Diferente do dia anterior, o domingo no Reino do Norte amanheceu quente. Bem quente, por sinal.
A neve derreteu bem rápido antes mesmo das nove da manhã. O solo ficou molhado, o que favoreceu ainda mais que as plantas brotassem e florescessem de novo, ficando verdes e brilhantes o mais cedo possível, conforme a Senhora das Flores passeava pela propriedade, iniciando seu longo dia de cuidados consigo mesma, para se embelezar para o baile daquela noite.
Sakura ficou surpresa ao acordar cedo e perceber a forte movimentação pelos jardins da propriedade. Parecia que todas as meninas tinham madrugado e estavam andando em grupos, trocando produtos de beleza, fazendo tratamento de pele, pegando um pouco de sol na grama, ou qualquer outro tratamento que a Senhora do Tempo desconhecesse para ficar mais bonita.
Ela nunca tinha visto nada parecido em sua antiga cidade. Tanto empenho por causa de um mero baile de dança.
Durante o desjejum no refeitório, a Senhora do Tempo se contentou com uma pequena tigela de sopa, percebendo que praticamente todas as meninas optaram pela mesma escolha. Isso porque passariam o dia inteiro sem comer praticamente nada para estarem esplendorosas em seus vestidos de cores derivadas do lilás naquela noite.
Karin era a única que estava devorando uma pilha de panquecas, juntamente ao marido.
— Todo baile é isso. — ela resmungava entre uma mordida ou outra. — Esse alvoroço todo por causa de algumas horas de dança noturna.
— Meu amor, você nunca viu graça nesse jogo todo porque desde o primeiro ano, nunca precisou se preocupar em arrumar um par para esses bailes. — Suigetsu retrucou divertido.
— Talvez tenha razão. — a ruiva concordou. — Casar cedo tem suas vantagens, afinal de contas. Embora hoje eu repense sobre ter escolhido o marido certo.
O Senhor da Água não pareceu afetado por seu comentário ácido. Pelo contrário, pareceu achar muito engraçado.
Na verdade, naquela manhã, ele parecia particularmente muito animado, mais do que o normal.
— Hoje é noite de faturamento. — ele comunicou sorridente. — Teremos um monte de apostas sobre quem vai chamar quem pra dançar, quem não será convidado nenhuma vez, e quem vai passar mal com a bebida primeiro.
— Servem bebida alcoólica nesses bailes? — Sakura ficou chocada.
— Mas é claro. — Karin riu. — Champanhe.
Caraca. Sakura nunca foi em nenhuma festa formal que tivesse bebida alcoólica. A Fundação era outro mundo mesmo.
Enquanto a maioria dos garotos ainda parecia se recuperando dos efeitos da ressaca da festa de sexta, as garotas estavam eufóricas na preparação própria.
— Ouvi boatos de que o imperador em pessoa viria. — Karin comentou quando os três já estavam caminhando pela propriedade em direção à área dos chalés novamente.
— O imperador? — Sakura arregalou os olhos, surpresa. — Por que ele viria a um mero baile colegial?
— Porque é o primeiro baile oficial da Alta Sociedade Elemental que a Senhora do Tempo estará presente. — Suigetsu respondeu como se fosse simples. — E eu apostei que ele vem mesmo, a propósito.
— Santos campos do Sul. — Sakura murmurou, nervosa só de pensar nisso.
Um baile. Que o imperador compareceria apenas para conhecê-la.
Claro que ela já ouvira falar dele. E muito, aliás. Sua mãe trocava cartas pessoais com ele desde que Sakura era uma criança recém descoberta com seus poderes sobre o Tempo.
Ele fora o responsável por estabelecer o acordo de honra com Mebuki: um casamento de grande nível… em troca do restabelecimento da honra da família do Tempo.
Se Sakura estava noiva agora, era graças ao acordo que ele fez com sua mãe.
Mas ela nunca imaginou que o conheceria assim. Tão cedo. Imaginou que ele só fosse querer vê-la após seu casamento ter sido consumado.
Pelo visto, o título de Senhora do Tempo era muito maior do que uma aliança qualquer no dedo da garota. O imperador não iria esperar mais seis meses para se encontrar com a moça. Queria conhecê-la em sua grande estreia para a Alta Sociedade Elemental.
— O que vai fazer para se embelezar, Senhora do Tempo? — Karin a trouxe de volta à realidade, lhe indagando sobre sua preparação para o baile.
— Nada de mais, presumo. — Sakura desconversou. — Na verdade, pretendo passar o dia dormindo. Como você disse, acho que esses bailes só tem graça se você é uma solteira à procura de um bom partido. E eu não preciso achar ninguém. — ela mostrou as luvas pretas em suas mãos, demonstrando que já era comprometida.
— Qualquer coisa, estaremos no nosso chalé. — Karin concordou.
Assim que se viu sozinha em seu próprio chalé, Sakura se jogou sobre o sofá em frente à lareira e respirou fundo, segurando a vontade de vomitar, se sentindo extremamente ansiosa agora que sabia que estava a poucas horas de conhecer o imperador.
Ela sabia exatamente como se portar e como impressioná-lo. Sua mãe lhe ensinou tudo muito bem a infância toda.
Ainda assim, era agonizante só de pensar na ideia. Muito menos se considerasse que estaria sozinha diante dele. Sem mamãe do seu lado… e sem o eventual marido.
Só ela. A Senhora do Tempo. O Imperador, que detinha a maior parte do dinheiro do mundo deles.
Ela tentou não pensar muito nisso. Ainda tinha um dia inteiro pela frente antes do temido baile. Então resolveu passar lendo e respondendo aquela enorme pilha de cartas vindas do Reino do Sul.
Seus amigos estavam cumprindo a promessa. Todo dia o falcão batia na janela trazendo várias cartas presas em sua perna. Cartas e mais cartas sobre as novidades e fofocas de sua antiga escola. Além das cartas de seus pais também. Mas Sakura estava mais interessada nas cartas dos amigos.
Ela leu sobre todos do último ano — de sua antiga turma — que também estavam noivando, começando a namorar, ou até reprovando nas matérias do colégio. Suas amigas lhe contavam em detalhes todas as fofocas, o que era gratificante.
Mas a pessoa sobre ela quem mais queria saber… bom, elas não tinham informações suficientes.
“Nós vimos Sasori saindo da loja de bonecos da avó dele ontem. Acho que ainda está trabalhando com ela. Na verdade, ele fica bastante tempo fora da cidade, viajando. Vendendo aqueles bonecos e marionetes de madeira que os dois fazem, realizando propaganda para pessoas de outros lugares. Eles são caros. Vi o preço pela vitrine de alguns. Os bonecos custam mais que a minha casa. E a loja nunca está vazia. Muita gente de fora, principalmente ricos excêntricos de outras cidades, tem visitado bastante o lugar. Mas eu sei o que você quer realmente saber: e não, não o vi com nenhuma garota.”
Esse era o trecho que uma das amigas dela escrevera numa das cartas. Sakura respirou um pouco aliviada.
Ao que tudo indicava, ele continuava sozinho. Sem comprometimento com garota nenhuma.
Mas não que importasse mais, não é? Sakura suspirou meio triste enquanto escrevia a resposta, observando suas mãos cobertas pelas luvas pretas.
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Quando o céu começou a escurecer, conforme a tarde chegava ao seu remate, Sakura percebeu que precisava parar de perder tempo.
A hora que ela tanto temia chegara.
Postando-se em frente às suas araras repletas de roupas, encarando o vestido lilás prontamente exposto ali. Ela puxou seu cabide e o encarou com nervosismo antes de estendê-lo sob a cama.
Tomou um banho com água perfumada, esfoliou o rosto, colocou uma cinta bem apertada e uma meia calça branca, e logo em seguida, o vestiu.
Era um vestido estilo debutante, com as mangas caídas sobre na altura dos ombros. Rendado, com detalhes em glitter prateado, e aplicações de pedrarias que lembraram pétalas de flores, enfeitando-o em praticamente todo. A saia era cheia, e se não fossem pelos saltos prateados que Sakura colocou nos pés, ele arrastaria no chão.
Talvez seu marido pensasse que ela fosse mais alta. Ou quisesse que ela tropeçasse nas próprias vestes e morresse caindo escadas abaixo pela Fundação. Era um bom plano de eliminação. Ela teria tido a mesma ideia se tivesse algum controle sobre ele.
Quanto ao cabelo, Sakura não tinha pensado muito no que fazer a respeito. Ela pensou em fazer um coque social, como sua mãe tinha lhe ensinado a fazer tantas vezes. Só que não estava muito entusiasmada em enfeitá-lo com aquele monte de pedras preciosas que tinha na caixinha da penteadeira. A maioria eram prateados.
Bufando, ela teve outra ideia ao olhar para o buquê de flores em cima da mesinha de estudos. Eram lírios roxos. De um dos buquês de despedida que seus amigos lhe deram em seu último dia de aula.
Ela tinha colocado magia do Tempo ali, para que as flores não murchassem nunca, mesmo fora da água.
Pegando-o, Sakura se sentou em frente a penteadeira e começou a pentear os cabelos. Ela prendeu as madeixas perfeitamente alinhadas num coque alto em sua cabeça. Depois, usou a varinha para enfeitiçar a caixa de grampos, para que estes ficassem da mesma cor que seus fios róseos, e em seguida, pegou o buquê de lírios roxos e começou a arrancar as pétalas de cada um deles. Usando os grampos, ela começou a prender as pétalas nas mechas de seus cabelos, enfeitando-o. No coque, ela colocou três lírios inteiros para adornar o monte.
Por fim, começou a se maquiar. Ao contrário do que a mãe aconselharia, ela preferiu se manter no básico, tentando manter uma maquiagem mais leve. Inclusive, passou a sombra de lilás mais clara que achou nos estojos dentro das gavetas da penteadeira. Ao invés de batom, preferiu passar um gloss que deixasse seus lábios apenas brilhando e com gosto de cereja.
Como não conseguiu tirar a pulseira da mãe, ela apenas colocou luvas prateadas para escondê-la. Colocou um colar de três camadas prateado com um pequeno pingente de borboleta, e brincos combinando.
Ao se olhar de uma vez no espelho lá embaixo, Sakura sentiu a ansiedade embrulhando seu estômago novamente. Mas isso aconteceria com frequência na maioria das vezes que se olhava no espelho.
De repente, ela começou a achar um monte de micro-defeitos em si mesma. Como os cílios volumosos demais, o coque que ficou muito alto, a maquiagem muito simples.
E o fato de estar se vendo igual uma baleia naquele vestido.
Segurando as lágrimas de nervosismo, ela respirou fundo, tentando manter a calma.
Certo. Não ia comer nada a noite toda. E iria prender a respiração o máximo possível naquele vestido para não parecer mais gorda do que provavelmente estava.
Tinha altas chances do imperador estar lá, e ela não podia parecer obesa à sua frente, principalmente porque os boatos diziam que ele prezava e muito pela boa aparência.
Mandando a vontade de chorar para dentro, Sakura olhou pelas janelas, vendo que já estava escuro. Na verdade, a propriedade parecia mais iluminada do que de costume, o que deveria ser uma medida de proteção para manter os demônios das sombras longe.
Era hora de ir.
Sendo assim, a Senhora do Tempo firmou os sapatos nos pés e foi até a porta.
Ela tinha razão. A propriedade estava mais iluminada do que o habitual porque os professores haviam fincado várias tochas de madeira na beira das trilhas de cascalho, iluminando os caminhos que os estudantes deveriam percorrer até os salões do prédio principal da Fundação, onde o baile deveria ocorrer.
Poucas pessoas estavam caminhando naquele horário, o que significava que ou Sakura estava adiantada ou estava atrasada.
Ela não se importava muito, já que não faria muita diferença. Tirando o imperador — que com certeza não a tiraria para dançar — não havia ninguém lhe esperando. Ela não tinha um par.
Sendo assim, com um pouco de dificuldade por causa dos saltos finos, a Senhora do Tempo caminhou pelas trilhas de cascalho emolduradas por aquelas tochas de fogo verde que levavam até a Fundação. Segurando a saia do vestido, só para ter certeza de que não iria sujá-lo naquele chão de terra, ela foi caminhando devagar até subir a escadaria da Fundação, que estava repleta de fitas lilases e flores com cores derivadas do roxo. Os corredores estavam igualmente enfeitados. Havia uma faixa de entrada com os dizeres bem grandes em dourado: “Bem-vindos ao Baile Lilás de 3659!”
Sakura respirou fundo uma última vez, e finalmente passou pelas portas, entrando no salão.
Ela estava atrasada. Constatou isso porque o salão já estava repleto de casais dançando sob o som de uma música rápida, guiada pelos violino e piano invisíveis que ecoavam pela enorme sala.
Encostados próximos das paredes em formato circular, estavam vários estudantes que, ou estavam esperando uma música menos animada começar para poderem dançar, ou estavam com problemas para encontrar um par para dançar.
Havia uma enorme mesa em formato oval perto da entrada, repleta de docinhos e aperitivos, todos enfeitados na cor lilás. Fadas voavam por todo o salão, carregando bandejas com taças de champanhe espumadas.
Além disso, todos estavam bem trajados. Os rapazes todos vestiam smokings bem alinhados, e embora a maioria estivesse vestido de preto, algum detalhe em suas vestimentas, como as gravatas-borboleta ou as abotoaduras eram lilases.
Já as garotas estavam todas com vestidos lilases, e se não, com um roxo parecido. Alguns vestidos eram bem espalhafatosos, cheios de detalhes brilhantes e chamativos — principalmente das garotas que ainda eram solteiras. A maquiagem em maioria estava carregada por causa das sombras roxa, e praticamente todas as garotas haviam feito o mesmo que Sakura: prendido o cabelo num coque alto e social, porém haviam enfeitado-o com pedras brilhantes e valiosas.
De repente, Sakura se sentiu simples demais diante de tanto enfeite luxuoso. Ela tentou se misturar na multidão de pessoas rente à parede enquanto procurava pelos amigos.
Infelizmente, foi encontrá-los quase encostados na mesa de aperitivos, porque Karin estava devorando um monte de docinhos e Suigetsu queria ficar mais à vista, já que um monte de gente estava se aproximando dele para fazer apostas.
— Boa noite, Senhora do Tempo. — os dois a cumprimentaram e Suigetsu prontamente disse: — Está deslumbrante como sempre.
— É falta de educação se eu ficar só uma horinha aqui e depois voltar pro chalé? — Sakura questionou baixinho.
— Presumo que não. — Karin disse divertida. — Só fique à mostra, acene quando necessário, dance ao menos uma música e depois saia de fininho. — ela colocou mais um docinho na boca. — Você tem que provar esses bolinhos de framboesa! Estão fantásticos. — ela até revirou os olhos de prazer.
Sakura só lançou um rápido olhar de nojo pra aquele monte de comida e depois virou de costas para a mesa, só para ter certeza de que não encararia aquele negócio todo.
— Quero fazer uma aposta. — um garoto do segundo ano chegou de mansinho, cochichando para Suigetsu enquanto pegava um doce na mesa para disfarçar.
— Beleza. Quanto e em quem? — Suigetsu virou de costas para o salão enquanto pegava um caderninho de dentro de seu paletó para anotar. — Fica de olho na Tsunade. Vê se ela está de olho em mim.
— Não. Ela está bebendo do lado do imperador do outro lado do salão. — o garoto cochichou, mas Sakura ainda conseguiu escutar.
— O imperador está aqui mesmo? — ela olhou abismada para Karin.
— Sim, ele veio. — a ruiva respondeu e apontou disfarçadamente.
A diretora Tsunade estava na parede oposta onde elas estavam. Estava usando um paletó feminino lilás por cima de um vestido cinzento social. Tinha uma taça de champanhe em sua mão, e ao lado dela, estava um homem usando trajes claramente da realeza. Um manto de seda de cor escura, ombreiras douradas, camisa de botões, cinto dourado, calça de seda escura, e as luvas brancas pomposas.
O homem em si era bonito, Sakura tinha que admitir, embora talvez meio esquisito. Era muito palido, o cabelo longo e negro estava preso num coque alto, além de olhos amarelados que pareciam varrer o salão inteiro, observando as pessoas com certo julgamento elevado e silencioso.
Tsunade tagarelava ao lado dele enquanto ele parecia concentrado nos alunos dançando em pares numa dança mais animada.
— Ele é o imperador? — Sakura cochichou junto a Karin. — Achei que fosse mais velho.
— Ele já está na casa dos cinquenta, se é o que quer saber. — a Senhora do Vento lhe murmurou enquanto o observava também.
— Qual o nome dele?
— Orochimaru.
— Hm.
— Senhora do Tempo, pode me fazer um favor? — Suigetsu as interrompeu.
— Depende. — Sakura disse de bom humor, tentando ignorar a presença de Vossa Majestade do outro lado do salão.
— Não dance com nenhum desses patifes essa noite. — ele pediu. — Por favor.
— Por quê?
— Porque a maioria desses canalhas apostaram em si mesmos achando que conseguiriam puxá-la para uma dança. — ele disse com um sorriso maquiavélico. — E eu apostei contra todos eles.
Sakura olhou em volta, percebendo que a maioria dos rapazes do salão estava lhe encarando. Até os comprometidos. Provavelmente esperando a próxima música começar para convidá-la para uma dança.
Que abuso.
— Deixe comigo. — a moça concordou. — Não vou dançar com nenhum deles.
— Ótimo. Dividiremos os lucros amanhã em metades iguais. — ele anunciou.
Tanto Sakura quanto Karin riram.
A Senhora do Tempo tentava não olhar muito para o outro lado do salão. Principalmente após notar que o imperador já deveria ter lhe notado, porque agora lançava olhares curiosos, de vez em quando. Tsunade já devia tê-lo alertado que a Senhora do Tempo chegara ao baile.
Ela tentou não prestar atenção nele, e sim nos outros alunos do salão. Ino tentava disfarçar ao máximo sua cara de aborrecida enquanto se mantinha encostada próxima da parede com uma taça de champanhe na mão.
Aparentemente, ela conseguira ir acompanhada de Sai para o baile, porém o Senhor da Madeira parecia mais interessado em beber champanhe e prestar atenção na conversa de seus amigos solteiros. Estava claro que a Senhora das Flores queria se exibir no salão, dançando. Porém seu parceiro não ajudava.
Algumas garotas solitárias pareciam igualmente aborrecidas pelos solteiros não estarem lhe chamando também.
A música terminou, porém outra igualmente frenética começou. A maioria dos casais ali permaneceu no salão, ainda empolgados e com o sangue quente. Outros poucos pares foram se juntar a eles, inclusive Karin e Suigetsu.
— Vamos, é a nossa música. — a ruiva o chamou empolgada ao reconhecer uma das músicas que eles dançaram em seu casamento. — Você prometeu.
— Certo. — Suigetsu mandou todo o champanhe em sua taça garganta abaixo e guardou sua caderneta de apostas. Pegando Karin pelo braço, os dois deslizaram até a pista de dança e se juntaram aos outros pares dançando alegremente pelo salão.
Aproveitando que não tinha mais ninguém ao seu lado, Sakura se tornou um alvo fácil perante os rapazes.
Simplesmente sete deles vieram se postar ao seu lado, erguendo as mãos, fazendo reverência e perguntando educadamente se ela lhes concederia uma dança.
— Agradeço o convite, mas já tenho um par. — ela replicou a mesma resposta educada e mentirosa aos sete.
Em seguida, pegou uma taça de champanhe de uma das bandejas voadoras para ver se o tempo passava mais rápido.
Só uma horinha. E depois ia dar no pé.
— Você não possui par nenhum. — ela nem precisava se virar para reconhecer a voz que se postou atrás de si. Seu estômago roncando e o sarcasmo palpável denunciavam perfeitamente o cavalheiro.
— Senhor da Escuridão. — Sakura acenou com a cabeça.
— Senhora do Tempo. — Sasuke cumprimentou de volta, colocando-se ao lado dela. Também estava com uma taça nas mãos, e agora observava junto dela a dança animada ocorrendo no meio do salão.
Vestidos esvoaçando, saltos fazendo barulho no chão reluzente, as teclas de piano ecoando frenéticas com a boa acústica.
— Onde está o seu par? — ele indagou.
Sakura fechou os olhos, sentindo a presença forte dele ao seu lado. Não tinha ninguém muito perto, o que significava que o efeito colateral da magia dele estava caindo totalmente sobre ela. Seu estômago ecoava como um buraco negro dentro dela agora.
Será que se ela gritasse pra ele cair fora seria deselegante?
— Onde está o seu? — ela devolveu a pergunta, deixando a irritação sair em seu tom de voz.
— Eu nunca tenho par. — ele respondeu o óbvio.
— Por que não?
— Porque não quero. — com um dar de ombros divertido, ele a olhou pelo canto do olho. — Já provou os bolinhos de framboesa? Karin disse que estão excelentes.
Desgraçado.
Tentando não virar para olhar aquela mesa repleta de comida atrás de si, Sakura só ergueu a mão livre pra trás, tateando até achar um dos bolinhos em cima da mesa. Ela o alcançou e o enfiou direto na boca, torcendo pra ninguém estar vendo que ela quase não mastigou e já engoliu.
Mas teve o efeito esperado. Seu estômago pareceu se acalmar o suficiente para parar de doer assim que a massa chegou ao seu destino.
Ela queria matar Sasuke. Mataria se pudesse. Mesmo que ele não estivesse consciente do que suas palavras e sua presença causassem nela.
Bom, ela teria que aguentar. Porque o fato dele estar ali ao seu lado parecia ter afastado aquele monte de garotos sedentos por uma oportunidade de convidá-la para dançar.
— Você não sabe dançar? — ela tentou manter uma conversa agradável com ele.
— Sei perfeitamente. — ele respondeu com maestria. — Tive os melhores professores de todo o Reino do Norte.
— Então por que não dança em nenhum baile?
— Porque detesto dançar. Nem mesmo o amor verdadeiro me faria ficar animado com uma situação dessas.
— Aposto que era o que Suigetsu dizia antes de Karin. — Sakura observou e os dois encararam o casal no salão.
O Senhor da Água e a Senhora do Vento dançavam com tanta exuberância que os casais à volta deles se afastavam com medo de se machucarem. Ainda assim, deixavam todos no chinelo.
— Você tem um bom ponto. — Sasuke concordou, fazendo Sakura sorrir. — Mas o canalha está se exibindo, eu garanto.
A garota riu e terminou sua taça de champanhe, pegando outra.
— Não exagere, Senhora do Tempo. — Sasuke ironizou. — Não vai querer estar bêbada quando falar com o imperador.
— Quem disse que irei falar com ele? — retrucou ela.
— Ele veio a este baile somente por sua causa. Para conhecê-la. — ele lhe indicou o óbvio e os dois se encararam firme. — Não faça uma desfeita no seu baile inaugural para a Alta Sociedade Elemental.
— Talvez você tenha razão. — ela suspirou. — Eu deveria ir lá cumprimentá-lo?
— Faça como quiser. — Sasuke respondeu e deu um gole forte de seu champanhe.
Sakura o observou, notando que ele parecia irritado com alguma coisa. E quando ela notou que ele estava encarando o imperador do outro lado do salão, se lembrou das palavras de Suigetsu no dia anterior.
Talvez fosse o champanhe já fazendo efeito em seu estômago vazio, mas Sakura perguntou antes mesmo de pensar:
— Você tem raiva do imperador por causa da sua mãe?
Sasuke piscou, e lentamente virou a cabeça para encará-la. Seu olhar parecia mais escuro do que o normal no momento, o que indicava que Sakura deveria tomar cuidado com as palavras.
— O que minha mãe teria a ver com o imperador? — ele perguntou devagar, em tom que deveria alertar qualquer um, mas Sakura não se conteve.
— Bom, eu ouvi uns boatos. — ela disse dando mais um gole de seu champanhe. — Sua mãe costumava ser a bruxa mais poderosa da geração dela até ser infectada pelo fungo Agárico e perder os poderes sobre a Escuridão. As más línguas dizem que foi o imperador que mandou infectá-la disfarçadamente porque ela queria destroná-lo.
Sasuke cerrou os olhos, mas Sakura continuou a encará-lo com firmeza. Sem vacilar.
— É verdade? — ela indagou. — Você realmente quer vingá-la pelo que o imperador fez?
O silêncio de Sasuke e o modo como ele a encarava de maneira perigosa denunciavam a Sakura que não era mentira. Ele parecia estar escolhendo as palavras para respondê-la. Parecia que as sombras na parede próxima a eles estavam ficando mais escuras.
No entanto, contrariando tudo o que acontecera no último minuto, Sasuke abriu um pequeno e forçado sorriso de canto. Ele pareceu respirar fundo antes de pegar outra taça de champanhe.
— Não devia acreditar no que essa gente por aqui fala, Senhora do Tempo. — ele desconversou tal assunto. — A Alta Sociedade adora inventar fofocas sobre os outros.
Sakura não sabia se deveria acreditar nele, ainda mais por causa de seu comportamento defensivo. Ele pareceu pessoalmente ofendido antes de desconversar o assunto, o que indicava uma certa verdade no que ela lhe acusou.
Mas claro. Com o imperador presente, nem o mais louco dos magos diria que pretende iniciar uma guerra contra Vossa Majestade. Seria suicídio, ainda mais na posição em que Sasuke estava. Ao lado da Senhora do Tempo, que segundo tudo indicava, seria uma das responsáveis por protegê-lo em breve.
— Bom, já que é assim… — Sakura colocou sua taça vazia sobre a mesa, e uma fada logo veio reconhecê-la. — Vou me apresentar à nossa estimada realeza. Deseje-me sorte.
Ele não disse nada a respeito, apenas continuou com aquela cara de irritação contida enquanto Sakura dava a volta pelo salão, passeando entre a multidão de pessoas para chegar ao imperador do outro lado sem ter que passar no meio daqueles casais dançando.
No caminho, é claro, foi interceptada por uma mais uma dúzia de cavalheiros — incluindo Naruto — que a chamaram para uma valsa mais lenta assim que uma música menos empolgante tocasse.
Ela recusou todos, é claro, sendo mais educado apenas com Naruto.
Agora que ganharia metade do dinheiro de todos eles junto a Suigetsu, tinha um motivo a mais para recusar-se dançar — além é claro de ficar longe dos olhos de todos com aquele vestido no meio da pista.
Quando já estava quase lá, ela notou que o próprio imperador e Tsunade pareciam tê-la avistado, e encontravam-se caminhando em sua direção. Com o notório título dele, é claro que as pessoas estavam abrindo caminho voluntariamente para que ele andasse, ninguém se atrevendo a chegar muito perto sem ser solicitado.
Sakura, por outro lado, parecia ter a presença à frente dele desejada, já que ele vinha em sua direção com um pequeno sorriso no rosto.
— Senhora do Tempo. — ele sibilou as palavras de maneira altiva assim que eles estavam diante um do outro. — É uma honra imensa conhecê-la pessoalmente depois de tantos anos, embora eu sinta que já nos conhecemos por carta.
— A honra é toda minha, Vossa Majestade. — Sakura fez uma reverência conforme a ocasião pedira. Ela ignorou o fato de que ele provavelmente pensava que a conhecia porque era sua mãe que escrevia para ele, algumas vezes fingindo ser a filha.
— A senhorita é ainda mais bonita do que ouvi falar. — Orochimaru comentou olhando-a de cima a baixo. — Embora eu admita que o vestido e os enfeites ajudem, suponho que nem todo o luxo do mundo seria capaz de substituir graça e elegância naturais.
Ah, se ele soubesse que Sakura treinou a vida inteira para saber se portar neste momento… Mas ela tinha que admitir que a bebida estava ajudando um pouco. Deixava-a menos ansiosa para encará-lo de frente e com um sorriso no rosto.
— Ela é um verdadeiro encanto, sem dúvidas. — a diretora Tsunade concordou, parecendo orgulhosa de si mesma só por ter Sakura ali. — E já demonstrou muito talento elemental nos poucos dias em que esteve conosco.
— SIm, eu soube. — o sorriso de Orochimaru se alargou. — Parabéns por sua vitória no duelo contra o Senhor da Escuridão, embora não seja surpresa pra nenhum de nós que a sua família sempre foi a mais poderosa de todos os Senhores Elementais. — os olhos amarelos dele pareceram brilhar um pouco mais. — Será de uma imensa alegria para mim saber que finalmente terei uma Senhora do Tempo ao meu lado novamente. Deus sabe o medo que minha família enfrenta desde que sua trisavó Saori faleceu. Nenhum Senhor do Tempo nos protegendo contra magos das trevas como a Bruxa das Nove Montanhas…
— Mas isso mudará agora, eu garanto. — Tsunade animou-se. — Esta Senhora do Tempo com certeza poderá protegê-lo. Até mesmo pode derrotar a Bruxa das Nove Montanhas um dia, eu acredito.
— Não nos precipitamos, diretora Tsunade. — Sakura riu sem graça. — Eu não me atrevo a dizer que sou poderosa o suficiente para derrotar alguém tão experiente e poderoso como ela.
— Não desacredite tanto de si mesma, Senhora de Tempo. — Orochimaru disse com extrema gentileza a ela. — Seu elemento é capaz de fazer os maiores feitos que esse mundo jamais viu. Derrotar magos como a Bruxa das Nove Montanhas é apenas a pontinha de um enorme iceberg. Você é mais do que capaz de qualquer coisa.
Ok, de novo… talvez fosse só a bebida. Mas nenhum elogio que Sakura recebeu antes foi tão encorajador assim. Talvez porque fosse o próprio imperador dizendo que ela era uma maga fantástica, mas aquilo tinha soado tão empoderador que a garota de repente sentia um peso enorme saindo dos ombros.
— Não concederá uma dança a nenhum desses jovens rapazes? — Orochimaru lhe indagou num tom divertido. — Tenho certeza de que todos estão sedentos por uma valsa com a senhorita. Está belíssima nesse vestido. E eu adorei como colocou pétalas de flor no cabelo, ao invés de diamantes e outras pedras preciosas como a maioria das jovens. Acho que combinou muito mais com a senhorita.
— Obrigada. Mas eu prefiro guardar o máximo de valsas possíveis para meu futuro marido.
— É claro. — o sorriso de Orochimaru se tornou ainda mais ladino. — E parabéns pelo excelente noivado novamente. Sua mãe escolheu muito bem. Vocês serão extremamente felizes juntos, eu presumo.
Pela primeira vez, Sakura não concordaria com ele. Mas continuou sorrindo calada e acenou com a cabeça.
— Enfim, foi um prazer imenso estar aqui com vocês e ver que a Fundação continua magnífica em tudo que se propõe a realizar. — Orochimaru olhou para Tsunade. — Mas receio que precise ir. Tenho reunião cedo amanhã com meus tenentes do exército, e preciso me preparar.
— É claro. — as duas concordaram e fizeram uma reverência ao imperador.
— Nos veremos de novo em seu casamento, Senhora do Tempo. — Orochimaru sorriu para ela. — Espero que meu convite não se perca pelos pássaros nos céus por aí.
— Claro. — Sakura sorriu nervosa com a ideia dele estar em seu casamento daqui uns meses de novo. — Tenha uma boa noite.
E ele se foi. Em direção à saída do salão, com todos abrindo caminho para que passasse de maneira majestosa.
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Orochimaru caminhou pelos corredores da Fundação com o passo imponente de sempre, não tendo pressa para chegar do lado de fora tão cedo. Isso porque já sabia quem estava atrás de si e queria dar tempo a ele de chegar para terem aquela conversa.
Já do lado de fora, sob o céu noturno, ele desceu a escadaria em direção à sua impetuosa carruagem, que o aguardava ao pé dos degraus, mas foi parado faltando apenas alguns passos para chegar lá.
— Majestade. — a voz veio de trás de si.
Sorrateiro, Orochimaru sorriu de lado com satisfação antes de se virar e encarar o Senhor da Escuridão, parado alguns degraus acima dele.
— Sasuke Uchiha. — ele sibilou estalando a língua. — Que prazer revê-lo. Você cresceu muito desde nosso último encontro há cinco anos.
Sasuke o encarava com os olhos cerrados, uma expressão de pedra no rosto.
Nenhum dos dois se mexia, num duelo visual em que Orochimaru parecia estar levando vantagem.
— E como está sua mãe? — Orochimaru questionou de uma maneira que esbanjava veneno e desdém, fazendo com que o Uchiha cerrasse os punhos involuntariamente pela ira que lhe tomava.
— Está ótima. Não graças a você. — Sasuke respondeu com a voz baixa e perigosa.
— Devia parar com essas teorias da conspiração, Sasuke. — Orochimaru ironizou. — Sabe que não tenho tempo para me preocupar em tentar matar pessoas, ainda mais senhoras como a sua mãe.
As sombras — que não eram poucas — pela escadaria começaram a ficar maiores. E mesmo assim, Orochimaru não parecia nem um pouco amedrontado.
— E deveria estar feliz. Sua mãe perdeu o título cedo, o que fez com que você o ganhasse cedo. — o imperador sorria cínico para o rapaz. — Não é uma maravilha ser o Senhor da Escuridão desde jovem?
— Foi você que fez aquilo, não pense que não temos ciência. Tudo isso porque ela estava planejando te derrubar finalmente. — Sasuke o acusou com a voz baixa, não querendo gritar e atrair público para ter testemunhas daquela conversa. — Se ela tivesse encontrado a Bruxa das Nove Montanhas, você sabe que ela teria derrotado-a e adquirido poder suficiente para te derrubar. E por isso você tentou se livrar dela antes.
— Vocês viveram o luto de maneira errada. — Orochimaru zombou. — Ao invés de comemorarem que sua mãe sobreviveu ao Agárico, preferem procurar culpados para a situação toda.
— A maior sorte que tivemos na vida foi ela não ter chegado mais cedo em casa, senão teria me infectado e eu também estaria sem nossa magia. — Sasuke cuspiu. — Mas não importa porque eu vou vingá-la. Eu vou derrubar você.
— Você? — Orochimaru começou a rir. — Não sei se percebeu, mas não é mais o bruxo mais poderoso da sua geração. Há uma Senhora do Tempo entre nós agora. — ele sorriu sádico. — E se fosse você, não me apegaria tanto. Eu a vi primeiro. — ele sibilou. — Ela é fiel a mim, e a mais ninguém.
— Você tem confiança demais de que ela o protegerá. — Sasuke retrucou. — Até onde eu sei, a única lealdade que ela deveria ter é com o marido.
— O marido é apenas uma formalidade. — Orochimaru riu cínico novamente. — Uma condição que eu impus para dar a ela o que sua família realmente quer de volta há décadas: um ingresso de volta à Alta Sociedade Elemental. Acha que alguém como Sakura, com um poder tão deslumbrante como aquele, será fiel a uma mera aliança em seu dedo quando eu posso dar a ela status e dinheiro depois de tantos anos de decadência?
De novo, o Senhor da Escuridão cerrou os punhos com ódio fervendo dentro de si. Ele tremia um pouco, embora continuasse parado no mesmo lugar encarando o imperador.
— Aceite, Sasuke. — Orochimaru sibilou sadicamente. — Se quiser chegar até mim, terá que passar pela Senhora do Tempo agora. E todos já sabemos que você não consegue vencê-la.
As sombras na escadaria ficaram ainda mais obscuras, e algumas até rastejavam devagar na direção do imperador, embora Sasuke tentasse ao máximo se conter.
— Mande lembranças minhas à sua mãe. — Orochimaru sorriu uma última vez a ele antes de virar e terminar de descer a escadaria. — DIga que o imperador sente saudades da Senhora da Escuridão. Ou melhor: ex-Senhora da Escuridão. — e ele entrou tranquilamente na carruagem, que saiu em ritmo lento pela propriedade.
Sasuke estava tão furioso e tão irado que as sombras começaram a crescer ao seu redor, desaparecendo com as luzes que vinham das janelas da Fundação, tapando-as para que o lado de fora mergulhasse em total negritude. Se não fossem as tochas com fogos esverdeados acesos pela propriedade, a Fundação viraria um prato cheio para os demônios das sombras atacarem.
O Senhor da Escuridão tentava manter a calma, respirando fundo e mantendo toda aquela revolta dentro de si sem destruir tudo ao seu redor no contexto em que se encontrava.
Tudo o que ele queria era mandar suas sombras atrás daquela carruagem e matar o imperador na estrada. Mas sabia que se fizesse isso, botaria toda a sua vingança a perder.
Não. Ele e a mãe tinham planejado tudo muito meticulosamente nos últimos anos, pensando em cada mísero detalhe, e ele não podia botar tudo a perder agora.
Só tinha que se acalmar e pensar. Respirar fundo e pensar.
E de repente, outra ideia lhe veio à cabeça.
Ele virou e encarou a entrada da Fundação novamente, por onde a música do baile continuava vindo.
Talvez fosse a hora de mudar de estratégia.
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Sakura percebeu que estivera prendendo a respiração um pouco. Ela começou a recuperar o fôlego assim que notou que tinha mesmo conversado com o imperador. E fora uma conversa extremamente notável.
Assim que ele saiu, ela notou que todos a olhavam com extrema curiosidade, sedentos por saber o que a Senhora do Tempo conversara com o imperador.
Suigetsu era um. Assim que a música mudou, ele e Karin vieram praticamente correndo até ela.
— E então? Como foi? — eles perguntaram ao mesmo tempo.
— Foi incrível. Ele é extremamente educado e muito gentil. — Sakura disse animada. — E ao que tudo indica, quer ir no meu casamento.
— Pelos deuses! — Suigetsu ficou boquiaberto. — O imperador pedindo para ir num casamento? Agora eu também preciso muito de um convite. Vai ser o evento do século!
— Pode deixar, mandarei convites pra vocês. — Sakura riu. — Mas é impressionante mesmo. Eu sempre o imaginei um velho horrível e mau educado que se achava melhor que todos.
— Não, ele é realmente bem apresentável ainda. — Karin concordou, parecendo igualmente animada. — Estou tão feliz por você. Todos vão morrer de inveja quando souberem. Farei questão de espalhar pela escola toda.
— Os Senhores do Tempo estão de volta mesmo. — Suigetsu comemorou. — E eu estou vivo para ver esse evento com meus próprios olhos! Que sorte da porra! Querida, nós temos que dançar novamente.
— Nem pensar, esse vestido já está me incomodando. — Karin rechaçou.
— Talvez porque ele tenha botões demais. — Sakura observou.
Karin estava usando um vestido de lilás cheio de botões na frente, com mangas compridas e uma saia esvoaçante. Suigetsu estava usando um terno azul escuro com uma gravata borboleta lilás para combinar. Mas até ele já parecia incomodado com o próprio paletó, embora estivesse esquecendo disso porque queria dançar para extravasar.
— Dance com ele, Sakura. — Karin a empurrou para aquele martírio. — Eu quero é beber.
— Senhora do Tempo. — os três pularam de susto ao ver Sasuke brotando ali ao lado.
— Cara, já mandei parar com isso! — Suigetsu ralhou com ele.
Sasuke apenas o ignorou e olhou sério para a moça.
— Você me concederia a próxima dança? — ele indagou, deixando os três surpresos.
— O quê? — Sakura acreditava estar bêbada demais e ter escutado algo diferente.
— Uma dança. — Sasuke repetiu. — Quer dançar a próxima música comigo?
Sakura o olhou de modo abismado. O Senhor da Escuridão? Convidando-a para dançar? Mas por quê? Por que o rapaz mudara de ideia tão rápido?
Só porque viu o imperador a elogiando? O que ocorrera para que ele mudasse de posiç~]ao tão bruscamente?
O queixo de Karin foi ao chão.
— O que deu em você? — ela perguntou brusca, sem se conter.
— Não, é uma ótima ideia! — Suigetsu parecia ainda mais animado agora. — Vão os dois pra aquela pista.
— Você não disse que eu não deveria dançar com ninguém? — Sakura indagou ao Senhor da Água, confusa.
— Só que ninguém apostou que você dançaria com o Sasuke. — Suigetsu estava quase brilhando de empolgação, o que indicava que tinha alguma aposta ali no meio que ele queria faturar.
— Tudo bem, mas ainda quero a metade dos lucros. — Sakura pontuou.
— Será seu. — o albino concordou.
Sakura encarou Sasuke, que continuava lhe olhando sério. Ele não parecia particularmente animado com a ideia de dançar, mas parecia ter alguma motivação por trás.
Os dois viraram-se para o meio do salão, aguardando que a música mudasse para que pudessem ir.
Sakura o olhou de cima a baixo pelo canto do olho. Ele estava todo vestido de preto, da cabeça aos pés como sempre. Paletó, terno, calças, botas e luvas pretas. Apenas a camisa branca de botões por baixo, que mal aparecia porque o paletó estava bem fechado em seu corpo. Além disso, tinha arrumado os cabelos com alguma coisa parecida com gel, penteado pra trás, o que dava a impressão dos fios serem lisos e comportados, e não rebeldes como o habitual.
Sakura ergueu as mãos enluvadas ao próprio cabelo, desprendendo um dos lírios roxos de seu coque. Ela se virou para o Senhor da Escuridão, que ficou confuso ao vê-la mexendo em seu paletó.
— O que está fazendo? — ele questionou quase irritado.
— Se vai ser o meu par, esteja de acordo. — ela sibilou divertida enquanto ajeitava o lírio no bolso do paletó dele, ajeitando-o para que ficasse preso, e ao mesmo tempo, visível.
— Você é muito petulante, Senhora do Tempo. — ele resmungou.
— Obrigada. — Sakura sorriu satisfeita e os dois voltaram a aguardar.
Quando a música mudou, finalmente chegara o momento de uma melodia lenta, o que fez muitos casais saírem de seus esconderijos pelos cantos e irem para a pista. E óbvio, não tinha ninguém no salão — exceto Karin e Suigetsu — que não tenha ficado em choque ao ver Sasuke caminhando para o meio da sala de braços dados com a Senhora do Tempo.
Até mesmo os casais que já dançando lentamente lá ficaram meio paralisados.
— Estão todos nos olhando. — Sakura murmurou com os dentes cerrados disfarçadamente quando os dois chegaram lá e ficaram de frente um para o outro.
— Ignore-os. São um bando de meros súditos. — Sasuke resmungou, já fazendo a reverência apropriada pra ela antes de colocar uma mão em sua cintura.
Sakura segurou a mão esquerda dele, pondo a sua outra nas costas dele.
Por sorte, eles estavam cercados de gente, o que aliviava o efeito colateral dele sobre ela. Mesmo assim, seu estômago se embrulhou de fome um pouco, ainda mais por ela estar notadamente o tocando. E quase colada nele.
Os dois começaram a valsar devagar.
Sasuke não parecia particularmente satisfeito, mas tentava disfarçar bem.
— Você dança bem, Senhora do Tempo. — ele pontuou ao notar como ela se conduzia fácil pelo salão.
— Obrigada. — Sakura pareceu aliviada com o comentário. — É a primeira vez que danço sem ser com a minha mãe.
Isso aparentemente deixou Sasuke surpreso.
— Não tinha bailes em sua antiga escola?
— Tinha. Mas não incluía essas danças sofisticadas da Alta Sociedade Elemental. Era mais… batida eletrônica e um pouco de rock.
— Parece muito mais divertido. — ele resmungou, fazendo-a rir. — Como era na sua antiga escola?
— Por que de repente você quer tanto saber da minha antiga escola?
— Só estou puxando assunto. Vamos ficar cinco minutos dançando, e talvez a conversa faça o tempo passar mais rápido.
— É claro. — Sakura riu. — MInha escola era como a Fundação. Só que menor, no meio da cidade, e somente com magos normais. Aulas de magia normal. E pública, então tinha gente de diferentes classes estudando lá.
— Você tinha muitos amigos?
— Eu não era exatamente popular, mas tinha o meu próprio grupinho. Passei a manhã hoje respondendo as cartas deles.
— E os garotos? — Sasuke parecia curioso. — Havia algum por quem se interessasse?
— Acho que está fazendo perguntas demais, Senhor da Escuridão.
— Então tinha alguém. — ele sorriu ferino. — Quem era?
— Ninguém com quem meu marido deva se preocupar. — Sakura suspirou. — Eu gostava de um menino que era mais velho. Ele já até terminou os estudos. Mas é um mago formidável. Vem de uma família que trabalha com arte e carpintaria.
— E o que aconteceu entre você e ele?
— Nada. Nunca nem nos falamos. Ele nem deve saber que eu existo. — ela suspirou de novo. — Eu só era apaixonada por ele em segredo. Assim como a maioria das garotas da cidade.
Sasuke pareceu notar que estava tocando num ponto sensível dela. Logo após darem uma volta, ele firmou sua mão um pouco mais firme na cintura fina da moça.
— Ele deve ter notado sua existência, sim. É impossível não notá-la. — ele disse de maneira sincera. — Ainda mais vestida dessa maneira.
Isso deixou a garota surpresa. Ele estava lhe elogiando? Dizendo que ela era bonita novamente?
Tudo bem, devia ter alguma coisa errada.
— Certo, seja sincero. — ela foi direto ao ponto. — O que fez você mudar de ideia sobre a dança?
— Quer a verdade nua e crua? — Sasuke ergueu as sobrancelhas.
— Sim, por favor.
— Tudo bem. — ele suspirou teatralmente. — Todo mundo sempre aposta que eu nunca vou dançar, porque sabem que é uma vitória garantida. No entanto, hoje alguém apostou que iria dançar.
— Quem? — Sakura estava morrendo de curiosidade.
— Eu.
Ela piscou uma vez. Duas.
— Você apostou em si mesmo? — ela perguntou devagar.
— Mas é claro. Tinha dinheiro demais na roda para perder uma oportunidade dessas. — ele sorriu maligno. — E eu prometi metade pro Suigetsu.
Sakura olhou para a beira do salão, vendo que Suigetsu estava se contorcendo de alegria vendo os dois dançando.
Ele estava lucrando em cima de todos os otários que tinham apostado que dançariam com a Senhora do Tempo. E em cima de todos que apostaram que Sasuke se manteria longe da pista de dança como sempre.
— Vocês são insanos. — Sakura disse antes de começar a gargalhar, achando tudo muito engraçado, principalmente ao notar as caras de tacho de quase todos no salão vendo Sasuke valsando suavemente com a Senhora do Tempo.
— Sim, somos. — Sasuke concordou com um sorriso de lado. — E é por isso que somos melhores amigos desde crianças. Suigetsu é minha alma gêmea.
— Eu concordo plenamente. — a garota não conseguia parar de rir.
E de repente, sua estreia na Alta Sociedade Elemental tinha ficado bem mais divertida do que ela pensara. Foi uma noite muito agradável, ao contrário de tudo o que Sakura imaginou.
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