- Surpresa, filha da puta!
Dipper pronunciou tais palavras sem nenhuma emoção, como quem diz "bom dia". A diferença é que não era um bom dia, estava mais para uma ameaça.
Pacífica arregalou os olhos ao notar o estrago que Dipper havia feito em seu carro, estava completamente destruído! Havia pichações para todos os lados, amassados. Faróis, vidros e suportes completamente quebrados.
Dipper não fugiu de seu crime, como um bom artista, ficou para apreciar sua obra por um tempo. Ainda estava no carro, na verdade estava sentado no teto completamente amassado do veículo, servindo de descanso para seus braços, um taco de baseball residia ali, estava um pouco torto e amassado, haviam farpas expostas em toda a superfície que deveria ser lisa, a arma perfeita para o crime.
- Você é maluco, Dipper! Eu já disse que não estou com a porcaria do seu gato! - Parou para analisar a sucata que um dia fora o seu tão amado carrinho. - Eu comprei esse carro com o meu dinheiro! Eu não tenho mais a verba dos meus pais para ficar cobrindo qualquer merda que acontece, seu filho da puta! Eu vou processar você!
Dipper pareceu acordar de um transe quando a ameaça da loira jogou à seus ouvidos, levantou-se de onde estava sentado e pulou para o chão. Começou a se aproximar da mulher lentamente, alternando o taco entre uma mão e outra.
- É mesmo? Se você vai me processar por destruir sua humilde Lamborghini, por que você não aproveita e fala para eles que também invadiu minha casa? - Pacífica se afastava a medida que o homem se aproximava. Dipper era pequeno e magro mas naquele momento Mason se assemelhava a um psicopata. Suas expressões sarcásticas e debochadas como se estivesse rindo de alguma piada absurdamente engraçada na qual apenas ele achava graça. - Você invadiu o meu apartamento, mexeu nas minhas coisas, nas coisas do meu amigo e quando eu te coloquei para correr de lá na maior pacificidade possível, você voltou lá, destruiu meus equipamentos e ainda sequestrou meu gato!
Pacífica parou de andar ao se chocar bruscamente contra a parede imunda do estacionamento. Dipper continuou se aproximando até mesmo quando não havia mais nenhum espaço para preencher, a olhou de cima a baixo e fez uma careta, talvez de nojo ou de desgosto. Pacífica começou a suar frio.
- Vamos lá, sua puta, me processa e conta para eles sobre o que você anda aprontando, bora ver quem fica mais tempo na cadeia.
Três anos atrás
Dipper estava sentado em frente à enorme árvore de Natal completamente enfeitada na sala de estar de seu apartamento. Em suas coxas, superficialmente segurada pelo suporte metálico, estava um teclado. Dipper dedilhava as teclas pálidas com calma, tentando encontrar algum som novo. Vez ou outra se cansava e passava a tocar qualquer canção conhecida, como era o caso de agora em que tocava "Jingle Bells".
- Jingle bells, jingle bells, jingle all the way...
Desviou sua atenção das teclas do aparelho música para a porta, quando ouvir seu namorado cantar no ritmo da música que outrora tocava. Tyronne sorriu para ele, o jovem carregava diversas sacolas e caixas consigo, até pensou em oferecer ajuda mas desistiu no mesmo instante que notou que o homem dava conta de tudo sozinho.
Afinal, Tyller era tão forte...
Dipper se desfez do teclado em seu colo e o deixou de lado, sem se levantar, virou-se para o homem que se aproximava de si.
- Feliz Natal, amor. - Deu um selinho no namorado assim que este sentou-se junto a si no tapete felpudo.
- Oi... - Respondeu sorrindo, tomou as mãos de Dipper e beijou cada uma, iniciando um carinho fraco nelas.
- Onde você estava? A Mabel ligou, ela queria que fôssemos passar o Natal com a minha família.
Tyronne estalou a língua desviando o olhar, não gostava de tocar no assunto, mesmo que Dipper não notasse, a família deste claramente o odiava, com exceção de Mabel, é claro.
- Eu pensei em passar o Natal com você este ano, sabe, só nós... - Despositou um selar na bochecha do outro, saiu estalado, o que fez Dipper rir um pouco. Logo depois, mudou o caminho para o pescoço deste, dando um beijinho leve. Dipper arrepiou por inteiro.
Começaram a se beijar, Tyronne não era muito alto mas possuía alguns bons centímetros a mais que Dipper. Explorava todo o interior de sua boca, com movimentos ágeis e experientes, conhecia cada canto daquela boca como conhecia a palma da própria mão mas nunca perdia a oportunidade de fazê-lo outra vez. Dipper gemia baixinho quando vez ou outra Tyronne chupava ou mordiscava sua língua ou seus lábios, seus pelos se arrepiaram novamente ao sentir aos mãos do homem adentrar sua camiseta.
Foram interrompidos com o barulho de algo caindo, seguido por um som baixo como... um miado?
- Ty, o que? - Olhou para ele procurando alguma explicação.
- Bom... era para ser uma surpresa mas... - Se levantou indo até a pilha de caixas que trouxera, recolheu uma delas que agora estava no chão e voltou a se sentar próximo à Dipper. A caixa em questão possuía tamanho médio, o papel de presente era azul claro e possuía varios pontinhos em um azul mais escuro formando constelações, uma fita de cetim vermelha formava um laço no todo da caixa, ajudando o embrulho a permanecer fechado, além de alguns furos feitos a mãos por toda a superfície. Dipper o olhou curioso. - Abra.
Tomou a caixa em mãos, não arriscou sacudi-la pois já fazia uma ideia do que seria o presente. Desamarrou o laço calmamente e arrancou a tampa, quase perdeu o ar ao olhar o que tinha dentro.
- Ai meu Deus! Não acredito! - Colocou as mãos a frente da boca, seus olhos se marejaram.
- Gostou? - Tyronne sorria, Dipper conseguia ser extremamente adorável quando queria, até quando não queria. Era a encarnação da fofura em pessoa.
- Eu amei! - Pegou o pequeno bichano em mãos. Era um filhote de gato, possuía os pelos na coloração preto e branco, era pequeno mas bem peludo, o que o fazia parecer ser maior do que realmente era. Dipper notou uma coleira vermelha no pescoço do bichinho, nela havia uma plaqueta em branco, mas no verso do objeto estava gravado em letras cursivas não muito detalhadas: "Eu pertenço a Dipper Pines, o dono mais lindo do mundo". Um pouco abaixo da mensagem havia seu número de telefone. - Tyronne... - Soluçou, estava quase chorando de emoção. - Ele é tão fofo! - Abraçou o filhote não muito forte - Tão pequeno...
- Dê um nome para ele. - Tyronne o entregou uma caneta permanente preta, indicando para Dipper escrever no espaço em branco na plaqueta.
Pensaram por um tempo, deram sugestões, brincaram e resolveram alimentar o bichinho quando este comecara a miar. Dipper não desgrudou do filhote um segundo sequer, como se tivesse medo de ele desaparecer. Quase na hora de dormir, Dipper decidiu, por fim, qual nome daria ao filhote:
"Sr. Mistério."
[...]
Faziam cerca de três meses que Dipper e Tyronne haviam terminado e o moreno ainda não havia superado. Sua rotina era da faculdade para casa, e da porta de entrada direto para sua cama, para chorar, levantava apenas quando Mistério ia o perturbar exigindo comida, havia se tornado um gato muito exigente.
- Por que ele terminou comigo, hein, Mistério? Ele não me amava mais? - Abraçou os joelhos ameaçando voltar a chorar, mordeu um dos joelhos tentando fazer silêncio para que o bichano pudesse comer em paz. Estava sentado próximo à tijela de comida do gato, havia sido alertado pelo próprio da falta de comida em sua tigela. - Será que ele conheceu outra pessoa?
E então começou a chorar novamente, estava um caco, mal tinha forças para nada, não comia direito há semanas, saía de casa apenas quando era extremamente necessário - para comprar ração para Mistério, no caso -. O gato parou de comer, parecendo estar irritado com o dono, era tanto drama que nem o animal aguentava. Sentou-se de frente para o homem e começou a balançar o rabo de um lado para o outro calmamente, como se aguardasse o fim da cena.
- Ele só recolheu as coisas dele e foi embora sem mais nem menos, como se nossa relação não significasse nada para ele! - Então soltou um grito que fora abafado pelas próprias pernas - Eu achei que íamos nos casar, que íamos nos mudar para o Oregon e adotar algumas crianças, eu queria formar uma família com ele! Por que ele me deixou?! - Sua voz saía abafada pelos seus joelhos e embriagada pelo choro.
Dipper estava desidratando ali no chão daquela cozinha.
- E-eu não entendo, o que eu fiz de errado? - Levantou a cabeça para olhar o gato que começara se esfregar em seus pés - O que foi? Já terminou de comer? - Soluçou algumas vezes ao perguntar, suas lágrimas ainda deixavam seus olhos como uma cachoeira. Mistério pulou para o colo dele e se ajeitou, Dipper abraçou o gato e riu baixinho ao sentir o animal lamber-lhe o rosto. Beijou o topo da cabeça do bichano e tentou engolir o choro - Pelo menos você ainda está comigo.
3 anos depois
[5 dias atrás]
Dipper limpava o apartamento a contra-gosto enquanto xingava Norman mentalmente quando este nem ao menos levantou seu traseiro gordo do sofá para ajudá-lo. Não se atreveu a pedir ajuda, era orgulhoso demais para tal coisa, esperava apenas que o jovem universitário notasse que estava absolutamente incomodado em estar fazendo tudo sozinho e se levantasse para ajudá-lo na maior boa vontade. No entanto, Norman parecia não ter percebido, e se tivesse, o ignorara completamente.
Dipper bufou de raiva ao entrar na sala pela milésima fez por motivo nenhum, a improdutividade do colega de quarto o deixava irritado, muito, muito irritado.
- Você não tem nada para fazer hoje não? Pretende ficar o dia todo vendo essa merda na TV? - Se referiu ao programa que passava no canal aberto "How I Meet Your Mother", Dipper não suportava o programa, não passava apenas uma cópia barata e muito mal feita de Friends. Ver o amigo procrastinar a limpeza quinzenal do apartamento eu este NUNCA havia feito, o fazia querer expulsa-lo imediatamente.
Não acredito que dispensei aquele coreano fofo por esse traste!
- Na verdade... - Norman desligou a televisão e sentou no sofá, parecendo se recordar de algo - Eu tenho um trabalho para fazer hoje, na casa de um amigo. - Calçou suas botinas que estavam jogadas ao lado do sofá e se levantou. - Volto a noite, não me espere. - E então caminhou até a porta do apartamento, pisando bem onde Dipper havia acabado de passar pano e sem ao menos se importar.
Dipper soltou um grito de raiva, eram amigos sim, mas Norman era preguiçoso e desleixado demais para conviver com alguém tão pontual e certinho como ele, estava à beira de um colapso nervoso e a causa era justamente seu colega de quarto gótico.
Voltou a limpar, movido pela força do ódio enquanto amaldiçoava o moreno diversas vezes, nem percebeu quando a casa já estava completamente limpa e organizada num curto período de tempo.
Que mané força do amor o que, o que move as pessoas é a força do ódio.
Tirou seu avental e o dobrou, o guardando de baixo da pia juntamente com outros produtos de limpeza, nisso, pensava: deveria trancar a porta do apartamento e deixar Norman dormir na rua?
Certamente parecia ser um plano diabólico no qual nunca teria coragem de realizar alguns anos atrás, mas bem, Dipper não era mais o garotinho frágil e ingênuo de anos atrás. Aquele término acabou com ele? Acabou. O fez querer se matar? Fez. Mas isso foi bom, o fez abrir os olhos para algumas coisas, principalmente para algumas pessoas extremamente falsas com quem possuía contato na época, cortou contato com todas elas, isso o fez ficar um bom tempo sozinho mas lhe rendeu bons amigos de verdade, como Finn e Wirth, não os trocaria por nada nesse mundo.
Era vergonhoso admitir que seu primeiro término havia o deixado tão mal, mas havia sido como se seu mundo desabasse. Dipper deu tudo pelo relacionamento de ambos, namoravam desde o ensino médio, decidiram morar juntos assim que iniciaram a faculdade, raramente brigavam, eram super carinhosos um com o outro e mesmo assim Tyronne o deixou da noite para o dia. O que havia de fato acontecido?
Bufou ao perceber onde seus pensamentos o levaram, havia prometido para si mesmo que jamais voltaria a se remoer pelo passado.
Mistério pulou em cima da mesa quase caindo no processo, tomando sua atenção para si. Não era mais um filhotinho bonitinho e pequenino, havia se tornado um gatão, embora estivesse um pouco gordo demais, isso dificultava seus movimentos e quase caía quando insistia em subir em algum lugar alto. No entanto, isso apenas demostrava o quanto era um gato bem cuidado e mimado, Dipper o amava.
Sorriu para o gato e este não lhe deu atenção, apenas começou a lamber uma de suas patas e a passá-la na cabeça.
- Isso aí, Mistério, siga o meu exemplo exemplo e seja limpinho, diferente daquele trate.
Voltou a guardar os produtos de limpeza em baixo da pia, mas se distraiu quando ouviu o barulho da porta se abrindo.
"Que desgraçado! Ele disse que só ia voltar a noite!"
Parou imediatamente o que estava fazendo e caminhou até a sala o mais lentamente possível pensando na bronca que iria dar em Norman.
No entanto, não era Norman que havia entrado na casa mas conhecia a figura loira e um pouco alta que rodeava a sala como se aquela fosse sua residência.
Pacífica Northwest, não sabia muito sobre ela e havia falado com a mesma pouca vezes, no entanto, sabia que a loira possuía uma obsessão maluca por Norman.
Não se denunciou, permaneceu em silêncio observando a loiro mexer nos móveis da casa, então ela caminhou para o corredor, em direção aos quartos. Dipper a seguiu silenciosamente, não deixando que ela notasse sua presença. A moça primeiramente entrou em seu quarto, que ficava à esquerda, mexeu nos móveis, em seus pertences, abriu gavetas e o armário, não achando nada de interessante, deixou o cômodo e adentrou o quarto de direita, o quarto de Norman que um dia pertenceu a Tyronne. Pacífica repetiu os mesmos atos, abriu gavetas, mexeu nelas, abriu o guarda-roupa... pegou uma das camisetas jogadas no chão do quarto e a guardou em sua bolsa, então, abraçou um dos moletons usados e começou a rodar com ele pelo quarto, vez ou outra cheirando a peça.
Dipper quis rir e vomitar, sabia que Norman raramente lavava suas roupas, outro motivo para restringir o uso dos cestos de roupa, os cestos em geral eram de Dipper mas proibiu que Norman os usasse para evitar que as roupas se misturassem, presenteando-o com um pequeno cesto preto. Dipper nunca o viu usá-lo.
Adentrou o quarto calmamente e fez sua melhor cara de assustado.
- Mas que porra você está fazendo aqui?! - Pacífica parou imediatamente de rodopiar pelo quarto, ficando paralisada com a presença do moreno. - Como entrou aqui? A porta estava trancada! - Pacífica jogou a peça de roupa de volta onde esta estava antes, mas não produziu uma única palavra. - Vao ficar calada mesmo?! Sabe que invasão de propriedade é crime, não é? Você é nojenta, o Norman vai surtar!
Suas palavras pareceram ter efeito sobre a garota, esta se aproximou de si rapidamente sem expressão alguma em seu rosto, tentando parecer ameaçadora.
- Você não vai contar nada para ele. - Segurou o colarinho de sua blusa. Ela realmente achava que poderia intimida-lo?
Pobre Pacífica, para Dipper, seu veneno de cobra era suco.
- Ou o que? Huh? Vai me bater? Você é maluca garota! - A empurrou, quase fazendo-a se desequilibrar sobre os enormes saltos que usava. - Eu vou deixar passar porque eu estou de bom humor. - Sentiu seu gato se esfregar contra os seus tornozelos - Some logo daqui, mas que porra!
Pacífica rapidamente se dirigiu para a porta do apartamento, Dipper a seguiu, apenas para dar um toque final no diálogo:
- Se eu te ver aqui de novo eu chamo a polícia! - A mulher bateu a porta do apartamento, Dipper suspirou e riu, mal acreditava no que havia acontecido. - Gente, que doida!
[3 dias atrás]
Dipper havia passado a manhã toda fora, estava exausto de tanto trabalhar, queria apenas chegar em casa o mais rápido possível e se jogar em sua cama para hibernar pelas próximas 12 horas, porém, entretanto, todavia, assim que a porta do apartamento se abriu notou que havia algo errado.
1) a porta mal abriu, teve que forcá-la para dentro para conseguir entrar, o motivo? Objetos bloqueavam sua abertura. A casa estava completamente bagunçada, enfeites e decorações espalhados por toda a sala , até mesmo os móveis estavam fora do lugar.
Sabia que não teria sido Norman que bagunçara a casa daquele jeito, o garoto de 19 anos era impulsivo mas mesmo que não admitisse, no fundo tinha um pouquinho de medo de Dipper. Ele jamais brincaria com o perigo dessa forma.
2) Havia um cheiro estranho no ambiente, um perfume forte e doce, como se tivesse sido espirrado no cômodo propositalmente e sem motivo algum.
3) O silêncio na casa. Sabia que Norman não iria para casa, havia mandado uma mensagem avisando, iria passar o dia na casa de um amigo e voltaria apenas no dia seguinte, mas o outro morador da casa não havia se manifestado. Normalmente, Mistério faz um escândalo quando Dipper volta do trabalho, as vezes implorando por carinho, as vezes implorando por comida. Estranhamente seu querido gato não era do tipo que gostava de sair, uma vez Mistério fugiu do apartamento, se aventurou bastante fora de casa, -Dipper quase teve um colapso, ate mesmo espalhou cartazes de desaparecido por todo o predio - ficou fora por três dias e depois voltou como se anda tivesse acontecido. Depois disso Mistério nunca mais tentou sair do apartamento para um local que não fosse a sacada. Por esse motivo, Dipper se desesperou ao não encontrá-lo em lugar algum, até mesmo perguntou a alguns dos moradores se eles o haviam visto, recebendo uma resposta negativa de todos eles. Exceto de duas crianças que brincavam na escada.
"- Eu vi uma moça loira indo embora com ele."
Dipper teve um surto, quebrou alguns pratos e nem se importou em limpá-los depois, queria apenas saber de duas coisas:
Seu gato e vingança.
[Cerca de 2 horas atrás]
Dipper passou dois dias tentando encontrar Pacífica, não foi difícil já que a loira era bem burra, nem tentou ser discreta ou esconder seu rosto, já chegou invadindo seu apartamento, quebrando suas coisas e sequestrando seu gato. Ah, sim, quebrou.
Dipper era um Astrofísico, trabalho relacionado com o estudo do universo através de leis e teorias. Isso exigia alguns equipamentos especiais, por isso tinha um telescópio na sacada e alguns computadores espalhados pela sala. Seis deles estavam completamente destruídos, o sexto era de Norman. Normalmente passava bastante tempo fora de casa devido ao seu amor pelo que fazia, no entanto, seu local trabalho não era um lugar com regras rígidas que forçava os funcionários à trabalharem mais do que deveriam, não. Seu chefe, Stanford, era um cientista gentil e humilde, inclusive não questionou quando o jovem disse que precisava de uma folga de uma semana, na verdade, aceitou de bom grado. Dipper era alguém muito focado no que fazia e sabia que este precisava de um descanso.
Entretanto, a folga não havia sido exatamente para descansar.
Passou um tempo pensando no que faria, mandou algumas mensagens para Pacífica pedindo calmamente que ela devolvesse seu gato, mas esta ignorou e o bloqueou. Dipper não queria usar a violência - na verdade queria sim -, mas foi obrigado. Desistiu de tentar usar o diálogo, as vezes as coisas apenas se resolvem se você ser um socão na boca do problema.
Foi até uma loja de artigos esportivos e comprou o taco de baseball mais resistente que achou, estava cagando para o preço ou para a consequência de seus atos, estava surtando por não ter Mistério por perto, nunca havia ficado tanto tempo assim longe do bichano. Que maldades Pacífica estaria fazendo com seu tão adorado gatinho?
Observou Pacífica por um tempo, ela ia para a faculdade durante a manhã e a tarde trabalhava num emprego de meio período. Horário perfeito para sua vingança.
Primeiro, pichou a lataria do carro da loira, era um modelo caro mas felizmente não era blindado, fez alguns desenhos, escreveu todos os palavrões que conhecia por todo o automóvel, jogou removedor de tinta, e em seguida resolveu testar sua força. Começou com os faróis, depois começou a acertar o para brisa diversas vezes, depois de cinco golpes finalmente conseguiu quebrá-lo por completo. Depois passou para a lataria, arrancou as alavancas, amassou-o até ficar satisfeito com o resultado final. Por sorte, era um estacionamento coberto, não houve muito movimento no local durante o ato, pôde realiza-lo com privacidade.
Demorou cerca de meia hora para transformar o veículo na arte abstrata que mais possuía orgulho. Seus membros doíam, estava ofegante e cansado, por isso se sentou em cima do veículo destruído, estava orgulhoso de seu trabalho.
[Atualmente]
Dipper estava algemado, sentado pacificamente na cadeira oferecida para si na delegacia, não estava muito movimentado, a maioria dos presentes eram policiais e graças à situação cômica em que se envontravam, toda a delegacia parou para assistir.
- Tudo bem... - O policial loiro que se encarregou de atender o chamado da loira - aos gritos da mesma - se encontrava levemente distraído da situação, até mesmo se esforçou para não rir ao ouvir a versão dos dois sobre o que havia ocorrido. - Você está dizendo que destruiu um carro com o valor de 100 mil dólares apenas porque ela, supostamente, raptou o seu gato chamado Mistério. Correto?
- Correto. - Dipper respondeu rapidamente, Pacífica não disse nada.
- Tudo bem. - Organizou alguns papeis em sua mesa - Teremos que prender o senhor.
- O QUE?! - Se exaltou, Pacífica quase riu mas tentou manter a pose de vítima.
- Senhor, não tem justificativa, você destruiu um carro apenas porque o seu gato desapareceu, e se ele apenas tiver fugido?
- É, você é histérico, deveria procurar tratamento. - A loira debochou procurando deixá-lo ainda mais irritado.
- Com todo respeito senhor policial, VOCÊ ESTÁ COM BOSTA NO OUVIDO??? Eu acabei de dizer que ela invadiu o meu apartamento! Você apenas vai enfiar essa informação no cú?! Desde quando invasão de domicílio deixou de ser crime?!
Alguns policiais riram do surto que o garoto teve, no entanto, o policial loiro permaneceu estranhamente calmo.
- O senhor tem alguma prova de que ela invadiu o seu apartamento?
- Na verdade eu tenho sim. - Pacífica ficou inquieta com a afirmação - Ela escreveu no espelho do meu quarto "É isso o que acontece quando se mexe comigo", com um batom vermelho paixão muito parecido com o que ela está usando agora. Coincidência?
- Ah, claro, porque eu sou a única pessoa no mundo que usa batom dessa cor, não é? - Perguntou irônica.
- Não, mas é a única vaca que usa. - Mais risadas vindo dos policiais. Dipper bateu as mãos na mesa, se levantando da cadeira - Isso não é justo! Por que só eu estou alguemado?!
- Foi um pedido da senhorita Northwest, ela disse que você queria agredi-la.
- Se eu quisesse fazer isso eu teria feito no estacionamento com o taco de baseball que eu usei para quebrar o carro dela, que aí já matava de uma vez. - E novamente os policiais riram, dessa vez um policial com o cabelo azul desbotado.
- Claro... - O policial anotou algo numa prancheta - Me responda senhor...
- Dipper Pines. - Completou indiferente.
- Dipper? - O loiro pareceu se lembrar de algo mas logo se recompôs - Me diga, senhor Pines, por acaso o senhor sofre de algum desequilíbrio psicológico? - Pacífica riu mais uma vez.
- O quê? Mas é claro que não! Por que está perguntando isso?
- É que...
- Eu pareço louco para você? Essa piranha invadiu meu apartamento, mexeu nas minhas coisas e nas coisas do meu amigo, eu ia deixar passar mas só porque eu contei para o meu colega de quarto que essa... STALKER DO CARALHO ENTROU LÁ, ela entrou lá de novo e revirou tudo, quebrou tudo e sequestrou o meu gato! Quem é que louco agora?!
- Você quebrou o meu carro! - Se exaltou, tentando permanecer a razão.
- VOCÊ QUEBROU SEIS COMPUTADORES MEU, SUA PIRANHA!! - Se levantou novamente, começando a andar em círculos pelo espaço livre no local - E nem eram computadores normais, eram computadores especiais, fornecidos por funcionários da NASA para a minha empresa que eu usava para trabalhar! QUAL É A SUA DESCULPA AGORA, HEIN? SUA FILHA DA PUTA DO CARALHO?!
Pacífica permaneceu em silêncio assim como todos ali presentes, estava se remoendo de raiva por dentro, queria se jogar no garoto e arrancar os olhos dele com as unhas, poderia fazê-lo mas isso apenas aumentaria suas chances de perder o caso e ser presa, por isso permaneceu quieta.
- Oficial Cipher? - Um policial albino entrou no local acompanhado de outros dois oficiais que por suas aparências mais pareciam bandidos. O loiro que se encarregava do caso teve sua atenção roubada por esse - Nós vasculhamos o apartamento da Northwest e... - Dipper ficou ansioso pelo término da frase, parecia que o homem havia feito isso somente para deixá-lo ainda mais ansioso. - Encontramos o gato.
Dipper soltou todo o ar que segurou durante essa pausa dramática e levou as mãos para cima.
- Graças a Deus!
O mesmo homem de cabelo azul que sofreu uma crise de riso anteriormente levou o gato preto e branco gordinho enrolado num embrulho de alumínio até a mesa em que estavam, Dipper mal pôde esperar para acariciar o bichinho.
- Ele está mentindo! Esse gato é meu!
- Ah, é mesmo? - Dessa vez foi a vez de Dipper sorrir debochado, ele tinha uma carta na mangá, ou melhor, no gato. - Será que é isso que está escrito na coleira dele? - Pacífica gelou na hora. Droga. Sem tirar o sorriso travesso do rosto e os olhos da loira, continuou: - Senhor policial, se importa de ler o que está escrito no verso da plaqueta?
- Ah... - O policial se aproximou do gato, virando a plaqueta na coleira do animal.
- E então? O que está escrito, senhor?
O homem respirou fundo antes de ler a frase em voz alta:
- "Eu pertenço a Dipper Pines, o dono mais lindo do mundo." - E novamente os policiais riram, o loiro ficou um pouco envergonhado com tal frase.
Dipper levou as mãos algemadas ao peito, fez sua melhor e mais debochada expressão surpresa em puro escárnio.
- Meu Deus, Pacífica! Desde quando o seu nome é Dipper?
O oficial novamente anotou algo na prancheta parecendo apreensivo.
- Bom, e com isso podemos fechar o caso... - Foi interrompido por uma tosse forçada vindo do policial albino - Gideon? Tem algo a dizer?
- Sim, na verdade... o gato não foi a única coisa que encontramos no apartamento dela. - Pegou um embrulho nas mãos de um dos policiais que o acompanhavam - Encontramos também uma carteira, - Depositou o objeto na mesa - Um celular... - Colocou o aparelho próximo ao outro, ambos muito familiares para Dipper.
- Meu celular... minha carteira! Mas que caralho, Pacífica! - Tomou os objeto da mesa.
- E também encontramos essa camiseta masculina. - Colocou o item próximo aos outros dois objetos. Dipper fez uma cara de nojo e o afastou com um lápis.
- Ew, isso não é meu não, é do meu colega de quarto, que nojo.
- Bom... - Escreveu mais alguma coisa na prancheta e a deixou de lado. - Acho que com isso nós podemos encerrar o caso, certo? - Fez uma pausa esperando alguma interrupção mas nada veio - Certo. - Pegou a prancheta novamente a virando para Dipper. - Por favor assine aqui. - Dipper assinou, mesmo estando algemado. - E você, assine aqui. - Pegou uma folha de baixo da mesa e entregou para Pacífica. Ela obedeceu. - Bom... - Arrumou uma pilha de papéis em cima da mesa - Dipper Pines receberá uma advertência por vandalismo e a senhorita Northwest, - Olhou para a loira com desdém, logo retirando as algemas do pulso de Dipper e as usando em Pacífica. - A senhorita será presa.
- O quê?! Por quê?! - Tentou impedir que o Cipher a algemasse mas outros dois policiais a seguraram.
- Hum, deixe-me ver... - Pegou a prancheta em mãos novamente - Pelos crimes de: Invasão a domicílio, assédio, vandalismo, furto e maltrato aos animais. Além disse terá que pagar indenização aos Pines, sei que não terá problemas com isso já que a família Northwest é muito famosa e rica, não é?
- Mas ele destruiu o meu carro!
- Bom, aparentemente ele teve um motivo para fazê-lo. - Piscou para Dipper discretamente, esta ficou surpreso e envergonhado - E sobre essa questão , tenho certeza de que o seu seguro irá reparar todos os danos, estou certo? - Antes que a loira respondesse algo ele a interrompeu - Ótimo! Caso encerrado, senhor Pines, está livre para ir. Todos voltem ao trabalho!
Dipper pegou Mistério no colo e o abraçou, o animal miou e lambeu seu rosto. Pacífica foi lavada e vários policiais começaram a aplaudi-lo o parabenizando pela vitória, coisa que o deixou envergonhado mas agradeceu mesmo assim.
Com o gato em mãos, saiu da delegacia calmamente, ja estava anoitecendo e o céu estava laranja. Mistério ainda estava embrulhado na capa te alumínio, estava parecendo um sanduíche de viagem. Se surpreendeu quando ouviu uma buzina. Se virou, procurando a fonte. Notou um carro preto próximo a ele.
O vidro do carro se abaixou, ficando extremamente surpreso com o quem estava dentro.
- Precisa de uma carona? - O loiro sorriu para ele, um sorriso lindo e perfeito, o que fez seu coração errar uma batida.
- Na verdade eu... - Pensou em inventar alguma desculpa, mas olhou para Mistério quieto em seu colo, depois olhou para a rua em que deveria seguir e olhou para Mistério novamente, o ajeitando. Seu prédio era longe e o gatinho era pesado. Por que não? - Quero sim. - Restribuiu o sorriso, entrando no carro.
O caminho foi silencioso, estranhamente silencioso, falaram apenas quando necessário para Dipper dar instruções de onde era morava. Nenhum dos dois se atreveu a quebrá-lo embora soubessem que ambos estavam incomodados pela falta de diálogo. Não sabiam como iniciar uma conversa e nem sobre o que conversarem, por isso preferiram manter o silêncio, mesmo que este fosse desconcertante.
Mistério dormia no colo de Dipper, e ele acariciava sua cabeça vez ou outra.
O Cipher estacionou o carro em frente ao prédio alto que o Pines morava, mas antes que pudessa agradecer e deixar o carro, o loiro o interrompeu.
- Na verdade, tem uma coisa que eu queria falar com você. - Dipper o olhou confuso, ficando curioso. Ele suspirou, continuando: - Meu nome é Bill Cipher, você pode não se lembrar mas nós estudamos juntos no passado. - Dipper ficou supreso, não se lembrava do loiro.
- B-Bill Cipher? Wow...
- Então você se lembra de mim? - Ficou um pouco surpreso e até um pouco feliz.
- Não, na verdade eu não faço ideia de quem você é mas fico feliz que tenha me reconhecido. - Coçou a cabeça um pouco envergonhado - Sinto muito...
- Não! Está tudo bem, não me surpreende que você não se lembre, faz muito tempo e eu também não tenho nenhuma característica marcante, então... - Olhou para o outro lado, completamente sem jeito - Você namorava o Tyronne naquela época.
- Ah, é... - Fechou a cara repentinamente, não gostava de falar sobre. - Nós terminamos faz uns 3 anos.
Bill ficou surpreso.
- Wow, então vocês namoraram por tanto tempo assim? Por que terminaram?
- Eu não sei. - Suspirou - Estávamos bem mas aí... - Abraçou Mistério, o acordando - Um dia ele... disse que queria terminar e foi embora. Eu nunca mais o vi. - Bill se sentiu culpado por fazê-lo lembrar.
- Eu sinto muito, eu não sabia...
- Está tudo bem. - Suspirou novamente - Na verdade, foi traumático, eu não conseguia entender o que havia feito de errado e quase entrei numa depressão por causa disso. Eu também fiz muita merda graças a isso, mas não me arrependo.
- Entendo. - O silêncio voltou novamente, mas dessa vez não era desconfortável, ambos se perderam nos próprios pensamentos. Bill coçou a cabeça sem jeito, chamando a atenção de Dipper - É um pouco estranho te encontrar depois de tanto tempo até porque, no colegial, - Abaixou a cabeça, encarando as próprias pernas - eu tinha uma quedinha por você.
- O que?! - Dipper praticamente gritou, Bill ficou ainda mais sem jeito do que já estava.
- Eu era amigo do Tyronne então eu achei melhor guardar para mim, não queria estragar nada. - Então, riu de si mesmo - Mas já faz muito tempo, está no passado.
- Ah, sim... - Mistério começou a miar para Dipper, então se lembrou da situação que se encontrava. - Ah, droga, ele deve estar com fome. - Olhou para Bill sem saber o que dizer. - Então... obrigado pela carona, Bill.
Bill sorriu.
- De nada. - Dipper abriu a porta do carro, num impuso, Bill segurou seu braço antes que pudesse deixar o carro. - Você... gostaria de sair? Sabe, para um bar ou coisa assim?
Dipper o achou extremamente fofo mas não soube o que responder, tinha certeza de que o convite seria para aquela mesma noite mas tinha um gato ali que precisava ser alimentado. Olhou para Mistério, depois para o prédio e em seguida voltou a olhar Bill, sorrindo.
- Gostaria de entrar?
Bill sorriu novamente, dessa vez, seus olhos foram apertados por suas bochechas, virando dois risquinhos adoráveis, sua covinhas também se tornaram visíveis o deixando ainda mais bonito. Algo dentro de Dipper se agitou.
- Mas é claro.
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