedecia. – acena negativamente com a cabeça, provavelmente lembrando do acontecido. – Estudamos em um internato dos dez aos quinze anos, e constantemente éramos os únicos a não receber visitas. Fugimos tanto que um dia nos expulsaram, e nesse dia, fui parar no hospital com um braço quebrado.
Ouço, com certo pesar.
- Então aguentamos os abusos até que Tom completou dezoito, e nos mudamos, contra a vontade dos meus pais, claro. Mas a partir daí nossa vida se transformou completamente, e acabamos por confirmar o que já sabíamos: nesse mundo, só tínhamos um ao outro.
Percebo sua emoção perante o relato. Aproximo-me, passando o braço por seu ombro e o puxando para mais perto.
- Sei que Tom deixou a desejar em vários aspectos em relação a você e Bia, mas não fique com raiva dele. Todos cometemos erros, até eu já tive meus momentos de pai merda.
- Não se preocupe, não estou.
Abre um sorriso.
- Acho que faz parte do ciclo da paternidade. Meu pai cometeu seus pecados, Tom e eu cometemos os nossos, você cometerá os seus, e assim continuará até que alguém tenha a infância perfeita.
Reflito. Mas em uma coisa ele está errado, já cometi muitos pecados nos últimos dez anos, dos quais sofro as consequências até hoje.
~ <> ~
Quando minha família e eu chegamos ao cemitério do Campo Santo, nos deparamos com um grande grupo de pessoas. Entre elas estão meus primos e seus respectivos cônjuges, funcionários da fábrica, acionistas, e amigos de Tomás. Passo alguns minutos olhando ao redor, o local parece um labirinto de tão grande.
É uma tarde de sol, o vento agita as poucas árvores próximas às milhares de lápides e o céu está limpo. Há uma grande quantidade de coroas de flores dos lados da larga sepultura onde está escrito o nome do meu pai, sua data de nascimento e de morte.
Não demora até que praticamente uma fila se forme e as pessoas se aproximem para prestar suas condolências.
Quando o caixão finalmente chega, todos abrem espaço para os funcionários do local, os quais encaixam o objeto em mecanismos ligados a roldanas. Sinto um aperto no peito.
O padre, que já estava no local e foi um dos primeiros a nos cumprimentar começa a cerimônia:
- Estamos aqui nesse dia para honrar a memória de Tomás Bragança Ferreira. Muitos pensam que a morte é só um adeus, mas acredito que a é uma transição desse plano para algo além de nossa compreensão.
Suspiro pesadamente, com os olhos fixados na urna de madeira.
- Esse é um momento de tristeza, pois creio que Tomás fez parte da vida de todos aqui presentes, deixando na mente de cada um a marca que fazia dele um ser único, como Deus o criou. Mas também esse pode ser um momento de paz, onde a alma desse homem tem a chance de se elevar até o reino dos céus, passando a observar e zelar por seus entes queridos.
Ouço fungadas e lamentações ao redor. Dionides chora muito, sendo amparado por Leticia.
- Peço que fechem os olhos e orem comigo para que Tomás possa seguir seu caminho naturalmente.
Todos obedecem, menos eu. Não consigo tirar os olhos do caixão. A dor “corrói” meu peito e sinto dificuldade de respirar.
- Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha a nós o vosso reino... – as pessoas repetem em uníssono.
Enquanto rezam, não paro de visualizar os momentos com meu pai: as brincadeiras na infância, sua forma particular de demonstrar amor e carinho; a preocupação no bem estar meu e de Bia; a generosidade e todas as oportunidades que proporcionou ao me acolher como seu filho. Os olhos lacrimejam.
Ao final, dois líderes da umbanda, religião a qual papai pertencia, prestam suas homenagens com incensários e cânticos, que alguns acompanham fazendo coro. A fumaça distribuída sobre o caixão perfuma o ambiente à medida que funcionários do cemitério abaixam o objeto manualmente, através das roldanas.
Pela primeira vez percebo a gravidade da situação. Meu pai está morto. Nunca mais poderei abraçá-lo, conversar com ele, ouvir suas risadas ou suas piadas sem graça. É nesse momento que o desespero toma conta. Começo a chorar, abaixando a cabeça. Sinto as pernas fraquejarem e agacho ao lado da lápide.
- Não... não vai, por favor.
É como se algo tivesse destravado dentro de mim. Apesar de estar rodeado de pessoas, me sinto só, indefeso.
- Pai... – a voz sai falhada, devido ao grande fluxo de lágrimas e a respiração pesada.
Sinto uma mão sobre meu ombro, trazendo consolo. A pessoa se aproxima, beija o rosto e me envolve em seus braços. Olho de relance para o lado, encontrando cabelos loiros.
Inclino-me para frente e as lágrimas caem no interior da lápide. Meu desejo é impedir que continuassem, que não desaparecessem com o corpo do meu pai sob a terra, mas eles fazem do mesmo jeito.
Sou afastado da borda por Bia, e assisto a cena, impotente.
~ <> ~
Ao retornarmos para casa, minha mãe pede quase uma tonelada de comida japonesa para os convidados, nunca vou entender a necessidade das pessoas em comer depois de enterros.
Ainda me sinto abalado, mas mais calmo do que antes.
Para alguns o clima ainda é de melancolia. Dionides foi levado ao quarto e provavelmente está dormindo. Para outros, é como se estivessem em um coquetel, posso ouvir até risadas e piadinhas.
- Marcos! – ouço uma voz masculina.
Quando viro, vejo Afonso, um dos maiores acionistas da empresa.
- Oi, Afonso.
- Meus pêsames. – ele me abraça.
- Obrigado.
- Seu pai fará muita falta. Não consigo imaginar aquela empresa sem ele.
- Depois da aposentadoria meu pai não costumava ir muito à empresa. – ressalto.
Levanta a sobrancelha um pouco surpreso com a resposta. É nesse momento que percebo que sua cordialidade e camaradagem podem não passar de bajulação, afinal, minha irmã e eu somos os herdeiros dos negócios, visto que Fátima não mais se interessa em assuntos corporativos.
- Claro, mas ele era a alma daquele lugar. – sorri.
- Tenho certeza que Bia cuidará de tudo muito bem.
- É, ela cuidará.
Um silêncio constrangedor cai sobre nós, o abraço novamente e invento que tenho que resolver alguma coisa com minha mãe.
Ao checar o celular para ver as horas, vejo a mensagem de Caio, havia me esquecido completamente dela. Escrevo e reescrevo a resposta várias vezes, decidindo ir pelo caminho mais simples. Enquanto digito, percebo que ele está online.
MARCOS: Ñ posso.
Demora alguns segundos até que responda.
CABEÇÃO: Pq?
MARCOS: Meu pai morreu e estou com um pessoal aqui na casa da minha mãe.
Mais algum tempo de espera.
CABEÇÃO: Putz, cara, meus pêsames.
MARCOS: vlw.
CABEÇÃO: Quer que eu vá pra aí?
MARCOS: Ñ precisa.
CABEÇÃO: Certeza?
MARCOS: Sim.
CABEÇÃO: Passo na sua casa amanhã antes de ir pro trabalho, então.
MARCOS: Ok.
CABEÇÃO: Já falou com o Nick?
MARCOS: Ñ, depois eu falo.
CABEÇÃO: Certo. Qualquer coisa é só chamar.
MARCOS: Ok.
Nos despedimos e guardo o aparelho.
Passo o restante da tarde cumprimentando pessoas e gastando saliva em conversas nem um pouco interessantes. Fico aliviado quando o último deles vai embora, por volta das oito horas da noite.
Na cozinha, me deparo com uma pilha colossal de bandejas copos e pratos nas pias. Imaginando o trabalho que Rita terá no dia seguinte, resolvo lavar pelo menos metade.
- O que está fazendo? – ouço a voz de Bia.
- Diminuindo a bagunça.
- Deixe aí, Rita e Lorena cuidam disso amanhã.
- Elas trabalham aqui, não são escravas. – repreendo.
- Sabe que não foi o que quis dizer.
Dou de ombros continuando o serviço.
- Pelo menos me faça companhia numa dose.
Viro e a vejo segurando uma garrafa de uísque. Apesar das diferenças e atritos, a cumplicidade sempre reinou entre nós.
- Ok. - abro meio sorriso.
Ela nos serve.
- Fico feliz que decidiu passar esses dias aqui, estava com saudades. - a voz cheia de saudosismo.
- Também, irmãzona. - tento apertar a bochecha direita, mas ela desvia.
- Ao papai. - levanta o copo.
- Ao papai. – faço o mesmo, e viramos o conteúdo.
~ <> ~
Antes de ir para casa, resolvo passar em um lugar primeiro, devo explicações a alguém.
Depois de três batidas, Eric atende.
- Quero falar com Theo, é coisa rápida.
- Não acho uma boa ideia, Marcos. – fala, sério.
Entendo sua preocupação.
- Aline está?
- Não, ainda não chegou do trabalho.
Percebo que minhas chances acabaram de aumentar, só tenho que escolher as palavras certas.
- Sei que não devia estar aqui, mas... - as palavras engasga por um instante. - Meu pai acabou de morrer, cara, só quero dar a notícia ao meu filho.
Seus olhos lentamente esbugalham, assumindo ar pensativo:
- Se Aline chegar e você estiver aqui...
- Por favor. – apelo.
Desvia o olhar e suspira, mira o interior da casa e volta para mim:
- Tem que ser rápido.
Um sorriso aliviado se forma em meu rosto. Aceno positivamente.
Na sala da residencia tento controlar a ansiedade juntamente com a perna direita, que tremula se parar.
- Theo, venha aqui, por favor! – o homem chama.
Passos no azulejo são seguidos pela presença do garoto em um pijama amarelo com estampa de frutas.
- O que foi, Eric? - vira de repente, notando minha presença. - Papai! – corre, pulando em meus braços. – Veio me levar de volta pra sua casa?
Aquela frase machuca, queria muito dizer ‘sim’.
- Infelizmente não. Quero conversar com você.
A feição dele fecha quase instantaneamente em decepção.
- Vem aqui com o papai - conduzo até o sofá e o ponho em meu colo com certa dificuldade, esqueci o quanto está pesado.
Pigarreio e enxugo a palma direita na calça:
- Você lembra do vovô?
O garoto busca na memória.
- Aquele do bigodão?
- Sim. - não seguro o riso bobo. Mas rapidamente o pesar cobre a face novamente. - Aconteceu uma coisa com ele.
- O que?
Encaro o brilho ingenuo nas pupilas claras, e engulo a emoção, respirando fundo:
- Ontem... o coração dele não estava bem... - acompanha com atenção. - E ele... morreu.
Theo parece assimilar a informação:
- O que aconteceu co o coração dele?
Outra expiração pesada:
- Não sei ao certo, foi o médico que disse.
Não surpreendo por sua falta de sentimentos, o garoto conviveu muito pouco com o mais velho.
- Apesar de não te ver sempre, ele te amava muito. – lembranças invadem e tento segurar, mas os olhos encharcam.
Sua feição muda, compadecendo por meu estado:
- Não chora papai. – ajoelha envolvendo os braços pequeninos em meu pescoço. - O vovo está com os anjinhos.
Isso é o bastante pra abrir a cachoeira de lágrimas, o seguro forte:
- Sempre estarei com voce, sempre. - sei que é uma promessa impossível de cumprir, mas por alguns minutos me permito acreditar. - Te amo, muito.
- Também te amo, pai.
Pisco para espantar as lágrimas, secando o restante com as costas da mão, e fungo discretamente. Desejo permanecer para sempre naquele aconchego que me enche de calmaria. Por alguns instantes esqueço todas as coisas ruins dos últimos dias.
Meus devaneios são interrompidos quando por Eric apontando para o pulso, preocupado. Uma pontada de raiva surge, mas compreendo que já extrapolei o combinado.
- Não conte pra mamãe que vim aqui, tá bom? Vai ser nosso segredinho.
- Tá bom. - o garoto devolve com uma piscadela.
O aperto pela última vez e com um beijo na bochecha, despeço.
Chego em casa e o local nunca pareceu tão solitário. Tiro o sapato, jogo a jaqueta no sofá e tomo um copo de água. Sento à mesa da cozinha, ainda um pouco atordoado pelo o que aconteceu na casa de Aline.
Com as unhas tilintando no vidro, tento decidir o que quero fazer em seguida, mas nem dormir parece uma boa opção. Então decido ligar para a única pessoa que pode tirar a tristeza da minha mente e me proporcionar alguns momentos de relaxamento:
- Alô. – sua voz soa sensual.
- Pri, é o Marcos, tem um tempo livre para agora?
Demora um pouco a responder.
- Para agora mesmo?
- Sim.
- Deixe-me ver.
Ouço som de folhas passando.
- Deu sorte, estou livre.
Um sorriso aparece em meu rosto.
- Vou pra sua casa? – indaga.
- Sim.
Desligo e tomo um banho rápido, só para tirar o suor. Troco a roupa de cama, escovo os dentes e passo perfume. Cerca de vinte minutos depois ouço batidas na porta.
Abro, logo vendo sua Yamaha Fazer 250 customizada na cor rosa. Abaixo o olhar, me deparando com Priscila, maquiada e com um vestido curto e bem decotado. Cumprimento-a e deixo entrar.
- Como estão as coisas?
- Boas. – minto. – E com você?
- Tudo no mesmo. Patrick foi suspenso da escola porque estava brigando.
Ouço, interessado.
- Brigando?
- Pois é. – sinto a decepção em sua voz. – E você não vai acreditar, cortaram a luz lá de casa no final do mês passado, precisa ver o sufoco que passei.
- Imagino, hoje em dia a gente depende de energia pra tudo.
- Quase perdi cliente, menino. – diz, levemente chateada.
- Desculpa, estou sem bebida hoje, se quiser posso ir comprar.
- Não precisa, vamos logo ao que interessa.
Lanço-lhe um sorriso malicioso. A mulher se aproxima e começamos a nos beijar. Aprecio a sensação dos seus lábios carnudos contra os meus, explorando suas curvas e vultuosidades ao máximo. Rapidamente levamos a diversão para o quarto.
Já despidos, continuamos com as carícias. Passeio minhas mãos por sua pele morena até chegar aos seios fartos. Beijo seu pescoço e ombro, ouvindo-a respirar forte. De repente, a imagem do caixão de Tomás invade a mente, mas logo a disperso.
Ela coloca a mão em minha coxa, seguindo pela bunda e chegando à virilha. Pega e massageia meu pau com vontade. Nesse momento percebo que meu corpo não parece estar de acordo com o que minha mente quer.
- Ainda não estou pronto.
- Eu resolvo isso. – noto o fervor do desejo estampado em seu olhar.
Sento na beira da cama e ela ajoelha à minha frente. Jogo os braços e a cabeça para trás, e aproveito o momento. Mas sou novamente interrompido com a cena dos homens jogando terra no túmulo, o caixão desaparecendo lentamente, minha irmã chorando ao meu lado. Chacoalho a cabeça, dizendo a mim mesmo que relaxarei a qualquer custo.
Minutos se passam. Encaro Priscila por um tempo e percebo que não adianta o quanto abocanhe, chupe ou passe a língua, meu pau não dá sinal de vida. Levo a mão ao seu rosto.
- Pode parar, não vai adiantar. – resolvo ser sincero com ela e comigo.
Vejo seu semblante confuso e me distancio, recostando na cabeceira da cama e olhando para baixo, decepcionado comigo mesmo.
Ela respira fundo e se aproxima, sentando ao lado.
- O que aconteceu?
Hesito, não quero lhe encher com meus problemas.
- Fala, Marcos. – insiste.
Após instantes de reflexão, decido compartilhar meus sentimentos.
- Meu pai morreu. – o tom é uma mistura de frustração e tristeza.
Sou surpreendido quando ela me envolve em seus braços.
- Não fique assim, lindo, um dia esse sentimento ruim passará.
- Desculpa te fazer perder tempo vindo aqui.
- Não perdi nada. Você precisava de uma companhia. – sua voz carinhosa é como música para os ouvidos.
Ela parece ler minha mente, o que assusta um pouco. Acariciando meus cabelos e rosto, a mulher me preenche com seu carinho. Durante o dia, ela foi a única a não me encheu de perguntas, bajulações ou condolências, ela fez o que todos deviam ter feito: compreender.
Movo o rosto buscando seus lábios, e quando os encontro, fico mais feliz.
~ <> ~
Três dias se passam e enquanto estou limpando minha câmera, recebo uma ligação de Bia, informando que o advogado da família quer falar com todos nós.
Chego um pouco depois da hora combinada, Bia e minha mãe estão sentadas no sofá, conversando com Sérgio.
- Boa tarde. – cumprimento todos.
- Marcos, quanto tempo! – o homem levanta e me abraça.
- Como está, Marreta? – dou tapinhas em suas costas, feliz por lhe ver.
- Bem, mas bastante ocupado nos últimos dias.
- Quando tiver uma folga, liga pra gente tomar uma cervejinha.
- Está difícil, mas vou ver se consigo. – sorri.
Sérgio é advogado da família desde que meu pai assumiu a liderança da fábrica, e ele nunca perdeu um caso, fazendo questão de esmagar seus adversários, como ele próprio diz, daí o seu apelido de “Marreta”.
- Então Sérgio, nos diga logo o porquê dessa reunião. – Fátima fala, impaciente.
O homem abre sua bolsa de couro marrom e pega um notebook.
- Seu marido fez um testamento e pediu que fosse mostrado na presença de todos.
A surpresa é visível em nossos rostos.
- Mas porque só agora? – minha irmã se manifesta.
- Pedido dele.
Sento ao lado das duas, apreensivo, enquanto o advogado liga o dispositivo e pluga um pen drive a ele.
- Posso começar?
- Já deveria. – minha mãe diz.
Quando o vídeo se inicia, tenho um pequeno susto. Ver meu pai, ainda vivo, é algo que não esperava. O cenário de fundo é a biblioteca da casa, ele está acomodado em sua poltrona azul e parece tranquilo.
- Olá família, sinto que estejam vendo isso, pois sei que já não mais estou com vocês.
Minha irmã eu nos entreolhamos, seus olhos lacrimejam.
- Esse vídeo representa o meu testamento e a minha vontade, estou em sã consciência do que direi e meu advogado tem tudo registrado por extenso. – desvia o olhar para cima, buscando a confirmação de quem quer que esteja do outro lado da câmera.
Porque esconder de nós que fez um testamento?
- Para Fátima, minha esposa, deixo a casa, minha coleção de carros e uma pensão mensal no valor de sete salários mínimos.
Minha mãe parece satisfeita.
- Para minha filha, Bianca, deixo a administração da fábrica de tecidos, tanto a sede como as filiais, e um adicional ao seu salário de acordo com o lucro mensal da mesma.
A mulher se emociona.
- Trinta por cento dos lucros da fábrica sede devem ser doados aos orfanatos com os quais já contribuo.
Não me surpreendo com sua atitude. Tomás tinha muito afeto por lugares que acolhem crianças, principalmente desde que descobriu que ele e mamãe não poderiam ter filhos.
- E para meu filho, Marcos, deixo parte de minha fortuna, a qual ele só terá acesso através de um pagamento mensal, provindo de seus serviços na fábrica.
Paraliso, olhando para a tela, não conseguindo acreditar no que acabou de dizer.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.