Detenção.
Esse era o castigo de Rey por ter socado lindamente Poe Dameron nos corredores.
Mesmo após sofrer as consequências, ela não sentia a menor culpa ou um pingo sequer de remorso.
Na verdade, ela queria fazer de novo. Queria machucá-lo assim como ele a havia machucado.
Rey queria chorar, mas já havia passado por tantas situações de merda, que simplesmente não conseguia.
Agora, ela só focava na raiva.
Na raiva que sentia de Poe, por ter enganado ela e a feito de trouxa por dinheiro.
Na raiva que sentia de Chrissie, por nunca ter tido alguma consideração por ela, e nem ao menos pensado na própria amiga, quando aceitou sair com Kylo Ren.
E sim, ela também nutria muito ódio e hostilidade por Kylo.
Ele estava certo sobre Poe esse tempo todo, e ela odiava ele por isso.
Odiava ele por tê-la infernizado durante dois anos, e agora, do nada, ter se mostrado um cara preocupado.
A jovem juntou seus pertences e saiu da sala da direção, sem a mínima vontade de voltar para a aula.
Ela escutou uma voz familiar vindo da secretaria.
— Finn, o que faz aqui? — ela perguntou, surpresa por vê-lo.
— Vim te dar suporte, piranha! — Finn tomou os livros das mãos de Rey, para aliviá-la do peso. — Te procurei por toda parte nesse mausoléu.
Rey sorriu entristecida, porém grata por ele estar ali, num momento onde ela mais se sentiu sozinha.
Além de abandonada e traída.
— Eu estava aqui, levando uma bronca do Palpatine. — Rey estendeu o papel de detenção que ela tinha ganhado, mostrando ele para Finn.
O moreno olhou e logo depois, catou seu celular de dentro do bolso.
— Sorria! — ele apontou a camêra pra ela, que assim que percebeu, colocou a mão na frente da lente.
— Que isso, Finn? O que está fazendo?
Ele tentou tirar os dedos dela da lente, mas Rey se manteve firme.
— Tirando uma foto sua pra colocar no meu Blog. Vou comentar sobre a fofoca, tá todo mundo só falando disso.
O corpo de Rey endureceu.
— O q-quê? O que estão dizendo?
— Que você deu uma voadora no Poe e o cérebro dele caiu da cabeça! — respondeu Finn, concentrado em seu celular. — Mas não se preocupa que eu sou um jornalista sério e vou expor a verdade.
— Jornalista? — Rey questionou com a sombrancelhas erguidas.
— Tá! — Finn revirou os olhos. — Fofoqueiro! Mas não me estressa muito. Aliás, que bela surra você deu no Poe, hein?!
Rey franziu o cenho.
— Infelizmente, foi só um soco. Ele merecia bem mais!
Os dois andaram mais alguns metros até chegarem na frente da porta da sala de aula.
Poe estava ali por perto conversando com outro rapaz.
— Jesus, Rey! O garoto tá destruído. A cara dele parece desfigurada, que horror. Me lembra de nunca cruzar o seu caminho.
Rey olhou para o rosto de Dameron que parecia ter sido atropelado por uma manada de elefantes.
Dameron tinha um olho roxo inchado. Sangue seco no nariz. A boca cortada. E o resto da cara com diversos machucados.
— Eu não fiz aquilo, Finn. Soquei ele? Sim. Mas não fez tanto estrago assim.
— Então parece que Deus escutou suas preces... — o moreno disse enquanto encarava o estado deplorável de Poe.
— Acho que você mencionou a entidade errada, Finn.
Assim que notou a presença de Kylo Ren na sala, Rey entendeu tudo.
Ele estava sentado na mesma mesa que eles sentaram nas últimas aulas de Kenobi.
A camiseta preta que Kylo usava demarcava muito bem as costas largas e musculosas dele.
E ainda tinha aquele maldito sorriso diabólico.
Um sorriso largo que contrastava perfeitamente com seus olhos negros.
Kylo Ren era a visão do paraíso, poéticamente belo e devastador.
Porém, uma queda livre direto no inferno.
E ele sabia disso.
E usava isso,
A seu favor.
Rey se aproximou dele, vendo seu punho, pousado na mesa, com alguns cortes e sangue.
— Arrumando briga como sempre, Ren? — ela sentou ao lado dele, e o mesmo esboçou um sorriso cínico.
— Só fui colocar o lixo pra fora. Ou melhor, no seu devido lugar.
Rey então riu com desdém.
— É o sujo falando do mal lavado...
— Não me compare com ele. Não me compare com o Dameron! — Kylo Ren soou de um jeito ameaçador, como se repudiasse tal ato.
— Jamais! Até porque, você é muito pior!
Kylo olhou pra ela impressionado com a garota cheia de atitude. Rey tinha a cabeça erguida e sem a menor intenção de abaixá-la.
Ela já tinha sido humilhada o suficiente.
Seu interior ardia de raiva. Raiva dele e de todos. Ela iria mostrar a Kylo Ren o que era o inferno. Ela daria a ele um gostinho de lá.
— Estou um pouco surpreso...mas já esperava isso de você. — Ren disse com uma expressão neutra.
— Isso o quê? — resmungou Rey.
— Essas suas atitudes de cadela irritante.
Rey simplesmente não conseguiu esconder a raiva que tomou conta dela ao ouvir as palavras dele.
— Que bom, porque elas combinam com as suas de cachorro sarnento, seu afetado da cabeça!
— Eu? Afetado? Quem quis sair com o Dameron foi você. Minha consciência está limpa, hoje eu vou dormir bem tranquilo.
Os olhos de Kylo brilhavam a cada resposta que ela dava a ele. Estavam em um conflito mútuo, que acabaria em destruição.
Sempre acabava.
Os dois viviam em uma briga constante pelo controle daquele jogo sádico e cruel.
Kylo Ren sempre vencia no final das contas, só que agora uma nova Rey surgia. Uma Rey mais forte e mais preparada pra aguentar as pancadas dele.
E que também o atacaria igualmente. No mesmo nível, se possível.
— Por que você não me contou logo? Preferiu me omitir isso só pra que eu socasse a cara dele, e você tivesse uma desculpa pra fazer o mesmo?
— Você não ia acreditar em mim.
Rey segurou a vontade de meter a mão na cara dele, e retrucou:
— Claro que não! Você é uma sujeira, Ren. E do pior tipo. Aquela que gruda e não saí de jeito nenhum.
Kylo não pareceu se afetar com o que ela dizia, pelo contrário, ele continha uma aparência divertida em seu rosto.
— Adoro quando você me enfrenta. Me deixa bastante excitado.
A jovem gaguejou algumas palavras confusas e arregolou seus olhos castanhos esverdeados.
Kylo se deleitava ao vê-la perder a postura. Ele amava assistir o momento em que suas palavras esgotavam-se.
— Isso não funciona comigo. — ela rebateu, desconcertada.
— Mas você corou. — Kylo abriu um sorriso malicioso.
Rey cerrou seus dentes com força. Queria meter as unhas na cara dele.
Ela sentia seu rosto enrubescer ainda mais. Ele estava tão perto. Tão perto que podia ouvir seu coração batendo incessantemente.
Infelizmente, eles foram interrompidos pelo professor Kenobi e dois bonecos de brinquedos jogados por cima de uma mesa.
Porém, isso não amenizou a tensão presente ali entre eles. Ela ardia sem cessar.
— Que porcaria é essa? — Finn perguntou ao ver os dois bonecos.
— Hoje nós vamos representar nesses dois aqui uma "relação humana". — os alunos se animaram. — Parem de pensar bobagem. Existe um longo caminho até os "finalmentes". Hoje, os bonecos vão ficar somente no beijo.
Antes que pudesse continuar, Kenobi foi interrompido por uma aluna.
A loira esticou seu braço e com a outra mão movimentava uma mecha de seu cabelo.
— Por que não usar pessoas de verdade, em vez desses bonecos...estranhos?
Kenobi pareceu gostar da idéia. Ele pensou por alguns minutos e logo mudou de idéia.
— Vamos fazer assim então. Alguém se habilita a vir aqui a frente pra servir de cobaia?
O silêncio na sala era ensurdecedor. Estavam todos se olhando, mas ninguém ousava se pronunciar.
— Tudo bem, eu escolho. — Ben passou os olhos pela sala decidindo quem ia chamar. Até parar em alguém e apontar para ele. — Você, garoto ruivo, vem até aqui.
— É Hux! — o garoto se levantou da carteira e foi até a frente da sala.
— Ok. Agora, alguma garota da sala se habilita a vir aqui por livre e espontânea vontade? — perguntou o professor.
Silêncio novamente.
Algumas meninas sorriam umas pras outras.
Rey podia jurar que havia ouvido a seguinte frase vinda de alguma das garotas: "Na vez do Kylo Ren eu vou com todo o meu prazer!"
Mas, ela também podia sentir a indiferença dele quanto a aquela aula.
O fato de Kylo Ren ainda estar com todo aquele ar superior a irritava muito. Porque ele sempre possuía o controle.
E sempre vencia.
Ele mantinha a pose de vitorioso. Os braços cruzados e o poder infálivel em suas mãos.
Rey odiou aquilo.
Odiou vê-lo tão confiante.
Como se ela fosse fraca. Mas ela não era.
Ela queria chocar ele de verdade.
O espantar. Arrebatá-lo.
E ela faria isso.
Por todos os dias em que ele a feriu. Tirou seu sono. A fez chorar. Se sentir a pior pessoa do universo, sem ter em que confiar. Sem ter amigos.
E agora, ela também iria tirar o seu sono.
Kylo Ren não dormiria tranquilamente essa noite.
Rey moveu sua mão até a perna dele, por debaixo da mesa. O toque quente de sua palma no local, o fez girar o pescoço com rapidez.
Ele a encarou completamente confuso. E ela se divertiu com aquilo.
Rey soube que fez o corpo dele estremecer com aquele simples toque.
— Quer ver uma coisa interessante, Kylo? Eu estou cansada dos seus joguinhos e de todo esse rancor que você guarda de mim. Essa sou eu virando o jogo!
Rey se levantou, mantendo seus olhos grudados nos dele. Ela foi em direção a frente da sala.
— Hoje em dia não existe mais essa coisa de diálogo, professor. É tudo uma questão de atitude!
Sem pensar em mais nada, Rey puxou o pesoço de Hux e beijou a boca dele em um único impulso.
Sua língua envolveu a do ruivo, que passou seus braços em volta da cintura dela.
Rey não pensou nas consequências quando levantou de sua mesa e beijou Tage Hux na frente de todos.
Ela não pensou em ninguém que não fosse em Kylo e sua cara de espanto.
Ela não pensou na pessoa mais importante pra ela.
Que havia ficado do seu lado quando ninguém mais ficou, e que cuidava dela sem pedir nada em troca.
Ela não havia pensado mesmo nas consequências.
Ela não havia pensado nele...
Finn.
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