Incentivado por Creuza, Stenio resolveu fazer uma visitinha surpresa para Helô, que tinha voltado mais cedo do trabalho. Como sempre, mal a porta abriu e ele foi entrando sem esperar convite. Trouxe bombons, que ofereceu a ela como desculpa para se aproximar fisicamente. Mas, parece que aquele não era um bom dia para fazer gracinhas. Não demorou pra que Heloisa se irritasse com a situação.
– Stenio, presta atenção, presta atenção no que eu vou te falar. – A delegada se desvencilha do ex-marido, mas continua o encarando profundamente. – Já é a terceira vez essa semana que você aparece na minha casa de repente, sem avisar, tentando se aproximar de mim que eu tô percebendo...
Stenio sinaliza negativamente com a cabeça e balbucia que aquilo é uma bobagem, mas Helô não permite que ele sequer comece a argumentar.
– Olha aqui! Eu e você, nós dois, NÃO vai acontecer de novo. Eu não quero mais você na minha casa, na minha delegacia, eu NÃO quero mais você na minha vida, Stenio. Foi por isso que assim que nós assinamos o divórcio eu quis sair do Brasil, foi por isso que eu cortei totalmente o contato, porque eu precisava seguir o meu caminho sem você. Eu não imaginava que quando eu voltasse, mesmo depois de tanto tempo, que você ia continuar com essa mesma palhaçada, com esse seu vício de tentar atrapalhar a minha vida profissional só pra chamar minha atenção.
– Eu? Atrapalhando sua vida profissional? Helô, quando foi que eu fiz alguma coisa pra atrapalhar a sua carreira, me diz, me diz?
– Quando você solta os bandidos que eu investiguei durantes ME-SES, você acha o que? Você acha que tá me ajudando, Stenio?
– Nós já conversamos sobre isso, eu sou advogado, Helô, eu só faço o meu trab...
– É verdade. NÓS JÁ conversamos sobre isso inúmeras vezes, NÃO PRECISAMOS conversar mais. Chega, Stenio! Eu não quero mais isso. Eu cansei e não foi hoje, não foi agora, foi 3 anos atrás quando eu pedi o divórcio. Eu quero seguir minha vida em paz, entendeu? E a verdade é que eu não tenho paz quando você tá por perto. Promete que não vem mais na minha casa, que não vai mais me procurar, promete, por favor, Stenio. – Ela diz um pouco nervosa e vira de costas, evitando contato visual.
Stenio está imóvel. Nem mesmo quando os dois se separaram, Helô havia sido tão enfática quanto ao afastamento dos dois.
– Eu só te procurei porque eu senti tua falta, Helô. Eu senti falta de tá com você, de conversar com você, de tomar um vinho enquanto você contava os causos daquela delegacia. Eu sinto falta de tanta coisa... até das nossas brigas, sabia? Eu sinto falta de quem eu sou quando eu tô com você.
Helô, que a esse ponto já estava segurando as lágrimas, continuava de costas pra Stenio. Ela sabia que não podia olhar pra ele, senão voltaria atrás no que disse.
– Você não sentiu minha falta, Helô? Nem um pouco?
– Não! NÃO SENTI, NÃO.
Ela cria coragem e finalmente volta a encará-lo.
– E eu espero que de uma vez por todas você me entenda. Eu não posso e não quero ter que sair do Brasil pra ficar longe de você. Esquece que eu tô no Rio de Janeiro e segue a sua vida, Stenio.
Stenio já não sabe o que dizer. O choque de realidade que recebeu foi demais até pra ele, que encarava a ex-mulher incrédulo e triste.
– Estamos conversados?
– Estamos... estamos mais do que conversados, Helô. Mesmo que não pareça, eu nunca quis atrapalhar a sua vida. Pelo contrário, eu sempre torci e muito pela sua felicidade, mesmo separados. E se pra ser feliz você precisa ficar longe de mim, eu não te procuro mais.
Ele andou devagar em direção a porta, como se enfraquecido pelas palavras da mulher que, mesmo não admitindo, ele ainda amava. Chegou a girar a maçaneta, mas antes de sair resolveu olhar pra ela uma última vez.
– Mas, oh... se precisar de mim, cê sabe onde me encontrar.
Helô esperou a porta fechar pra botar pra fora o que ela estava sentindo. Finalmente ela podia demonstrar sua fraqueza, toda tristeza que sentia por ter dito tudo o que disse, finalmente ela podia chorar.
Stenio ficou muito magoado e talvez por isso, pela primeira vez ele se via convencido de que não existia mais nenhuma rota em comum com Helô. Ela estava certa. O melhor pros dois era se afastar de vez. Naquela noite ele bebeu até dormir e só acordou com o celular tocando no dia seguinte. Era Leonor, que o convidou para jantar com ela. Dias atrás ele inventaria alguma desculpa. Mas, hoje não.
– Claro, Leonor. Nos vemos mais tarde.
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