Diante da chega do ex-marido, Helô não pôde deixar de apresenta-lo à Brisa.
– Dr. Stenio Alencar... Então é o senhor o advogado de Oto? Que orientou ele a jogar a culpa toda pra cima de mim quando a gente foi preso junto? – Questiona Brisa, indignada.
Stenio ficou um pouco desconcertado. Por essa ele não esperava. Helô apenas observava a conversa sem muita curiosidade, pois sabia exatamente os argumentos que o ex-marido iria usar. Enquanto Creusa, cabisbaixa, não escondia a decepção com o ex-patrão, a quem ela tanto admirava.
– Sou o advogado dele e justamente por isso naquela ocasião eu o orientei da melhor maneira, pra que ele pudesse ser liberado o mais rápido possível. É o meu trabalho, Brisa. Como advogado eu preciso fazer tudo que estiver ao meu alcance...
– Inclusive prejudicar uma pessoa inocente?
– Pera aí, eu não te conhecia. O Oto também não te conhecia direito. Tudo que ele me disse foi que você invadiu o carro dele, praticamente ameaçou denunciar que ele tava envolvido com tráfico de drogas só pra que ele aceitasse te trazer pro Rio. Diante dessas informações, eu não tinha como saber se você era tão inocente assim...
Brisa fica ainda mais indignada com o que escuta do advogado.
– Mas, o senhor sabia que arma não era minha. Era de Oto. O senhor sabia que o carro não fui eu que aluguei, foi Oto. E sabia também que não tinha ninguém naquele carro além de nós dois. Isso não era suficiente pra pensar numa maneira de salvar seu cliente sem jogar tudo nas minhas costas?
– É, eu admito que... – Stênio ensaiou uma justificativa.
– O senhor não pensou em mim em nenhum momento e sabe por quê? Porque o doutor não se importa. Que diferença ia fazer na sua vida uma mulher desconhecida, pobre, preta, nordestina encarcerada por 1 mês ou 1 ano que fosse? Uma a mais uma menos, né mesmo? Que diferença ia fazer?
Stenio ficou completamente atônito diante da firmeza daquela mulher.
– Brisa... eu não sei nem o que dizer. Foi um mal entendido, eu... eu só posso pedir desculpas.
– Foi nenhum mal entendido não, pelo contrário. O doutor entendia muito bem o que tava fazendo, sabia que eu ia sair prejudicada e mesmo assim seguiu adiante. A madrinha sempre falou tão bem do senhor... eu não imaginava que era esse tipo de gente, não.
– Calma, Brisa, minha filha. O Dotostenio sempre foi uma pessoa muito boa pra mim.
Stenio sorri em agradecimento à Creusa, mas, ela continua.
– Tanto que tá muito difícil pra mim acreditar que ele foi capaz de fazer uma maldade dessas com você, minha filha. – Diz a empregada, visivelmente abalada com aquela situação.
– Creusa? Creusa não fica assim, olha, eu vou explicar tudo pra você e pra Brisa.
– Não quero ouvir explicação nenhuma mais não. Vou indo, viu madrinha. E me desculpa estragar o jantar, mas pra mim não dá pra continuar aqui. Eu te ligo pra gente combinar de se ver em outro lugar, tá? – Diz Brisa, enquanto caminha em direção à porta.
Stenio começava a sentir o peso da culpa e já não aguentava ver o quanto Creusa, que pra ele sempre foi uma grande amiga antes de ser funcionária, parecia decepcionada.
– Creusa, Creusa... Você me entende, né? Eu não fiz por mal. Se eu soubesse que a Brisa era uma familiar sua eu nunca, jamais faria qualquer coisa que pudesse prejudicar ela de alguma forma.
– Dr. Stenio, o senhor me desculpe, viu? Mas, dessa vez, nem eu tenho como te defender. Eu tô é muito desapontada com isso tudo. Vou lá pra dentro.
– Helô me ajuda, Helô.
A delegada, que até então não tinha dito uma só palavra, começava a, mais uma vez, perder a paciência com o ex.
– OI? Você quer o quê? Que eu convença a Creusa de que o que você fez foi absolutamente normal? Que é comum prejudicar um inocente só pro cliente se safar? Que qualquer advogado na sua situação faria o mesmo, é isso?
– Qualquer bom advogado na minha situação faria o mesmo, Helô. Você sabe disso.
– Stenio, o que eu sei é que nós já conversamos sobre isso tantas vezes... Desde que a gente namorava, lembra? A gente já discutia por causa desses seus comportamentos. Mas, você nunca me ouvia, só fingia que me ouvia, né? Pra encerrar o assunto. Acontece que eu não tenho mais paciência nem interesse em colocar o que quer que seja na sua cabeça. Se nem depois de ter escutado tudo que você escutou aqui da Brisa, se mesmo depois de saber que prejudicou uma pessoa próxima a alguém tão querida como a Creusa, se mesmo assim você ainda não entendeu, Stenio... É porque nunca vai entender. Você nunca vai mudar e eu já aceitei isso há muito tempo. Agora a Creusa, tadinha... pra ela foi uma decepção. Talvez agora ela entenda de uma vez por todas porque eu não consegui continuar casada com você.
Helô não era boba. Sabia exatamente em que pontos tocar pra que Stenio, sempre tão insistente, desistisse de continuar uma conversa.
– Helô, você tá sendo muito dura comigo. Você sabe que se eu soubesse que essa menina tinha alguma ligação com a Creusa...
– Ah, mas você não se toca mesmo, heim? Sai daqui. Some, desaparece! Não tem mais conversa. E NÃO ME MANDE FLORES, ouviu bem? Não manda, não, porque dessa vez nem a Creusa vai querer guardar, meu filho.
Stenio saiu do apartamento abatido, triste e realmente tocado com tudo que ouviu ali. Ele estava se sentindo péssimo com aquela situação e extremamente sozinho, sem ninguém que o apoiasse ou pelo menos escutasse o que ele tinha a dizer. Helô não deixava transparecer, mas também estava triste. Em sua cabeça, voltava a martelar uma pergunta constante: como ela pôde se apaixonar e se casar duas vezes com alguém tão diferente dela?
No dia seguinte a campainha tocou e Creusa se deparou com um arranjo diferente das orquídeas que Stenio costumava enviar para a ex-mulher. Do quarto, Helô gritava que não precisava nem ver pra saber do que se tratava e a empregada podia jogar as flores direto no lixo. Mas, Creusa percebeu que no cartão estava escrito o seu nome, não o da patroa. Surpresa e curiosa, não hesitou em abrir para ler:
“Creusa,
Poucas vezes na vida fiquei tão triste por decepcionar alguém como fiquei por ter decepcionado você. Sei que essas flores não vão mudar o que você está sentindo em relação a mim, mas me conforta saber que elas vão enfeitar o seu dia.
Meu sincero pedido de desculpas,
Stenio.”
Helô observava a cena de longe. Por mais que aquilo não mudasse em nada sua opinião, ela não pôde deixar de esboçar um sorriso ao pensar que Stenio ainda era capaz de surpreender.
– Olha, Donelô, as flores que eu ganhei. – Disse Creusa, que não escondia a felicidade.
– Tô vendo Creusa, tô vendo.
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