História Diálogos Steloisa - Antes do tal jantar, um desabafo

Quase fim de expediente. Laís vai até a sala de Stenio entregar uns documentos antes de ir embora e percebe que ele está um pouco cabisbaixo. Diferente do habitual.

– O que foi, Stenio? Não era hoje que cê me falou que não iria ficar até mais tarde porque tinha um jantar com a Leonooor? Tô te achando muito pra baixo pra quem tem um encontro. – Ela ri.

Stenio devolve um sorriso amarelo.

– Não tô nos meus melhores dias, só isso. Pensando ainda se eu num desmarco esse jantar.

– Ah não, Stenio. Você precisa se animar. Você não acha que tá na hora de recomeçar? Encontrar alguém pra dividir a vida... os problemas?

– Você fala isso como se eu não tivesse tentado, Laís. Eu tentei muitas vezes, já tive várias namoradas, acho até que cheguei a me apaixonar uma vez, mas eu nunca consegui ter com ninguém a conexão que eu tenho com a Helô.

– Ih... esse seu desânimo tem a ver com ela, então? Com a Helô?

– É que eu tive com a Helô esses dias, sabe? E aí eu percebi que esse nosso afastamento só serviu pra me mostrar que a gente pode passar meses, anos sem se ver, mas quando a gente se encontra é como se o tempo não tivesse passado. É como se eu ainda tivesse diante da minha namorada. Laís, a Helô pode não ser mais a minha mulher, mas ela é a mulher da minha vida. Sempre vai ser.

Laís se comove com o que ouviu. Mesmo após anos de sociedade, ela não lembrava de tê-lo visto assim, tão vulnerável.

– Mas, e a Helô, Stênio? Você acha que ela sente o mesmo?

Stênio respira fundo, olha pros lados, como se tentando encontrar uma resposta.

– Sabe que as vezes eu penso que sim? Principalmente quando a gente tá junto, próximo de verdade. Mas, aí eu lembro que foi ela quem quis se separar de mim duas vezes e sei lá, talvez ela não gostasse de mim tanto quanto eu gostava dela. Porque eu seria capaz de relevar todos os defeitos dela. Sim porque a Helô não é perfeita como tanta gente acha... Eu relevaria todas as nossas brigas, eu teria feito de tudo pra gente continuar junto. Já ela... Na primeira oportunidade já tava me botando pra fora de casa e da vida dela.

Laís dar um ar de riso.

– Mas, você aprontou com ela que eu sei...

– No nosso primeiro casamento, sim. Eu fiz besteira, eu confesso. Mas, eu era um garoto inconsequente. Eu achava que precisava aproveitar mais a vida, porque eu e Helô a gente casou muito cedo, sabe? Mas, quando a gente resolveu tentar de novo, não! Eu só tinha olhos pra ela.

– E por que se separaram então?

– Ah, a Helô é muito correta pra tudo, você sabe. Já eu não acho que a vida tem que ser assim, tudo preto no branco, não.  Eu gosto de gente, eu gosto de acreditar nas pessoas. A Helô desconfia de quase todo mundo, tá sempre com os dois pés atrás. E se alguém do nosso círculo social dava um vacilo, por menor que fosse, ela não queria nem conversa. Acabava amizade. Acabava a confiança. Ela não é nem um pouco maleável com nada nem ninguém.

Laís ri.

– Já você... é maleável demais. Stenio, discordar do cardápio da semana, do tamanho da TV da sala, de onde vão passar o ano novo, isso dá pra levar numa relação. Agora, quando tem conflitos éticos no meio, aí é mais complicado. Eu entendo a Helô e eu entendo você também. É por isso que eu acho que você tem que ir nesse jantar sim, se permitir conhecer outras pessoas, viver outras histórias. Uma hora dá certo. Mas, agora eu tenho que ir que fiquei de pegar a filhota na casa de uma amiga. Tchau! E, oh! Pensa no que eu te falei.

– Tchau, té amanhã!

Stenio fica pensativo. Ele sabe que Laís está certa, mas também sabe que no fundo a única com quem ele queria dar certo, a mulher com quem ele mais queria jantar essa noite era sua ex.