- Papai, ta chegando?
- Sim, filho. Só precisamos passar por aquele portão ali na frente, você está vendo? – ele apontou para o portão de desembarque que se encontrava abarrotado de pessoas
- E a vovó Ruth vai estar depois do portão?
- Sim, Dani. Junto com seu tio Oscar. – ele colocou o filho no chão, se abaixando a fim de ficar na mesma altura. – O papai precisa pegar as malas lá na esteira, você espera aqui com a vovó Lena, ok? – ele olhou a senhora ao seu lado, que sorriu.
- Ta bom, papai. – o menino sorriu, recebendo um beijo estalado na bochecha.
Nunca havia sido tão bom respirar o ar da capital mexicana, era o que pensava Alfonso. Depois de um mês extremamente corrido em Chicago, finalmente havia conseguido voltar à sua terra natal. Pela primeira vez, em muito tempo, ele sentia um pouco de felicidade.
Lauren, sua chefe na Leo Burnett Chicago, o ajudou a conseguir o cargo de CCO no escritório da Cidade do México. Foi mais fácil do que imaginavam, já que a empresa, na verdade, pertencia à família de Lauren, e ela usou dessa influência.
Poncho conseguiu, com certa dificuldade, se enfiar no meio do aglomerado de pessoas que se formavam ao redor da esteira, avistando suas malas de imediato. Não teve muita dificuldade para retira-las dali, e em cinco minutos já estava de volta ao encontro de Madalena e Daniel.
- Papai, deixa eu levar uma? – Dani segurou a mala maior, tentando tira-la das mãos do pai.
- Não, Dani, você vai cair. Segura na mão da vovó Lena pra gente ir embora.
O menino concordou, sem pestanejar, e os três continuaram em direção à saída. Dona Ruth e Oscar estavam logo após o cordão de segurança, e abriram sorrisos enormes ao verem as três figuras se aproximando. Dani puxou discretamente a camisa do pai, pedindo com os olhos para que pudesse ir ao encontro da avó e do tio. Alfonso apenas balançou a cabeça positivamente, e observou o filho correr os últimos cinco metros que os separavam de sua família. Ele sorriu ao ver sua animação, se perguntando se algum dia tinha visto o filho tão feliz daquela forma. Não tinha dúvidas de que tinha tomado a decisão certa.
- Vovó! – Dani pulou nos braços da avó, que o pegou no colo enchendo-o de beijos. – Oi tio Oscar! – ele abraçou rapidamente o tio.
- Como você está grande, meu bem! – ela o colocou no chão, olhando para o filho que não via há três meses, três meses que no coração daquela mãe pareciam mais como três anos. – Poncho...
- Mamãe. – ele sorriu, abraçando a mãe com toda a saudade que tinha dentro de si. – Não vai começar a chorar, hein. – ele brincou, percebendo os olhos mareados da senhora.
- Não vou. – ela sorriu, tentando mandar as lágrimas embora. – A partir de agora sou só sorrisos com vocês aqui. Madalena... – ela se afastou do filho, indo cumprimentar a outra senhora.
[...]
- Você já deu uma olhada nos apartamentos pela internet? – Oscar perguntou, enquanto parava o carro em um semáforo.
- Tentei, mas é bem complicado. Preferi não me estressar e olhar pessoalmente. Até mandei uma mensagem para o Christopher, ele disse que pode me ajudar essa semana. – Alfonso respondeu.
- Eu também tenho alguns contatos, posso te ajudar. – Oscar respondeu, mudando a marcha para continuar seguindo o caminho.
- Papai, aonde a gente ta indo? – Dani, que estava no banco de trás com as duas vovós, colocou a cabeça entre os dois bancos da frente, olhando para o pai.
- Para a casa da vovó, ué.
- Mas a gente não vai comer? – o menino ergueu as sobrancelhas, confuso.
- Vamos comer na casa da vovó, Dani.
- Mas eu achei que a gente ia comer em algum lugar de comida do México. – o menino continuou indagando, tirando uma risada dos adultos.
- Filho, aqui todo lugar é comida do México, praticamente. Inclusive a casa da vovó.
- Ah, mas eu achei que a gente ia sair... – ele ficou cabisbaixo, enquanto formava um bico em sua boca.
- Se você quiser, podemos passar no shopping antes de ir pra casa. Estamos bem perto. – Oscar disse, se dirigindo à Poncho.
- Vamos filho, pelo menos ele já começa a conhecer a cidade. – Dona Ruth insistiu, enquanto Poncho continuava um pouco pensativo.
- Não sei, estamos cansados da viagem...
- Por favor, papai. – o menino suplicou, fazendo Poncho suspirar, vencido.
- OK, vamos dar um passeio.
Não demorou cinco minutos para que Oscar chegasse ao estacionamento do shopping, que não estava muito cheio por ser uma quarta-feira.
Poncho estava louco para chegar em casa e descansar, mas decidiu tentar aproveitar aquele passeio atípico em família. Apesar dele mesmo estar familiarizado com, praticamente, tudo, para Dani tudo parecia novidade, chegando às vezes ser um pouco difícil acompanha-lo em todas as vitrines que ele queria ver. Embora estivesse muito cansado, Poncho estava adorando ver a animação do filho.
- Papai, você trazia a mamãe para passear aqui também? – Dani perguntou, deixando o clima um pouco desconfortável. Todos sabiam como era difícil para Poncho falar sobre a mãe do menino.
- Não, filho. – ele passou na cabeça do menino, ajeitando seu cabelo. – Sua mãe e eu nos conhecemos em Chicago, nós nunca moramos aqui.
- Mas vocês não vinham visitar a vovó Ruth?
- Sim, Dani, mas nunca viemos aqui.
- Dani, você não estava com fome? O que acha de irmos para a praça de alimentação escolher um restaurante bem legal para comermos? – Oscar pegou o menino no colo, encerrando o assunto desagradável para o irmão.
Eles continuaram caminhando. Enquanto dona Ruth e dona Madalena batiam o maior papo atrás, os dois irmãos conversavam à frente.
Os dois sempre foram bastante amigos, e Oscar foi uma das poucas pessoas que sempre esteve ao lado de Poncho durante os piores e melhores momentos de sua vida. Apesar da distância nos últimos seis anos, ainda tentavam manter contato e um bom relacionamento.
- Eu estou louco ou era aqui que ficava o Danubio? – Poncho indagou, olhando ao redor da praça de alimentação.
- Não sei, Poncho. Não venho muito por aqui. – Oscar respondeu, também olhando ao redor. – E aí, aonde vamos?
- Ouvi dizer que o San Ángel está com uma comida maravilhosa, parece que mudaram a direção há alguns meses. – Dona Ruth falou, sem deixar de observar que Poncho começava a ficar um pouco distante.
- Vamos lá fazer a prova, então. – Oscar respondeu, se dirigindo até o restaurante de faixada vermelha.
- Filho, você está bem? – Dona Ruth se aproximou de Poncho, enquanto Oscar caminhava com Madalena e Dani na frente.
- Sim. – ele balançou a cabeça, tentando espantar a confusão do olhar. – É só que... – ele estreitou os olhos, pensativos. – Não sei, alguma coisa me parece familiar demais aqui. – ele olhou para a faixada do San Ángel e em seguida para o ambiente, se condenando mentalmente por ter uma memória tão ruim.
[...]
- Poncho, você não quer pedir outra coisa?
- Não, Oscar. Se está demorando tanto para chegar o primeiro pedido, imagina se eu pedir outro. – Poncho bufou, irritado com a demora de seu prato. O pedido de todos havia chegado, menos o dele, e estava lhe demandando uma paciência de Cristo para não perder o controle.
- Eu vou lá ver quanto tempo vai demorar. – Oscar ia se levantar, mas Poncho o impediu.
- Oscar, não. Deixa isso. Vamos pagar e ir embora. Todos já comeram, não? Vocês vão querer mais alguma coisa? – todos negaram com a cabeça, e então Poncho levantou o braço para chamar o garçom, que não demorou em se apresentar à mesa.
- Pois não? – ele perguntou, gentilmente.
- Eu gostaria de fechar a conta. – Poncho respondeu, visivelmente irritado.
- O senhor ainda tem um pedido pendente.
- Sim, eu sei, mas pode cancelar. Demorou demais.
- Senhor, peço desculpas pela demora, mas se o senhor não se importar em esperar mais dez minutos, eu já irei lhe trazer o seu pedido.
- Eu me importo. Por favor, só encerre a conta. – Poncho passou a mão pelos cabelos, frustrado.
- Tudo bem, só um minuto. – o garçom de afastou, fazendo com que Poncho ficasse ainda mais irritado.
- Mas que diabos ele foi fazer? Será que é difícil fechar uma porra de uma conta nesse restaurante? – ele falou, recebendo imediatamente o olhar preocupado do irmão, e foi então que ele se lembrou que o filho estava presente.
- Poncho, se acalme... – a mãe pediu, preocupada com o nervosismo dele.
- Desculpa. – ele respirou fundo, desejando que aquilo tudo acabasse logo para ele ir para casa.
Mas não acabou. Foram mais uns cinco minutos de angustia em que Poncho teve que cerrar os punhos para controlar o nervoso que passava como uma corrente elétrica por todo o seu corpo. Sua família continuou conversando, tentando manter o clima agradável, mas ele ficou calado o tempo inteiro.
Estava quase se levantando para ir até o balcão, novamente, reclamar, quando Dona Madalena o impediu.
- Se acalme. Acho que uma moça está vindo aqui. – ela segurou a mão dele, fazendo-o se sentar novamente.
- Eu juro que nunca mais volto aqui. – ele respirou fundo, tentando conter a frustração.
Ele podia ouvir o barulho do salto batendo contra o piso do restaurante se aproximando cada vez mais da mesa, e estava prestes a se virar e jogar todas as suas reclamações na cara de quem quer que fosse, quando a voz que ele menos esperava ouvir acalmou todos os seus nervos.
- Boa noite, me informaram que vocês têm um problema com um pedido. Gostaria de pedir desculpas...
Poncho fechou os olhos por alguns segundos, quase sorrindo. Ele não podia acreditar naquela feliz coincidência. Sua irritação esvaiu de seu corpo em um passe de mágica, enquanto aquela voz doce e peculiar invadia seus tímpanos. Ele se virou lentamente para encarar aquela figura feminina de pouco mais de um metro e meio, os cabelos castanhos que a tanto tempo ele não via, brilhando em conjunto com os olhos cor de mel que ele não se cansava de olhar.
Enquanto ele abria um sorriso, quase em câmera lenta, os olhos dela se arregalaram ao constatar também aquela feliz coincidência. O tempo parecia ter congelado para os dois, pois apesar de terem se passado segundos, para ambos parecia ter sido uma eternidade.
- Eu não acredito. – ela levou a mão à boca, ainda em choque.
- Dulce? – o sorriso dele aumentava, enquanto ele afastava a cadeira para se levantar.
- Poncho! O que faz aqui? – ela sorriu, puxando-o para um abraço.
Poncho não poderia estar mais feliz de estar naqueles braços que ele tanto sentia falta. Dulce ficou extasiada com aquele perfume que havia tido tanta dificuldade de se livrar. Talvez aquele abraço tenha durado um pouco mais do que deveria, mas eles não pareciam perceber.
Quando finalmente se separaram, seus olhares se encontraram, e mais uma vez eles se perderam.
- Quase não te reconheci. – ela acariciou sua bochecha, reparando nos grandes cachos na cabeça de Poncho.
- Estou precisando cortar um pouco mesmo. – ele riu.
Dona Ruth, um pouco sem paciência, decidiu interromper o momento.
- Olá, Dulce. – ela deu seu melhor sorriso educado.
- Dona Ruth, oi. – Dulce sorriu sem graça, olhando para o resto da mesa. – Oi Oscar. – o irmão de Poncho apenas acenou com a cabeça. – Quanto tempo não vejo vocês. Como você está? – ela se voltou novamente para Poncho.
- Bem. Acabamos de chegar de Chicago. Quanto tempo mesmo, Ardilla. Três anos? – ele sorriu, ainda sem acreditar no reencontro.
- Quase três anos, né? Falta algumas semanas ainda. – os dois riram. – Quanto tempo você fica na cidade?
- Pra sempre? – ele respondeu, rindo, enquanto ela arqueava a sobrancelha, sem entender. – Estou oficialmente me mudando de volta para o México.
- Sério? – ela sorriu com a resposta.
- Sim. Vai ser bom pra gente. – ele apoiou uma mão sobre o ombro do filho, chamando a atenção de Dulce.
- Esse é o Dani? – ela perguntou, notando a presença do menino. – Meu Deus, como ele está grande!
- Dani, fala oi pra amiga do papai. – ele encorajou o menino, que até então só observava calado toda a pequena confusão.
- Oi. – ele se levantou, tímido, estendendo a mãozinha para Dulce, que tratou logo de se abaixar à sua altura.
- Oi Dani. Prazer, eu sou a Dulce.
- Eu sou o Dani. – ele respondeu, fazendo todos rirem.
- Você é a cara do seu pai, como pode? – ela olhou para Poncho, que deu de ombros, rindo.
- É bonito, então. – Poncho respondeu, enquanto Dulce se levantava, rindo do comentário.
- Bobo. – ela suspirou. – Mas então, me desculpa pela demora no pedido. Tivemos duas ausências na cozinha hoje, o que deixou tudo muito tumultuado. A Mai está louca lá atrás tentando fazer tudo o mais rápido possível.
- Sem problemas. – Poncho respondeu, fazendo de conta que não estava tendo um ataque três minutos antes. – Mas como assim, vocês estão no San Ángel agora? E o Danubio?
- Ah, nós conseguimos crescer bastante nesses últimos anos, mas já estava ficando um pouco monótono, sabe? Precisávamos nos desafiar mais, e foi aí que surgiu a ideia de abrir uma franquia. Acabamos ficando sabendo que coloram a franquia dos três restaurantes San Ángel à venda e decidimos nos jogar no negócio. Incorporamos o Danubio à franquia e agora estamos gerenciando os quatro restaurantes, quase abrindo o quinto. – ela falava orgulhosa dos próprios feitos, enquanto um Poncho meio embasbacado a encarava.
- Tudo isso em seis anos. Que incrível, Dulce. Sabia que vocês se sobressairiam nesse negócio.
- É, tudo deu muito certo. – ela sorriu. – E a Leo? Como vai fazer agora?
- Consegui um cargo na filial aqui da capital, vou continuar meu trabalho com eles, assim que ajeitar minha vida aqui.
- Fico feliz por você. – ela respondeu, afagando seu braço. - Bem-vindo à Cidade do México, de novo.
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