Eu cresci acostumada ao fato de zoar as minhas amigas por sofrer por macho.
Annie sofrendo por homem? Haha, trouxa! Piper terminou com o namorado? Se fudeu! Era tudo muito fácil.
E daí eu comecei a sofrer por fêmea e perdi minha moral. Fim do resumo da minha vida.
Primeiro dia de aula, colégio de rico, Jason e Piper se comendo por aí, Lavínia com um tráfico de chiclete da mochila, yay!
Eu particularmente não gostava de estar ali. Acho que mais participava da aula por causa das garotas e dos gays presentes, ou talvez porque meu pai me enforcaria se eu não fosse, coisas assim.
Eu conseguia ver que haviam rostos desconhecidos de novatos. O crush italiano de Will tava ali e mais uma galera, não me esforcei pra socializar e pessoas corriam de mim, mas não sei o porquê.
— Thalia — Falou uma voz conhecida e estralou os dedos na minha frente — Ouviu o que eu disse?
Minha namorada estava irritada, vi em suas feições que estava, se eu não bolasse uma resposta rápida talvez ela me agredisse.
— Ham, claro? — Falei, com um sorriso amarelo.
— Repete então — Ela falou, com os braços cruzados e um olhar de desafio, eu odiava aquele olhar.
Comecei a procurar na minha mente o que poderia ser. Quais eram os assuntos que ela mais falava nos últimos dias? Por que era tão importante?
— Era... — Comecei, mas logo o sinal bateu e me arrancou um sorriso triunfante.
— Salva pelo gongo — Falou Reyna, irritada.
— Poderíamos continuar depois, não é? Eu gostaria de não perder matéria no primeiro dia de aula — Falei, sorrindo.
— Você odeia a escola, Grace — Ela disse, se sentando na carteira na minha frente e se virando na minha direção.
— Talvez eu não queira odiar esse ano — Respondi.
— A escola é homofóbica — Disse Nico, ao saírmos da sala.
— É? Por que? — Questionou Will, tentando soprar um cacho de seu cabelo da frente dos olhos.
— Porque eu sou gay e ela faz eu me sentir mal — Ele falou, cruzando os braços.
Jason soltou uma risada alta, ele já havia adotado o novato, incrível isso viu.
— Podemos processar a escola por homofobia? — Perguntou Lavínia, jogando um chiclete pra Reyna, do outro lado do corredor, que um pouco confusa conseguiu segurar antes que caísse no chão.
— Gostaria viu — Respondeu Will, rindo — O objetivo agora nem é mais entender a matéria, só passar.
— Todo ano é assim — Respondeu Jason, dando de ombros. — Eu não entendo matemática a 3 anos.
— Só três? — Perguntou Percy, surpreso. — Eu nunca entendi.
Leo olhou pra eles com desdém, e fez uma pose de superior.
— Não é tão difícil se voc—
— Sem lugar de fala, Leonidas. Você quase reprovou em todas de humanas — Cortou Piper, acabando com o momento do garoto.
— Vocês são muito chatos, sabiam? — Ele falou, descendo as escadas da entrada do colégio e seguindo pra algumas outras ruas que andávamos juntos, antes de cada um ir pro seu canto. Costumávamos nos dividir em pequenas equipes pra evitar assaltos ou sequestros.
Era meio incômodo que as meninas precisassem depender dos garotos pra botar medo nas pessoas. Eu mesma acreditava que sozinha poderia me virar, mas eu e Reyna já havíamos passado por varias sufocos andando sozinhas na rua, talvez fosse o motivo pelo qual ela andava com um canivete no bolso da calça.
— Annabeth vai me passar as respostas das lições hoje — Minha namorada declarou, como uma ordem judicial que não poderia ser negada.
— Folgada — Disse Annie, com uma cara de ofensa — Me de uma boa razão.
— Os meus bebês chegam hoje, sem tempo — Ela falou e Annabeth a encarou confusa por um segundo, depois percebeu do que ela estava falando e um sorriso enorme se formou na sua cara.
— Piper, você faz a lição — Ela disse. — Eu vou pra casa da Reyna.
Leo nos encarrou, confuso.
— Ela não era lésbica? — Ele questionou — Pera aí, o que?
Jason deu um tapa na própria cara, com a demonstração de inteligência do amigo.
— Tá aí o cara que quase reprovou em humanas! — Ele falou.
— Fica quieto — Ralhou Leo.
Reyna riu, um som doce que eu não ouvia todo dia. Diziam que minha namorada era sem emoção, não sei porquê.
— Eu adorei dois filhotes de Heeler, Leo. Eles chegam hoje.
— Faz sentido — Ele falou e se virou pra Jason, cochichando. — O que é Heeler?
— Uma espécie de cachorro — Ele respondeu.
— Ah sim...
— E se a gente deixasse os meninos com as coisas do colégio — Falou Piper. — E ir cuidar de filhote na casa da Reyna?
— Não acho nada mais justo — Respondi, sorrindo para o meu irmão gêmeo. — Boa sorte...
— Brainly — Ele declarou. — Brainly e seja o que Deus quiser.
— Então está combinado — Falou Piper, sorrindo.
— Mas eu não disse que concordei! — Protestou, Jason. Mas já era tarde de mais.
Nós arrastamos os di Angelo junto, porque aparentemente Piper simpatizava muito com eles. A irmã de Nico era baixinha e tinha um sotaque incrivelmente forte, mas com um esforço nós a entendíamos.
A sala da casa de Belona se tornou muito apertada, repleta de garotas (e um garoto) esperando para provavelmente assustar cachorrinhos bebês; o que poderia dar errado?
— Você colocou eles em uma caixa térmica? — Questionou Hazel, ao ver minha sogra (posso chamar assim?) entrar na sala com uma caixa.
— Cada um se vira com o que tem — Ela falou, encarando Reyna. — Sua responsabilidade.
— Okay — Ela deu de ombros e correu para a caixa, a nossa pequena gangue se juntou atrás dela.
Quer saber como eles eram? Fofos. Um tinha o pelo em tons de laranja e branco e o outro era preto e cinza, eles também eram...
— Eles são muito gordos — Disse Nico, quando Reyna tomou eles nos braços. Ambos tremiam, assustados e provavelmente com saudades de casa.
Hazel havia travado na mesma expressão de fofura atrás de nós, depois do comentário de Nico ninguém quase falou.
— Vou planejar um sequestro — Declarou Annabeth.
— Eu tenho um canivete e não tenho medo de usar — Retrucou Reyna, rosnando pra ela. É, eu também não sabia que minha namorada rosnava.
— Você vai ter que dormir em algum momento — Falou Piper. — Vai ser nossa deixa.
Reyna segurou os filhotes mais próximos de si e recuou um pouco pra longe delas, fiquei com medo que se matassem.
— Meninas... Tenham modos — Falou Nico. — O Cérbero tem que conhecer eles.
— Sim! — Falou Hazel, batendo palminhas. — Eles podem se dar muito bem!
Eu concordei e tomei o de pelagem escura nos braços, era mais pesado do que eu imaginava e eu quase o derrubei, Reyna me fuzilou com os olhos.
— São muito novos, pouco mais de um mês — Ela falou, brincando com as orelhas caídas do pequenino em seus braços. — Ainda não tem imunidade pra ficarem com cachorros mais velhos.
— Ah... — Hazel Disse, desanimada. Suas expressões e ações eram quase infantis. — Então tá né...
A tarde passou rápido de mais, Nico corria pela casa como uma criança com os filhotinhos em seus calcanhares e parava de repente, fazendo eles chorarem sem motivo algum.
— Aurum e Argentum — Ela falou. — Nomes em latim, achei apropriados.
— Nome de cachorro de burguês — Falou Piper.
— Falou a pobre — Retruquei.
Ela riu enquanto Nico corria na sala, quase batendo na quina da mesa.
— Pare de ficar defendendo sua namorada — Falou Annabeth.
— Thalia, a rainha do gado — Disse Piper.
— Nem brinca com isso. Meu pai é gado, tipo, o outro tipo de gado.
— Povo chato — Falou Reyna, revirando os olhos.
— Já saiu do armário, Thalia? — Perguntou Nico, carregando os filhotes nos braços e soltando um no colo de Hazel.
— Não, e nem pretendo; esperar meus dezoito anos para sumir daqui — Respondi e Reyna deitou a cabeça no meu ombro.
Hazel assentiu, com o pequeno Aurum mordendo seus dedos.
— Deve ser chato ter pais homofóbicos.
— Os nossos aceitam — Falou Nico. — Só são ciumentos, provavelmente vão ficar ameaçando o Will de morte por três anos.
— Não duvido nada — A irmã respondeu. — Mas vai ser por razões normais de pais.
Eu assenti. Algumas crianças lgbt eram sortudas, Belona, por exemplo, simpatizava comigo e com a sexualidade de Reyna. Mas pais assim ainda eram raros e a maioria era abusada ou expulsa de casa, não iria correr o risco.
— Serei uma lésbica trancada no armário — Falei, rindo. — Não pode ser tão ruim, as meninos bonitas sabem que eu sou gay.
— Mas nem é óbvio — Falou Piper, puxando a camiseta de flanela por cima da camiseta de uniforme do colégio. — Não, eu nunca saberia.
— Impossível deduzir — Concordou Annabeth, puxando minha mão com os anéis de coco.
— Meninas, sem esteriótipos! — Eu falei.
— Claro, claro — Respondeu, Reyna. Brincando com o piecing na minha sobrancelha.
Eu revirei os olhos e todas elas riram, bando de viciadas em esteriótipos.
— A Thalia vai tatuar uma bandeira um dia — Falou Nico.
— É que você não viu ainda — Disse Reyna, puxando meu cabelo curto pra trás da orelha onde haviam pontinhos nas cores do arco-íris tatuados. — Anúbis vai preso e a culpa vai ser quase toda sua.
— Ele é esperto, não vai se dar mal — Falei.
— Não confiaria tanto — Disse Nico.
A noite foi caindo e aos poucos fomos abandonando a casa de Reyna. Uma Lamborghini veio buscar Piper.
— Thalia, vem comigo? — Ela perguntou.
Eu sabia que era um tentativa de ver meu irmão, e ao mesmo tempo estava escuro e eu estava traumatizada com sair sozinha à noite.
— Já vou! — Gritei e ela concordou, indo falar algo com o motorista, eu me virei pra Reyna na porta. — Os meninos devem estar se matando.
— Nós nos aproveitamos disso — Ela falou, encostando a ponta de seu nariz no meu
Eu sorri. Gostava da Reyna doce tanto quanto da Reyna perigosa. Ela era o tipo de mulher a qual se agarrar e nunca mais soltar, e eu juro que não tinha uma vida planejada com ela na minha cabeça.
Aurum latiu e mordeu meu tornozelo, me arrancando dos meus pensamentos.
— Ele mal chegou e tem ciúmes de você — Falei, segurando ele nos braços e encarando seus olhos escuros. — Entenda que mamãe não é só sua.
Reyna riu e o carro de Piper buzinou.
— Sua carona está impaciente — Minha namorada disse.
Eu concordei e entreguei o filhote pra ela, que parecia muito confortável em seu braços.
— Te vejo amanhã — Falei, dando um selinho nela e correndo pro carro.
Eu entrei no carro, e assim que eu fechei a porta o motorista acelerou.
— Ele é chato — Murmurou Piper, o vidro entre nós e o motorista abafava o som. — Não gosta de atrasos.
— Desculpa — Falei. — Não queria te meter em problemas.
Ela sorriu.
— Não estou em problemas — Ela falou. — E eu amo um romance boiola lésbico, é de boas.
— Agora você vai me usar de desculpa para ver o mongol do meu irmão — Falei.
— É como a vida funciona — Ela respondeu. — E ele é um amor, pare de ser má.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.