O sorriso desenhado nos lábios de William, deixava bem claro que, apenas a aproximação de Renata fazia seu dia ser mais alegre, e que todos os problemas se escondiam atrás das paredes das salas de reunião.
Ver seu rosto e lembrar do que fizeram na noite anterior, mesmo não sendo um ato tão explícito, fazia o homem de 60 anos, parar no tempo e se fascinar com a mulher em sua frente como um eterno adolescente apaixonado.
Ela foi se afastando, refazendo o que o fez estar ali por mais de 10 anos de sua existência na Central Globo de Jornalismo, e lembrando o primeiro dia em que a viu entrar pela Redação, com uma aliança no dedo e feliz por ter casado no dia anterior, mas triste por não ter sua lua de mel.
William lembrava perfeitamente de sua vestimenta formal e preta, maquiagem simples, salto social e fios soltos, subindo no cenário que, a partir daquele dia, seria sua nova casa.
O avançar dos anos, o sorriso e dedicação de Renata se manteve, a união entre eles se tornando ainda mais forte, ao ponto de o mundo parar durante uma pandemia e eles continuarem, passando por medos e rejeição, ameaças e ansiedade, apenas para continuar informando para quem não conseguia sair de casa, por medo de pegar um vírus mortal, que tudo não estava bem, mas estávamos vencendo o Covid 19 aos poucos.
Ver Renata tão bem e feliz, lhe fez sorrir e esquecer o momento em que ele a viu sozinha em um canto de uma sala de reunião, visivelmente esgotada e com as mãos no rosto, escondendo seu choro de desistência por ter que falar que mais pessoas morriam pela doença, e nesse momento, ele se aproximou, quebrando todas as regras feitas pelas mais importantes pessoas do mundo, e a abraçou, demonstrando que ele também estava com medo, mas não iria deixar nada acontecer com ela, e que a iria proteger de um vírus se necessário. A partir desse dia, eles passaram a reconhecer quando estavam ou não bem, apenas com um olhar, e ele pegava para si uma reportagem que ela não conseguia mais falar.
Sentir ela em seus braços naquele ano e a vê dormir e acordar ao seu lado, apenas lhe trazia a certeza de que o pior eles já venceram nesses 12 anos de convivência, e que demorou para assumirem seus sentimentos, mas que estavam mais fortes do que poderiam imaginar.
William a deixou seguir e voltou para sua sala, entrando e respirando, ligando o computador e sorrindo apenas com a imagem de sua parceira rindo ao lhe ver escorregar no chão da cozinha, graças a uma água, não seca, no chão. E nesse momento ele se “vingou” correndo em sua direção e a abraçando contra o sofá, ouvindo seu pedido de socorro e gargalhada delicada e carinhosa, assim como recebendo seu sorriso e palavras: “Foi engraçado, o que eu posso fazer?”.
- Foca no trabalho, William!
Longe dali, Renata estava em sua mesa analisando vídeos e reportagens que iriam ao ar naquela noite, e essa era sua função por anos, então se tornou algo natural e específico, se tornando automático ela esquecer de muitas coisas e focar apenas naquele momento.
Eram reportagens lindas e tristes, mas que precisavam ser mostradas, então ela escolhia seu grau de importância para que chegasse até William, que naquela redação era seu Editor Chefe, a fim de sua aprovação, mas quando iria para seu quarto vídeo, sons de passos ecoam e a fazer olhar para frente e encontrar Miguel se aproximando com algumas papeladas típicas de todos os dias. Então sorriu, diferente dele que se manteve com o semblante sério e fechado, se aproximando e falando:
- Aí estão!
- Obrigada?
Renata apenas o viu se afastando sem responder, e essa situação estava chegando ao seu limite de falta de respeito, então se levantou e o chamou:
- Miguel? - o vê continuando, lhe obrigando a elevar o tom de voz - Miguel??
Todos ao redor perceberam a cena, mas continuaram em silêncio e não se atrevendo a continuar trabalhando como estavam fazendo, mas era impossível não ver Renata se aproximar e parar em frente ao homem alto e dizer:
- Faz meses! Meses! Será que você pode… - sussurra - ser mais profissional?
- Eu estou sendo profissional, porque, caso contrário, eu nem falava com você.
- O que lhe transformaria em um menino birrento.
- Menino birrento? Tá bom! - ironiza - Não fui eu quem te traiu!
- Eu não te trai! - sussurra, mantendo a postura - Estávamos separados.
- Claro! Só se separou de mim e foi pra cama com outro.
- Você quis se separar de mim!
- E foi só isso para estar com outro!
- Estou vendo que, desses mais de 10 anos de casamento, você não me conhece nem um pouco.
- Mas conheço ele, e tenho certeza que foi fácil pra ele te levar pra lá! Porque você só tem cara de santa, Renata! Só cara!
- Não vai adiantar nada tentar uma conversa civilizada com você! - fala ela, virando e levando as mãos a cintura - Nada!
- Não! Porque é óbvio que eu fui enganado por anos aqui! - vira e continua caminho, deixando-a para trás e respirando fundo.
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