Theo
Eu não estava, e ainda não estou, a fim de voltar para minha casa. Meus pais vão me encarar com suas carrancas e Agnes, minha irmã, estará entretida com seu celular de última geração e ouvindo música com seus fones de ouvido novos e que funcionam através do bluetooth. Imaginar a bagunça que a residência deve estar já me causa náuseas e arrependimento por ter dormido na casa da Amber, porque eu sei que minha família deve ter o jantar, no entanto, não lavaram a louça e meu pai as lembrou que a louça seria lavada por mim quando eu chegasse em casa. Se estiver muito bagunçado, terei que aproveitar cada minuto do meu tempo que possuo antes de começar a trabalhar e só de pensar nisso me torno desanimado e cansado por já temer que meu dia seja estressante.
Durante o trajeto a minha cabeça só consegue me levar para a noite passada e os minutos da manhã de hoje e como Justin mexeu comigo. Por pouco nós nos beijamos e não posso negar que senti um ódio monstruoso do meu celular ao tocar o alarme bem na hora que minha boca ia colar na do Bieber. Só que estou confuso, porque Amber me disse que ele era hétero e ele confirmou isso, inclusive me deu abertura para elogiar e ficar do seu lado sem que cause desconforto por eu gostar do que há no meio das suas pernas. Para um rapaz heterossexual e bem resolvido, Justin Bieber é um cara muito legal.
Acho que vou para a casa do meu namorado depois do trabalho. Ele não me responde minhas mensagens desde o dia de ontem e se não fosse pela possível bagunça na minha casa, eu iria agora bater na sua porta e descobrir a motivação do seu sumiço. Fica complicado não pensar que Nate mudou de ideia e está me tratando dessa forma para que eu termine por ele não ter coragem de vir até mim e encerrar nosso relacionamento. A ausência de Nate é torturante e pesado demais para suportar e carregar nas costas.
Eu preciso encontrar espaço na minha agenda para ir à faculdade e resolver minhas pendências para cancelar minha matrícula, já que não tenho os recursos necessários que me dariam a permissão de continuar matriculado e salvando o meu sonho de ser escritor. Quero solucionar todos os problemas o mais cedo possível, porque odeio deitar minha cabeça no travesseiro para ter uma merecida boa noite de sono sabendo que tenho coisas para sentar, conversar e entrar em um acordo que beneficie ambos os lados. Quando me lembro de que meu pai não estava pagando mais minha faculdade e nas marcas e nas dores em meus pulsos por causa da força que ele depositou na hora de apertar, eu sinto vontade de chorar, espernear e, ao me sentir mais calmo, jogar-me na frente de um trem ou da ponte e morrer.
Enquanto o ônibus não chega no meu ponto para descer, eu tiro meu celular do bolso e a primeira coisa que faço é abrir a conversa com Nate no WhatsApp, sentindo uma raiva subir internamente assim que eu percebo que meu namorado está online e não está digitando para mim. Que ódio! Eu conheci o Justin ontem e ele, com seu cérebro avançado e com seu corpo cheio de tatuagens, mostrou-se ser do tipo que fica do seu lado o tempo inteiro, enche-te de abraços, beijos e mimos. Respiro fundo e tento amenizar a raiva que me possui agora, em virtude de eu não querer mandar mensagem xingando para meu namorado e acabar piorando a nossa situação.
Vou conversar com Justin mesmo, pelo menos irá me entreter e me acalmar sem ter que se esforçar muito para conseguir tal feito. Tudo entre nós flui de um jeito tão natural que é impossível não sentir curiosidade e disposição para continuarmos nossa caminhada para uma amizade verdadeira e ver o que o futuro nos reserva no seu poço de imprevisibilidade e surpresas. E eu também não consigo me esquecer do beijo na minha bochecha, queria que tivesse sido na minha boca.
Eu: “Oi, Jus! Estou no ônibus. Mas a verdade é que eu queria estar aí, porque não quero ver meus pais e nem trabalhar. Quero ficar recluso, sabe?”
Justin: “Eu criei uma paranoia na minha cabeça de pensar que você não queria conversar mais comigo, por isso estava demorando para me mandar mensagem. O cômico dessa situação é que você foi embora não tem muito tempo, mas é como se eu estivesse morrendo de saudade.”
Justin: “Ter sua companhia seria ótimo. Especialmente para me ajudar a cuidar de uma Amber com uma ressaca forte e com muita dor de cabeça. Nossas consciências têm que estar serenas, Theo, porque nós falamos para ela não beber tanto assim, só que ela não ouviu a gente.”
Eu: “Cuidar de uma Amber sofrendo com a ressaca com certeza seria o ponto alto do meu dia.”
Justin: “Ela não consegue nem pegar no celular direito, por isso está me pedindo para te agradecer pelo café que você fez de manhã, está salvando a vida dela. Ou pelo menos tentar salvar.”
Eu: “Gosto quando recebo elogios pelos meus dotes culinários.”
Justin: “Tenho certeza que você faz muita coisa gostosa. E olha que eu só provei o café e o bolo.”
Eu: “Um dia, na sua nova moradia ou na casa da Amber mesmo, prometo fazer um jantar bem saboroso para ti e você verá que eu sei fazer gostoso.”
Justin: “Vou aguardar paciente e ansiosamente para esse dia!”
Justin: “Tenho certeza que você faz gostoso mesmo.”
As brincadeiras de duplo sentido do Justin não me causam desconforto e isso é surpreendente quando você se lembra de que ele é um homem hétero e casado com uma mulher. Quer dizer, era casado até descobrir a traição. Audrey com um homem gostoso como Justin Bieber do seu lado e ainda assim teve a coragem de transar com outro cara. Morro de curiosidade em saber se ela já traiu antes ou se aquela que foi pega em flagrante foi a primeira vez. Porém, ainda é difícil entender como ela pôde trair o marido tatuado e lindo.
Justin teve um passado conturbado, tinha o costume de viver igual um maluco destemido, rodeado de mulheres por exalar masculinidade e ser muito sensual e gostoso, bebidas alcoólicas e drogas, entretanto, ele se arrepende de tudo que fez naquela época e focou em melhorar, desenvolver todos os campos de sua vida. Casar-se lhe trouxe um amadurecimento que nunca iria conhecer e ele se sentia próximo de realizar seu sonho de ter uma família, filhos e afins. Só que Audrey esmagou seus sonhos sem que houvesse piedade, clemência ou misericórdia.
Eu gostei de ouvir que Bieber está focado em ressignificar pontos e locais importantes para seu coração e que vai fazer de tudo para refletir nos aprendizados dessa situação triste e sufocante. É muito bom quando passamos a focar em nós mesmos, porque dá a sensação de estar no topo do mundo e que nada é capaz de te abalar. Nada mesmo. Eu não consigo me sentir assim já tem muito tempo e meu pai é o mais qualificado em desestabilizar as estruturas do meu reino de autoestima e outros poderes.
Não duvido que esse homem irá voltar para a academia, viver lá dentro por alguns meses e sair de lá ainda mais gostoso do que ele já é. Sentirei inveja de cada uma das mulheres que terão a sorte de ir para a cama com ele e mesmo que a gente tenha criado essa aproximação, química e conexão esquisitas, aposto que ele irá pensar melhor e verá que prefere, como sempre preferiu, pessoas que possuam em seus respectivos corpos uma vagina, curvas perfeitas peitos e que estejam vestindo uma lingerie da Victoria’s Secret ou qualquer outra marca que tenha lingeries bonitas e com cores sensuais.
Sinto-me péssimo quando penso sobre isso, porque eu já tenho um namorado. Que me ignora e que foge sempre que menciono as palavras “morar” e “junto”. Que fica online nas suas redes sociais, mas não conversa comigo, pois sua concentração está voltada para algo mais interessante do que as aflições que assombram minha vida. Não gosto de pensar no que meu instinto tem a dizer em relação ao Nate, todavia, tenho minhas suspeitas de que estou sendo traído igual o Justin foi ou estou vivendo aquela fase do relacionamento em que você percebe que está amando por duas pessoas e sustentando um amor que deixou de ser recíproco. Bom, vou tirar todas as minhas dúvidas hoje quando eu for visitá-lo, visto em que não tem como as coisas continuarem assim. Nate e eu precisamos conversar e esse diálogo não pode aguardar nem mais um dia de tão necessário e urgente que é.
Eu: “Queria fugir das minhas responsabilidades e me casar com alguém estupidamente rico para me sustentar pelo resto da minha vida infeliz, porém cheia de dinheiro.”
Justin: “Não fuja de suas responsabilidades, Theo! Elas são necessárias para o seu crescimento profissional e sua vida pessoal.”
Eu: “Por favor, não venha com esse papo motivacional para cima de mim. Você é melhor do que isso.”
Justin: “No que você acha que eu sou bom?”
Eu: “Você é muito bom em ter o dedo podre para mulher.”
Justin: “Acabo de que me questionar se eu saberia escolher as companhias masculinas melhor do que as femininas. Vou refletir com mais clareza depois, porque estou curioso.”
Justin: “Na verdade, eu acho que sim! Porque eu te conheci ontem e estou querendo sua companhia e não sinto que eu vá me arrepender dessa decisão. Então, sim, acho que eu escolheria melhor a companhia masculina do que a feminina.”
Eu: “São situações diferentes, Justin. Você é um cara hétero e ser seletivo com a companhia masculina seria somente para ter amizade. No lado feminino, além de criar laços amigáveis, você acaba procurando uma para namorar com você, noivar, casar e ter filhos. Isso não aconteceria com homens.”
Justin: “Não tinha pensado nisso, acho que você está certo!”
Justin: “Mas eu continuo certo da minha decisão de te querer por perto.”
Eu: “Para com isso! Não quero me apaixonar por um cara hétero.”
Justin: “Você não sabe se sou tão hétero assim e para ter ideia, nem eu sei se sou direito. Pegue leve comigo e me dê um crédito, Theozinho, porque estou ressignificando a minha vida.”
Vejo que estou chegando em casa e dou sinal para o motorista parar o ônibus, guardando meu celular no bolso de novo, ficando reflexivo com a mensagem de Justin. Não sei se ele está brincando ou se está falando sério. A gente se conheceu tem um dia e o homem já está enfrentando questionamentos incessantes sobre a própria sexualidade. Bom, quase nos beijamos hoje de manhã, então talvez seja verdade que ele está com dúvidas sobre qual fruta ele gosta. Sou intensamente pessimista e sem esperança de que as coisas darão certo para mim a ponto de crer que estou sendo só um experimento e logo mais Bieber estará beijando e transando com uma mulher quando viu que não gosta mesmo de rapazes, porque não seria a primeira vez que isso aconteceria com minha pessoa.
Quando chego em casa, a primeira coisa que bate em mim é o arrependimento de ter voltado para cá. Estar ao lado da Amber e do Justin me traz mais conforto e a sensação de estar em casa do que a residência que moro com minha família. Compartilho a teoria de David Bowie que a vida em Marte deve ser melhor que a Terra e quero ser o primeiro a me voluntariar para ser levado ao planeta vermelho caso a Nasa crie um projeto que envolva levar um grupo de pessoas para ver se conseguem viver lá. Estar longe de casa e dos meus pais me trará paz e será mais compensador.
A pia tem uma réplica do Monte Everest, só que o compõe a montanha é a quantidade de louça suja. O chão não está tão imundo assim, mas ele pede que eu passe pano antes que a situação ultrapasse as limitações do horror. Queria ser igual o Timmy Turner e pedir ao Cosmo e a Wanda, ou qualquer outro padrinho mágico, para realizarem meu pedido de ter uma casa que fique limpa para sempre e uma família mais genuinamente amorosa, compreensiva e receptiva. Detesto me sentir um peixe fora d’água aonde moro, porque é deprimente e piora a minha vontade de desaparecer e também morrer. Será que vai demorar muito para Nasa pedir que as pessoas se voluntariem para que a levem para Marte? Quero me candidatar logo e garantir a minha abençoada vaga.
Subo para meu quarto e deixo minha mochila em cima cama, não deixando de olhar para o relógio e calcular erroneamente quantas horas me restam até que eu tenha que ir trabalhar e rezando mentalmente para que Deus tenha piedade da minha alma e do meu corpo que se sentirão mais exaustos que o normal no dia de hoje. Volto para a cozinha e cubro as minhas mãos com as luvas amarelas, começando a lavar a louça o mais cedo possível, para que tudo esteja limpo e eu ainda consiga ter alguns minutinhos de descanso. Pelo menos essa é a minha meta.
Enquanto lavo aquele monte de louça, minha cabeça me presenteia com pensamentos voltados a Justin Bieber e a noite em que passamos lado a lado na casa da nossa amiga. Amei cada segundo e faria o que fosse necessário para vivê-los de novo e de novo, não vou me sentir enjoado, porque pela primeira vez eu me senti aceito, acolhido e seguro perto de alguém que acabei de conhecer. Normalmente, devido aos traumas familiares, eu me retraio demais perto das pessoas e na companhia de Justin me senti livre para ser quem eu sou de verdade e o melhor de tudo foi ver que ele não se incomodou com minha presença, porque seu coração o dizia para continuar próximo a mim e nos aprofundarmos mais em nosso mundo. Seu abraço é tão acolhedor e confortável, foi como encontrar o paraíso e estar em paz em meio a tantas turbulências naqueles braços tatuados e duros por causa dos músculos trabalhados na academia.
O que me entristece é saber que não o vi sem camiseta, quer dizer, vi pelas fotos no Instagram e sei que há mais tatuagens em seu abdômen, todavia, queria apreciar suas tatuagens e seu peitoral pessoalmente, não através de imagens. Ler que ele possivelmente está tendo problemas com sua própria sexualidade ainda me deixa inquieto e quero me encontrar com ele para descobrir mais a respeito disso. Isso é tentador demais e não sei se vou me arrepender.
A minha cabeça também me faz ter recordações das baladas tristemente românticas do Bruno Mars. Será que tem como isso tudo ficar ainda mais clichê? Não sei se estou preparado para viver um, porque eu choro em todos eles apesar da minha vida já ser bem trágica o bastante para que eu me sinta inconsolável. Quero olhar no fundo dos olhos castanhos de Justin Bieber e reclamar sobre toda a confusão que ele está causando na minha vida oscilante. Está difícil ser mentalmente estável com seus braços tatuados e seu cabelo de tigela tomando conta de mim.
Eu fiquei tão disperso que não percebi a hora que acabei de lavar a louça. Vou secar e espero ser tão eficiente e rápido quanto fui durante a lavagem. Minha coluna está começando a doer um pouco por eu estar em pé de frente a uma pia muito baixa para minha estatura física.
Sinto a tristeza me atingir quando percebo que estou pensando no meu namorado ausente e como nós dois éramos no passado e como nos dias mais atuais eu sou, de certa forma, insignificante para ele. Eu me lembro de como as coisas eram no passado. Ficávamos a madrugada inteira conversando amenidades e morrendo de rir depois de um de nós dois ter contado algo engraçado e que não fazia nenhum sentido. Antes costumávamos a nos apoiar com veemência, decretando também que estaríamos contra o mundo e o seu maior prazer que é nos atacar para ficarmos infelizes com nossa vida e sentirmos a famosa vontade de clamar a nossa desistência por estar tudo tão complicado. E hoje não consigo nem mandar mensagens com um simples “oi”, pois adquiro o receio de ser ignorado por eu ter a impressão de que não sou mais relevante para Nate.
Devo ter feito algo de errado, em decorrência de nada me dar coerência para o meu cérebro. O triste é que eu não sei o que fiz para isso estar acontecendo.
Era uma vez Nate e eu, que tínhamos basicamente tudo para nos proporcionar felicidade, dando a entender que nada seria capaz e nem tão poderoso de nos corroer, em razão do quão forte e intenso nosso amor costumava ser. Pessoas ao nosso redor, inclusive desconhecidos, diziam que éramos adoráveis até demais e que deveríamos tomar cuidado. Por fim, perdemos nossa essência no caminho e assistimos tudo desabar. Todos os dias me encontro totalmente despedaçado e somente você pode me consertar. Eu falhei e agora tenho vergonha de mim mesmo. Olho para meu próprio reflexo e profiro sobre estar bem incansavelmente, entretanto, eu não tenho ideia do que fazer e do que ser com meu namorado ausente, que não dá sinal de vida.
Deixo o pano de prato em meu ombro e pego meu celular, abrindo a conversa com Nate e tento não dar a mínima para o incômodo que eu sinto em meu peito ao ver que ele está online e está me enviando mensagens para explicar seu sumiço. Começo a teclar rapidamente o texto sobre nós e nosso namoro incoerente, todavia, dessa vez, estou enviando sem expectativa de receber uma resposta.
Eu: “Preciso falar sobre o quanto eu te amo e sobre o poder que você exerce sobre mim e a minha existência questionável e depressiva.”
Eu: “É incrível, ao mesmo tempo estranho, que tudo que eu construí, foi pensando em ti. Há você em minhas playlists, especialmente as que contém músicas românticas e melodramáticas, em cada um dos meus livros e nos filmes que eu amo me entreter quando estou com o tempo livre. Também tem muito de você na saudade, nos lençóis, nas tristezas e claro, nas fantasias e planos que faço questão de arquitetar e te incluir. Quero-te por perto, aproveitando esse ambiente que já te tem como dono, desde o início. Não bata na porta e nem questione, apenas venha. Não consigo descrever o quanto preciso de você do meu lado. Entre e fique o tempo que quiser. Peço que você fique aqui para sempre, mesmo que o para sempre não seja nem metade do tempo que eu queira passar do seu lado.”
Eu: “Tive essa ideia enquanto eu secava a louça. Estou com muita saudade, Nate.”
Eu: “Eu te amo, ok? Não se esqueça disso.”
Assim que eu envio a última mensagem, engulo minha vontade de chorar e guardo o aparelho móvel no bolso da calça, voltando a secar a louça com toda a energia que minha tristeza se limita a ir para que eu a descarregue nos serviços domésticos da casa dos meus pais. É bem possível que minha vida amorosa esteja em um impasse, o que piora tudo para mim e minha insistência em procurar por uma escapatória em uma rua sem saída.
Quando termino de lavar a louça, eu corro atrás do balde para encher de água, do rodo e do pano, porque é hora de passar o pano no chão para evitar que fique grudento e cheio de sujeira grudada no piso. Minha coluna regressa a me atrapalhar na hora em que tento limpar embaixo da pia e suas extremidades e fico estático ao ver que meus pais e minha irmã se deram ao trabalho de deixar até as áreas mais específicas da casa uma desordem que você só consegue limpar fazendo movimentos e esforços mais específicos e peculiares.
O cansaço aos poucos vai atingindo o meu corpo e eu sei que meu dia só está no começo ainda, há mais por vir e não estou me referindo ao fato de que logo mais vou estar trabalhando e meu esqueleto irá se mexer como se não houvesse amanhã. Devo ter uma espécie de imã em alguma parte do meu corpo magro e dolorido, em virtude de só isso explica o fato de eu atrair atividades que exijam muito da minha energia e da força que reside em meus músculos. Preciso de férias e com urgência, ir para bem longe, com uma passagem só de ida e meus pais que se virem para encontrar alguém para limpar a casa, já que se acostumaram com a mordomia de não mexer o dedo para nada e se tornaram uns preguiçosos. Minha saúde mental agradeceria de tão feliz e em paz que ela se sentiria em um local que não é a minha casa assombrada pela arrogância da minha família.
Paro por alguns segundos na intenção de respirar e arquear um pouco minhas costas, que já pedem por misericórdia e um lugar confortável para repousar a coluna e minha lombar, e noto que meu pai aparece repentinamente na cozinha, pegando um copo e enchendo com água, acredito que seja hora de tomar seu remédio para o colesterol. Rapidamente eu volto a esfregar o chão e prossigo com a atenção voltada exclusivamente na casa suja, temendo que ele vá fazer algo de ruim comigo para estragar o meu dia.
— Por que você não voltou para casa ontem, Theodore? — Meu progenitor questiona, olhando-me friamente e deixando o copo na pia, mandando-me lavar depois que eu terminasse de passar o pano no chão.
— Depois do trabalho, eu fui para a casa de uma amiga e acabei dormindo lá mesmo, pai. — Respondo, com um fiasco de voz devido ao medo.
— E desde quando você tem amigos, Theodore? Você é sozinho, gay e fracassado.
— Não me recordo do dia em questão que fiz amizade com ela, mas já tem um tempinho. Conheci também o amigo dela ontem e acho que tenho mais uma pessoa para colocar na lista de pessoas que eu acho que fazem parte do meu ciclo de amizade. Menção honrosa: meu namorado, o Nate. Ele é meu melhor amigo. — Fico com vontade de falar “pelo menos era”, mas contenho, isso daria abertura para meu pai aniquilar o pouco de felicidade que tem no meu dia — Como você pode ver, é uma lista pequena de pessoas, mas que me deixa alegre mesmo assim.
O medo está me fazendo prender a minha respiração e estou vendo a hora em que morrerei por causa disso. Se for para morrer mesmo, quero que seja bem veloz e meus órgãos podem ir para a doação, porque eu sei que há pessoas que precisam mais do que eu mesmo.
Meu progenitor é o verdadeiro motivo de eu não ter mais amigos e me surpreendo com seu cinismo. Teve uma situação na minha escola em que ele foi me buscar, porque seria reunião de pais e meu boletim estava impecável, com exceção da minha nota baixa em Educação Física. Sempre fui péssimo nas aulas de Educação Física e sempre agradeci pelos dias chuvosos, porque a gente permanecia na sala e tinha aula teórica. Meu pai me humilhou na frente de todo mundo e nós éramos observados com olhares assustados e o choque do momento fez com que ninguém fosse intervir para me proteger. Eu deixei uma lágrima escorrer acidentalmente e foi nesse segundo que as coisas pioraram para mim, porque ele ficou mais irritado ainda e me desferiu um tapa, acrescentando a famosa frase que todo menino escuta durante seu crescimento quando demonstra alguma fragilidade: “Seja homem e pare de chorar. Homens não choram!”. Teve uma hora que fui levado para o pátio escolar e com sua mão apertado com força o meu pulso, ele me fez de chacota na frente da escola de novo e pediu que todos ficassem longe de mim, especificamente os meninos, porque eu me comporto como uma menina e isso poderia ser contagioso.
No dia seguinte, eu conheci a Amber e instantaneamente a gente se conectou um com o outro, tornamo-nos inseparáveis. Meu pai até me parabenizou por ter uma amiga, mas eu sei que ele só falou isso porque achou que a minha fase de ser gay passou. Ele torcia mais para que eu namorasse a Amber do que torce para seu time preferido de futebol ganhe um campeonato.
Quanto a escola, após aquele show de agressões que meu pai fez publicamente, as pessoas não se afastaram de mim por causa da minha homossexualidade. Haviam, sim, os alunos que me caçoavam por gostar de rapazes, mas grande parte, simplesmente, não se importava com o que eu fazia da minha vida ou com quem eu beijo e vou para a cama e alguns até me defendiam de quem queria me diminuir. Nunca vou me esquecer do garoto popular da escola dizendo para um dos valentões que ele só está pegando no meu pé porque eu recusei beijá-lo e ele está afetado pela minha recusa. Eu me aproximei desse rapaz popular, seu nome era Trevor e nos tornamos amigos. Trevor tinha um beijo muito bom e seus braços fortes me protegiam de quem queria mexer comigo. Nós não namoramos, mas tivemos uma amizade com benefícios, pena que não durou muito tempo, porque nós perdemos contato depois que ele se mudou para outro país. Eu tenho memórias boas, mas sinto um pequeno vazio quando penso no que o cara popular e o nerd excluído poderiam ter tido se as coisas estivessem a favor desses dois caras.
A real razão para eu não ter tantos amigos é porque as pessoas sentiam medo do meu pai e não tenho como culpá-las, eu também fugiria de alguém assim, por mais triste que possa ser. Ninguém quer ser amigo de alguém que tem um pai furioso e que bate no filho sem piedade. Ainda não sei como a Amber não fugiu de mim, mas fico feliz quando me lembro de que ela nunca desistiu de mim e fico com raiva dos pais do Trevor que tiveram que partir para outro país, mas aliviado do motivo ser o trabalho que seu pai tinha e não por causa de mim.
— É uma lista bem pequena mesmo. Aposto duzentos mil dólares que eles sumirão da sua vida e quando você menos esperar, estará se lamentando por ser sozinho, por mais que você mesmo saiba que está predestinado a ser um rapaz solitário e bichinha.
Meu corpo se encolhe após seu comentário e minhas mãos pressionam com mais força o cabo do rodo e eu sinto meu coração ser esmagado pelos outros órgãos, que se ajuntaram para resultar nesse aperto. Oxigênio. Preciso muito respirar, não sei se sou capaz de aguentar mais alguns minutos com tudo preso. Não posso chorar na frente do meu pai, porque essa é sua fonte de alimentação: ver o próprio filho enfraquecido, completamente encolhido e vulnerável.
— Não sei se sua montanha de dinheiro é capaz de comprar minhas amizades. — Observo a postura do meu pai mudar e me intimido, segurando a minha respiração e sentindo o meu coração acelerar os batimentos cardíacos. — Eu não vou fazer essa aposta, porque você pode estar certo. Talvez eles me abandonem e eu siga sozinho pelo resto da minha vida, porque não tem como fugir do meu destino. Você sempre soube das coisas, pai. Nunca errou.
— Errei na hora que te deixei viver. — Meu pai vomita as palavras com seu tom rude e me encara com nojo, até sua expressão mudar — Mas, pensando bem, não errei tanto assim, porque você deixa a casa bem limpinha, o que significa que você não é tão imprestável assim.
— Fico muito agradecido pelo elogio e por sua misericórdia em deixar seu primogênito vivo. Significa muito para mim e espero que todo o trabalho árduo que faço sozinho para manter a casa limpa te deixe recompense e seja satisfatório para o senhor.
Deve ser a primeira vez em muitos anos que meu pai está me elogiando por fazer algo correto. Claro que fui chamado de imprestável e ele não tem timidez para dizer que se arrepende de ter ajudado minha mãe a me colocar no mundo, todavia, foi bom ver que ele ainda consegue encontrar qualidades em mim depois de passar o tempo me demonizando para as pessoas.
Se eu não deixasse a casa brilhando de tão limpa e com um cheiro bom, eu seria tragicamente punido, essa é a verdade. Com certeza eu sofreria por horas e ficaria pedindo para Deus me levar logo, porque não há sentido em ficar vivo por aqui e minha mãe e minha irmã iriam ficar assistindo, o que não seria novidade, porque elas sofreram, ainda sofrem e vão sempre sofrer com as manipulações que meu pai faz em suas cabeças fracas e influenciáveis desde que resolvi me assumir. Não gosto da forma que eu sou visto pela minha própria família, no entanto, eu não tenho nada a meu favor que consiga convencê-los de que não sou um monstro, não sou uma aberração. Sou um rapaz normal, que tem sonhos, que ama Beyoncé e ama expressar seus sentimentos através da arte de escrever o que seu coração quer que você desconte nas linhas de um caderno ou no bloco de notas do celular.
Passo a me sentir mais sufocado e assustado quando vejo a silhueta de meu pai andando até a minha direção. Espero que não esteja com as intenções de me agredir, porque já não basta as marcas nos meus pulsos que ele fizera ontem quando fui questionar sobre minha faculdade, não deixando de mencionar o fato de eu não saber o que fiz para estar apanhando e sendo explorado da maneira que eu sou. Seria injusto me bater gratuitamente e eu sei que meu pai sabe disso, todavia, ele nunca deu a mínima e não vai ser hoje que isso acontecerá.
Devo estar vivendo uma fase da minha vida em que estou acostumado com tudo que acontece comigo e não tenho muito otimismo para ter fé de que tudo ficará bem e que isso vai passar. Justin acredita nessas coisas e espero que nossa convivência me faça mudar de ideia, porque ele é a minha última esperança e me soltar desse fio esperançoso que ele está segurando seria como dar um tiro no meu próprio pé.
Meu pai levanta sua mão e eu rapidamente fecho meus olhos, como se isso fosse me proteger de alguma coisa, e meu corpo se encolhe. Ele para a sua mão no ar e começa a rir. De mim. Do meu medo. De como sou fraco. De como sou indefeso. Não consigo ter forças para enfrentá-lo e tenho certeza que se eu tivesse, meu pai daria um jeito de me deteriorar e sair vitorioso da guerra e da batalha. Eu sairia como o perdedor fracassado que sempre fui. Ele se diverte com meu sofrimento e não hesita em assumir isso. Eu ainda acho que é mais fácil que me mate logo, mesmo sabendo que isso acabará com seu o entretenimento e sua casa limpa, embora ele tenha muito dinheiro e pode contratar uma diarista para cuidar dos afazeres domésticos da casa.
Vejo meu pai se retirar da cozinha dando risada e caçoando de mim, alternando os xingamentos entre “fracote”, “bichinha”, “vergonha da família”, “que Deus tenha piedade da sua alma no seu julgamento, mesmo que seja óbvio que você queimará no fogo do inferno”. Sinto uma lágrima descer pela minha bochecha e eu rapidamente a seco, com medo do meu progenitor perceber e quando percebo que meu pai está fora de vista, eu solto todo o oxigênio que estava prendendo. Em seguida, volto a passar pano no chão, controlando a vontade de chorar e, pelo menos, respirando normalmente.
Sinto o meu celular vibrar no meu bolso e o pego, sentindo meu coração bater com pressa no meu peito. É uma mensagem de Nate, mais especificamente um texto. Estou muito nervoso para o que possa ser todas as essas palavras e hesito por mais alguns segundos até eu finalmente abrir a conversa e ler tudo que há naquelas frases pensadas. Acredito que ele esteja explicando seu sumiço e queira também falar sobre nós e os textos que enviei há uns minutos.
Nate: “Oi, Theo. Boa tarde, meu amor! Como você está?”
Nate: “Sei que está muito irritado e chateado por causa do meu sumiço e eu não posso te culpar, porque eu realmente tenho sido o pior namorado do mundo. Eu não espero que você me perdoe, pois até eu questiono se sou merecedor do seu perdão e do seu amor genuíno. Mas está na hora de ser sincero com você e com o nosso namoro, porque ambos precisam de uma explicação para tudo que está rolando. Eu não queria estar contando toda a verdade dessa forma, através das mensagens de texto, no entanto, eu não sei vou conseguir falar tudo e assistindo todas as suas reações. Apesar de tudo, o seu rostinho lindo ainda mexe com todas as minhas emoções e é possível que acabaríamos na cama e eu te engravidaria.”
Nate: “A verdade é que eu encontrei alguém que amo e que faz com que eu me sinta completo. Meu coração e eu estamos dispostos a ter uma história de amor com essa pessoa, o que significa que eu preciso dar um ponto final na nossa história de amor. Não haverá mais capítulos. Esse é o nosso capítulo final. Eu tenho que seguir meu coração. Por favor, não escreva mais páginas no livro do nosso relacionamento. Eu nunca fui bom em fazer as coisas certas, sempre gostei do que não está escrito, do que não faz parte do mundo real, do que está fora do padrão e de nunca fazer o que é certo. Optei em me arriscar de cabeça na nossa história, mesmo sabendo que estava fadada ao fim, mesmo sabendo que tudo isso seria uma daquelas histórias com finais dramáticos e bem clichê. Eu te fiz mergulhar na minha bagunça e nem esforcei para te conhecer do jeito que você mereceria, eu fugia das suas vontades e aspirações. Com toda a convicção que tenho em meu peito, posso dizer que você foi uma das pessoas mais especiais que apareceu na minha vida. Infelizmente, a vida é imprevisível e nos leva por caminhos que muitas vezes não conseguimos entender. Saiba que eu jamais seria o mesmo se você não tivesse cruzado o meu caminho. Por mais que o nosso namoro tenha chegado ao fim, o que vivi com você nunca vai morrer. Você, eternamente, fará parte da minha vida, os meses que vivi ao seu lado serão sempre relembrados com muito afeto, porque o nosso amor foi eterno enquanto teve vida e vai ficar para sempre na minha memória, até que ela comece a falhar. Você fez parte de momentos importantes da minha história e mudou a minha vida. Espero que possamos fazer parte da vida um do outro, mesmo que seja apenas em pensamento. Mil perdões por isso, Theo, mas eu não me perdoaria por fazer com que você sofra mais e quero te lembrar que não espero que aceite as minhas desculpas. De coração, quero e preciso te agradecer por cada um dos nossos momentos juntos, do começo ao fim. Não vamos ver isso como um adeus, porque ainda te quero na minha vida, como meu grande amigo. Até mais, Theo!”
Ao terminar de ler, eu ultrapasso minhas limitações para não explodir de tanto chorar, visto em que isso vai atrair a atenção de pessoas ruins e eu tenho que terminar de passar pano no chão. Nate e eu não vamos ser amigos, porque eu já assisti esse filme antes e eu detestei com todas as minhas forças o final. Em algum momento do nosso dia, Nate irá largar a cordinha que nos mantém conectados e novamente me largará sozinho, sem se explicar dessa vez. É triste, mas está tudo acabado e agora só me resta ser feliz sem a pessoa que um dia amei perdidamente e eu não sei como é ser feliz.
Envio um pequeno texto para não deixá-lo sem resposta. Agradeço por tudo que vivemos juntos e desejo coisas boas para ele e para essa pessoa no quão está apaixonado. Por mais que tenha sido ausente durante nossos meses de relacionamento e fugido de mim toda vez que eu falava sobre nós morando juntos em uma casa, Nate é uma pessoa com um coração bom e merece ser feliz, mesmo que não seja comigo.
O meu dia está horrível e estou com receio de como tudo pode piorar para mim.
Abro a conversa com Justin e respondo a mensagem que ele me mandou antes, seguida da notícia a respeito do meu término. Faço o mesmo com a Amber e dou uma olhada no horário, vendo que ainda há tempo livre para mim, o que agradeço mentalmente.
Justin: “Sério? Poxa, eu sinto muito que isso tenha acontecido.”
Justin: “Me passa o endereço do seu local de trabalho? Vou te buscar para te consolar na casa da Amber, igual foi o dia de ontem, a diferença é que a Amber não vai estar aqui, porque ela foi visitar sua mãe no interior e só vai voltar amanhã de tarde. Prometo que será legal mesmo que a alegria e o humor ácido da nossa amiga não estejam presentes, ok? Enfim, o que me diz?”
Eu: “Pode ser. Eu não posso ficar sozinho hoje, não mesmo.”
Eu encaminho o endereço do meu trabalho para Justin e antes de guardar meu celular, eu abro o bloco de notas e, em pé mesmo, desconto uma parcela das minhas emoções ao escrever alguns tópicos para organizar as ideias que fantasiei para um texto enquanto conversava com meu novo amigo cheio de tatuagens.
Irei terminar de desenvolver esse texto mais tarde, porque eu tenho que finalizar primeiro as tarefas domésticas. Meu celular volta para o meu bolso e minha concentração retorna para o rodo e o chão que está quase cem por cento limpo. Acho que se eu descarregar as energias negativas das minhas emoções, vou ser capaz de terminar mais cedo, igual foi com as louças. Vou guardar minhas lágrimas para outra hora, mais especificamente na hora que eu estiver acolhido pelos braços tatuados do Bieber essa noite.
Eu me sinto patético.
×××
Meu nome completo é Theodore Eternamente Sozinho Frustrado Stafford e na minha cabeça, ser solitário e estar sozinho são períodos e termos completamente distintos um do outro e eu não sei para qual desses termos eu pertenço. Eu não sei se estou feliz por ser um lobo solitário ou se todo esse vazio é fruto da minha alma melodramática e repleta de escuridão. Se me perguntassem o que eu queria até ontem, eu saberia responder sem que as dúvidas surgissem na minha mente e me atormentassem. Nos dias de hoje preciso usar uma calculadora para me certificar de que somando um mais um o resultado dá dois e investigar na internet se estou escrevendo corretamente uma palavra.
Penso sobre as vantagens e as desvantagens de ser alguém individualista e ao terminar de refletir, concluo que não escolhi ser um lobo solitário. Estou sendo um lobo solitário por consequência e não escolha. Não me deram essas opções, não pude escolher nada. Literalmente, nada. Eu me sinto covarde e é possível que a covardia seja peça fundamental para o meu mecanismo de defesa.
Como sempre fui perseguido pelos meus demônios, eu passei a procurar por válvulas de escape. Tentei ser como as pessoas da minha idade e mergulhei de cabeça em baladas, festas, álcool e sexo casual com alguns rapazes, havia ocasiões em que eu não sabia nem o nome e sempre fugia quando eles pediam meu número. Por fim, descobri que não possuo bateria social que me permita socializar com os outros ao meu redor e não há meios de carregar essa bateria, porque não existe carregador.
Tentei me aventurar no mundo dos esportes e pedi ao meu pai que me matriculasse na natação. Aquilo trouxe esperanças ao meu pai de ter um filho ex-gay e é óbvio que isso não aconteceu, porque foi lá que eu conheci o Nate. Eu paguei boquetes para alguns dos rapazes, no topo da lista está Nate e em segundo lugar vem um dos treinadores, que até hoje prossegue sendo o homem mais velho com quem já me envolvi, mas que me proporcionou os minutos de prazer mais incrível da minha vida. Eu nunca consegui me achar tão bonito assim, porém, quando os caras da natação me diziam que minha bunda os causava uma ereção e que a sunga me deixava gostoso, eu massageava meu ego e seus pênis.
Durei até que bastante tempo na natação, venci alguns amistosos e até possuo umas medalhas, só que quando percebi que a água cheia de cloro e os boquetes não estavam me preenchendo mais, eu parei de ir. Coincidentemente, no último dia, Nate me convidou para um encontro e não seria para fins casuais. Ele queria me conhecer além do meu talento de fazer um ótimo oral e por mais que tenhamos transado em seu carro naquela noite, eu me diverti e foi quando notei que estava começando a me apaixonar por ele e fiquei aliviado em saber que era um sentimento recíproco.
Após minha saída do mundo esportivo, eu comecei a fazer aulas de teatro escondido do meu progenitor. Eu sabia que havia uma conexão entre a arte e a mim, só que eu procurava por algo mais específico e que provocasse aquela sensação de leveza terapêutica. Por acidente, deixei meu pequeno caderno que anoto minhas ideias malucas e a diretora da peça, curiosa, leu alguns pedaços dos meus textos e viu os tópicos que faço para organizar as ideias e, nesse dia, por conta de um descuido meu, molhei-me em uma chuva de elogios e fui presenteado com a honra de ser roteirista de algumas peças da escola.
O amor pela escrita sempre esteve no meu coração e eu sempre escrevia as ideias no pequeno caderno e no bloco de notas do celular, mas o verdadeiro problema se dava pelo fato de que eu nunca ia para frente e não recebia apoio de ninguém. Eu me matriculei em um curso de escrita criativa e foi a melhor coisa que me aconteceu. Meses depois, eu estava vencendo campeonatos de poesia, contos, crônicas e entre vários outros gêneros textuais, fazendo história nesses torneios por normalmente ser o competidor mais novo de todos os outros. O que me deixa triste é saber que cada um desses prêmios não valeria nada para minha família e eu os mantenho dentro de uma caixa, escondida no armário do meu quarto.
Para meus pais, minha última contemplação foi uma medalha de prata por ter ficado em segundo lugar em uma competição no clube em que eu fazia natação e não meu troféu de primeiro lugar por ter feito o melhor conto e me tornado o vencedor mais jovem da história do concurso que eu havia me inscrito. Eles me assistiam competindo quando o assunto era nadar para vencer e eu dava orgulho quando vencia. Agora, sobre a escrita, eles não sabem, mas tenho certeza que me humilhariam e que iriam associar minha homossexualidade com o fato de que amo incondicionalmente escrever.
E é isso que eu estou fazendo no momento. Escrevendo dentro do carro do Justin enquanto nós não chegamos na casa da Amber. Minha inspiração para esse texto não poderia ninguém menos do que Nate e o nosso namoro que teve um capítulo final dramático, por mensagem de texto, algumas horas atrás.
Precisei reler os tópicos que montei em casa e instantaneamente a escrita começou a fluir no bloco de notas do celular. As ocasiões em que paro de digitar o texto são as em que respondo os questionamentos do Justin sobre como estou me sentindo no momento, se estou bem, se quero assassinar alguém e etc. O seu olhar que mescla curiosidade e preocupação por mim faz com que eu perca um pouco das minhas estribeiras e vejo isso como algo muito radical. Se de uma coisa eu tenho certeza é que minha noite com o Justin será longa e repleta de abraços deliciosos e aconchegantes, comida boa, filmes previsíveis e ruins e é por isso que estou ansioso.
“Destrói-me ficar enchendo a minha cabeça com perguntas e não receber suas devidas respostas, entretanto eu me atrevo a continuar indagando, tem-se tornado algo monotonamente maçante. Concluí que isso se parece tanto com aquelas brincadeiras que passávamos o tempo antigamente. Por exemplo a caça ao tesouro, esconde-esconde. Mas, penso que você resolveu mesclar as brincadeiras e não me avisou. Na sua partida, ofereci meus sentimentos para você escondê-los. Fechei minhas pálpebras e esperei. Procurei-te por horas. Berrei seu nome. Vasculhei os mesmos locais só para me certificar.
Nada de você, assim como nada dos ‘tesouros’. Comecei a me sentir desamparado, enquanto lágrimas caíam e eu me perguntava constantemente pela sua presença. As respostas eram, aliás, ainda são, inaudíveis. Sim, ainda são, pois continuo procurando por você.
Lembrar-se-ia do meu rosto caso um retrato meu chegasse até você? Ou, possivelmente, lembrar-se-ia do meu nome caso uma carta escrita à mão por mim chegasse até você?
Reflito em você, enquanto encaro tediosamente a janela com as gostas da chuva escorrendo no vidro. Espero que esteja em casa, agasalhado, ao mesmo tempo em que usufrui da xícara de seu chá preferido ou então num lugar que o mantenha aquecido. Consolam-me dizendo que todas as feridas se curam conforme os dias vão passando, entretanto, para mim, isso se iguala a uma completa mentira, já que eu ainda estou ferido e com o sangue escorrendo por todo meu maldito corpo. Todos os dias, carrego a enorme vontade de te ver, abraçar-te e ouvir essa sua voz que consegue ser mais linda que a de qualquer outro profissional no canto e ao lado dessa saudade, recordo-me de quando estávamos no sofá e você dissera que envelheceríamos juntos.
E eu sei que você está com a pessoa a quem seu coração pertence, no entanto, parte meu coração em milhões de pedaços quando descubro que não sou essa pessoa. Houve sinceridade quando nossa história acabou, mas possuo receios de pensar que você pode ter me traído. Eu sinto saudade e te amo muito.”
Só fui saber que chegamos na casa da Amber quando Justin me cutucou enquanto tirava o cinto de segurança. Eu realmente perco a noção do tempo quando estou concentrado em uma atividade. Primeiro foi a louça que lavei mais cedo e o pano que passei no chão levemente sujo da minha casa e agora o texto sobre o Nate e o fato de que ele encontrou outra pessoa.
Já no interior da luxuosa residência, após deixar minha mochila em cima do sofá, em um movimento, sinto os braços fortes e tatuados de Justin me enlaçando em um abraço apertado. Ele está com seu queixo no topo da minha cabeça e uma de suas mãos acariciam as minhas costas doloridas e exaustas. Ouço sua voz suave me consolando, pedindo para que eu tenha calma e que logo vou estar com alguém que merece meu amor, ele também transmite confiança e afeto através do abraço e acrescenta que posso contar com ele para tudo, em razão de que prometeu estar do meu lado até os últimos suspiros das nossas vidas.
Eu gosto do laço que criei com Bieber em tão pouco tempo e sou apaixonado pela sua personalidade esperançosa e alegre, embora a traição da Audrey tenha lhe desestabilizado um pouco.
Meu desejo de chorar havia passado conforme eu estava compondo o texto, porque eu quis descarregar tudo ali. Entretanto, ao me recordar de tudo que meu pai falou e tudo que senti ao ler a mensagem do Nate, fizeram-me ter vontade de chorar de novo e o bom é que dessa vez estou livre para fazer isso, porque eu sei que Justin irá me trazer serenidade com seu corpo lindo e tatuado que se encaixa perfeitamente ao meu, seu aroma inebriante e particular e suas palavras afáveis reproduzidas na sua voz forte. A primeira lágrima começa a escorrer, seguida de outra lágrima e outra. Depois, veio os suspiros de tristeza e os murmúrios que, ora são sobre o Nate, ora sobre o meu pai.
Sinto o corpo de Justin ser pressionado contra o meu e por conta da minha coluna, eu solto um gemido de dor e o abraço se afrouxa um pouco no mesmo segundo. Bieber morre de medo de me machucar e não posso culpá-lo, porque já carrego muitos ferimentos e não quero que meu amigo tatuado e gostoso seja um deles. Quero assimilar Justin Bieber exclusivamente com adjetivos e substantivos amorosos.
— Você vai ficar bem, meu pequeno. — Sinto Justin se afastar e ficar mais baixo, criando uma troca de olhares entre nós. Sem aviso prévio, ele pressiona seus lábios na minha testa. Um beijo singelo e amigável — Eu estou do seu lado e para sempre vou ficar. Isso é uma promessa. Pode chorar a vontade, porque sei que você estava segurando há muito tempo. Pode chorar. Pode gritar. Esperneia. Vou continuar do seu lado, eu quero cuidar de você.
Meus olhos azulados se encontram com os olhos castanhos de Justin e ficamos parados, apenas um apreciando os olhos do outro.
— Você disse que eu poderia confiar em ti, mas não sei se posso. — Falo ao me sentir mais calmo — Eu ia te acompanhar ao barbeiro para sua transformação de um novo homem e você foi sozinho, Justin Bieber. Não é porque você é gostoso que conseguirá meu perdão.
Justin ri, passando a mão em seu cabelo. Eu amava seu cabelinho de tigela, mas vê-lo com a cabeça raspada o deixa mil vezes mais gostoso e eu seria facilmente manipulado por um homem assim, porque há suas inúmeras tatuagens e ele usando uma regata branca na minha frente e uma corrente em seu pescoço.
Tento resistir contra a tentação de ficar secando meu próprio amigo, mas eu sou fraco demais para isso e já não me importo com mais nada, estou minhas emoções bastante confusas e Justin sabe disso, o que explica ele não se incomodar comigo te olhando da cabeça aos pés e querendo que ele arranque minha roupa e penetre em mim no sofá da casa da Amber, depois na cozinha, no banheiro e por fim, na cama do quarto de hóspedes. Eu tenho que respeitar sua sexualidade, mesmo que ele mesmo tenha suas dúvidas, isso não significa que Bieber já vai me levar para a cama, daria a impressão de que sou um experimento e não alguém que ele gosta e quer sentir o toque.
— Meu rosto está aqui em cima, Theo. — Ele me tira dos meus devaneios e gargalha, debochado.
— Eu estou admirando seu corpo gostoso, porque se eu olhar para sua cara, vou querer te bater por não ter me chamado para ir no barbeiro com você.
— O que eu tenho que fazer para ser digno do seu perdão?
— Me servir alguma bebida alcoólica. E me abanar, como o ser da realeza que sempre esteve no meu destino ser. — Enuncio, deitando-me no sofá — Você também precisa dar uva na minha boca, porque infelizmente o mundo não foi abençoado com um clone seu.
— Quer uma massagem também?
— Eu aceito. Mas depois da bebida, por favor. Quero algo para movimentar os instintos do meu corpo.
— Você quer dormir aqui? Tenho a impressão de que você vai beber mais do que a Amber. Antes de você recusar por causa do seu trabalho, fique feliz em saber que eu vou te levar.
— Então eu aceito, mas estou fazendo isso pela carona mesmo.
— Claro que está.
Algumas horas depois, Justin está vinte vezes mais bêbado do que eu e agora estou dando um banho nele. Seu corpo é ainda mais tentador sem roupa e estou fazendo de tudo para não jogar esse homem na cama e aproveitar o álcool em seu cérebro para transar com ele, todavia, isso não faz parte da minha índole e eu perderia um grande amigo. Não tenho coragem de deixar meu mundo simbolicamente preto e branco, porque estou amando as cores que Bieber está trazendo para pintar e decorar o meu mundo particular. Todavia, estou querendo encher sua cara de soco, porque o Justin bêbado é insuportável e a mentalidade de uma criança mimada, teimosa e que merece uns tapas para sossegar.
— Theo, tira sua roupa, fique pelado igual a mim e entre para tomar banho comigo.
— Justin, fique calado e para de se mexer.
— Você não manda em mim, Theo. Você não é meu pai. Não mesmo.
Tudo na vida tem limite, especificamente a minha paciência.
Em um movimento brusco e rápido, o Bieber me puxa, colando nossos corpos e fazendo me molhar. A minha raiva interior aumenta e eu me afasto, tendo que ainda suportar esse homem mais velho do que eu dando risada como se fosse uma criança e ainda dizendo repetidamente que agora estou molhado. Devo ter envenenado a Santa Ceia e os discípulos se vingaram de mim me dando uma vida como essa e uma paciência que perde o controle com facilidade. Que vontade de socar o rosto lindo de Justin Bieber até descarregar o ódio que estou sentindo por estar molhado.
— Agora nós dois estamos molhados.
— Que Deus segure a minha mão na hora que eu quiser te bater, Justin.
Ao julgar que já foi o suficiente, eu desligo o chuveiro e pego uma toalha, entregando para ele. Sua teimosia me obriga a secá-lo e estou surpreso com meu autocontrole, porque eu queria matá-lo sufocado com aquela toalha roxa. Justin está sentado na cama e eu estou em sua frente, passando a toalha em seu corpo. O lado positivo dessa raiva anterior é que minha vontade de sentir o corpo tatuado do Bieber passou e agora não sinto mais esses desejos malucos. O problema é que ele não para quieto e toda vez que eu dizia algo, vai para perto do seu ouvido e eu percebo que está lhe causando arrepios. Eu só quero terminar isso o mais rápido possível e deixar esse homem dormindo, para amanhã vivermos um dia novo e torcer para que não tenhamos memórias do dia de hoje.
— Justin, fique parado.
— Você está vermelhinho de tão irritado e não sei se consigo resistir a isso.
— Eu sei que não vou resistir a minha vontade de quebrar a sua cara, mesmo que isso signifique te odiar pelo resto da minha vida.
— Me odiar? Você me ama, Theo, impossível isso acontecer. Eu também te amo, porque não consigo ficar longe de você. Gosto quando está por perto, porque eu gosto do seu cheiro. É viciante e único. — Ele aproxima seu rosto no meu pescoço e respira fundo, inalando meu perfume e depois voltando a olhar para mim, com um olhar sério.
Essa foi a coisa mais fofa que já ouvi alguém falar e quero ignorar que foi dito por alguém bêbado, pois isso vai fazer com que o encanto seja destruído.
Justin segura as minhas duas mãos e pega a toalha, arremessando-a para um canto aleatório do quarto. Sinto meu corpo sendo guiado para o conforto do colchão e por mais que minha coluna agradeça, fico atordoado por ter meu melhor amigo hétero pelado em cima de mim e segurando meus braços, encarando-me sem piscar e com uma expressão dominadora e penetrante. Esforço-me para tirá-lo de cima de mim, no entanto, ele é mais forte que eu, porque não passei meses dentro de uma academia para me tornar gostoso e com músculos.
— Seus lábios são tentadores demais, Theo. Que delícia esse seu piercing na língua.
Uma de suas mãos vão para o meu rosto e em um movimento rápido, nossas bocas vão de encontro e um beijo confuso, mas muito bom, surge no quarto de hóspedes da minha melhor amiga. O beijo do Justin é ótimo e sua boca selada a minha é só mais um dos perfeitos encaixes que nossos corpos juntos formam. Dou um pouco de abertura e sinto sua língua explorando cada canto da minha boca, focando bastante em tocar o meu piercing, como se estivesse querendo mostrar para mim que estava morrendo de vontade de senti-lo. Seu corpo nu fica mais relaxado sobre o meu e sua mão passeia por dentro da minha camiseta. Sinto seu membro exposto ficar roçando contra o meu moletom e não deve demorar muito para que fique completamente ereto.
Isso está tomando proporções maiores, preciso interferir antes que dê ruim. Ou bom.
Sei que estou com muita vontade de senti-lo dentro de mim tanto quanto ele sente a necessidade de me foder nessa cama de um quarto que nem é nosso, todavia, no dia seguinte, eu iria me sentir horrível por ter aproveitado da situação só porque ele está bêbado e isso abalaria nossa amizade. Não quero que isso aconteça e se for para transar mesmo com Justin, que seja especial e memorável para nós, não somente para mim.
Consigo tirar Justin de cima de mim e rapidamente procuro por uma cueca em sua mochila, jogando-a na sua direção e observo sua expressão confusa no rosto. Bieber veste a cueca preta e continua me fitando sem entender nada, enquanto minhas ações ficam eufóricas e complexas.
— Durma, Justin.
— Você não vai dormir também? — Ele me pergunta, enquanto se ajeita na cama.
— Sim, só vou tomar um pouco de água e já deitar para dormir.
— Tudo bem.
Era mentira. Eu não queria beber água e nem outro líquido. Eu queria estar em um lugar para processar tudo que acabou de acontecer, porque seria complicado pensar e levantar minhas hipóteses com um Justin Bieber só de cueca na cama. Espero que ele não se lembre disso amanhã, porque eu não vou me esquecer. Certamente o beijo vai assolar minha mente por dias, até que algo parecido ou superior aconteça entre ele e eu.
Justin irá se arrepender de ter beijado um escritor no escuro.
×××
Durante a manhã, eu fico vasculhando as minhas redes sociais enquanto bebo do café que fiz, porque sei que Justin vai precisar quando acordar. Meus olhos não param de ir até o relógio para eu ver horário, porque não quero me atrasar para o trabalho. Há instantes que minha mente viaja para o beijo do Justin e tento controlar minha vontade de ir até o quarto, sentar em seu colo e beijá-lo até nossas bocas caírem e ficarem inchadas por causa do atrito. Nunca pensei que isso aconteceria, mesmo que ele tenha me dito que está questionando a própria sexualidade ultimamente. Beijar seu melhor amigo hétero não é algo muito comum, pelo menos não para mim, porque nem amigos tenho direito.
— Bom dia, Theo!
Ergo meu olhar e vejo Justin, vestindo apenas uma bermuda e sorrindo para mim, embora eu sinta que ele está com muita dor de cabeça. Ao ver o café pronto, ele não tarda em encher uma xícara e dar o primeiro gole, soltando um gemido de prazer e fechando os olhos. Fica difícil não o idealizar fazendo isso, só que enquanto lhe faço um oral ou cavalgo em seu pênis. Esse homem mexe demais com a minha imaginação.
— Bom dia, Justin!
— Acho que vou te pagar mensalmente para fazer para mim. O seu café é o melhor que já provei em toda minha vida.
— Talvez eu leve em consideração essa proposta.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, até ele me fazer perguntas sobre a noite anterior. A primeira coisa que questiono é se ele se lembra de alguma coisa e me controlo para não comemorar ao ver que ele não tem memória alguma de tudo que aconteceu ontem. Pela primeira vez estou feliz que um cara não tem lembranças da minha boca depois de ter me beijado com tanta vontade e com tanto fogo. Bieber até se desculpa por ter abusado da minha paciência e eu as aceito, mesmo que isso não faça tanta diferença, porque o estresse já passou. Eu falo que coloquei sua roupa na secadora e ele apenas balança a cabeça, concordando e bebericando mais do café, que deve estar sendo um ótimo amigo para a sua ressaca.
— Certeza de que você não está se esquecendo de nada, Theo?
— Como assim?
— Por que você não falou sobre o nosso beijo?
— Não demos beijo nenhum, Justin.
— Claro que demos, Theo. Eu me lembro de tudo.
— Você disse que não se lembrava de nada.
— Era mentira. Queria ver sua coragem para me contar, literalmente, tudo que aconteceu ontem.
— Você é esquisito, Bieber.
Eu me levanto sentindo uma pequena irritação dentro de mim e levo minha xícara na pia, lavando-a com um pouco de pressa. Percebo a aproximação de Justin e me esforço para não ter contato visual, porque não sei do que é capaz de acontecer. Depois de ontem, eu não espero mais nada. Isso é muito confuso.
— Por que eu sou esquisito?
— Você não esperava mesmo que eu fosse chegar do seu lado e falar que a gente se beijou, não é? — Com raiva, eu me viro para ele e encaro seus olhos castanhos, lançando-lhe uma pergunta raivosa.
— Theo...
— Justin, você é um cara hétero que recentemente se separou da esposa e foi presenteado com a amizade de um cara homossexual. A sua vida inteira você ficou rodeado por peitos, vaginas, calcinhas e sutiãs, cabelos das diversas cores e tamanhos. O vídeo pornográfico que você se masturbava no ápice da puberdade era entre um homem e uma mulher, isso se você não se tocasse com um lésbico. Eu não queria que você pensasse que me aproveitei da sua vulnerabilidade por estar bêbado, isso abalaria nossa amizade e eu não suporto perder mais uma pessoa especial na minha vida.
— Mas o beijo só começou por causa de mim, Theo. — Ele se encosta na pia e cruza seus braços, olhando-me profundamente.
— Eu sei disso, mas quem é o homossexual da história? Você acha mesmo que no mundo em que vivemos as pessoas iriam acreditar em quem? Até iriam acreditar em mim, mas seria uma porcentagem pequena e me acusariam de abuso. Enquanto você seria a vítima e receberia mais comoção.
Quando termino de lavar a xícara, eu a seco e guardo no armário. Vou atrás da minha mochila e apressadamente, começo a me organizar. Acho melhor eu sair antes que a situação piore e não dou a mínima se isso significa chegar mais cedo no trabalho. Justin está ficando louco e eu também, mas nossas loucuras são diferentes.
— Theo, por favor, espera! — A mão de Justin me segura e me faz ficar de frente para ele. Nossos corpos estão bem próximos — Sempre tive atração por mulheres, isso é verdade, o selinho que dei em um cara anos atrás não significou nada, porque não senti nada. Mas, com você, desde que nos conhecemos, é tudo diferente. Seu beijo foi diferente, foi gostoso e acho que é meu novo vício junto com seu perfume. Eu senti atração por você e acho que vai mais além de algo físico. Não foi o álcool na minha cabeça e eu muito menos vou sair beijando os primeiros rapazes que eu ver, porque é do seu beijo que eu gostei e é do seu beijo que quero continuar provando pelos próximos dias da minha vida.
— O que você espera que eu diga, Bieber?
Justin estica os seus lábios em um pequeno sorriso malicioso e seus dedos passam por trás da minha orelha. Seu olhar está na minha boca e nossos corpos estão muito juntos.
— Eu só espero que você me beije mesmo.
Novamente sou surpreendido pelos lábios do Justin selados aos meus e a sensação é a mesma de ontem. Ele quer explorar minha boca e brincar com meu piercing, enquanto domina a situação passando as mãos pelo meu corpo e pressionando minhas costas na porta e procurando encaixar mais ainda os nossos corpos. Dessa vez, eu correspondo a tudo que ele faz. Justin está me imobilizando com sua cintura e seu peitoral forte contra o meu corpo magro e baixo e suas mãos apertam com força a minha bunda, fazendo-me arfar contra os seus lábios. O fogo se alastra pelos nossos corpos e isso é muito bom. Estamos perdendo nossos juízos com esse beijo e quero muito sentir nossas peles se friccionando, no sofá, na mesa da cozinha, no banheiro e na cama.
Teríamos avançado com nossas ações se o despertador do meu celular não tivesse nos interrompido para dizer que tenho que ir trabalhar.
Que inferno.
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