Você quer terminar e matar.
Você quer dominar e conquistar também.
Você quer ser um carrasco e executor.
(...)
A caneta ticava suavemente na medida que as folhas eram preenchidas mais e mais, a listagem de nomes certeiros e quistos eram feitos mediante os desejos dela e somente aqueles que ela considerava além do necessário iriam aparecer, ou isso ela havia se dito para não lotar o lugar, mas a real questão é que ela não queria que ninguém perdesse isso.
Seu maior desejo era que todos de Orario, todos que pudessem ir de fato estivessem lá, ela queria todos os olhos e todas as conversas sendo sobre isso. E para tal ela precisou realmente pensar nos nomes que ela iria convidar por suas cartas, a Festa de Benfeitora seria aberta, o que queria dizer que qualquer pessoa seria mais do que bem vinda contanto que não arrumasse problemas ou tivesse algum desacordo, tudo o que restou a ela foi criar as cartas para todos os Deuses que ela queria que estivessem lá.
Isso seria todos, sem nenhuma exceção, ela convidou até mesmo Loki, para ver se a mesma iria aparecer ou se iria confirmar que guardou rancor pelo que havia feito com a antiga filha da Deusa, que agora estava sobre seu emblema.
Ela estalou suas costas em sua poltrona quando escrevia os nomes em sua mesa que Hedin havia lhe trazido, ela estava assim durante uma boa parte de seu dia, completamente repousada e apreciando casualmente um vinho branco de vinte e cinco anos guardado em seu armazém, um belo dia.
Ela estava plenamente segura que o dia seria bom de qualquer forma. Seu amado Bell estava visível em sua alma e ela podia ver a alma de Aiz e Helun com eles o tempo inteiro, de momento em momento ela deixava de escrever apenas pra encarar os três do topo de sua Torre, apenas pra descobrir o que estavam sentindo.
Ou melhor, o que Helun estava sentindo, era um desejo guardado seu que Helun pudesse com o tempo, não repudiar mais a presença daquela garota, e conforme seu desejo se mostrou cada vez mais perto de ser possível, Freya se viu obrigada a averiguar como as duas ressoavam nos últimos tempos.
Ela sabia que as duas treinavam uma com a outra, ela entendia que as duas estavam mutuamente usando uma à outra para passar o tempo enquanto Bell ainda estava desacordado, ela entendia os motivos muito bem, mas mesmo agora que ele estava desperto, de uma forma ou de outra.
Talvez, só talvez Helun tivesse aberto um pouco sua tão rígida guarda para que Aiz pudesse se aproximar, não que ela também tivesse certa, mas não seria ruim se de fato acontecesse.
Ela terminou de preparar sua última carta e a deixou de lado um momento e suspirou satisfeita, havia sido um dia comum e até mesmo parado para ela, mas ela tinha deixado tudo o que precisava deixar pronto para a festa, onde ela iria fazer seu ponto antigo dos xenos ser posto ao assunto principal de Orario com mais força, e já que Ouranos e aquele Deus tagarela não davam as caras, ela iria se aproveitar disso.
- A covardia dos mais velhos é impressionante. - ela foi obrigada a falar sozinha em seus aposentos.
De uma maneira não tão natural, era quase como se alguma coisa maior estivesse guiando os passos dela para que ela continuasse a demonstrar seu domínio e soberania até mesmo para aqueles que deveriam estar acima dela no termo de hierarquia em Orario, era uma dádiva que Ouranos e Ganesha tivessem fugido, ela sabia que havia dado um ataque poderoso em sua moral e reputação, mas eles não tentaram se defender, eles ficaram quietos e se esconderam, dando ela uma chance ainda maior de fazer as pessoas seguirem o comando dela.
A festa seria uma aposta, se nada mais. Ela iria demonstrar exatamente o que queria fazer com essas criaturas e dar-lhes-ia um plano rico em detalhes, ela tinha certeza que haveriam pessoas dispostas a fazerem isso com ela.
- Devo deixar o roteiro que preparei perto de mim? Ou eu mesma devo dizer o que se deve fazer? - ela murmurou para si alguns momentos, levantou-se e se afastando de sua mesa enquanto dava alguns passos sobre seu quarto pensativa. - Os corajosos com certeza vão querer vir comigo, mas os céticos precisaram de uma prova concreta que os locais são reais...
Ela poderia dar algum tipo de recompensa para aqueles que se juntarem ao expurgo para as criaturas? Não, isso seria ruim pensando de um jeito muito simples: Ela não queria usar dinheiro com seres que seriam apenas massa de manobra, ela iria arriscar no final e teria que ver quantos estariam dispostos a caçar esses monstros e dar-lhes um fim.
Após isso, se tudo desse certo ela definitivamente iria atrás de Ouranos e tomaria o seu lugar com um pretexto muito óbvio, os próprios xenos, um Deus soberano que andou sobre os homens, um dos responsáveis pela falna existir para combater tais criaturas, estava escondendo e protegendo elas também? A dupla face disso era loucura, ela usaria isso muito bem.
- Mas o que devo fazer sobre Hermes? Ele está desaparecido e eu não tenho notícias dele em nenhuma parte de Orario, mesmo com todos os membros infiltrados que eu tenho em cada ponta desse lugar. - ela disse isso desgostosa, ela queria descobrir onde o Deus maldito estava para que ela pudesse acabar com a presença dele neste reino também, Hermes não teria a mínima chance contra ela de nenhum modo, mas o homem era esperto e acima de tudo escorregadio e ela teria que preparar suas mãos para agarrá-lo e terminar com ele na próxima chance.
Ela já havia começado a assumir que o mesmo havia saído da cidade e quiçá até mesmo das redondezas daquele lugar, era algo estranho de se pensar mas fazia total sentido pra ela, era a única forma dela não ter encontrado ele até agora.
Ela decidiu deixar isso de lado por agora, ela tinha coisas mais importante para fazer agora do que pensar naquele maldito, como ir lentamente até a sua cama e se deitar plenamente, ela havia ficado sentada por muito tempo, ela fecharia seus olhos e repousaria, pois estava tudo bem com sua vida agora.
Tendo certeza que em breve ela dormiria, ela apenas se deixou vagar pela mente e o cansaço assumiu seu posto, deixando a eterna Deusa da Beleza achar o sono.
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Corpos, corpos para todo o lado, mas o final estava próximo e ela sabia que estava próximo, o cheiro da morte e a podridão daquele lugar já haviam assolado sua mente muitas vezes a essa altura do campeonato, mas estava tudo bem, seu objetivo, sua missão e sua responsabilidade estavam logo a frente dela, faltava pouco.
Faltava muito pouco, se desprendendo de uma carcaça gigante ela iluminou aquela caverna escura e pútrida, deixando para trás aquelas criaturas que ela havia matado, não importava mais em colher qualquer amostra ou estudar sua espécie, ela se cansou desse lugar horrível e infernal.
Ela havia perdido sua dignidade quando o cheiro dos monstros se misturou com o dela, engolindo um gole azedo da morte ela prosperou pela sua valentia, Zald estava atrás da caverna, cuidando para que os monstros maiores não voltassem, ela preferiu agir sozinha agora.
Eram centenas, talvez até milhares daqueles monstros nojentos com aparências de lagartos naquele lugar. Mas ela os matou, sim, ela matou todos que precisava matar, eles haviam feito seu ninho dentro da cratera que continha o que ela precisava. O único remédio no mundo que era possível de curar doenças degenerativas, algo que ela sabia que Bell possuía uma chance de herdar de sua mãe.
Ela jamais se perdoaria se deixasse isso acontecer. Ela continuou sua jornada fazia-se quase um mês? Ela tinha que dormir com Zald muitas vezes sobre a terra e não podia olhar para o céu, era um lugar tão hostil que até mesmo alguém do seu nível tinha que ter cuidado.
Sua mente estava uma merda e ela queria poder dormir, ela não conseguia dormir fazia dois dias, sua reserva de energia havia sido totalmente esgotada e ela só precisava pegar a erva que estava diante dela.
A árvore que ela ouviu tantas histórias, yggdrasil estava diante dela, e embora fosse diferente como nos contos, ela era menor que um mundo e certamente não englobava todos os sete reinos do cosmo, ainda sim era uma grande o suficiente para que as copas dela fossem vistas pela parte de fora da caverna, a árvore havia quebrado a intensa rocha quando cresceu. E suas propriedades eram seu foco evidentemente.
Ela colheu as ervas, as raízes e até mesmo as folhas daquela árvore, ela tencionou que deveria cortar uma parte do tronco, mas olhando bem para a árvore, talvez nem mesmo sua melhor magia ofensiva fosse o suficiente pra que ela pudesse danificar a árvore, só de olhar para aquilo ela entendia que isso estava além dela.
- Quem criou você? - Alfia se perguntou enquanto observava a imensa árvore emitir sua luz naquele lugar escuro, parecendo o único ponto brilhante naquele lugar onde ela travou uma batalha de dias contra esses monstros, ela queria poder ficar e continuar observando aquilo o tempo que pudesse, mas ela estava no seu limite também.
Ela saiu da encosta e pulou para baixo, ela havia usado os corpos dos monstros jogados para passar pelos pedregulhos afiados e ficou contente em se chocar com os corpos quando atingiu o chão, ela não tinha nem ao menos força o suficiente para levitar agora.
Quando caiu em cima da carcaça de um lagarto, ela abriu um rombo no corpo da criatura e se manchou de seu sangue e tripas, mas ela nem ao menos pareceu ligar para isso. Ela se desprendeu da carcaça do monstro e rumou para a saída da caverna, onde ela já podia ver a sombra de Zald, o mesmo estava de costas para ela, e abaixo dele, abaixo da colina em que estavam ela podia ver as criaturas que ele enfrentou nos dias que ela também lutou, eram monstros tão hediondos, tão colossais que eram maiores do que casas e prédios de Orario.
Ela estava exausta, assim que se aproximou o suficiente de Zald, ela se debruçou em suas costas e agradeceu silenciosamente quando Zald começou a carrega-la.
- Você conseguiu? - Zald perguntou, um pouco preocupado pelo estado desgastado de Alfia embora ela fosse uma maga e não tivesse tanta resistência como um guerreiro, Alfia era muito durona e se esgotar assim não era normal.
- Com quem você acha que está falando? - Alfia resmungou enquanto deixava seus olhos se fecharem e permitir que fosse carregada, a julgar pela claridade do sol se pondo, a noite já estava próxima, o melhor momento para eles refazerem seu caminho e saírem daquele local? Nem de longe, a noite era pior.
- Vamos embora daqui. - disse o homem saltando do topo da colina, ele conseguiria aterrissar sem maiores problemas. - Vamos voltar para o vilarejo mais próximo, podemos descansar e partiremos em viagem para Orario, o mais rápido que pudermos.
Eu estou cheirando a merda de monstro. - Alfia disse em seus últimos momentos de lucidez quando a inconsciência reivindicava ela.
- Nada novo até então. - Zald se permitiu zombar da mulher em seu momento de fraqueza, ele esperava retaliação, mas a mesma havia apagado sobre seus ombros. - Estamos voltando garoto. - disse Zald se arrastando sobre as árvores, mascarando sua presença como podia e notando que estava sendo seguido a essa altura. - Estamos voltando...
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O cheiro era ótimo e o lugar era ainda mais agradável do que ele poderia ter previsto, passando pela recepção ele notou as extensas mesas com panos sobre elas, pareciam até mesmo sedas sobre madeira, as cadeiras polidas de orvalho se ele não estava enganado davam um toque de sofisticação aquele lugar, mas de novo ele notou que muitas pessoas o observaram, ou observaram as duas, ele queria matar todos eles... ?
- Comer... - Aiz murmurou enquanto sentia os aromas diversos daquele restaurante, tudo cheirava tão bem! - Vamos comer, por favor. - ela puxou a blusa de Bell para baixo, para que ele fosse com ela.
Bell parou de fixar seus olhos sobre aquele restaurante que Helun havia lhes indicado e observou sua namorada, ela parecia uma criança querendo alguma coisa, era perceptível que ela estava com fome, o cheiro era bom e parecia estar deixando Aiz louca.
Ele foi atendido assim que passou pela recepção por uma pallum muito simpática.
- Primeira vez? - a moça lhes perguntou, tendo passado alguns dias nesse serviço ela não se lembrava de ter visto rostos tão interessantes.
- Sim, é nossa primeira vez aqui. - Helun tomou a voz dessa vez enquanto se comunicava com a mulher. - Ouvi dizer que o atendimento de vocês é diferente, pode nos explicar?
- Com prazer. - ela apontou para uma fileira com todo o tipo de comida servida, um banquete para lá e para cá, parecia não ter fim a quantidade de pratos diferentes sobre uma mesa longa e reta. - Você pega seus talheres e seu prato, e pode se servir como quiser, e quantas vezes quiser!
- Eu posso pegar o quanto eu quiser? - Aiz imediatamente brilhou seus olhos sobre isso, ela estava vendo tantas coisas coloridas e saborosas que ela teria que abrir um buraco extra em seu estômago.
- Você pode pegar o que quiser, e o quanto quiser, o valor será correspondente a quantidade que você pegar. - a pallum lhes explicou e lhes apontou o lugar onde deveriam pegar seus utensílios. - Estão vendo aquele homem com uma balança de metal? Depois que se servirem, coloquem o prato acima daquela balança, o valor será mediante ao peso!
Aiz nem ao menos se prestou a se perguntar como isso funcionava, ela estava com fome e odiava ficar com fome, assim que ela entendeu o que deveria fazer ela se apressou até o local que a atendente havia indicado e pegou o prato.
Olhando para aquela mesa ela notou uma vasta quantidade de legumes, que era algo que ela particularmente gostava, ela não demorou e preencheu de cores seu prato e notou que havia muita, mas muita grelha naquele local, carne grelhada era sempre maravilhoso!
Bell estava observando Aiz começar a formar uma pequena montanha enquanto ela pegava de tudo um pouco, ela conseguiria comer tudo isso? Ela podia talvez ter um apetite grande mas isso já era outra coisa. Ao contrário de Aiz ele não estava exatamente com fome e nem sentia vontade de comer algo, mas ele decidiu ir junto porque ele queria seguir os planos delas, parecia bom ser guiado.
Ele apenas se serviu com alguma salada nunca vista antes e pegou a coisa mais segura e confiável que ele tinha visto, peixe. Helun em contrapartida não teve coragem de dizer mas não estava muito atrás de Aiz no quesito comer com os olhos! Ela também havia feito uma montanha em seu prato, quando ela notou o olhar de Bell sobre si ela virou para o lado envergonhada.
- Os preços serão colados nesta comanda. - o homem careca lhe entregou uma pequena nota com os valores escritos. - Entregue isso na recepção quando sair, bom jantar.
Agradecendo o homem, Bell notou que Aiz havia achado uma mesa para eles, ou simplesmente se sentado na primeira que havia visto e a cada segundo que passava ela parecia estar a ponto de se engasgar com a velocidade que comia, ele pediu por algo para beber e encontrou uma taça de ameixa, não era bem sua coisa favorita mas ele não estava interessado em descobrir o que eles tinham, parecia tudo alcóolico.
- Aiz, coma devagar. - Helun a repreendeu quando notou que a garota teve que virar outro corpo quando colocou muita comida em sua boca. - Deus do céu, Bell peça pra ela parar.
- Aiz, mastigue isso. - Bell pediu com um sorriso no rosto, notando que só então Aiz havia desacelerado seu ritmo alucinante de degustação, as vezes Bell não sabia dizer como ela iria agir, agora ela parecia realmente uma criança.
- Dhesculphe. - ela murmurou quando pegava um bife grelhado e colocava quase inteiro na boca, sobre o olhar chocado de Helun e um conformado de Bell, ela realmente estava com fome. - Isso é tão bom...
Bell nem precisava pedir confirmação pra saber, do jeito que Aiz havia consumido isso era óbvio que estava bom, não era algo tão sútil assim.
- Eu não sabia que você podia agir assim. - Bell comentou com Aiz enquanto a observava, em alguns momentos ela parecia séria, até mesmo cruel pelo que falava, e em outros ela parecia uma garotinha.
- Ela é uma louca glutona. - Helun disse calmamente, como se estivesse proferindo um fato da vida. - Acredite, qualquer coisa nova de comer ela vai agir assim, sempre.
- Bell, você não quer provar? - Aiz nem parecia ter prestado atenção na conversa dos dois enquanto estendia um pedaço de peixe de salmão que havia pego para ele. - Você não se serviu muito! Ela disse que poderíamos comer o quanto quiséssemos, coma um pouco!
Olhando pra Aiz ela parecia quase implorar para que ele comesse, ele realmente não entendia essa oscilação de humor, mas era divertido ver o quanto ela podia mudar conforme a situação mudava.
Seria Aiz multi-bipolar?
Ele aceitou o pedaço e o mastigou para mostrar que estava bom. O que ele não contava era que Helun vendo isso não queria ficar de fora e lhe estendeu outro pedaço de peixe também, o olhando com olhos cheios de expectativas.
Realmente? Nenhuma das duas parecia ser boa em ficar em segundo lugar ou em não competirem sobre QUALQUER coisa que existisse no mundo, ele preferiu não comentar nada e aceitou o que Helun lhe havia oferecido.
Havia sido um longo dia e cheio de coisas para se fazer, ele podia dizer que havia sido um encontro? Ele não era realmente o melhor dos homens pra dizer como que um encontro deveria ser, mas ele pensou que apesar da quantidade de olhares que as duas receberam dos outros, ele se divertiu.
Ele havia notado que os demais clientes pareciam também muito suscetíveis a olhar para a mesa deles, se ele simplesmente pudesse arrancar seus olhos...
Mas isso não era certo? Por que ele havia pensado nisso? Ele sacudiu a cabeça e pensou que não deveria ter cogitado fazer isso.
- O que está pensando? - perguntou Helun ao notar o rápido movimento que ele havia feito, ele parecia ter pensado em alguma coisa e queria banir o pensamento.
- Acho que minha mente está me engando de alguma forma. - Bell murmurou enquanto comia o que havia pego, a fome não era sua aliada então ele se manteve em silêncio, mas ele não queria se deixar cair no pensamento de pegar cada homem que olhava para as duas e enforcá-los, não parecia certo. - O que vocês acharam de hoje? Foi um bom dia para vocês? - ele queria desviar sua mente disso.
- Foi o melhor. - disse Aiz após um momento. - Mas eu quero saber de você, foi um bom dia também? Nós notamos que você parecia nervoso em vários momentos.
- Mas ele nos disse o motivo sobre isso, não? - Helun se lembrou da resposta de Bell. - Não é como se pudéssemos impedir os outros de olharem, não é?
- Eu queria que tivesse. - Bell deixou escapar um rápido desejo que ele havia adquirido agora, ele entendia que sentia ciúmes, mas ciúmes não era algo perigoso por si só, ele estava ativamente pensando em até mesmo fazer mal ao próximo só por olhar.
- Você quer que eu mate mais alguém? - Aiz disse isso, deixando Bell um pouco surpreso. - O que foi? Antes de você acordar eu tive que fazer isso, um idiota tentou me agarrar e eu tive que ensinar ele a parar de um jeito muito único.
- Bell? Embora eu não me importe nem um pouco com a vida dos outros, é muito atípico pra não dizer estranho você não se importar com os outro também. - Helun o conhecia desde o tempo em que ele não havia passado por nada, como havia chegado em Orario, era comum Bell simplesmente ser risonho e convidativo, ele ficava triste quando algo ocorria e queria melhorar, mas agora ele parecia nervoso e até mesmo hostil ao menor dos olhares, era algo que ela não imaginava, e isso a preocupou.
- Eu não sei. - Bell começou a mexer seu garfo sobre o prato enquanto organizava os pensamentos. - Cada vez que eu vejo alguém olhando pra qualquer uma de vocês, eu sinto uma raiva borbulhando dentro de mim, como se algo me dissesse que isso não é certo.
- Se isso é ruim pra você, eu posso dar um jeito nisso. - Aiz havia terminado de comer e parecia ter banido a sua atitude infantil, ela parecia muito séria. - Eu não me importo de fazer mais pessoas sumirem, para mim seria fácil, e chegaria a um ponto que ninguém teria mais coragem de fazer isso.
- Eu não ligo pra ninguém além de vocês. - Helun disse sem problemas. - O que eu ligo é o motivo de você pensar assim agora, eu não me importo com mudanças, mas quando envolve você eu quero entender, eu conheço você e sei que você não era assim! A mera ideia de sequer falar a verdade para aqueles dois ratos sugadores de talento te deixava triste, e agora isso? Você vai conversar com Freya, ela pode te ajudar de uma forma que nós não podemos.
- Se mesmo assim você não se entender e continuar sentindo isso, então nós iremos agir. - Aiz falava sobre matar qualquer outro como se estivesse falando sobre o tempo, nem parecia a incomodar ou causar arrependimento, parecia tão natural quanto respirar, isso o encantoou...
Por que ele se sentiu bem ao ouvir isso? Como se Aiz fazer isso o alegrasse?
- Eu causo muito problemas, não é? - ele comentou mais para si mesmo do que para elas.
- Eu não ia te querer de outra forma. - Helun respondeu automaticamente. - Eu aceitei você, e você também me aceitou, o que significa que qualquer problema seu é meu também, se você se sente estranho e está confuso, eu te darei o tempo pra se entender, esteja conflitante ou não.
- Eu não acho que isso seja o certo. - Aiz disse plenamente enquanto encrava seu namorado. - Se eu disser que vou matar aquele homem careca, que estava encarando a mim desde que entrei, você me impediria?
Ele estava a olhando? Ele nem ao menos percebeu porque estava observando a decoração, isso o irritou por não ter percebido.
- Não, eu não iria. - ele respondeu honestamente.
- Vê? - Aiz olhou para Helun. - Não é conflitante, é moral.
- Seu ponto? - ela permitiu que a mais nova falasse o que pensava.
- Isso não é estranho pra mim, pra ser honesta. - Aiz sabia por experiência própria que as pessoas mudavam conforme passavam por experiências e também pelo tipo de pessoas que conviviam, qualquer ação externa podia te influenciar de uma maneira que você não tinha controle. - Ele não está em conflito com ele mesmo, mas sim com seus valores morais.
- Você quis dizer sobre a minha ética? - ele queria entender o que Aiz queria lhe explicar.
- Eu não me lembro de você sentir raiva de ninguém, nunca vi você sequer demonstrar raiva mesmo quando deveria sentir raiva, mesmo quando eu te carreguei de volta para casa quando as pessoas apontavam pra você, você só se sentia triste, nada de raiva nem hostilidade, mas agora quando cada lugar tinha alguém nos observando, você mostrava o quão irritado estava, mas também não queria focalizar isso, você não verbalizar sua raiva, você a esconde.
- Agora eu entendo como você se identifica. - Helun comentou.
Aiz havia passado pela mesma coisa, a única diferença é que ela foi guiada ou pressionada por muitas pessoas a esconder isso de si mesma, a agir como uma boneca e ser inexpressiva, a ser controlada e não agir sem propósito, Bell parecia estar tentando se conter porque não acreditava ser o certo.
- Se conter e se esconder de si mesmo não é o melhor caminho, não importa que tipo de emoção você sinta. - Aiz tocou na mão de Bell enquanto olhava em seus olhos. - Você nos prometeu que nunca mais iria se colocar em perigo, mentir pra si mesmo é muito perigoso, então me diga o que você está sentindo agora?
- Ódio. - ele respondeu sem nenhum atraso.
- O que você quer fazer sobre isso? - ela instigou, desejando ver isso melhor, essa pequena contenção dele não era saudável, e uma parte dela queria também descobrir, o que toda essa sutileza tinha por de baixo dela.
As pessoas sutis e mais carinhosas tinham sua própria ruptura, ela queria ver o que Bell tinha dentro dele agora.
- Eu quero matar aquele cara. - ele disse sem sequer raciocinar sobre o que falava. - Aquele da loja, ele falou com Helun como se ela fosse uma vagabunda que precisava de um homem para tudo na vida, eu não gosto disso, eu odiei isso.
Helun ouviu isso e não ofereceu nenhuma resistência a isso, que diferença fazia a vida de alguém como aquele homem? Ele era um funcionário e nada além, podia ser de algum lugar prestigioso mas isso não fazia diferença alguma em sua vida, e se isso não a afetava, ou afetava eles.
Que morresse.
- Ser honesto é muito bom. - os olhos de Aiz pareciam ter perdido um pouco do ouro, e as manchas escuras em suas orbes pareciam ter crescido um pouco mais. - Podemos fazer isso com você, você quer que nós façamos ele aprender com seu erro?
- Não, eu quero ser o único a fazer isso. - ele nem ao menos parecia pensar mais no que falava, mas cada palavra parecia estar certa em sua cabeça, como se acabar com aquele cara fosse o correto e nada além.
- Que tentação... - Aiz alisou o rosto branco dele, ele parecia até mesmo um pouco distante, mas ela podia ver em seus olhos que esse era um desejo forte e absoluto agora, ela adorou ver isso. - Estou satisfeita, e talvez possamos encerrar esse dia de uma maneira ainda mais especial.
- Você parece um demônio. - Helun a analisou, e de fato realmente parecia, ela entendia que uma parte de Aiz havia saído para fora pelo que Freya havia lhe explicado, mas para que a diferença fosse tão grande, ainda sim era surreal.
Todos nós somos de uma maneira ou outra. - Aiz disse se sentando com um sorriso escarlate no rosto, demonstrando uma fileira de dentes perfeitos enquanto mantinha os olhos no homem que ela havia descoberto um lado que ela podia se identificar ainda mais. - Olhe só pra ele, ele está no mundo da lua pensando no que fazer.
Olhando para Bell, ele se mantinha olhando para um ponto fixamente enquanto sua mente parecia vagar por mil lugares diferentes fazendo muitas coisas, ele parecia até mesmo obcecado com isso agora.
- Eu quero fazer isso agora. - Bell admitiu após refletir por mais alguns segundos. - Quero acabar com ele, para sempre!
Helun acenou com a cabeça se colocando de pé e se espreguiçando. - Se esse é o seu desejo... Que assim seja.
Aiz pegou a comanda com o valor dos pedidos enquanto cantarolava uma música qualquer enquanto caminhava até Bell se agarrando nele da mesma maneira que Helun estava fazendo.
Odiar não era errado para ela, os humanos viviam de ódio e morte a cada momento, que diferença fazia tentar esconder isso? Qualquer ação era suficiente para que a raiva dominasse, ela entendia que essa mudança havia acontecido depois que Bell ficou com aquela mulher maldita que o havia feito tanto mal e provavelmente sua própria cabeça quando estava adormecido não era um lugar agradável.
Tudo bem, ele havia adquirido um tom mais escuro sobre sua pele de cordeiro, mas ele não era um lobo, ainda não, ele não era como ela que era uma loba e se vestia de cordeira, ele era o oposto dela tentando se descobrir agora.
Se ele queria agir como um predador ela teria certeza de lhe guiar para esse caminho, porque amar também é libertar.
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