1
Thanksgiving
Era tradição na família Verstappen fazer uma pequena reunião com o resto da família para que Jos pudesse mostrar os troféus que Max tinha ganhado enquanto jogava pela escola em que estudava. Geralmente Jos mostrava uns 10, mas naquele mês, Max não tinha ganhado nenhum, só ganhou o troféu do jogo de retorno às aulas.
E como Jos não aceitava perder, resolveu cancelar a reunião sem avisar ninguém. Ele passava quase o tempo inteiro no escritório, deixando pouquíssimo tempo para a família, assim como Sophie, mãe de Max e Vic.
O único momento em que podia passar o tempo inteiro com o pai, eram nos feriados que eles convidavam a família. Naquela quinta-feira, Max acordou animado pois sabia que passaria um tempo com o pai.
Desceu as escadas como um menino de oito anos e se deparou com a porta da varanda aberta. Ele estranhou, mas achou que talvez pudesse ser uma brincadeira do pai, mas quando saiu, Jos fechou a porta e trancou.
- Que? Pai, que isso? - encarou o mais velho.
- Fica aí no frio para aprender a dar orgulho para o seu pai! Acredita que tive que cancelar a reunião familiar por sua culpa?
- Minha culpa? - encarou ele. - O que eu fiz?
- Preciso mesmo falar? - apontou para a parede de troféus com apenas um no centro. - Ano passado estava cheio.
- São temporadas e temporadas…
- Até você ganhar o próximo jogo, você não se refira a mim como seu pai. Hoje você vai ficar aí fora até de noite, as portas e janelas estão trancadas. Tenha um bom dia!
- Você é o pior! - gritou com o pai.
Max nem se atrevia a chorar mais, seu pai sabia muito bem como castigá-lo das piores formas possíveis por coisas pequenas. Ele andou até a cadeira de balanço que ficava na varanda e sentou, encolheu-se por causa do frio e usou uma almofada como cobertor.
Ele olhou para o horizonte e lembrou-se de sua infância.
Max costumava passar o dia treinando na escolinha de prodígios, ele sempre quis ser um jogador foda igual ao pai, mas ao passar do tempo ele desenvolveu um tipo de jogo que não agradava Jos. Aos poucos o pai foi ficando mais severo.
Primeiro foi um castigo de uma semana sem televisão - já que assinavam a TV a cabo -, depois Max teve que correr por meia hora em volta de três quarteirões, isso aos seis anos. De repente seu pai passou a esquecê-lo nos lugares para fazê-lo voltar a pé - longas distâncias -, aos oito anos.
Quando ele completou dez anos, os castigos se tornaram mais físicos. Quando ele errava um passe no jogo, era um tapa, se perdesse um jogo… Max apanhava até não sentir mais dor. E então ele começou a se cobrar para ser o perfeito, mostrando ao pai uma figura totalmente perfeita e sem falhas, mas longe dos seus olhos era o pior possível.
Max fumava e bebida para se sentir vivo, mas ele não sabia como isso tinha começado. Primeiro a bebida entrou na sua vida em uma festa aos 15, depois o cigarro aos 16 e quando o vaper apareceu começou a usá-lo.
Ele começou a se comportar na frente dos pais pois não queria que Vic sofresse o tanto que ele sofria, seu pai não se importava com a menina e não gostava de exibir nada que vinha dela, Max era o maioral da casa e o único que prestava, mas ele nunca deixou que Vic se sentisse mal. Ele sempre esteve ao lado da irmã, sempre ajudou ela, apoiou ela quando ela começou a participar das lideres de torcida, depois da equipe de xadrez para no final acabar no time de linguagens e dar aulas de francês na Brandon.
Max sentiu uma lágrima escorrer do seu olho e logo a limpou, fungou e suspirou, estava com muito frio. Ele usava apenas uma camiseta e um shorts de pijama, maldita hora que escolheu sentir calor pelo aquecedor.
Enquanto tentava não pensar no frio que passava, lembrou-se dos bons tempos que tinha passado com seus amigos, afinal, todos os seus amigos estudaram na mesma escola, apenas se separaram no ensino médio, dando lugar a rivalidade WxB. Ele lembrava de como era divertido compartilhar tantas coisas com os seus amigos, ainda mais com… ainda mais com Charles Leclerc.
Max queria muito entender o porquê do moreno odiar tanto ele, nada nunca aconteceu para esse ódio crescer. Eles eram de times rivais no futebol americano desde crianças, mas mesmo assim, ele não entendia o ódio que o outro sentia por ele.
Quando Max foi agredido por Leclerc no jogo de volta às aulas, ele se sentiu enfurecido, com muita raiva. As provocações nunca tinham avançado tanto assim, eles nunca se agrediram fisicamente, bom, até aquele dia. Quando ele foi revidar, Ocon segurou sua mão e disse “Se você quisesse realmente fazer isso teria se livrado da minha mão”, e era verdade, ele nunca foi violento.
- Max? O que tá fazendo aí? - Carlos, que andava tranquilamente com seu cachorro, viu o loiro encolhido do lado de fora.
- Nada, deixa quieto - fingiu estar bem.
- Amigo, você está tremendo… quer ir lá pra casa?
- Meu pai vai me matar se eu sair daqui… ele provavelmente vai me trazer alguma coisa para vestir.
- Hm… ok - deu de ombros e saiu.
Max voltou a tremer na cadeira. Em poucos minutos, ele escutou outro assobio, mas um pouquinho mais escondido da cerca onde viu Carlos mais cedo. Ele levantou tremendo, seus lábios estavam roxos, os olhos vidrados, as unhas pretas de frio e seu corpo branco e pálido.
O loiro foi até lá e viu Charles segurando uma muda de roupas, dois casacos, uma caneca térmica que tinha sopa quentinha que sua abuela tinha feito.
- Não conseguiria viver em paz se eu soubesse que tinha morrido de frio - disse sorrindo. - Você pode não poder entrar na sua casa, mas eu trouxe umas coisinhas… minha avó fez essa sopa aqui, não é muita coisa, mas estamos no ação de graças, não é?
- Obrigado, Carlos - disse agarrando tudo.
- Ó, tem essa garrafa térmica com chá de hortelã! É bom para aquecer, pode tomar… eu volto aqui na hora do almoço para ver se você está bem…
- Carlos, não vou saber como te agradecer!
- Tá tudo bem, você ficando bem é uma forma de agradecimento… talvez eu chame a galera para a gente fazer alguma coisa aqui, pela cerca mesmo.
Max sorriu e viu Carlos ir embora para a sua própria casa. Estava se sentindo tão acolhido por alguém que nunca tinha se aproximado tanto, nem mesmo na escola, era uma sensação diferente para ele.
2
Charles deu a partida no seu carro e dirigiu por Nova Iorque até a casa de um dos seus amigos. Seu coração doía a cada segundo que se aproximava da porta de entrada, assim que parou em frente dela, respirou fundo e tocou a campainha.
- Já vai! - Alguém gritou e abriu a porta. - Leclerc?
- Oi Pierre - sorriu nervoso. - Podemos conversar?
- Sim…
Os dois entraram na casa de Gasly e sentaram-se no sofá de couro da sala. O silêncio era desconfortável, aparentemente o amigo de Charles estava sozinho em casa naquela manhã, então ele próprio se sentia melhor.
- Gasly… eu - suspirou. - Eu sinto muito por todas as vezes que fui um babaca por completo com você, estar longe de um amigo tão bom como você me deixou mal pra caramba. Eu precisei de um tempo para me entender, mas assim que consegui me entender, percebi que eu não… eu não preciso me pagar de machão só porque tenho sentimentos. Eu comecei a agir como um babaca porque eu comecei a sentir algo que nunca tinha sentido antes, e isso me fez perder uma das pessoas mais importantes da minha vida. Nada justifica como eu estava tratando você e o resto, eu parecia um valentão dos anos 80 que fazem nos filmes.
Enquanto Charles falava, Gasly sentia seu corpo aquecer com tantas desculpas. Ele sentia o mesmo que o amigo, era estranho chegar na escola e não correr para Leclerc assim que visse ele perto de Ocon, agora ele ficava sozinho o dia todo e longe dos amigos.
- Eu estou confuso ainda, mas eu sei que quero muito seu perdão, não precisa ser agora… eu só precisava vir aqui e te falar - encarou o amigo que estava com os olhos marejados.
- Por que demorou tanto? - perguntou e começou a chorar copiosamente.
- Porque eu estava com medo - disse e começou a chorar também.
Os dois se abraçaram com força, consolando um ao outro após a explosão de emoções que tinha acabado de acontecer.
- Eu te desculpo, Charlie - disse sorrindo. - Eu só queria entender do que você tem ou tinha medo…
- Pierre, acho que ainda não consigo falar sobre isso, é algo bem delicado sobre meu auto entendimento.
- Tem a ver com aquela pessoa? - perguntou com um sorriso caloroso.
- Sim - suspirou. - Eu não sei o que eu sinto, sabe? Tipo, parece loucura na minha cabeça, mas aí eu paro, vejo e percebo que não é tão o fim do mundo. Eu só achava isso porque… estou falando demais.
- Eu já entendi - encarou o amigo. - Fica tranquilo, não vou falar para ninguém sobre isso.
- Obrigado, Pierre! - disse sorrindo.
- Amigo, eu preciso levar uma coisa na casa do Carlos, minha mãe deixou pronto… pode ir comigo? Não queria ir sozinho.
- Claro! - disse sorrindo.
Pierre pegou uma cesta com várias bolachas e saiu com o amigo. Eles foram caminhando pela vizinhança, passando pelas casinhas bem construídas no início do século vinte, a maioria bem moderna, mas com um toque renascentista.
Enquanto atravessavam a rua, viram Carlos com um monte de coisas parado em uma cerca, os dois pararam para observar e ficaram em choque quando viram Carlos ajudando Max, que mais parecia um morto vivo do que um ser humano. Os dois se encararam e sorriam, deram a volta na quadra e esperaram Carlos voltar até a porta da sua casa.
O moreno apareceu e foi recebido pelos dois amigos com perguntas diretas.
- Tava fazendo o que na casa do Max?
- Por que entregou aqueles negócios pra ele?
- Podemos entrar? - perguntou apontando para a porta.
Os três entraram, Pierre deixou a encomenda na cozinha de Carlos e se juntou aos amigos no seu quarto. Os três se sentaram na cama de Sainz e ficaram se encarando por um tempo, até que:
- Eu não consegui ver o Max sofrer com o frio e não fazer nada, ainda mais nessa época do ano - disse sério. - Minha mãe sempre disse “ajudar alguém sem olhar a quem”, o pai dele fez isso com ele.
- Como assim? - Charles perguntou.
- O pai dele é super controlador, foi o que o Ricciardo me disse… e acho que esse ano o Max não ganhou muitas coisas no futebol, por causa da parada que rolou com vocês dois - apontou para Charles. - E o pai dele chama os parentes para mostrar todos os troféus do filho…
- Que cara doentio.
- É, mas o Max tem um desse ano… o pai dele colocou ele pra fora de casa como castigo.
- E como você sabe? - Charles perguntou.
- Ele me disse… eu não acho que esteja mentindo, ele não parecia confortável em estar lá.
- Tá muito frio para ficar do lado de fora…
- Eu falei pra ele que depois ia chamar a galera para a gente fazer algo junto com ele, mesmo que seja só pela cerca… acho que ele precisa de um apoio - disse suspirando e olhando pela janela. - O Jos é um cuzão quando quer.
- E quando não quer, também - disse Pierre.
- Aliás, estão juntinhos agora? - perguntou Sainz.
- Sim, eu pedi desculpas, fiz o que você me disse pra fazer: seguir meu coração - disse rindo.
- Foi muito bom ter desculpado ele… a minha vida ficava vazia sem ele o dia todo me atazanando - sorriu.
- Gente, quanto tempo faz que eu tenho essa rixa com o Max? - perguntou Charles.
- Acho que desde que vocês eram crianças… vocês eram de equipes diferentes, sabe? Tipo, eu e você sempre fomos de uma e ele era da outra - disse sério. - Diferença nos valores, no caso…
- Ah sim, mas essa briga se intensificou quando? Porque nós éramos crianças e eu chamava ele de amigo.
- Você não lembra? - perguntou Pierre. - O que o Max fez que te deixou puto e vocês nunca mais se deram bem?
- Não… parece que essa parte apagou da minha cabeça - levantou e foi até a janela.
- Ele roubou sua namoradinha, ganhou o campeonato mirin e ainda quebrou seu braço quando se jogou em você - disse Pierre.
- Nossa, eu lembro! - disse Carlos.
- E isso faz quantos anos?
- Acho que uns 7 ou 8 anos…
- Porra, e eu ainda não consegui perdoar ele? Algo de errado tem na minha cabeça, é como se eu visse ele, meu corpo gritasse para eu me desculpar, mas minha cabeça me bloqueia.
- Acho que sua mente tem medo de você se machucar de novo - disse Pierre.
- Gente, para conversar com ele, eu preciso estar em um lugar com muita gente… tipo uma festa!
- E que casa vai estar vazia para a gente fazer uma festa? - perguntou Carlos, descrente.
- A festa pode ser amanhã de noite… - Pierre disse. - O Albon disse que os pais dele vão sair e levar a irmã, vão visitar a vó no outro estado, mas vão deixar ele aqui por causa dos exames finais.
- Hm… temos que pedir para ele - disse Charles. - Quem vem comigo?
- E por acaso o telefone não existe mais? - perguntou Carlos.
- Ah, poxa! Vamos lá! Cadê o espírito de ação de graças, Carlinhos???
- Te odeio por dizer isso, mas vamos - revirou os olhos.
3
O trio caminhou pelas ruas iluminadas com a luz abafada do sol, eles riam e faziam um plano para chamar toda a galera que fora na festa de Yuki. Eles viraram a esquina da rua de Alex e correram para chegar até a porta do amigo.
Charles tocou a campainha. O pai de Albon atendeu.
- Oi senhor Albon, o Alex tá aí? - perguntou sorrindo.
- Filho, o Leclerc está na porta! - gritou.
- Tô indo - passos foram ouvidos. - Oi Charles, o que foi?
- Vem aqui - puxou o amigo para fora, logo Carlos e Pierre atacaram o amigo. - Eu preciso da sua ajuda.
- Que foi?
- Você pode fazer uma festa na sua casa amanhã? - perguntou com uma cara de pidão.
- Pra que? Ninguém viria… é feriado, gente - encarou os amigos.
- Por favor! A gente compra as coisas com ajuda do Perez, traz as coisas com o Ocon…
- Ele quer falar com o Max, mas precisa ser em um lugar cheio de pessoas bêbadas - Pierre sussurrou no ouvido de Albon.
- Por favor Alobono!
- Tá bom! Mas vocês que vão limpar a casa… o que eu não faço para ajudar a resolver um conflito… meu Deus.
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