⁂
Quando Kriss entrou naquela casa pela manhã America quis esfolá-la viva. Porém, a morena não veio para rir ou se vangloriar. Não fizera o mínimo empenho em mascarar o estrago que a doença fizera com ela com maquiagem como fez durante a fatídica festa. Eassim que retirou a peruca que estava usando America se compadeceu dela.
— 50% de chance, foi tudo que os médicos me deram. — Ela falou desenganada. — Eu quero reparar os meus erros enquanto ainda posso. Quero que me perdoe.
Ela completou.
Dissera também que nada tinha a ver no que se refere as fotos, que realmente jogou sujo algumas vezes, mas nunca tão sujo. Que fez coisas reprováveis por estar apaixonada e que ver Maxon com America a enchia de inveja, mas que agora isso para ela de nada importava.
Pois se sentia mal consigo mesma por ter feito aquilo e que já que não poderia se responsabilizar pelos danos que os outros fizeram à America iria se responsabilizar pelo que ela fez. Ofereceu à America tudo o que ela mais queria no momento. Sumir daquela cidade, melhor ainda, daquele país.
Kriss foi buscar tratamento nos Estados Unidos e levou America consigo. Por meses a moça ficara com um pé atrás, imaginando que armação viria a seguir, mas nada veio.
O que viu foi uma garota também destruída, não da mesma forma que ela, mas também arrasada. O pai de Kriss pouco ficava em casa, revoltada com isso a própria Kriss alugou um apartamento e foi morar só com America. As duas haviam descoberto algo que as unia. Ambas estavam grávidas, ambas tinham terminado seus relacionamentos e nenhuma nem outra queria ouvir falar ou muito menos ver os pais de suas crianças.
⁂
Seis meses haviam se passado, America estava em outro país e a única pessoa com a qual mantinha contato na Inglaterra era com Aspen, pois ele fora o único a lhe estender a mão.
Ela cuidava da casa e de Kriss, e, embora continuasse devastada por dentro, de alguma forma aquela gravidez lhe dava forças. Sabia que não estava mais sozinha, que logo ela seria o mundo de uma pessoinha que já habitava os seus sonhos.
Porém, mesmo que aquela criança que estava para nascer fosse um vínculo eterno com Maxon, ela optou por sequer contar, não queria ouvir mais nenhuma ofensa, não queria sequer ouvir a voz dele, criaria sua filha sozinha.
— Você já escolheu um nome para ela?
Kriss perguntou se sentando no sofá. Se já estava mal antes da gravidez, agora mesmo é que estava péssima, o desejo de ao menos conhecer sua criança era a única coisa que ainda lhe dava algum ânimo.
— Estou em dúvida entre Helena, Margarete ou Eadlyn.
Confessou America acariciando a barriga.
— Ponha os três. Até que combinam. Já pensou? Eadlyn Helena Margarete. Parece nome de princesa.
Sugeriu Kriss dando um sorriso. Usava um turbante por não conseguir superar a perda dos cabelos. Havia parado de usar a peruca por alegar que aquilo era apenas uma ilusão e que ela não era mais obrigada a agradar ninguém, só tinha que ser forte por sua filha, só tinha que aguentar até a hora de ela nascer. Trazia em seu rosto apenas um pouco de base e pó. Não era mais nem a sombra da bela moça que fora um dia.
— E você? Já escolheu o da sua?
Perguntou America. Ela também não era mais a mesma, nunca mais seria, perdera a ingenuidade, perdera os sonhos desprovidos de ambições, agora queria mais que tudo vencer na vida, e esse vencer, que antes era ter uma família unida e feliz, agora significava ter dinheiro o suficiente para esfregar seu sucesso na cara de todos aqueles que a fizeram mal.
— Já. Ela vai se chamar Sophia. — Respondeu Kriss em um misto de felicidade e tristeza. Felicidade pela filha que teria, tristeza por saber que não poderia cuidar dela.
— É lindo esse nome. — Aprovou America.
— Eu sei que tivemos os nossos desentendimentos, mas eu quero que saiba que depois de conhecer você melhor eu passei a te admirar muito.
— Não comece, Kriss.
Pediu a ruiva já prevendo que a outra começaria mais uma vez com seus monólogos mórbidos. Não queria ouvir, não queria admitir que àquela hora mais cedo ou mais tarde chegaria, havia se apegado demais a ela, lhe era uma grande injustiça perder a amiga, pior até do que fizeram com ela.
— É sério. — Insistiu America tentando consolar a amiga, mas nenhum consolo poderia ocultar o fato de que Kriss não permaneceria viva por muito mais tempo. — Não conheço ninguém tão forte quanto você.
Kriss realmente fora forte. Foi forte quando se afastou do pai que não lhe dava atenção, foi forte quando lidou com a morte da mãe pela mesma doença que logo tiraria também a sua vida e está sendo forte agora por aguentar até que Sophia nascesse.
— Eu não sou forte, sou um fracasso que chora toda noite e só te trouxe para cá no começo porque tinha medo de ir para o inferno. Eu quero te pedir uma coisa. Não é um pedido fácil, por isso vou entender se recusar, mas, America, eu me sentiria honrada se você fosse a madrinha da minha filhinha e se você cuidasse dela depois que eu me for.
Implorou Kriss.
— Não pense que vai dar errado. — America falou vendo a amiga começar a chorar e ela própria logo começaria também, lágrimas, seu rosto havia sido acostumado a ficar encharcado de lágrimas.
— Já deu, a gravidez só encurta mais ainda o meu tempo de vida. Eu sei que você é honesta, por isso te coloquei no meu testamento para cuidar dos bens da minha menina. Eu sei que você cuidaria bem dela.
— Kriss, eu não vou mentir. Eu quero ter dinheiro e eu ainda vou conseguir bastante só pelo prazer de voltar para Cambridge e esfregar na cara de todos aqueles que me humilharam, principalmente na da Daphne e na do Clarkson, mas eu quero fazer isso por esforço meu.
America decretou.
— Eu sei. Mas a minha mãe já morreu, não tenho irmãos, meu pai não liga nem para mim imagina para a neta. Eu não tenho com quem deixar ela, não quero dar o meu amorzinho para um orfanato.
Insistiu a morena chorosa enquanto acariciava a barriga. A criança se mexeu bem nessa hora fazendo-a cerar os dentes pelo desconforto, mas também dando a ela um consolo, a gravidez ia bem, sua menina nasceria.
— Não vai, se você não puder cuidar dela eu vou cuidar, mas...
America tentou se esquivar da promessa que seria a confirmação daquilo que ela em nenhuma hipótese queria ver concretizado. Nos últimos meses conheceu Kriss melhor do que qualquer um e a perdoou de coração, não por ela ter sido seu passaporte para fora, mas por ver o quão difícil estava a vida da outra. Por ver que estavam em situações parecidas, desamparadas por suas famílias e prestes a se tornarem mães quando ainda mal sabiam cuidar de si mesmas.
— Eu sei o que vai dizer. Mas olha, vamos fazer o seguinte, você vai ficar com duas crianças e ainda nem tem uma profissão. Eu vou deixar esse apartamento para Sophia, mas você é quem vai cuidar de tudo por ela. Esse lugar tá pago. Eu não sou milionária e já gastei muito com o meu tratamento.
— E comigo. — America completou, Kriss ignorou o comentário dela. America só tinha um emprego para lidar com o pré-natal e com suas próprias necessidades por conta de Kriss.
— Use o meu dinheiro para segurar as pontas sem precisar trabalhar fora, só cuida delas, das duas, como se a Sophia também fosse sua. E estude, investe, não sei, prospere, prospere e quando o meu dinheiro acabar, porque ele não vai durar para sempre, continue cuidando dela com o seu. Por favor, diz que sim?
Kriss insistiu outra vez. Não descansaria enquanto não ouvisse a outra prometer que cuidaria de Sophia, estava desesperada e sem ter a quem recorrer. Sabia que seu pai trancaria a neta em um internato como fez com ela quando a mãe ficou doente pela primeira vez e não queria que sua garotinha passasse por isso.
— Eu não quero que você vá, é a única amiga que eu tenho.
America se rendeu repousando a cabeça no ombro da outra e lutando uma batalha perdida contra suas próprias lágrimas.
— Você também é a única amiga que eu tenho, quem diria que iríamos acabar assim.
Riu Kriss daquela ironia da vida. America prometeu aquilo que Kriss tanto quis ouvir.
⁂
Por uma estranha coincidência as meninas nasceram no mesmo dia. Kriss havia dado à luz pela manhã e America no início da noite. Com sua filha no colo, America voltou a sorrir verdadeiramente, agora tinha em seus braços um motivo para lutar, alguém que precisava que ela lutasse, que dependia disso, e principalmente, que não iria lhe virar as costas.
— Eu te amo tanto, minha Eadlyn. Seu pai não está aqui conosco, mas eu te juro que independente do que você faça eu nunca vou me afastar de você, meu amorzinho.
Prometeu ela aninhando a filha nos braços. Jurou para si mesma que sua Eadlyn jamais passaria pelo que ela passou.
⁂
Assim que pôde, Aspen foi visitar America e Kriss, ele havia conseguido uma bolsa de estudos para advocacia nos Estados Unidos. Quase não acreditou quando viu seu nome naquela lista de aprovados, também não suportava mais aquela cidade e uma vez fora, faria o possível para trazer o resto de sua família também.
— O padrinho trouxe um para cada.
Ele disse entregando um coelhinho de pelúcia à Sophia e um ursinho para Eadlyn. Os dois bebês estavam em carrinhos na sala de estar, Kriss estava no banho, muito debilitada depois do parto, porém, viva.
— Obrigada, Aspen.
America agradeceu dando um abraço nele, o gesto repentino o deixou surpreso.
— Que é isso, Ames? São só bichinhos de pelúcia do aeroporto, — disse — mas estavam lacrados, limpinhos...
Completou s edesculpando pela simplicidade do presente.
— Elas adoraram. Mas não é só por isso que estou agradecendo. É por tudo.
Respondeu America olhando para os dois carrinhos, um rosa com a sua filha dentro e outro violeta, com a filha de Kriss.
— O que a gente tem é fraternal, eu confundi com paixão, mas não é, né?
Aspen se certificou de que ela apenas estava emocionada e frágil como esteve desde aquela noite da festa.
— Não. — Concordou ela. — Mas eu te amo como se fosse o irmão que eu não tive.
— Eu também, Meri. Minha quinta irmã.
Retribuiu ele.
— Eu posso segurar a sua? — Perguntou se aproximando do carrinho de Eadlyn.
A pequena mexeu as mãozinhas enquanto olhava e ria para ele. America assentiu e ele tirou a afilhada do carro e a segurou, desajeitado.
— Oi, com licença. Desculpem, mas é hora da minha Sophia mamar.
Kriss disse indo até sua filha.
— Já ia levar para você ver o coelhinho que o Aspen deu. — America comentou.
— Que graça, obrigada. — Agradeceu ela sorrindo e acrescentou. — Fiquem à vontade, tá? É que eu sou tímida...
Então foi para o quarto dar de mamar para a filha. Estava muito magra, muito frágil, mas não queria se render à doença, queria ficar o máximo que conseguisse com a filha que tanto amava.
America e Aspen conversaram por algum tempo enquanto ele brincava com Eadlyn. Depois de alguns minutos ela foi ver como Kriss estava já que Sophia estava chorando. Só que ao entrar no quarto, se deparou com Kriss caída no chão do lado do berço de Sophia.
— Kriss! — Gritou correndo até ela. — Ô meu Deus, Kriss!
— Eu vou chamar uma ambulância.
Aspen disse entrando no quarto ainda com Eadlyn no colo.
— Aguenta, amiga, aguenta.
Implorou America sentindo o pulso de Kriss ficar cada vez mais fraco.
— Obrigada por me perdoar. — Kriss falou em um sussurro quase inaudível e tudo o que conseguiu acrescentar foi — cuida... Sophia.
Quando a ambulância chegou já era tarde demais, os olhos dela já estavam fechados enquanto America chorava desesperadamente agarrada ao corpo da amiga.
⁂
Dez anos depois...
A menina de dezesseis anos que foi escorraçada de casa se transformou em uma mulher. E que bela mulher. America seguiu o conselho de Kriss, estudou, se dedicou exclusivamente aos estudos, a filha e a afilhada.
Em seis anos tornou-se editora-chefe de uma das revistas de moda mais conceituadas do país. Em nove comprou a revista. Em um a colocou no topo do estrelato, ficando em primeiro após uma crise na revista Vogue.
Abriu mão de qualquer diversão que não incluísse suas crianças, o que não a impedia de ter uma série de admiradores aos seus pés, poupava cada centavo que conseguia e investia esse dinheiro. Tinha uma meta. Fazer Daphne, Clarkson e todos os outros engolirem cada uma das palavras que lhe dirigiram.
Não queria mais voltar com o pai de sua filha, mas queria que ele soubesse o que havia perdido. Esse desejo a dava forças que nem ela sabia que tinha.
E ela conseguiu. Em comemoração à aquisição da Stillus, sua revista, havia dado a Raj o benefício da dúvida. Ele havia decidido passar algum tempo em Nova York há poucos meses e desde que pôs os olhos em America encantou-se por ela.
Em quase oito meses de namoro ele havia se dedicado bastante a fazê-la aceitar seu pedido de casamento, de modo que realizara os mais variados caprichos dela.
Com o objetivo atingido, America resolveu rever sua cidade natal, ficaria poucos dias ali, apenas o suficiente para fazer as pessoas que tanto odiava espumarem de raiva.
Um sorriso se formou nos lábios dela assim que ela tocou o chão com a ponta de seu scarpin preto. Ela ajeitou os óculos escuros e seu sorriso de triunfo se alargou. O motorista que havia aberto a porta para ela trancou a limusine.
America entrou radiante na luxuosa loja que Daphne herdara da mãe. Deixara as crianças com as babás no hotel, o mais caro de Cambridge, esse momento era só dela.
Quando pisou na escada rolante se lembrou de todos os insultos que a dona daquele lugar já havia dirigido a si. De ter sido acusada de roubo, lembrou-se também daquelas fotos, por mais dinheiro que tivesse jamais se esqueceria daquelas malditas fotos.
Olhou em volta, deliciada com os cartazes de promoção, Daphne não estava em seus melhores dias.
— Posso ajudar?
Perguntou uma funcionária assim que ela chegou no topo.
— Claro que pode, eu quero renovar o meu closet com o que tiver de mais caro aqui.
Anunciou correndo os olhos pelo local. Poucas pessoas estavam fazendo compras ali.
— Pois não, vou mostrar à senhora as melhores peças! — Animou-se a vendedora certa de que se atendesse bem essa cliente conseguiria pagar ao menos metade de suas contas.
America não era a maior fã de joias, mas se enfeitara dos pés à cabeça hoje, colocara seu melhor vestido, fora no salão fazer cabelo e maquiagem, não aceitaria estar menos do que deslumbrante hoje e estava.
— Tô em dúvida entre o preto e o vermelho. — America falou fingindo pensar a respeito enquanto olhava para os dois belos vestidos à sua frente — Ah, quer saber? Vou levar os dois! E quero aquele vinho ali também.
Apontou para um outro no manequim. Nem experimentou para ver se algum realmente lhe servia, queria esbanjar, para ela era um investimento em sua saúde mental. Não se importava com quanto gastaria para ter sua almejada vingança, foi para isso que lutou tanto durante nove anos.
— Seria muito inconveniência da minha parte pedir um autógrafo? Eu sou muito fã da sua revista!
Pediu a vendedora reconhecendo sua cliente.
— Claro que não, querida. Assino sim, mas primeiro eu quero ver uns sapatos tá? E eu quero que me faça um favor.
Pediu America adorando o fato de ter sido reconhecida. Logo a dona daquele lugar a reconheceria também.
— Agora mesmo, senhora. — Falou a vendedora depois de America cochichar algo no ouvido dela.
— America?
A voz de Megan ecoou nos ouvidos de America como um agradável sino de Natal, era seu presente adiantado.
— Olá, prima do meu coração! Trabalhando para Daphne, quem diria, não é mesmo? Quem diria...
Debochou a ruiva sentando-se em uma poltrona de frente para um imenso espelho com moldura dourada.
— Veio tentar uma vaga? Tem uma de faxineira disponível. — Megan devolveu tentando processar aquela cena, ver America ricamente vestida na sua frente não estava em seus planos.
— Obrigada pela informação, priminha, mas hoje eu vim como cliente.
Devolveu America jogando os belos fios ruivos para trás. Agora estavam na altura do ombro.
— Cliente? — Megan parecia sem chão. O ar para ela parecia ter ficado rarefeito.
— Exatamente, agora eu quero sapatos novos. — Anunciou. — Prima, estou cansada, pega alguns modelos para mim?
Ordenou fazendo um sinal de desdém com as mãos como se a outra não fosse nada além de sua criada. Relutante, Megan buscou quatro caixas, America fez com que ela abrisse todas elas e lhe calçasse de um por um.
— Não gostei, tem algum mais caro? Detesto sapato vagabundo. — Desdenhou. Os sapatos eram lindos, mas ela não ido até lá para elogiar nada e nem ninguém. As acusações que Megan fez naquela noite ecoavam por seus ouvidos.
— Em quem você deu o golpe? Mesmo em promoção isso aqui ainda é luxo.
Megan tentou mostrar que não seria intimidada dessa forma.
— Olha a insolência! É assim que se trata uma cliente aqui?!
Gritou America sem medo de ser ouvida, agora ela era quem estava no controle.
— Fala mais baixo. — Pediu Megan.
— Eu quero falar com a dona dessa lojinha de quinta. E nem venha me dizer que ela não está porque eu sei que está.
Exigiu America. Tinha mandado que prestassem atenção na hora que Daphne entrasse, não teria graça se não visse a outra ali também.
— O que quer com a dona Daphne?
— Empregado não pergunta, só obedece. — Retrucou America ainda sentada. — Vai lá e traga a dona aqui, do contrário eu fecho essa porcaria em dois tempos.
A ruiva exigiu, agora de fato tinha poder para isso. Uma matéria de sua revista falando mal daquela loja seria o suficiente para acabar com aquilo, mas ela não queria isso. Não era tão baixa quanto as outras, porém, ainda queria humilhá-las um pouco, era uma promessa que fez a si.
— Pois não, America. Há quanto tempo. — Daphne falou quando a vendedora enfim a trouxe até ali. — A que devo o desprazer?
America tirou os óculos, queria ficar frente a frente com ela. Esperara uma década por isso, era esse o momento.
— Que deselegância. Não imagina o prazer que é estar aqui para mim.
Desdenhou rindo, seus olhos azuis cintilavam. Já Daphne estava branca, se tivesse visto um fantasma não estaria tão branca quanto estava.
— Suponho que não tenha vindo me parabenizar pelo meu casamento com o Maxon.
Alfinetou. America fingiu não se importar, estava mais do que preparada para aquilo.
— Muito pelo contrário, quero parabenizá-la também. Depois de longos dez anos comigo fora do seu caminho você finalmente conseguiu! — Disse em alto e bom som para quem quisesse ouvir. — É muita competência, aplausos, aplausos!
Ela aplaudiu debochada.
— O que você quer? — Perguntou Daphne possessa com o simples fato de America estar ali, não queria que seu noivado fosse arruinado.
— Te ajudar, querida! Não está indo à falência? Vim te dar uma forcinha, mas só se você colaborar, tá bem? Sapatos, quero os melhores que você tiver.
— Megan e Júlia podem te mostrar.
— Eu quero que VOCÊ me mostre. — Decretou America disposta a tudo para ver Daphne literalmente ajoelhada aos seus pés.
— Nem sob tortura! — Ela negou.
— Ou me trata como uma rainha, que é o que eu sou, ou eu acabo com a tua reputação, duas vezes pior do que você fez comigo.
America ameaçou enquanto sorria. Daphne já sabia o quão influente se tornara a mulher à sua frente, engoliu em seco e perguntou:
— De qual cor você prefere?
Queria evitar um escândalo, talvez se fizesse logo o que America queria ela fosse embora de uma vez, em nenhuma hipótese queria que ela e Maxon se reencontrassem.
— Agora sim estou gostando. — Aprovou America aplaudindo. — Dourado, lembra ouro, não? Vá, traga! Nº 07!
Daphne trouxe uma pilha de sapatos e fervendo em sua raiva contida calçou um por um em America, que no fim, ficou com todos os que ela e Megan trouxeram depois de desdenhar das duas e dos sapatos. Disse também que a comissão seria toda da outra vendedora e que Megan não merecia um centavo que fosse. Acrescentou depois que se Daphne tivesse que sobreviver como vendedora, morreria de fome.
⁂
— Aqui, mas eu posso devolver tudo para o devido lugar, ou parcelar.
Daphne desdenhou em falsa cordialidade. America retirou seu lustroso cartão de crédito ilimitado.
— Á vista.
Ela disse deliciada com a expressão de puro ódio da outra.
— Vallabh, por que não disse que tinha terminado?
Raj perguntou chegando bem nessa hora. Vallabh, ele havia dito significar preciosa, ainda que America não tivesse se importado em pesquisar.
— Já, acabo de terminar, meu amor.
Amor. America respondeu no mais profundo deleite ao ver os olhos de Daphne incendiarem de raiva. Raj era jovem, bonito e capa de toda revista de economia que se presasse.
Estava entre os homens mais ricos do mundo. Um magnata com negócios tão variados que nem ele mesmo sabia listar todos. Estava usando roupas normais para um estrangeiro, calça social e camiseta branca com um sobretudo marrom.
— É o seu cartão? — Ele perguntou fixando os olhos castanho-escuros em Daphne. — Devolva, devolva, eu faço questão.
A fez devolver o cartão.
— Não há necessidade. — Recusou America por puro teatro. Na verdade, não fora combinado, mas ela adorou a chegada dele, mostrava que ela não precisava de Maxon para mais nada. Era rica por si mesma e ainda por cima estava acompanhada, bem acompanhada.
— Eu insisto.
— São £ 80.000. — Megan se intrometeu.
— Muito bem. — Raj comentou como se aquele valor fosse moeda de troco, e na verdade, para ele era, ainda mais estando ele tão interessado nela — Aqui, tire, tire. Ainda quer ir a mais algum lugar?
Ele perguntou entregando o cartão dele para Daphne que o pegou se sentindo ultrajada e com crescente inveja.
— Por enquanto não, vamos?
Disse America não apenas aceitando que ele a envolvesse pela cintura como também correspondendo.
— Levem tudo para o carro.
Raj exigiu.
— E com cuidado!
Completou America se sentindo uma rainha, melhor, uma maharani depois de tudo aquilo. Logo mais veria seu pai e Clarkson, ah, Clarkson não perdia por esperar!
⁂
Oito anos se passaram depois disso. America chegou a se casar com Raj, mas não durou muito. Tentou novamente uma segunda vez, dessa vez com um estadunidense. As coisas iam bem, aparentemente. Até aquilo acontecer. Até sua vida se tornar um caso de polícia e a de sua filha e de sua afilhada mudarem completamente.
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