Acordar e perceber que não fechou a cortina na noite passada é uma das piores sensações porque, por mais que você queira se despertar, o susto pela luz do sol batendo diretamente em seus olhos não é nada agradável.
Kakashi levantou ainda letárgico pelo sono, mas como aprendeu no decorrer de sua vida ninja — e envelhecimento — levantar de uma vez é melhor do que ficar esperando ter forças para tal.
Assim que concluiu sua rotina da manhã, isto é, escovou os dentes e lavou o rosto, saiu despretensiosamente pela villa, esperando encontrar algum lugar tranquilo para fingir que não conhece ninguém. Mas antes que pudesse, de fato, fugir dos conhecidos, percebeu que alguém andava paralelamente a ele naquela rua razoavelmente vazia, mas estava longe o suficiente para significar que ela não tinha notado a sua presença.
Em outras auroras, ele fingiria não tê-la visto só para não dar o ar da graça, mas aquele comichão curioso ainda estava o perturbando desde o dia em que notou não conhecer Sakura como deveria. Não que se importasse, mas, ah, a quem ele queria enganar? É óbvio que ele estava se importando.
— Bom dia, Sakura.
A moça só então notou a sua presença. Ela estava diferente com aquelas roupas civis, parecia mais adorável aos olhos dele.
Sakura vestia um vestido branco com milhares de flores de cores lilás e amarelo. Era muito comportado em seu comprimento e fazia parecer que ela estava prestes a frequentar um chá da tarde em um clube de gente rica. Kakashi achou engraçado pensar que, por mais que ela fosse delicada e combinasse com aquela roupa, no fundo, ainda preferia vê-la com o costumeiro uniforme ninja.
— Bom dia, sensei. Como vai?
Kakashi quis corrigi-la pelo honorífico. Já havia desistido de brigar com Naruto por ficar chamando-o de sensei, mas ele não poderia ser hipócrita. Se Minato ainda estivesse vivo, ele faria o mesmo. Mas sabia que com o tempo eles iriam parar e esquecer do velho professor.
— Vou bem e você? — Ela sorriu daquele mesmo jeito que ele julgou como vazio, mas diferente do outro dia, ela parecia chateada com algo. — Parece incomodada com algo.
Sakura arregalou os olhos antes de negar. Não queria que ele a visse como uma pobre coitada igual os outros costumam fazer. Sempre gostou do sensei exatamente por ele não se importar.
— Eu estou bem, não se preocupe. É só a minha cabeça que está cheia de coisas. Sabia que eu estou à frente da direção do hospital desde o final da guerra?
Não. Ele não sabia, porém deveria estar a par disso. Kakashi perguntou a si mesmo se seria falta de informação ou ele que tinha se tornado um idiota desinteressado para valer.
Ponderou que pudesse ser a segunda opção, afinal, ele sabia tudo sobre Naruto e vez ou outra falava com Sasuke por cartas. E pela primeira vez, sua negligência quanto a Sakura o incomodou.
— Sério? Fico feliz pela conquista, Sakura. — Ele tentou parecer sincero, como de fato estava sendo, mas não foi como anos atrás quando Sakura acertava alguma técnica em algum treinamento e se contentava com um elogio raso dele. Na verdade, ela não parecia contar vantagem do fato. — O que foi? Isso não é bom?
— É sim.
A resposta simplista dela não o contentou e a insistência do olhar do Hatake a fez suspirar fundo.
— É que não tem sido uma experiência agradável, sabe? Eu sinto que ninguém me respeita mesmo que eu seja a líder entre eles. E eu fico pensando se o problema está em mim.
— O que te levou a essa conclusão, Sakura?
Ela abriu a boca uma ou duas vezes para falar, mas não concluiu, balançando a cabeça em negação. Ao ver de Kakashi, ela estava cansada de se explicar, ou então, achou que talvez não fosse relevante.
E ele não poderia se achar no direito de se meter nisso, mas algo dentro dele queria dizer a ela que aquilo só poderia ser loucura. Como líder do hospital, não faria sentido que não a respeitassem. Todos sempre temeram a Tsunade e sendo ela sua pupila, não teria porque não seguir com o seu legado e respeito.
Mas quem seria ele para medir a dor dela?
— Você estava indo para lá? — Questionou sem compromisso. Ela não respondeu, mas a visão periférica dele captou um assentir chateado. — Que coincidência, eu também estava.
Sakura o olhou surpresa antes de sorrir. Ele achou engraçado como ela pareceu feliz por algo tão bobo. Quer dizer, ele só ia ao hospital. Não fez sentido algum para ele, mas ao menos fez desaparecer aquela carinha triste dela.
— Desde quando você visita o hospital, sensei?
— Desde que a Hokage decidiu fazer um dossiê sobre a minha saúde. Acredita que ela quer controlar até o que eu como?
— Ah, o próximo Hokage precisa estar bem para fazer um bom trabalho. Se bem que não resta dúvidas sobre você, sensei.
Kakashi parou. Como ela sabia daquilo?
— Tsunade te contou? — Sakura girou a cabeça para o lado confusa com a pergunta. — Como sabe que eu posso ser o próximo Hokage?
— Eu sei porque fui eu que te sugeri a ela. — Kakashi, que já estava parado, sentiu seu corpo paralisar de vez.
— Por quê? Por que eu?
Sakura sorriu segurando a barra de seu vestido.
— Porque você é o melhor, sensei.
Ela voltou a andar sem dar mais explicações. E ele a seguiu confuso do porquê daquilo mexer tanto com ele.
[...]
Kakashi sabia das melhorias que foram feitas no hospital porque estava presente nas reuniões administrativas onde foram discutidas as reformas de muitos dos órgãos públicos de Konoha, mas foi entrando ali depois de muito tempo que ele percebeu que talvez estivesse alheio até demais às novidades da vila.
O lugar era praticamente outro e como se não fosse suficiente alterar a arquitetura de modo que parecesse um lugar agradável de se estar, foram implantadas tecnologias de logísticas impressionantes. Se fosse pelo menos uns cinco anos atrás, veria toda aquela sala de espera em um caos por causa da falha da saúde pública, mas ouvir Sakura contar sobre tudo o que fizeram — e melhoraram — o deixou impressionado.
— Você deveria ver como estava isso aqui quando eu cheguei — comentou enquanto subiam as escadas lado a lado. Os degraus também foram trocados. Os anteriores, de madeira envelhecida e trincados, agora eram de mármore branco extremamente lustrado. — Que isso não saia daqui, mas minha shishou não se importou muito com essa parte quando se tornou diretora. Ela melhorou todas as alas em questão de logística e técnicas, mas esses meros detalhes, eu tive que intervir de algum jeito.
— Talvez ela não considere tão importante, Sakura. São meros detalhes.
Ele não queria dizer que as ideias dela eram desnecessárias e sem importância, mas assim que terminou de falar, percebeu que ela poderia ter essa impressão do comentário. Mas deveria ganhar um desconto, ele nunca foi maleável o suficiente para consolar alguém, quiçá ser sensível em seus comentários.
— Quando está em um campo lutando, você presta atenção no cenário antes de suas investidas? — Ele anuiu. — Por quê?
— Porque eu dependo dele para me camuflar ou para garantir que não haverão empecilhos para os meus ataques, mas eu não entendo como isso… ah, eu entendi. — Sorriu debaixo do tecido negro. — Você tornou o hospital mais prático para todos.
— Isso!
Os dois já haviam chegado no topo daquela escadaria que dava acesso a uma porta branca. Antes, ela era de metal, pesada o suficiente para precisar de duas mãos empurrando-a, mas agora parecia leve como uma cortina de tecido. Teria sido mais um investimento de Sakura?
— O hospital estava um caos, sabe? As alas não eram organizadas por importância e não foram poucos os casos de pacientes que morreram pela demora para levarmos a UTI. E as saídas de emergência? Simplesmente não tínhamos porque as autoridades consideravam desnecessárias para uma vila onde 60% da população é ninja.
Kakashi sabia bem da ignorância por parte dos ditos conselhos, até porque não costumam ser compostos por apenas um kage e os velhos anciãos. Desde que a vila tomou uma política mais “democrática”, os líderes de clãs passaram a participar das reuniões administrativas com mais frequência. Kakashi mesmo esteve em muitas, o que julgou desnecessário, irritante e estressante demais para, no final, resolverem apenas a cor dos balaústres do parque.
— Eu tive que teimar para que dessem permissão para a mudança de pisos. Os antigos escorregavam demais e estavam destruídos. Uma vez tiveram que levar um paciente às pressas para a sala de cirurgia e a maca enganchou em um buraco do chão. O senhor foi jogado para longe, coitado.
— Você sempre foi a mais detalhista de nós no Time Sete.
Ela o olhou sem entender. O rosto curvado para o lado e os olhos cerrados em um tom de curiosidade, mas o sorriso ainda estava ali. Talvez estivesse surpresa por ele mencionar alguma característica dela do tempo em que ele parecia não dar importância a sua existência, mas Kakashi não era tão ruim a esse ponto.
É certo que ele não se importava muito com ela, mas se preocupava quando sabia que a vida dela estava em risco; não se interessava pelas dificuldades dela e nem mesmo se prestava a ensinar algo que a motivasse a melhorar, mas ficava orgulhoso quando ela acertava.
Talvez ele não fosse ruim como sensei, apenas desinteressado demais.
Quando Sakura desistiu de tentar entender a frase dele, chamou-o para um corredor um pouco mais vazio. Não havia tantas salas porque a maioria era referente à parte administrativa do hospital como o RH, sala de reuniões e o escritório da direção, para onde ela o dirigiu.
A sala era bem simples para um escritório de extrema importância. As paredes pintadas de verde claro, quase branco, não tinham quadros ou qualquer adereço, apenas algumas poucas prateleiras com livros e dois bonsais. Fora isso, apenas um grande armário de madeira, o que ele julgou ser um arquivo; a mesa de Sakura com uma cadeira confortável, semelhante a da Hokage e um pequeno sofá caramelo no canto do cômodo. Fora isso, o cabelo de Sakura era a única coisa chamativa ali.
— Você quer que eu te direcione para um médico específico, sensei? — Questionou enquanto checava algumas cartas com o carimbo da Hokage até encontrar uma específica. — Achei! Tsunade-shishou pediu que eu mesma o examine, mas caso queira que seja outra pessoa, eu tenho excelentes médicos aqui.
Kakashi nem queria estar ali, mas sabia que se não fosse hoje, teria que ser amanhã ou depois. Tsunade não daria essa folga a ele porque ela mesma estava sendo pressionada pelo conselho. E percebendo se tratar de uma cadeia de obrigações, ele sabia que uma negativa da parte dele traria consequências a ela. E por mais que não se importasse tanto assim com os outros, não seria maldoso a esse ponto.
— Eu não tenho em mente nenhum outro médico, Sakura. Você é a única que conheço e confio.
Ele não imaginou que pudesse ser importante dizer essa última parte, mas o disse mesmo assim. Se fosse considerar todos os defeitos de Sakura como ninja, enquanto médica, jamais faria o mesmo. Ele mesmo a viu fazer coisas que nem mesmo Tsunade seria capaz.
Ela assentiu confirmando e então guardou todas as cartas de volta em uma bandeja de acrílico. Ele não precisou de mais palavras para saber que deveria segui-la mais uma vez. Ela cumprimentou algumas pessoas pelo corredor e ele a acompanhou calado, observando-a ter as suas saudações desprezadas pelos outros.
Não deixou de ficar chateado por Sakura. Algumas pessoas a olharam com desdém e ela, ainda assim, mantivera a educação de cumprimentá-las com respeito sem esboçar qualquer descontentamento com aquilo. Talvez estivesse acostumada com isso, o que tornou as coisas ainda mais anormais para Kakashi.
Quando chegaram em um dos quartos da ala de exames, Sakura pediu que ele se sentasse na maca. Kakashi nunca gostou daquilo, daquela invasão de espaço pessoal. Mas dos males, o menor, foi saber que seria Sakura e não uma daquelas enfermeiras invasivas e assediadoras que fizeram de tudo para cuidar dele após a guerra.
— Eu farei uma examinação superficial, ok? Se eu sentir que preciso me aprofundar em algo, faremos algum exame mais técnico. — Foi engraçado notar a mudança do tom de voz dela para uma mais profissional. Até mesmo o olhar pareceu diferente para ele.
Aquilo não estava sendo nada diferente do que ele estava acostumado. Ela havia testado as suas articulações enquanto fazia perguntas sobre sua alimentação e rotina de atividades físicas. Estava tudo bem e em perfeito estado. Checou também os seus olhos, puxando suas pálpebras para cima e pedindo que ele olhasse para direções aleatórias.
— Certo, eu preciso examinar a sua respiração — informou enquanto tirava do pescoço o estetoscópio, ajeitando as olivas auriculares em cada ouvido. Ele sabia que aquilo seria inviável com aquela máscara. Kakashi já estava pronto para negar quando ela continuou. — Não precisa abaixar a máscara.. Só preciso pôr o estetoscópio em suas costas.
Kakashi sabia que ela poderia aproveitar a oportunidade para suprir a curiosidade da infância sobre o seu rosto, mas não o fez. O profissionalismo dela o deixou orgulhoso, mas, acima de tudo, confortável.
Ela espalmou o peito dele com a palma enquanto a outra fazia o mesmo em suas costas, incentivando-o a ficar com a coluna ereta. Ele estava sentado na maca e, ainda assim, ficava mais alto do que ela, o que a obrigou a ficar bem próxima para alcançá-lo.
Sakura tinha, em mãos, a peça auscultatória — a parte metalizada do estetoscópio — quando puxou a blusa dele de dentro da calça na parte de trás. A mão pequena adentrou ao tecido até chegar em um ponto específico e encostar aquele círculo gelado de metal na coluna ereta. O tronco de Sakura estava encostado ao dele, que podia sentir os batimentos cardíacos calmos dela.
Ele pode sentir também o perfume do cabelo dela. Era uma mistura gostosa de chá verde com limão. E parecia muito macio, muito embora estivesse encostado a sua máscara, o que o impedia de sentir a textura dele.
— Preciso que inspire.
Ele obedeceu sorvendo aquele aroma gostoso que, felizmente, a máscara não filtrou. O fez se lembrar das casas de chá no centro da vila e de como ele amava passar por lá para ler em paz sem ser interrompido já que não seria comum ver pessoas do seu círculo social em um lugar requintado como aquele.
Lugares como aqueles poderiam facilmente ser comparados a Sakura. Ele não soube dizer o porquê.
— Solte o ar agora. Devagar.
Ele obedeceu mais uma vez e ela se afastou.
O contato poderia ser levado para um lado maldoso de sua parte, afinal, ela não deixaria de ser uma mulher só porque foi a sua aluna, mas mesmo que quisesse, não conseguiu considerar aquilo como nada além de confortável. Pareceu aconchegante ter Sakura por perto, mesmo que por curtos dois minutos.
— Você está muito bem, sensei — informou com um sorriso doce. — Eu sei o quanto quer fugir disso aqui, então direi em seu laudo que não se faz necessário outros exames mais técnicos. — Ela deveria coagi-lo a fazer, mas não o fez. — Sabe de uma coisa?
— O que, Sakura?
— Você me perguntou porque eu o sugeri como hokage. Eu não deveria dizer porque soa antiético, mas eu fiz isso porque eu não acho que exista pessoa melhor para o cargo.
— Por quê?
— Você não tem vida pessoal. — Kakashi enrugou o cenho.
— É claro que eu tenho e como isso faria diferença?
— Com todo o respeito, sensei, mas não, você não tem e é exatamente isso o que procuram. Uma pessoa que não vá se sacrificar por um alguém amado como o quarto Hokage fez. Por que acha que ao invés de encontrarem outro kage assim que o pai do Naruto morreu eles trouxeram de volta o terceiro? Porque ele já estava velho o suficiente para não querer se sacrificar por nada.
— No final das contas ele se sacrificou, mesmo que indiretamente.
— Isso! Então escolheram Tsunade-shishou. A pobre coitada perdeu todos que amava, por quem mais ela iria se sacrificar? Eles querem alguém que fique no poder, que não renuncie a qualquer momento ou morra pelo amor de sua vida.
— Certo, mas não me parece o tipo de coisa que você concorda, Sakura.
Ela gargalhou achando graça do tom de voz dele. Já havia escutado o grande ninja que copia em tom irritado ou sarcástico, mas confuso foi uma novidade. Pelo menos aquele tipo de confusão inocente, foi.
— Eu tenho vida pessoal — insistiu mais uma vez. Talvez estivesse tentando convencer mais a si mesmo do que a ela.
— Ah, o conceito convencional de vida pessoal todos temos, mas falo de um olhar mais simbólico.
Kakashi franziu o cenho mais uma vez ao escutar aquilo. Ela pareceu estar falando palavras aleatórias para tentar convencê-lo de algo.
— Simbólico?
— Isso! — Insistiu se afastando dele. Ela retirou as luvas de látex com uma habilidade interessante enquanto puxava uma espécie de ficha com espaços em branco para serem preenchidos. — O que é ter vida? É estar respirando? Ter todos os seus órgãos trabalhados em função do seu corpo?
— Parece ser óbvio demais para julgar que seja a resposta correta para você — ele concluiu com um sorriso. — Viver é mais do que estar vivo, eu entendo.
— Nós vimos algumas pessoas vivas no decorrer de nossas vidas, mas elas estavam, de fato, vivendo? Ou estavam sobrevivendo?
Aquilo foi familiar de alguma maneira para Kakashi. Mas não no sentido de já ter escutado antes. Ele sentiu que aquela ideia, talvez, pertencesse ao seu próprio conceito sobre a vida. Impressionado com a singularidade de opiniões entre Sakura e ele, desejou saber um pouco mais sobre a visão dela acerca daquilo.
— Você acha que Naruto viveu ou sobreviveu por todo esse tempo? Ele me parece feliz demais para não ter vivido. Mesmo que as circunstâncias não tenham colaborado.
— Naruto claramente viveu cada segundo de sua vida — respondeu sorrindo — Sasuke viveu também.
Kakashi coçou a garganta surpreso com a resposta e sem concordar com aquilo, olhou diretamente para o rosto dela que agora o encarava esticando a prancheta com uma caneta.
— Assine aqui e preencha o resto dos tópicos pessoais — explicou apontando para a folha com a ponta da esferográfica.
— Por que acha que Sasuke viveu? — Questionou obedecendo aos comandos dela.
— Não me julgue, sensei, mas Sasuke viveu muito bem antes daquilo tudo acontecer. Eu lembro de observá-lo de longe. Era um garotinho mimado pela mãe e tinha tudo que queria quando queria. Talvez tenha perdido a “vida” quando Itachi matou a todos, mas eu não acho que ele tenha conhecido o sofrimento antes disso. Não como você ou Naruto.
Kakashi sabia que ela estava certa. Os uchihas eram parte da elite e por mais que Itachi e Obito — os únicos uchihas com quem conviveu o suficiente antes de Sasuke — fossem pessoas bem simples, ele já havia visto o tamanho da herança deixada para o único sobrevivente do clã.
E por mais que dinheiro não traga felicidade, seria inegável dizer que Sasuke nunca foi uma criança mimada. Na época do Time Sete ele demonstrava alguns resquícios disso quando precisavam ficar em alguma estalagem mais simples e precária.
— Me sinto mal por tê-la subjugado como uma pessoa que jamais admitiria os defeitos de Sasuke, Sakura.
Ela riu. Todos tinham essa impressão dela porque, de fato, vivia gritando aos ventos sobre a perfeição do garoto, mas a questão é que ela reconheceu os defeitos dele nas primeiras interações que tiveram e se apaixonou exatamente por isso.
Qualidades nem todos têm, mas os defeitos estão sempre muito presente na vida de todos e foi por isso que Sakura aprendeu a amá-los. Menos os seus, ela sempre foi insegura demais para isso.
— Eu talvez conheça mais defeitos do que qualidades, sensei. E isso inclui todos vocês.
— Está dizendo que eu tenho defeitos? Eu não. Sou perfeito!
O tom cômico foi uma desculpa esfarrapada. Ele estava curioso, muito curioso.
Nunca escondeu seus defeitos, mas não fez questão de mostrá-los em nenhum momento de sua vida. Ademais, sempre se incomodou com a mania das pessoas em colocá-lo em um pedestal de perfeição, o que incluiria sua promoção como Hokage, o que ele não achou ser mérito seu.
— Eu sou a pessoa mais imperfeita do mundo e posso te dizer, somos todos defeituosos e está tudo bem — respondeu com um sorriso inocente. Não de maneira casta, mas no sentido de ser o mesmo que ela costumava dar quando criança.
Por algum motivo, sentiu falta desse sorriso.
— Sakura, o que acha de tomarmos um chá juntos? — Jogou no ar.
Ela o olhou surpresa e pensou por uns instantes antes de dedicar a ele outro sorriso.
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