Lia Grimes P.O.V
Com certeza eu não estava preparada para sonhar com Sophia de novo e muito menos com Lori e Daryl. Eu sabia do escândalo que tinha causado e quis me desculpar com todos por isso, mas não consegui.
Estava amanhecendo quando acordei, Carol foi a primeira a vir falar comigo. Eu não sabia se seria uma boa ideia contar que estava sonhando com a filha dela e que não era de uma forma boa, e também achava que ela sentia algo por Daryl. Talvez não. Talvez fossem apenas bons amigos como nós somos. Ou éramos, ainda não sei. De qualquer forma, apenas simplifiquei dizendo que sonhei com os mortos. Ela não entenderia de quais eu estava falando.
Daryl não estava morto e eu sabia disso. O homem era duro na queda e não se abalava facilmente, então não tinha o porquê de me preocupar tanto, mas era quase impossível não fazer.
Meu pai também era algo que me preocupava. A morte da Lori ainda não era bem recebida por ele e Carl também estava cada vez mais preocupado. Enfim, não estávamos nos melhores dias.
Quando saí da minha cela, Glenn, Carl e os outros conversavam sobre algum plano de limparmos o lugar que o grupo do Tyreese entrou, enquanto meu pai estava lá fora. Pelo que entendi estávamos vulneráveis para um ataque daquele louco.
— Por que tem tanta certeza de que ele vai atacar? — Beth questionou o cunhado sobre o governador.
— Ele tinha aquários cheios de cabeças. — Michonne contou e nos viramos para ela, tentando entender o que aquilo significava. — De zumbis e humanos. Troféus. Ele virá.
— Vamos atacá-lo, agora. — Glenn disse logo em seguida me fazendo o olhar assustada.
— Quê? — Beth e eu perguntamos juntas.
— Ele não está nos esperando. Entramos na moita e o matamos. — Ele explicou.
— Não somos assassinos. — Escutei Carol dizer um pouco mais a frente.
Fale por você.
Me repreendi pelo pensamento antes de responder o coreano.
— Carol está certa. E não vai dar certo. Daryl se foi, não temos pessoas suficientes para cuidar da prisão enquanto estivermos fora. Não vou arriscar botar nossa família em risco.
Maggie se aproximou de mim e deitou seu queixo em meu ombro, em um agradecimento. Como se não me ouvisse, Glenn caminhou até Michonne e fez sua grande proposta de irem apenas os dois até lá. Vi a mesma ponderar a questão, mas quando Glenn se ofereceu para matá-lo, ela concordou.
Ótimo.
— Ele não sabia que vocês iriam da outra vez e olha só o que aconteceu. Quase foram mortos. — Hershel se pronunciou e eu concordei. — Daryl foi capturado. E você, Maggie e Lia, quase executados.
— Não pode me impedir. — Ele rebateu e eu bufei pelo rumo que aquela conversa estava tomando.
— Meu pai nunca autorizaria. — Comentei, alisando a mão de Maggie que parecia nervosa. Glenn me olhou com desdém.
— Acha que ele tem condições de tomar alguma decisão?
— E você está em condições? Pelo que eu vejo é só um homem cego pela vingança. Sei que só quer se vingar pelo que o governador fez a Maggie. Mas matar ele ou não, não vai adiantar em nada. Já está feito Glenn. — Rebati, vendo seu olhar se suavizar.
— É por você também Lia. Ele não tinha direito de encostar em vocês.
— Eu tive escolhas, tá legal? Faria aquilo de novo para proteger qualquer um de vocês. Vocês são minha família e não vou deixar você se arriscar.
— Devíamos sair daqui. Este lugar não vale mais mortes. O que estamos esperando? — Hershel perguntou o olhando. — Se ele vem mesmo para cá, é melhor cairmos fora.
Glenn o rebateu sobre não termos lugar para ir e Hershel o lembrou do inverno.
— Sim, mas você tinha as duas pernas e não havia um bebê chorando e atraindo zumbis a toda hora.
— Glenn! — O repreendi.
— Não podemos ficar. — Hershel tentou de novo.
— Não. Não podemos fugir.
Maggie se afastou de mim assim que Glenn se calou e andou de volta para sua cela. Olhei feio para Glenn para que ele entendesse que havia sido um babaca. Mas em uma coisa o coreano estava certo, não iríamos embora, eu sabia disso.
[...]
Maggie e Glenn haviam brigado, é claro. Depois de Maggie contar o que havia acontecido em Woodbury, ela expulsou Glenn da cela e o mesmo foi resolver o que tinha planejado. Enquanto ele ia de carro até o lado oposto da prisão para entender da onde os zumbis entravam, faríamos a vigia.
O bom do trabalho duro novamente era que mantinha minha cabeça ocupada, o que me fazia pensar menos nos problemas. Em Daryl. Eu me mantinha ocupada.
— Você está bem pirralho? — Baguncei o cabelo do Carl ao passarmos para o pátio interno da prisão.
— Bem. E você, Lia? Me deixou preocupado ontem. Fazia um tempo já que… Você sabe. Ficamos preocupados. — Ele me olhou por cima do chapéu e eu sorri, tentando passar tranquilidade.
— Estou bem garoto. Vocês estão aqui comigo, você, papai e Judith. Só isso importa. — Sorri, passando meu braço pelos seus ombros para um abraço.
Pelo menos eu acho que estou bem.
Nos separamos, cada um indo para seu posto de vigia. O meu, era no pátio de fora. Michonne ficaria comigo, perto do carro caído, enquanto eu dava a volta no terreno.
No começo, achei mesmo que Michonne não era uma pessoa confiável, mas acho que estava mudando de visão, não que tivéssemos conversado, mas ela passava confiança. Eu carregava um M4 nas costas, já que o arco não seria algo útil em confronto direto, mas ele me fazia falta.
De onde eu estava, bem no meio do pátio eu conseguia ver Rick e Hershel conversarem na cerca. Eu sabia que meu pai não estava bem e que ele precisava de um tempo, mas o velho fazendeiro parecia saber lidar bem com ele. Rick estava do lado de fora e isso me preocupava, mas ele não parecia incomodado, já que saiu andando para longe de Hershel pouco tempo depois.
Michonne também prestava atenção neles e me olhou quando o ex xerife se afastou. Precisávamos do meu pai. Todos concordavam com isso.
Comecei a andar de volta no pátio tentando não pensar muito nos problemas, até que o primeiro tiro me assustou. Olhei rápido para trás, vendo Carol se esconder atrás do corpo caído de Axel. Carl e Beth corriam para se esconder.
MERDA!
— Hershel! Vai pro chão. — Gritei, logo me jogando, quando os tiros vieram na minha direção.
Senti a dor forte na lateral da cabeça quando caí, mas tentei ignorar quando me levantei um pouco para saber de onde vinham os tiros. Comecei a atirar na lata velha parada na nossa porta, o governador e dois dos seus capangas atiravam freneticamente em nós. Escutei os tiros irem na direção do meu pai e tentei acertar o cara que o mirava, mas errei miseravelmente.
Um deles parecia ter me visto e começou a mirar os tiros onde eu estava, o que me fez rolar para o chão de novo, torcendo para não ser atingida. Do nada, o silêncio veio. Eles estavam carregando. Vi Hershel tentando levantar me olhando assustado e o mandei ficar abaixado. Escutei Maggie gritar por Beth e Carol e tentei me virar para acertar o que estava na torre mirando neles, fazendo os tiros voltarem.
Os tiros pararam de novo e o meu desespero aumentou. Só se ouvia o ronco de um carro e em seguida, a cerca despencando para o chão. Me levantei de leve para ver o que tinha acontecido e xinguei baixo quando vi o caminhão parado no pátio que estávamos. Levei um susto quando o motor desligou e a portinha de ferro que segurava o que é que estivesse lá dentro se abriu. Em segundos, vários zumbis saíram lá de dentro, e o pior, vinham na nossa direção.
Os tiros voltaram quando gastei minhas últimas balas para tentar acertar o motorista do caminhão.
— Lia, cai fora daí com o Hershel. AGORA! — Escutei meu pai gritar e quis mandar o mesmo sair dali também, mas os tiros foram na sua direção e reprimi um grito pelo susto.
Diz que nenhum dos tiros acertou você pai.
Quando os zumbis começaram a se aproximar, larguei a arma no chão e peguei minhas facas. Pelo menos o Hershel sairia dali.
— Michonne! Preciso de ajuda. — A gritei quando vi o carro indo embora. — Me ajude a pegar o Hershel.
Com ajuda de Michonne comecei a ajudar Hershel a levantar e logo o carro de Glenn parou na nossa frente.
— Entrem, agora! — Glenn gritou saindo do carro e ajudando Michonne a por Hershel no mesmo. Os zumbis já nos cercavam quando tirei um deles tentando pegar Hershel no carro.
— Vão! — Gritei, matando o máximo que eu conseguia com a faca e Glenn me chamou já dentro do carro. — Eu vou me virar. Saí daqui agora!
Comecei a correr para longe do carro, tentando chamar atenção dos zumbis que o cercavam. Minha cabeça latejava e me sentia tonta. Eu precisava sair dali ou acabaria morrendo. Quando os mortos começaram a vir na minha direção, corri tentando desviar de todos. Eu já estava chegando na torre de vigia quando algo agarrou meu pé me fazendo cair.
Um zumbi caído se arrastava tentando morder minha perna enquanto eu tentava me livrar da sua mão. O desespero me atingiu quando os outros começaram a se aproximar mais rápido e eu não conseguia me soltar. Procurei rápido pela minha faca no chão e quando a achei, cravei a mesma na cabeça do infeliz que me segurava e levantei rápido esquivando de um zumbi que se preparava para se jogar em cima de mim. Me sentindo ainda mais tonta, me joguei dentro da torre de vigia.
Encostada na porta me apoiando nos joelhos eu ofegava pela corrida e o susto. Não sabia se meu pai estava bem, nem se ele havia conseguido sair dali. Escutei uns tiros voltarem, mas sabia que era da prisão, alguém estava tentando limpar o pátio. Eu estava prestes a abrir a porta quando escutei uma voz familiar.
— Onde Lia está? — Escutei a voz ofegante do Daryl se aproximar e balancei a cabeça pensando que poderia ser uma alucinação, mas mesmo assim abri a porta.
— Aqui! — Falei saindo da torre com a mão na cabeça.
As três silhuetas masculinas na minha frente que esperavam Carl abrir o portão se viraram para mim. Meu pai me olhou assustado e veio na minha direção, mas meus olhos não saiam do Dixon. Daryl estava aqui. Merle também.
[...]
Hershel cuidava do meu ferimento sentado na escada enquanto meu pai estava agachado na nossa frente, mexendo na bolsa de armas. Eu havia cortado a cabeça, perto do olho e precisei tomar pontos. Não tive tempo de falar com Daryl, mas ele sabia que eu estava feliz em vê-lo de novo. Nosso único contato foi um aceno de cabeça.
— Não vamos embora! — Meu pai disse alto, se levantando enquanto carregava sua arma.
Todos nos reunimos dentro do bloco de celas, menos Merle, que estava no refeitório, mas olhava e escutava nossa conversa de trás da grade. Estávamos espalhados, Beth, Carol e Daryl estavam no andar de cima e o resto espalhados embaixo. Quando se fazia silêncio, eu conseguia escutar os pés de Daryl caminhar de um lado para o outro no corredor estreito das celas.
Hershel limpou uma última vez meu ferimento antes de responder meu pai.
— Não podemos ficar.
— E se tiver outro atirador? — Maggie questionou e eu abaixei a cabeça tocando os pontos. — A madeira não segura as balas.
— Não vamos ter como sair. — Beth disse lá de cima.
— Não durante o dia. — Carol completou.
— Se o Rick falou para não fugir, não fugiremos. — Glenn falou mais alto e eu o repreendi com o olhar pelo som. Minha cabeça parecia pesar o dobro do normal.
— Não, é melhor viver como ratos. — O Dixon mais velho disse atrás das grades que nos separava. Levantei meu olhar para ele.
— Tem alguma ideia melhor? — Perguntei.
— Sim, devíamos ter fugido à noite e vivido outro dia para lutar. Mas perdemos essa chance, né? Sei que ele tem vigias nas estradas que saem daqui.
— Não temos medo do canalha. — Daryl disse e eu o olhei.
— Pois deveriam ter. — Merle respondeu.
Eu ainda olhava para o Dixon mais novo, mas desviei o olhar quando ele percebeu.
— O caminhão derrubando a cerca foi como se ele tocasse a campainha. — Ele continuou. — Nós podemos ter muros grossos para nos escondermos, mas ele tem armas e mais pessoas. E se a vantagem for dele, estamos mortos.
Meu pai e eu nos olhamos. Precisávamos resolver isso. Merle podia estar certo, apesar dessa frase ser completamente sem sentido.
— Vamos botá-lo em outro bloco de celas. — Maggie reclamou.
— Não. Faz sentido o que ele falou. — Daryl defendeu o irmão.
— A culpa é sua. Você começou isso. — Maggie gritou e eu balancei a cabeça.
Povo insensível.
— Que importa de quem é a culpa? — Beth falou se aproximando da escada e eu apontei para ela concordando.
— Resumindo, o que vamos fazer? — Perguntei, me virando para meu pai. Carl do meu lado, botou a mão em meu ombro.
— Por mim, teríamos partido. Agora, Axel morreu. Não podemos ficar aqui parados. — Hershel começou a dizer, mas meu pai apenas o ignorou, começando a caminhar para fora do bloco.
Vi Hershel se levantar rápido com ajuda da “muleta”.
— Volte aqui! — O velho gritou e senti a pontada mais forte na cabeça, mas apenas ignorei, assustada pela mudança repentina na voz do fazendeiro. O grito fez Rick parar e se virar calmamente para ele. — Rick, você está pirando. Todos nós vimos e entendemos por quê. Mas agora não é a hora. Você mesmo já disse que isso não é uma democracia. Chegou a vez de honrar o que falou. Pus minha família nas suas mãos. Então, ponha a cabeça no lugar e faça algo a respeito.
Acho que todos que estavam ali entraram em transe pelo que Hershel disse. Todos ficamos surpresos e quando ele se calou, todos olhávamos para meu pai. Ele, pelo contrário, fitava o chão, em silêncio. Não demorou muito para que ele apenas concordasse com a cabeça e saísse do bloco.
— Eu vou falar com ele. — Carl disse baixo, mais me avisando do que para os outros. Acenei de leve, me levantando.
Subi a escada rápido, ignorando os olhares que recebi. Carol passou a mão em meus cabelos quando passei pela mesma e respondi com um sorriso. Antes de entrar na minha cela, meus olhos se encontraram com o do caipira, que me olhava de forma diferente, até preocupada. Sorri de leve para ele também.
Apesar de tudo, Daryl estava de volta. Isso resolvia quase metade dos meus problemas.
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