Mais um dia havia se iniciado no Oeste após a discussão que os recém-casados tiveram na noite anterior. Rin decidiu fazer seu desjejum no quarto àquela manhã – que não passaram de dois bolinhos e chá verde, uma vez que não andava se alimentando corretamente e não tinha quem conseguisse convencê-la a fazer o contrário – Não sabia se Sesshoumaru estava no castelo, decidiu não arriscar encontrá-lo logo cedo, não queria ver o youkai nem pintado de ouro.
- Sente-se melhor, vossa graça?
Sayuri questionou enquanto escovava calmamente os sedosos cabelos de sua princesa, que estava sentada em sua cadeira.
- Sim... – A morena soltou o ar levemente – Obrigada por me consolar e me confortar ontem à noite, Sayuri san. Meu coração estava muito agitado.
- Não foi nada, vossa graça. Como disse antes, estarei aqui para a senhora sempre que precisar.
Rin sorriu para Sayuri através do reflexo no espelho.
- Prontinho!
Exclamou a youkai ao finalizar o penteado de Rin, havia feito um belo coque alto decorado com flores de cerejeira decorativas.
- Ficou ótimo!
Exclamou a jovem princesa.
- Que bom que gostou vossa graça! – Sayuri respondeu contente – Já está pronta para iniciar o dia, deseja algo mais?
- Por agora não, Sayuri san, irei terminar de ler o livro que lhe falei, já que minha leitura foi bruscamente interrompida na noite anterior... Não consegui finalizá-lo.
Respondeu a morena, referindo-se a discussão que tivera com Sesshoumaru na noite passada.
- Claro vossa graça, como desejar, se precisar de mim é só tocar o sino.
Rin consentiu balançando a cabeça em positivo, a dama de companhia pediu licença e se retirou do cômodo. A pequena suspirou ao se ver sozinha novamente, a briga da noite anterior ainda estava fresca em sua memória, sentia raiva de Sesshoumaru toda vez que se lembrava daquilo.
Um tremendo idiota, orgulhoso, arrogante e controlador!
A pequena pensou, em seguida balançou a cabeça a fim de afastar aqueles pensamentos, pegou o livro que ainda estava ali e decidiu dar continuidade a sua leitura.
♦♦♦
Enquanto isso, Sesshoumaru se encontrava fora do castelo treinando ao ar livre suas habilidades de Kenjutsu junto de seu mais fiel soldado e amigo, o general Bankotsu Shichinintai. Bankotsu era um rapaz alto, robusto e habilidoso; sua pele possuía uma tonalidade leve de jambo, os cabelos eram negros e longos, sempre presos numa grande trança baixa; os olhos eram de um azul escuro, possuía um símbolo em sua testa, uma espécie de estrela em um tom leve de violeta. Os dois rapazes lutavam usando duas espadas, ambos trajando apenas a parte de baixo do kimono, uma hakama que era sempre usada para treinos como aqueles. Sesshoumaru usava seu cabelo preso a um rabo de cavalo alto.
Em um único golpe rápido e forte, o inuyoukai atingiu a espada de Bankotsu que voou para longe, parando de pé fincada na grama.
- Belo golpe, vossa graça.
Elogiou em um tom zombeteiro, esboçando um sorriso maroto.
- Preste mais atenção da próxima vez.
Sesshoumaru respondeu áspero enquanto ajustava o laço de sua hakama.
- Parece que alguém acordou com o pé esquerdo hoje – Bankotsu comentou indo pegar de volta a espada fincada no chão, quando se virou, Sesshoumaru já estava indo para cima dele, o general quase não teve tempo para reagir.
- Avisei para prestar atenção.
Sesshoumaru disse enquanto desferia diversos golpes com a espada, Bankotsu apenas se defendia.
- Seu humor está péssimo! O que aconteceu?
Perguntou o general enquanto desviava dos golpes de seu superior.
- Preocupe-se apenas consigo mesmo, general.
- Quanto mal humor... Isso tem nome, não me diga que é por causa da garota?
- Não sei do que está falando.
- Claro que sabe, falo de sua esposa, a princesa humana que agora mora no castelo.
Sesshoumaru não respondeu, apenas continuou a luta.
- Eu sabia que era isso! – Bankotsu sorriu satisfeito por ter acertado – Deixe-me adivinhar, vocês brigaram?
- Isso não é de sua conta!
Bankotsu riu.
- Parece que a humana conseguiu lhe tirar do sério.
E em um único descuido de Sesshoumaru que não passou de um milésimo segundo, Bankotsu aproveitou a deixa e conseguiu atirar a espada do youkai para longe assim como ele fizera anteriormente, apontando sua lâmina na direção da garganta do youkai.
- Foi só falar dela que você se descuidou, deveria prestar mais atenção, vossa graça.
Bankotsu zombou, ofegante pelo árduo treino que tivera. Sesshoumaru havia perdido aquela rodada.
- Tsc, patético.
O prateado se desvencilhou e caminhou até um dos bancos do jardim e se sentou, pegou o vaso de barro que estava ali e bebericou a água que continha dentro do objeto. Bankotsu sentou-se ao seu lado.
- O casamento não está de sendo de seu agrado?
O moreno puxou assunto novamente.
- Não.
O prateado respondeu, sendo direto.
- E qual é o problema? É por ela ser humana ou tem outra coisa o incomodando?
- Por tudo!
Sesshoumaru bebericou mais um gole de água, Bankotsu decidiu fazer o mesmo, estava morrendo de sede.
- Tudo?
Perguntou o general após ingerir um longo gole do líquido transparente.
- Não só por ser uma humana, mas por ser atrevida, teimosa e desobediente! Se recusando a seguir as regras que mantém esse castelo e todo o Oeste em ordem, é uma desvairada, não tem juízo nenhum.
Bankotsu riu baixo, Sesshoumaru de fato parecia irritado com a jovem princesa.
- Qual é a graça?
O youkai indagou ao estreitar os olhos para o amigo.
- Nada, só é engraçado ver como você fica quando alguém o contraria...
- Não seja patético.
- Eu disse alguma mentira? – Bankotsu questionou – Acho que você encontrou alguém a altura, Sesshoumaru. Aparentemente a princesa bate de frente e é orgulhosa igual a você.
- Ela não é orgulhosa, só é teimosa e inconseqüente. Não sei como foi criada por seus pais para agir dessa maneira, mas vai aprender que aqui as coisas não funcionam do jeito que ela quer.
- E o que pretende fazer?
- Já fiz, tirei dela uma das coisas de que mais gosta, e só terá de volta quando aprender a se portar como uma verdadeira princesa e esposa. Se não o fizer, simples, só terá a perder.
Bankotsu fitou o horizonte por um momento.
- Entendo... – Murmurou o moreno – Bem, longe de mim me meter no seu casamento e em sua vida pessoal, mas por algum momento já pensou em tentar se entender com ela? Não digo que deva amá-la ou ser devoto a ela, mas ao menos... Tornar a convivência de vocês mais tolerável, mais leve.
- Acha que eu já não fiz isso? Mas ela insiste em me contrariar e tornar tudo mais difícil.
- Ela está tornando tudo difícil, ou vocês dois estão tornando tudo difícil? Eu te conheço bem...
Bankotsu alfinetou.
- Já está falando demais – O aristocrata resmungou ao se levantar – Vamos continuar, ou já está cansado?
Zombou do amigo.
- Você sabe que não me canso rápido – Bankotsu respondeu também se levantando – Sesshoumaru.
O prateado fitou o moreno após ouvi-lo chamando.
- Sei que você não é do tipo que pede conselhos, mas mesmo assim eu acho válido lhe dar um... – Bankotsu começou a falar – Tente se entender com a garota, se não por ela, mas por você, afinal ela é sua esposa. Eu tenho experiência com mulheres humanas já que me envolvi com muitas, e apesar de cada uma ter seu próprio jeito, pode ter certeza do que digo: se começar a ser mais amigável com ela e tratá-la melhor, ela começará a ceder e abaixar a guarda. Tudo ficará mais fácil, acredite. Mas para isso... Você terá de ser menos orgulhoso, meu amigo.
Sesshoumaru permaneceu em silêncio por alguns segundos, como se refletisse sobre o que Bankotsu acabara de dizer. O general era a única pessoa que Sesshoumaru parecia dar ouvidos, já que nem com sua própria mãe ele gostava de conversar muito. Mas Bankotsu era seu amigo de longa data, além de ser o general do seu exército, um costumava agir como o ‘pai’ um do outro quando precisava. Os dois homens se entendiam muito bem, cada um a seu modo.
- Você tem razão sobre uma coisa, Bankotsu – Sesshoumaru voltou a falar – Eu não peço e nem preciso de conselhos.
Bankotsu riu.
- E você fala demais, acabou o descanso de dez minutos, vamos.
- Eu sei que você vai pensar sobre o que eu disse – Bankotsu afirmou – Mas agora vamos ao que interessa.
Os dois pegaram suas espadas, entraram em posição e voltaram a lutar.
♦♦♦
As horas haviam se passado. Rin finalmente finalizou sua leitura e se encontrava satisfeita com o desfecho final da história, A bela e a fera havia se tornado uma de suas histórias favoritas.
- Preciso ler outro livro.
A morena então saiu do quarto com o livro em mãos, iria devolvê-lo a biblioteca e procurar por outro. Além de pintar quadros, Rin adorava ler, e como não tinha mais acesso ao seu material de pintura, decidiu passar o tempo lendo livros, essa era sua válvula de escape no momento. A biblioteca do castelo era imensa e possuía muitos pergaminhos, livros e artigos, a jovem donzela já se imaginava passando horas a fio ali, absorvendo o máximo de conhecimento que pudesse.
Assim que chegou, Rin notou as portas estarem fechadas e estranhou, ainda assim ignorou o fato e tentou abri-las, mas para sua triste surpresa, as portas estavam trancadas.
- Está trancada! Mas por quê?
Foi então que Rin avistou um dos guardas passando por ela no corredor.
- Com licença...
A princesa o chamou.
- Sim, vossa graça.
- Consegue abrir essas portas? Eu não estou conseguindo!
Pediu ao guarda que imediatamente a obedeceu, mas fora em vão.
- Está trancada majestade. Só será possível abrir com as chaves.
- E onde ficam essas chaves?
- Normalmente elas ficam com no escritório do lorde Sesshoumaru, senhora.
- Entendo... – Bufou – Tudo bem, obrigada.
O guarda pediu licença e se retirou, continuando seu caminho. Rin decidiu ir a procura de Mitsuri, a governanta da casa. Uma vez que a mulher era responsável por tudo que acontecia no castelo, certamente saberia como ajudá-la. A pequena mulher percorreu os corredores do castelo até finalmente encontrar a governanta.
- Com licença, senhora Mitsuri!
A mais velha se virou ao ouvir a melodiosa voz de Rin.
- Boa tarde, vossa graça – Cumprimentou educadamente – Em que posso ajudar?
- Eu fui até a biblioteca a pouco, mas está trancada, sabe me informar o motivo? Gostaria muito de pegar um novo livro para ler.
- Ordens do príncipe Sesshoumaru, majestade.
- Como é?
Rin questionou ao franzir o cenho.
- Lorde Sesshoumaru ordenou que a biblioteca fosse fechada por tempo indeterminado para que ninguém possa ter acesso... – A youkai respirou fundo, meio constrangida – Incluindo a senhora, vossa graça.
Rin ficou boquiaberta com a atitude.
- É claro que isso só podia ter sido idéia dele... Inacreditável!
A jovem donzela balançava a cabeça negativamente.
- Bom, como sua princesa Mitsuri sama, eu ordeno que reabra a biblioteca e a deixe acessível durante vinte e quatro horas por dia.
- Eu não posso vossa graça...
- Não pode? Por que não?
- Lorde Sesshoumaru ficou com as chaves assim que a biblioteca foi fechada, terá de falar com ele.
Cretino! Fez isso porque não fui jantar com ele na noite anterior e por discutirmos, agora está tentando me punir bloqueando meu acesso a biblioteca, esse Youkai... Ele fez tudo de caso pensado!
Pensou a morena.
- Eu sinto muito em não poder ajudá-la, vossa alteza.
- Tudo bem, Mitsuri sama. Eu resolverei isso sozinha.
- Tem algo mais em que eu possa ajudar?
- Não, obrigada. Isso foi tudo, com licença.
A princesa sorriu e se retirou, sumindo do campo de visão da governanta.
- Esses dois não conseguem mesmo se entender...
Mitsuri murmurou para si mesma enquanto observava Rin se afastar.
A princesa caminhava pelos corredores, pensativa.
- Se ele pensa que fazendo isso vai me fazer ficar em sua mão dele e obedecê-lo como um cachorrinho, ele está muito enganado!
Disse Rin para si, sabia o que Sesshoumaru pretendia com aquilo, mas ela estava convicta em não ceder aos caprichos do youkai, ao menos não tão cedo.
♦♦♦
O dia percorreu tranqüilo, estava quase na hora do jantar. Sayuri terminava de arrumar Rin como sempre fazia, dessa vez deixou os cabelos negros soltos com uma bela presilha de flor vermelha na lateral, em seguida pintou os carnudos lábios de sua princesa com uma tintura carmim.
- Está linda, vossa graça.
- Obrigada Sayuri.
A pequena esboçou um sorriso.
- Quer que eu a acompanhe até a sala de jantar?
A youkai perguntou em preocupação.
- Não se preocupe Sayuri, está tudo bem, eu posso lidar com isso.
Respondeu a morena calmamente. A albina apenas concordou com a cabeça, Rin se despediu e saiu caminhando até a sala de jantar, não queria ver seu esposo, mas sabia que em algum momento teria de encará-lo, e claro, tirar satisfações sobre a biblioteca.
Ao chegar a sala de jantar ela ponderou por alguns segundos antes de abrir a porta, precisava respirar fundo antes de ver Sesshoumaru novamente.
Ao entrar viu que o prateado já se encontrava ali. Ele olhou para ela, e ela o olhou de volta. Ficaram se encarando por alguns minutos em silêncio, sem dizer nada. Rin coçou a garganta e caminhou até seu zabuton, acomodou-se sobre ele delicadamente.
Diferente das outras vezes, não havia cumprimentado Sesshoumaru com um boa noite como sempre fazia, a expressão em seu rosto era séria e de poucos amigos. O youkai por sua vez, também estava em silêncio, com sua costumeira expressão indecifrável estampada em seu rosto. Ambos ficaram olhando para o rosto um do outro, trocando um olhar mortal.
Enquanto guerras e batalhas aconteciam lá fora por todo o Japão, Sesshoumaru e Rin viviam em guerra dentro do castelo.
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